SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 49
Baixar para ler offline
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB – CAMPUS XIV
                    CURSO DE HISTÓRIA




                    PAULO VIANA CUNHA




  RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO
                     REINO DE DEUS




                   CONCEIÇÃO DO COITÉ
                           2010
PAULO VIANA CUNHA




  RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO
                  REINO DE DEUS




                         Trabalho de conclusão de curso, apresentado
                         para obtenção do grau de Licenciado de
                         História pela Universidade do Estado da
                         Bahia, sob orientação do Prof. Dr. Aldo José
                         Morais Silva.




                CONCEIÇÃO DO COITÉ
                       2010

                                                                   1
PAULO VIANA CUNHA




  RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO
                       REINO DE DEUS.


                                   Trabalho de conclusão de curso aprovado pela
                                   banca examinadora para obtenção do grau de
                                   Licenciado em História pela Universidade do
                                   Estado da Bahia.




                Conceição do Coité, (data da defesa).


                    BANCA EXAMINADORA:




       _________________________________________________
         Prof. Dr. Aldo José Morais Silva - UNEB (Orientador)


       _________________________________________________
                         Profª Iris. - UNEB.


       _________________________________________________
                    Prof. Carlos Almeida - UNEB.




                                                                             2
AGRADECIMENTOS


       Depois de uma longa caminhada, finda mais uma etapa da vida importante que não
será esquecida. Trabalhar em grupo é uma tarefa árdua, mas ao mesmo tempo gratificante,
pois a variedade de idéias e divergências de opiniões faz parte da construção do saber
histórico e humanístico.
       Agradeço aqui, aos meus colegas de curso e professores pelo aprendizado e também
pelo tempo que passamos juntos, desejando-lhes boa sorte em seus projetos futuros, e que
com certeza, vamos nos reencontrar sempre.
       Para a realização do presente trabalho concorreu à singular participação do professor
Aldo Moraes, que sem a sua orientação e incentivo em vários momentos do curso, o mesmo
não teria sido realizado.
       Agradeço a minha família, por ter tido sempre paciência comigo, nos momentos que
eu não pude ficar mais tempo com eles devido à produção do trabalho, em especial minha
esposa Daniela, meus filhos Paulo Henrique e Daniel, abraço a todos.




                                                                                          3
SUMÁRIO


INTRODUÇÃO................................................................................................................ 07
CAPITULO I- MUDANÇAS ACELERADAS NO CONTEXTO RELIGIOSO
CRISTÃO……………………………………………………………………………….. 10
CAPITULO II- CARISMÁTICOS E A IGREJA UNIVERSAL EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES DISTANCIAMENTOS.................................................................... 18
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 34
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 37
FONTES............................................................................................................................ 39
ANEXOS……………………………………………………………………………….. 40




                                                                                                                                        4
Renovação carismática em Santa Luz- Aproximações com a Universal do Reino de Deus


                                         Resumo
O propósito deste artigo é examinar de que maneira ocorre a complexa rede de influências
entre a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renovação Carismática Católica no município
de Santa Luz, destacando as peculiaridades existentes na localidade. Esses grupos religiosos
demonstram um alto grau de similaridade em vários aspectos, como em partes de suas
liturgias, formas de organização dos grupos, clara rejeição a religiões africanas e uma não
leitura da Bíblia. Esses aspectos puderam ser notados decorrentes de análise de fontes
primárias, que foram: entrevistas com membros do grupo Reviver em Santa Luz
(representante da Renovação Carismática no município), livro de orações do grupo reviver
utilizados nas reuniões, cultos da igreja Universal do Reino de Deus em Santa Luz e do grupo
Reviver (visitação, observação sistemática e descrição densa), a ementa da aula inaugural da
escola Paulo Apóstolo na diocese de Serrinha e módulos básicos do ministério de formação da
Renovação Carismáticos Católicos destinados a formação de coordenadores dos grupos de
oração.
Palavras-chaves: Religião, movimento, carismático, reviver, magia.




Autor: Paulo Viana Cunha

Orientador: Aldo Morais




                                                                                          5
Charismatic Renewal in Santa Luz- Approaches with the Universal Kingdom of God


                                            Abstract

The purpose of this article is to examine in which way it takes place to complex net of
influences between the Universal Church of the God's Kingdom and the Charismatic Catholic
Renovation in the local authority of Holy Light, detaching in fact his peculiarities. These
religious groups demonstrate a high degree of similarity in varied aspects, like in parts of his
liturgies, the forms of organization of the groups, clear rejection to African religions and a not
literal reading of the Bible. These aspects could be noticed resulting from analysis of primary
fountains, which were: you interview in spite of Reliving members of the group in Holy Light
(branch of the RCC), I release of reliving prayers of the group used in the worships, worships
of the Universal church of the God's Kingdom in Holy Light and of the group To relive
(visitation, systematic observation and dense description), the menu of the inaugural
classroom of the school Paul Apostolic in the diocese of Serrinha and basic modules of the
ministry of formation of the Charismatic Catholic Renovation destined the coordinators'
formation of the groups of prayer.

Keywords: Religion, movement, charismatic, revive, magic.




Author: Paulo Viana Cunha
Adviser: Aldo Morais




                                                                                                6
INTRODUÇÃO


       No Brasil, os temas relacionados ao estudo das religiões foram por muito tempo de

pouco interesse para os estudos científicos, ficando apenas ao interesse particular de seu

campo institucional, como seminários, centros religiosos de pesquisa e principalmente entre

teólogos. Contudo, o estudo da religião é extremamente importante para uma investigação

científica, pois para Durkeim, se a ciência em princípio nega a religião, isso é um equivoco,

pois a religião efetivamente existe, e os homens foram obrigados a formar a noção do que é

religião bem antes das ciências das religiões terem podido instituir suas comparações

metódicas (1989, p. 53). A religião, portanto, constitui-se num sistema de fatos e dados, uma

realidade social passível de investigação científica. Com isso, esse estudo não é um trabalho

teológico, trata-se de um estudo no campo da história da religião, cuja tentativa é entender o

religioso numa perspectiva histórica. Assim, o estudo desenvolvido aqui tem o objetivo de

demonstrar justamente a influência de uma corrente religiosa sobre a outra, da reutilização de

elementos religiosos da Universal pela Renovação Carismática católica, sendo necessário

salientar que essa não é uma prática nova e que não foi um processo que ocorreu de um dia

para o outro. Assim, o mais importante saber o porquê dessa reutilização nesse contexto

histórico, principalmente em Santa Luz.

              Fontes importantes foram coletadas para essa análise, como entrevista de

alguns membros participantes do grupo de oração reviver, materiais de ensino para os

coordenadores dos grupos, fornecido pela Diocese Paulo apóstolo, situada no município de

Serrinha, livro de orações selecionadas por cura libertação e intercessão, utilizado pelos

coordenadores locais.

       A criação do grupo de oração Reviver, em 2001, no município de Santa Luz, na Bahia,

despertou a minha curiosidade, visto que possuía muitas características totalmente diferentes
                                                                                            7
do tradicionalismo católico. O referido grupo estava extremamente voltado para a oração e

com clara aproximação, em determinados aspectos, à Igreja Universal do Reino de Deus. O

grupo de oração Reviver surgiu de um movimento de dentro da Igreja Católica, a renovação

carismática católica. Esse grupo de oração é composto por pessoas leigas, que vão dos fiéis

aos próprios coordenadores do grupo, que também podem ser mulheres. É um grupo que está

submisso a igreja local, não tem um fundador particular e nem uma lista fixa dos membros

participantes. Para existir no município, o grupo tem que respeitar principalmente dois

dogmas católicos: a veneração a Virgem Maria e a obediência e submissão à Igreja. O grupo

reviver de fato tem uma ação religiosa diversa do tradicionalismo católico, pois além de aderir

aos dogmas católicos citados acima, possui características e práticas pentecostais,

principalmente aquelas observadas na igreja Universal do Reino de Deus, que serão

analisadas ao longo desse trabalho.

        De fato, perguntas relevantes devem ser feitas, entre as quais: Como o recebimento

do espírito santo, sentimento concebido pelas igrejas ditas pentecostais, pode-se imbricar nas

reuniões do grupo Reviver? Por que houve a criação de um movimento de cunho leigo no seio

da igreja Católica no município? Há nessas reuniões promessas de soluções mágicas para o

cotidiano das pessoas? Como entender essa conjunção de práticas religiosas para se chegar a

alívios das crises do homem? Quais seriam de fato as aproximações e os distanciamentos do

grupo reviver no município de Santa Luz com a Universal? Que relação há com a veneração à

virgem Maria? Até aonde há uma redefinição de valores no grupo de oração reviver? Essas

são perguntas centrais que tentarei elucidar com a maior clareza possível nesse trabalho.

       Utilizei no referido trabalho o método de observação sistemática em campo,

abordando aspectos qualitativos e quantitativos dos grupos religiosos aqui tratados. O

resultado conclusivo do trabalho partiu do pressuposto da análise de fontes primárias

                                                                                             8
(entrevista de alguns membros participantes do grupo de oração reviver, materiais de ensino

para os coordenadores dos grupos) e utilização de um referencial teórico baseado em

Durkeim, Ricardo Mariano, Maria das Dores Machado Campos e Antônio Flávio Pierucci,

autores que tem como especialidade o estudo de fenômenos religiosos.




                                                                                         9
CAPITULO I


                       Mudanças aceleradas no contexto religioso cristão


        Não há como negar hoje a grande transformação que parte do pentecostalismo passou

nas últimas três décadas. De fiéis sectários e ascéticos no mundo moderno, os quais eram

implacavelmente estigmatizados, alguns setores passaram a ser mais imediatistas e

pragmáticos (MARIANO, 2005, p.8). A Igreja Universal do Reino de Deus, principal

representante dessa nova corrente pentecostal, propôs novos ritos e crenças, relaxaram

costumes e comportamentos e novas formas de relacionamento com o mundo moderno.

         A Universal prioriza a extrema oração1, a fim de conseguir bens materiais e exorcizar

os demônios, que são representados pelas religiões africanas, apesar de assimilar elementos

das próprias religiões africanas. Nessa nova corrente religiosa que a Universal do Reino de

Deus está inserida, os cultos muitas vezes estão dinamizados, com bandas evangélicas de

rock, funk, axé music, com coreografias utilizadas em danceterias e show profanos, o que

inclui saltos do palco para os braços da platéia.

        Outro fator relevante é a organização empresarial, com um marketing bastante

desenvolvido, visto que faz um uso proselitista da TV, que embora seja diário e limitado, é

notório. A Universal é vista como o maior fenômeno religioso dos últimos vinte anos no

Brasil por ser apontada como o elemento mais dinâmico dentro do contexto religioso atual,

devido ao seu rápido crescimento em seu tempo de existência, ou seja, pouco mais de trinta

anos (MARIANO, 2005, p. 11).

        A Renovação Carismática Católica também se utiliza de vários preceitos da Universal,

como a oração sem praticamente nenhuma leitura da Bíblia, um ataque às religiões africanas e

1
  Extrema oração é entendida aqui como uma oração militante e agressiva, com o objetivo maior de expulsar os
demônios da vida dos fiéis, sendo feita várias vezes durante os cultos.
                                                                                                         10
ao espiritismo, profissionalização de padres cantores e uma estrutura empresarial. 2 Sobre esse

aspecto, Ricardo Mariano destaca a sua atual corrida para ocupar mais espaço na TV e

maximizar o uso evangelístico de sua rede radiofônica (2005, p. 14). A oração é caracterizada

como sendo o momento singular e principal das reuniões dos grupos carismático (ocupando

também a maior parte de cada reunião). As pessoas oram fervorosamente em busca de

soluções espirituais e terrenas. Com isso essa renovação no interior da Igreja faz parte de uma

disputa no mercado religioso atual, devido ao crescimento das igrejas pentecostais, que se

caracterizam pela pluralidade de denominações no mundo moderno capitalista. Sobre essa

questão, Ricardo Mariano afirma que:


                           João Paulo II, quando esteve no Brasil em 1991, atento à diminuição do seu rebanho
                           e ao crescimento dos seus concorrentes cobrou dos cerca de 300 bispos reunidos em
                           Natal durante o Congresso Eucarístico Nacional uma ação mais eficaz contra a
                           ignorância religiosa e a carência de doutrina que deixa o povo vulnerável à sedução
                           das seitas (MARIANO, 2005, p. 13).


        De fato, do ponto de vista cultural, o Brasil é caracterizado como sendo extremamente

complexo e pluralista, devido à própria miscigenação da sociedade e à troca cultural que

existiu entre branco, negro e índio o que vai de fato influenciar em aspectos religiosos. Essa

troca cultural aconteceu em diversos contextos históricos no que diz respeito à formação da

nação brasileira. Em comentário a essa questão, Charles R. Box aponta que:

                           As procissões religiosas que tinham lugar em muitos dias santificados da igreja eram
                           realmente, uma feição da vida na Bahia, mesclando o sagrado e o profano de forma a
                           causar perplexidade. O catolicismo português sempre mostrou tendência para se
                           concentrar nas manifestações externas do culto cristão, e o grande elemento africano
                           na Bahia reforçou indubitavelmente essa tendência (BOX, 2000, p. 159).




2
  A rede de televisão Vida, de propriedade da Igreja Católica, reflete o novo posicionamento da Igreja com
relação aos meios de comunicação, inclusive o televisivo, dando grande relevância ao setor midiático. Padre
Eduardo ao lado de Jonas Abib, liderança da comunidade carismática canção nova, imprimiram um caráter
empresarial e tecnológico, trilhando caminhos não esboçados no início do movimento. Percebe-se um sistema de
propaganda montada em megaeventos, ao estilo das igrejas eletrônicas, nos shows de bandas carismáticas. Padre
Marcelo Rossi é o maior exemplo disso.
                                                                                                            11
Durkheim a respeito dessa mistura entre o sagrado e o profano, entre a influência que

determinados aspectos religiosos tem sobre outros, assinala que:


                          Em geral são restos de religiões desaparecidas, sobrevivências não organizadas...
                          nos nossos países europeus o cristianismo reforçou-se por absorvê-los e assimilá-
                          los; imprimiu-lhe cor cristã (DURKEIM, 1989, p. 67)


          Como se pode notar, apesar de manter-se o distanciamento entre sagrado e profano até

certo grau, onde cumpre verificar os esclarecimentos do próprio Durkheim que “a coisa

sagrada é, por excelência, aquilo que o profano não deve, não pode impunemente tocar”

(1989, p. 72), no Brasil desenvolveu-se uma adaptação das crenças nas religiões africanas

com os rituais da fé católica, comumente chamado de sincretismo religioso. Só que no mundo

atual, a Universal reutiliza alguns elementos africanos como rosas do descarrego em seus

cultos, que são melhores assimilados pelas populações de baixa renda, já que muitos desses

provêm também dos espaços do candomblé e da Umbanda.

          Historicamente o catolicismo foi implantado no Brasil com o argumento de que era

preciso expandir a fé cristã. Essa evangelização foi realizada por etapas e empreendida

inicialmente por quatro ordens: jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditos, sendo que as

práticas religiosas estavam intricadamente ligadas à estrutura patriarcal da família nas grandes

plantações de cana-de-açúcar e centravam-se na capela, no oratório privado e na devoção aos

santos.

          No Brasil a igreja Católica foi dependente do Estado, pelo menos até o advento da

República. Durante o período colonial, a Igreja Católica encontrava-se sob a tutela do Estado

português, que lhe conferia benefícios e privilégios. No Império, a Igreja Católica ainda

gozava de amplos poderes, representando e legitimando os poderes das classes dominantes

(HOLANDA, 2006, p. 348).



                                                                                                        12
Com as transformações do século XIX na Europa, e principalmente com relação a

liberdade religiosa, a Igreja católica no Brasil temendo perder sua hegemonia na sociedade,

utiliza várias estratégias para manter-se viva, entre elas, a revitalização de antigas ordens

religiosas e a fundação de outras, criticando o liberalismo, o comunismo, o racionalismo e o

próprio progresso (MICELLI, 1988, p.13).

       Os leigos vão ter oportunidade de atuar na Igreja Católica do Brasil através das

irmandades, das confrarias e das ordens terceiras, organismos que o Brasil herdou de Portugal

e que florescia em Minas Gerais. O catolicismo era a única religião oficial do Brasil, e a

devoção virtualmente obrigatória. A Igreja tinha o papel de educadora, que foi desenvolvido

através das escolas Jesuítas (HOLANDA, 2006, p. 351).

       A situação da Igreja católica vai mudar mais visivelmente em 17 de Janeiro de 1890,

com o decreto nº 119-A, do governo provisório republicano, que estabelecia um regime de

separação entre Estado e Igreja, dando lugar a um Estado não-confessional, sendo assim o

catolicismo foi nivelado por lei às seitas protestantes, e o Estado tornou-se Laico

(HOLANDA, 2006, p. 351).

       No período da República Velha do Brasil, com a variedade de religiões existentes, a

Igreja católica tem seu poder político reduzido pela separação da mesma com o Estado. Mas o

poder político vai ver na Igreja um poderoso instrumento para manter a ordem pública

conturbada pelos movimentos revolucionários da época. Com isso, o decreto proclamado pelo

poder público sinalizando a necessidade de colaboração política entre a Igreja e o Estado

colocava a Igreja novamente em uma situação privilegiada (HOLANDA, 2006, p. 350).

       Após a “revolução” de 1930, com a criação de um Estado com feições fascistas e

nacionalistas, a figura do chefe de Estado passa a ser valorizada em detrimento de qualquer




                                                                                          13
outro elemento, mas sem entrar em atritos com a Igreja, promove-se o cristianismo por meio

do ensino religioso e há uma supressão dos partidos políticos (SKIDMORE, 2007, p.50).

       No período referente à ditadura militar no Brasil, a Igreja Católica ainda gozava de

privilégios, como o ensino religioso nas escolas públicas, conseqüentemente o catolicismo.

Após a ditadura militar, com a promulgação da constituição de 1988, a liberdade religiosa é

novamente enfatizada como sendo um aspecto obrigatório de um Estado democrático, e torna

facultativo o ensino religioso nas escolas brasileiras.

       O começo efetivo do protestantismo no Brasil vai ocorrer no século XIX. Com a vinda

da família real em 1808, os ingleses conseguem autorização para realizar seus cultos nos

navios ancorados nos portos brasileiros. Mas o pentecostalismo vai ser inserido no Brasil no

século XX com a Assembléia de Deus em 1910 e a Congregação Cristã do Brasil em 1911,

ambas sectárias e ascéticas.

       Na década de 1950 e 1960 é fundada a igreja Quadrangular (1951), Brasil para Cristo

(1955) e Deus é amor (1961). Na década de 1970 e 1980 surgem a Universal do reino de Deus

e a Igreja Internacional da graça de Deus, no Rio de Janeiro. Todas essas igrejas, contudo são

bastante heterogêneas, tanto em suas liturgias quanto em suas formas de organização

(MARIANO, 2005, p. 23).

       O pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo e contém claras diferenças

internas. A classificação que usarei nesse trabalho (seguida também pela maioria dos

estudiosos do tema) para identificar as tipologias do pentecostalismo brasileiro leva em conta

três vertentes: pentecostalismo clássico, deuropentecostalismo e neopentecostalismo. Essa

classificação foi proposta por Freston, analisando aspectos doutrinários e o espaço de tempo

em que cada uma foi criada, sendo que o termo clássico teria como idéia o pioneirismo,




                                                                                           14
enquanto o termo deuropentecostalismo3 significaria o surgimento do segundo grupo

pentecostal, e o termo neopentecostal indicaria o terceiro e novo grupo pentecostal

(FRESTON, 1981, p.81).

        O pentecostalismo clássico vai abranger as duas primeiras igrejas pentecostais

fundadas no Brasil: a Congregação Cristã em 1910 e a Assembléia de Deus e 1911. Essas

igrejas são comumente denominadas clássicas reproduzindo a tipologia norte-americana, ou

seja, como uma idéia de pioneirismo histórico e antiguidade. Essas igrejas sempre tiveram

como idéias religiosas o abandono ao mundo material e rejeição ao exterior, distanciando o

púlpito dos leigos, dificultando a ascensão à hierarquia eclesiástica e criando um corpo

burocrático para preservá-la para além da vida de seus fundadores. No início, essas igrejas

eram compostas majoritariamente por pessoas com pouca escolaridade, caracterizavam-se por

um anticatolicismo ferrenho, enfatizavam o dom de línguas, a crença na volta eminente de

Cristo e eram extremamente sectárias e ascéticas. Passadas nove décadas, ambas ainda

continuam com a postura sectária e o ideário ascético.

