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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                     49
          PRIMEIRA VERSÃO                                       ISSN 1517-5421      lathé biosa

       ANO II, Nº49 - MAIO - PORTO VELHO, 2002
                        VOLUME IV
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR

                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia


Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”
                                                                           TEXTUALIZAÇÃO
           deverão ser encaminhados para e-mail:

                     nilson@unir.br
                                                                    MARIA CRISTINA PEREIRA DE SOUZA
                     CAIXA POSTAL 775
                     CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO

                TIRAGEM 200 EXEMPLARES

      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Maria Cristiane Pereira De Souza                                                                                                       TEXTUALIZAÇÃO
Aluna do curso de História - Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO
mcristianeps@bol.com.br




        De início gostaria de esclarecer alguns enganos teóricos: entrevista não é História Oral, seja ela exercida com rigores teóricos ou não. A entrevista
em si não caracteriza nenhuma teoria sobre História Oral. A História Oral também tem seus equívocos. Talvez pela composição do nome é entendida como
uma ‘história’ (disciplina) que utiliza fontes orais como complementação e/ou confirmação às fontes escritas. A História Oral, ou pelo menos certa história
oral não é sobre oralidade e nem se baseia completamente sobre a oralidade. A oralidade é um momento no caminho da apreensão, de uma sondagem do
presente. O termo sondagem, ainda provisório pois não expressa de todo a idéia que tenho desenvolvido, que é: através da apropriação da linguagem
tenciona-se compreender o presente. O que difere da história que nunca é sobre ou chega ao presente.
        O termo sondagem é aplicado para assinalar o desconhecimento intencional que colocamos frente ao presente. É como se pronunciássemos: “O presente não
existe e eu vou fazê-lo a partir de minha perspectiva. Ele não é o que eu estou lendo, o que estou vendo, porque tudo está pronto.”
        E aqui trazemos um fragmento do texto “Ontologia, Virtualidade, História” de http://www.unir.br/~caldas/Alberto para especificar a acepção deste presente:

      “conceber o presente não como uma fina fatia de tempo, mas como dobra: múltipla dimensão onde convergem todas as vivências, todos os significados,
      todos os passados, deixando de lado tanto a concepção de História quanto uma idéia presentista: o passado deixa de existir como tendo acontecido e o
      presente escapa do seu imediato. Sem o imediato do presente, sem os discursos que o produzem, reproduzem ou capturam, não há o presente, que é somente
      quando desdobrado, em desdobramento, em tenção, em atualização. Não há o presente como depósito, arquivo, baú. A “forma de existência” do presente é a
      de virtualidade [...]. Não há a língua antes do seu exercício, somente a língua em exercício, a atualização em desdobramento que a faz ser. Virtualidade viva
      no viver.”

      Sendo assim Roma clássica, Egito antigo, Renascimento e outros ‘fato histórico’ estão presentes enquanto linguagem (estrutura do existente) dada por uma
presença social. Não há uma Roma, um Egito antigo ou o Renascimento estagnado num passado, com uma existência física e metafísica, esperando pelo crivo dos
estudiosos, para ser descoberta, trazida a luz da ciência. Falamos e vivemos Roma. Pois Roma existe para nós apenas como criação e a recriamos na linguagem. O que
é Roma para um pigmeu? Nada. Não há significância pois não faz parte de sua estrutura de linguagens tais construções.
      A História Oral parte de pressupostos diferentes da antropologia, psicologia, história, das ciências humanas. O pressuposto da História Oral é nossa existência
social, todos os processos sociais que nos apresenta como narrativa momentânea de linguagem. É a linguagem que cria nossos corpos, nossas crenças, ordena a
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sociedade. Fomos inscritos nos códigos desta cultura. Nesta percepção de linguagem constitutiva damo-nos conta da plasticidade do mundo. A História Oral não é
ciência por que a ciência é naturalizante, para esta não há linguagem como ficção.
        Uma das preocupações fundamentais da História Oral é: termos o cuidado para não objetificar o ‘outro’, não naturalizarmos. Se tornarmos o ‘outro’ o objeto de
conhecimento, do pesquisador nós o estaremos reafirmando como mercadoria, limitando o ‘outro’ da ciência a uma linguagem como objeto de estudo. O momento da
entrevista requer a vigilância ético-epistemológica: não dialogarmos com nosso desejo, com os nossos motivos teóricos-metodológicos, nossas questões que possam
tolhe, retalhar, deformar o outro em sua linguagem. Com isso não queremos re-invocar a velha parcialidade, não-interferência, ao contrário, propomos assumi-la em
sua plenitude: o outro fala porque estou escutando em diálogo numa relação de entrelaçamentos, num imbricar, numa livre escolha para suas contradições. A existência
do oralista é plena de interferência num dialogismo com a existência do entrevistado. Esse ‘outro’(objeto) mirrado é confirmação dos objetivos e práticas que queremos
alcançar do conhecimento cientifico. Mesmo o ‘outro’ no seu discurso deixa aparecer em seus entremeios este outro: resultado dos fluxos discursivos ficcionais,
virtualidade social narrativa e textual, leitura que se organiza a partir dos limites do perceptível e do aceitável da sua comunidade.
        Para compreendermos as especificidades de certa Historia Oral faz-se cogente distinguir os fundamentos em que esta inserida. Devemos não confundir
determinados conceitos (como faz o livro didático de História): o vivido onde homens vivenciam sentimentos e situações a partir das suas vidas e perspectivas,
situações que se esfumaçam ao serem vividas; diferencia-se do fato ou acontecimento que é sempre uma construção ficcional daquele vivido, uma perspectiva,
intertextualidade, uma abertura, sempre menos e sempre mais, sempre narrativa e ficcionalidade, sempre texto. Esta representação ocorre em processos múltiplos,
contínuo e por vezes imediato: a percepção que temos do som emitido pelo cachorro e sua relação que fazemos com o ser que chamamos de cachorro divergem entre si
e com o código que usamos para representa-lo. Deste modo a palavra cachorro, o seu desenho, não são o ser cachorro, mas todo esse sistema de representação funciona
de forma imediata e contínua para a nossa comunidade. Cada comunidade faz sua leitura do caos criando uma camada fina de significados e as redes simbólicas de
sentido que cobrem esse caos; e cada pele corresponde aos vários tipos de leituras construídas em relações. O olhar não suporta o nada: sem reconhecimento não há o
ver; sem um projetar profundo, não conseguimos ver. Toda projeção do ser é construída pelas relações. São elas que formam uma rede de significados vivenciados,
criando possibilidades de compreender e apreender o sentido do real enquanto ficcionalidade coletiva.
        Mas para que serve este tipo de História Oral? Para nada. É inútil para a estrutura real e natural. É inútil para fazer rolar o eixo da mercadoria, do
sistema ideológico que garante a produção. Se muito servir quiçá seja para a aquisição da consciência pessoal num discurso crítico do conhecimento, das
formatações que compõe cada ser; que se converge na textualização: que faz fluir o outro da linguagem põe-se em dialogo em pela interpretação comigo que
sou linguagem. Outra conveniência para História Oral como conjunto teórico, (para quem necessite do utilitarismo como suporte das ações), é a de sanar a
deficiência do Marxismo e das ciências humanas que não sondam o presente apenas trabalhando com estrutura e conceito.


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Do que somos constituídos? De discurssividades. Somos fábulas (formatações) dos outros, do mundo e de nós mesmos. Somos discursos montados
pela coletividade, um algo para esconder núcleos vazios. A História Oral dentro dessa perspectiva de aquisição da consciência (consciência do projeto que
somos nós, aprendendo a ouvir a nossa voz, a sabê-la existente: sentir seu contorno, seu calor, as nuances que a faz ser o que não é, ser o que deveria ser, ser
aquilo que sonhou: compreender suas vozes e murmúrios como se tudo fosse uma grande e mesma voz: saber os sentidos e significados que é a identidade
mais intima de nós mesmos) busca aproximação com os discursos constitutivos da interioridade, da experiência, da palavra, da singularidade como um dos
caminhos necessários para se chegar ao conjunto da nossa atuação. A prática social vigente e pagamos para dizer o essencial, porque o essencial permanece
escondido, a linguagem é um jogo de esconde-esconde e não de revelações. Falamos do tempo, do jogo, da novela. Mas pagamos a psicólogos para dizer o
que realmente vale a pena ser dito. O oralista quer se colocar ao encontro do fluir a linguagem.
       O assunto eleito para uma pesquisa tem função simplesmente operacional: o oralista precisa de uma ilusão básica para chegar a um local e ali iniciar
uma leitura nas redes de discursos. O outro em sua frente é discurso tecido entre escolhas de imagem, de linguagem. Não há nada além das palavras e idéias:
a fala direcionada gera ficção, falseamento. O escrito da nossa imagem (representação) é sagrado, o livro é sagrado. Platão apresentar a idéia de que o mundo
é um simulacro do mundo das idéias, do mundo perfeito. Os poetas têm baixa estima na sociedade pensada por Platão por representarem o grupo que cria e
re-cria simulacro sobre simulacro. Na caverna de Platão o simulacro é sombras, tudo é apenas sombra, penumbra, movimento de não-luz. A Textualização
nesta compreensão de realidade ficcional, sendo o passado criação literária ficcional no presente, abre-se como uma maneira de abordar o texto.
       A ficcionalidade concernente à categoria do real, do humano, permeia o texto em História Oral e garante de rigor ético-filosófico e não um rigor
científico. A ética se concretiza no ouvir, deixar o outro construir o seu “eu” profundo, se metamorfoseia elaborando um corpo uma idéia, um sonho, um
desejo, satisfazendo o desejo de se dizer. A intencionalidade em História Oral esta no contar do outro, sua ilusão, como monta o fabular. A intenção esta no
fulgor do relato num auto-eco História Oral, deixando fluir nossa narrativa. O que é verdadeiro ou falso, o que está certo ou errado, ‘o que realmente
aconteceu’ na narrativa são perguntas incabíveis quando se trabalha com a concepção de realidade, humano, sociedade e todo o complexo de símbolos,
imagens como ficcionalidade. No texto “Ficção e Realidade” em http://www.unir.br/~caldas/Alberto:

      “A ficcionalidade não reduz o texto ou a realidade a ser uma mentira ou uma ilusão. Deformação é a “realidade” e os “nossos textos” dizerem-se sem o saber
      que são objetivos-além-do-mundo ou que seu rigor garante-lhe uma realidade-verdade: enquanto um texto ficcional encontra seu devido rigor e consciência,
      voltado ao coletivo e às possibilidades reais de mudança e consciência, aqueles textos que são “cientificamente objetivos” desconhecem que são apenas
      perspectivas ideológicas, afundados num inconsciente redemoinho etnocêntrico, que, sempre que pensaram ter conquistado o mundo somente o haviam
      perdido por covardia, capachismo e falta de talento.”



                                                                                                                                                                   4
Existe diversidade na definição do que seja o texto final do conjunto de técnicas em História Oral: Alguns acreditam que a oralidade é documento (fitas
gravadas); outros que a oralidade escrita (a transcrição) é o documento. A idéia da textualização intenciona que oralidade e o primeiro texto (oralidade escrita) é
insuficiente para exprimir a intenção do colaborador, pois o código escrito e falado são essencialmente diferentes. A transcrição é uma integralidade de imagens
incompletas vítimas da oralidade (linguagem). Ela não é a oralidade e nem a fidelidade aos propósitos do colaborador. A transcrição é uma tentativa desta intenção. A
oralidade por sua vez não é um dizer: é um esconder que apreendemos como um dos passos que gerarão outros textos que se encaminham para a intenção.
        Na utilização das técnicas de História Oral e compreensão do que é seu texto final consolidou-se várias formas de apresentação da entrevista e suas utilizações:
1. Emprega a transcrição na entrevista e a utiliza em Corte na fala do outro. Deixando que fale o “outro” para continuar o discurso do pesquisador, da ciência e do
conhecimento. Uma parte do outro que será eu mesmo falando.
2. Um texto preliminar apresenta a situação da entrevista e em seguida insere a entrevista como um jogo de perguntas e respostas.
3. A entrevista é apresentada em forma de depoimento sendo disposta uma diretriz temporal. Este tipo de texto faz certo tipo de textualização.
        Nesse contexto conflituoso entre o esconde da oralidade e a intencionalidade da transcrição, a textualização estabelece uma conquista de um diálogo. O texto
definitivo, que passa por uma textualização retorna as intenções do colaborador, realizando-as. Não há uma re-escritura na operação do texto, com a textualização. Não
se re-escreve a transcrição. O que ocorre é um afloramento da intenção, um deixar fluir a narrativa escondida pela oralidade das ficções que somos criadas pela família,
pela sociedade e por nós. Nas ciências humanas: teoria e método criam a realidade. Em História Oral a textualização é a pratica teórica da conquista do que diz ser: o
colaborador; numa tentativa de fazer a individualidade, a singularidade. Assumir a ficção que o outro é a que nós somos é assumir a interferência no texto através da
textualização e da interpretação.
        A interpretação é o momento mais próprio do oralista que entra em diálogo com o texto por que ali é necessário fazer fluir o texto sendo ele infinito e
polifônico requerendo uma postura que coloca em segundo plano o conhecimento e teorias. O texto é pura ficcionalidade, simbólico: não tem porta, não tem
entrada. É ponte para multiplicidade nossa no mundo. O olhar sobre a interpretação do texto é um conceito de barthesiano desenvolve em “Câmara Clara”
sobre as fotografias: o “punctum”: um ponto que atravessa você e o outro, desencadeando um encontro. O outro e você vão gerar interpretação. Um exemplo
disso: “Deus pairava sobre as águas”. Questões: quanto tempo eterno Deus permaneceu assim? Quantos mundos ele fez e desfez? Isto é o ponto no texto:
não importa, o antes e o depois textual, o que importa e o toque, o roçar que ocorre entre textos: entre você e o outro. O interprete: in-verte, sub-verte neste
jogo de sombras. Não é o trazer a luz, a perfeição, a verdade. Mas sim um per-verter de simulacros as cristalizações, as máscaras pessoais.




                                                                                                                                                                       5
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                     50
          PRIMEIRA VERSÃO                                       ISSN 1517-5421      lathé biosa

       ANO II, Nº50 - MAIO - PORTO VELHO, 2002
                        VOLUME IV
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR

                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
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            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia


Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”
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                                                                NOTAS SOBRE LITERATURA E ARTE
                     nilson@unir.br

                     CAIXA POSTAL 775                                            ALBERTO LINS CALDAS
                     CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO

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      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

                                                                                                       6
ALBERTO LINS CALDAS                                                                                                     NOTAS SOBRE LITERATURA E ARTE
Professor de Teoria da História - Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO
www.unir.br/~caldas/Alberto - caldas@unir.br




           "A verdadeira vida, a vida enfim descoberta e tornada clara,conseqüentemente, a única vida plenamente vivida, é a literatura." (Marcel Proust)


       1 - Qualquer tipo de arte, principalmente depois do século XX, pois nele o individual pode se expressar aparentemente fora do cânone, gera uma forma de
artesão ingênuo que pensa que aquilo que faz é arte. Ao mesmo tempo cria um público ingênuo, quem admira, compra e incentiva o artesão como se ele fosse artista e
como se aquilo que ele produzisse fosse arte. Essa “dupla dinâmica” existe em todo o lugar que tenha criado algo chamado arte. É essa “dupla” quem move o “mundo
da arte”, pois no seu movimento está a reprodução do mesmo, do de sempre, do conhecido e já devorado, o que foi transformado em esquema reprodutível, aquilo que
foi apascentado e retirado do terrível que é a arte, se tornando um pastiche inofensivo. É esse pastiche inofensivo que é continuamente reproduzido como arte e é
admirado infinitas vezes pela massa dos admiradores, principalmente porque, sem o saber, esses admiradores são outra grande invenção do século XX: eles são a
Massa, um dos horrores desse século que concluiu um ciclo de crenças mas não de tolices.
       Nascendo e crescendo com uma arte que parece fácil: “simples coisa de criança”: “qualquer um faz”: “é a minha forma de ver”: o artesão inicia um exercício
aleatório que ele mesmo e seu nascente público chamará de música, pintura, escultura, poesia. Como se parece com o já feito, se torna também da mesma natureza
daquilo com que se parece. Esse espectro mole torna aquilo que o fez um artista e quem o admira um conhecedor. A Massa gera sua arte extraindo da arte aquilo que a
torna terrível, a torna única, a torna a conquista de uma linguagem, de uma intensidade, a resultante de mil caminhos anteriores superados e retorcidos. A arte da massa
reproduz o visível desse resultado sem ir além, o que seria fazer arte. E isso ela não pode jamais fazer. Seu movimento é para traz e não um movimento intenso para um
além do existente. Sua carapaça é nacionalista (leia-se também regionalista) e facistoide. É, sobretudo, burra, despreparada e com a arrogância do desconhecimento.
       2 - O libertino não é aquele que tem bons costumes, o que inspira bons costumes e doutrina a moral, o obediente, o pio. O libertino escreve e lê a libertinagem:
ele desdobra a libertinagem, o não querido por “fora dos panos” mas o desejado por “dentro dos panos”. O libertino pode se dar o direito [ele mata também sem se dar
ao direito, longe dos direitos] de matar o outro para o seu prazer e esse direito não emana de uma permissão, de uma concessão, de um respeito a uma ordem
constituída: o libertino constitui sua ordem e essa ordem se esgota na expectativa, no prazer e no gozo: sua vida é se libertar libertando o outro dos seus limites [os
cordeiros têm horror-pânico ao liberto-lobo que lhe devora o bolo].

