O documento descreve a transição da economia chinesa de um modelo baseado em investimentos e produção industrial para um modelo baseado no consumo interno. A China está promovendo reformas para aumentar o consumo das famílias e tornar a economia mais sustentável a longo prazo. Essas mudanças criam novas oportunidades para parcerias e comércio entre Brasil e China.
1. 36 - BRAZIL EXPORT
s medidas anunciadas pelo
novo governo eleito, rela-
cionadas ao setor econô-
mico e às questões estruturais,
começam a gerar um novo clima
de negócios.
No plano nacional, as dire-
ções apontam credibilidade nas
reformas e segurança jurídica
para investimentos, que estavam
represados e agora poderão fluir.
Os fundos de investimentos e
empresas internacionais estavam
monitorando este momento para
as decisões.
No primeiro semestre de 2018,
os investimentos chineses con-
Parceria estratégica
Brasil-China
A últimos anos, muitos questionam
a saúde econômica do país.
Ninguém, entretanto, deveria ser
pego de surpresa com o “novo
normal”, pois taxas como aquelas
não são sustentáveis ao longo
de muitos anos. Por outro lado,
o ritmo da economia projetado
para os próximos anos, de 7% ao
ano, não deve ser menospreza-
do. Com esse resultado, a China
seguirá sendo o país com o mais
forte ritmo de crescimento de
todo o mundo – ao menos entre
as economias mais importantes.
É preciso considerar que se trata
de 7% de uma economia que já é
firmados no Brasil somam US$
1,450 bilhão e os anunciados US$
1,3 bilhão. Eles envolvem os se-
tores de serviços, petróleo e gás,
fabricação de máquinas e equi-
pamentos. As empresas como
a Sanxing Eletric, Fosun, GsPak,
Bitmain, Hanergy Holdings Group,
dentre outras, ainda poderão ter
novos anúncios no início de 2019.
Após 30 anos de crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB)
a uma média anual de 10%, o
mundo todo passou a considerar
“normal” os números superlativos
do crescimento da China. Por
isso, diante da desaceleração dos
Por: Henry Uliano Quaresma(*)
2. BRAZIL EXPORT - 37BRAZIL EXPORT - 37
imensa, o que torna o resultado
ainda mais significativo.
A segunda maior economia
do mundo gerou um PIB superior
a US$ 10 trilhões em 2015. A
expansão esperada equivalerá a
incorporar a economia inteira de
um país como a Argentina em
apenas um ano. E outras ainda
maiores nos anos seguintes.
O mais importante é notar as
principais características do reor-
denamento da economia chinesa
e as diferenças em relação ao
antigo “normal”. No passado, a
geração de riquezas foi alavan-
cada por um vigoroso ciclo de
investimentos. O nível de investi-
mento equivale a quase 50% do
PIB chinês – para efeito de com-
paração, a taxa de investimento
no Brasil é inferior a 20% do PIB.
Esse processo ergueu cidades,
construiu a infraestrutura e gerou
uma impressionante capacidade
produtiva, posicionando a China
como maior produtor industrial
do mundo.
A estratégia, entretanto, che-
gou a um limite, devido ao excesso
de endividamento e a diminuição
do retorno sobre o capital in-
vestido. A capacidade produtiva
elevada já não encontra demanda
suficiente ao redor do mundo, ao
mesmo tempo em que os salários
estão se elevando na China.
Diante desse quadro, a política
econômica está sendo reorienta-
da, para que o próximo período
de crescimento seja assentado
no aumento do consumo da po-
pulação. Há muito espaço para
isso. O consumo das famílias
chinesas equivale a apenas um
terço do PIB.
No Brasil, cujos padrões são
modestos, as famílias consomem
o equivalente a metade do PIB. A
chegada da população chinesa a
um patamar como esse causará
uma gigantesca movimentação
na economia do país, com o
crescimento do setor de serviços
e o aumento de consumo de bens
produzidos em outros países.
O governo empreende uma
série de complexas reformas ins-
titucionais para que o processo
seja sustentável. Dentre elas, alte-
rações no sistema de registro de
terrenos rurais e urbanos, para dar
maior segurança aos proprietá-
rios, e uma nova regulamentação
ambiental.
Os sistemas de previdência
social e de assistência médica
também estão sendo reformula-
dos. Uma ampla reforma tributária
está em curso, assim como ajus-
tes na legislação trabalhista para
torná-la mais flexível. A burocracia
diminui, assim como o peso do
estado no conjunto da economia,
e a corrupção é combatida com
determinação. A política monetária
ficou mais flexível e integrada aos
mercados mundiais.
Algumas dessas reformas
podem provocar instabilidades
no curto prazo, o que é natural.
Pode-se afirmar que se trata de um
quadro de turbulência controlada –
ainda que todo controle tenha um
limite. O importante a notar é que
o país tem um projeto, sabe aonde
quer chegar e promove os ajustes
de rota necessários para que os
objetivos sejam alcançados.
O setor privado também dá a
sua contribuição para a moderni-
zação do país. O sistema de zonas
francas está em expansão por
todo o território. Nelas, o capital
privado é bem-vindo, sinalizando
para uma gradual redução do
peso do setor estatal na econo-
mia. Empreendedores chineses
ditam moda em todo o mundo,
com a criação de novos modelos
de negócios como as vendas
pela internet do mercado de luxo
e a micrologística em entrega de
produtos.
Empresários como Jack Ma,
do Alibaba, e Robin Li, do Baidu,
dão mostras do potencial criativo
e da magnitude do que ocorre na
China. O Baidu, de Li, se tornou
o segundo maior site de buscas
do mundo, menor apenas que o
Google, após conquistar a pre-
ferência dos mais de meio bilhão
de usuários de internet da China.
Jack Ma criou um portal business
to business voltado a pequenos
empresários e rapidamente con-
quistou o mercado mundial. O
surgimento e o rápido crescimento
de empresas como essas, que
oxigenam a economia, também
ajudam a explicar as oscilações
no mercado de capitais chinês.
Isso tudo resultará, como de
fato já está acontecendo, numa
maior integração chinesa com o
restante do mundo. Este é o as-
pecto mais fascinante do “novo
normal”. Para os empresários
brasileiros, abrem-se janelas muito
mais amplas que a exportações
de commodities e a importação
de produtos industrializados, que
balizaram as relações entre os
países até aqui.
No mês de novembro passa-
do, foi realizada a Feira de Impor-
tação na China, a Expo Shanghai,
que demonstrou o potencial de
importação da China, com a
participação de 120 países e 150
mil compradores, tendo uma im-
portante participação empresarial
brasileira.
A próxima etapa, que já foi
iniciada, será exportar produtos
finais com marcas brasileiras, prin-
cipalmente na área de alimentos.
Surgem, portanto, novas opor-
tunidades para importação, expor-
tação, parcerias, sociedades e
investimentos. As oportunidades
estão por serem descobertas, no-
vos modelos de negócios poderão
ser criados, o intercâmbio deverá
ser aprofundado.
(*) Henry Uliano Quaresma, CEO
da Brasil Business Partners, Ex-
-Diretor da Federação das Indús-
trias do Estado de Santa Catarina.
EXPORT