        O deuropentecostalismo mantém um núcleo teológico clássico e teve inicio a partir da

década de 1950 com Harold Williams e Raymond Boatrigth. À frente da Cruzada nacional de

Evangelização, tendo como ponto forte a igreja pentecostal Evangelho Quadrangular, eles

trouxeram para o Brasil o evangelismo de massa centrado na mensagem da cura divina. Com

mensagens sedutoras e métodos inovadores e eficientes, foram capazes de atrair inúmeros

fiéis e pastores de outras congregações, especialmente pessoas de estratos mais pobres, a

maioria nordestinos. O tema central da mensagem era sempre a cura divina. Enquanto o




3
 O termo deuropentecostalismo é utilizado por Freston em virtude do radical deutero (presente no titulo do
quinto livro do pentateuco) significar segundo ou segunda vez.

                                                                                                             15
pentecostalismo clássico enfatiza o dom de línguas, o deuropentecostalismo enfatiza o dom da

cura, sendo assim diferentes as ênfases em que cada qual concede ao Espírito Santo.

       O neopentecostalismo abrange as igrejas que pregam um modo de vida menos ascético

na terra, utilizam muito os meios de comunicação de massa, enfatizam rituais de cura e

exorcismo, estruturam-se empresarialmente, são agressivas em sua militância e crenças, e

acreditam que a palavra humana, associada à fé, fazem acontecer coisas neste mundo. Nessas

igrejas há uma exacerbação da guerra espiritual contra o diabo e seus séquitos de anjos

decaídos. Pregam a teologia da prosperidade (o indivíduo abençoado por Deus deve ser

próspero materialmente na terra), e há uma liberdade na maneira de vestir-se ou ligações com

o mundo exterior. As Igrejas mais importantes dessa vertente são a Universal do Reino de

Deus e a Igreja da Graça de Deus.

       A Igreja Universal do Reino de Deus inspirou-se na igreja Nova Vida fundada em

1960 no Rio de Janeiro, pelas mãos de Robert Mclister, que pregava o prazer como finalidade

da vida. A Universal adotou a evangelização eletrônica como carro-chefe de sua estratégia

proselitista (preferência ao rádio). A maioria de seus fiéis provém da camada baixa da

população, sendo atraídos principalmente por promessas de uma vida melhor financeiramente,

curas físicas e espirituais. Em comentário a essa questão o autor Ricardo Mariano aponta que:



                       Com o propósito de superar precárias condições de existência, organizar a vida
                       encontrar sentido, alento e esperança diante de uma situação tão desesperadora, os
                       estratos mais pobres, mais sofridos, mais escuros e menos escolarizados da
                       população têm optado preferencialmente pelas igrejas neopentecostais (MARIANO,
                       2005, p 12)


       Sendo assim, o crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil e

principalmente na Bahia é muito grande. Segundo dados do IBGE, de 1991 a 2000, no estado

da Bahia houve um crescimento dos evangélicos de quase 100%, passando de pouco mais de

5% para pouco mais de 11% da população. Esse fato está ligado ao grande dinamismo que a
                                                                                                      16
própria Igreja Universal se encontra no momento, já que a sua principal finalidade é resolver

os problemas habituais dos fiéis.

       A Renovação Carismática Católica é um movimento leigo de linha pentecostal

oriundo dos Estados Unidos que se instalou no catolicismo brasileiro no começo de 1970,

justamente com o objetivo de combater os pentecostais protestantes. Esse combate ocorre para

neutralizar o crescimento dos protestantes utilizando elementos litúrgicos dos próprios

pentecostais para absorver um maior número de fiéis. Assim, a Renovação Carismática

Católica se constitui como uma das várias respostas que estão sendo postas em prática pela

igreja Católica para tentar barrar o avanço dos seus adversários religiosos.

       A igreja Católica percebeu que dentro de uma sociedade mais secularizada e cada vez

mais pluralista em termos religiosos, era necessário redefinir seu papel em alguns aspectos,

dentre eles a liturgia. Segundo Antônio Flávio Pierucci, o catolicismo diminuiu nos últimos

trinta anos, passando de 91% da população brasileira a 73% (PIERUCCI, 2004, p. 4). Com

isso, a Renovação Carismática Católica surge, com o objetivo de renovar determinados

aspectos litúrgicos a fim de barrar o avanço do pentecostalismo evangélico, e afirmar

elementos da tradição da Igreja Católica, principalmente no interior do nordeste, onde a Igreja

católica sempre teve a maioria absoluta dos fiéis.

       A ação religiosa provoca no território brasileiro mudanças sociais, culturais e

devocionais, principalmente no espaço religioso católico devido às novas expressões que a

Renovação Carismática propicia no interior da igreja. É dentro desse contexto pós-moderno

que vai se desenvolver o grupo Reviver em Santa Luz, mostrando-se claramente como um

grupo de resistência à ascensão das igrejas pentecostais evangélicas, particularmente a

Universal, por ser a igreja mais próxima fisicamente, o que por si só já a torna uma

concorrente em potencial.

                                                                                            17
CAPITULO II


    Carismáticos e a Igreja Universal em Santa Luz: Aproximações e distanciamentos


        A Igreja Universal do Reino de Deus foi inserida no município de Santa Luz no final

de década de 1980, passando por dois locais alugados até chegar aonde se encontra no

momento, próxima a linha férrea no município, no centro da cidade. A igreja tanto em seu

exterior quanto em seu interior é rústica, sendo, porém espaçosa, com cerca de trinta metros

de comprimento e dezoito metros de largura. São realizados cinco cultos por dia, sendo que

em cada dia é realizado um culto diferente, com soluções mágicas e milagrosas dos problemas

cotidianos. É celebrado o culto do descarrego, bem conhecido em todo o Brasil por sua

perseguição implacável as religiões africanas, onde o pastor em uma das minhas observações

clamava:


                           Meu Deus arranca esse demônio diante de ti, esse espírito que tá alojado lá na casa
                           dela, esse encosto que ta alojada lá na casa dela, que tá alojado no marido,
                           colocando amante, colocando vício, vicio da cachaça, vicio da bebida, vício... Essa
                           pessoa não tem paz, ela não tem paz, não consegue dormir direito é você tranca-rua,
                           tranca-rua, sai daqui, sai daí, em nome de Jesus, você que ta colocando essa dor no
                           corpo, na coluna, sai daqui em nome do senhor Jesus.4

        Combatidos nos cultos, os demônios são devidamente identificados, por seus nomes e

qualidades, tal como se denominam pais e mães-de-santo. Quando um possesso é levado ao

púlpito, já com o demônio submetido e amarrado para que não se machuque e nem prejudique

mais seu “cavalo”5, a estrutura do ritual geralmente apresenta enredo fixo, com o pastor

perguntando seu nome, humilhando-o, como pedir imitações para que fiquem de joelhos para

serem exorcizados. As amarrações da Universal são morfologicamente similares a

manifestação de exus nas tendas de umbanda, quando os possessos ficam em transe, com o


4
 Oração do pastor Heleno da Universal do Reino de Deus no município de Santa Luz dia 23/12/2008.
5
 Cavalo é um termo usado no meio pentecostal para indicar que determinada pessoa possessa está subjugada por
algum demônio.
                                                                                                           18
corpo retorcido e com as mãos voltadas para trás do corpo em forma de garra (MARIANO,

2005, p.131). O ritual de libertação de possessos ocorre em quase todos os cultos da

Universal.

       A libertação se dá durante a oração, para que os fiéis recebam graças e libertem-se de

todos os males. Com isso, os diferentes sofrimentos e infortúnios também são atribuídos a

determinados demônios. No entanto, é preciso ressaltar que transformar os deuses de outras

religiões em demônios é uma prática antiga do cristianismo. Como exemplo pode-se citar a

demonização dos deuses de Grécia e Roma. Giovanni Filoramo coloca que:


                        Entre os séculos VIII e IX, surgiu, e se consolidou na Igreja e na sociedade bizantina
                        um movimento contrário ao culto de imagens, chamado iconoclasta, do grego
                        eikonoklátes, “destruidores de imagens”. As raízes religiosas da iconoclastia se
                        baseiam no cristianismo primitivo e em seu aniconismo (ausência de imagens),
                        conseqüência tanto da proibição bíblica das imagens (Exôdo20, 4), como da luta
                        antiidolátrica contra o culto pagão de imagens (FILORAMO, 2005. P.80).

        Assim, o conflito entre o bem e o mal sempre foi o centro do cristianismo. Com

relação a isso, o próprio Edir Macedo, líder da Igreja Universal, diz que:


                        Omolu, por exemplo, que se intitula rei da calunga do cemitério, é um dos grandes
                        responsáveis por esse tipo de enfermidade (ataques epilépticos). Todas as pessoas
                        que tiveram nossa ajuda em oração com autoridade do nome de Jesus manifestaram
                        espíritos que tinham seus nomes ligados aquele mal... já oramos várias vezes por
                        pessoas viciadas em tóxicos, bebidas alcoólicas, cigarro ou jogo, e na maioria dos
                        casos, o responsável por tudo é o exu chamada “Zé pelintra” ou “malandrinho”
                        (MACEDO, 2000, p. 47).



       Como se pode perceber há um claro ataque as religiões africanas, uma tentativa óbvia

de demonização das religiões negras no Brasil. A demonização de religiões africanas pelo

cristianismo não é algo novo. Essa perseguição decorria no Brasil da existência, nos séculos

passados e no início do século XX de extensas séries de práticas, saberes, e discursos elitistas

fundamentados no racismo, no etnocentrismo, no evolucionismo e em preceitos culturais

variados que pressupunham a inferioridade racial e intelectual do negro, e, por conseguinte,


                                                                                                           19
de sua cultura religiosa. O mesmo se pode dizer dos indígenas, que desde o início da

colonização do Brasil, tiveram igualmente sua cultura negada pela Igreja Católica. Como

aponta Berta Gleizer Ribeiro:

                       O privilégio legal que tinha os jesuítas de subjugar o índio para comunicar-lhe a
                       doutrina cristã, era uma maneira sutil de escravizá-lo, tolhendo sua liberdade e
                       impondo-lhe uma religião e um modo de vida que não estava apto a receber... O que
                       resultou da pregação jesuítica não foi, porém, um índio convertido, mas um índio
                       subjugado, domesticado, que vendo desmoralizados os costumes a que estava
                       arraigado, sem ter assimilado a fé que lhe quiseram impor, não encontrava nem
                       motivo nem força para viver (RIBEIRO, 1983, p.43).



       A oração contínua também faz parte do cotidiano da Universal em Santa Luz, onde

não é dada praticamente importância nenhuma à leitura da Bíblia, e os fiéis cantam e dançam

incessantemente sem nenhum pudor para louvar a Deus. Não existe nenhuma indicação de

como os fiéis devem se vestir para participar dos cultos, sendo muitos vistos de bermuda e

camiseta, e as mulheres usam batons e acessórios de beleza que igrejas pentecostais mais

tradicionalistas não permitem. A Universal do Reino de Deus é permissiva com relação às

coisas do mundo, e, além disso, funciona de maneira empresarial, age como uma agência de

cura divina. Sobre isso Ricardo Mariano coloca que:


                      Baseia-se em promessas e rituais para a cura física e emocional, prosperidade
                      material, libertação de demônios, resolução de problemas afetivos, familiares de crise
                      individual e de relacionamento interpessoal (MARIANO, 20005, p. 09).


       A afirmação de Max Weber de que o dispêndio de riqueza para fins de consumo

próprio era muito facilmente associado à submissão idolatra do mundo (2009, p. 124) não

pode ser aplicada a Universal. Há uma pregação de que o prazer no mundo é um direito do

cristão abençoado, e para isso utiliza-se de elementos dotados de poderes mágicos para

alcançar a benção de Deus. A afirmação de Durkheim de que a religião, por sua vez, embora

não tenha condenado e proibido sempre os ritos mágicos, olha-os em geral de modo

desfavorável (1989, p.75) também não deve ser aplicada à Universal do Reino de Deus, já que
                                                                                                         20
a mesma reutiliza a magia divina como elemento indissociável da graça de Deus, como os

elementos benzidos e abençoados pelos pastores em geral. Nesse sentido, afirma Ricardo

Mariano, “a Universal institucionalizou denominacionalmente práticas e crenças mágico-

religiosas de inspiração cristã” (2005, p.57).

       O grupo de oração Reviver em Santa Luz foi criado em 2001, segundo membros do

próprio grupo, um ano após a mudança da Igreja Universal do Reino de Deus para o prédio

onde se encontra atualmente, próximo à linha férrea e a cerca de cinqüenta metros da Igreja

Católica do município. O grupo de oração reviver funciona em uma das salas da parte

superior da igreja católica, e inegavelmente tem feições pentecostais, pois sua ênfase está na

pura oração e louvor a Deus. O interessante é a relativa proximidade que a mesma está

apresentando em alguns aspectos importantes com a Igreja Universal do Reino de Deus no

município. Comparo o grupo de oração Reviver aqui com a Universal do Reino de Deus por

dois motivos: em primeiro lugar a Universal é a única igreja neopentecostal existente no

município e, em segundo, por sua relativa proximidade física com a mesma.

        O local onde são realizadas as reuniões do grupo de oração Reviver, não possui

nenhuma imagem referente a santos ou ao próprio Cristo, sendo um local rústico e amplo.

Isso vai totalmente de encontro à tradição católica que sempre manteve em seus ambientes

imagens de santos católicos e de Jesus Cristo.

       Bem, a mudança da Universal do Reino de Deus para um local próximo a Igreja

Católica não foi naturalmente aceita pela comunidade católica. Quando perguntada sobre o

porquê da criação do grupo de oração Reviver no município de Santa Luz, a coordenadora do




                                                                                           21
grupo de oração R. M. S. (professora, solteira) integrante do grupo de oração Reviver desde

2001 afirmou a ligação do grupo Reviver com o Renascer6 e disse em entrevista que:

                          O grupo nasceu da necessidade da oração e da busca constante pela intimidade com
                          Deus. Diante disso surgiu o convite o para o grupo de jovens da Matriz participar de
                          um evento em Salvador, o chamado Renascer.7

        A resposta dada pela coordenadora do grupo foi um pouco genérica sobre o porquê da

criação do grupo no município, mas outros participantes do grupo de oração deram respostas

bem contundentes com relação à mudança da Universal para próximo a Igreja Católica.

M.S.S. (funcionária pública, casada) integrante do grupo desde 2007 e católica a mais de dez

anos, quando perguntada sobre a reação dos católicos sobre a proximidade das igrejas disse:

                            Muitos ficaram indignados. Não aceitavam essa falta de respeito. Criou-se aqui um
                            espírito de revanche entre essas igrejas devido a essa mudança absurda aqui pra
                            perto da gente. Na época, lembro que muitos foram atrás da prefeitura pra não
                            liberar o alvará de funcionamento pra essa igreja. 8

         Sobre esse fato, segundo informações colhidas com integrantes do grupo Reviver,

houve uma procura de alguns fies católicos à prefeitura, mas não chegaram a formalizar um

pedido. A alegação dos católicos era o extremo barulho que a Igreja Universal provocava

durante os seus cultos. Pessoas ligadas a Igreja Universal comentaram que a Igreja nunca teve

problemas de convívio social naquela localidade, citando alguns problemas com vizinhos em

outras ruas, o que resultou até em pichações da Igreja em anos anteriores. Com relação a

reação dos integrantes da Igreja Universal a essa ação dos católicos, eles qualificam como

meramente ações diabólicas para atrapalhar a verdadeira obra de Deus.

        A. S. L (24 anos, dona de casa), há três anos freqüentando o grupo Reviver no

município disse:



6
  Renascer é um encontro anual realizado em Salvador pela Igreja Católica a fim de debater problemas e
soluções das Igrejas Católicas nos municípios do interior da Bahia. Esse encontro acontece no período do
carnaval, e é também uma espécie de retiro espiritual durante essa época do ano.
7
  Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
8
  Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
                                                                                                           22
Eu acho que todo mundo tem direito de ter sua religião, mas eu não acho certo uma
                               igreja vim ficar tão perto aqui da nossa. É uma falta de respeito, pois muitas vezes
                               quando a gente ta fazendo nossa reunião, e quando pensa que não, a gente tem que
                               parar por que eles ficam cantando lá e atrapalha nossa oração. Por isso eu não acho
                               certo. 9


           Percebe-se assim, que a mudança da Igreja Universal para as proximidades da Igreja

Católica causou reações negativas nos fiéis católicos, que continua sendo elemento de disputa

e discórdia entre os grupos. Com isso, o grupo de oração Reviver não deve fugir à regra sobre

sua criação, pois como é um movimento oriundo da Renovação Carismática Católica, é um

elemento que funciona para barrar o crescimento protestante pentecostal, pois a hierarquia

católica, temerosa de perder sua secular hegemonia na América Latina, chegou à conclusão de

que é preciso agir e com urgência, antes que seja tarde demais, nem que seja copiando as

estratégias da concorrência (MARIANO, 2005, p.14).

           Essa aproximação entre as formas de atuação das igrejas pode ser constatada em

diferentes esferas. Começarei fazendo uma pequena análise sobre a preparação dada aos

coordenadores dos grupos de oração local. Essa preparação acontece duas vezes por semana

na Diocese Paulo Apóstolo, órgão ligado diretamente à Igreja Católica, no município de

Serrinha. Foram distribuídos para os coordenadores cinco módulos doutrinários que contém

explicações de como o coordenador(a) deve agir para a formação de um grupo de oração e

como mantê-lo e dirigi-lo depois de formado. Nisso incluem: organização dos ministérios no

interior do grupo (libertação e cura, intercessão, e oração) divisão de funções no grupo,

formas litúrgicas e as finalidades do grupo.

           No 1º capitulo do 3º módulo, há um conceito do grupo de oração como própria para a

libertação de drogas ou de bebidas dos mais necessitados, cura física e a conversão de algum

parente ou amigo. A reunião deve ser espontânea e expressiva, onde manifestações como


9
    Entrevista com A.L.S, integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009.

                                                                                                                23
levantar as mãos, aplaudir, mover-se e até dançar são consideradas dignas de oração do

homem. Estudo bíblico não é recomendado, pois o grupo deve ater-se à prática da oração

contínua e de louvores a Deus em suas mais variadas formas. O coordenador(a) não deve

resistir a mudanças e a utilização da música é louvável para o senhor nas reuniões

(MARIOTTI, 2008, p. 09-31).

         Dentro desse aspecto, ressaltando que é um módulo de ensino doutrinário que está

direcionado para todos os membros dirigentes dos grupos de oração, percebe-se de fato como

deve funcionar um grupo de oração da renovação carismática, e que este já se aproxima

claramente das práticas da Universal, não se comportando de maneira tradicional, permitindo

que seus fiéis fiquem mais a vontade durante os cultos. E esse fato se repete em Santa Luz no

grupo de oração Reviver. Em entrevista R. M. S, quando perguntada se existia alguma

restrição ou instrução para o momento de oração, respondeu que:


                            O momento de oração pode ser de joelhos, sim quando está se adorando ao nosso
                            Deus, mas também pode ser livremente, pode ser em pé, às vezes as pessoas
                            preferem ficar de pé, não tem nenhuma restrição não, às vezes a gente vai colocando
                            e quem estiver disposto a realizar de acordo com o que a gente vai indicando, pode
                            ficar a vontade.10



        Referente à mesma situação colocada acima, A. S. L (24 anos, dona de casa), disse:

                            Agora depois que eu comecei a participar do grupo de oração, tenho uma visão
                            melhor da igreja. Por que no grupo de oração você pode pular, dançar, cantar, tudo
                            para a glória de Deus. Essas coisas eu achava que a igreja não deixava a gente
                            fazer.11

        M.S.S, quando perguntada sobre por que não participou desde o início do grupo de

oração reviver, respondeu:

                             Eu não gostava. Na minha visão, oração e cantos não aproximavam a gente de Deus
                             assim, do jeito que eles diziam. Não faziam um estudo da Bíblia, nem nada. Eu
                             sempre gostei de ver o padre citar versículos da Bíblia, e eu estudava também, coisa
                             que lá nunca vi acontecer. 12

10
    Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
11
   . Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009.
12
    Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
                                                                                                              24
Sobre esse aspecto Carlos Rodrigues Brandão coloca que

                               No interior de um espaço de experiências, de trocas e de significados, muito
                               motivados, ocorrem a todo o momento quebras de unidades confessionais;
                               fundem-se e multiplicam-se tipos de agência divina, de cultos e de crenças, igrejas,
                               seitas, surtos e consultórios (BRANDÃO, 1986, p. 87).


