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TRIBUNA
    Rio, Quarta-Feira, 8 de março de 1995 •                               da Imprensa



Quatro mulheres e muito amor
        Hoje comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Metade da humanidade é mulher
e a outra metade, filhos de mulheres. A um observador desatento estas quatro mulheres que
me fascinam seriam figuras contraditórias entre si. Todo paradoxo, porém, é um enigma,
chave da sabedoria.
        Maria, a mãe de Jesus, cujo nome prefiro ao título de Nossa Senhora, sempre me
impressionou pela ousadia. Numa sociedade patriarcal,ela assume radicalmente os
desígnios divinos, a ponto de abraçar uma gravidez que confundiu o próprio noivo, Joé,
deixando-a, aos olhos alheios, sob suspeita de adultério. Um dos sinais de que somos
capazes de fazer a vontade de Deus é, sem ressentimentos, manter-nos indiferentes à
opinião alheia. Extasiada pela graqa recebida, ela canta, no Magnificat, o prenúncio do
significado da presença de Jesus entre nós, acentuando que o senhor "derrubou de seus
tronos os poderosos e elevou os humildes; saciou de bens aos famintos e aos ricos despediu
de mãos vazias" (Lucas 1.52-53). Prima de Isabel, mãe de João Batista, ela presenciou a
militância e a morte de João e de seu filho em favor de um novo tempo - o Reino de Deus -
livre de injustiças. João é degolado por denunciar a corrupção das autoridades e Jesus cruci-
ficado sob acusação de blasfêmia e de subversão. Sem jamais reter para si o filho que veio
para servir a todos, Maria é agraciada por assistir à Ressurreiqao e preceder-nos, por sua
assunção, na glória da comunhão trinitária. Em Maria, Deus ama a mulher que gera o Amor
feito carne. Quis Ele que a encarnaqao tivesse início nas entranhas de uma camponesa
palestinense, tão pobre que se viu obrigada a dar à luz num cocho, entre animais. Tais fatos
tanto incomodam que buscamos amenizá-los realçando a "docilidade" de Maria, como se
os homens fossem deuses a cujos desígnios devem se submeter as mulheres, e emoldurando
o presépio natalino num conto de fadas.
        Hipácia, nascida em Alexandria em 370, foi a última grande cabeça científica a
trabalhar na famosa biblioteca daqueia cidade. Astrônoma, física, matemática e filósofa,
consta que era muito bonita e nunca se casou. 0 cristianismo estava em plena expansão e
todo saber que não coincidisse com seus dogmas era considerado suspeito de paganismo.
Como Plotino, Hipicia era discípula da escola neoplatônica fundada em Alexandria por
Amónio Sacas, no século III, o que a tornava alvo das suspeitas de Cirilo, patriarca de
Alexandria. Apesar da oposição do bispo, continuou a escrever e a ensinar. Em 415, foi
atacada por cristãos fanáticos, seguidores de Cirilo, que a arrancaram de sua charrete,
rasgaram suas vestes e, armados de conchas, esfolaram- na. Depois queimaram toda a sua
obra e seu nome foi esquecido. Em contrapartida, Cirilo foi canonizado. Hipácia deixou-
nos, contudo, o exemplo de que uma mulher tem o direito de ser independente de cabeça e
de coração.
Teresa de Ávila (1515-1582) viveu na Espanha da conquista da América, época de
Las Casas e Góngora, Cervantes e Lope de Vega. Monja carmelita, até 47 anos pouco
escreveu. Movida por irrefreável paixão divina, a pedido de seus confesores relatou em seis
livros, uma coletância de cartas e algumas poesias, o modo como se deixou possuir por seu
Amado, a ponto de exclamar: "Morro por não morrer". A adolescente que jogava xadrez e
lia romances de cavalaria, quando adulta percorreu a Espanha fundando comunidades, nas
quais centenas de moças mergulharam na aventura da busca de Deus. Encarada com
suspeitas pela Inquisição, que requisitou suas obras, e pelo representante papal na Espanha,
que a coasiderava "desobediente costumaz" , Tereza jamais se considerou uma santa, pelo
contrário, e mesmo quando descrevia suas experiências místicas fazia questão de observar:
"Como se há de entender isto, não o sei; justamente este não-entender é que me causa gran-
de alegria".
