A China está passando por mudanças econômicas significativas, desacelerando seu crescimento para 7% ao ano em um "novo normal" enquanto abre mais sua economia e estimula o consumo interno. Isso cria novas oportunidades para empresas brasileiras, especialmente no agronegócio, à medida que a China busca atender a demanda crescente de sua população.
1. Vamos Vender na China
Henry Uliano Qauresma
Autor do livro “ O Fator China e o
Novo Normal”
2.
3. • Vamos Vender na China
• Henry Uliano Quaresma
• CEO Brasil Business Consulting/Diretor da TSL
• A China tornou-se a segunda maior economia mundial com a riqueza conquistada por meio de um modelo de desenvolvimento que combina variáveis do mundo capitalista,
incorporando tecnologias, atraindo capital e criando um setor produtivo altamente competitivo, com características de planejamento central e ditadura de partido único que conduz o
processo socioeconômico do país. Há poucas décadas, a economia chinesa era do mesmo tamanho da brasileira, hoje é quase cinco vezes maior. O país obteve por décadas taxas de
crescimento do PIB acima de 10% ao ano, o que permitiu a inclusão de uma população do tamanho da norte-americana no mercado de consumo.
• Atualmente deparamo-nos com uma nova realidade no país. As taxas de crescimento do PIB não são mais tão vultosas, e instabilidades em sua economia causam preocupação em todo o
mundo. Análises apressadas tendem a concluir que o gigante perdeu o passo e a capacidade de “puxar” o crescimento mundial, como vinha fazendo. Mas essa é uma visão míope do
fabuloso processo de ajuste que está em curso na China, com o objetivo de reorganizar o país para uma nova etapa de sua trajetória de desenvolvimento social e econômico. Diante do
novo cenário que se desenha, o princípio do “Fator China” não só continua valendo para todos os agentes econômicos do planeta, como é potencializado em relação ao período anterior.
O avanço de sua integração econômica com o restante do mundo explica o crescimento da importância do país para os negócios globais.
• É preciso ressaltar que a desaceleração do crescimento econômico – fator que mais incomoda os analistas e críticos – era prevista e até desejada pelo governo chinês. O plano
qüinqüenal que fornece as diretrizes econômicas do país indica uma taxa anual de crescimento do PIB de 7% para os próximos anos. Este é o chamado “Novo Normal” da China, em
oposição às taxas mais robustas com que o mundo se acostumara em outros períodos. Porém, mais do que apenas gerenciar um novo patamar de crescimento, o planejamento chinês vai
mais fundo e reorienta o país. Fato que trará conseqüências e abrirá novas oportunidades em todo o mundo – especialmente para o Brasil, que tem hoje na China seu maior parceiro
comercial.
• Uma das características da antiga “normalidade” chinesa era a relação com o mundo baseada na exportação massiva de manufaturados e o fechamento de suas fronteiras para esse tipo
de produto – o país notabiliza-se como importador de commodities agrícolas e minerais. A novidade é que a China está se abrindo, de maneira a integrar sua economia com o mundo.
Sinal importante dessa mudança é a introdução da moeda chinesa, o Yuan, na cesta moedas de reservas do FMI, que aponta para a aceleração de sua integração financeira. Isso somado
à diminuição sobre o controle do câmbio é fator que internaliza no país alguns riscos da economia mundial. A instabilidade do mercado de capitais Chinês tem origem nessa maior
integração, além do surgimento de novas companhias privadas cotadas em bolsas de valores.
• Outro movimento é o redobrado apetite chinês pela aquisição de empresas no exterior. A recente compra da multinacional Syngenta, gigante do setor de proteção de lavouras, pela
China National Chemical Corp., é o marco mais emblemático dessa tendência, da qual o Brasil não fica de fora. É grande o interesse chinês por companhias ligadas ao agronegócio
brasileiro, além de bancos, companhias de aviação e empresas de internet, dentre outras.
• A abertura se reflete em mudanças profundas no próprio país. A China incentiva a economia interna e o empreendedorismo, além de atrair investimentos. Por trás de todos esses
movimentos está a continuidade da busca do “sonho chinês”, que se traduz por maior acesso ao consumo e a melhor qualidade de vida para a população de mais de 1,3 bilhão de
habitantes. É nesse contexto que o crescimento do mercado interno marcará a nova fase do processo de desenvolvimento chinês. Em lugar da poupança que permitiu a expansão do
investimento e sustentou o crescimento até então, a ordem agora é estimular o consumo da população.
• Diante de tantas mudanças, as oportunidades que se abrem para o Brasil são gigantescas. Um exemplo é o da carne bovina. Apenas oito meses após a reabertura do mercado chinês para
o produto brasileiro (os negócios estavam suspensos desde 2012 devido a questões sanitárias), o país já é o maior comprador da mercadoria do Brasil. E as perspectivas de crescimento
são fantásticas: o consumo per capita chinês é de apenas seis quilos de carne por habitante/ano, enquanto no Brasil o consumo chega a 40 quilos. Um sem número de alimentos
industrializados importados também é consumido crescentemente no país, como biscoitos, sucos, cafés, além de haver tendência de aumento de consumo de muitas outras famílias de
produtos.
• É hora, portanto de vender para a China! E também de realizar uma infinidade de outros negócios que o novo cenário possibilita. Mas, para se ter sucesso nessa empreitada, é preciso
conhecer as características do mercado e da cultura do país, entender seu sistema de governo e a mentalidade dos seus habitantes, além de perceber a magnitude das mudanças em
curso. O novo patamar da economia chinesa deve ser bem compreendido porque irá nortear os novos negócios. Disso depende o estabelecimento de estratégias vencedoras.
• Henry Uliano Quaresma, autor do livro "O Fator China e o Novo Normal", lançado em novembro 2016 pela Edições Aduaneiras.
• quaresma.2000@uol.com.br