           Com base no ensinamento dos módulos preparatórios para coordenadores de grupos de

oração da Renovação Carismática Católica e nos depoimentos de participantes do grupo

Reviver, percebe-se que, nesse aspecto, há uma semelhança dentro do grupo Reviver com a

Universal do Reino de Deus, no que se refere a uma clara e real preocupação em não manter

algum tipo de ensinamento metodológico sobre orações, favorecendo assim uma maior

entrada de membros com pouca instrução formal, o que se caracteriza como uma prática

pentecostal no interior católico.

           Há também uma clara perseguição a membros das religiões africanas por parte do

grupo Reviver no município de Santa Luz. No livro sobre orações selecionadas que membros

do grupo Reviver possuem, existem passagens claras sobre ataques a religiões africanas. Na

oração para libertação de todos os males, diz:


                             Eu renuncio a toda a invocação do espírito de exu e ogum; de Oxossi e de Iemanjá;
                             do espírito do caboclo e do preto velho; do espírito de índio, sete flechas, pomba-
                             gira; do espírito do tranca-rua, de São Jorge; do espírito de São Cosme e São
                             Damião. Do espírito de São Cipriano, passes espíritas e centros de macumba, a todos
                             os trabalhos e despachos(Orações selecionadas, 1999, p. 92).


           No município de Santa luz, um membro do grupo de oração Reviver prosseguiu

orando:

                             Senhor Jesus, eu rogo aqui em teu nome por essas pessoas, peço que cure todo o
                             coração ferido e atribulado aqui nessa sala, para que o senhor liberte todos dos
                             espíritos guias, do espírito de Exum e Ogum, do tranca-rua, da pomba-gira, do mau
                             olhado e de toda a macumba senhor.13




13
     Culto do grupo de oração Reviver dia 17/02/2009.
                                                                                                                25
Quando os primeiros escravos foram deportados para o Brasil Colônia, trouxeram sua

bagagem cultural, inclusive religiosa. Como foram trazidos na condição de escravos, tiveram

que adequar-se a religião dominante, o catolicismo, para assim, evitar atritos. Com isso, os

escravos praticavam suas formas religiosas relacionando o nome de seus deuses com o nome

dos santos católicos. Assim, na umbanda, por exemplo, São Jorge representa Ogum, a virgem

Maria representa Iemanjá, Omolu representa a São Lázaro e a Santíssima trindade representa

a Oxalá. M.S.S., quando perguntada o porquê dessa associação do nome de santos a deuses de

religiões africanas respondeu:


                               Bem, a gente sabe que muitas pessoas que fazem trabalhos e despachos em casas de
                               macumbas, utilizam o nome de santos em lugar do nome de seus demônios para
                               enganar pessoas de bem e fazer acreditar que ali é um santo. Por isso, quando a
                               gente fala em oração a esses espíritos malignos, não estamos falando de santos e
                               sim de demônios disfarçados de santos. 14

           Pode-se perceber que os integrantes do grupo de oração Reviver, além de reafirmar

sua identidade católica em não negar o culto aos santos, diferenciam pela maneira de orar

quando falam de um santo católico e de um deus da religião africana. Com relação a um deus

Orixá, a oração feita por fiéis católicos repreende o mal e é agressiva, diferente da oração

direcionada a um santo católico, que é uma oração de veneração. Ainda com relação a essa

demonização, a Igreja Católica, desde o início da colonização no Brasil, assumiu essa postura

frente a outras formas de religiosidade, como Rubim Santos afirma:


                              Na América espanhola, enquanto prática de combate ao demônio, os religiosos
                              repudiavam com mais ênfases as idolatrias e os sacrifícios. No Brasil, deram-se
                              muita atenção ás guerras indígenas, porém, consideradas, mais seriamente como
                              práticas bestiais, o incesto, e o canibalismo. Durante o processo de catequese, os
                              jesuítas „trataram de convencer‟ os indígenas de que qualquer ritual que invocasse os
                              mortos poderia trazer as forças malignas (AQUINO, 2000, p. 248).


           Percebe-se assim, que semelhante a Universal do Reino de Deus em Santa Luz, ao

demonizar as religiões africanas no município, o grupo de oração Reviver também faz isso
14
     Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
                                                                                                                26
identificando os demônios por seus nomes e qualidades, relacionando as doenças causadas por

esses demônios com seus nomes. Quando perguntada o porquê de sua participação do grupo

reviver de oração, A. S. L, disse:


                              Eu antes me sentia sozinha, queria achar um lugar onde eu me sentisse bem com
                              Deus, mas nunca quis ser crente não. Aí foi quando me falaram sobre o reviver e eu
                              vim participar. Tinha também a questão de meu pai beber muito, aí eu vim para a
                              igreja libertar ele. 15


           A palavra libertação é muito comum no meio pentecostal. Geralmente significa livrar-

se de algum mal espiritual, que prejudica as pessoas e interfere de modo negativo nas suas

relações sociais. Então, sempre quando alguém do meio pentecostal usar o termo “libertar”,

infere a libertação de um mal superior, no caso demônios representados por orixás africanos.

M.S.S., quando perguntada sobre os motivos que levaram a mesma a participar do grupo de

oração reviver, respondeu que:

                               Primeiramente, eu estava muito fria na igreja. Não sentia a presença de Deus na
                               minha vida. Os problemas familiares que eu estava passando por causa dos
                               despachos e trabalhos que faziam para mim e para minha família me fizeram
                               participar e procurar Deus no grupo de oração. Tinha que livrar minha família da
                               pomba-gira e do espírito diabólico de Exum. Queria me libertar. 16


           Com referência a essa situação de demonização no âmbito doméstico, isso é uma

característica pentecostal, inclusive muito pregada pela Igreja Universal do Reino de Deus no

município. Sobre isso, Maria das dores Campos Machado sustenta:


                              Identifiquei maior tendência a demonização dos conflitos domésticos nos grupos
                              pentecostais populares, em que o nível de instrução é baixo em ambos os sexos, e a
                              passagem pelas religiões afro-brasileiras se mostraram mais freqüente (MACHADO,
                              1996, p.109).


           Outra situação interessante no grupo reviver é sua aproximação a uma agência de cura

divina, em que a maior parte dos fiéis não é fixa. Na verdade, muitos vão ao grupo com o


15
     Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009.
16
     Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
                                                                                                             27
intuito de procurar ajuda com relação a problemas habituais e cotidianos, mostrando-se assim

que possui claras feições neopentecostais. R. M. S, com relação os problemas citados pelas

pessoas que procuram o reviver explica que:


                              Muitas vezes são problemas relacionados com os vícios, ao álcool, violência em
                              casa, questões de saúde, e buscam no grupo de oração esse auxílio através da oração
                              e cura. Então eles vem muito no grupo de oração buscar essa força, essa proteção,
                              esse auxílio.17

           Com relação à pergunta de quantas pessoas em média freqüentam o grupo de oração

reviver, R. M. S. respondeu que:

                              Tem um grupo que sempre participa freqüentemente que são os fiéis, que conduz o
                              encontro, mas tem o grupo maior de pessoas que vem sempre que precisa de
                              oração.18


           Diante desse quadro, percebe-se então com maior clareza que há sim uma grande

absorção de elementos e da forma de organização da Universal do Reino de Deus por parte do

grupo de oração Reviver, pois funciona como agência de cura divina, expulsando os demônios

e não tendo um grande grupo de fiéis fixos. Entende-se aqui por fiéis fixos um número

relativo de pessoas que freqüentam regularmente em um grupo religioso, ou seja, sempre as

mesmas pessoas (ou a maioria) comparecendo as reuniões por vários motivos, e não havendo

um rodízio significativo de fiéis nesse grupo religioso. Assim, a idéia de fixo exposta aqui não

significa imutável ou permanente, mas apenas com baixa rotatividade de pessoal.

           No caso do ingresso de uma pessoa no grupo de oração Reviver resulta de crises do

cotidiano do indivíduo, como: desorientação psicológica, problemas conjugais e familiares,

doenças, alcoolismo ou vícios em drogas e dificuldades financeiras. Para Carranza, nesses

casos “sob a ação do Espírito Santo, recria-se a referência mítica e miraculosa como recurso




17
     Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
18
     Idem.
                                                                                                              28
para a solução de problemas e aflições do fies. Prega-se uma nova mensagem religiosa e

sugere-se o conforto espiritual para atrair fiéis” (1998, p. 39).

        Conforme dispõe Ricardo Mariano, a igreja Universal funciona como um verdadeiro

“pronto-socorro espiritual”, com o famoso lema “Pare de sofrer”. Assim, as pessoas

atualmente expostas aos meios de comunicação de massas e bombardeadas constantemente

pelos valores da sociedade secularizada, se transformam em indivíduos insatisfeitos e

angustiados que busca no emocionalismo e no misticismo uma saída para seus problemas

habituais e conflitos pessoais. Dentro dessa perspectiva, as religiões como o catolicismo

tendem a perder seus adeptos para as formas de religiosidade em que a crença e o ritual

místico favorecem ao acesso mais fácil ao sagrado como forma de êxtase emocional e mística.

E isso se reflete no município de Santa Luz.

       De fato, a clara pentecostalização de segmentos do catolicismo como o grupo Reviver

no município de Santa Luz demonstra que a hegemonia católica está ameaçada

concomitantemente com a ampliação e difusão de outras religiões de matriz cristã, sendo essa

pentecostalização um instrumento usado como forma da reação para a disputa pelo mercado

religioso no município. Desta forma o movimento dos carismáticos emerge como parte de

uma Igreja Católica que esta em plena reestruturação buscando conquistar os novos fiéis e

resgatar os antigos. Sobre isso, Prandi atesta que:


                         A Renovação Carismática Católica passou a ser vista como um braço muito
                         operante, a arma procurada para defender e reconquistar os territórios perdidos para
                         pentecostais, afro-brasileiros, religiões orientais e outras ameaças menores. Apesar
                         das inovações que poderiam até desfigurar o velho catolicismo, a RCC mostrou que
                         poderia trazer de volta uma população de católicos que passeavam entre as várias
                         opções do mercado religioso. Mostrou que poderia de novo encher as igrejas, e
                         encher as igrejas com muito fervor e devoção (PRANDI, 1997, p. 53).



       Mas apesar de absorver elementos importantes da Universal do reino de Deus, o grupo

Reviver também reafirma dogmas católicos. A hierarquização da instituição tenta neutralizar
                                                                                                          29
a influências de crenças e práticas pentecostais, e se percebe isso no grupo Reviver com a

ampla devoção a Maria e também a obediência ao padre local. Esse reconhecimento de Maria

como sendo a virgem imaculada e mãe de Deus (dogma católico), serve de referência de

identidade própria para que fique clara a diferenciação dos carismáticos com outros grupos

religiosos pentecostais, no que concerne aos dogmas.

           Sobre isso, Prandi atesta que “na luta pela distinção e superação dos pentecostais, o

apelo à devoção a Maria tem peso nos discursos dos lideres da RCC... Sabendo reconhecer o

valor que a mãe de Jesus tem para sua identidade” (1997, p. 156). Dentro desse aspecto,

Maria das Dores Campos Machado aponta que a devoção a virgem Maria foi estimulada para

demarcar as fronteiras entre o catolicismo e o pentecostalismo, sendo que em certa medida

reforçar a identidade católica dos carismáticos. A autora coloca que:


                              Mas naquele estudo, concluímos que a classe de origem dessas mulheres e a força de
                              alguns elementos católicos, particularmente o marianismo, influenciavam muito
                              neste movimento (a RCC), levando a um retorno ao universo católico através da
                              Renovação Carismática Católica (MACHADO, 1996, p. 99).

           Também é interessante ressaltar que no início o grupo reviver não teve um amplo

apoio da comunidade católica no município devidos as suas características pentecostais, e até

hoje encontra certa dificuldade em romper com o preconceito com seus membros. A respeito

disso, R. M. S. (professora, solteira) falou que:


                              No início tivemos dificuldade, bastante rejeição, preconceito aos membros do grupo
                              de oração, muita indiferença, mas com o tempo nós fomos nos colocando e
                              mostrando que a oração é essencial e o grupo de oração tem esse objetivo de
                              interceder, de rezar pela igreja, pelas famílias e por toda nossa realidade.19

           Em virtude do que foi mencionado, esse é um fator bastante importante a ser

abordado, percebendo assim que mesmo com a introdução de um novo grupo mais adequado



19
     Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.

                                                                                                             30
aos costumes modernos, o tradicionalismo de pessoas ligadas à igreja mostrou-se como uma

forma de resistência e distanciamento do mundo moderno e pluralista atual.

           Ocorre que apesar do grupo Reviver ser parte integrante da Igreja Católica, muito dos

fiéis não conseguiu assimilar as mudanças ocorridas no interior da igreja, resistindo de fato às

novas formas religiosas, aceitando somente o saber religioso do padre, onde não há uma

redefinição rigorosa de identidade confessional, como uma ressocialização atualizadora de

novos códigos religiosos de crenças e práticas rituais. Constata-se, portanto, que houve uma

discriminação do grupo de oração Reviver frente pelos católicos tradicionais no município de

Santa Luz. Sobre isso, Prandi atesta que:

                              Os dez primeiros anos da RCC no Brasil foram de crescimento e desaprovação, por
                              ser um movimento leigo e independente em relação à estrutura da igreja. Na própria
                              estrutura financeira, ela inovava e reafirmava a sua independência e enquanto
                              aumentava em numero de membros, não recebia o apoio de um vaticano progressista
                              (PRANDI, 1997, p. 52).


           M.S.S. foi perguntada sobre a falta de apoio da comunidade católica ao grupo de

oração reviver no seu surgimento e respondeu que:

                               Ninguém gostava por que quem dirigia os cultos não era nem o padre, eram pessoas
                               que nem sabiam da bíblia direito. Mas com o tempo, o povo foi aceitando. O
                               próprio padre nas missas falava que era um grupo da igreja e que todos que
                               pudessem deviam participar. Aí, muitos que só escutavam o padre, acabaram
                               aceitando o grupo na igreja. 20


           Com isso, apesar da discriminação sofrida pela comunidade católica, o grupo Reviver

acabou sendo aceito pelos fiéis mais tradicionalistas, pois como se percebe, o papel do padre

foi determinante para a mudança de atitude de muitos católicos para com o grupo Reviver,

pois o padre, chefe maior da igreja local, sabia que o grupo de oração reviver estava

incumbido de recuperar antigos fiéis e absorver novos integrantes, trazendo assim benefícios

para a igreja local. Não foi um processo que ocorreu de maneira aleatória, mas sim teve uma


20
     Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.

                                                                                                             31
supervisão da igreja para que a maioria católica aceitasse. Os padres locais que

acompanharam o crescimento do grupo de oração Reviver foram o padre Cícero (2000-2004)

e o padre Jairo (2004-2009).

       Segundo integrantes do grupo de oração Reviver, o padre Cícero era o incumbido da

Igreja Católica no momento do surgimento do Reviver, embora não estivesse tão diretamente

envolvido com as atividades do grupo. Sua relação com o grupo carismático, portanto, deu-se

de maneira mais formal, mas este, sem dúvida, apoiava sua expansão no município.

       O Padre Jairo, por outro lado, apoiou mais intensamente o grupo. Embora não se

envolvesse diretamente nas reuniões, (já que a atuação do grupo, que como já foi dito, é de

responsabilidade dos leigos carismáticos católicos), o padre sempre incentivou os fiéis a

participar do Reviver, promovendo encontros entre os jovens do grupo de oração, além de

promover jogos e eventos na Igreja local, ligados ao grupo Reviver.

       A proximidade entre as instituições religiosas de fato é um elemento que aguça as

tensões entre ambas. Localizada a cerca de cinqüenta metros da Igreja Católica, a Universal

do reino de Deus se configura como uma poderosa concorrente no mercado religioso local, o

que vai exigir da Igreja Católica alguma reação. Essa reação veio com o grupo Reviver, com o

objetivo de impedir a ascensão da Universal na localidade, o que naturalmente lhe

prejudicaria com a dispersão de parte de seus fiéis, que insatisfeitos com os seus problemas

cotidianos, iriam procurar ajuda no pentecostalismo emocional mais próximo, que seria a

Igreja Universal.

       Com isso, numa situação de pluralismo religioso, a concorrência inter-religiosa para

cooptar e manter adeptos e fiéis é extremamente acirrada. Assim, o desafio no município é

atrair o maior número possível de indivíduos aos cultos, onde no interior das instituições

(Reviver e Universal) há a pregação e a tentativa de romper com o ceticismo e com as

                                                                                         32
barreiras que impeçam o virtual adepto de se entregar a Jesus, de mudar de religião e de se

manter na nova comunidade religiosa.

       O Homem pós-moderno encontra-se sem referência segura, apático socialmente e

dando adeus as ilusões, passa a dar valor a tudo que se refere a sensações, como escapismo

para algum tipo de sentido além da realidade. O pluralismo religioso cria um ambiente

propício para a adesão a novas formas de diversificação dos cultos e reuniões, pois a tentativa

agora é manter e conquistar os fiéis, arrebanhando pessoas que procuram a solução imediata

de seus problemas ou de suas exclusões sociais, ansiando satisfação pessoal e buscando uma

peculiar ligação com o divino. Com isso, o sujeito tornou-se um ser fragmentado, plural,

composto de várias identidades, muitas vezes contraditórias e mal resolvidas. É assim, que o

grupo de oração Reviver, pronto para dar atendimento às carências mais latentes do indivíduo,

faz surgir um novo filão religioso no município, reunindo em suas dependências jovens e

adultas, assegurando a vitória divina em meios às atribulações vividas pelo homem na terra.




                                                                                              33
CONSIDERAÇÕES FINAIS




       De acordo com todas as análises sociológicas feitas acerca do pentecostalismo,

podem-se constatar as mais variadas mudanças que ocorreram no interior desse grupo

religioso. Com o surgimento do neopentecostalismo, em especial a Universal do Reino de

Deus, as promessas e soluções mágicas para os problemas cotidianos passaram a ser usados

frequentemente como instrumentos de cooptação de indivíduos, na maioria das vezes dos

estratos mais marginalizados da sociedade. Essa Igreja apresenta-se com uma estratégia de

ajustamento dos indivíduos pobres na sociedade pós-moderna. Com a teologia da

prosperidade, esses indivíduos não teriam que pagar um preço tão alto com as proibições

legalistas, prescrições e tabus comportamentais para serem considerados eleitos por Deus.

Agora, o enriquecimento e o consumismo passam também a ser frutos de uma fé abençoada.

       Apesar de a modernidade possibilitar ao homem um maior controle sobre a natureza

(em particular sobre seu próprio corpo), não resolveu as tensões, ameaças e apreensões

humanas. A angústia existencial do homem continuou como uma incógnita. A própria

modernidade fomentou descontentamentos e o aparecimento das mais variadas formas

religiosas, com o objetivo de aproximação com o sobrenatural. Assim, a competição religiosa

foi acirrada, e consequentemente, a adequação de algumas religiões como catolicismo foi de

fato obrigatória para tentar causar uma retração nas religiões que ameaçam seu poder.

       A lógica de mercado tem levado as formas religiosas a desempenhar um papel social

muito ativo, onde o individualismo do mundo moderno produziu uma solidão pavorosa no

homem, levando o mesmo a consumir a própria religião cada vez mais, como uma forma de

compensação das necessidades afetivas. Assim, a Universal do Reino de Deus, o famoso

“pronto-socorro” citado por Ricardo Mariano, ganha cada vez mais adeptos em várias partes

                                                                                        34
do Brasil, devido em grande parte pela sua linguagem simples e as promessas com soluções

para os problemas cotidianos, utilizando para isso elementos dotados de poderes mágicos

como instrumento de aproximação com o sobrenatural.