                                                                                                                                                                      7
O libertino afasta, dilui, destrói os limites. Faz fluir os limites: o limite não é o texto, não é o corpo masculino, feminino (todos dois são
performances de papéis sociais travestidos de gênero natural ou cultural) ou homossexual (outra performance): o limite para o corpo não é nenhuma das
novidades velhas: formicofilia, amalgatofilia, anastemafilia, autopederastia, ecouterismo, frottage, higrofilia, misofilia, acrotomofilia, zoofilia, dendrofilia,
enema, tafefilia, necrofilia: também performances de discursos e de possibilidades de corpo, de desejo, de deslimite, de desrespeito: o limite é a melancia e o
além da melancia; o tronco da bananeira, a banana, a cenoura e o além dos vegetais, além da brecha e da aresta das pedras.
        Restam todos os limites sonhados no desejo: e o texto é bem mais que um corpo: o texto é um corpo de papel e tinta ou bits ou qualquer coisa que possa
multiplicá-lo: é um corpo de desejo negativo. Para o libertino a grafia (texto e pré-texto) é porno-grafia. [Nada mais querido e desejado que a pornografia e a
obscenidade e nada mais negado e escondido [a sedução do lobo: ver e viver e desejar aquilo que vê, deseja e vive o lobo]: há sempre muitas coisas sobre o
pornográfico: ele é algo esmagado sobre outras coisas: escondido. Dos textos do mundo nenhum é mais pornográfico que aqueles da literatura: transgressão viva dentro
da linguagem que se põe a gozar, para nada, por safadeza, por pura maldade, por perversa-idade [“Quem ri quando goza/É poesia/Até quando é prosa” (Há lice? Who
is): há uma ofensa maior que escrever? Kafka assim feria o pai.]
        A porno-grafia é uma linguagem trans-a-gressiva: é um constante levar ao limite, um intermitente afastar os limites, é um des-velar, mas o ve-lar do des-velar
se faz no limite e no se afastar do limite e não num simples en-cobrir. O ve-lado do porno-grafico é o mais des-velado dos en-cobertos: é o des-velado que não cessa de
se des-velar e des-ve-lar seu próprio velamento: e seu prazer, e seu gozo ad-vém deste des-cobrir.
        O libertino é obsessivo e obsceno. Até mesmo a normalidade é para ele uma trans(a)gressão. Sem a trans(a)gressão não há libertinagem, não há leitura, não há
interpret-ação. Sem a pele, sem o buraco da fechadura, sem o esgar de prazer, sem a palavra rasgada em sua normalidade, não há o libertino. O libertino é aquele que
vive com a con-tr-adição, com o i-lógico, o para-doxal, o des-medido: seu fluxo é criar textos para nada, para o gozo, para des-dizer, para contra-dizer: o seu é um dis-
ser.
        A Literatura está sempre longe da libertinagem. Como palavra da ordem, é palavra disciplinada. A literatura é pura libertinagem. O escritor escreve a
Literatura enquanto o libertino deixa passar a literatura, simplesmente para seu gozo e de quem quiser ouvir.
        3 - Há um engano de “leitor”, ou consumidor, normalmente sem conseqüências para eles, que, naqueles que querem se tornar escritores ou poetas, é um
desastre sem medida. O erro é pensar que a obra literária nasce da mesma maneira como a encontramos, pronta para ser consumida, nas livrarias, nas bibliotecas, na
internet, enfim, no texto. Esse engano é mortal.
        Uma obra nasce de várias maneiras, mas vejamos uma delas, a que me diz respeito e a da qual posso falar. Em poucos e fulminantes dias se forma,
exteriorizada, uma massa coerente, legível, insuficiente; uma teia sutil e bruta, articulada, mineral e pulsante. Não tem ainda coração, ossos, sangue, veias, cérebro,
olhos, língua e, completamente, uma alma que a diferencie do mundo e das outras almas (nossa missão será criar, simetricamente, o universo de uma alma). É uma
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coisa viva, que respira, mas não fala; geme e grita mas não pensa; tem uma forma mas não é ainda uma espécie; não pertence, só subsiste; assimétrica, exigi simetria. É
a partir dessa matéria inicial, que nos consumiu semanas de puro deleite, gozo, cansaço e alegria, que se iniciará o trabalho doloroso e gratificante de transformar
aquela substância opaca, ainda sem todas os componentes e sem o devido polimento, sem órgãos e galerias, sem multiplicidades, numa obra literária. Passamos do
momento criador, aquele onde o escritor plasma sua matéria, ao momento de um tipo de leitor, corrigindo, acrescentando, cortando segundo uma perspectiva que não
pode ser a mesma do escritor inicial. Enquanto o primeiro cria, o outro transformará essa substância, dando-lhe vida, história, alma.
        Esse texto inicial, a quem o leia, pode parecer um texto normal, inteiro, pronto, mas ali está somente um feto ou um quase feto em formação. Algumas células
multiplicadas, alguns tecidos, carnes, músculos. Falta todo o resto. Enquanto a grande maioria dos literatos e poetastros provincianos, nesse momento, abortam essa
substância, essa coisa quase viva, pensando e convencendo os tolos em volta que aquilo é uma obra, o escritor começa seu prazer, sua virtude, seu deleite em criar a
obra literária [do vômito ele parte: transformar dejeto em alimento].
        A quantidade e a qualidade do trabalho do escritor sobre essa massa inicial é o que vai definir seu valor literário, sua qualidade de “texto literário”. Esse
trabalho vai unir veios dispersos e não concluídos das tradições literárias, realizando-as; vai torcer o que estava simetricamente mofando e simetrizar o informe dessas
tradições; vai superar o apontado por essas tradições e inovar, como se essas mesmas tradições não existissem, vai articular os pontos futuros que realmente aquele
texto conseguiu reunir.
        É a leitura de toda uma tradição literária, extensa, profunda e repetidamente, na verdade a formatação de uma filosofia, de uma estética e de uma visão de
mundo, que definira os parâmetros da ação literária na formação do texto, sendo constantemente alargada, senão será somente um fóssil inútil. A textualização, que
criara a obra a partir do “informe”, não é uma correção, um complemento, mas uma reescritura estratigráfica pondo a escritura na sua maneira de existir em devires e o
texto com um espírito que o porá livre e fora da vida do autor, da tradição, dos leitores e de uma interpretação unidimencional. O trabalho literário conquista para o
texto inicial a liberdade que somente um texto literário pode desejar. E essa liberdade de corpo maduro [passado e semente], essa plenitude diante de si mesmo e do
mundo, é o maior resultado diante daquele magro e incompleto texto inicial.
        4 - A palavra silenciosa da morte, ou a palavra do Caos, o que vem exatamente a desaguar na mesma água. As palavras não significam absolutamente nada.
Não são coisas, não são significantes e muito menos almejam a estranha dignidade de serem significado. Não são mais palavras. Conquistaram a dignidade de serem
entendidas ou sentidas como um tecido muito fino que nada significa: elas deixam passar somente o múltiplo e perverso frio da existência do outro lado do tecido. Elas,
as palavras, são apenas frágeis biombos rasgados, furados, partidos, vergados. A verdadeira literatura não se faz com palavras: ela cria frágeis biombos para que o
imenso calor ou o terrível frio ou o imenso vazio ou o completamente cheio e arestoso do outro lado não nos sidere, não nos cegue, não nos degole, não nos cale, não
nos imobilize: o tipo de artista a que nos referimos é aquele que, morto para as palavras que constrói, que cria, que ensina, que repete, que estrutura, extingui as
palavras e em seu lugar põe o biombo que instaura a literatura: ele é um libertino das palavras: através dele flui o nada que nos faz sentir o nada por baixo do existir, o
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silêncio antes e depois do sentido, as vagas nulas do antes da vida e do depois da vida, os choques de virtualidades ensandecidas dentro dos sonhos: sem essa morte não
seria ele aquele que põe a palavra em seu devido lugar: o lugar nenhum de todos nós: se não fosse assim não sentiríamos por trás, antes, entre e depois dessas palavras
o mysterium tremendum et fascinans: somente sua morte e o desaparecimento material e espiritual das suas palavras é o que garante a presença, bem junto,
sempre colado e sempre distante do mysterium: os escritores e os poetas que ainda estão vivos e que trabalham palavras materializadas podem somente repetir
a palhaçada dos gêneros, dos ritmos, das musicalidades, das formas, das agradáveis e esperadas mesmas coisas: e nos alegramos com essa morte e com esse
cadáver que persevera: isso prova que nada está ainda irremediavelmente corrompido: no meio do legítimo nada, entre lama e rios de lama, cercados por mil
desertos, perfurados por mil mediocridades gritantes e sempre certas, um libertino caminha morto entre nós gerando no caos frágeis biombos que
silenciosamente sussurram que ainda estamos vivos.
        5 - A arte não vem da “realidade circundante”: a arte vem das entranhas [as entranhas: o fundamento: os fluxos cristalizados de linguagem que entendemos
como mundo: os fluxos vivos que geram e formatam o existir: a maneira do “nosso” existir], e isso não é provinciano, não é de uma rua, de uma casa, de um barzinho.
Mas também não é universal: todo universal é uma forma de imperialismo, de religião devorando tudo, apagando todos os passos singulares. A arte é a resistência
dessas singularidades: a arte cria guerrilhas contra o mesquinho pensar pequeno, do querer de shopping Center, do fazer medroso, dos tristes buraquinhos de vermes
terrestres. A arte é uma guerra contra o mundo.
        Todo artista é um extraterrestre, um ser nojento, infeliz, metafísico e louco para penetrar onde não é chamado. O infinito é sempre menor e o mundo não cabe
em nossa boca.
        6 - A Poesia, normalmente, é reacionária e o Poeta um lambe-botas. Isso porque a Poesia é uma maneira cristalizada de dizer, de manipular palavras, sons,
musicalidades, imagens. O Poeta cria a Poesia como um bichinho de estimação, um animal treinado que sabe dar cambalhotas, algo amestrado, domesticado e sempre o
mesmo. Exercita um “gênero literário”: para ele existe Poesia e Prosa. E a Poesia existe através da estrofe, do verso e do ritmo. Por isso a Poesia é reacionária: o Poeta
é aquele que além de reverenciar o hino nacional, chorar com a bandeira e achar que o “parnasianismo” é o máximo, retém a possibilidade de fluxo multidimensional
da poesia, fazendo parte daqueles que estão sempre em volta do poder, das maneiras estereotipadas de dizer, sentir e pensar. O Poeta não consegue entender nem o
poeta nem a poesia: ele consegue somente reproduzir uma coisa asquerosa chamada Poesia (os minimamente atentos já notaram que uso o maiúsculo e o minúsculo
para dizer coisas diferentes com a mesma palavra).
        E toda “província” tem em exagero essa perversão poética tanto da poesia quanto do poeta, para não falar do excesso de Poetas. Mas não é por maldade não: é
por burrice mesmo, ignorância e falta de coragem. Mas essa realidade não é hegemônica, não inclui todos, mesmo que o restante não chegue aos dedos de uma mão. E
isso é um prêmio à inteligência. O nascimento tanto da poesia quanto do poeta é um acontecimento da inteligência, uma festa, uma conquista do além da palavra e da
imagem.
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Não haver na poesia a frouxidão, o sentimentalismo besta, a ignorância patente, a mesquinhez de palavras, a não superação do mais reles cotidiano, a expressão
de uma vidinha pequeno-burguesa, a falta de consciência literária, de leitura, de vida e de tragédia. E sim o que há de mais intenso, mais compacto, mais vívido e
vivido. O que se formata ali deve está bem além das palavras.
        A poesia, como a prosa, não se faz com palavras. O Poeta é que se engana com o visível, o palpável: nenhuma legítima literatura se faz com palavras ou
sentimentos ou emoções. A literatura é a criação de um hipertexto. É das múltiplas dimensões textuais compactadas num minúsculo espaço formal literário (o poema),
que a leitura deve desdobrar, quadrimensionalizar palavra, signo, sentido e significado, pondo a fluir as várias dimensões, as várias vidas, as várias literaturas, os vários
textos postos em movimento, e só assim o leitor terá o universo que os poemas podem gerar. Esse movimento de entendimento do texto é dado pela leitura.
        7 - Há os ratos brancos da arte: aqueles que ficam dentro da garrafa de vidro no laboratório, comendo ração e pensando seriamente que o mundo, que aquele
espaço branco onde às vezes um ratinho branco é brancamente sacrificado por aquelas sombras também brancas, é o horizonte visível; mas há, para nosso sabor, as
ratazanas de esgoto dentro do largo mundo sem fronteiras. Essas sabem que o mundo é cruel, melancólico, perverso, ilusório, temporário, feito de esquecimento, tolice
e dor; e que é preciso correr em busca da comida, do sonho, do desejo. Os primeiros, os ratos brancos, desaparecem como vapor dentro do tempo: são os artistas que
pensam que são artistas: infestam os laboratórios com sua arrogância de salvadores da raça: desaparecem na hora da morte: não deixam nada: nada significam: todo
significado foi somente moda; mas existem as ratazanas: são os verdadeiros artistas: os que sabem que o mundo é um dejeto perigoso mas que é nesse lixo que está o
significado sem significado da sua vida: elas, as ratazanas, ou eles os artistas, que formatam nosso existir: dão-lhe sentido e álibi.
        Mas enquanto o artesanato dos ratos brancos existe, é mercadoria desde o início, coisa feita para brilhar e reproduzir, a arte das ratazanas é somente aquele
líquido negro que escorre dos lixões. É uma arte que atravessa o mundo e se derrama inutilmente pela terra. E mesmo que transformem esse líquido novamente em
água cristalina e à venda como água mineral, ainda assim o seu percurso não se apaga.
        8 - Alguns artistas, na verdade artesãos, passam a vida inteira engalfinhados com formas batidas, idéias repetidas; com uma atitude diante do mundo que em
nada difere da maioria dos espectadores do mundo em seu trabalho de formigas. O artista de verdade é aquele que se perde dos limites, desrespeita a tradição, inicia
uma modalidade de ser e ver o mundo. Enquanto o escritor inicia uma voz o pintor cria um novo olho. Essa a grandeza do artista: criar outro corpo dentro do corpo
normal e aceito como um verme dentro da fruta. É ele quem gerenciará esse novo e estranho corpo. E há artistas que não conseguem isso simplesmente por uma
covardia inerente ao homem comum e que em vez de ser vencida é continuamente justificada (coisa que o homem comum não faz: ele simplesmente vive como uma
ostra na pedra: somente o artesão que pensa que é artista consegue a tolice de justificar sua incapacidade em se tornar um artista).
        9 - A aquele que se diz escritor e a aquele que quer ser escritor, normalmente falta paixão; falta intensidade; falta devoção aos livros e aos livros que só podem
vir através dele; falta uma luta diuturna querendo revelar a “natureza humana”: nós e os outros; falta querer criar uma obra que intensifique o mundo, a consciência, o
sonho, a percepção e a liberdade sem limites do indivíduo; falta disciplina para conquistar o desejado; falta uma crença raivosa, indignada, rebelada contra pai, mãe,
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família, pátria, bandeiras, deus, sentidos e significados; falta criar seus próprios padrões formando seu gosto; falta criar e exercer uma consciência crítica; falta uma
loucura intensa e ininterrupta; falta ler profundamente; falta o isolamento silencioso que isso exige e que filhos, mulheres, pais e amigos não entendem e destroem
como vermes a um pedaço de carne, sempre dando “boas razões”: nada mais perigoso para um escritor do que a família, o círculo medíocre dos amigos e o entorno do
mundo do trabalho e do laser; falta, mas esse saber é inútil. Quase todos os que escrevem são apenas covardes da emoção, covardes da escrita, covardes da loucura,
covardes da memória, covardes da missão, covardes da palavra, covardes da vida, covardes do ritmo, covardes do sentido, covardes do sentimento, covardes do
silêncio, covardes do tempo, covardes da visão.
        Como o chamado escritor pode se abster de tal aventura, a aventura real da literatura, sempre pondo sua vidinha de “classe média”, suburbana e nacional “em
texto”? Como não sentir profundamente que a verdadeira literatura engrandece a vida e essa literaturazinha brasileira de terceira categoria que sequer diz ou pode dizer
sua alminha provinciana ou sua regiãozinha, são pastiches medrosos que somente envergonham quem a faz e quem um dia por acaso encontre besteira tão
desnecessária.
        Como não sentir a literatura como um conhecimento, e o mais perfeito mecanismo de autoconhecimento, capaz de nos tornar mais vigilantes em relação a nós
mesmos, ativando nossa percepção para o múltiplo dos mundos entre nós e amplificando a consciência? Quanto talento desperdiçado, quanta vida falsa fingindo ser
uma coisa que não é. Algo que reúne todas as ironias, todos os paradoxos, todos os sentidos é transformado pelo escritor de província em uma coisinha, em um
bichinho morto de pelúcia, um joguinho adolescente que passará como um comichão reprodutivo. O amplo prisma giratório da literatura vira um espelhinho de
motorista de caminhão. A fundamental ambivalência querendo a todo custo atingir a plenitude expressiva, que é o mesmo que atingir a vida em sua alma, o sonho em
sua matéria, a matéria em sua virtualidade, transforma-se, na mão dos “poetas” e “escritores” de província, num ridículo balbucio de doentes mentais covardes. A
impossibilidade de dizer o máximo, que todo dia nos dilacera, em vez de ser combatida, é alimentada: quanto mais escrevem esses escrevinhadores menos eles dizem,
menos eles constroem, menos eles se tornam ou tornam alguém melhor, e mais eles publicam.
        A literatura, que é o incansável combate entre textos, vindos de uma leitura encarniçada, onívora e carnívora, precisa dessa leitura para viver: mas o escritor
normalmente é um charlatão: ele não lê, ele não lê completamente, ele lê com um vagar medroso, com uma humildade que destrói sua leitura no nascedouro. A
literatura como a solitária, complexa e arriscada experiência da singularidade, essencialmente libertária e libertina gerando portais que facilitam a articulação entre
tempos, lugares, experiências e vidas, se torna uma maneira de ganhar prestígio entre os tolos, uma maneira de mostrar inteligência, talento e cultura para idiotas que
respeitam cultura, talento e inteligência sem saberem o que é inteligência, talento e cultura: burros enganando burros, antas guiando antas e todos somente com um
interesse: mais capim! Sem se tornar um inventor da leitura e da escrita o sujeito não se transforma em escritor: não basta escrever e publicar.