        Teresa de Jesus resgatou dos céus o Deus medieval e, em pleno Renascimento,
centrou-0 no coração humano. Fora da experiência da oração, quem melhor nos revela a
mística de Teresa não é um teólogo, mas um pintor que lhe foi contemporâneo, El Greco,
cujo flamejante colorido expressa o que ele sentira e ensinara, convicta de que todo ser
humano é chamado a ser, nas palavras de seu amigo João da Cruz, uma chama viva de
amor.
        A quarta mulher nasceu em 1926, nos EUA, com o nome de Norma Jean
Mortenson. Criança, sonhou que estava nua numa igreja. Adolescente, posou despida para
fotos de calendários e, logo, tornou-se um dos maiores mitos de Hollywood, onde ficou
famosa como Marilyn Monroe. Seu talento despontou em filmes como Os homens
preferem as louras (1953), 0 pecado mora ao lado (1955), Quanto mais quente
melhor(1959) e Os desajustados (1960). Vítima da canibalização da máquina publicitária e
sufocada por uma carência que a induziu a intensa rotatividade afetiva. Marilyn Monroe foi
encontrada morta em sua cama, na manhã de 5 de agosto de 1962. Talvez tenha ingerido
forte dose de babitúricos ou, quem sabe, sido assassinada para que seu silêncio assegurasse
êxito da carreira política de amantes que posavam em público como católicos exemplares.
Tinha em mãos o telefone. Para quem teria ligado? Nunca se soube. 0 poeta e místico
Ernesto Cardenal sugere que, do outrolado da linha, Deus atendeu.


                                                                                Frei Betto

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Quatro Mulheres E Muito Amor (Frei Betto)

  • 1. TRIBUNA Rio, Quarta-Feira, 8 de março de 1995 • da Imprensa Quatro mulheres e muito amor Hoje comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Metade da humanidade é mulher e a outra metade, filhos de mulheres. A um observador desatento estas quatro mulheres que me fascinam seriam figuras contraditórias entre si. Todo paradoxo, porém, é um enigma, chave da sabedoria. Maria, a mãe de Jesus, cujo nome prefiro ao título de Nossa Senhora, sempre me impressionou pela ousadia. Numa sociedade patriarcal,ela assume radicalmente os desígnios divinos, a ponto de abraçar uma gravidez que confundiu o próprio noivo, Joé, deixando-a, aos olhos alheios, sob suspeita de adultério. Um dos sinais de que somos capazes de fazer a vontade de Deus é, sem ressentimentos, manter-nos indiferentes à opinião alheia. Extasiada pela graqa recebida, ela canta, no Magnificat, o prenúncio do significado da presença de Jesus entre nós, acentuando que o senhor "derrubou de seus tronos os poderosos e elevou os humildes; saciou de bens aos famintos e aos ricos despediu de mãos vazias" (Lucas 1.52-53). Prima de Isabel, mãe de João Batista, ela presenciou a militância e a morte de João e de seu filho em favor de um novo tempo - o Reino de Deus - livre de injustiças. João é degolado por denunciar a corrupção das autoridades e Jesus cruci- ficado sob acusação de blasfêmia e de subversão. Sem jamais reter para si o filho que veio para servir a todos, Maria é agraciada por assistir à Ressurreiqao e preceder-nos, por sua assunção, na glória da comunhão trinitária. Em Maria, Deus ama a mulher que gera o Amor feito carne. Quis Ele que a encarnaqao tivesse início nas entranhas de uma camponesa palestinense, tão pobre que se viu obrigada a dar à luz num cocho, entre animais. Tais fatos tanto incomodam que buscamos amenizá-los realçando a "docilidade" de Maria, como se os homens fossem deuses a cujos desígnios devem se submeter as mulheres, e emoldurando o presépio natalino num conto de fadas. Hipácia, nascida em Alexandria em 370, foi a última grande cabeça científica a trabalhar na famosa biblioteca daqueia cidade. Astrônoma, física, matemática e filósofa, consta que era muito bonita e nunca se casou. 