       O surgimento das comunidades carismáticas, no início não foram bem aceitas entre

maioria dos membros da Igreja Católica. O maior medo do clero era a perda de poder sobre

esse novo grupo religioso, embora os fiéis tradicionais não aceitassem a nova forma de

devoção propagada pelos leigos. Com isso, percebemos que houve uma discriminação sofrida

pelo grupo Reviver no interior da igreja no municio de Santa Luz. Para resolver esse

problema, os leigos carismáticos têm que obedecer dois dogmas católicos: veneração a Maria

e obediência ao Papa e a santa igreja. O padre local teve papel importante para que a

comunidade católica aceitasse em seu seio o grupo de oração Reviver, reafirmando sempre a

identidade católica do grupo de oração e interferindo a favor do crescimento local do grupo

Reviver.

       O grupo de oração Reviver no município de Santa Luz tem de fato, se aproximado de

alguns elementos da igreja Universal do Reino de Deus. O primeiro é a ênfase no exorcismo e

na demonização das religiões afro-brasileiras. São os espíritos malignos e forças demoníacas

que atuam na vida do indivíduo, destruindo-lhe a personalidade e causando comportamentos

desviantes como traição, agressividade física, alcoolismo entre outros vícios.

       O segundo é a extrema ênfase dada no espírito santo e no pentecostes. Não existe uma

ordem comportamental de como o fiel deve adorar a Deus. O espírito, portanto, é a presença

sobrenatural nas reuniões carismáticas, que pode ser através de um hino, uma pregação, uma

oração ou até de técnicas corporais como a dança e as palmas, elementos tão presentes na

Universal do Reino de Deus. Também há de ressaltar a pouca importância dada pelo grupo

Reviver a leitura da Bíblia.

                                                                                         35
O grupo de oração Reviver também funciona como uma agência de cura divina, pois

se propõe a resolver os problemas do cotidiano das pessoas, sendo que não tem um elevado

grupo de participantes fixos. As pessoas vão até o grupo com o intuito de resolver seus

problemas pessoais, a fim de obter um conforto espiritual. O grupo de oração Reviver no

município funciona como um aliado forte para barrar o avanço pentecostal, inclusive da sua

vizinha Universal do Reino de Deus.

       A redefinição de valores do grupo de oração Reviver no município obedece à rigorosa

observância ao culto da virgem Maria e a obediência a Igreja Católica, visto que apesar de ser

dirigido por leigos, é um movimento oriundo da igreja, fato que serve como reforço da

identidade católica do grupo na localidade.

       O grupo de oração Reviver, semelhante a outros grupos de oração da RCC que se

espalharam por quase todas as paróquias do Brasil, adquire uma expressividade religiosa

ímpar, e apresenta às massas uma novidade religiosa, ou melhor, um retorno ao culto litúrgico

que estava esquecido na origem do cristianismo, mesclando novos e velhos elementos,

conseguindo dar um novo impulso ao catolicismo luzense, sem perder, porém, sua identidade

católica.




                                                                                           36
REFERÊNCIAS




AQUINO, Rubim Santos de Leão. Sociedade brasileira: uma história através dos
movimentos sociais. 5ed. Local: Record, 2006.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do povo: um estudo sobre a religião popular. 2ª
ed. SP: Editora Brasiliense, 1986.

BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: história latina colonial, vol.1;
tradução Maria Claro Cescato. 2ªed. SP, Brasília, 2004. P. 553-568.

BOX, Charles R. A idade de ouro no Brasil: dores de crescimento de uma sociedade
colonial. 3ª ed. RJ: Nova Fronteira, data.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 1989.

FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. In ANTONIAZZI , Alberto.
Nem anjos e nem demônios: interpretações sociologias do pentecostalismo. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1994, p. 67 -159.

FILORAMO, Giovanni. Monoteísmos e dualismos: as religiões da salvação. Tradução
Camila Kintzel; organização da edição brasileira Adone Agnolin. 1ª Ed. SP: Hedra, 2005.

MACHADO, Maria das Dores Campos. Carismáticos e pentecostais: Adesão religiosa na
esfera familiar. Campinas, SP: ANPOCS, 1996

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: a sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. 2ª
ed. SP: Loyola, 2005.

MICELLI, Sérgio. A elite eclesiástica brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.

HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil Republicano: sociedade e instituições (1889-1930).
Paulo Sérgio Pinheiro... et al. 8ª ed. RJ: Bertrand Brasil, 2006.

PAEGLE, Eduardo Guilherme de Moura. Uma breve análise historiográfica do
protestantismo brasileiro e suas tendências atuais. Trabalho apresentado no simpósio da
XXIII ANPUH na UEPG, 2005.

PRANDI, Reginaldo. Um sopro do espírito: a renovação conservadora do catolicismo
carismático. São Paulo: USP, 1997.
                                                                                           37
PIERUCCI, Antônio Flávio. “Bye, bye Brasil” – O declínio das religiões tradicionais no
censo 2000. Estudos avançados, Estudos avançados, volume 18, SP, 2004.

RIBEIRO, Berta Gleizer. O índio na história do Brasil. São Paulo: Global, 1983.

SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo, 1930-1964. Rio de Janeiro: Paz e terra,
14ª Ed. 2007. P.21-109.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 4ª Ed. SP: Martin Claret,
2009.

WEBER, Max. Sociologia das religiões (tipos de relações comunitárias religiosas). IN
economia e sociedade, Vol I, Ed. Da UNB, Brasília, 1991.

________, Max. Sociologia. São Paulo: Ática, 1999. P. 142 – 159.




                                        FONTES



                                                                                    38
MACEDO, Bispo. Orixá, caboclos e guias: deuses ou demônios? Rio de Janeiro: Universal,
2000.

MARIOTTI, Alides Destri. Renovação carismática católica – Brasil, ministério de
formação. SP: Loyola, 2008. 1º, 2º, 3º, 4º e 5º modulo.

Orações selecionadas por cura e intercessão, 23ª Ed. Sorocaba, Loyola, out. de 1999.

Descrição densa e observação sistemática da Igreja Universal do Reino de Deus em Santa Luz
e seu culto dia 01/11/2008 e 14/01/2009.

Gravações de cultos da Igreja Universal do Reino de Deus dia 01/11/2008 e do grupo de
oração reviver dia 17/02/2009.

Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração reviver, realizada no dia 20/06/2009.

Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.

Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.




                                                                                             39
ANEXOS


A - Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia
25/07/2009.




1º Há quanto tempo que você faz parte da Igreja Católica de Santa Luzia no Município
de Santa Luz?

Há, já faz tempo... Tem mais de 10 anos.

2º E há quanto tempo você participa do grupo de oração reviver?

Desde 2007 que eu venho aqui no grupo de oração.

3º Quais foram os motivos ou razões que levaram você a participar e freqüentar o grupo
de oração reviver?

Primeiramente, eu estava muito fria na igreja. Não sentia a presença de Deus na minha vida.
Os problemas familiares que eu estava passando por causa dos despachos e trabalhos que
faziam para mim e para minha família me fizeram participar e procurar Deus no grupo de
oração. Tinha que livrar minha família da pomba-gira e do espírito diabólico de Exum.
Queria me libertar

4º Por que você não participou desde o inicio do grupo de oração reviver?

Eu não gostava. Na minha visão, oração e cantos não aproximavam a gente de Deus assim,
do jeito que eles diziam. Não faziam um estudo da Bíblia, nem nada. Eu sempre gostei de ver
o padre citar versículos da Bíblia, e eu estudava também, coisa que lá nunca vi acontecer.

5º Com a mudança da Igreja Universal do Reino de Deus aqui para próximo a igreja
católica, como a comunidade católica reagiu a isso?

Muitos ficaram indignados. Não aceitavam essa falta de respeito. Criou-se aqui um espírito
de revanche entre essas igrejas devido a essa mudança absurda aqui pra perto da gente. Na
época, lembro que muitos foram atrás da prefeitura pra não liberar o alvará de
funcionamento pra essa igreja.

6º Fiquei sabendo que no inicio muitos católicos não aprovavam o grupo de oração
reviver na igreja. Hoje, parece que o grupo de oração reviver não enfrenta mais esses
problemas. Como isso ocorreu?
                                                                                        40
Ninguém gostava por que quem dirigia os cultos não era nem o padre, eram pessoas que nem
sabiam da bíblia direito. Mas com o tempo, o povo foi aceitando. O próprio padre nas missas
falava que era um grupo da igreja e que todos que pudessem deviam participar. Aí, muitos
que só escutavam o padre, acabaram aceitando o grupo na igreja.

7º Como você explica a utilização e associação de nomes de santo a Deuses africanos
(demônios para os cristãos) nas reuniões do grupo reviver? Você também utiliza isso?

Bem, a gente sabe que muitas pessoas que fazem trabalhos e despachos em casas de
macumbas, utilizam o nome de santos em lugar do nome de seus demônios para enganar
pessoas de bem e fazer acreditar que ali é um santo. Por isso, quando a gente fala em oração
a esses espíritos malignos, não estamos falando de santos e sim de demônios disfarçados de
santos.




                                                                                         41
B - Entrevista com R.M.S., integrante e coordenadora do grupo de oração Reviver, realizada
no dia 25/07/2009.




Me Fale um pouco sobre como ocorreu a criação do grupo de oração Reviver no
município de Santa Luz e quais foram os reais motivos para que a criação do grupo de
oração ocorresse.


O grupo surgiu da necessidade da oração, e da busca constante pela intimidade com Deus,
diante disso surgiu o convite para o grupo de jovens da Matriz participar de um evento em
Salvador, o chamado Renascer.

Qual a sua rotina e função aqui no grupo Reviver?


Minha rotina é manter o grupo unido, na oração pessoal, na comunidade, na palavra de
Deus, através também da formação, nos encontros de oração, também no acompanhamento e
aconselhamento dos membros, e na partilha pessoal, sempre que necessário, organizar
evento da RCC na Matriz, visitas as famílias, e etc.

Como o grupo está organizado? Existe alguma hierarquia?


O grupo está organizado da seguinte forma: coordenação geral, vice-coordenação geral,
coordenação do ministério jovem, e auxiliares.

Gostaria que você me falasse um pouco sobre como as pessoas ligadas aos setores mais
tradicionais da Igreja reagiram com a criação do grupo Reviver em Santa Luz?


No início tivemos dificuldade, bastante rejeição, preconceito aos membros do grupo de
oração, muita indiferença, mas com o tempo nós fomos nos colocando e mostrando que a
oração é essencial e o grupo de oração tem esse objetivo de interceder, de rezar pela igreja,
pelas famílias e por toda nossa realidade.

Existem vários testemunhos e relatos em várias igrejas cristãs. Aqui na Renovação
Carismática Católica (Reviver) em Santa Luz, existem testemunhos? Qual o significado
do testemunho no grupo Reviver?



                                                                                          42
É através do testemunho que todos se ativam e despertam outros irmãos a viver experiências
com o amor de Deus. Os fiéis demonstram entusiasmo, perseverança, e uma alegria que os
une e os diferencia dos demais.

Qual o perfil dos fiéis que freqüentam o grupo Reviver aqui no município de Santa Luz
e quais seriam os principais problemas que eles dizem passar e vêm buscar ajuda aqui
no grupo?
São jovens que buscam estar perto de Deus, no serviço da Igreja como coral, no teatro,
celebração das missas, buscam o refúgio, o consolo, a proteção na oração, no louvor, na
palavra de Deus. Muitas vezes são problemas relacionados com os vícios, ao álcool,
violência em casa, questões de saúde, e buscam no grupo de oração esse auxílio através da
oração e cura. Então eles vêm muito no grupo de oração buscar essa força, essa proteção,
esse auxílio.

Com relação ao livro orações selecionadas para intercessão e cura, você usa algumas
daquelas orações nas reuniões? Qual seria o objetivo delas?


Algumas orações ministradas são orações de intercessão, pedindo perdão ou proteção de
Deus, súplica ao Espírito Santo, a cura interior, pedindo providência divina de acordo com a
necessidade. A nossa vida é dom de Deus, mas no nosso mundo em que vivemos existe muitos
problemas, muitas tribulações, e é por isso que precisamos estar em constante oração
suplicando a graça de Deus em nossa vida.

Como você se apresenta para a questão da própria libertação ou melhoração no grupo
Reviver? Há testemunhos sobre como acontece essa libertação? O que seria essa
libertação?


Geralmente quando se fala em libertação, se fala em alguém possesso por espírito mal. Nossa
libertação precisa ser dos nossos próprios apegos, sofrimentos sem razão de ser, falta de
amor ao próprio, a falta de perdão, a falta do amor a Deus, a falta de fé, o medo, houve
testemunhos no grupo de oração sobre alguns desses problemas.

O que significa orações em línguas no grupo Reviver? Isso já ocorreu aqui no grupo?
Me fale um pouco sobre isso.


A oração em línguas é uma forma de falar com Deus, é um jeito simples de rezar quando não
temos mais palavras para dizer. Deixamos que o nosso coração cante, louve ao nosso Deus,
como está em Marcos, capítulo 7, versículo 16, falaram novas línguas, em Atos dos
Apóstolos, capítulo 2 versículo 4, diz: todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram
a falar em outras línguas, conforme o espírito os concedia que falassem.
                                                                                         43
Qual o número aproximado de pessoas que freqüentam o grupo Reviver?


Tem um grupo que sempre participa freqüentemente que são os fiéis, que conduz o encontro,
mas tem o grupo maior de pessoas que vem sempre que precisa de oração.

Com relação à maneira de orar do fiel, há alguma restrição ou instrução por parte do
grupo Reviver?


O momento de oração pode ser de joelhos, sim quando está se adorando ao nosso Deus. Mas
também pode ser livremente, pode ser em pé, às vezes as pessoas preferem ficar de pé, não
tem nenhuma restrição não, às vezes a gente vai colocando e quem estiver disposto a realizar
de acordo com o que a gente vai indicando, pode ficar a vontade.




                                                                                         44
C - Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia
20/06/2009.




Você já participava da Igreja Católica antes do grupo Reviver?


Não, eu não era membro da Igreja Católica. Na verdade, não ia em nenhuma Igreja, pois não
me sentia a vontade em nenhuma delas.

E as igrejas pentecostais como a Universal do Reino de Deus? Você já foi lá?


Não... Eu não gosto da Universal. É uma Igreja muito manchada. Dizem que os pastores
roubam o dinheiro do povo. Aí eu não ia me sentir bem lá.

Qual a sua visão sobre a Igreja Católica antes de entrar para o Reviver?


Eu sempre achei a Igreja Católica muito fechada sabe?... Assim, é como que você não tivesse
nenhuma liberdade. Até o próprio local me assustava, com os bancos de madeira com os
locais para ajoelhar, eu nunca gostei disso não.

Você participa de algum grupo aqui da Igreja Católica que não seja o Reviver?


Não, só participo do grupo Reviver.


E qual a sua visão hoje, atualmente sobre a Igreja Católica, depois que você começou a
participar do grupo Reviver?

Agora depois que eu comecei a participar do grupo de oração, tenho uma visão melhor da
igreja. Por que no grupo de oração você pode pular, dançar, cantar, tudo para a glória de
Deus. Essas coisas eu achava que a igreja não deixava a gente fazer.

Gostaria de saber quais os motivos que levaram você a freqüentar o grupo Reviver?


Eu antes me sentia sozinha, queria achar um lugar onde eu me sentisse bem com Deus, mas
nunca quis ser crente não. Aí foi quando me falaram sobre o reviver e eu vim participar.
Tinha também a questão de meu pai beber muito, aí eu vim para a igreja libertar ele.

                                                                                        45
O que você acha sobre a localização da Igreja Universal, junto da Igreja Católica?


Eu acho que todo mundo tem direito de ter sua religião, mas eu não acho certo uma igreja
vim ficar tão perto aqui da nossa. É uma falta de respeito, pois muitas vezes quando a gente
ta fazendo nossa reunião, e quando pensa que não, a gente tem que parar por que eles ficam
cantando lá e atrapalha nossa oração. Por isso eu não acho certo.




                                                                                         46
D – Foto da Igreja Universal do Reino de Deus (à esquerda) e da Igreja Católica (à direita) no

município de Santa Luz.


 Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Estação Ferroviária
              de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008.




 Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Estação Ferroviária
              de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008.




                                                                                                 47
Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Praça Joaquim de
    Góes no município de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008.




                                                                                              48

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporânea
A Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporâneaA Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporânea
A Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporâneaFernando Giorgetti
 
Documento cnbb 62 - missão dos cristão leigos e leigas
Documento cnbb   62 - missão dos cristão leigos e leigasDocumento cnbb   62 - missão dos cristão leigos e leigas
Documento cnbb 62 - missão dos cristão leigos e leigaszepasamp
 
02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assis
02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assis02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assis
02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assisGeo Jaques
 
Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova ParóquiaComunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova ParóquiaJosé Vieira Dos Santos
 
Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...
Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...
Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...Wallace Sousa
 
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – piA prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – piOaidson Silva
 
Cultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve Church
Cultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve ChurchCultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve Church
Cultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve ChurchRaquel Salcedo Gomes
 
Comunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaimeComunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaimeAlexandre Panerai
 
Monografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religiosoMonografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religiosoDafianaCarlos
 
As Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do Brasil
As Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do BrasilAs Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do Brasil
As Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do BrasilPastoral da Juventude
 
Comunidade de comunidades uma nova Paróquia
Comunidade de comunidades uma nova ParóquiaComunidade de comunidades uma nova Paróquia
Comunidade de comunidades uma nova ParóquiaBernadetecebs .
 
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014Jair de Barros
 
Tcc - Releitura da missão integral
Tcc - Releitura da missão integralTcc - Releitura da missão integral
Tcc - Releitura da missão integralDiego Camilo
 
Curriculo final
Curriculo finalCurriculo final
Curriculo finalDIJSEFA
 

Mais procurados (19)

A Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporânea
A Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporâneaA Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporânea
A Teologia Reformada: Seu olhar para a espiritualidade da Igreja contemporânea
 
Documento cnbb 62 - missão dos cristão leigos e leigas
Documento cnbb   62 - missão dos cristão leigos e leigasDocumento cnbb   62 - missão dos cristão leigos e leigas
Documento cnbb 62 - missão dos cristão leigos e leigas
 
02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assis
02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assis02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assis
02 12-2013.103713 material33-assdiocpastoral_comunidade de comunidades_pe. assis
 
Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova ParóquiaComunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
 
Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...
Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...
Monografia: A TEOLOGIA BÍBLICA E SEU PAPEL NO ARREFECIMENTO DO ANTI-INTELECTU...
 