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Se nos tornamos escritores de verdade não estamos livres para desistir como pensam sempre os tolos que se dizem escritores: não há como fugir de uma
ambição vital, de uma fome que devora o mundo, o universo e não se satisfaz: para o escritor todo limite é um desafio. E com isso ele alarga a vida, o sonho e a revolta
contra o insuportável e humilhante peso de existir.
        Aqueles poucos que realmente estão escrevendo algo que se pode chamar literatura não escreve numa “região”, nem em português, nem mesmo num brasil
limitante, enfadonho e ridículo: escreve na literatura, isto é, num rastro de nada, numa ausência. Os outros são escrivães e literatos que publicam coisas ao meio do
caminho, incompletas, tragicamente abortadas, onde se pode vê claramente e sem mistério algum, todos os tolos mecanismos literários, os quase métodos, as parcas
leituras, a fragilidade do mergulho e da reflexão.
        10 - É mais fácil compreender a literatura de Dante, de Proust, de Joyce ou de Rosas do que a chamada “literatura provinciana”. É uma coisa impressionante! É
um composto bastante complexo onde encontramos sempre as ingenuidades da boa fé e da ignorância; a vontade adestrada e covarde do mundo sonhando ser mais; um
destempero técnico, metodológico e teórico; uma crença piegas em tudo aquilo que é já feito, já pensado, já vivido, já escrito; a admiração, por um círculo de poetas e
escritores do “Estado”, da “Nação”, do “Povo”, da “Língua”, da “Literatura”; um fundamento e uma manifestação facistóide por aderir a bandeiras, hinos, emblemas,
símbolos e amizades que os tomam sempre frágeis e alegres puxa-sacos, inábeis e espertas presas dos poderes dos estados e municípios: assim todos se completam;
uma quase-escrita que é um verdadeiro monstro numa feira de variedades: não se diz ali nada mais que o senso comum; a fezinha ridícula e domingueira; o corpinho
adolescente e seus probleminhas; rimas das mais chulas; frases de inacreditável primarismo; escrita de “segundo grau” num conjunto que não passaria por uma
professorinha primária mais atenta ao seu estropiado machadinho; artificialismo levado ao esquematismo de periferia; nada tem consistência ou é inteiriço ou luta pela
unidade; nenhuma análise ou interpretação convincente: imitações rasteiras; ali não se sente a missão de escrever; extrema desespiritualização; capacidade zero de
reviver qualquer “realidade”; não há nenhuma convicção especial transparecendo; tudo está fora dos domínios da sensibilidade: são róis de lavadeira, recados de
empregada adomesticada; não há amor, prazer ou paixão desvairada; nenhum elo se prende ao outro com clareza ou densidade; sem “unidade de composição”,
estrutura ou ritmo; disformidade, dessimetria e imotivação; sem estilo, o prosaico é levado ao mais chulo estremo; sem concepção estética ou filosófica não há música;
sem ossos, não há músculo, carne ou pele.
        Para esses escritores, a literatura é igual a sua fezinha dominical; igual ao mundinho; igual ao seu joguinho de futebol e aos fogos que solta depois; igual ao
pãozinho e seu gostinho de sempre; igualzinho ao sexozinho com a esposa, a prostituta ou a namoradinha: a mesma monotonia ridícula dos que não ousam e pensam
ousar, dos que não ferem mas pensam ferir, dos que não violam mas pensam violar; igual às continhas de todo mês; igual ao seu salário conformado com a exploração;
igual a tudo que o cerca e aos de seus pobres desejos ainda não testados pelo universo de nenhuma libertinagem séria ou palhaça. É sempre um sonho de adolescente
integrado, aquele que não degolou o pai e não violentou a mãe, picando-a depois como a um tubérculo; que não incendiou a casa e assassinou os amigos e os irmãos;
que não lutou pelo mais, pelo não, pelo corte, pelo além que caracteriza qualquer aspecto daquilo que pode ser chamado dissolução, mas que na verdade é a literatura:
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um traço de nada, de revolta, de sonho estranho e perverso, algo que começa depois que tudo termina, sempre em outro lugar. Mas aqueles que acreditam naquilo que
todos acreditam não podem criar algo que não seja um objeto, uma coisa, uma forma, um conteúdo, uma mensagem, um significado: a literatura é o avesso dessa
coisificação: é a criação de um não-corpo, um não-objeto, uma não-forma, um não-conteúdo, de uma não-mensagem, de um não-significado, de um fluir sentido por
dentro ao fluir. E isso não é coisa moderna: a lição para vocês foi uma derrota: o moderno é somente quando o que sempre se fez passou a gritar como fazia: não sejam
anti-modernos: toda literatura sempre, mesmo quando não existia ou se considerava literatura, foi sempre exatamente igual àquela que os modernos disseram fazer:
Joyce e Dante, Rosas e Vieira, Rubião e Homero, Graciliano e Rimbaud são apenas aspectos de uma mesma raiva, de uma mesma paixão, de uma mesma loucura, de
uma mesma exasperação, de uma mesma infâmia escorrendo feito palavra, sem criar instituição, poder, imobilidade ou fluxo. Esqueçam língua, pátria, corpo ou razão:
e virá a literatura como uma doença infecciosa: e, felizes, morram nela!
         11 - Como saber se um texto tem ou não “valor literário”? Como saber se um texto é realmente literário ou não passa de uma impostura? A gramática
(normalmente o gramaticamente “correto” carrega uma boa dose de servilismo!) não pode ser aquilo que vai decidir sobre o “valor literário”: a gramática é um
ordenamento de poder, um círculo do já feito, do conhecido e reconhecido: a literatura vai sempre além desse círculo e seu limite; a língua também não pode decidir: a
literatura é indiferente à língua: ela é somente um dos seus suportes: não importa em qual língua a virtualidade literária se configure: ela não marca essa virtualidade; a
região também em nada afeta o nascimento ou florescimento de uma obra, podendo, quando muito, fazê-la definhar por enquadrá-la a um pequeno significado
vivencial, a um comodismo provinciano; uma tradição também não pode servir de parâmetro literário, pois a literatura sempre se fez a um passo depois das tradições,
apesar de servir-se delas como nossa fome de um pedaço de carne; gênero também não interessa: a grande literatura não pertence a nenhum gênero específico: não
existe literatura negra ou branca, heterossexual ou homossexual, macho ou fêmea, moral ou imoral, infantil ou adulta, desenvolvida ou subdesenvolvida, prosa ou
verso: o que há é literatura ou não literatura [parece que ninguém mais sabe o que é literatura e qualquer um que escreve é chamado de escritor]; a história da literatura
também não pode contribuir: as obras nascem sempre antes das outras obras de uma história: a origem de uma verdadeira obra literária é sempre anterior as suas
“influências”; a economia também não resolve a questão: as classes sociais, a riqueza, o capital, a exploração, a mais valia, o roubo, o poder, a miséria, a história, os
partidos, a política, o governo: nada disso cria ou impede a criação de uma grande literatura ou de uma grande obra: o “valor literário” não é uma conseqüência, em
“última instância”, das determinantes econômicas. Então como saber se uma obra tem valor literário ou não?
         Todas as obras de real valor literário possuem algo em comum: todas elas partem, sempre com um espírito de negação, de uma filosofia (F), de uma estética (E)
e de uma visão de mundo (V) e constituem, em seus labirintos, uma visão de mundo própria, uma outra filosofia e uma nova estética: mas esses elementos só servem
naquele universo, naquelas obras específicas: dali não nascem mais obras, a não ser como pastiches, reproduções de segunda mão, como em quase todas as obras
provincianas: são reproduções simplificadas dos esquemas, das visões, das facilidades visíveis de uma obra, daqueles elementos que o poder difunde como qualidade e
valor.
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Mas ainda mantemos o mesmo problema: como saber se um texto tem ou não “valor literário”? É um longo caminho. Toda obra realmente literária gera uma
rede de galerias onde se formatam em movimento sua FEV: cria-se uma espécie de “virtualidade singular” e uma forma de “virtualidade social”. Há um intrincado
virtual que é preciso levar em conta antes das análises do leitor, da língua, do estilo, dos discursos, dos gêneros, das formas, das estruturas, das funções. Precisamos,
enquanto hermeneutas da obra literária, pensar sobre a FEV que propõe. É a partir desses componentes (FEV) que poderemos estabelecer se uma obra, em seus
fundamentos, é somente uma reprodução sem valor, porquê mil vezes dita e dita mil vezes melhor, de uma “escola” qualquer, de um “autor” qualquer.
          Uma “obra limite” sem história, sem personagem, sem lugar, sem perspectiva, sem narrador, sem temporalidade pode estruturar uma FEV inigualável. Sua
significância nascerá da importância não do estilo, não da gramática, não da tradição, não da língua, não do gênero mas da sua específica FEV. Esse é um começo
porque nenhuma obra literária se resume a sua FEV. Mas é dela que retira toda a sua força, todo a multiplicidade que devora as outras obras e exige a multiplicação da
leitura e da interpretação; é dela que nasce nossa admiração, nosso amor, nosso espanto, nossa busca, nosso desejo, nosso olhar, nossa leitura. Fazer literatura não é
somente escrever, contar uma história, construir um estilo: é criar uma FEV, é constitui-la com toda a nossa singularidade, com toda a sinceridade, coragem e unicidade
que nos for possível. Como essa FEV pôs ao seu serviço um estilo, uma gramática, uma tradição, um gênero, uma história, uma língua é a nossa grande questão. Uma
virtualidade singular que, para existir, precisa de uma outra voz, uma outra forma, uma outra perspectiva.
          Daí porque é impossível para o artista ser “normal” e escrever (ou pintar ou esculpir ou criar qualquer coisa realmente em arte). Gerar filhotes, obedecer à
família, entender o governo, participar de um partido político, sentir-se honrado por estar trabalhando ou estudando, amar pai e mãe, amar uma mulher ou à mulher
sobre todas as coisas, defender a pátria, chorar de emoção com a bandeira, respeitar alguma coisa, gostar daquilo que todo mundo gosta, assistir televisão, gostar de
programas de auditório e novelas, ler os autores da moda, ler os autores respeitados pela “escola” e pela “academia”, desejar aquilo que todo mundo deseja e tolices do
gênero são sintomas de uma quase FEV massificada que está há muito estabelecida, servindo somente a um mundo ridículo e cada vez mais pobre e fascista. Um
escritor é aquele que, antes de tudo e depois de tudo, cria uma FEV própria, singular, como maneira de ver, sentir, dialogar, desejar e sonhar, viver e morrer.
          Aqui resolvemos a nossa questão? Não! Para desalinharmos um bom pedaço desses fios é realmente preciso muito caminho e muita tinta. Aqui é somente um
dos mil começos de algo sem começo que tem seu fim exatamente em todos os possíveis começos.
          12 - Para a grande maioria dos leitores, e até mesmo dos críticos, existe uma só e mesma e grande Literatura. Essa grande Literatura se distingue por ser feita
por línguas diferentes, povos diferentes, costumes e culturas diferentes. É a multidão dos que não sabem que existe também uma literatura. São duas: uma, a Literatura,
se divide por gêneros, é feita em prosa ou verso, pertence a uma língua, a uma cultura, tem escritores, pode ser estudada calmamente por professores de letras e de
línguas; é escrita por homens, mulheres ou homossexuais; negros ou brancos ou amarelos ou vermelhos; jovens ou velhos; doentes ou sãos; de ilhas, continentes,
cidades ou campos: nasce de um gênero, de uma cor, de um lugar: uma máscara sobre uma máscara sobre uma máscara, e se plasma numa máscara sem face por
dentro.
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A chamada “Literatura Brasileira” (católica demais, cristã em exagero, subserviente em excesso, filosófica e esteticamente sempre burra e atrasada demais,
cavalarmente capacho de governos e poderes!) é quase somente Literatura: palavras numa língua, costumes numa cultura, referência de um mundo pré-determinado,
contação de história: é algo que não voa ou tenta voar como um imenso avestruz afoito mas tímido demais para ver que para voar é preciso algo mais que olhos
vendados, vergonha e covardia. Falta intensidade.
        Mas a nossa literatura existe. Não vivemos somente de Literatura. O Brasil produziu quase inteiramente Literatura: aquela que é lida nas escolas, aquela que é
filmada, aquela que vende, aquela que é indicada, aquela que diz “a nossa alma”. Coisinha do espírito dos pobres, dos covardes, dos inferiores (já não há, entre vocês
brasileiros, um “complexo de inferioridade”, mas inferioridade mesmo, gritante, dolorosa, estridente). E até mesmo a literatura de vocês é fraquinha, é covardezinha, é
quase um espelhinho, quase um puxadinho, quase boazinha, quase interessantezinha: dá até uma peninha, uma vontadezinha de acarinhar o pelamezinho do
animalzinho tristinho.
        Mas qual a diferença entre a Literatura e a literatura? Vejamos. Porque não é uma questão de língua, de “momento histórico”, de cultura, de amadurecimento
ou tolices do gênero. Vejamos.
        A Literatura é um espelho; por trás desse espelho só tem a parede: é reflexo, é superfície pintada: nele Alice não entra, não penetra e não é penetrada conforme
seu íntimo mais desejo. A literatura não reflete, não representa, não reproduz: ela não é um espelho, não é espelho de nada, se parece espelhar é somente ilusão. A
literatura é espelhamento, isto é, além de refletir o mundo circundante, como fantasmas em claro escuro, faz pressentir que algo se move por traz, algo vive e se agita
além da nossa imagem e das imagens do mundo: multiplica e faz se mover. Além das palavras: a literatura não escreve com palavras: elas são apenas um artifício para
semi-esconder (ou nos proteger?) aquilo que se move do outro lado, ou aquilo que existe do outro lado, pelo avesso. A literatura é fazer sentir aquilo que se move do
outro lado. Enquanto a Literatura é somente uma história contada com palavras. Alice atravessa o espelhamento que ali é chamado de espelho por falta de um outro
nome. Mas o que se move atrás e além do espelhamento não é aquele mundo de Alice, não é um conto de fadas: o espelhamento não é atravessável: do outro lado
podemos apenas pressentir existência, movimento, algo que escuta, algo que respira, algo que deseja e sonha: e esse algo, estranhamente, diz respeito intimamente a
cada um que chegue perto.
        A literatura não diz o visível, o institucionalizado, o já recortado, o social, como a Literatura; diz aquele fluxo discursivo vivencial que está entre o caos e a
Virtualidade. A literatura diz aquilo que ainda não foi dominado, dito ou que pode ser dito: um fluxo que atravessa livremente tanto o informe do caos quanto a
essência e a vivacidade do formatado. Por isso a literatura nos toca tão intensamente, tão profundamente, por isso ela não nos conta uma história: ela somente nos
aproxima cada vez mais dessa coisa do outro lado, dessa coisa que corre entre nós, dessa coisa que somente em momentos extremos e intensos da vida, momentos
perversos e estranhos, nos aparece com sua face sem palavras.
        O escritor é o trabalhador da Literatura enquanto o libertino é aquele que faz deslizar intensamente a literatura.
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13 - Como distinguir o charlatão (não o picareta - que é o charlatão que sabe que é charlatão) das letras? Como saber que um poeta, um contista, um romancista
é realmente aquilo que ele e alguns ao seu redor dizem que ele é? Como separar o verdadeiro artista daquele que é apenas uma cópia deformada e simplória? Como
saber se aquilo ali escrito é realmente literatura e não uma reprodução ridícula do existente? Normalmente não podemos saber, mas uma coisa é fundamental para uma
consciência literária: ter se preparado a vida inteira, intensa e obsessivamente, para a escrita e seu mundo. Mas como saber que esse mundo criado por nós é realmente
um mundo legitimamente literário? É preciso leitura e é essa leitura que nos dará um dos parâmetros para a compreensão e o valor daquilo que fazemos. Por isso, aqui
darei uma lista de autores que, se lidos, serão uma garantia de que estamos no caminho certo, de que sabemos o que estamos fazendo, de que não somos charlatões ou
picaretas. Não é uma lista definitiva ou que deva ser seguida, mas que sem ela ter sido devorada, assimilada e superada o escritor não estará escrevendo coisa com
coisa, ou somente se enganando e enganando os outros mais ignorantes que ele. Estará repetindo burramente.
            Não é um paideuma, uma lista dos poucos essenciais, mas uma lista de formação, isto é, sem ela o escritor não possuirá uma formação básica para constituir
seu texto e ter consciência literária suficiente para saber a direção da sua escrita, o valor inicial da sua escritura (o tempo do Éden passou!).
            Vejamos nossa lista mínima de autores, e alguns livros: Gilgames, Bíblia, As Mil e uma Noites, Homero, Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Aristófanes, Platão,
Ovídio, Petrônio, Agostinho, Dante, Boccaccio, Casanova, Pirandello, Ungaretti, Buzzati, Pavese, Svevo, Guareschi, Calvino, Quevedo, Góngora, Cervantes, Lope de
Vega, Calderon, Lorca, Borges, Cabrera Infante, Neruda, Paz, Lezama, Cortazar, Marques, Chaucer, Shakespeare, Donne, Milton, Swift, Defoe, Fielding, Sterne,
Blake, Dickens, Lewis Carroll, Wilde, Stevenson, Dickinson, Whitman, Melville, Poe, Henry James, Twain, Yeats, Shaw, Hardy, Conrad, D.H. Lawrence, Virginia
Woolf, Joyce, Beckett, Auden, Pinter, Orwell, Pound, Eliot, O’Neill, Fitzgerald, Faulkner, Hemingway, Steinbeck, Bellow, Pynchon, Singer, Villon, Montaigne,
Rabelais, La Fontaine, Moliere, Pascal, Rousseau, Voltaire, Diderot, Sade, Balzac, Hugo, Nerval, Stendhal, Flaubert, Baudelaire, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud,
Lautréamont, Proust, Gide, Céline, Genet, Jarry, Sartre, Camus, Malraux, Ionesco, Artaud, Duras, Yourcenar, Erasmo, Goethe, Schiller, Hölderlin, Hoffmann,
Büchner, Heine, Nietzsche, Rilke, Broch, Kafka, Brecht, Mann, Döblin, Musil, Bernhard, Canetti, Dürrenmatt, Ibsen, Strindberg, Kundera, Puchkin, Gogol,
Turquenev, Dostoievski, Tolstoi, Chekov, Maiakovsky, Kavafis, Seferis, Kazantzakis, Vieira, Eça, Pessoa, Saramago, Pompéia, Machado de Assis, Euclides, Lima
Barreto, Graciliano, Drummond, Rosa, Rubião, Suassuna, Nava.
            Essa lista não é exaustiva, principalmente porque é “ocidental” (nem é para ser seguida ou admirada, mas superada pela leitura e com uma obra pessoal), mas
pode servir de parâmetro mínimo para o charlatão saber (se não leu ou leu de raspão ou somente leu alguns) que é um charlatão, podendo criar vergonha e ir ler ou
continuar na senda do crime de burrice militante; ou ainda se transformar em picareta. Ter lido esta lista mínima nos capacita, minimamente, a responder as perguntas
iniciais.
            Ainda se acredita numa “literatura parnasiana”, numa poesia “vinda do coração e das emoções”, numa expressão literária “dos sentimentos e da vida”, numa
arte que “vem de dentro”. É de uma ingenuidade, de uma tolice, de uma falta de vergonha sem limites. O resultado é sempre um puxadinho ridículo, uma coisinha sem
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razão de existir: tudo de um provincianismo doloroso, de uma adolescência inescapável. No entanto essa coisa informe, fraca e pobre é publicada a todo instante nos
jornais, em livros, em coletâneas seja pelo próprio autor seja pela proximidade com o poder, que o defende como a um cão caseiro.
       Acreditam, os pobres escritores desta terra, que para se tornar um escritor e escrever literatura basta sentar e escrever; basta se acreditar alfabetizado;
basta um comichãozinho entre um filho e um horário de trabalho; literaturas dos feriados e fins de semana; basta ter amigos no poder para publicar suas
asneiras; basta ter lido um Bilacquinho, um Montelozinho, um Coelhinho, alguma seleta secundarista, jornais e algumas raras revistinhas, ou não ter lido
ninguém (para não afetar o “estilo” da cavalgadura). Não! A literatura é muito mais difícil, muito mais complexa, muito mais profunda que qualquer curso
universitário. E além da lista de escritores obrigatórios existe toda uma longa bibliografia teórica sobre literatura que é absolutamente necessária.
       Um escritor não se faz com simples amadorismo, com leituras de segunda mão, com pouquíssima leitura, com uma vida integrada no mundo como uma barata
ao                  esgoto.                   Não!                   A                   literatura                  é                outra                  coisa.




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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                          51
          PRIMEIRA VERSÃO                                        ISSN 1517-5421          lathé biosa

       ANO II, Nº51 - MAIO - PORTO VELHO, 2002
                        VOLUME IV
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR

                   NILSON SANTOS
                                                                 EFEITOS DO PERFIL MOTIVACIONAL
                 CONSELHO EDITORIAL                            SOBRE O DESEMPENHO NO TRABALHO DE
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                                                               EQUIPES DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras                         SAÚDE DA CIDADE DE PORTO VELHO-
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia                       RONDÔNIA-BRASIL INFORME DE
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras                                            PILOTAGEM
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia


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Claudemir Leite da Silva
leite@unir.br
Professor do Departamento de Psicologia - UFRO
                                                                  EFEITOS DO PERFIL MOTIVACIONAL SOBRE O DESEMPENHO NO TRABALHO DE EQUIPES
                                                               DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE DA CIDADE DE PORTO VELHO-RONDÔNIA-BRASIL
                                                                                                                                         INFORME DE PILOTAGEM



   Muitos são os fatores que podem afetar o bom desempenho no trabalho, entre eles temos o estilo de direção, o sistema de comunicação entre dirigente e
   subordinado, o tipo de liderança exercido pelos gerentes ou possíveis líderes e os fatores motivacionais que impulsionam os trabalhadores a terem melhor ou pior
   desempenho no trabalho para assim satisfazerem direta ou indiretamente suas necessidades.
   Um dos assuntos que tem impulsionado grande quantidade de investimentos em pesquisas na área Organizacional desde o início do século XX é “os motivos que
   levam as pessoas a agirem”.
   Não é possível compreender o comportamento das pessoas sem um mínimo de conhecimento sobre o que motiva seu comportamento.
   Existem diferenças motivacionais entre as pessoas. É tão importante esse fato que as políticas de uma empresa, os incentivos, o desenho do posto de trabalho, o
   desenho organizacional e tantos outros mecanismos motivacionais empregados pelas empresas, não alcançam produzir efeitos massivos e uniformes nas
   preferências, persistência ou vigor de seu comportamento ocupacional. Há razão essencial que as condições motivacionais internas de uma pessoa podem ser
   diferentes das de outra. Também essas condições internas se modificam com a experiência, a idade e outras circunstâncias. As condições externas tampouco são
   idênticas para pessoas que trabalham em diferentes grupos ou ambientes laborais, e tanto as primeiras como as segundas incidem nas realidades motivacionais
   internas dos indivíduos. Se as condições motivacionais internas são mutáveis e também o são as externas e, ademais, uma inter-atua com a outra para afetar as
   preferências, persistência e vigor do comportamento devemos esperar que as particularidades motivacionais das pessoas sejam diferentes entre indivíduos e em uma
   mesma pessoa em diferentes circunstâncias.
   Para Simon (1957) o comportamento das pessoas na organização é intencional, está orientado para obtenção de metas ou resultados. Por conseguinte, na medida em
   que as organizações proporcionam possibilidades diretas ou indiretas de obter metas pessoais, nessa mesma medida as pessoas estarão dispostas a considerar sua
   vinculação como membro. Por sua participação na atividade organizacional, o indivíduo recebe benefícios ou retribuições que lhe interessam, como salário, bom
   trato, promoção, prestígio e a satisfação de várias necessidades (Toro, 1982). Sua participação ou contribuição consiste em dedicar a empresa tempo e esforço,
   aceitar que as pessoas investidas de autoridade definam e limitem seu comportamento, ou seja, aceitar as relações de autoridade, dentro de certos limites.
   Segundo Toro(1992) o comportamento em geral e o desempenho ocupacional em particular se entendem como um efeito ou condição conseqüente. O
   comportamento é o efeito de dois tipos de agentes causais denominados condições antecedentes e condições intervenientes. São condições antecedentes a causa ou
   pré-requisitos da ação, tais como a saciedade e os estímulos ou reforços positivos ou negativos. São condições intervenientes, a habilidade ou capacidade da pessoa,
   seu conhecimento e experiência, sua orientação ao trabalho, suas expectativas e sua motivação. Estes são processos internos que têm um papel mediador na
   determinação dos comportamentos. Um desempenho específico ou um comportamento particular constitui a condição conseqüente ou efeito.

