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“A Aia”, Eça de Queirós
1. Resumo da Ação
Um rei jovem e valente partira a batalhar por terras distantes, deixando só e triste a rainha e um
filho pequeno. Desafortunadamente o rei morreu numa das batalhas e foi chorado por sua esposa. Sendo
herdeiro do trono, o bebé estava sujeito aos ataques de inimigos, dos quais se destacava o seu tio, irmão
bastardo do rei morto que vivia com uma horda de rebeldes. O pequeno príncipe era amamentado por uma
aia, mãe de um bebé também pequeno. Alimentava os dois com igual carinho pois um era seu filho e outro
viria a ser seu rei. A escrava mostrava uma lealdade sem limites.
Como se esperava, o bastardo desceu da serra com a sua horda e começou uma matança sem
tréguas. A defesa estava fragilizada pois a rainha não sabia como fomentá-la, limitando-se a temer e a chorar
a sua fraqueza de viúva sobre o berço de seu filho. Uma noite, a aia pressentiu uma movimentação estranha,
verificando a presença de homens no palácio. Rapidamente se apercebeu do que iria passar-se e trocou, sem
hesitar, as crianças dos respetivos berços. Nesse instante, um homem enorme entrou na câmara, arrebatou
do berço de marfim o pequeno corpo que ali descansava e partiu furiosamente. A rainha, que entretanto
invadira a câmara, parecia louca ao verificar as roupas desmanchadas e o berço vazio. A aia mostrou-lhe,
então, o berço de verga e o jovem príncipe que ali dormia.
Entretanto, o capitão dos guardas veio avisar que o bastardo havia sido vencido, mas infelizmente o
corpo do príncipe tinha também perecido. A rainha mostrou, então, o bebé e, identificando a sua salvadora,
abraçou-a e beijou-a, chamando-lhe irmã do seu coração. Todos a aclamaram, exigindo que fosse
recompensada. A rainha levou-a ao tesouro real, para que pudesse escolher a jóia que mais lhe agradasse. A
ama, olhando o céu, onde decerto estava o seu menino, pegou num punhal e cravou-o no seu coração,
dizendo que agora que tinha salvado o seu príncipe tinha de ir dar de mamar ao seu filho.
2. Estrutura da Ação
Introdução
(dois primeiros parágrafos)
Apresentação do rei e do seu reino. Partida do rei, deixando
sozinhos a rainha, o filho e o reino.
Desenvolvimento
(de "A rainha chorou magnificamente
o rei ..."até" Era um punhal de um velho
rei (...) e que valia uma província.")
Comportamento das personagens aquando da morte do rei: a aia
troca as crianças quando pressente o ataque ao palácio pelo
ambicioso tio e a sua horda; morte do tio e do escravozinho;
reação das personagens à morte do suposto principezinho.
Conclusão
(três últimos parágrafos)
Por amor ao filho, a aia suicida-se.
Ano Letivo de 2013/2014 Língua Portuguesa – 9.º Ano
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Da conclusão infere-se que se considerarmos a história da aia, estamos perante uma narrativa fechada, pois
apresenta um desenlace irreversível. A articulação das sequências narrativas (momentos de avanço) faz-se
por encadeamento. Os momentos de pausa abrem e fecham a narrativa e interrompem, por vezes, a
narração com descrições (espaço, objetos, personagens).
3. Símbolos
Ao longo da ação há inúmeras referências ao ouro, material precioso e incorruptível, símbolo de perfeição.
Para além do seu valor material, simboliza a salvação, a elevação de uma forma superior de vida, mais
espiritual. O príncipe, frágil e inocente, tem cabelos louros e dormia no seu berço com o seu guizo de ouro
fechado na mão. Na câmara dos tesouros todos os objectos cintilavam e até o céu se tingia de ouro. E era no
céu, que se encontrava o escravo, salvo dos perigos e era junto dele que a aia desejou estar.
Por outro lado, a presença da escuridão, da noite ao longo da ação, acentua o caráter trágico da mesma. Os
cabelos negros do escravo, em contraste com os cabelos louros do príncipe são referências à morte do
primeiro versus a salvação do segundo.
4. O Espaço
A ação é localizada num reino grande e rico, e decorre num palácio, erguido num reino próspero
«abundante em cidades e searas». Toda ação decorre nesse espaço, sendo que alguns recantos do palácio
são sobrevalorizados por oposição a outros, por exemplo, a câmara onde o príncipe e o filho da escrava
dormiam e a câmara dos tesouros.