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – piA prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
 
Monografia final
Monografia finalMonografia final
Monografia final
 
Cultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve Church
Cultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve ChurchCultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve Church
Cultura juvenil religiosa: caso Bola de Neve Church
 
Comunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaimeComunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaime
 
Monografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religiosoMonografia do Seminário_Ensino religioso
Monografia do Seminário_Ensino religioso
 
Monografia do david
Monografia do davidMonografia do david
Monografia do david
 
As Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do Brasil
As Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do BrasilAs Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do Brasil
As Comunidades Eclesiais De Base Na Igreja Do Brasil
 
Beozzo vaticano
Beozzo vaticanoBeozzo vaticano
Beozzo vaticano
 
Comunidade de comunidades uma nova Paróquia
Comunidade de comunidades uma nova ParóquiaComunidade de comunidades uma nova Paróquia
Comunidade de comunidades uma nova Paróquia
 
Ce bs
Ce bsCe bs
Ce bs
 
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
Tcc jair de barros tcc-teologia-fatin-2014
 
Tcc - Releitura da missão integral
Tcc - Releitura da missão integralTcc - Releitura da missão integral
Tcc - Releitura da missão integral
 
Cebs freibetto
Cebs freibettoCebs freibetto
Cebs freibetto
 
Curriculo final
Curriculo finalCurriculo final
Curriculo final
 

Destaque

C:\fakepath\manualposicbebece
C:\fakepath\manualposicbebeceC:\fakepath\manualposicbebece
C:\fakepath\manualposicbebecediegodecarli
 
Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]
Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]
Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]Anais Gironès
 
Automation_and_Control_Engineering_01
Automation_and_Control_Engineering_01Automation_and_Control_Engineering_01
Automation_and_Control_Engineering_01Vedad Causevic
 
Mantenimiento de un ventilador
Mantenimiento de un ventiladorMantenimiento de un ventilador
Mantenimiento de un ventiladoryurley katerine
 
Travessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risiana
Travessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risianaTravessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risiana
Travessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risianaUNEB
 

Destaque (7)

C:\fakepath\manualposicbebece
C:\fakepath\manualposicbebeceC:\fakepath\manualposicbebece
C:\fakepath\manualposicbebece
 
Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]
Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]
Noves tecnologies per_a_persones_amb_discapacitat_visual[1]
 
mydiploma1
mydiploma1mydiploma1
mydiploma1
 
Automation_and_Control_Engineering_01
Automation_and_Control_Engineering_01Automation_and_Control_Engineering_01
Automation_and_Control_Engineering_01
 
Mantenimiento de un ventilador
Mantenimiento de un ventiladorMantenimiento de un ventilador
Mantenimiento de un ventilador
 
Travessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risiana
Travessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risianaTravessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risiana
Travessias identitárias de deslocamentos dos sujeitos na literatura risiana
 
Fórum rbe 2009
Fórum rbe 2009Fórum rbe 2009
Fórum rbe 2009
 

Semelhante a Renovação Carismática em Santa Luz e a Universal do Reino de Deus

A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – piA prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – piOaidson Silva
 
Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia José Vieira Dos Santos
 
Pelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reino
Pelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reinoPelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reino
Pelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reinoPaulo Dias Nogueira
 
Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2
Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2
Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2domeduardo
 
Aula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL I
Aula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL IAula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL I
Aula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL IIsrael serique
 
O Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdf
O Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdfO Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdf
O Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdfHerreraHerrera21
 
DEIM - conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
DEIM -    conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)DEIM -    conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
DEIM - conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)Paulo Dias Nogueira
 
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...Paulo Dias Nogueira
 
Desafios da catequese no cenário da pós
Desafios da catequese no cenário da pósDesafios da catequese no cenário da pós
Desafios da catequese no cenário da pósAparecida Serafim
 
O evangelho auternativo da igreja atual
O evangelho auternativo da igreja atualO evangelho auternativo da igreja atual
O evangelho auternativo da igreja atualAntonio Silva Matias
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...ParoquiaDeSaoPedro
 
Jubileu Diocese de Aveiro - Proposta de Trabalho
Jubileu Diocese de Aveiro - Proposta de TrabalhoJubileu Diocese de Aveiro - Proposta de Trabalho
Jubileu Diocese de Aveiro - Proposta de TrabalhoDiocese de Aveiro
 
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...JOSE ROBERTO ALVES DA SILVA
 

Semelhante a Renovação Carismática em Santa Luz e a Universal do Reino de Deus (20)

A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – piA prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi
 
Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades Uma Nova Paróquia
 
Carla geanfrancisco desafios do pastor urbano
Carla geanfrancisco   desafios do pastor urbanoCarla geanfrancisco   desafios do pastor urbano
Carla geanfrancisco desafios do pastor urbano
 
Uma nova paroquia
Uma nova paroquiaUma nova paroquia
Uma nova paroquia
 
Pelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reino
Pelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reinoPelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reino
Pelas trilhas-do-mundo-a-caminho-do-reino
 
Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2
Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2
Dgae da igreja no brasil, dom eduardo 2
 
Aula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL I
Aula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL IAula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL I
Aula 2: BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL I
 
O Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdf
O Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdfO Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdf
O Congregacionalismo Brasileiro e Seus Desafios Hoje.pdf
 
DEIM - conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
DEIM -    conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)DEIM -    conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
DEIM - conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
 
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
 
Para Que Acreditem E Tenham Vida
Para Que Acreditem E Tenham VidaPara Que Acreditem E Tenham Vida
Para Que Acreditem E Tenham Vida
 
Revista teológica
Revista teológicaRevista teológica
Revista teológica
 
Desafios da catequese no cenário da pós
Desafios da catequese no cenário da pósDesafios da catequese no cenário da pós
Desafios da catequese no cenário da pós
 
A pregação e o meio
A pregação e o meioA pregação e o meio
A pregação e o meio
 
O evangelho auternativo da igreja atual
O evangelho auternativo da igreja atualO evangelho auternativo da igreja atual
O evangelho auternativo da igreja atual
 
Dois senarios na vida da igreja
Dois senarios na vida da igrejaDois senarios na vida da igreja
Dois senarios na vida da igreja
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Março ...
 
Revendo nossos conceitos sobre Discipulado!
Revendo nossos conceitos sobre Discipulado!Revendo nossos conceitos sobre Discipulado!
Revendo nossos conceitos sobre Discipulado!
 
Jubileu Diocese de Aveiro - Proposta de Trabalho
Jubileu Diocese de Aveiro - Proposta de TrabalhoJubileu Diocese de Aveiro - Proposta de Trabalho
Jubileu Diocese de Aveiro - Proposta de Trabalho
 
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
 

Mais de UNEB

TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraTCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraUNEB
 
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneTCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneUNEB
 
TCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesTCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesUNEB
 
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraTCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraUNEB
 
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoTCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoUNEB
 
Memorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosMemorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosUNEB
 
TCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosTCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosUNEB
 
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaTCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaUNEB
 
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraMonografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraUNEB
 
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazMonografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazUNEB
 
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraMonografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraUNEB
 
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraMonografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraUNEB
 
Monografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraMonografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraUNEB
 
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraMonografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraUNEB
 
Monografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaMonografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaUNEB
 
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosMonografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosUNEB
 
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosMonografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosUNEB
 
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAMONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAUNEB
 
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...UNEB
 
1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e ModerniddeUNEB
 

Mais de UNEB (20)

TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de OliveiraTCC de Morana Liss Morais de Oliveira
TCC de Morana Liss Morais de Oliveira
 
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo GiovaneTCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
TCC de Laudécio Carnerio e Paulo Giovane
 
TCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges AlvesTCC de Jussara Borges Alves
TCC de Jussara Borges Alves
 
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento PereiraTCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
TCC de Edisvânio do Nascimento Pereira
 
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís AselmoTCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
TCC de Douglas Santos, Jussara Oliveira e Luís Aselmo
 
Memorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira SantosMemorial de Camila Oliveira Santos
Memorial de Camila Oliveira Santos
 
TCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira SantosTCC de Camila Oliveira Santos
TCC de Camila Oliveira Santos
 
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da SilvaTCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
TCC de Batriz dos Santos e Gezarela da Silva
 
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva FerreiraMonografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
Monografia de Laisa Dioly da Silva Ferreira
 
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva FerrazMonografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
Monografia de Débora Araújo da Silva Ferraz
 
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de OliveiraMonografia de Wagner Simões de Oliveira
Monografia de Wagner Simões de Oliveira
 
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira PereiraMonografia de Josiélia Oliveira Pereira
Monografia de Josiélia Oliveira Pereira
 
Monografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima OliveiraMonografia de Leila de Lima Oliveira
Monografia de Leila de Lima Oliveira
 
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos OliveiraMonografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
Monografia de Kelly Tainan Santos Oliveira
 
Monografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana MirandaMonografia de Glécia de Santana Miranda
Monografia de Glécia de Santana Miranda
 
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira RamosMonografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
Monografia de Deiseluce de Oliveira Ramos
 
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho SantosMonografia de Bonifácio Carvalho Santos
Monografia de Bonifácio Carvalho Santos
 
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVAMONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
MONOGRAFIA DE ANA ZILÁ RAMOS OLIVEIRA DA SILVA
 
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
As estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos do sexto ano de língua i...
 
1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde1984 - literatura e Modernidde
1984 - literatura e Modernidde
 