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A relação entre desempenho e esforço para realizar uma ação é impactada por um conjunto de condições intervenientes cujo efeito na relação consiste em potenciar
   e em precipitar a ação. A ação a sua vez é um instrumento para obter resultados que permitem a pessoa obter satisfação, recobrar um equilíbrio que se havia alterado
   ou evitar um efeito desagradável ou nocivo. Este conjunto de fatores ou condições intervenientes está conformado por Condições Motivacionais Internas. Se deve
   ter em conta que estas condições internas se estruturam, se sustêm ou se modificam pela ação dos outros fatores que determinam a personalidade e das condições
   sociais, culturais e demográficas das que participa o indivíduo.
   A relação entre desempenho e resultado é afetada por diversas variáveis e circunstâncias, embora se destacam um conjunto de variáveis antecedentes do contexto,
   que fazem parte do que se denomina como Condições Motivacionais Externas, estas condições são em sua vez a expressão concreta e fatual das distintas dimensões
   do posto de trabalho em que está localizada a pessoa. As Condições Motivacionais Externas, tal como são percebidas e experimentadas pelo indivíduo e tal como se
   associam ao desempenho, podem ser mais ou menos contingentes com ele. Deste modo se convertem em esforço e recompensa por sua ação (desempenho) e podem
   chegar a constituir-se, também em efeitos ou resultados de alto interesse para o indivíduo ainda que para a organização do trabalho tenham pouco ou nenhum
   interesse. Uma pessoa pode aumentar a quantidade de seu desempenho, por exemplo, dado que dentro das condições de seu posto de trabalho está previsto o
   incremento da retribuição econômica sem isto ocorrer.
   O interesse por esse tema e especialmente pela identificação dos fatores que exercem influências sobre o rendimento de trabalhadores é derivado de uma série de
   estudos que realizo e que têm como objetivos, levantar, identificar e classificar os padrões de identidade da população atual da região Norte do Brasil,
   especificamente do estado de Rondônia que apresenta um desenvolvimento global bastante diferenciado de outras regiões do Brasil, e para isso é necessário
   empregar instrumentos padronizados para esta realidade.


   MÉTODO
   Equipes: As equipes sorteadas são amostras aleatórias de tamanhos proporcionais a dois estratos não superpostos (com alto nível de desempenho e com baixo nível
   de desempenho) de uma população de equipes de enfermagem prestadoras de serviços de saúde da cidade de Porto Velho-Rondônia-Brasil, sendo do primeiro
   estrato de um total de 09 equipes foram sorteadas 02 para a amostra, e do segundo estrato de um total de 10 equipes foram sorteadas 03 equipes, com as seguintes
   estruturas
   Equipe 1= 06 sujeitos;              Equipe 2= 05 sujeitos;          Equipe 3= 06 sujeitos;
   Equipe 4= 05 sujeitos;              Equipe 5= 08 sujeitos
   As comparações realizadas foram as seguintes: Equipes: (01-03); (01-04); (01-05); (02-03); (02-04); (02-05);


   Procedimentos e Instrumentos: Levantou-se um total de 23 equipes de enfermagem, prestadoras de serviços de saúde em Porto Velho-Rondônia-Brasil, que
   preencheram os seguintes requisitos: integrantes das equipes com o ensino fundamental completo e com 04 meses, no mínimo, de tempo de permanência no grupo;
   que a equipe desenvolva suas atividades em condições de interação constante entre seus membros, de maneira que as diferentes atividades que executem requeiram
   uma integração por parte de todos seus membros para alcançar o objetivo final; que apresentem similares situações materiais de funcionamento, de organização e de
   hierarquia; e que cada equipe tenha no mínimo 04 sujeitos;
1. Realizou-se a avaliação de desempenho e após, as equipes foram classificadas em níveis de desempenho (1ª-alto desempenho; 23ª-baixo desempenho);


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2. Aplicou-se em cada membro das equipes um questionário para levantamento das variáveis de controle e depois, realizou-se comparações de duas em duas equipes,
utilizando-se da Prova de Proporção para analisar as diferenças significativas das variáveis de controle. Ao final, de 132 comparações possíveis, encontramos 90 que
não apresentavam diferenças significativas, sendo: 9 equipes com alto nível de desempenho com 10 equipes com baixo nível de desempenho;
3. Para esta pilotagem foram sorteadas duas (02) equipes com alto nível de desempenho (1; 2) e três (03) equipes com baixo nível de desempenho (3; 4; 5) perfazendo
um total de seis (06) comparações;
4. Foi aplicado o QMT em todos os membros da amostra e após a qualificação dos dados por equipe foram aplicadas a “Prova da Mediana” e a “Prova de Fisher” para
analisar se os fatores apresentavam diferenças significativas.
   Os três instrumentos utilizados foram:
        1º - O Questionário de Avaliação de Desempenho com os respectivos indicadores que foram avaliados foi montado após um estudo criterioso utilizando os
Organogramas e Fluxogramas das empresas que trabalhavam as equipes, o Código Brasileiro de Ocupações e outros questionários utilizados por órgãos do Governo
Federal, assim como, também, tabelas com relações de cargos e seus indicadores.


      A amostra a ser utilizada de pessoas que responderiam o questionário de avaliação de desempenho das equipes foi estabelecida em não menos que 50 pacientes
      internados.
        Para a composição do questionário de avaliação da eficiência (desempenho profissional) das equipes de enfermagem os indicadores estabelecidos foram: 1-
Sociabilidade; 2-Apresentação pessoal; 3-Equilíbrio emocional; 4-Organização; 5-Interação com o cliente; 6- Comunicação; 7- Limpeza e Higiene; 8- Qualidade do
trabalho; e 9-Agilidade no atendimento;
        Ao final da aplicação os dados foram organizados em tabelas com a média de cada indicador e eles se movem de 01 ponto até 05 pontos. Com os resultados
levantados foram realizadas as comparabilidades entre os grupos utilizando-se das médias alcançadas em cada indicador e, para verificar se as diferenças apresentadas
foram significativas, foi utilizada a Prova “U de Mann-Whitney”.
        2º - O Questionário para controle de variáveis foi necessário para controlar um conjunto de variáveis que pela importância poderiam ser fator de influência nos
resultados a serem obtidos e chegando a ser a causa das diferenças produtivas entre os grupos. Para este controle de variáveis foram tomadas as variáveis consideradas
por Rojas (1999), sendo: 1-média de idade do grupo; 2-nível de escolaridade dos membros do grupo; 3-tempo médio de experiência de trabalho do grupo; 4-média de
tempo de permanência dos membros no grupo; 5-nível de escolaridade do dirigente; 6-tempo dirigindo o grupo; 7-tempo de experiência de direção do dirigente; 8-
satisfação com o salário; 9-satisfação com as condições espirituais de vida; 10-satisfação com as possibilidades de superação técnica; 11- satisfação com o grupo; 12-
satisfação com o dirigente; 13-cursos de direção; 14-idade do dirigente; 15-satisfação com o trabalho;
   3º - O QMT que foi criado por Toro (1982,1990) e é estruturado da seguinte forma: O QMT é dividido em três dimensões (Condições Motivacionais Internas-CMI;
   Condições Motivacionais Externas-CME; e Meios Preferidos para obter Retribuições desejadas no trabalho-MPR), com 05 fatores cada, representados por 05

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questões com 05 alternativas cada uma, aonde o indivíduo deverá classificá-las por ordem de preferência, e como não é o objetivo deste trabalho uma discussão
   detalhada do QMT apresentamos a seguir as definições dos 15 fatores medidos pelo mesmo:
   CMI- Logro (Log)- Se manifesta através do comportamento caracterizado pela intenção de fazer algo excepcional, alcançar excelência, levar vantagens sobre
   outros; Poder (Pod)- expressado por ações e intenções orientadas a adquirir ou exercer domínio, controle e influência sobre pessoas ou grupos; Afiliação (Afi)-
   expressada por ações dirigidas a obter relações interpessoais acaloradas; Auto-Realização (A-R)- manifestada por ações que buscam aperfeiçoamento e utilização no
   trabalho de habilidades e conhecimentos pessoais; Reconhecimento (Rec)- manifestado em atividades orientadas para obter dos outros atenção, aceitação ou
   adminiração pelo que a pessoa é, faz ou sabe;
   MPR- Dedicação a Tarefa (DT)- expressado por comportamentos ocupacionais orientados a dedicação do tempo, esforço e iniciativa no trabalho. Preocupação por
   mostrar no trabalho respondabilidade e qualidade; Aceitação da Autoridade (A-A)- inclue modos de comportamento que expressam reconhecimento e aceitação
   tanto das pessoas com autoridade na empresa como das decisões e atuações de tais pessoas; Aceitação de Normas e Valores (ANV)- inclue comportamentos que
   refletem aceitação e colocação em prática de crenças, valores e normas para o funcionamento e a permanência da empresa; Requisição (Req)- modos de
   comportamento que buscam alcançar as retribuições desejadas influenciando diretamente a quem pode concede-las, mediante solicitude direta, confrontação ou
   persuasão; Expectativa (Exp)- modos de comportamento que mostram uma atitude de espera ou de confiança nas decisões e disposições dos mandos, nas
   determinações da autoridade formal;
   CME - Supervisão (Sup)- comportamentos de consideração, reconhecimento ou retroinformação por parte dos representantes da autoridade organizacional; Grupo
   de Trabalho (G-T)- possibilidade no trabalho de contato pessoal com outros, de participação em atividades coletivas; Conteúdo do Trabalho (C-T)- variedade,
   autonomia e retroinformação que fornecem o cargo ou tarefa; Salário (Sal)- retribuição em dinheiro ou espécie, associada ao desempenho de cargo; Promoção (Pro)-
   possibilidade de movimentação ascendente na organização;


RESULTADOS
Equipes 1-3: número de indicadores a favor da primeira (7 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 1 se apresentou com nível de
desempenho significativamente superior ao da equipe 3.(Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,38; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 1-4: número de indicadores a favor da primeira (5 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 1 se apresentou com nível de
desempenho significativamente superior ao da equipe 4. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,63; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 1-5: número de indicadores a favor da primeira (6 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 1 se apresentou com nível de
desempenho significativamente superior ao da equipe 5. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,00; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 2-3: número de indicadores a favor da primeira (9 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 2 se apresentou com nível de
desempenho significativamente superior ao da equipe 3. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 4,24; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 2-4: número de indicadores a favor da primeira (9 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 2 se apresentou com nível de
desempenho significativamente superior ao da equipe 4. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 4,24; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).

                                                                                                                                          ISSN 1517 - 5421            23
Equipes 2-5: número de indicadores a favor da primeira (9 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 2 se apresentou com nível de
desempenho significativamente superior ao da equipe 5. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 4,24; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).


Controle de variáveis:
Na fundamentação da compatibilidade realizada para cada situação concluímos com a análise das variáveis de controle aplicando a Prova de “Proporções”, que as
comparações 01-03; 01-04; 01-05; 02-03; 02-04; 02-05 resultaram similares por não apresentarem diferenças significativas, sendo:
Equipes 1-3: número de indicadores a favor da primeira (3 de 15); número de indicadores a favor da segunda (1 de 15); número de indicadores similares as duas
equipes (11 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,56; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 1-4: número de indicadores a favor da primeira (1 de 15); número de indicadores a favor da segunda (3 de 15); número de indicadores similares as duas
equipes (11 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,56; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 1-5: número de indicadores a favor da primeira (0 de 15); número de indicadores a favor da segunda (2 de 15); número de indicadores similares as duas
equipes (13 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 1,46; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 2-3: número de indicadores a favor da primeira (3 de 15); número de indicadores a favor da segunda (0 de 15); número de indicadores similares as duas
equipes (12 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,29; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 2-4: número de indicadores a favor da primeira (3 de 15); número de indicadores a favor da segunda (1 de 15); número de indicadores similares as duas
equipes (11 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,56; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
Equipes 2-5: número de indicadores a favor da primeira (2 de 15); número de indicadores a favor da segunda (1 de 15); número de indicadores similares as duas
equipes (13 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,29; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05).
   Comparações dos fatores do Perfil Motivacional: Na Tabelas abaixo apresentamos as comparações de cada fator motivacional das Equipes 1-3; 1-4; 1-5; 2-3; 2-4; 2-
   5 com os resultados das aplicações da Prova da Mediana e da Prova de Fisher com um nivel de significancia de α= 0,05, que foram empregadas para analisar os
   dados separados pela mediana.
   Equipes: 1-3
                                                                                              AN
                               Tabela 01           Fator Log Pod Afi A-R Rec DT A-A              Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro
                                                                                              V
                                                                                 0,4 0,3
                                                   p=      0,43 0,32 0,46 0,46           0,16 0,55 0,18 0,43 0,32 0,32 0,18 0,43 0,16
                                                                                 3 6


                                                                                                                                          ISSN 1517 - 5421            24
Como podemos observar em todos os fatores comparados das equipes 1 e 3, não encontramos diferenças significativas a um nível de significância de α= 0,05;


Equipes: 1-4
                                                                                            AN
                         Tabela 02            Fator    Log Pod   Afi A-R Rec DT       A-A      Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro
                                                                                            V
                                                    0,3
                                              p=         0,43 0,32 0,43 0,32 0,18 0,45 0,36 0,43 0,43 0,43 0,32 0,06 0,43 0,05
                                                    2
Somente a comparação entre os resultados apresentados para o fator Promoção das equipes 1 e 4 apresentou ter diferença significativa favorável para a equipe 1 a
um nível de significância de α= 0,05;


    Equipes: 1-5
                                                                                                AN
                      Tabela 03             Fator     Log Pod    Afi    A-R Rec    DT    A-A         Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro
                                                                                                V
                                           p=      0,05 0,37 0,34 0,35 0,35 0,05 0,14 0,53 0,37 0,56 0,41 0,21 0,21 0,24 0,14
     Nesta comparação, entre os fatores comparados das equipes 1 e 4, somente dois apresentaram ter diferenças significativas a um um nível de significância de α=
0,05, sendo o fator Logro com diferença favorável para a equipe 1 e o fator Dedicação a Tarefa com diferença favorável a equipe 5;


Equipes: 2-3
                                                                                             AN
                       Tabela 04            Fator      Log Pod    Afi    A-R Rec    DT A-A        Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro
                                                                                             V
                                         p=       0,42 0,42 0,48 0,24 0,48 0,24 0,48 0,42 0,40 0,18 0,24 0,42 0,42 0,40 0,48
     Nesta comparação podemos observar que em todos os fatores levantados das equipes 2 e 3 não encontramos diferenças significativas a um nível de
significância de α= 0,05;


Equipes: 2-4
                                                  Fato                                      AN
                          Tabela 05                     Log Pod Afi A-R Rec DT A-A              Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro
                                                  r                                         V
                                                  p= 0,24 0,48 0,48 0,42 0,24 0,40 0,48 0,42 0,48 0,24 0,42 0,40 0,24 0,40 0,48
Em todos os fatores comparados das equipes 2 e 4 não encontramos diferenças significativas a um nível de significância de α= 0,05;



                                                                                                                                       ISSN 1517 - 5421            25
Equipes: 2-5
                                           Fato                                    AN
                                Tabela 06 r     Log Pod Afi A-R Rec DT A-A              Req Exp      Sup G-T C-T Sal Pro
                                                                                   V
                                           p= 0,08 0,39 0,44 0,16 0,41 0,41 0,39 0,28 0,44 0,04 0,41 0,41 0,41 0,33 0,41
       Somente a comparação entre os resultados apresentados para o fator Expectativa das equipes 2 e 5 apresentou ter diferença significativa favorável para a equipe
05 a um nível de significância de α= 0,05;



                                                                              CONCLUSÔES
        Considerando que as comparações realizadas nesta pilotagem foram entre equipes que apresentaram alto nível de desempenho com equipes que apresentaram
baixo nível de desempenho, não podemos, após análise dos resultados levantados, estabelecer traços que possam ser considerados como um perfil que determinem uma
equipe ser mais eficiente ou menos eficiente.
        Os fatores: Promoção (Tabela 02), Logro e Dedicação a Tarefa (Tabela 03), e Expectativa (Tabela 05), que apresentaram diferenças significativas quando da
comparação dos resultados alcançados pelas equipes com alto nível de desempenho com as equipes com baixo nível de desempenho, não foram detectados
aparecimentos nas comparações em quantidades estatísticas significativas para estabelecermos como determinantes favoráveis para alcançar um certo nível de
desempenho.
        Estas conclusões se circunscrevem aos grupos estudados. O tamanho pequeno da amostra utilizada (02 equipes com alto nível de desempenho e 03 equipes com
baixo nível de desempenho) se constitui em um fator que limita realizar uma análise mais profunda de algumas das relações possíveis apresentadas pelos instrumentos
porém como estudo piloto se faz necessário continuar estes estudos com uma amostragem maior e com outras populações, também realizando correlações com outros
fatores que podem exercem influência sobre a variabilidade do nível de desempenho da equipe.


                                                                             BIBLIOGRAFIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE                      PRIMEIRA VERSÃO                         52
          PRIMEIRA VERSÃO                                       ISSN 1517-5421    lathé biosa

       ANO II, Nº52 - MAIO - PORTO VELHO, 2002
                        VOLUME IV
                       ISSN 1517-5421


                         EDITOR

                   NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
            ALBERTO LINS CALDAS - História
             ARNEIDE CEMIN - Antropologia
                ARTUR MORETTI - Física
               CELSO FERRAREZI - Letras
            FABÍOLA LINS CALDAS - História
         JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia
        MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação
               MARIO COZZUOL - Biologia
                MIGUEL NENEVÉ - Letras
            VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia


Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times
New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows”          SOLDADINHOS DE BORRACHA
           deverão ser encaminhados para e-mail:

                     nilson@unir.br

                     CAIXA POSTAL 775                                                NILZA MENEZES
                     CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO

                TIRAGEM 200 EXEMPLARES

      EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

                                                                                   ISSN 1517 - 5421        28
Nilza Menezes                                                                                                                Soldadinhos de borracha
Centro de Documentação - TJRO
cendoc@tj.ro.gov.br


   Em face da surpresa causada pela observação do grande número de procedimentos envolvendo menores nos processos judiciais, buscamos aqui registrar essa
   característica da documentação do judiciário na região onde foi assentado o marco de modernidade na selva amazônica, ao longo dos trilhos da estrada de ferro
   Madeira-Mamoré, nas primeiras três décadas do século XX e que oferece a possibilidade de um olhar sobre uma questão que só mais recentemente passou a ter
   maior atenção dos juristas e do governo: as crianças.

                Grande parte dos escritos sobre a região amazônica, especificamente na região onde hoje está localizado o Estado de Rondônia, são direcionados à
construção da Estrada de Ferro e exploração da borracha. (Nogueira, 1913, Ferreira, 1987) Maior ênfase é dado às características regionais, aos trabalhadores e as
mortes, tudo isso perpassado pela economia e comércio.
        Oswaldo Cruz, no seu relatório do ano 1910, observa que as crianças não passavam do tamanho de um sabre, em razão da insalubridade. Rondon também
observou: “a cousa mais notavel dessa villa é não haver criança no lugar. As poucas que para alli são levadas definham fatalmente, como planta exótica que fenece
ao calor terrivel da zona tropical”.
        Contudo uma parcela sobreviveu, e pode ser observada através dos documentos judiciários arquivados no Centro de Documentação Histórica do Tribunal de
Justiça de Rondônia.
        Não temos documentos dando conta dos casos de mortes infantis, mas encontramos diversos casos de crianças em situação de abandono e miserabilidade na
localidade de Presidente Marques (Abunã), por exemplo, localidade esta de grande fluxo de mulheres e trabalhadores. Grande parte dos processos com desavenças por
causa de mulher ocorriam naquela localidade, percebendo-se uma grande movimentação, consequentemente ocorrendo a incidência de problemas sociais, como casos
de denúncia de crianças abandonadas pelas ruas e maus tratos por parte dos tutores ou mesmo da família.
        Da análise dos processos que tramitaram pela justiça na região hoje compreendida pelo Estado de Rondônia, no começo do século XX, quando da instalação
dos serviços judiciários na região (1912), criando-se a Comarca de Santo Antonio do Rio Madeira, percebe-se clara a importância dada as questões de terras e
comércio. Os crimes ocorriam pelos motivos de sempre: dinheiro, bebida e mulher, característica que perdura até os presentes dias como a linha principal dos feitos
judiciais, ao lançarmos um olhar generalizado nas ações da justiça.