Alguns espaços exteriores adquirem alguma importância: o 1º é o espaço onde se efetiva a derrota
do rei e consequente morte que vai deixar a rainha viúva, o filho órfão e o povo sem rei; o 2º acaba por ser
um elemento caracterizador do vilão do conto: «vivia num castelo, à maneira de um lobo, que entre a sua
alcateia, espera a presa». Através desta apresentação, o leitor fica na expectativa do que irá acontecer, visto
que ela é indicadora de confrontação e de tragédia. É também determinante no clima que se vive no palácio,
que denota temor e insegurança.
O espaço é descrito do geral para o particular, do exterior para o interior.
Primeiro, é-nos apresentado «um reino abundante em cidades e searas», onde se situa um palácio,
habitado por um príncipe frágil que é protegido no seu berço pela sua ama. À medida que se desenrolam os
acontecimentos, o espaço vai-se concentrando mais, acabando a aia por se suicidar na câmara dos tesouros
No exterior, no alto, encontramos um «castelo sobre os montes», «o cimo das serras», povoado pelo tio
bastardo e a sua horda, que vigiam a presa – o príncipe que vivia no palácio. Cá em baixo, «na planície, às
portas da cidade» existe um palácio, onde a população e o príncipe estão desprotegidos e são presa fácil.
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No interior da «casa real» há uma câmara com um berço, um pátio, a galeria de mármore, a câmara dos
tesouros, onde estão a rainha, a aia, o príncipe e o escravo.
Quanto ao espaço social, é descrito o ambiente da corte – palácio, rei, rainha, aias, guardas.
5. O Tempo
Não há referências a datas ou locais que permitam localizar a acção no tempo. Há apenas algumas
expressões referentes ao tempo: «lua cheia», «começava a minguar», «noite de Verão», «noite de silêncio»,
«luz da madrugada».
É à noite que acontecem os principais acontecimentos desta história – a morte do rei, o nascimento do
príncipe e do escravo, o ataque ao palácio, a troca das crianças, as mortes do escravo, do tio e da sua horda.
No entanto, a acção culmina com a morte da aia, de madrugada.
O núcleo central da acção centra-se numa noite. A Condensação de um tempo da história tão longo,
numa narrativa curta (conto) implica a utilização sistemática de sumários ou resumos (processo pelo qual o
tempo do discurso é menor do que o tempo da história).
É possível também identificar no texto um outro processo de redução do tempo da história, que é a
elipse (eliminação, do discurso, de períodos mais ou menos longos da história). Na parte inicial da acção, «a
lua cheia que o vira (o rei) marchar» começava a minguar, quando um dos seus cavaleiros aparece trazendo
a notícia da sua morte.
Quanto à ordenação dos acontecimentos, predomina o respeito pela sequência cronológica.
6. AS PERSONAGENS
Neste texto, ressalta uma ambivalência de temor que envolve as personagens nobres, habitantes de um
palácio.
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Ao longo do texto está presente o processo de caracterização direta, visto que as informações são-nos
dadas pelo narrador. No entanto, há também informações que são deduzidas a partir do comportamento
das personagens (caracterização indireta).
Deste quadro de personagens, destaca-se, obviamente, aquela que dá nome ao conto - a Aia,
personagem principal, tornando-se modelada, no fim do conto, porque adquire uma densidade psicológica
significativa.
Mulher de uma dedicação desmesurada ao filho, ao príncipe e aos reis prova, com o gesto da troca
das crianças, uma grandeza de alma que não pode ser compreendida por nenhum humano e que, por
consequência, não tem nenhuma recompensa ou pagamento material. A crença espiritual que alimenta o
seu gesto demonstra uma linearidade e uma simplicidade de pensamento que coloca o dever acima de tudo:
o dever de escrava e o dever de mãe. O desejo da aia de provar que a cobiça e a ambição podem estar
arredadas de um coração leal, fez com que ela escolhesse um punhal para pôr termo à sua vida. Trata-se de
um objecto pequeno, certeiro que remete para o carácter decidido da personagem e que era o maior
tesouro que aquela mulher ambicionava, pois, esse objecto lhe abriria caminho para o encontro com o seu
filho, para cumprir o seu dever de mãe, dando-lhe de mamar.
O rei, a rainha, o tio, o príncipe e o escravo são personagens secundárias e planas. Não são
identificadas por um nome próprio uma vez que remetem para a intemporalidade da história. As crianças
estão, no conto, marcadas pela sua posição social: uma dorme em berço de ouro entre brocados, a outra,
num berço pobre e de verga. À hora da morte é por essa marca que o inimigo vai identificar o futuro rei. O
príncipe não intervém diretamente na ação, mas é o centro das atenções de todas as personagens. A
personagem escravo existe para salvar a vida do príncipe.