Renovação Carismática em Santa Luz e a Universal do Reino de Deus

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB – CAMPUS XIV CURSO DE HISTÓRIA PAULO VIANA CUNHA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO REINO DE DEUS CONCEIÇÃO DO COITÉ 2010
  • 2. PAULO VIANA CUNHA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO REINO DE DEUS Trabalho de conclusão de curso, apresentado para obtenção do grau de Licenciado de História pela Universidade do Estado da Bahia, sob orientação do Prof. Dr. Aldo José Morais Silva. CONCEIÇÃO DO COITÉ 2010 1
  • 3. PAULO VIANA CUNHA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO REINO DE DEUS. Trabalho de conclusão de curso aprovado pela banca examinadora para obtenção do grau de Licenciado em História pela Universidade do Estado da Bahia. Conceição do Coité, (data da defesa). BANCA EXAMINADORA: _________________________________________________ Prof. Dr. Aldo José Morais Silva - UNEB (Orientador) _________________________________________________ Profª Iris. - UNEB. _________________________________________________ Prof. Carlos Almeida - UNEB. 2
  • 4. AGRADECIMENTOS Depois de uma longa caminhada, finda mais uma etapa da vida importante que não será esquecida. Trabalhar em grupo é uma tarefa árdua, mas ao mesmo tempo gratificante, pois a variedade de idéias e divergências de opiniões faz parte da construção do saber histórico e humanístico. Agradeço aqui, aos meus colegas de curso e professores pelo aprendizado e também pelo tempo que passamos juntos, desejando-lhes boa sorte em seus projetos futuros, e que com certeza, vamos nos reencontrar sempre. Para a realização do presente trabalho concorreu à singular participação do professor Aldo Moraes, que sem a sua orientação e incentivo em vários momentos do curso, o mesmo não teria sido realizado. Agradeço a minha família, por ter tido sempre paciência comigo, nos momentos que eu não pude ficar mais tempo com eles devido à produção do trabalho, em especial minha esposa Daniela, meus filhos Paulo Henrique e Daniel, abraço a todos. 3
  • 5. SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................ 07 CAPITULO I- MUDANÇAS ACELERADAS NO CONTEXTO RELIGIOSO CRISTÃO……………………………………………………………………………….. 10 CAPITULO II- CARISMÁTICOS E A IGREJA UNIVERSAL EM SANTA LUZ: APROXIMAÇÕES DISTANCIAMENTOS.................................................................... 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 34 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 37 FONTES............................................................................................................................ 39 ANEXOS……………………………………………………………………………….. 40 4
  • 6. Renovação carismática em Santa Luz- Aproximações com a Universal do Reino de Deus Resumo O propósito deste artigo é examinar de que maneira ocorre a complexa rede de influências entre a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renovação Carismática Católica no município de Santa Luz, destacando as peculiaridades existentes na localidade. Esses grupos religiosos demonstram um alto grau de similaridade em vários aspectos, como em partes de suas liturgias, formas de organização dos grupos, clara rejeição a religiões africanas e uma não leitura da Bíblia. Esses aspectos puderam ser notados decorrentes de análise de fontes primárias, que foram: entrevistas com membros do grupo Reviver em Santa Luz (representante da Renovação Carismática no município), livro de orações do grupo reviver utilizados nas reuniões, cultos da igreja Universal do Reino de Deus em Santa Luz e do grupo Reviver (visitação, observação sistemática e descrição densa), a ementa da aula inaugural da escola Paulo Apóstolo na diocese de Serrinha e módulos básicos do ministério de formação da Renovação Carismáticos Católicos destinados a formação de coordenadores dos grupos de oração. Palavras-chaves: Religião, movimento, carismático, reviver, magia. Autor: Paulo Viana Cunha Orientador: Aldo Morais 5
  • 7. Charismatic Renewal in Santa Luz- Approaches with the Universal Kingdom of God Abstract The purpose of this article is to examine in which way it takes place to complex net of influences between the Universal Church of the God's Kingdom and the Charismatic Catholic Renovation in the local authority of Holy Light, detaching in fact his peculiarities. These religious groups demonstrate a high degree of similarity in varied aspects, like in parts of his liturgies, the forms of organization of the groups, clear rejection to African religions and a not literal reading of the Bible. These aspects could be noticed resulting from analysis of primary fountains, which were: you interview in spite of Reliving members of the group in Holy Light (branch of the RCC), I release of reliving prayers of the group used in the worships, worships of the Universal church of the God's Kingdom in Holy Light and of the group To relive (visitation, systematic observation and dense description), the menu of the inaugural classroom of the school Paul Apostolic in the diocese of Serrinha and basic modules of the ministry of formation of the Charismatic Catholic Renovation destined the coordinators' formation of the groups of prayer. Keywords: Religion, movement, charismatic, revive, magic. Author: Paulo Viana Cunha Adviser: Aldo Morais 6
  • 8. INTRODUÇÃO No Brasil, os temas relacionados ao estudo das religiões foram por muito tempo de pouco interesse para os estudos científicos, ficando apenas ao interesse particular de seu campo institucional, como seminários, centros religiosos de pesquisa e principalmente entre teólogos. Contudo, o estudo da religião é extremamente importante para uma investigação científica, pois para Durkeim, se a ciência em princípio nega a religião, isso é um equivoco, pois a religião efetivamente existe, e os homens foram obrigados a formar a noção do que é religião bem antes das ciências das religiões terem podido instituir suas comparações metódicas (1989, p. 53). A religião, portanto, constitui-se num sistema de fatos e dados, uma realidade social passível de investigação científica. Com isso, esse estudo não é um trabalho teológico, trata-se de um estudo no campo da história da religião, cuja tentativa é entender o religioso numa perspectiva histórica. Assim, o estudo desenvolvido aqui tem o objetivo de demonstrar justamente a influência de uma corrente religiosa sobre a outra, da reutilização de elementos religiosos da Universal pela Renovação Carismática católica, sendo necessário salientar que essa não é uma prática nova e que não foi um processo que ocorreu de um dia para o outro. Assim, o mais importante saber o porquê dessa reutilização nesse contexto histórico, principalmente em Santa Luz. Fontes importantes foram coletadas para essa análise, como entrevista de alguns membros participantes do grupo de oração reviver, materiais de ensino para os coordenadores dos grupos, fornecido pela Diocese Paulo apóstolo, situada no município de Serrinha, livro de orações selecionadas por cura libertação e intercessão, utilizado pelos coordenadores locais. A criação do grupo de oração Reviver, em 2001, no município de Santa Luz, na Bahia, despertou a minha curiosidade, visto que possuía muitas características totalmente diferentes 7
  • 9. do tradicionalismo católico. O referido grupo estava extremamente voltado para a oração e com clara aproximação, em determinados aspectos, à Igreja Universal do Reino de Deus. O grupo de oração Reviver surgiu de um movimento de dentro da Igreja Católica, a renovação carismática católica. Esse grupo de oração é composto por pessoas leigas, que vão dos fiéis aos próprios coordenadores do grupo, que também podem ser mulheres. É um grupo que está submisso a igreja local, não tem um fundador particular e nem uma lista fixa dos membros participantes. Para existir no município, o grupo tem que respeitar principalmente dois dogmas católicos: a veneração a Virgem Maria e a obediência e submissão à Igreja. O grupo reviver de fato tem uma ação religiosa diversa do tradicionalismo católico, pois além de aderir aos dogmas católicos citados acima, possui características e práticas pentecostais, principalmente aquelas observadas na igreja Universal do Reino de Deus, que serão analisadas ao longo desse trabalho. De fato, perguntas relevantes devem ser feitas, entre as quais: Como o recebimento do espírito santo, sentimento concebido pelas igrejas ditas pentecostais, pode-se imbricar nas reuniões do grupo Reviver? Por que houve a criação de um movimento de cunho leigo no seio da igreja Católica no município? Há nessas reuniões promessas de soluções mágicas para o cotidiano das pessoas? Como entender essa conjunção de práticas religiosas para se chegar a alívios das crises do homem? Quais seriam de fato as aproximações e os distanciamentos do grupo reviver no município de Santa Luz com a Universal? Que relação há com a veneração à virgem Maria? Até aonde há uma redefinição de valores no grupo de oração reviver? Essas são perguntas centrais que tentarei elucidar com a maior clareza possível nesse trabalho. Utilizei no referido trabalho o método de observação sistemática em campo, abordando aspectos qualitativos e quantitativos dos grupos religiosos aqui tratados. O resultado conclusivo do trabalho partiu do pressuposto da análise de fontes primárias 8
  • 10. (entrevista de alguns membros participantes do grupo de oração reviver, materiais de ensino para os coordenadores dos grupos) e utilização de um referencial teórico baseado em Durkeim, Ricardo Mariano, Maria das Dores Machado Campos e Antônio Flávio Pierucci, autores que tem como especialidade o estudo de fenômenos religiosos. 9
  • 11. CAPITULO I Mudanças aceleradas no contexto religioso cristão Não há como negar hoje a grande transformação que parte do pentecostalismo passou nas últimas três décadas. De fiéis sectários e ascéticos no mundo moderno, os quais eram implacavelmente estigmatizados, alguns setores passaram a ser mais imediatistas e pragmáticos (MARIANO, 2005, p.8). A Igreja Universal do Reino de Deus, principal representante dessa nova corrente pentecostal, propôs novos ritos e crenças, relaxaram costumes e comportamentos e novas formas de relacionamento com o mundo moderno. A Universal prioriza a extrema oração1, a fim de conseguir bens materiais e exorcizar os demônios, que são representados pelas religiões africanas, apesar de assimilar elementos das próprias religiões africanas. Nessa nova corrente religiosa que a Universal do Reino de Deus está inserida, os cultos muitas vezes estão dinamizados, com bandas evangélicas de rock, funk, axé music, com coreografias utilizadas em danceterias e show profanos, o que inclui saltos do palco para os braços da platéia. Outro fator relevante é a organização empresarial, com um marketing bastante desenvolvido, visto que faz um uso proselitista da TV, que embora seja diário e limitado, é notório. A Universal é vista como o maior fenômeno religioso dos últimos vinte anos no Brasil por ser apontada como o elemento mais dinâmico dentro do contexto religioso atual, devido ao seu rápido crescimento em seu tempo de existência, ou seja, pouco mais de trinta anos (MARIANO, 2005, p. 11). A Renovação Carismática Católica também se utiliza de vários preceitos da Universal, como a oração sem praticamente nenhuma leitura da Bíblia, um ataque às religiões africanas e 1 Extrema oração é entendida aqui como uma oração militante e agressiva, com o objetivo maior de expulsar os demônios da vida dos fiéis, sendo feita várias vezes durante os cultos. 10
  • 12. ao espiritismo, profissionalização de padres cantores e uma estrutura empresarial. 2 Sobre esse aspecto, Ricardo Mariano destaca a sua atual corrida para ocupar mais espaço na TV e maximizar o uso evangelístico de sua rede radiofônica (2005, p. 14). A oração é caracterizada como sendo o momento singular e principal das reuniões dos grupos carismático (ocupando também a maior parte de cada reunião). As pessoas oram fervorosamente em busca de soluções espirituais e terrenas. Com isso essa renovação no interior da Igreja faz parte de uma disputa no mercado religioso atual, devido ao crescimento das igrejas pentecostais, que se caracterizam pela pluralidade de denominações no mundo moderno capitalista. Sobre essa questão, Ricardo Mariano afirma que: João Paulo II, quando esteve no Brasil em 1991, atento à diminuição do seu rebanho e ao crescimento dos seus concorrentes cobrou dos cerca de 300 bispos reunidos em Natal durante o Congresso Eucarístico Nacional uma ação mais eficaz contra a ignorância religiosa e a carência de doutrina que deixa o povo vulnerável à sedução das seitas (MARIANO, 2005, p. 13). De fato, do ponto de vista cultural, o Brasil é caracterizado como sendo extremamente complexo e pluralista, devido à própria miscigenação da sociedade e à troca cultural que existiu entre branco, negro e índio o que vai de fato influenciar em aspectos religiosos. Essa troca cultural aconteceu em diversos contextos históricos no que diz respeito à formação da nação brasileira. Em comentário a essa questão, Charles R. Box aponta que: As procissões religiosas que tinham lugar em muitos dias santificados da igreja eram realmente, uma feição da vida na Bahia, mesclando o sagrado e o profano de forma a causar perplexidade. O catolicismo português sempre mostrou tendência para se concentrar nas manifestações externas do culto cristão, e o grande elemento africano na Bahia reforçou indubitavelmente essa tendência (BOX, 2000, p. 159). 2 A rede de televisão Vida, de propriedade da Igreja Católica, reflete o novo posicionamento da Igreja com relação aos meios de comunicação, inclusive o televisivo, dando grande relevância ao setor midiático. Padre Eduardo ao lado de Jonas Abib, liderança da comunidade carismática canção nova, imprimiram um caráter empresarial e tecnológico, trilhando caminhos não esboçados no início do movimento. Percebe-se um sistema de propaganda montada em megaeventos, ao estilo das igrejas eletrônicas, nos shows de bandas carismáticas. Padre Marcelo Rossi é o maior exemplo disso. 11
  • 13. Durkheim a respeito dessa mistura entre o sagrado e o profano, entre a influência que determinados aspectos religiosos tem sobre outros, assinala que: Em geral são restos de religiões desaparecidas, sobrevivências não organizadas... nos nossos países europeus o cristianismo reforçou-se por absorvê-los e assimilá- los; imprimiu-lhe cor cristã (DURKEIM, 1989, p. 67) Como se pode notar, apesar de manter-se o distanciamento entre sagrado e profano até certo grau, onde cumpre verificar os esclarecimentos do próprio Durkheim que “a coisa sagrada é, por excelência, aquilo que o profano não deve, não pode impunemente tocar” (1989, p. 72), no Brasil desenvolveu-se uma adaptação das crenças nas religiões africanas com os rituais da fé católica, comumente chamado de sincretismo religioso. Só que no mundo atual, a Universal reutiliza alguns elementos africanos como rosas do descarrego em seus cultos, que são melhores assimilados pelas populações de baixa renda, já que muitos desses provêm também dos espaços do candomblé e da Umbanda. Historicamente o catolicismo foi implantado no Brasil com o argumento de que era preciso expandir a fé cristã. Essa evangelização foi realizada por etapas e empreendida inicialmente por quatro ordens: jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditos, sendo que as práticas religiosas estavam intricadamente ligadas à estrutura patriarcal da família nas grandes plantações de cana-de-açúcar e centravam-se na capela, no oratório privado e na devoção aos santos. No Brasil a igreja Católica foi dependente do Estado, pelo menos até o advento da República. Durante o período colonial, a Igreja Católica encontrava-se sob a tutela do Estado português, que lhe conferia benefícios e privilégios. No Império, a Igreja Católica ainda gozava de amplos poderes, representando e legitimando os poderes das classes dominantes (HOLANDA, 2006, p. 348). 12
  • 14. Com as transformações do século XIX na Europa, e principalmente com relação a liberdade religiosa, a Igreja católica no Brasil temendo perder sua hegemonia na sociedade, utiliza várias estratégias para manter-se viva, entre elas, a revitalização de antigas ordens religiosas e a fundação de outras, criticando o liberalismo, o comunismo, o racionalismo e o próprio progresso (MICELLI, 1988, p.13). Os leigos vão ter oportunidade de atuar na Igreja Católica do Brasil através das irmandades, das confrarias e das ordens terceiras, organismos que o Brasil herdou de Portugal e que florescia em Minas Gerais. O catolicismo era a única religião oficial do Brasil, e a devoção virtualmente obrigatória. A Igreja tinha o papel de educadora, que foi desenvolvido através das escolas Jesuítas (HOLANDA, 2006, p. 351). A situação da Igreja católica vai mudar mais visivelmente em 17 de Janeiro de 1890, com o decreto nº 119-A, do governo provisório republicano, que estabelecia um regime de separação entre Estado e Igreja, dando lugar a um Estado não-confessional, sendo assim o catolicismo foi nivelado por lei às seitas protestantes, e o Estado tornou-se Laico (HOLANDA, 2006, p. 351). No período da República Velha do Brasil, com a variedade de religiões existentes, a Igreja católica tem seu poder político reduzido pela separação da mesma com o Estado. Mas o poder político vai ver na Igreja um poderoso instrumento para manter a ordem pública conturbada pelos movimentos revolucionários da época. Com isso, o decreto proclamado pelo poder público sinalizando a necessidade de colaboração política entre a Igreja e o Estado colocava a Igreja novamente em uma situação privilegiada (HOLANDA, 2006, p. 350). Após a “revolução” de 1930, com a criação de um Estado com feições fascistas e nacionalistas, a figura do chefe de Estado passa a ser valorizada em detrimento de qualquer 13
  • 15. outro elemento, mas sem entrar em atritos com a Igreja, promove-se o cristianismo por meio do ensino religioso e há uma supressão dos partidos políticos (SKIDMORE, 2007, p.50). No período referente à ditadura militar no Brasil, a Igreja Católica ainda gozava de privilégios, como o ensino religioso nas escolas públicas, conseqüentemente o catolicismo. Após a ditadura militar, com a promulgação da constituição de 1988, a liberdade religiosa é novamente enfatizada como sendo um aspecto obrigatório de um Estado democrático, e torna facultativo o ensino religioso nas escolas brasileiras. O começo efetivo do protestantismo no Brasil vai ocorrer no século XIX. Com a vinda da família real em 1808, os ingleses conseguem autorização para realizar seus cultos nos navios ancorados nos portos brasileiros. Mas o pentecostalismo vai ser inserido no Brasil no século XX com a Assembléia de Deus em 1910 e a Congregação Cristã do Brasil em 1911, ambas sectárias e ascéticas. Na década de 1950 e 1960 é fundada a igreja Quadrangular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é amor (1961). Na década de 1970 e 1980 surgem a Universal do reino de Deus e a Igreja Internacional da graça de Deus, no Rio de Janeiro. Todas essas igrejas, contudo são bastante heterogêneas, tanto em suas liturgias quanto em suas formas de organização (MARIANO, 2005, p. 23). O pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo e contém claras diferenças internas. A classificação que usarei nesse trabalho (seguida também pela maioria dos estudiosos do tema) para identificar as tipologias do pentecostalismo brasileiro leva em conta três vertentes: pentecostalismo clássico, deuropentecostalismo e neopentecostalismo. Essa classificação foi proposta por Freston, analisando aspectos doutrinários e o espaço de tempo em que cada uma foi criada, sendo que o termo clássico teria como idéia o pioneirismo, 14
  • 16. enquanto o termo deuropentecostalismo3 significaria o surgimento do segundo grupo pentecostal, e o termo neopentecostal indicaria o terceiro e novo grupo pentecostal (FRESTON, 1981, p.81). O pentecostalismo clássico vai abranger as duas primeiras igrejas pentecostais fundadas no Brasil: a Congregação Cristã em 1910 e a Assembléia de Deus e 1911. Essas igrejas são comumente denominadas clássicas reproduzindo a tipologia norte-americana, ou seja, como uma idéia de pioneirismo histórico e antiguidade. Essas igrejas sempre tiveram como idéias religiosas o abandono ao mundo material e rejeição ao exterior, distanciando o púlpito dos leigos, dificultando a ascensão à hierarquia eclesiástica e criando um corpo burocrático para preservá-la para além da vida de seus fundadores. No início, essas igrejas eram compostas majoritariamente por pessoas com pouca escolaridade, caracterizavam-se por um anticatolicismo ferrenho, enfatizavam o dom de línguas, a crença na volta eminente de Cristo e eram extremamente sectárias e ascéticas. Passadas nove décadas, ambas ainda continuam com a postura sectária e o ideário ascético. O deuropentecostalismo mantém um núcleo teológico clássico e teve inicio a partir da década de 1950 com Harold Williams e Raymond Boatrigth. À frente da Cruzada nacional de Evangelização, tendo como ponto forte a igreja pentecostal Evangelho Quadrangular, eles trouxeram para o Brasil o evangelismo de massa centrado na mensagem da cura divina. Com mensagens sedutoras e métodos inovadores e eficientes, foram capazes de atrair inúmeros fiéis e pastores de outras congregações, especialmente pessoas de estratos mais pobres, a maioria nordestinos. O tema central da mensagem era sempre a cura divina. Enquanto o 3 O termo deuropentecostalismo é utilizado por Freston em virtude do radical deutero (presente no titulo do quinto livro do pentateuco) significar segundo ou segunda vez. 15
  • 17. pentecostalismo clássico enfatiza o dom de línguas, o deuropentecostalismo enfatiza o dom da cura, sendo assim diferentes as ênfases em que cada qual concede ao Espírito Santo. O neopentecostalismo abrange as igrejas que pregam um modo de vida menos ascético na terra, utilizam muito os meios de comunicação de massa, enfatizam rituais de cura e exorcismo, estruturam-se empresarialmente, são agressivas em sua militância e crenças, e acreditam que a palavra humana, associada à fé, fazem acontecer coisas neste mundo. Nessas igrejas há uma exacerbação da guerra espiritual contra o diabo e seus séquitos de anjos decaídos. Pregam a teologia da prosperidade (o indivíduo abençoado por Deus deve ser próspero materialmente na terra), e há uma liberdade na maneira de vestir-se ou ligações com o mundo exterior. As Igrejas mais importantes dessa vertente são a Universal do Reino de Deus e a Igreja da Graça de Deus. A Igreja Universal do Reino de Deus inspirou-se na igreja Nova Vida fundada em 1960 no Rio de Janeiro, pelas mãos de Robert Mclister, que pregava o prazer como finalidade da vida. A Universal adotou a evangelização eletrônica como carro-chefe de sua estratégia proselitista (preferência ao rádio). A maioria de seus fiéis provém da camada baixa da população, sendo atraídos principalmente por promessas de uma vida melhor financeiramente, curas físicas e espirituais. Em comentário a essa questão o autor Ricardo Mariano aponta que: Com o propósito de superar precárias condições de existência, organizar a vida encontrar sentido, alento e esperança diante de uma situação tão desesperadora, os estratos mais pobres, mais sofridos, mais escuros e menos escolarizados da população têm optado preferencialmente pelas igrejas neopentecostais (MARIANO, 2005, p 12) Sendo assim, o crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil e principalmente na Bahia é muito grande. Segundo dados do IBGE, de 1991 a 2000, no estado da Bahia houve um crescimento dos evangélicos de quase 100%, passando de pouco mais de 5% para pouco mais de 11% da população. Esse fato está ligado ao grande dinamismo que a 16
  • 18. própria Igreja Universal se encontra no momento, já que a sua principal finalidade é resolver os problemas habituais dos fiéis. A Renovação Carismática Católica é um movimento leigo de linha pentecostal oriundo dos Estados Unidos que se instalou no catolicismo brasileiro no começo de 1970, justamente com o objetivo de combater os pentecostais protestantes. Esse combate ocorre para neutralizar o crescimento dos protestantes utilizando elementos litúrgicos dos próprios pentecostais para absorver um maior número de fiéis. Assim, a Renovação Carismática Católica se constitui como uma das várias respostas que estão sendo postas em prática pela igreja Católica para tentar barrar o avanço dos seus adversários religiosos. A igreja Católica percebeu que dentro de uma sociedade mais secularizada e cada vez mais pluralista em termos religiosos, era necessário redefinir seu papel em alguns aspectos, dentre eles a liturgia. Segundo Antônio Flávio Pierucci, o catolicismo diminuiu nos últimos trinta anos, passando de 91% da população brasileira a 73% (PIERUCCI, 2004, p. 4). Com isso, a Renovação Carismática Católica surge, com o objetivo de renovar determinados aspectos litúrgicos a fim de barrar o avanço do pentecostalismo evangélico, e afirmar elementos da tradição da Igreja Católica, principalmente no interior do nordeste, onde a Igreja católica sempre teve a maioria absoluta dos fiéis. A ação religiosa provoca no território brasileiro mudanças sociais, culturais e devocionais, principalmente no espaço religioso católico devido às novas expressões que a Renovação Carismática propicia no interior da igreja. É dentro desse contexto pós-moderno que vai se desenvolver o grupo Reviver em Santa Luz, mostrando-se claramente como um grupo de resistência à ascensão das igrejas pentecostais evangélicas, particularmente a Universal, por ser a igreja mais próxima fisicamente, o que por si só já a torna uma concorrente em potencial. 17