                                                                                                                                         ISSN 1517 - 5421         29
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Volume x 2004
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VolumeIV

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 49 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº49 - MAIO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME IV ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” TEXTUALIZAÇÃO deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br MARIA CRISTINA PEREIRA DE SOUZA CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
  • 2. Maria Cristiane Pereira De Souza TEXTUALIZAÇÃO Aluna do curso de História - Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO mcristianeps@bol.com.br De início gostaria de esclarecer alguns enganos teóricos: entrevista não é História Oral, seja ela exercida com rigores teóricos ou não. A entrevista em si não caracteriza nenhuma teoria sobre História Oral. A História Oral também tem seus equívocos. Talvez pela composição do nome é entendida como uma ‘história’ (disciplina) que utiliza fontes orais como complementação e/ou confirmação às fontes escritas. A História Oral, ou pelo menos certa história oral não é sobre oralidade e nem se baseia completamente sobre a oralidade. A oralidade é um momento no caminho da apreensão, de uma sondagem do presente. O termo sondagem, ainda provisório pois não expressa de todo a idéia que tenho desenvolvido, que é: através da apropriação da linguagem tenciona-se compreender o presente. O que difere da história que nunca é sobre ou chega ao presente. O termo sondagem é aplicado para assinalar o desconhecimento intencional que colocamos frente ao presente. É como se pronunciássemos: “O presente não existe e eu vou fazê-lo a partir de minha perspectiva. Ele não é o que eu estou lendo, o que estou vendo, porque tudo está pronto.” E aqui trazemos um fragmento do texto “Ontologia, Virtualidade, História” de http://www.unir.br/~caldas/Alberto para especificar a acepção deste presente: “conceber o presente não como uma fina fatia de tempo, mas como dobra: múltipla dimensão onde convergem todas as vivências, todos os significados, todos os passados, deixando de lado tanto a concepção de História quanto uma idéia presentista: o passado deixa de existir como tendo acontecido e o presente escapa do seu imediato. Sem o imediato do presente, sem os discursos que o produzem, reproduzem ou capturam, não há o presente, que é somente quando desdobrado, em desdobramento, em tenção, em atualização. Não há o presente como depósito, arquivo, baú. A “forma de existência” do presente é a de virtualidade [...]. Não há a língua antes do seu exercício, somente a língua em exercício, a atualização em desdobramento que a faz ser. Virtualidade viva no viver.” Sendo assim Roma clássica, Egito antigo, Renascimento e outros ‘fato histórico’ estão presentes enquanto linguagem (estrutura do existente) dada por uma presença social. Não há uma Roma, um Egito antigo ou o Renascimento estagnado num passado, com uma existência física e metafísica, esperando pelo crivo dos estudiosos, para ser descoberta, trazida a luz da ciência. Falamos e vivemos Roma. Pois Roma existe para nós apenas como criação e a recriamos na linguagem. O que é Roma para um pigmeu? Nada. Não há significância pois não faz parte de sua estrutura de linguagens tais construções. A História Oral parte de pressupostos diferentes da antropologia, psicologia, história, das ciências humanas. O pressuposto da História Oral é nossa existência social, todos os processos sociais que nos apresenta como narrativa momentânea de linguagem. É a linguagem que cria nossos corpos, nossas crenças, ordena a 2
  • 3. sociedade. Fomos inscritos nos códigos desta cultura. Nesta percepção de linguagem constitutiva damo-nos conta da plasticidade do mundo. A História Oral não é ciência por que a ciência é naturalizante, para esta não há linguagem como ficção. Uma das preocupações fundamentais da História Oral é: termos o cuidado para não objetificar o ‘outro’, não naturalizarmos. Se tornarmos o ‘outro’ o objeto de conhecimento, do pesquisador nós o estaremos reafirmando como mercadoria, limitando o ‘outro’ da ciência a uma linguagem como objeto de estudo. O momento da entrevista requer a vigilância ético-epistemológica: não dialogarmos com nosso desejo, com os nossos motivos teóricos-metodológicos, nossas questões que possam tolhe, retalhar, deformar o outro em sua linguagem. Com isso não queremos re-invocar a velha parcialidade, não-interferência, ao contrário, propomos assumi-la em sua plenitude: o outro fala porque estou escutando em diálogo numa relação de entrelaçamentos, num imbricar, numa livre escolha para suas contradições. A existência do oralista é plena de interferência num dialogismo com a existência do entrevistado. Esse ‘outro’(objeto) mirrado é confirmação dos objetivos e práticas que queremos alcançar do conhecimento cientifico. Mesmo o ‘outro’ no seu discurso deixa aparecer em seus entremeios este outro: resultado dos fluxos discursivos ficcionais, virtualidade social narrativa e textual, leitura que se organiza a partir dos limites do perceptível e do aceitável da sua comunidade. Para compreendermos as especificidades de certa Historia Oral faz-se cogente distinguir os fundamentos em que esta inserida. Devemos não confundir determinados conceitos (como faz o livro didático de História): o vivido onde homens vivenciam sentimentos e situações a partir das suas vidas e perspectivas, situações que se esfumaçam ao serem vividas; diferencia-se do fato ou acontecimento que é sempre uma construção ficcional daquele vivido, uma perspectiva, intertextualidade, uma abertura, sempre menos e sempre mais, sempre narrativa e ficcionalidade, sempre texto. Esta representação ocorre em processos múltiplos, contínuo e por vezes imediato: a percepção que temos do som emitido pelo cachorro e sua relação que fazemos com o ser que chamamos de cachorro divergem entre si e com o código que usamos para representa-lo. Deste modo a palavra cachorro, o seu desenho, não são o ser cachorro, mas todo esse sistema de representação funciona de forma imediata e contínua para a nossa comunidade. Cada comunidade faz sua leitura do caos criando uma camada fina de significados e as redes simbólicas de sentido que cobrem esse caos; e cada pele corresponde aos vários tipos de leituras construídas em relações. O olhar não suporta o nada: sem reconhecimento não há o ver; sem um projetar profundo, não conseguimos ver. Toda projeção do ser é construída pelas relações. São elas que formam uma rede de significados vivenciados, criando possibilidades de compreender e apreender o sentido do real enquanto ficcionalidade coletiva. Mas para que serve este tipo de História Oral? Para nada. É inútil para a estrutura real e natural. É inútil para fazer rolar o eixo da mercadoria, do sistema ideológico que garante a produção. Se muito servir quiçá seja para a aquisição da consciência pessoal num discurso crítico do conhecimento, das formatações que compõe cada ser; que se converge na textualização: que faz fluir o outro da linguagem põe-se em dialogo em pela interpretação comigo que sou linguagem. Outra conveniência para História Oral como conjunto teórico, (para quem necessite do utilitarismo como suporte das ações), é a de sanar a deficiência do Marxismo e das ciências humanas que não sondam o presente apenas trabalhando com estrutura e conceito. 3
  • 4. Do que somos constituídos? De discurssividades. Somos fábulas (formatações) dos outros, do mundo e de nós mesmos. Somos discursos montados pela coletividade, um algo para esconder núcleos vazios. A História Oral dentro dessa perspectiva de aquisição da consciência (consciência do projeto que somos nós, aprendendo a ouvir a nossa voz, a sabê-la existente: sentir seu contorno, seu calor, as nuances que a faz ser o que não é, ser o que deveria ser, ser aquilo que sonhou: compreender suas vozes e murmúrios como se tudo fosse uma grande e mesma voz: saber os sentidos e significados que é a identidade mais intima de nós mesmos) busca aproximação com os discursos constitutivos da interioridade, da experiência, da palavra, da singularidade como um dos caminhos necessários para se chegar ao conjunto da nossa atuação. A prática social vigente e pagamos para dizer o essencial, porque o essencial permanece escondido, a linguagem é um jogo de esconde-esconde e não de revelações. Falamos do tempo, do jogo, da novela. Mas pagamos a psicólogos para dizer o que realmente vale a pena ser dito. O oralista quer se colocar ao encontro do fluir a linguagem. O assunto eleito para uma pesquisa tem função simplesmente operacional: o oralista precisa de uma ilusão básica para chegar a um local e ali iniciar uma leitura nas redes de discursos. O outro em sua frente é discurso tecido entre escolhas de imagem, de linguagem. Não há nada além das palavras e idéias: a fala direcionada gera ficção, falseamento. O escrito da nossa imagem (representação) é sagrado, o livro é sagrado. Platão apresentar a idéia de que o mundo é um simulacro do mundo das idéias, do mundo perfeito. Os poetas têm baixa estima na sociedade pensada por Platão por representarem o grupo que cria e re-cria simulacro sobre simulacro. Na caverna de Platão o simulacro é sombras, tudo é apenas sombra, penumbra, movimento de não-luz. A Textualização nesta compreensão de realidade ficcional, sendo o passado criação literária ficcional no presente, abre-se como uma maneira de abordar o texto. A ficcionalidade concernente à categoria do real, do humano, permeia o texto em História Oral e garante de rigor ético-filosófico e não um rigor científico. A ética se concretiza no ouvir, deixar o outro construir o seu “eu” profundo, se metamorfoseia elaborando um corpo uma idéia, um sonho, um desejo, satisfazendo o desejo de se dizer. A intencionalidade em História Oral esta no contar do outro, sua ilusão, como monta o fabular. A intenção esta no fulgor do relato num auto-eco História Oral, deixando fluir nossa narrativa. O que é verdadeiro ou falso, o que está certo ou errado, ‘o que realmente aconteceu’ na narrativa são perguntas incabíveis quando se trabalha com a concepção de realidade, humano, sociedade e todo o complexo de símbolos, imagens como ficcionalidade. No texto “Ficção e Realidade” em http://www.unir.br/~caldas/Alberto: “A ficcionalidade não reduz o texto ou a realidade a ser uma mentira ou uma ilusão. Deformação é a “realidade” e os “nossos textos” dizerem-se sem o saber que são objetivos-além-do-mundo ou que seu rigor garante-lhe uma realidade-verdade: enquanto um texto ficcional encontra seu devido rigor e consciência, voltado ao coletivo e às possibilidades reais de mudança e consciência, aqueles textos que são “cientificamente objetivos” desconhecem que são apenas perspectivas ideológicas, afundados num inconsciente redemoinho etnocêntrico, que, sempre que pensaram ter conquistado o mundo somente o haviam perdido por covardia, capachismo e falta de talento.” 4
  • 5. Existe diversidade na definição do que seja o texto final do conjunto de técnicas em História Oral: Alguns acreditam que a oralidade é documento (fitas gravadas); outros que a oralidade escrita (a transcrição) é o documento. A idéia da textualização intenciona que oralidade e o primeiro texto (oralidade escrita) é insuficiente para exprimir a intenção do colaborador, pois o código escrito e falado são essencialmente diferentes. A transcrição é uma integralidade de imagens incompletas vítimas da oralidade (linguagem). Ela não é a oralidade e nem a fidelidade aos propósitos do colaborador. A transcrição é uma tentativa desta intenção. A oralidade por sua vez não é um dizer: é um esconder que apreendemos como um dos passos que gerarão outros textos que se encaminham para a intenção. Na utilização das técnicas de História Oral e compreensão do que é seu texto final consolidou-se várias formas de apresentação da entrevista e suas utilizações: 1. Emprega a transcrição na entrevista e a utiliza em Corte na fala do outro. Deixando que fale o “outro” para continuar o discurso do pesquisador, da ciência e do conhecimento. Uma parte do outro que será eu mesmo falando. 2. Um texto preliminar apresenta a situação da entrevista e em seguida insere a entrevista como um jogo de perguntas e respostas. 3. A entrevista é apresentada em forma de depoimento sendo disposta uma diretriz temporal. Este tipo de texto faz certo tipo de textualização. Nesse contexto conflituoso entre o esconde da oralidade e a intencionalidade da transcrição, a textualização estabelece uma conquista de um diálogo. O texto definitivo, que passa por uma textualização retorna as intenções do colaborador, realizando-as. Não há uma re-escritura na operação do texto, com a textualização. Não se re-escreve a transcrição. O que ocorre é um afloramento da intenção, um deixar fluir a narrativa escondida pela oralidade das ficções que somos criadas pela família, pela sociedade e por nós. Nas ciências humanas: teoria e método criam a realidade. Em História Oral a textualização é a pratica teórica da conquista do que diz ser: o colaborador; numa tentativa de fazer a individualidade, a singularidade. Assumir a ficção que o outro é a que nós somos é assumir a interferência no texto através da textualização e da interpretação. A interpretação é o momento mais próprio do oralista que entra em diálogo com o texto por que ali é necessário fazer fluir o texto sendo ele infinito e polifônico requerendo uma postura que coloca em segundo plano o conhecimento e teorias. O texto é pura ficcionalidade, simbólico: não tem porta, não tem entrada. É ponte para multiplicidade nossa no mundo. O olhar sobre a interpretação do texto é um conceito de barthesiano desenvolve em “Câmara Clara” sobre as fotografias: o “punctum”: um ponto que atravessa você e o outro, desencadeando um encontro. O outro e você vão gerar interpretação. Um exemplo disso: “Deus pairava sobre as águas”. Questões: quanto tempo eterno Deus permaneceu assim? Quantos mundos ele fez e desfez? Isto é o ponto no texto: não importa, o antes e o depois textual, o que importa e o toque, o roçar que ocorre entre textos: entre você e o outro. O interprete: in-verte, sub-verte neste jogo de sombras. Não é o trazer a luz, a perfeição, a verdade. Mas sim um per-verter de simulacros as cristalizações, as máscaras pessoais. 5
  • 6. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 50 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº50 - MAIO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME IV ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: NOTAS SOBRE LITERATURA E ARTE nilson@unir.br CAIXA POSTAL 775 ALBERTO LINS CALDAS CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 6
  • 7. ALBERTO LINS CALDAS NOTAS SOBRE LITERATURA E ARTE Professor de Teoria da História - Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO www.unir.br/~caldas/Alberto - caldas@unir.br "A verdadeira vida, a vida enfim descoberta e tornada clara,conseqüentemente, a única vida plenamente vivida, é a literatura." (Marcel Proust) 1 - Qualquer tipo de arte, principalmente depois do século XX, pois nele o individual pode se expressar aparentemente fora do cânone, gera uma forma de artesão ingênuo que pensa que aquilo que faz é arte. Ao mesmo tempo cria um público ingênuo, quem admira, compra e incentiva o artesão como se ele fosse artista e como se aquilo que ele produzisse fosse arte. Essa “dupla dinâmica” existe em todo o lugar que tenha criado algo chamado arte. É essa “dupla” quem move o “mundo da arte”, pois no seu movimento está a reprodução do mesmo, do de sempre, do conhecido e já devorado, o que foi transformado em esquema reprodutível, aquilo que foi apascentado e retirado do terrível que é a arte, se tornando um pastiche inofensivo. É esse pastiche inofensivo que é continuamente reproduzido como arte e é admirado infinitas vezes pela massa dos admiradores, principalmente porque, sem o saber, esses admiradores são outra grande invenção do século XX: eles são a Massa, um dos horrores desse século que concluiu um ciclo de crenças mas não de tolices. Nascendo e crescendo com uma arte que parece fácil: “simples coisa de criança”: “qualquer um faz”: “é a minha forma de ver”: o artesão inicia um exercício aleatório que ele mesmo e seu nascente público chamará de música, pintura, escultura, poesia. Como se parece com o já feito, se torna também da mesma natureza daquilo com que se parece. Esse espectro mole torna aquilo que o fez um artista e quem o admira um conhecedor. A Massa gera sua arte extraindo da arte aquilo que a torna terrível, a torna única, a torna a conquista de uma linguagem, de uma intensidade, a resultante de mil caminhos anteriores superados e retorcidos. A arte da massa reproduz o visível desse resultado sem ir além, o que seria fazer arte. E isso ela não pode jamais fazer. Seu movimento é para traz e não um movimento intenso para um além do existente. Sua carapaça é nacionalista (leia-se também regionalista) e facistoide. É, sobretudo, burra, despreparada e com a arrogância do desconhecimento. 2 - O libertino não é aquele que tem bons costumes, o que inspira bons costumes e doutrina a moral, o obediente, o pio. O libertino escreve e lê a libertinagem: ele desdobra a libertinagem, o não querido por “fora dos panos” mas o desejado por “dentro dos panos”. O libertino pode se dar o direito [ele mata também sem se dar ao direito, longe dos direitos] de matar o outro para o seu prazer e esse direito não emana de uma permissão, de uma concessão, de um respeito a uma ordem constituída: o libertino constitui sua ordem e essa ordem se esgota na expectativa, no prazer e no gozo: sua vida é se libertar libertando o outro dos seus limites [os cordeiros têm horror-pânico ao liberto-lobo que lhe devora o bolo]. 7
  • 8. O libertino afasta, dilui, destrói os limites. Faz fluir os limites: o limite não é o texto, não é o corpo masculino, feminino (todos dois são performances de papéis sociais travestidos de gênero natural ou cultural) ou homossexual (outra performance): o limite para o corpo não é nenhuma das novidades velhas: formicofilia, amalgatofilia, anastemafilia, autopederastia, ecouterismo, frottage, higrofilia, misofilia, acrotomofilia, zoofilia, dendrofilia, enema, tafefilia, necrofilia: também performances de discursos e de possibilidades de corpo, de desejo, de deslimite, de desrespeito: o limite é a melancia e o além da melancia; o tronco da bananeira, a banana, a cenoura e o além dos vegetais, além da brecha e da aresta das pedras. Restam todos os limites sonhados no desejo: e o texto é bem mais que um corpo: o texto é um corpo de papel e tinta ou bits ou qualquer coisa que possa multiplicá-lo: é um corpo de desejo negativo. Para o libertino a grafia (texto e pré-texto) é porno-grafia. [Nada mais querido e desejado que a pornografia e a obscenidade e nada mais negado e escondido [a sedução do lobo: ver e viver e desejar aquilo que vê, deseja e vive o lobo]: há sempre muitas coisas sobre o pornográfico: ele é algo esmagado sobre outras coisas: escondido. Dos textos do mundo nenhum é mais pornográfico que aqueles da literatura: transgressão viva dentro da linguagem que se põe a gozar, para nada, por safadeza, por pura maldade, por perversa-idade [“Quem ri quando goza/É poesia/Até quando é prosa” (Há lice? Who is): há uma ofensa maior que escrever? Kafka assim feria o pai.] A porno-grafia é uma linguagem trans-a-gressiva: é um constante levar ao limite, um intermitente afastar os limites, é um des-velar, mas o ve-lar do des-velar se faz no limite e no se afastar do limite e não num simples en-cobrir. O ve-lado do porno-grafico é o mais des-velado dos en-cobertos: é o des-velado que não cessa de se des-velar e des-ve-lar seu próprio velamento: e seu prazer, e seu gozo ad-vém deste des-cobrir. O libertino é obsessivo e obsceno. Até mesmo a normalidade é para ele uma trans(a)gressão. Sem a trans(a)gressão não há libertinagem, não há leitura, não há interpret-ação. Sem a pele, sem o buraco da fechadura, sem o esgar de prazer, sem a palavra rasgada em sua normalidade, não há o libertino. O libertino é aquele que vive com a con-tr-adição, com o i-lógico, o para-doxal, o des-medido: seu fluxo é criar textos para nada, para o gozo, para des-dizer, para contra-dizer: o seu é um dis- ser. A Literatura está sempre longe da libertinagem. Como palavra da ordem, é palavra disciplinada. A literatura é pura libertinagem. O escritor escreve a Literatura enquanto o libertino deixa passar a literatura, simplesmente para seu gozo e de quem quiser ouvir. 3 - Há um engano de “leitor”, ou consumidor, normalmente sem conseqüências para eles, que, naqueles que querem se tornar escritores ou poetas, é um desastre sem medida. O erro é pensar que a obra literária nasce da mesma maneira como a encontramos, pronta para ser consumida, nas livrarias, nas bibliotecas, na internet, enfim, no texto. Esse engano é mortal. Uma obra nasce de várias maneiras, mas vejamos uma delas, a que me diz respeito e a da qual posso falar. Em poucos e fulminantes dias se forma, exteriorizada, uma massa coerente, legível, insuficiente; uma teia sutil e bruta, articulada, mineral e pulsante. Não tem ainda coração, ossos, sangue, veias, cérebro, olhos, língua e, completamente, uma alma que a diferencie do mundo e das outras almas (nossa missão será criar, simetricamente, o universo de uma alma). É uma 8
