1. Valores Morais
A prática do bem é uma premissa básica da felicidade porque o bem é um
prêmio a si mesmo, ou seja, bondade não é um meio para atingir um fim que
não o próprio. Mas, este fim baseado no fazer o bem tem uma ligação direta
com a moral religiosa, pois tem em si a intenção pela perfeição, numa ordem
inatingível que nos atrai a todo instante para essa busca.
Fazer o bem traz benefícios emocionais à pessoa: satisfação pessoal, vontade
de viver o presente, tranquilidade interior, felicidade, inteligência emocional,
pensamento positivo, tudo isso é provocado pelo próprio movimento que é
realizado na direção daquilo que consideramos perfeito. A questão é que
quando imaginamos ter atingindo a perfeição através de nossas ações, isso
nos escapa, pois o nosso esforço quase nada tem de bom e as ações que
fazemos tem um objetivo muito claro, a recompensa. Assim, o bem que
fazemos aos outros não passa de mero interesse pessoal para realização do
nosso próprio bem. O que existe de extraordinário numa ação que busca algo
em troca.
Para São Tomás de Aquino a ética está presente no direito natural ou Jus
naturalismo. Existe uma lei eterna – uma lei que governa todo universo e que
existe na lógica do surgimento desse universo. A lei natural que existe no
homem é um reflexo (ou uma “participação”) dessa lei eterna que rege o
universo.
Já para Santo Agostinho, o homem se revela por aquilo que ama. Quando ama
o Sumo Bem, procura ordenadamente usar, com moderação os bens deste
mundo para um dia possui-los. Não é possível, portanto, compreender a ética
agostiniana fora da perspectiva do amor.
Do ponto de vista da ciência esses valores são positivados através de normas
preestabelecidas onde o cumprimento destas pode garantir a felicidade, o bem
estar social entre outros benefícios, mas isso basta? Existem outras
possibilidades para a felicidade? Para além dessas garantias transitórias e
2. fugazes, existe um vazio a ser preenchido, um vazio da imperfeição do agir
humano, insatisfação permanente do homem e sua inquietude diante do mundo
que não lhe satisfaz, este talvez a ciência não consiga explicar, pois, parece
não fazer parte de seu objeto de estudo.
Essa discursão leva a um novo embate entre a fé e a razão (Fides et Racio),
onde para muitos o assunto resume-se em um debate infindável, pois centra-se
apenas num ponto ou em outro e deixam de lado aspectos fundamentais, como
por exemplo: avaliar qual o objeto de estudo da fé e da ciência e em que
contexto se aplica a intervenção de uma de outra. Os valores Morais pode ser
objeto de estudo tanto da fé quanto da ciência, mas em contextos diferentes,
pois, os objetos de estudos não são os mesmo e o que é objeto de estudo de
uma não pode ser da outra.
Para alguns religiosos pensar em ética é pensar em Deus, pois Ele é que
exerce a dupla função de legislador e juiz que sanciona o que e Bem e Mal e
julga quem escolhe livremente o Mal. Aqui não há espaço para discutir que
espécie de Bem estamos falando.
Mas, com o advento do Iluminismo, Deus foi destronado e colocado em seu
lugar o homem. Ele, o homem, é agora o deus do próprio homem. Não há mais
afirmações categóricas, distorções da vontade, repressões e neuroses
produzidas pela noção de pecado.
Tanto a moral laica, quanto a secular se movimenta em outras direções no
sentido de encontrar novos significados do ethos. O que temos são
interpretações discordantes resultantes do próprio objeto de estudo, que são
pontos de partidas para a interpretação da ética.
A ética secular confia na razão humana como origem da liberdade, a ética
religiosa confia na fé como produtora da salvação;
A ética secular prega a liberdade individual do aqui e agora, a ética religiosa
afirma normas universais já presente nos sábios chineses, em Aristóteles, nos
estóicos, em Kant.
3. A ética secular prega a liberdade sexual e confia no preservativo contra as
doenças, a ética religiosa propõe como profilaxia a fidelidade no amor e a
espiritualidade do sexo;
Segundo o Manual de ética e filosofia politica no capitulo 1 no item ética e
conhecimento traz uma reflexão bastante interessante quando diz: Não
podemos situar a ética como dimensão cultural sem separar o conhecimento e
a religião, pois a relevância da ética como contexto próprio, definindo o ser
humano seguido da essência de sua existência nos leva a alcançar regras de
generalidades e de universalidade que ultrapassam o mero plano dos fatos
estritamente considerados.
Se entendermos que o ethos possui necessariamente significado de serviço,
não devemos nos servir dele para afirmar posições dogmáticas e fechadas,
isso vale tanto para as questões discutidas no contexto teológico e da fé como
num contexto secular ou cientifico. Falta aos religiosos e cientistas se darem a
oportunidade de conhecerem inicialmente o objeto de estudo de outras ciências
e os contextos a que se aplica determinado estudo, tal cuidado eliminaria os
preconceitos baseados em posições fechadas que ignoram aqueles que
pensam diferentes. Contudo isso não significa aceitação desta ou daquela
teoria, mas, sobretudo o respeito às posições distintas das nossas, que por um
lado enriquece o debate e por outro reafirma nesta mesma atitude a ética na
busca de novos caminhos.