  • 19. CAPITULO II Carismáticos e a Igreja Universal em Santa Luz: Aproximações e distanciamentos A Igreja Universal do Reino de Deus foi inserida no município de Santa Luz no final de década de 1980, passando por dois locais alugados até chegar aonde se encontra no momento, próxima a linha férrea no município, no centro da cidade. A igreja tanto em seu exterior quanto em seu interior é rústica, sendo, porém espaçosa, com cerca de trinta metros de comprimento e dezoito metros de largura. São realizados cinco cultos por dia, sendo que em cada dia é realizado um culto diferente, com soluções mágicas e milagrosas dos problemas cotidianos. É celebrado o culto do descarrego, bem conhecido em todo o Brasil por sua perseguição implacável as religiões africanas, onde o pastor em uma das minhas observações clamava: Meu Deus arranca esse demônio diante de ti, esse espírito que tá alojado lá na casa dela, esse encosto que ta alojada lá na casa dela, que tá alojado no marido, colocando amante, colocando vício, vicio da cachaça, vicio da bebida, vício... Essa pessoa não tem paz, ela não tem paz, não consegue dormir direito é você tranca-rua, tranca-rua, sai daqui, sai daí, em nome de Jesus, você que ta colocando essa dor no corpo, na coluna, sai daqui em nome do senhor Jesus.4 Combatidos nos cultos, os demônios são devidamente identificados, por seus nomes e qualidades, tal como se denominam pais e mães-de-santo. Quando um possesso é levado ao púlpito, já com o demônio submetido e amarrado para que não se machuque e nem prejudique mais seu “cavalo”5, a estrutura do ritual geralmente apresenta enredo fixo, com o pastor perguntando seu nome, humilhando-o, como pedir imitações para que fiquem de joelhos para serem exorcizados. As amarrações da Universal são morfologicamente similares a manifestação de exus nas tendas de umbanda, quando os possessos ficam em transe, com o 4 Oração do pastor Heleno da Universal do Reino de Deus no município de Santa Luz dia 23/12/2008. 5 Cavalo é um termo usado no meio pentecostal para indicar que determinada pessoa possessa está subjugada por algum demônio. 18
  • 20. corpo retorcido e com as mãos voltadas para trás do corpo em forma de garra (MARIANO, 2005, p.131). O ritual de libertação de possessos ocorre em quase todos os cultos da Universal. A libertação se dá durante a oração, para que os fiéis recebam graças e libertem-se de todos os males. Com isso, os diferentes sofrimentos e infortúnios também são atribuídos a determinados demônios. No entanto, é preciso ressaltar que transformar os deuses de outras religiões em demônios é uma prática antiga do cristianismo. Como exemplo pode-se citar a demonização dos deuses de Grécia e Roma. Giovanni Filoramo coloca que: Entre os séculos VIII e IX, surgiu, e se consolidou na Igreja e na sociedade bizantina um movimento contrário ao culto de imagens, chamado iconoclasta, do grego eikonoklátes, “destruidores de imagens”. As raízes religiosas da iconoclastia se baseiam no cristianismo primitivo e em seu aniconismo (ausência de imagens), conseqüência tanto da proibição bíblica das imagens (Exôdo20, 4), como da luta antiidolátrica contra o culto pagão de imagens (FILORAMO, 2005. P.80). Assim, o conflito entre o bem e o mal sempre foi o centro do cristianismo. Com relação a isso, o próprio Edir Macedo, líder da Igreja Universal, diz que: Omolu, por exemplo, que se intitula rei da calunga do cemitério, é um dos grandes responsáveis por esse tipo de enfermidade (ataques epilépticos). Todas as pessoas que tiveram nossa ajuda em oração com autoridade do nome de Jesus manifestaram espíritos que tinham seus nomes ligados aquele mal... já oramos várias vezes por pessoas viciadas em tóxicos, bebidas alcoólicas, cigarro ou jogo, e na maioria dos casos, o responsável por tudo é o exu chamada “Zé pelintra” ou “malandrinho” (MACEDO, 2000, p. 47). Como se pode perceber há um claro ataque as religiões africanas, uma tentativa óbvia de demonização das religiões negras no Brasil. A demonização de religiões africanas pelo cristianismo não é algo novo. Essa perseguição decorria no Brasil da existência, nos séculos passados e no início do século XX de extensas séries de práticas, saberes, e discursos elitistas fundamentados no racismo, no etnocentrismo, no evolucionismo e em preceitos culturais variados que pressupunham a inferioridade racial e intelectual do negro, e, por conseguinte, 19
  • 21. de sua cultura religiosa. O mesmo se pode dizer dos indígenas, que desde o início da colonização do Brasil, tiveram igualmente sua cultura negada pela Igreja Católica. Como aponta Berta Gleizer Ribeiro: O privilégio legal que tinha os jesuítas de subjugar o índio para comunicar-lhe a doutrina cristã, era uma maneira sutil de escravizá-lo, tolhendo sua liberdade e impondo-lhe uma religião e um modo de vida que não estava apto a receber... O que resultou da pregação jesuítica não foi, porém, um índio convertido, mas um índio subjugado, domesticado, que vendo desmoralizados os costumes a que estava arraigado, sem ter assimilado a fé que lhe quiseram impor, não encontrava nem motivo nem força para viver (RIBEIRO, 1983, p.43). A oração contínua também faz parte do cotidiano da Universal em Santa Luz, onde não é dada praticamente importância nenhuma à leitura da Bíblia, e os fiéis cantam e dançam incessantemente sem nenhum pudor para louvar a Deus. Não existe nenhuma indicação de como os fiéis devem se vestir para participar dos cultos, sendo muitos vistos de bermuda e camiseta, e as mulheres usam batons e acessórios de beleza que igrejas pentecostais mais tradicionalistas não permitem. A Universal do Reino de Deus é permissiva com relação às coisas do mundo, e, além disso, funciona de maneira empresarial, age como uma agência de cura divina. Sobre isso Ricardo Mariano coloca que: Baseia-se em promessas e rituais para a cura física e emocional, prosperidade material, libertação de demônios, resolução de problemas afetivos, familiares de crise individual e de relacionamento interpessoal (MARIANO, 20005, p. 09). A afirmação de Max Weber de que o dispêndio de riqueza para fins de consumo próprio era muito facilmente associado à submissão idolatra do mundo (2009, p. 124) não pode ser aplicada a Universal. Há uma pregação de que o prazer no mundo é um direito do cristão abençoado, e para isso utiliza-se de elementos dotados de poderes mágicos para alcançar a benção de Deus. A afirmação de Durkheim de que a religião, por sua vez, embora não tenha condenado e proibido sempre os ritos mágicos, olha-os em geral de modo desfavorável (1989, p.75) também não deve ser aplicada à Universal do Reino de Deus, já que 20
  • 22. a mesma reutiliza a magia divina como elemento indissociável da graça de Deus, como os elementos benzidos e abençoados pelos pastores em geral. Nesse sentido, afirma Ricardo Mariano, “a Universal institucionalizou denominacionalmente práticas e crenças mágico- religiosas de inspiração cristã” (2005, p.57). O grupo de oração Reviver em Santa Luz foi criado em 2001, segundo membros do próprio grupo, um ano após a mudança da Igreja Universal do Reino de Deus para o prédio onde se encontra atualmente, próximo à linha férrea e a cerca de cinqüenta metros da Igreja Católica do município. O grupo de oração reviver funciona em uma das salas da parte superior da igreja católica, e inegavelmente tem feições pentecostais, pois sua ênfase está na pura oração e louvor a Deus. O interessante é a relativa proximidade que a mesma está apresentando em alguns aspectos importantes com a Igreja Universal do Reino de Deus no município. Comparo o grupo de oração Reviver aqui com a Universal do Reino de Deus por dois motivos: em primeiro lugar a Universal é a única igreja neopentecostal existente no município e, em segundo, por sua relativa proximidade física com a mesma. O local onde são realizadas as reuniões do grupo de oração Reviver, não possui nenhuma imagem referente a santos ou ao próprio Cristo, sendo um local rústico e amplo. Isso vai totalmente de encontro à tradição católica que sempre manteve em seus ambientes imagens de santos católicos e de Jesus Cristo. Bem, a mudança da Universal do Reino de Deus para um local próximo a Igreja Católica não foi naturalmente aceita pela comunidade católica. Quando perguntada sobre o porquê da criação do grupo de oração Reviver no município de Santa Luz, a coordenadora do 21
  • 23. grupo de oração R. M. S. (professora, solteira) integrante do grupo de oração Reviver desde 2001 afirmou a ligação do grupo Reviver com o Renascer6 e disse em entrevista que: O grupo nasceu da necessidade da oração e da busca constante pela intimidade com Deus. Diante disso surgiu o convite o para o grupo de jovens da Matriz participar de um evento em Salvador, o chamado Renascer.7 A resposta dada pela coordenadora do grupo foi um pouco genérica sobre o porquê da criação do grupo no município, mas outros participantes do grupo de oração deram respostas bem contundentes com relação à mudança da Universal para próximo a Igreja Católica. M.S.S. (funcionária pública, casada) integrante do grupo desde 2007 e católica a mais de dez anos, quando perguntada sobre a reação dos católicos sobre a proximidade das igrejas disse: Muitos ficaram indignados. Não aceitavam essa falta de respeito. Criou-se aqui um espírito de revanche entre essas igrejas devido a essa mudança absurda aqui pra perto da gente. Na época, lembro que muitos foram atrás da prefeitura pra não liberar o alvará de funcionamento pra essa igreja. 8 Sobre esse fato, segundo informações colhidas com integrantes do grupo Reviver, houve uma procura de alguns fies católicos à prefeitura, mas não chegaram a formalizar um pedido. A alegação dos católicos era o extremo barulho que a Igreja Universal provocava durante os seus cultos. Pessoas ligadas a Igreja Universal comentaram que a Igreja nunca teve problemas de convívio social naquela localidade, citando alguns problemas com vizinhos em outras ruas, o que resultou até em pichações da Igreja em anos anteriores. Com relação a reação dos integrantes da Igreja Universal a essa ação dos católicos, eles qualificam como meramente ações diabólicas para atrapalhar a verdadeira obra de Deus. A. S. L (24 anos, dona de casa), há três anos freqüentando o grupo Reviver no município disse: 6 Renascer é um encontro anual realizado em Salvador pela Igreja Católica a fim de debater problemas e soluções das Igrejas Católicas nos municípios do interior da Bahia. Esse encontro acontece no período do carnaval, e é também uma espécie de retiro espiritual durante essa época do ano. 7 Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009. 8 Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009. 22
  • 24. Eu acho que todo mundo tem direito de ter sua religião, mas eu não acho certo uma igreja vim ficar tão perto aqui da nossa. É uma falta de respeito, pois muitas vezes quando a gente ta fazendo nossa reunião, e quando pensa que não, a gente tem que parar por que eles ficam cantando lá e atrapalha nossa oração. Por isso eu não acho certo. 9 Percebe-se assim, que a mudança da Igreja Universal para as proximidades da Igreja Católica causou reações negativas nos fiéis católicos, que continua sendo elemento de disputa e discórdia entre os grupos. Com isso, o grupo de oração Reviver não deve fugir à regra sobre sua criação, pois como é um movimento oriundo da Renovação Carismática Católica, é um elemento que funciona para barrar o crescimento protestante pentecostal, pois a hierarquia católica, temerosa de perder sua secular hegemonia na América Latina, chegou à conclusão de que é preciso agir e com urgência, antes que seja tarde demais, nem que seja copiando as estratégias da concorrência (MARIANO, 2005, p.14). Essa aproximação entre as formas de atuação das igrejas pode ser constatada em diferentes esferas. Começarei fazendo uma pequena análise sobre a preparação dada aos coordenadores dos grupos de oração local. Essa preparação acontece duas vezes por semana na Diocese Paulo Apóstolo, órgão ligado diretamente à Igreja Católica, no município de Serrinha. Foram distribuídos para os coordenadores cinco módulos doutrinários que contém explicações de como o coordenador(a) deve agir para a formação de um grupo de oração e como mantê-lo e dirigi-lo depois de formado. Nisso incluem: organização dos ministérios no interior do grupo (libertação e cura, intercessão, e oração) divisão de funções no grupo, formas litúrgicas e as finalidades do grupo. No 1º capitulo do 3º módulo, há um conceito do grupo de oração como própria para a libertação de drogas ou de bebidas dos mais necessitados, cura física e a conversão de algum parente ou amigo. A reunião deve ser espontânea e expressiva, onde manifestações como 9 Entrevista com A.L.S, integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009. 23
  • 25. levantar as mãos, aplaudir, mover-se e até dançar são consideradas dignas de oração do homem. Estudo bíblico não é recomendado, pois o grupo deve ater-se à prática da oração contínua e de louvores a Deus em suas mais variadas formas. O coordenador(a) não deve resistir a mudanças e a utilização da música é louvável para o senhor nas reuniões (MARIOTTI, 2008, p. 09-31). Dentro desse aspecto, ressaltando que é um módulo de ensino doutrinário que está direcionado para todos os membros dirigentes dos grupos de oração, percebe-se de fato como deve funcionar um grupo de oração da renovação carismática, e que este já se aproxima claramente das práticas da Universal, não se comportando de maneira tradicional, permitindo que seus fiéis fiquem mais a vontade durante os cultos. E esse fato se repete em Santa Luz no grupo de oração Reviver. Em entrevista R. M. S, quando perguntada se existia alguma restrição ou instrução para o momento de oração, respondeu que: O momento de oração pode ser de joelhos, sim quando está se adorando ao nosso Deus, mas também pode ser livremente, pode ser em pé, às vezes as pessoas preferem ficar de pé, não tem nenhuma restrição não, às vezes a gente vai colocando e quem estiver disposto a realizar de acordo com o que a gente vai indicando, pode ficar a vontade.10 Referente à mesma situação colocada acima, A. S. L (24 anos, dona de casa), disse: Agora depois que eu comecei a participar do grupo de oração, tenho uma visão melhor da igreja. Por que no grupo de oração você pode pular, dançar, cantar, tudo para a glória de Deus. Essas coisas eu achava que a igreja não deixava a gente fazer.11 M.S.S, quando perguntada sobre por que não participou desde o início do grupo de oração reviver, respondeu: Eu não gostava. Na minha visão, oração e cantos não aproximavam a gente de Deus assim, do jeito que eles diziam. Não faziam um estudo da Bíblia, nem nada. Eu sempre gostei de ver o padre citar versículos da Bíblia, e eu estudava também, coisa que lá nunca vi acontecer. 12 10 Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009. 11 . Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009. 12 Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009. 24
  • 26. Sobre esse aspecto Carlos Rodrigues Brandão coloca que No interior de um espaço de experiências, de trocas e de significados, muito motivados, ocorrem a todo o momento quebras de unidades confessionais; fundem-se e multiplicam-se tipos de agência divina, de cultos e de crenças, igrejas, seitas, surtos e consultórios (BRANDÃO, 1986, p. 87). Com base no ensinamento dos módulos preparatórios para coordenadores de grupos de oração da Renovação Carismática Católica e nos depoimentos de participantes do grupo Reviver, percebe-se que, nesse aspecto, há uma semelhança dentro do grupo Reviver com a Universal do Reino de Deus, no que se refere a uma clara e real preocupação em não manter algum tipo de ensinamento metodológico sobre orações, favorecendo assim uma maior entrada de membros com pouca instrução formal, o que se caracteriza como uma prática pentecostal no interior católico. Há também uma clara perseguição a membros das religiões africanas por parte do grupo Reviver no município de Santa Luz. No livro sobre orações selecionadas que membros do grupo Reviver possuem, existem passagens claras sobre ataques a religiões africanas. Na oração para libertação de todos os males, diz: Eu renuncio a toda a invocação do espírito de exu e ogum; de Oxossi e de Iemanjá; do espírito do caboclo e do preto velho; do espírito de índio, sete flechas, pomba- gira; do espírito do tranca-rua, de São Jorge; do espírito de São Cosme e São Damião. Do espírito de São Cipriano, passes espíritas e centros de macumba, a todos os trabalhos e despachos(Orações selecionadas, 1999, p. 92). No município de Santa luz, um membro do grupo de oração Reviver prosseguiu orando: Senhor Jesus, eu rogo aqui em teu nome por essas pessoas, peço que cure todo o coração ferido e atribulado aqui nessa sala, para que o senhor liberte todos dos espíritos guias, do espírito de Exum e Ogum, do tranca-rua, da pomba-gira, do mau olhado e de toda a macumba senhor.13 13 Culto do grupo de oração Reviver dia 17/02/2009. 25
  • 27. Quando os primeiros escravos foram deportados para o Brasil Colônia, trouxeram sua bagagem cultural, inclusive religiosa. Como foram trazidos na condição de escravos, tiveram que adequar-se a religião dominante, o catolicismo, para assim, evitar atritos. Com isso, os escravos praticavam suas formas religiosas relacionando o nome de seus deuses com o nome dos santos católicos. Assim, na umbanda, por exemplo, São Jorge representa Ogum, a virgem Maria representa Iemanjá, Omolu representa a São Lázaro e a Santíssima trindade representa a Oxalá. M.S.S., quando perguntada o porquê dessa associação do nome de santos a deuses de religiões africanas respondeu: Bem, a gente sabe que muitas pessoas que fazem trabalhos e despachos em casas de macumbas, utilizam o nome de santos em lugar do nome de seus demônios para enganar pessoas de bem e fazer acreditar que ali é um santo. Por isso, quando a gente fala em oração a esses espíritos malignos, não estamos falando de santos e sim de demônios disfarçados de santos. 14 Pode-se perceber que os integrantes do grupo de oração Reviver, além de reafirmar sua identidade católica em não negar o culto aos santos, diferenciam pela maneira de orar quando falam de um santo católico e de um deus da religião africana. Com relação a um deus Orixá, a oração feita por fiéis católicos repreende o mal e é agressiva, diferente da oração direcionada a um santo católico, que é uma oração de veneração. Ainda com relação a essa demonização, a Igreja Católica, desde o início da colonização no Brasil, assumiu essa postura frente a outras formas de religiosidade, como Rubim Santos afirma: Na América espanhola, enquanto prática de combate ao demônio, os religiosos repudiavam com mais ênfases as idolatrias e os sacrifícios. No Brasil, deram-se muita atenção ás guerras indígenas, porém, consideradas, mais seriamente como práticas bestiais, o incesto, e o canibalismo. Durante o processo de catequese, os jesuítas „trataram de convencer‟ os indígenas de que qualquer ritual que invocasse os mortos poderia trazer as forças malignas (AQUINO, 2000, p. 248). Percebe-se assim, que semelhante a Universal do Reino de Deus em Santa Luz, ao demonizar as religiões africanas no município, o grupo de oração Reviver também faz isso 14 Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009. 26
  • 28. identificando os demônios por seus nomes e qualidades, relacionando as doenças causadas por esses demônios com seus nomes. Quando perguntada o porquê de sua participação do grupo reviver de oração, A. S. L, disse: Eu antes me sentia sozinha, queria achar um lugar onde eu me sentisse bem com Deus, mas nunca quis ser crente não. Aí foi quando me falaram sobre o reviver e eu vim participar. Tinha também a questão de meu pai beber muito, aí eu vim para a igreja libertar ele. 15 A palavra libertação é muito comum no meio pentecostal. Geralmente significa livrar- se de algum mal espiritual, que prejudica as pessoas e interfere de modo negativo nas suas relações sociais. Então, sempre quando alguém do meio pentecostal usar o termo “libertar”, infere a libertação de um mal superior, no caso demônios representados por orixás africanos. M.S.S., quando perguntada sobre os motivos que levaram a mesma a participar do grupo de oração reviver, respondeu que: Primeiramente, eu estava muito fria na igreja. Não sentia a presença de Deus na minha vida. Os problemas familiares que eu estava passando por causa dos despachos e trabalhos que faziam para mim e para minha família me fizeram participar e procurar Deus no grupo de oração. Tinha que livrar minha família da pomba-gira e do espírito diabólico de Exum. Queria me libertar. 16 Com referência a essa situação de demonização no âmbito doméstico, isso é uma característica pentecostal, inclusive muito pregada pela Igreja Universal do Reino de Deus no município. Sobre isso, Maria das dores Campos Machado sustenta: Identifiquei maior tendência a demonização dos conflitos domésticos nos grupos pentecostais populares, em que o nível de instrução é baixo em ambos os sexos, e a passagem pelas religiões afro-brasileiras se mostraram mais freqüente (MACHADO, 1996, p.109). Outra situação interessante no grupo reviver é sua aproximação a uma agência de cura divina, em que a maior parte dos fiéis não é fixa. Na verdade, muitos vão ao grupo com o 15 Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009. 16 Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009. 27
  • 29. intuito de procurar ajuda com relação a problemas habituais e cotidianos, mostrando-se assim que possui claras feições neopentecostais. R. M. S, com relação os problemas citados pelas pessoas que procuram o reviver explica que: Muitas vezes são problemas relacionados com os vícios, ao álcool, violência em casa, questões de saúde, e buscam no grupo de oração esse auxílio através da oração e cura. Então eles vem muito no grupo de oração buscar essa força, essa proteção, esse auxílio.17 Com relação à pergunta de quantas pessoas em média freqüentam o grupo de oração reviver, R. M. S. respondeu que: Tem um grupo que sempre participa freqüentemente que são os fiéis, que conduz o encontro, mas tem o grupo maior de pessoas que vem sempre que precisa de oração.18 Diante desse quadro, percebe-se então com maior clareza que há sim uma grande absorção de elementos e da forma de organização da Universal do Reino de Deus por parte do grupo de oração Reviver, pois funciona como agência de cura divina, expulsando os demônios e não tendo um grande grupo de fiéis fixos. Entende-se aqui por fiéis fixos um número relativo de pessoas que freqüentam regularmente em um grupo religioso, ou seja, sempre as mesmas pessoas (ou a maioria) comparecendo as reuniões por vários motivos, e não havendo um rodízio significativo de fiéis nesse grupo religioso. Assim, a idéia de fixo exposta aqui não significa imutável ou permanente, mas apenas com baixa rotatividade de pessoal. No caso do ingresso de uma pessoa no grupo de oração Reviver resulta de crises do cotidiano do indivíduo, como: desorientação psicológica, problemas conjugais e familiares, doenças, alcoolismo ou vícios em drogas e dificuldades financeiras. Para Carranza, nesses casos “sob a ação do Espírito Santo, recria-se a referência mítica e miraculosa como recurso 17 Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009. 18 Idem. 28
  • 30. para a solução de problemas e aflições do fies. Prega-se uma nova mensagem religiosa e sugere-se o conforto espiritual para atrair fiéis” (1998, p. 39). Conforme dispõe Ricardo Mariano, a igreja Universal funciona como um verdadeiro “pronto-socorro espiritual”, com o famoso lema “Pare de sofrer”. Assim, as pessoas atualmente expostas aos meios de comunicação de massas e bombardeadas constantemente pelos valores da sociedade secularizada, se transformam em indivíduos insatisfeitos e angustiados que busca no emocionalismo e no misticismo uma saída para seus problemas habituais e conflitos pessoais. Dentro dessa perspectiva, as religiões como o catolicismo tendem a perder seus adeptos para as formas de religiosidade em que a crença e o ritual místico favorecem ao acesso mais fácil ao sagrado como forma de êxtase emocional e mística. E isso se reflete no município de Santa Luz. De fato, a clara pentecostalização de segmentos do catolicismo como o grupo Reviver no município de Santa Luz demonstra que a hegemonia católica está ameaçada concomitantemente com a ampliação e difusão de outras religiões de matriz cristã, sendo essa pentecostalização um instrumento usado como forma da reação para a disputa pelo mercado religioso no município. Desta forma o movimento dos carismáticos emerge como parte de uma Igreja Católica que esta em plena reestruturação buscando conquistar os novos fiéis e resgatar os antigos. Sobre isso, Prandi atesta que: A Renovação Carismática Católica passou a ser vista como um braço muito operante, a arma procurada para defender e reconquistar os territórios perdidos para pentecostais, afro-brasileiros, religiões orientais e outras ameaças menores. Apesar das inovações que poderiam até desfigurar o velho catolicismo, a RCC mostrou que poderia trazer de volta uma população de católicos que passeavam entre as várias opções do mercado religioso. Mostrou que poderia de novo encher as igrejas, e encher as igrejas com muito fervor e devoção (PRANDI, 1997, p. 53). Mas apesar de absorver elementos importantes da Universal do reino de Deus, o grupo Reviver também reafirma dogmas católicos. A hierarquização da instituição tenta neutralizar 29