  • 9. coisa viva, que respira, mas não fala; geme e grita mas não pensa; tem uma forma mas não é ainda uma espécie; não pertence, só subsiste; assimétrica, exigi simetria. É a partir dessa matéria inicial, que nos consumiu semanas de puro deleite, gozo, cansaço e alegria, que se iniciará o trabalho doloroso e gratificante de transformar aquela substância opaca, ainda sem todas os componentes e sem o devido polimento, sem órgãos e galerias, sem multiplicidades, numa obra literária. Passamos do momento criador, aquele onde o escritor plasma sua matéria, ao momento de um tipo de leitor, corrigindo, acrescentando, cortando segundo uma perspectiva que não pode ser a mesma do escritor inicial. Enquanto o primeiro cria, o outro transformará essa substância, dando-lhe vida, história, alma. Esse texto inicial, a quem o leia, pode parecer um texto normal, inteiro, pronto, mas ali está somente um feto ou um quase feto em formação. Algumas células multiplicadas, alguns tecidos, carnes, músculos. Falta todo o resto. Enquanto a grande maioria dos literatos e poetastros provincianos, nesse momento, abortam essa substância, essa coisa quase viva, pensando e convencendo os tolos em volta que aquilo é uma obra, o escritor começa seu prazer, sua virtude, seu deleite em criar a obra literária [do vômito ele parte: transformar dejeto em alimento]. A quantidade e a qualidade do trabalho do escritor sobre essa massa inicial é o que vai definir seu valor literário, sua qualidade de “texto literário”. Esse trabalho vai unir veios dispersos e não concluídos das tradições literárias, realizando-as; vai torcer o que estava simetricamente mofando e simetrizar o informe dessas tradições; vai superar o apontado por essas tradições e inovar, como se essas mesmas tradições não existissem, vai articular os pontos futuros que realmente aquele texto conseguiu reunir. É a leitura de toda uma tradição literária, extensa, profunda e repetidamente, na verdade a formatação de uma filosofia, de uma estética e de uma visão de mundo, que definira os parâmetros da ação literária na formação do texto, sendo constantemente alargada, senão será somente um fóssil inútil. A textualização, que criara a obra a partir do “informe”, não é uma correção, um complemento, mas uma reescritura estratigráfica pondo a escritura na sua maneira de existir em devires e o texto com um espírito que o porá livre e fora da vida do autor, da tradição, dos leitores e de uma interpretação unidimencional. O trabalho literário conquista para o texto inicial a liberdade que somente um texto literário pode desejar. E essa liberdade de corpo maduro [passado e semente], essa plenitude diante de si mesmo e do mundo, é o maior resultado diante daquele magro e incompleto texto inicial. 4 - A palavra silenciosa da morte, ou a palavra do Caos, o que vem exatamente a desaguar na mesma água. As palavras não significam absolutamente nada. Não são coisas, não são significantes e muito menos almejam a estranha dignidade de serem significado. Não são mais palavras. Conquistaram a dignidade de serem entendidas ou sentidas como um tecido muito fino que nada significa: elas deixam passar somente o múltiplo e perverso frio da existência do outro lado do tecido. Elas, as palavras, são apenas frágeis biombos rasgados, furados, partidos, vergados. A verdadeira literatura não se faz com palavras: ela cria frágeis biombos para que o imenso calor ou o terrível frio ou o imenso vazio ou o completamente cheio e arestoso do outro lado não nos sidere, não nos cegue, não nos degole, não nos cale, não nos imobilize: o tipo de artista a que nos referimos é aquele que, morto para as palavras que constrói, que cria, que ensina, que repete, que estrutura, extingui as palavras e em seu lugar põe o biombo que instaura a literatura: ele é um libertino das palavras: através dele flui o nada que nos faz sentir o nada por baixo do existir, o 9
  • 10. silêncio antes e depois do sentido, as vagas nulas do antes da vida e do depois da vida, os choques de virtualidades ensandecidas dentro dos sonhos: sem essa morte não seria ele aquele que põe a palavra em seu devido lugar: o lugar nenhum de todos nós: se não fosse assim não sentiríamos por trás, antes, entre e depois dessas palavras o mysterium tremendum et fascinans: somente sua morte e o desaparecimento material e espiritual das suas palavras é o que garante a presença, bem junto, sempre colado e sempre distante do mysterium: os escritores e os poetas que ainda estão vivos e que trabalham palavras materializadas podem somente repetir a palhaçada dos gêneros, dos ritmos, das musicalidades, das formas, das agradáveis e esperadas mesmas coisas: e nos alegramos com essa morte e com esse cadáver que persevera: isso prova que nada está ainda irremediavelmente corrompido: no meio do legítimo nada, entre lama e rios de lama, cercados por mil desertos, perfurados por mil mediocridades gritantes e sempre certas, um libertino caminha morto entre nós gerando no caos frágeis biombos que silenciosamente sussurram que ainda estamos vivos. 5 - A arte não vem da “realidade circundante”: a arte vem das entranhas [as entranhas: o fundamento: os fluxos cristalizados de linguagem que entendemos como mundo: os fluxos vivos que geram e formatam o existir: a maneira do “nosso” existir], e isso não é provinciano, não é de uma rua, de uma casa, de um barzinho. Mas também não é universal: todo universal é uma forma de imperialismo, de religião devorando tudo, apagando todos os passos singulares. A arte é a resistência dessas singularidades: a arte cria guerrilhas contra o mesquinho pensar pequeno, do querer de shopping Center, do fazer medroso, dos tristes buraquinhos de vermes terrestres. A arte é uma guerra contra o mundo. Todo artista é um extraterrestre, um ser nojento, infeliz, metafísico e louco para penetrar onde não é chamado. O infinito é sempre menor e o mundo não cabe em nossa boca. 6 - A Poesia, normalmente, é reacionária e o Poeta um lambe-botas. Isso porque a Poesia é uma maneira cristalizada de dizer, de manipular palavras, sons, musicalidades, imagens. O Poeta cria a Poesia como um bichinho de estimação, um animal treinado que sabe dar cambalhotas, algo amestrado, domesticado e sempre o mesmo. Exercita um “gênero literário”: para ele existe Poesia e Prosa. E a Poesia existe através da estrofe, do verso e do ritmo. Por isso a Poesia é reacionária: o Poeta é aquele que além de reverenciar o hino nacional, chorar com a bandeira e achar que o “parnasianismo” é o máximo, retém a possibilidade de fluxo multidimensional da poesia, fazendo parte daqueles que estão sempre em volta do poder, das maneiras estereotipadas de dizer, sentir e pensar. O Poeta não consegue entender nem o poeta nem a poesia: ele consegue somente reproduzir uma coisa asquerosa chamada Poesia (os minimamente atentos já notaram que uso o maiúsculo e o minúsculo para dizer coisas diferentes com a mesma palavra). E toda “província” tem em exagero essa perversão poética tanto da poesia quanto do poeta, para não falar do excesso de Poetas. Mas não é por maldade não: é por burrice mesmo, ignorância e falta de coragem. Mas essa realidade não é hegemônica, não inclui todos, mesmo que o restante não chegue aos dedos de uma mão. E isso é um prêmio à inteligência. O nascimento tanto da poesia quanto do poeta é um acontecimento da inteligência, uma festa, uma conquista do além da palavra e da imagem. 10
  • 11. Não haver na poesia a frouxidão, o sentimentalismo besta, a ignorância patente, a mesquinhez de palavras, a não superação do mais reles cotidiano, a expressão de uma vidinha pequeno-burguesa, a falta de consciência literária, de leitura, de vida e de tragédia. E sim o que há de mais intenso, mais compacto, mais vívido e vivido. O que se formata ali deve está bem além das palavras. A poesia, como a prosa, não se faz com palavras. O Poeta é que se engana com o visível, o palpável: nenhuma legítima literatura se faz com palavras ou sentimentos ou emoções. A literatura é a criação de um hipertexto. É das múltiplas dimensões textuais compactadas num minúsculo espaço formal literário (o poema), que a leitura deve desdobrar, quadrimensionalizar palavra, signo, sentido e significado, pondo a fluir as várias dimensões, as várias vidas, as várias literaturas, os vários textos postos em movimento, e só assim o leitor terá o universo que os poemas podem gerar. Esse movimento de entendimento do texto é dado pela leitura. 7 - Há os ratos brancos da arte: aqueles que ficam dentro da garrafa de vidro no laboratório, comendo ração e pensando seriamente que o mundo, que aquele espaço branco onde às vezes um ratinho branco é brancamente sacrificado por aquelas sombras também brancas, é o horizonte visível; mas há, para nosso sabor, as ratazanas de esgoto dentro do largo mundo sem fronteiras. Essas sabem que o mundo é cruel, melancólico, perverso, ilusório, temporário, feito de esquecimento, tolice e dor; e que é preciso correr em busca da comida, do sonho, do desejo. Os primeiros, os ratos brancos, desaparecem como vapor dentro do tempo: são os artistas que pensam que são artistas: infestam os laboratórios com sua arrogância de salvadores da raça: desaparecem na hora da morte: não deixam nada: nada significam: todo significado foi somente moda; mas existem as ratazanas: são os verdadeiros artistas: os que sabem que o mundo é um dejeto perigoso mas que é nesse lixo que está o significado sem significado da sua vida: elas, as ratazanas, ou eles os artistas, que formatam nosso existir: dão-lhe sentido e álibi. Mas enquanto o artesanato dos ratos brancos existe, é mercadoria desde o início, coisa feita para brilhar e reproduzir, a arte das ratazanas é somente aquele líquido negro que escorre dos lixões. É uma arte que atravessa o mundo e se derrama inutilmente pela terra. E mesmo que transformem esse líquido novamente em água cristalina e à venda como água mineral, ainda assim o seu percurso não se apaga. 8 - Alguns artistas, na verdade artesãos, passam a vida inteira engalfinhados com formas batidas, idéias repetidas; com uma atitude diante do mundo que em nada difere da maioria dos espectadores do mundo em seu trabalho de formigas. O artista de verdade é aquele que se perde dos limites, desrespeita a tradição, inicia uma modalidade de ser e ver o mundo. Enquanto o escritor inicia uma voz o pintor cria um novo olho. Essa a grandeza do artista: criar outro corpo dentro do corpo normal e aceito como um verme dentro da fruta. É ele quem gerenciará esse novo e estranho corpo. E há artistas que não conseguem isso simplesmente por uma covardia inerente ao homem comum e que em vez de ser vencida é continuamente justificada (coisa que o homem comum não faz: ele simplesmente vive como uma ostra na pedra: somente o artesão que pensa que é artista consegue a tolice de justificar sua incapacidade em se tornar um artista). 9 - A aquele que se diz escritor e a aquele que quer ser escritor, normalmente falta paixão; falta intensidade; falta devoção aos livros e aos livros que só podem vir através dele; falta uma luta diuturna querendo revelar a “natureza humana”: nós e os outros; falta querer criar uma obra que intensifique o mundo, a consciência, o sonho, a percepção e a liberdade sem limites do indivíduo; falta disciplina para conquistar o desejado; falta uma crença raivosa, indignada, rebelada contra pai, mãe, 11
  • 12. família, pátria, bandeiras, deus, sentidos e significados; falta criar seus próprios padrões formando seu gosto; falta criar e exercer uma consciência crítica; falta uma loucura intensa e ininterrupta; falta ler profundamente; falta o isolamento silencioso que isso exige e que filhos, mulheres, pais e amigos não entendem e destroem como vermes a um pedaço de carne, sempre dando “boas razões”: nada mais perigoso para um escritor do que a família, o círculo medíocre dos amigos e o entorno do mundo do trabalho e do laser; falta, mas esse saber é inútil. Quase todos os que escrevem são apenas covardes da emoção, covardes da escrita, covardes da loucura, covardes da memória, covardes da missão, covardes da palavra, covardes da vida, covardes do ritmo, covardes do sentido, covardes do sentimento, covardes do silêncio, covardes do tempo, covardes da visão. Como o chamado escritor pode se abster de tal aventura, a aventura real da literatura, sempre pondo sua vidinha de “classe média”, suburbana e nacional “em texto”? Como não sentir profundamente que a verdadeira literatura engrandece a vida e essa literaturazinha brasileira de terceira categoria que sequer diz ou pode dizer sua alminha provinciana ou sua regiãozinha, são pastiches medrosos que somente envergonham quem a faz e quem um dia por acaso encontre besteira tão desnecessária. Como não sentir a literatura como um conhecimento, e o mais perfeito mecanismo de autoconhecimento, capaz de nos tornar mais vigilantes em relação a nós mesmos, ativando nossa percepção para o múltiplo dos mundos entre nós e amplificando a consciência? Quanto talento desperdiçado, quanta vida falsa fingindo ser uma coisa que não é. Algo que reúne todas as ironias, todos os paradoxos, todos os sentidos é transformado pelo escritor de província em uma coisinha, em um bichinho morto de pelúcia, um joguinho adolescente que passará como um comichão reprodutivo. O amplo prisma giratório da literatura vira um espelhinho de motorista de caminhão. A fundamental ambivalência querendo a todo custo atingir a plenitude expressiva, que é o mesmo que atingir a vida em sua alma, o sonho em sua matéria, a matéria em sua virtualidade, transforma-se, na mão dos “poetas” e “escritores” de província, num ridículo balbucio de doentes mentais covardes. A impossibilidade de dizer o máximo, que todo dia nos dilacera, em vez de ser combatida, é alimentada: quanto mais escrevem esses escrevinhadores menos eles dizem, menos eles constroem, menos eles se tornam ou tornam alguém melhor, e mais eles publicam. A literatura, que é o incansável combate entre textos, vindos de uma leitura encarniçada, onívora e carnívora, precisa dessa leitura para viver: mas o escritor normalmente é um charlatão: ele não lê, ele não lê completamente, ele lê com um vagar medroso, com uma humildade que destrói sua leitura no nascedouro. A literatura como a solitária, complexa e arriscada experiência da singularidade, essencialmente libertária e libertina gerando portais que facilitam a articulação entre tempos, lugares, experiências e vidas, se torna uma maneira de ganhar prestígio entre os tolos, uma maneira de mostrar inteligência, talento e cultura para idiotas que respeitam cultura, talento e inteligência sem saberem o que é inteligência, talento e cultura: burros enganando burros, antas guiando antas e todos somente com um interesse: mais capim! Sem se tornar um inventor da leitura e da escrita o sujeito não se transforma em escritor: não basta escrever e publicar. 12
  • 13. Se nos tornamos escritores de verdade não estamos livres para desistir como pensam sempre os tolos que se dizem escritores: não há como fugir de uma ambição vital, de uma fome que devora o mundo, o universo e não se satisfaz: para o escritor todo limite é um desafio. E com isso ele alarga a vida, o sonho e a revolta contra o insuportável e humilhante peso de existir. Aqueles poucos que realmente estão escrevendo algo que se pode chamar literatura não escreve numa “região”, nem em português, nem mesmo num brasil limitante, enfadonho e ridículo: escreve na literatura, isto é, num rastro de nada, numa ausência. Os outros são escrivães e literatos que publicam coisas ao meio do caminho, incompletas, tragicamente abortadas, onde se pode vê claramente e sem mistério algum, todos os tolos mecanismos literários, os quase métodos, as parcas leituras, a fragilidade do mergulho e da reflexão. 10 - É mais fácil compreender a literatura de Dante, de Proust, de Joyce ou de Rosas do que a chamada “literatura provinciana”. É uma coisa impressionante! É um composto bastante complexo onde encontramos sempre as ingenuidades da boa fé e da ignorância; a vontade adestrada e covarde do mundo sonhando ser mais; um destempero técnico, metodológico e teórico; uma crença piegas em tudo aquilo que é já feito, já pensado, já vivido, já escrito; a admiração, por um círculo de poetas e escritores do “Estado”, da “Nação”, do “Povo”, da “Língua”, da “Literatura”; um fundamento e uma manifestação facistóide por aderir a bandeiras, hinos, emblemas, símbolos e amizades que os tomam sempre frágeis e alegres puxa-sacos, inábeis e espertas presas dos poderes dos estados e municípios: assim todos se completam; uma quase-escrita que é um verdadeiro monstro numa feira de variedades: não se diz ali nada mais que o senso comum; a fezinha ridícula e domingueira; o corpinho adolescente e seus probleminhas; rimas das mais chulas; frases de inacreditável primarismo; escrita de “segundo grau” num conjunto que não passaria por uma professorinha primária mais atenta ao seu estropiado machadinho; artificialismo levado ao esquematismo de periferia; nada tem consistência ou é inteiriço ou luta pela unidade; nenhuma análise ou interpretação convincente: imitações rasteiras; ali não se sente a missão de escrever; extrema desespiritualização; capacidade zero de reviver qualquer “realidade”; não há nenhuma convicção especial transparecendo; tudo está fora dos domínios da sensibilidade: são róis de lavadeira, recados de empregada adomesticada; não há amor, prazer ou paixão desvairada; nenhum elo se prende ao outro com clareza ou densidade; sem “unidade de composição”, estrutura ou ritmo; disformidade, dessimetria e imotivação; sem estilo, o prosaico é levado ao mais chulo estremo; sem concepção estética ou filosófica não há música; sem ossos, não há músculo, carne ou pele. Para esses escritores, a literatura é igual a sua fezinha dominical; igual ao mundinho; igual ao seu joguinho de futebol e aos fogos que solta depois; igual ao pãozinho e seu gostinho de sempre; igualzinho ao sexozinho com a esposa, a prostituta ou a namoradinha: a mesma monotonia ridícula dos que não ousam e pensam ousar, dos que não ferem mas pensam ferir, dos que não violam mas pensam violar; igual às continhas de todo mês; igual ao seu salário conformado com a exploração; igual a tudo que o cerca e aos de seus pobres desejos ainda não testados pelo universo de nenhuma libertinagem séria ou palhaça. É sempre um sonho de adolescente integrado, aquele que não degolou o pai e não violentou a mãe, picando-a depois como a um tubérculo; que não incendiou a casa e assassinou os amigos e os irmãos; que não lutou pelo mais, pelo não, pelo corte, pelo além que caracteriza qualquer aspecto daquilo que pode ser chamado dissolução, mas que na verdade é a literatura: 13