0 cristianismo estava em plena expansão e todo saber que não coincidisse com seus dogmas era considerado suspeito de paganismo. Como Plotino, Hipicia era discípula da escola neoplatônica fundada em Alexandria por Amónio Sacas, no século III, o que a tornava alvo das suspeitas de Cirilo, patriarca de Alexandria. Apesar da oposição do bispo, continuou a escrever e a ensinar. Em 415, foi atacada por cristãos fanáticos, seguidores de Cirilo, que a arrancaram de sua charrete, rasgaram suas vestes e, armados de conchas, esfolaram- na. Depois queimaram toda a sua obra e seu nome foi esquecido. Em contrapartida, Cirilo foi canonizado. Hipácia deixou- nos, contudo, o exemplo de que uma mulher tem o direito de ser independente de cabeça e de coração.
  • 2. Teresa de Ávila (1515-1582) viveu na Espanha da conquista da América, época de Las Casas e Góngora, Cervantes e Lope de Vega. Monja carmelita, até 47 anos pouco escreveu. Movida por irrefreável paixão divina, a pedido de seus confesores relatou em seis livros, uma coletância de cartas e algumas poesias, o modo como se deixou possuir por seu Amado, a ponto de exclamar: "Morro por não morrer". A adolescente que jogava xadrez e lia romances de cavalaria, quando adulta percorreu a Espanha fundando comunidades, nas quais centenas de moças mergulharam na aventura da busca de Deus. Encarada com suspeitas pela Inquisição, que requisitou suas obras, e pelo representante papal na Espanha, que a coasiderava "desobediente costumaz" , Tereza jamais se considerou uma santa, pelo contrário, e mesmo quando descrevia suas experiências místicas fazia questão de observar: "Como se há de entender isto, não o sei; justamente este não-entender é que me causa gran- de alegria". Teresa de Jesus resgatou dos céus o Deus medieval e, em pleno Renascimento, centrou-0 no coração humano. Fora da experiência da oração, quem melhor nos revela a mística de Teresa não é um teólogo, mas um pintor que lhe foi contemporâneo, El Greco, cujo flamejante colorido expressa o que ele sentira e ensinara, convicta de que todo ser humano é chamado a ser, nas palavras de seu amigo João da Cruz, uma chama viva de amor. A quarta mulher nasceu em 1926, nos EUA, com o nome de Norma Jean Mortenson. Criança, sonhou que estava nua numa igreja. Adolescente, posou despida para fotos de calendários e, logo, tornou-se um dos maiores mitos de Hollywood, onde ficou famosa como Marilyn Monroe. Seu talento despontou em filmes como Os homens preferem as louras (1953), 0 pecado mora ao lado (1955), Quanto mais quente melhor(1959) e Os desajustados (1960). Vítima da canibalização da máquina publicitária e sufocada por uma carência que a induziu a intensa rotatividade afetiva. Marilyn Monroe foi encontrada morta em sua cama, na manhã de 5 de agosto de 1962. Talvez tenha ingerido forte dose de babitúricos ou, quem sabe, sido assassinada para que seu silêncio assegurasse êxito da carreira política de amantes que posavam em público como católicos exemplares. Tinha em mãos o telefone. Para quem teria ligado? Nunca se soube. 0 poeta e místico Ernesto Cardenal sugere que, do outrolado da linha, Deus atendeu. Frei Betto