  • 31. a influências de crenças e práticas pentecostais, e se percebe isso no grupo Reviver com a ampla devoção a Maria e também a obediência ao padre local. Esse reconhecimento de Maria como sendo a virgem imaculada e mãe de Deus (dogma católico), serve de referência de identidade própria para que fique clara a diferenciação dos carismáticos com outros grupos religiosos pentecostais, no que concerne aos dogmas. Sobre isso, Prandi atesta que “na luta pela distinção e superação dos pentecostais, o apelo à devoção a Maria tem peso nos discursos dos lideres da RCC... Sabendo reconhecer o valor que a mãe de Jesus tem para sua identidade” (1997, p. 156). Dentro desse aspecto, Maria das Dores Campos Machado aponta que a devoção a virgem Maria foi estimulada para demarcar as fronteiras entre o catolicismo e o pentecostalismo, sendo que em certa medida reforçar a identidade católica dos carismáticos. A autora coloca que: Mas naquele estudo, concluímos que a classe de origem dessas mulheres e a força de alguns elementos católicos, particularmente o marianismo, influenciavam muito neste movimento (a RCC), levando a um retorno ao universo católico através da Renovação Carismática Católica (MACHADO, 1996, p. 99). Também é interessante ressaltar que no início o grupo reviver não teve um amplo apoio da comunidade católica no município devidos as suas características pentecostais, e até hoje encontra certa dificuldade em romper com o preconceito com seus membros. A respeito disso, R. M. S. (professora, solteira) falou que: No início tivemos dificuldade, bastante rejeição, preconceito aos membros do grupo de oração, muita indiferença, mas com o tempo nós fomos nos colocando e mostrando que a oração é essencial e o grupo de oração tem esse objetivo de interceder, de rezar pela igreja, pelas famílias e por toda nossa realidade.19 Em virtude do que foi mencionado, esse é um fator bastante importante a ser abordado, percebendo assim que mesmo com a introdução de um novo grupo mais adequado 19 Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009. 30
  • 32. aos costumes modernos, o tradicionalismo de pessoas ligadas à igreja mostrou-se como uma forma de resistência e distanciamento do mundo moderno e pluralista atual. Ocorre que apesar do grupo Reviver ser parte integrante da Igreja Católica, muito dos fiéis não conseguiu assimilar as mudanças ocorridas no interior da igreja, resistindo de fato às novas formas religiosas, aceitando somente o saber religioso do padre, onde não há uma redefinição rigorosa de identidade confessional, como uma ressocialização atualizadora de novos códigos religiosos de crenças e práticas rituais. Constata-se, portanto, que houve uma discriminação do grupo de oração Reviver frente pelos católicos tradicionais no município de Santa Luz. Sobre isso, Prandi atesta que: Os dez primeiros anos da RCC no Brasil foram de crescimento e desaprovação, por ser um movimento leigo e independente em relação à estrutura da igreja. Na própria estrutura financeira, ela inovava e reafirmava a sua independência e enquanto aumentava em numero de membros, não recebia o apoio de um vaticano progressista (PRANDI, 1997, p. 52). M.S.S. foi perguntada sobre a falta de apoio da comunidade católica ao grupo de oração reviver no seu surgimento e respondeu que: Ninguém gostava por que quem dirigia os cultos não era nem o padre, eram pessoas que nem sabiam da bíblia direito. Mas com o tempo, o povo foi aceitando. O próprio padre nas missas falava que era um grupo da igreja e que todos que pudessem deviam participar. Aí, muitos que só escutavam o padre, acabaram aceitando o grupo na igreja. 20 Com isso, apesar da discriminação sofrida pela comunidade católica, o grupo Reviver acabou sendo aceito pelos fiéis mais tradicionalistas, pois como se percebe, o papel do padre foi determinante para a mudança de atitude de muitos católicos para com o grupo Reviver, pois o padre, chefe maior da igreja local, sabia que o grupo de oração reviver estava incumbido de recuperar antigos fiéis e absorver novos integrantes, trazendo assim benefícios para a igreja local. Não foi um processo que ocorreu de maneira aleatória, mas sim teve uma 20 Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009. 31
  • 33. supervisão da igreja para que a maioria católica aceitasse. Os padres locais que acompanharam o crescimento do grupo de oração Reviver foram o padre Cícero (2000-2004) e o padre Jairo (2004-2009). Segundo integrantes do grupo de oração Reviver, o padre Cícero era o incumbido da Igreja Católica no momento do surgimento do Reviver, embora não estivesse tão diretamente envolvido com as atividades do grupo. Sua relação com o grupo carismático, portanto, deu-se de maneira mais formal, mas este, sem dúvida, apoiava sua expansão no município. O Padre Jairo, por outro lado, apoiou mais intensamente o grupo. Embora não se envolvesse diretamente nas reuniões, (já que a atuação do grupo, que como já foi dito, é de responsabilidade dos leigos carismáticos católicos), o padre sempre incentivou os fiéis a participar do Reviver, promovendo encontros entre os jovens do grupo de oração, além de promover jogos e eventos na Igreja local, ligados ao grupo Reviver. A proximidade entre as instituições religiosas de fato é um elemento que aguça as tensões entre ambas. Localizada a cerca de cinqüenta metros da Igreja Católica, a Universal do reino de Deus se configura como uma poderosa concorrente no mercado religioso local, o que vai exigir da Igreja Católica alguma reação. Essa reação veio com o grupo Reviver, com o objetivo de impedir a ascensão da Universal na localidade, o que naturalmente lhe prejudicaria com a dispersão de parte de seus fiéis, que insatisfeitos com os seus problemas cotidianos, iriam procurar ajuda no pentecostalismo emocional mais próximo, que seria a Igreja Universal. Com isso, numa situação de pluralismo religioso, a concorrência inter-religiosa para cooptar e manter adeptos e fiéis é extremamente acirrada. Assim, o desafio no município é atrair o maior número possível de indivíduos aos cultos, onde no interior das instituições (Reviver e Universal) há a pregação e a tentativa de romper com o ceticismo e com as 32
  • 34. barreiras que impeçam o virtual adepto de se entregar a Jesus, de mudar de religião e de se manter na nova comunidade religiosa. O Homem pós-moderno encontra-se sem referência segura, apático socialmente e dando adeus as ilusões, passa a dar valor a tudo que se refere a sensações, como escapismo para algum tipo de sentido além da realidade. O pluralismo religioso cria um ambiente propício para a adesão a novas formas de diversificação dos cultos e reuniões, pois a tentativa agora é manter e conquistar os fiéis, arrebanhando pessoas que procuram a solução imediata de seus problemas ou de suas exclusões sociais, ansiando satisfação pessoal e buscando uma peculiar ligação com o divino. Com isso, o sujeito tornou-se um ser fragmentado, plural, composto de várias identidades, muitas vezes contraditórias e mal resolvidas. É assim, que o grupo de oração Reviver, pronto para dar atendimento às carências mais latentes do indivíduo, faz surgir um novo filão religioso no município, reunindo em suas dependências jovens e adultas, assegurando a vitória divina em meios às atribulações vividas pelo homem na terra. 33
  • 35. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com todas as análises sociológicas feitas acerca do pentecostalismo, podem-se constatar as mais variadas mudanças que ocorreram no interior desse grupo religioso. Com o surgimento do neopentecostalismo, em especial a Universal do Reino de Deus, as promessas e soluções mágicas para os problemas cotidianos passaram a ser usados frequentemente como instrumentos de cooptação de indivíduos, na maioria das vezes dos estratos mais marginalizados da sociedade. Essa Igreja apresenta-se com uma estratégia de ajustamento dos indivíduos pobres na sociedade pós-moderna. Com a teologia da prosperidade, esses indivíduos não teriam que pagar um preço tão alto com as proibições legalistas, prescrições e tabus comportamentais para serem considerados eleitos por Deus. Agora, o enriquecimento e o consumismo passam também a ser frutos de uma fé abençoada. Apesar de a modernidade possibilitar ao homem um maior controle sobre a natureza (em particular sobre seu próprio corpo), não resolveu as tensões, ameaças e apreensões humanas. A angústia existencial do homem continuou como uma incógnita. A própria modernidade fomentou descontentamentos e o aparecimento das mais variadas formas religiosas, com o objetivo de aproximação com o sobrenatural. Assim, a competição religiosa foi acirrada, e consequentemente, a adequação de algumas religiões como catolicismo foi de fato obrigatória para tentar causar uma retração nas religiões que ameaçam seu poder. A lógica de mercado tem levado as formas religiosas a desempenhar um papel social muito ativo, onde o individualismo do mundo moderno produziu uma solidão pavorosa no homem, levando o mesmo a consumir a própria religião cada vez mais, como uma forma de compensação das necessidades afetivas. Assim, a Universal do Reino de Deus, o famoso “pronto-socorro” citado por Ricardo Mariano, ganha cada vez mais adeptos em várias partes 34
  • 36. do Brasil, devido em grande parte pela sua linguagem simples e as promessas com soluções para os problemas cotidianos, utilizando para isso elementos dotados de poderes mágicos como instrumento de aproximação com o sobrenatural. O surgimento das comunidades carismáticas, no início não foram bem aceitas entre maioria dos membros da Igreja Católica. O maior medo do clero era a perda de poder sobre esse novo grupo religioso, embora os fiéis tradicionais não aceitassem a nova forma de devoção propagada pelos leigos. Com isso, percebemos que houve uma discriminação sofrida pelo grupo Reviver no interior da igreja no municio de Santa Luz. Para resolver esse problema, os leigos carismáticos têm que obedecer dois dogmas católicos: veneração a Maria e obediência ao Papa e a santa igreja. O padre local teve papel importante para que a comunidade católica aceitasse em seu seio o grupo de oração Reviver, reafirmando sempre a identidade católica do grupo de oração e interferindo a favor do crescimento local do grupo Reviver. O grupo de oração Reviver no município de Santa Luz tem de fato, se aproximado de alguns elementos da igreja Universal do Reino de Deus. O primeiro é a ênfase no exorcismo e na demonização das religiões afro-brasileiras. São os espíritos malignos e forças demoníacas que atuam na vida do indivíduo, destruindo-lhe a personalidade e causando comportamentos desviantes como traição, agressividade física, alcoolismo entre outros vícios. O segundo é a extrema ênfase dada no espírito santo e no pentecostes. Não existe uma ordem comportamental de como o fiel deve adorar a Deus. O espírito, portanto, é a presença sobrenatural nas reuniões carismáticas, que pode ser através de um hino, uma pregação, uma oração ou até de técnicas corporais como a dança e as palmas, elementos tão presentes na Universal do Reino de Deus. Também há de ressaltar a pouca importância dada pelo grupo Reviver a leitura da Bíblia. 35
  • 37. O grupo de oração Reviver também funciona como uma agência de cura divina, pois se propõe a resolver os problemas do cotidiano das pessoas, sendo que não tem um elevado grupo de participantes fixos. As pessoas vão até o grupo com o intuito de resolver seus problemas pessoais, a fim de obter um conforto espiritual. O grupo de oração Reviver no município funciona como um aliado forte para barrar o avanço pentecostal, inclusive da sua vizinha Universal do Reino de Deus. A redefinição de valores do grupo de oração Reviver no município obedece à rigorosa observância ao culto da virgem Maria e a obediência a Igreja Católica, visto que apesar de ser dirigido por leigos, é um movimento oriundo da igreja, fato que serve como reforço da identidade católica do grupo na localidade. O grupo de oração Reviver, semelhante a outros grupos de oração da RCC que se espalharam por quase todas as paróquias do Brasil, adquire uma expressividade religiosa ímpar, e apresenta às massas uma novidade religiosa, ou melhor, um retorno ao culto litúrgico que estava esquecido na origem do cristianismo, mesclando novos e velhos elementos, conseguindo dar um novo impulso ao catolicismo luzense, sem perder, porém, sua identidade católica. 36
  • 38. REFERÊNCIAS AQUINO, Rubim Santos de Leão. Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais. 5ed. Local: Record, 2006. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os deuses do povo: um estudo sobre a religião popular. 2ª ed. SP: Editora Brasiliense, 1986. BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: história latina colonial, vol.1; tradução Maria Claro Cescato. 2ªed. SP, Brasília, 2004. P. 553-568. BOX, Charles R. A idade de ouro no Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. 3ª ed. RJ: Nova Fronteira, data. DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 1989. FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. In ANTONIAZZI , Alberto. Nem anjos e nem demônios: interpretações sociologias do pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 67 -159. FILORAMO, Giovanni. Monoteísmos e dualismos: as religiões da salvação. Tradução Camila Kintzel; organização da edição brasileira Adone Agnolin. 1ª Ed. SP: Hedra, 2005. MACHADO, Maria das Dores Campos. Carismáticos e pentecostais: Adesão religiosa na esfera familiar. Campinas, SP: ANPOCS, 1996 MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: a sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. 2ª ed. SP: Loyola, 2005. MICELLI, Sérgio. A elite eclesiástica brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil Republicano: sociedade e instituições (1889-1930). Paulo Sérgio Pinheiro... et al. 8ª ed. RJ: Bertrand Brasil, 2006. PAEGLE, Eduardo Guilherme de Moura. Uma breve análise historiográfica do protestantismo brasileiro e suas tendências atuais. Trabalho apresentado no simpósio da XXIII ANPUH na UEPG, 2005. PRANDI, Reginaldo. Um sopro do espírito: a renovação conservadora do catolicismo carismático. São Paulo: USP, 1997. 37
  • 39. PIERUCCI, Antônio Flávio. “Bye, bye Brasil” – O declínio das religiões tradicionais no censo 2000. Estudos avançados, Estudos avançados, volume 18, SP, 2004. RIBEIRO, Berta Gleizer. O índio na história do Brasil. São Paulo: Global, 1983. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo, 1930-1964. Rio de Janeiro: Paz e terra, 14ª Ed. 2007. P.21-109. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 4ª Ed. SP: Martin Claret, 2009. WEBER, Max. Sociologia das religiões (tipos de relações comunitárias religiosas). IN economia e sociedade, Vol I, Ed. Da UNB, Brasília, 1991. ________, Max. Sociologia. São Paulo: Ática, 1999. P. 142 – 159. FONTES 38
  • 40. MACEDO, Bispo. Orixá, caboclos e guias: deuses ou demônios? Rio de Janeiro: Universal, 2000. MARIOTTI, Alides Destri. Renovação carismática católica – Brasil, ministério de formação. SP: Loyola, 2008. 1º, 2º, 3º, 4º e 5º modulo. Orações selecionadas por cura e intercessão, 23ª Ed. Sorocaba, Loyola, out. de 1999. Descrição densa e observação sistemática da Igreja Universal do Reino de Deus em Santa Luz e seu culto dia 01/11/2008 e 14/01/2009. Gravações de cultos da Igreja Universal do Reino de Deus dia 01/11/2008 e do grupo de oração reviver dia 17/02/2009. Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração reviver, realizada no dia 20/06/2009. Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009. Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009. 39
  • 41. ANEXOS A - Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009. 1º Há quanto tempo que você faz parte da Igreja Católica de Santa Luzia no Município de Santa Luz? Há, já faz tempo... Tem mais de 10 anos. 2º E há quanto tempo você participa do grupo de oração reviver? Desde 2007 que eu venho aqui no grupo de oração. 3º Quais foram os motivos ou razões que levaram você a participar e freqüentar o grupo de oração reviver? Primeiramente, eu estava muito fria na igreja. Não sentia a presença de Deus na minha vida. Os problemas familiares que eu estava passando por causa dos despachos e trabalhos que faziam para mim e para minha família me fizeram participar e procurar Deus no grupo de oração. Tinha que livrar minha família da pomba-gira e do espírito diabólico de Exum. Queria me libertar 4º Por que você não participou desde o inicio do grupo de oração reviver? Eu não gostava. Na minha visão, oração e cantos não aproximavam a gente de Deus assim, do jeito que eles diziam. Não faziam um estudo da Bíblia, nem nada. Eu sempre gostei de ver o padre citar versículos da Bíblia, e eu estudava também, coisa que lá nunca vi acontecer. 5º Com a mudança da Igreja Universal do Reino de Deus aqui para próximo a igreja católica, como a comunidade católica reagiu a isso? Muitos ficaram indignados. Não aceitavam essa falta de respeito. Criou-se aqui um espírito de revanche entre essas igrejas devido a essa mudança absurda aqui pra perto da gente. Na época, lembro que muitos foram atrás da prefeitura pra não liberar o alvará de funcionamento pra essa igreja. 6º Fiquei sabendo que no inicio muitos católicos não aprovavam o grupo de oração reviver na igreja. Hoje, parece que o grupo de oração reviver não enfrenta mais esses problemas. Como isso ocorreu? 40
  • 42. Ninguém gostava por que quem dirigia os cultos não era nem o padre, eram pessoas que nem sabiam da bíblia direito. Mas com o tempo, o povo foi aceitando. O próprio padre nas missas falava que era um grupo da igreja e que todos que pudessem deviam participar. Aí, muitos que só escutavam o padre, acabaram aceitando o grupo na igreja. 7º Como você explica a utilização e associação de nomes de santo a Deuses africanos (demônios para os cristãos) nas reuniões do grupo reviver? Você também utiliza isso? Bem, a gente sabe que muitas pessoas que fazem trabalhos e despachos em casas de macumbas, utilizam o nome de santos em lugar do nome de seus demônios para enganar pessoas de bem e fazer acreditar que ali é um santo. Por isso, quando a gente fala em oração a esses espíritos malignos, não estamos falando de santos e sim de demônios disfarçados de santos. 41
  • 43. B - Entrevista com R.M.S., integrante e coordenadora do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009. Me Fale um pouco sobre como ocorreu a criação do grupo de oração Reviver no município de Santa Luz e quais foram os reais motivos para que a criação do grupo de oração ocorresse. O grupo surgiu da necessidade da oração, e da busca constante pela intimidade com Deus, diante disso surgiu o convite para o grupo de jovens da Matriz participar de um evento em Salvador, o chamado Renascer. Qual a sua rotina e função aqui no grupo Reviver? Minha rotina é manter o grupo unido, na oração pessoal, na comunidade, na palavra de Deus, através também da formação, nos encontros de oração, também no acompanhamento e aconselhamento dos membros, e na partilha pessoal, sempre que necessário, organizar evento da RCC na Matriz, visitas as famílias, e etc. Como o grupo está organizado? Existe alguma hierarquia? O grupo está organizado da seguinte forma: coordenação geral, vice-coordenação geral, coordenação do ministério jovem, e auxiliares. Gostaria que você me falasse um pouco sobre como as pessoas ligadas aos setores mais tradicionais da Igreja reagiram com a criação do grupo Reviver em Santa Luz? No início tivemos dificuldade, bastante rejeição, preconceito aos membros do grupo de oração, muita indiferença, mas com o tempo nós fomos nos colocando e mostrando que a oração é essencial e o grupo de oração tem esse objetivo de interceder, de rezar pela igreja, pelas famílias e por toda nossa realidade. Existem vários testemunhos e relatos em várias igrejas cristãs. Aqui na Renovação Carismática Católica (Reviver) em Santa Luz, existem testemunhos? Qual o significado do testemunho no grupo Reviver? 42
  • 44. É através do testemunho que todos se ativam e despertam outros irmãos a viver experiências com o amor de Deus. Os fiéis demonstram entusiasmo, perseverança, e uma alegria que os une e os diferencia dos demais. Qual o perfil dos fiéis que freqüentam o grupo Reviver aqui no município de Santa Luz e quais seriam os principais problemas que eles dizem passar e vêm buscar ajuda aqui no grupo? São jovens que buscam estar perto de Deus, no serviço da Igreja como coral, no teatro, celebração das missas, buscam o refúgio, o consolo, a proteção na oração, no louvor, na palavra de Deus. Muitas vezes são problemas relacionados com os vícios, ao álcool, violência em casa, questões de saúde, e buscam no grupo de oração esse auxílio através da oração e cura. Então eles vêm muito no grupo de oração buscar essa força, essa proteção, esse auxílio. Com relação ao livro orações selecionadas para intercessão e cura, você usa algumas daquelas orações nas reuniões? Qual seria o objetivo delas? Algumas orações ministradas são orações de intercessão, pedindo perdão ou proteção de Deus, súplica ao Espírito Santo, a cura interior, pedindo providência divina de acordo com a necessidade. A nossa vida é dom de Deus, mas no nosso mundo em que vivemos existe muitos problemas, muitas tribulações, e é por isso que precisamos estar em constante oração suplicando a graça de Deus em nossa vida. Como você se apresenta para a questão da própria libertação ou melhoração no grupo Reviver? Há testemunhos sobre como acontece essa libertação? O que seria essa libertação? Geralmente quando se fala em libertação, se fala em alguém possesso por espírito mal. Nossa libertação precisa ser dos nossos próprios apegos, sofrimentos sem razão de ser, falta de amor ao próprio, a falta de perdão, a falta do amor a Deus, a falta de fé, o medo, houve testemunhos no grupo de oração sobre alguns desses problemas. O que significa orações em línguas no grupo Reviver? Isso já ocorreu aqui no grupo? Me fale um pouco sobre isso. A oração em línguas é uma forma de falar com Deus, é um jeito simples de rezar quando não temos mais palavras para dizer. Deixamos que o nosso coração cante, louve ao nosso Deus, como está em Marcos, capítulo 7, versículo 16, falaram novas línguas, em Atos dos Apóstolos, capítulo 2 versículo 4, diz: todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o espírito os concedia que falassem. 43
  • 45. Qual o número aproximado de pessoas que freqüentam o grupo Reviver? Tem um grupo que sempre participa freqüentemente que são os fiéis, que conduz o encontro, mas tem o grupo maior de pessoas que vem sempre que precisa de oração. Com relação à maneira de orar do fiel, há alguma restrição ou instrução por parte do grupo Reviver? O momento de oração pode ser de joelhos, sim quando está se adorando ao nosso Deus. Mas também pode ser livremente, pode ser em pé, às vezes as pessoas preferem ficar de pé, não tem nenhuma restrição não, às vezes a gente vai colocando e quem estiver disposto a realizar de acordo com o que a gente vai indicando, pode ficar a vontade. 44
  • 46. C - Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009. Você já participava da Igreja Católica antes do grupo Reviver? Não, eu não era membro da Igreja Católica. Na verdade, não ia em nenhuma Igreja, pois não me sentia a vontade em nenhuma delas. E as igrejas pentecostais como a Universal do Reino de Deus? Você já foi lá? Não... Eu não gosto da Universal. É uma Igreja muito manchada. Dizem que os pastores roubam o dinheiro do povo. Aí eu não ia me sentir bem lá. Qual a sua visão sobre a Igreja Católica antes de entrar para o Reviver? Eu sempre achei a Igreja Católica muito fechada sabe?... Assim, é como que você não tivesse nenhuma liberdade. Até o próprio local me assustava, com os bancos de madeira com os locais para ajoelhar, eu nunca gostei disso não. Você participa de algum grupo aqui da Igreja Católica que não seja o Reviver? Não, só participo do grupo Reviver. E qual a sua visão hoje, atualmente sobre a Igreja Católica, depois que você começou a participar do grupo Reviver? Agora depois que eu comecei a participar do grupo de oração, tenho uma visão melhor da igreja. Por que no grupo de oração você pode pular, dançar, cantar, tudo para a glória de Deus. Essas coisas eu achava que a igreja não deixava a gente fazer. Gostaria de saber quais os motivos que levaram você a freqüentar o grupo Reviver? Eu antes me sentia sozinha, queria achar um lugar onde eu me sentisse bem com Deus, mas nunca quis ser crente não. Aí foi quando me falaram sobre o reviver e eu vim participar. Tinha também a questão de meu pai beber muito, aí eu vim para a igreja libertar ele. 45
  • 47. O que você acha sobre a localização da Igreja Universal, junto da Igreja Católica? Eu acho que todo mundo tem direito de ter sua religião, mas eu não acho certo uma igreja vim ficar tão perto aqui da nossa. É uma falta de respeito, pois muitas vezes quando a gente ta fazendo nossa reunião, e quando pensa que não, a gente tem que parar por que eles ficam cantando lá e atrapalha nossa oração. Por isso eu não acho certo. 46
  • 48. D – Foto da Igreja Universal do Reino de Deus (à esquerda) e da Igreja Católica (à direita) no município de Santa Luz. Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Estação Ferroviária de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008. Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Estação Ferroviária de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008. 47
  • 49. Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Praça Joaquim de Góes no município de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008. 48