  • 14. um traço de nada, de revolta, de sonho estranho e perverso, algo que começa depois que tudo termina, sempre em outro lugar. Mas aqueles que acreditam naquilo que todos acreditam não podem criar algo que não seja um objeto, uma coisa, uma forma, um conteúdo, uma mensagem, um significado: a literatura é o avesso dessa coisificação: é a criação de um não-corpo, um não-objeto, uma não-forma, um não-conteúdo, de uma não-mensagem, de um não-significado, de um fluir sentido por dentro ao fluir. E isso não é coisa moderna: a lição para vocês foi uma derrota: o moderno é somente quando o que sempre se fez passou a gritar como fazia: não sejam anti-modernos: toda literatura sempre, mesmo quando não existia ou se considerava literatura, foi sempre exatamente igual àquela que os modernos disseram fazer: Joyce e Dante, Rosas e Vieira, Rubião e Homero, Graciliano e Rimbaud são apenas aspectos de uma mesma raiva, de uma mesma paixão, de uma mesma loucura, de uma mesma exasperação, de uma mesma infâmia escorrendo feito palavra, sem criar instituição, poder, imobilidade ou fluxo. Esqueçam língua, pátria, corpo ou razão: e virá a literatura como uma doença infecciosa: e, felizes, morram nela! 11 - Como saber se um texto tem ou não “valor literário”? Como saber se um texto é realmente literário ou não passa de uma impostura? A gramática (normalmente o gramaticamente “correto” carrega uma boa dose de servilismo!) não pode ser aquilo que vai decidir sobre o “valor literário”: a gramática é um ordenamento de poder, um círculo do já feito, do conhecido e reconhecido: a literatura vai sempre além desse círculo e seu limite; a língua também não pode decidir: a literatura é indiferente à língua: ela é somente um dos seus suportes: não importa em qual língua a virtualidade literária se configure: ela não marca essa virtualidade; a região também em nada afeta o nascimento ou florescimento de uma obra, podendo, quando muito, fazê-la definhar por enquadrá-la a um pequeno significado vivencial, a um comodismo provinciano; uma tradição também não pode servir de parâmetro literário, pois a literatura sempre se fez a um passo depois das tradições, apesar de servir-se delas como nossa fome de um pedaço de carne; gênero também não interessa: a grande literatura não pertence a nenhum gênero específico: não existe literatura negra ou branca, heterossexual ou homossexual, macho ou fêmea, moral ou imoral, infantil ou adulta, desenvolvida ou subdesenvolvida, prosa ou verso: o que há é literatura ou não literatura [parece que ninguém mais sabe o que é literatura e qualquer um que escreve é chamado de escritor]; a história da literatura também não pode contribuir: as obras nascem sempre antes das outras obras de uma história: a origem de uma verdadeira obra literária é sempre anterior as suas “influências”; a economia também não resolve a questão: as classes sociais, a riqueza, o capital, a exploração, a mais valia, o roubo, o poder, a miséria, a história, os partidos, a política, o governo: nada disso cria ou impede a criação de uma grande literatura ou de uma grande obra: o “valor literário” não é uma conseqüência, em “última instância”, das determinantes econômicas. Então como saber se uma obra tem valor literário ou não? Todas as obras de real valor literário possuem algo em comum: todas elas partem, sempre com um espírito de negação, de uma filosofia (F), de uma estética (E) e de uma visão de mundo (V) e constituem, em seus labirintos, uma visão de mundo própria, uma outra filosofia e uma nova estética: mas esses elementos só servem naquele universo, naquelas obras específicas: dali não nascem mais obras, a não ser como pastiches, reproduções de segunda mão, como em quase todas as obras provincianas: são reproduções simplificadas dos esquemas, das visões, das facilidades visíveis de uma obra, daqueles elementos que o poder difunde como qualidade e valor. 14
  • 15. Mas ainda mantemos o mesmo problema: como saber se um texto tem ou não “valor literário”? É um longo caminho. Toda obra realmente literária gera uma rede de galerias onde se formatam em movimento sua FEV: cria-se uma espécie de “virtualidade singular” e uma forma de “virtualidade social”. Há um intrincado virtual que é preciso levar em conta antes das análises do leitor, da língua, do estilo, dos discursos, dos gêneros, das formas, das estruturas, das funções. Precisamos, enquanto hermeneutas da obra literária, pensar sobre a FEV que propõe. É a partir desses componentes (FEV) que poderemos estabelecer se uma obra, em seus fundamentos, é somente uma reprodução sem valor, porquê mil vezes dita e dita mil vezes melhor, de uma “escola” qualquer, de um “autor” qualquer. Uma “obra limite” sem história, sem personagem, sem lugar, sem perspectiva, sem narrador, sem temporalidade pode estruturar uma FEV inigualável. Sua significância nascerá da importância não do estilo, não da gramática, não da tradição, não da língua, não do gênero mas da sua específica FEV. Esse é um começo porque nenhuma obra literária se resume a sua FEV. Mas é dela que retira toda a sua força, todo a multiplicidade que devora as outras obras e exige a multiplicação da leitura e da interpretação; é dela que nasce nossa admiração, nosso amor, nosso espanto, nossa busca, nosso desejo, nosso olhar, nossa leitura. Fazer literatura não é somente escrever, contar uma história, construir um estilo: é criar uma FEV, é constitui-la com toda a nossa singularidade, com toda a sinceridade, coragem e unicidade que nos for possível. Como essa FEV pôs ao seu serviço um estilo, uma gramática, uma tradição, um gênero, uma história, uma língua é a nossa grande questão. Uma virtualidade singular que, para existir, precisa de uma outra voz, uma outra forma, uma outra perspectiva. Daí porque é impossível para o artista ser “normal” e escrever (ou pintar ou esculpir ou criar qualquer coisa realmente em arte). Gerar filhotes, obedecer à família, entender o governo, participar de um partido político, sentir-se honrado por estar trabalhando ou estudando, amar pai e mãe, amar uma mulher ou à mulher sobre todas as coisas, defender a pátria, chorar de emoção com a bandeira, respeitar alguma coisa, gostar daquilo que todo mundo gosta, assistir televisão, gostar de programas de auditório e novelas, ler os autores da moda, ler os autores respeitados pela “escola” e pela “academia”, desejar aquilo que todo mundo deseja e tolices do gênero são sintomas de uma quase FEV massificada que está há muito estabelecida, servindo somente a um mundo ridículo e cada vez mais pobre e fascista. Um escritor é aquele que, antes de tudo e depois de tudo, cria uma FEV própria, singular, como maneira de ver, sentir, dialogar, desejar e sonhar, viver e morrer. Aqui resolvemos a nossa questão? Não! Para desalinharmos um bom pedaço desses fios é realmente preciso muito caminho e muita tinta. Aqui é somente um dos mil começos de algo sem começo que tem seu fim exatamente em todos os possíveis começos. 12 - Para a grande maioria dos leitores, e até mesmo dos críticos, existe uma só e mesma e grande Literatura. Essa grande Literatura se distingue por ser feita por línguas diferentes, povos diferentes, costumes e culturas diferentes. É a multidão dos que não sabem que existe também uma literatura. São duas: uma, a Literatura, se divide por gêneros, é feita em prosa ou verso, pertence a uma língua, a uma cultura, tem escritores, pode ser estudada calmamente por professores de letras e de línguas; é escrita por homens, mulheres ou homossexuais; negros ou brancos ou amarelos ou vermelhos; jovens ou velhos; doentes ou sãos; de ilhas, continentes, cidades ou campos: nasce de um gênero, de uma cor, de um lugar: uma máscara sobre uma máscara sobre uma máscara, e se plasma numa máscara sem face por dentro. 15
  • 16. A chamada “Literatura Brasileira” (católica demais, cristã em exagero, subserviente em excesso, filosófica e esteticamente sempre burra e atrasada demais, cavalarmente capacho de governos e poderes!) é quase somente Literatura: palavras numa língua, costumes numa cultura, referência de um mundo pré-determinado, contação de história: é algo que não voa ou tenta voar como um imenso avestruz afoito mas tímido demais para ver que para voar é preciso algo mais que olhos vendados, vergonha e covardia. Falta intensidade. Mas a nossa literatura existe. Não vivemos somente de Literatura. O Brasil produziu quase inteiramente Literatura: aquela que é lida nas escolas, aquela que é filmada, aquela que vende, aquela que é indicada, aquela que diz “a nossa alma”. Coisinha do espírito dos pobres, dos covardes, dos inferiores (já não há, entre vocês brasileiros, um “complexo de inferioridade”, mas inferioridade mesmo, gritante, dolorosa, estridente). E até mesmo a literatura de vocês é fraquinha, é covardezinha, é quase um espelhinho, quase um puxadinho, quase boazinha, quase interessantezinha: dá até uma peninha, uma vontadezinha de acarinhar o pelamezinho do animalzinho tristinho. Mas qual a diferença entre a Literatura e a literatura? Vejamos. Porque não é uma questão de língua, de “momento histórico”, de cultura, de amadurecimento ou tolices do gênero. Vejamos. A Literatura é um espelho; por trás desse espelho só tem a parede: é reflexo, é superfície pintada: nele Alice não entra, não penetra e não é penetrada conforme seu íntimo mais desejo. A literatura não reflete, não representa, não reproduz: ela não é um espelho, não é espelho de nada, se parece espelhar é somente ilusão. A literatura é espelhamento, isto é, além de refletir o mundo circundante, como fantasmas em claro escuro, faz pressentir que algo se move por traz, algo vive e se agita além da nossa imagem e das imagens do mundo: multiplica e faz se mover. Além das palavras: a literatura não escreve com palavras: elas são apenas um artifício para semi-esconder (ou nos proteger?) aquilo que se move do outro lado, ou aquilo que existe do outro lado, pelo avesso. A literatura é fazer sentir aquilo que se move do outro lado. Enquanto a Literatura é somente uma história contada com palavras. Alice atravessa o espelhamento que ali é chamado de espelho por falta de um outro nome. Mas o que se move atrás e além do espelhamento não é aquele mundo de Alice, não é um conto de fadas: o espelhamento não é atravessável: do outro lado podemos apenas pressentir existência, movimento, algo que escuta, algo que respira, algo que deseja e sonha: e esse algo, estranhamente, diz respeito intimamente a cada um que chegue perto. A literatura não diz o visível, o institucionalizado, o já recortado, o social, como a Literatura; diz aquele fluxo discursivo vivencial que está entre o caos e a Virtualidade. A literatura diz aquilo que ainda não foi dominado, dito ou que pode ser dito: um fluxo que atravessa livremente tanto o informe do caos quanto a essência e a vivacidade do formatado. Por isso a literatura nos toca tão intensamente, tão profundamente, por isso ela não nos conta uma história: ela somente nos aproxima cada vez mais dessa coisa do outro lado, dessa coisa que corre entre nós, dessa coisa que somente em momentos extremos e intensos da vida, momentos perversos e estranhos, nos aparece com sua face sem palavras. O escritor é o trabalhador da Literatura enquanto o libertino é aquele que faz deslizar intensamente a literatura. 16
  • 17. 13 - Como distinguir o charlatão (não o picareta - que é o charlatão que sabe que é charlatão) das letras? Como saber que um poeta, um contista, um romancista é realmente aquilo que ele e alguns ao seu redor dizem que ele é? Como separar o verdadeiro artista daquele que é apenas uma cópia deformada e simplória? Como saber se aquilo ali escrito é realmente literatura e não uma reprodução ridícula do existente? Normalmente não podemos saber, mas uma coisa é fundamental para uma consciência literária: ter se preparado a vida inteira, intensa e obsessivamente, para a escrita e seu mundo. Mas como saber que esse mundo criado por nós é realmente um mundo legitimamente literário? É preciso leitura e é essa leitura que nos dará um dos parâmetros para a compreensão e o valor daquilo que fazemos. Por isso, aqui darei uma lista de autores que, se lidos, serão uma garantia de que estamos no caminho certo, de que sabemos o que estamos fazendo, de que não somos charlatões ou picaretas. Não é uma lista definitiva ou que deva ser seguida, mas que sem ela ter sido devorada, assimilada e superada o escritor não estará escrevendo coisa com coisa, ou somente se enganando e enganando os outros mais ignorantes que ele. Estará repetindo burramente. Não é um paideuma, uma lista dos poucos essenciais, mas uma lista de formação, isto é, sem ela o escritor não possuirá uma formação básica para constituir seu texto e ter consciência literária suficiente para saber a direção da sua escrita, o valor inicial da sua escritura (o tempo do Éden passou!). Vejamos nossa lista mínima de autores, e alguns livros: Gilgames, Bíblia, As Mil e uma Noites, Homero, Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Aristófanes, Platão, Ovídio, Petrônio, Agostinho, Dante, Boccaccio, Casanova, Pirandello, Ungaretti, Buzzati, Pavese, Svevo, Guareschi, Calvino, Quevedo, Góngora, Cervantes, Lope de Vega, Calderon, Lorca, Borges, Cabrera Infante, Neruda, Paz, Lezama, Cortazar, Marques, Chaucer, Shakespeare, Donne, Milton, Swift, Defoe, Fielding, Sterne, Blake, Dickens, Lewis Carroll, Wilde, Stevenson, Dickinson, Whitman, Melville, Poe, Henry James, Twain, Yeats, Shaw, Hardy, Conrad, D.H. Lawrence, Virginia Woolf, Joyce, Beckett, Auden, Pinter, Orwell, Pound, Eliot, O’Neill, Fitzgerald, Faulkner, Hemingway, Steinbeck, Bellow, Pynchon, Singer, Villon, Montaigne, Rabelais, La Fontaine, Moliere, Pascal, Rousseau, Voltaire, Diderot, Sade, Balzac, Hugo, Nerval, Stendhal, Flaubert, Baudelaire, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud, Lautréamont, Proust, Gide, Céline, Genet, Jarry, Sartre, Camus, Malraux, Ionesco, Artaud, Duras, Yourcenar, Erasmo, Goethe, Schiller, Hölderlin, Hoffmann, Büchner, Heine, Nietzsche, Rilke, Broch, Kafka, Brecht, Mann, Döblin, Musil, Bernhard, Canetti, Dürrenmatt, Ibsen, Strindberg, Kundera, Puchkin, Gogol, Turquenev, Dostoievski, Tolstoi, Chekov, Maiakovsky, Kavafis, Seferis, Kazantzakis, Vieira, Eça, Pessoa, Saramago, Pompéia, Machado de Assis, Euclides, Lima Barreto, Graciliano, Drummond, Rosa, Rubião, Suassuna, Nava. Essa lista não é exaustiva, principalmente porque é “ocidental” (nem é para ser seguida ou admirada, mas superada pela leitura e com uma obra pessoal), mas pode servir de parâmetro mínimo para o charlatão saber (se não leu ou leu de raspão ou somente leu alguns) que é um charlatão, podendo criar vergonha e ir ler ou continuar na senda do crime de burrice militante; ou ainda se transformar em picareta. Ter lido esta lista mínima nos capacita, minimamente, a responder as perguntas iniciais. Ainda se acredita numa “literatura parnasiana”, numa poesia “vinda do coração e das emoções”, numa expressão literária “dos sentimentos e da vida”, numa arte que “vem de dentro”. É de uma ingenuidade, de uma tolice, de uma falta de vergonha sem limites. O resultado é sempre um puxadinho ridículo, uma coisinha sem 17
  • 18. razão de existir: tudo de um provincianismo doloroso, de uma adolescência inescapável. No entanto essa coisa informe, fraca e pobre é publicada a todo instante nos jornais, em livros, em coletâneas seja pelo próprio autor seja pela proximidade com o poder, que o defende como a um cão caseiro. Acreditam, os pobres escritores desta terra, que para se tornar um escritor e escrever literatura basta sentar e escrever; basta se acreditar alfabetizado; basta um comichãozinho entre um filho e um horário de trabalho; literaturas dos feriados e fins de semana; basta ter amigos no poder para publicar suas asneiras; basta ter lido um Bilacquinho, um Montelozinho, um Coelhinho, alguma seleta secundarista, jornais e algumas raras revistinhas, ou não ter lido ninguém (para não afetar o “estilo” da cavalgadura). Não! A literatura é muito mais difícil, muito mais complexa, muito mais profunda que qualquer curso universitário. E além da lista de escritores obrigatórios existe toda uma longa bibliografia teórica sobre literatura que é absolutamente necessária. Um escritor não se faz com simples amadorismo, com leituras de segunda mão, com pouquíssima leitura, com uma vida integrada no mundo como uma barata ao esgoto. Não! A literatura é outra coisa. 18
  • 19. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 51 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº51 - MAIO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME IV ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS EFEITOS DO PERFIL MOTIVACIONAL CONSELHO EDITORIAL SOBRE O DESEMPENHO NO TRABALHO DE ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia EQUIPES DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras SAÚDE DA CIDADE DE PORTO VELHO- FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia RONDÔNIA-BRASIL INFORME DE MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras PILOTAGEM VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: CLAUDEMIR LEITE DA SILVA nilson@unir.br CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 19
  • 20. Claudemir Leite da Silva leite@unir.br Professor do Departamento de Psicologia - UFRO EFEITOS DO PERFIL MOTIVACIONAL SOBRE O DESEMPENHO NO TRABALHO DE EQUIPES DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE DA CIDADE DE PORTO VELHO-RONDÔNIA-BRASIL INFORME DE PILOTAGEM Muitos são os fatores que podem afetar o bom desempenho no trabalho, entre eles temos o estilo de direção, o sistema de comunicação entre dirigente e subordinado, o tipo de liderança exercido pelos gerentes ou possíveis líderes e os fatores motivacionais que impulsionam os trabalhadores a terem melhor ou pior desempenho no trabalho para assim satisfazerem direta ou indiretamente suas necessidades. Um dos assuntos que tem impulsionado grande quantidade de investimentos em pesquisas na área Organizacional desde o início do século XX é “os motivos que levam as pessoas a agirem”. Não é possível compreender o comportamento das pessoas sem um mínimo de conhecimento sobre o que motiva seu comportamento. Existem diferenças motivacionais entre as pessoas. É tão importante esse fato que as políticas de uma empresa, os incentivos, o desenho do posto de trabalho, o desenho organizacional e tantos outros mecanismos motivacionais empregados pelas empresas, não alcançam produzir efeitos massivos e uniformes nas preferências, persistência ou vigor de seu comportamento ocupacional. Há razão essencial que as condições motivacionais internas de uma pessoa podem ser diferentes das de outra. Também essas condições internas se modificam com a experiência, a idade e outras circunstâncias. As condições externas tampouco são idênticas para pessoas que trabalham em diferentes grupos ou ambientes laborais, e tanto as primeiras como as segundas incidem nas realidades motivacionais internas dos indivíduos. Se as condições motivacionais internas são mutáveis e também o são as externas e, ademais, uma inter-atua com a outra para afetar as preferências, persistência e vigor do comportamento devemos esperar que as particularidades motivacionais das pessoas sejam diferentes entre indivíduos e em uma mesma pessoa em diferentes circunstâncias. Para Simon (1957) o comportamento das pessoas na organização é intencional, está orientado para obtenção de metas ou resultados. Por conseguinte, na medida em que as organizações proporcionam possibilidades diretas ou indiretas de obter metas pessoais, nessa mesma medida as pessoas estarão dispostas a considerar sua vinculação como membro. Por sua participação na atividade organizacional, o indivíduo recebe benefícios ou retribuições que lhe interessam, como salário, bom trato, promoção, prestígio e a satisfação de várias necessidades (Toro, 1982). Sua participação ou contribuição consiste em dedicar a empresa tempo e esforço, aceitar que as pessoas investidas de autoridade definam e limitem seu comportamento, ou seja, aceitar as relações de autoridade, dentro de certos limites. Segundo Toro(1992) o comportamento em geral e o desempenho ocupacional em particular se entendem como um efeito ou condição conseqüente. O comportamento é o efeito de dois tipos de agentes causais denominados condições antecedentes e condições intervenientes. São condições antecedentes a causa ou pré-requisitos da ação, tais como a saciedade e os estímulos ou reforços positivos ou negativos. São condições intervenientes, a habilidade ou capacidade da pessoa, seu conhecimento e experiência, sua orientação ao trabalho, suas expectativas e sua motivação. Estes são processos internos que têm um papel mediador na determinação dos comportamentos. Um desempenho específico ou um comportamento particular constitui a condição conseqüente ou efeito. 20
  • 21. A relação entre desempenho e esforço para realizar uma ação é impactada por um conjunto de condições intervenientes cujo efeito na relação consiste em potenciar e em precipitar a ação. A ação a sua vez é um instrumento para obter resultados que permitem a pessoa obter satisfação, recobrar um equilíbrio que se havia alterado ou evitar um efeito desagradável ou nocivo. Este conjunto de fatores ou condições intervenientes está conformado por Condições Motivacionais Internas. Se deve ter em conta que estas condições internas se estruturam, se sustêm ou se modificam pela ação dos outros fatores que determinam a personalidade e das condições sociais, culturais e demográficas das que participa o indivíduo. A relação entre desempenho e resultado é afetada por diversas variáveis e circunstâncias, embora se destacam um conjunto de variáveis antecedentes do contexto, que fazem parte do que se denomina como Condições Motivacionais Externas, estas condições são em sua vez a expressão concreta e fatual das distintas dimensões do posto de trabalho em que está localizada a pessoa. As Condições Motivacionais Externas, tal como são percebidas e experimentadas pelo indivíduo e tal como se associam ao desempenho, podem ser mais ou menos contingentes com ele. Deste modo se convertem em esforço e recompensa por sua ação (desempenho) e podem chegar a constituir-se, também em efeitos ou resultados de alto interesse para o indivíduo ainda que para a organização do trabalho tenham pouco ou nenhum interesse. Uma pessoa pode aumentar a quantidade de seu desempenho, por exemplo, dado que dentro das condições de seu posto de trabalho está previsto o incremento da retribuição econômica sem isto ocorrer. O interesse por esse tema e especialmente pela identificação dos fatores que exercem influências sobre o rendimento de trabalhadores é derivado de uma série de estudos que realizo e que têm como objetivos, levantar, identificar e classificar os padrões de identidade da população atual da região Norte do Brasil, especificamente do estado de Rondônia que apresenta um desenvolvimento global bastante diferenciado de outras regiões do Brasil, e para isso é necessário empregar instrumentos padronizados para esta realidade. MÉTODO Equipes: As equipes sorteadas são amostras aleatórias de tamanhos proporcionais a dois estratos não superpostos (com alto nível de desempenho e com baixo nível de desempenho) de uma população de equipes de enfermagem prestadoras de serviços de saúde da cidade de Porto Velho-Rondônia-Brasil, sendo do primeiro estrato de um total de 09 equipes foram sorteadas 02 para a amostra, e do segundo estrato de um total de 10 equipes foram sorteadas 03 equipes, com as seguintes estruturas Equipe 1= 06 sujeitos; Equipe 2= 05 sujeitos; Equipe 3= 06 sujeitos; Equipe 4= 05 sujeitos; Equipe 5= 08 sujeitos As comparações realizadas foram as seguintes: Equipes: (01-03); (01-04); (01-05); (02-03); (02-04); (02-05); Procedimentos e Instrumentos: Levantou-se um total de 23 equipes de enfermagem, prestadoras de serviços de saúde em Porto Velho-Rondônia-Brasil, que preencheram os seguintes requisitos: integrantes das equipes com o ensino fundamental completo e com 04 meses, no mínimo, de tempo de permanência no grupo; que a equipe desenvolva suas atividades em condições de interação constante entre seus membros, de maneira que as diferentes atividades que executem requeiram uma integração por parte de todos seus membros para alcançar o objetivo final; que apresentem similares situações materiais de funcionamento, de organização e de hierarquia; e que cada equipe tenha no mínimo 04 sujeitos; 1. Realizou-se a avaliação de desempenho e após, as equipes foram classificadas em níveis de desempenho (1ª-alto desempenho; 23ª-baixo desempenho); ISSN 1517 - 5421 21
  • 22. 2. Aplicou-se em cada membro das equipes um questionário para levantamento das variáveis de controle e depois, realizou-se comparações de duas em duas equipes, utilizando-se da Prova de Proporção para analisar as diferenças significativas das variáveis de controle. Ao final, de 132 comparações possíveis, encontramos 90 que não apresentavam diferenças significativas, sendo: 9 equipes com alto nível de desempenho com 10 equipes com baixo nível de desempenho; 3. Para esta pilotagem foram sorteadas duas (02) equipes com alto nível de desempenho (1; 2) e três (03) equipes com baixo nível de desempenho (3; 4; 5) perfazendo um total de seis (06) comparações; 4. Foi aplicado o QMT em todos os membros da amostra e após a qualificação dos dados por equipe foram aplicadas a “Prova da Mediana” e a “Prova de Fisher” para analisar se os fatores apresentavam diferenças significativas. Os três instrumentos utilizados foram: 1º - O Questionário de Avaliação de Desempenho com os respectivos indicadores que foram avaliados foi montado após um estudo criterioso utilizando os Organogramas e Fluxogramas das empresas que trabalhavam as equipes, o Código Brasileiro de Ocupações e outros questionários utilizados por órgãos do Governo Federal, assim como, também, tabelas com relações de cargos e seus indicadores. A amostra a ser utilizada de pessoas que responderiam o questionário de avaliação de desempenho das equipes foi estabelecida em não menos que 50 pacientes internados. Para a composição do questionário de avaliação da eficiência (desempenho profissional) das equipes de enfermagem os indicadores estabelecidos foram: 1- Sociabilidade; 2-Apresentação pessoal; 3-Equilíbrio emocional; 4-Organização; 5-Interação com o cliente; 6- Comunicação; 7- Limpeza e Higiene; 8- Qualidade do trabalho; e 9-Agilidade no atendimento; Ao final da aplicação os dados foram organizados em tabelas com a média de cada indicador e eles se movem de 01 ponto até 05 pontos. Com os resultados levantados foram realizadas as comparabilidades entre os grupos utilizando-se das médias alcançadas em cada indicador e, para verificar se as diferenças apresentadas foram significativas, foi utilizada a Prova “U de Mann-Whitney”. 2º - O Questionário para controle de variáveis foi necessário para controlar um conjunto de variáveis que pela importância poderiam ser fator de influência nos resultados a serem obtidos e chegando a ser a causa das diferenças produtivas entre os grupos. Para este controle de variáveis foram tomadas as variáveis consideradas por Rojas (1999), sendo: 1-média de idade do grupo; 2-nível de escolaridade dos membros do grupo; 3-tempo médio de experiência de trabalho do grupo; 4-média de tempo de permanência dos membros no grupo; 5-nível de escolaridade do dirigente; 6-tempo dirigindo o grupo; 7-tempo de experiência de direção do dirigente; 8- satisfação com o salário; 9-satisfação com as condições espirituais de vida; 10-satisfação com as possibilidades de superação técnica; 11- satisfação com o grupo; 12- satisfação com o dirigente; 13-cursos de direção; 14-idade do dirigente; 15-satisfação com o trabalho; 3º - O QMT que foi criado por Toro (1982,1990) e é estruturado da seguinte forma: O QMT é dividido em três dimensões (Condições Motivacionais Internas-CMI; Condições Motivacionais Externas-CME; e Meios Preferidos para obter Retribuições desejadas no trabalho-MPR), com 05 fatores cada, representados por 05 ISSN 1517 - 5421 22
  • 23. questões com 05 alternativas cada uma, aonde o indivíduo deverá classificá-las por ordem de preferência, e como não é o objetivo deste trabalho uma discussão detalhada do QMT apresentamos a seguir as definições dos 15 fatores medidos pelo mesmo: CMI- Logro (Log)- Se manifesta através do comportamento caracterizado pela intenção de fazer algo excepcional, alcançar excelência, levar vantagens sobre outros; Poder (Pod)- expressado por ações e intenções orientadas a adquirir ou exercer domínio, controle e influência sobre pessoas ou grupos; Afiliação (Afi)- expressada por ações dirigidas a obter relações interpessoais acaloradas; Auto-Realização (A-R)- manifestada por ações que buscam aperfeiçoamento e utilização no trabalho de habilidades e conhecimentos pessoais; Reconhecimento (Rec)- manifestado em atividades orientadas para obter dos outros atenção, aceitação ou adminiração pelo que a pessoa é, faz ou sabe; MPR- Dedicação a Tarefa (DT)- expressado por comportamentos ocupacionais orientados a dedicação do tempo, esforço e iniciativa no trabalho. Preocupação por mostrar no trabalho respondabilidade e qualidade; Aceitação da Autoridade (A-A)- inclue modos de comportamento que expressam reconhecimento e aceitação tanto das pessoas com autoridade na empresa como das decisões e atuações de tais pessoas; Aceitação de Normas e Valores (ANV)- inclue comportamentos que refletem aceitação e colocação em prática de crenças, valores e normas para o funcionamento e a permanência da empresa; Requisição (Req)- modos de comportamento que buscam alcançar as retribuições desejadas influenciando diretamente a quem pode concede-las, mediante solicitude direta, confrontação ou persuasão; Expectativa (Exp)- modos de comportamento que mostram uma atitude de espera ou de confiança nas decisões e disposições dos mandos, nas determinações da autoridade formal; CME - Supervisão (Sup)- comportamentos de consideração, reconhecimento ou retroinformação por parte dos representantes da autoridade organizacional; Grupo de Trabalho (G-T)- possibilidade no trabalho de contato pessoal com outros, de participação em atividades coletivas; Conteúdo do Trabalho (C-T)- variedade, autonomia e retroinformação que fornecem o cargo ou tarefa; Salário (Sal)- retribuição em dinheiro ou espécie, associada ao desempenho de cargo; Promoção (Pro)- possibilidade de movimentação ascendente na organização; RESULTADOS Equipes 1-3: número de indicadores a favor da primeira (7 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 1 se apresentou com nível de desempenho significativamente superior ao da equipe 3.(Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,38; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 1-4: número de indicadores a favor da primeira (5 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 1 se apresentou com nível de desempenho significativamente superior ao da equipe 4. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,63; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 1-5: número de indicadores a favor da primeira (6 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 1 se apresentou com nível de desempenho significativamente superior ao da equipe 5. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,00; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 2-3: número de indicadores a favor da primeira (9 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 2 se apresentou com nível de desempenho significativamente superior ao da equipe 3. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 4,24; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 2-4: número de indicadores a favor da primeira (9 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 2 se apresentou com nível de desempenho significativamente superior ao da equipe 4. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 4,24; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). ISSN 1517 - 5421 23
  • 24. Equipes 2-5: número de indicadores a favor da primeira (9 de 9), número de indicadores a favor da segunda (0 de 9). A equipe 2 se apresentou com nível de desempenho significativamente superior ao da equipe 5. (Teste de Significação – valor calculado: Z= 4,24; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Controle de variáveis: Na fundamentação da compatibilidade realizada para cada situação concluímos com a análise das variáveis de controle aplicando a Prova de “Proporções”, que as comparações 01-03; 01-04; 01-05; 02-03; 02-04; 02-05 resultaram similares por não apresentarem diferenças significativas, sendo: Equipes 1-3: número de indicadores a favor da primeira (3 de 15); número de indicadores a favor da segunda (1 de 15); número de indicadores similares as duas equipes (11 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,56; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 1-4: número de indicadores a favor da primeira (1 de 15); número de indicadores a favor da segunda (3 de 15); número de indicadores similares as duas equipes (11 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,56; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 1-5: número de indicadores a favor da primeira (0 de 15); número de indicadores a favor da segunda (2 de 15); número de indicadores similares as duas equipes (13 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 1,46; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 2-3: número de indicadores a favor da primeira (3 de 15); número de indicadores a favor da segunda (0 de 15); número de indicadores similares as duas equipes (12 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,29; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 2-4: número de indicadores a favor da primeira (3 de 15); número de indicadores a favor da segunda (1 de 15); número de indicadores similares as duas equipes (11 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 2,56; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Equipes 2-5: número de indicadores a favor da primeira (2 de 15); número de indicadores a favor da segunda (1 de 15); número de indicadores similares as duas equipes (13 de 15). (Teste de Significação – valor calculado: Z= 3,29; valor tabelado: Z= 1,96; nível de significância α= 0,05). Comparações dos fatores do Perfil Motivacional: Na Tabelas abaixo apresentamos as comparações de cada fator motivacional das Equipes 1-3; 1-4; 1-5; 2-3; 2-4; 2- 5 com os resultados das aplicações da Prova da Mediana e da Prova de Fisher com um nivel de significancia de α= 0,05, que foram empregadas para analisar os dados separados pela mediana. Equipes: 1-3 AN Tabela 01 Fator Log Pod Afi A-R Rec DT A-A Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro V 0,4 0,3 p= 0,43 0,32 0,46 0,46 0,16 0,55 0,18 0,43 0,32 0,32 0,18 0,43 0,16 3 6 ISSN 1517 - 5421 24
  • 25. Como podemos observar em todos os fatores comparados das equipes 1 e 3, não encontramos diferenças significativas a um nível de significância de α= 0,05; Equipes: 1-4 AN Tabela 02 Fator Log Pod Afi A-R Rec DT A-A Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro V 0,3 p= 0,43 0,32 0,43 0,32 0,18 0,45 0,36 0,43 0,43 0,43 0,32 0,06 0,43 0,05 2 Somente a comparação entre os resultados apresentados para o fator Promoção das equipes 1 e 4 apresentou ter diferença significativa favorável para a equipe 1 a um nível de significância de α= 0,05; Equipes: 1-5 AN Tabela 03 Fator Log Pod Afi A-R Rec DT A-A Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro V p= 0,05 0,37 0,34 0,35 0,35 0,05 0,14 0,53 0,37 0,56 0,41 0,21 0,21 0,24 0,14 Nesta comparação, entre os fatores comparados das equipes 1 e 4, somente dois apresentaram ter diferenças significativas a um um nível de significância de α= 0,05, sendo o fator Logro com diferença favorável para a equipe 1 e o fator Dedicação a Tarefa com diferença favorável a equipe 5; Equipes: 2-3 AN Tabela 04 Fator Log Pod Afi A-R Rec DT A-A Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro V p= 0,42 0,42 0,48 0,24 0,48 0,24 0,48 0,42 0,40 0,18 0,24 0,42 0,42 0,40 0,48 Nesta comparação podemos observar que em todos os fatores levantados das equipes 2 e 3 não encontramos diferenças significativas a um nível de significância de α= 0,05; Equipes: 2-4 Fato AN Tabela 05 Log Pod Afi A-R Rec DT A-A Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro r V p= 0,24 0,48 0,48 0,42 0,24 0,40 0,48 0,42 0,48 0,24 0,42 0,40 0,24 0,40 0,48 Em todos os fatores comparados das equipes 2 e 4 não encontramos diferenças significativas a um nível de significância de α= 0,05; ISSN 1517 - 5421 25
  • 26. Equipes: 2-5 Fato AN Tabela 06 r Log Pod Afi A-R Rec DT A-A Req Exp Sup G-T C-T Sal Pro V p= 0,08 0,39 0,44 0,16 0,41 0,41 0,39 0,28 0,44 0,04 0,41 0,41 0,41 0,33 0,41 Somente a comparação entre os resultados apresentados para o fator Expectativa das equipes 2 e 5 apresentou ter diferença significativa favorável para a equipe 05 a um nível de significância de α= 0,05; CONCLUSÔES Considerando que as comparações realizadas nesta pilotagem foram entre equipes que apresentaram alto nível de desempenho com equipes que apresentaram baixo nível de desempenho, não podemos, após análise dos resultados levantados, estabelecer traços que possam ser considerados como um perfil que determinem uma equipe ser mais eficiente ou menos eficiente. Os fatores: Promoção (Tabela 02), Logro e Dedicação a Tarefa (Tabela 03), e Expectativa (Tabela 05), que apresentaram diferenças significativas quando da comparação dos resultados alcançados pelas equipes com alto nível de desempenho com as equipes com baixo nível de desempenho, não foram detectados aparecimentos nas comparações em quantidades estatísticas significativas para estabelecermos como determinantes favoráveis para alcançar um certo nível de desempenho. Estas conclusões se circunscrevem aos grupos estudados. O tamanho pequeno da amostra utilizada (02 equipes com alto nível de desempenho e 03 equipes com baixo nível de desempenho) se constitui em um fator que limita realizar uma análise mais profunda de algumas das relações possíveis apresentadas pelos instrumentos porém como estudo piloto se faz necessário continuar estes estudos com uma amostragem maior e com outras populações, também realizando correlações com outros fatores que podem exercem influência sobre a variabilidade do nível de desempenho da equipe. BIBLIOGRAFIA CAMPBELL, D.T.: STANLEY, J.C. Experimental and quasi-experimental designs for research. Chicago-U.S.ª: Rand-McNally, 1966. GOLBERG, M.A.A. Avaliação e planejamento educacional: problemas conceituais e metodológicos. Cadernos de pesquisa, nº 7. São Paulo-Brasil: Fundação Carlos Chagas, 1973. LINDZEY, G. Y A. et al. Handbook of Social Psychology.New York-U.S.A.: Reading Mass, Addison – Wesley, 1985. MAIA, F.; BUSSONS, J. Avaliação de Cargos e de Desempenhos – uma nova Metodologia. São Paulo-Brasil: Livro Técnico e Científicos S.A., 1978. ROJAS, L. L. R. Liderazgo, bases de poder y su relación con la productividad grupal. La Habana-CUBA: Trabajo de Diploma, Facultad de Psicologia, 1999. ISSN 1517 - 5421 26
  • 27. TORO ÁLVAREZ, F. Diferencias en el perfil motivacional de gerentes de empresas publicas y privadas. Rev. Latino-americana de Psicologia, Medellin-Colômbia: v. 25, n. 3, 1993. Id. Cuestionario de Motivación para el trabajo – CMT. Medellin-Colômbia: CINCEL LTDA, 1992. Id. Desempeño y Productividad – Contribuciones de la Psicologia Ocupacional. Medellin-Colombia: CINCEL LTDA, 1990, p. 25-127. Id. Perfil motivacional de profesionales de la salud. Revista de Psicologia Ocupacional, Medellim-Colômbia: v.2, n 03, 1983. Id. Distinciones conceptuales para el diseño de un instrumiento que permita evaluar aspectos de la motivación para el trabajo. Interamericana Journal of Psychology, Medellin-Colômbia: v. 15, n 2, p. 97-121, 1982. SIEGEL, S. Estatística não-paramétrica aplicada as ciências do comportamento. [São Paulo-Brasil]: McGrow-Hill do Brasil, 1986. SIMON, H. Administrative Behavior. 2 ed, New York-U.S.A.: McMillan, 1957. SPIEGEL, M. R. Estatística. [São Paulo-Brasil]: Editora McGraw-Hill do Brasil LTDA, 1997. ISSN 1517 - 5421 27
  • 28. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO 52 PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa ANO II, Nº52 - MAIO - PORTO VELHO, 2002 VOLUME IV ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS - História ARNEIDE CEMIN - Antropologia ARTUR MORETTI - Física CELSO FERRAREZI - Letras FABÍOLA LINS CALDAS - História JOSÉ JANUÁRIO DO AMARAL – Geografia MARIA CELESTE SAID MARQUES - Educação MARIO COZZUOL - Biologia MIGUEL NENEVÉ - Letras VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia Os textos de até 5 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” SOLDADINHOS DE BORRACHA deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br CAIXA POSTAL 775 NILZA MENEZES CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA ISSN 1517 - 5421 28
  • 29. Nilza Menezes Soldadinhos de borracha Centro de Documentação - TJRO cendoc@tj.ro.gov.br Em face da surpresa causada pela observação do grande número de procedimentos envolvendo menores nos processos judiciais, buscamos aqui registrar essa característica da documentação do judiciário na região onde foi assentado o marco de modernidade na selva amazônica, ao longo dos trilhos da estrada de ferro Madeira-Mamoré, nas primeiras três décadas do século XX e que oferece a possibilidade de um olhar sobre uma questão que só mais recentemente passou a ter maior atenção dos juristas e do governo: as crianças. Grande parte dos escritos sobre a região amazônica, especificamente na região onde hoje está localizado o Estado de Rondônia, são direcionados à construção da Estrada de Ferro e exploração da borracha. (Nogueira, 1913, Ferreira, 1987) Maior ênfase é dado às características regionais, aos trabalhadores e as mortes, tudo isso perpassado pela economia e comércio. Oswaldo Cruz, no seu relatório do ano 1910, observa que as crianças não passavam do tamanho de um sabre, em razão da insalubridade. Rondon também observou: “a cousa mais notavel dessa villa é não haver criança no lugar. As poucas que para alli são levadas definham fatalmente, como planta exótica que fenece ao calor terrivel da zona tropical”. Contudo uma parcela sobreviveu, e pode ser observada através dos documentos judiciários arquivados no Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça de Rondônia. Não temos documentos dando conta dos casos de mortes infantis, mas encontramos diversos casos de crianças em situação de abandono e miserabilidade na localidade de Presidente Marques (Abunã), por exemplo, localidade esta de grande fluxo de mulheres e trabalhadores. Grande parte dos processos com desavenças por causa de mulher ocorriam naquela localidade, percebendo-se uma grande movimentação, consequentemente ocorrendo a incidência de problemas sociais, como casos de denúncia de crianças abandonadas pelas ruas e maus tratos por parte dos tutores ou mesmo da família. Da análise dos processos que tramitaram pela justiça na região hoje compreendida pelo Estado de Rondônia, no começo do século XX, quando da instalação dos serviços judiciários na região (1912), criando-se a Comarca de Santo Antonio do Rio Madeira, percebe-se clara a importância dada as questões de terras e comércio. Os crimes ocorriam pelos motivos de sempre: dinheiro, bebida e mulher, característica que perdura até os presentes dias como a linha principal dos feitos judiciais, ao lançarmos um olhar generalizado nas ações da justiça. ISSN 1517 - 5421 29