O documento discute o Plano Nacional de Leitura em Portugal após 5 anos de implementação. Discute os objetivos de "ler mais" e agora "ler melhor", e como os professores bibliotecários têm um papel fundamental na promoção da leitura entre os jovens. Também menciona o aumento do interesse dos jovens na leitura e os planos para expandir o programa para alunos mais velhos.
1. miúdos
Quando se lê mais,
lê-se muito melhor
O Plano Nacional de Leitura fez cinco anos, metade da
esperança de vida que lhe foi destinada. O comissário,
Fernando Pinto do Amaral, acredita que a segunda fase
continuará a contribuir para que os livros pertençam ao
quotidiano dos jovens. E elogia os protagonistas desta
história: os professores-bibliotecários.
Texto Rita Pimenta
A
postar em uma vez por ano, conduz esse valor era de 30,6%. “Saber
actividades pior. Se alguém anda todos até que ponto este aumento
que melhorem os dias 100 quilómetros, tem de 20% se traduz depois em
a qualidade uma tal familiaridade com o leitura real ou não, isso é muito
da leitura é automóvel que ‘o seu conduzir’ difícil, nunca poderemos
um dos novos será certamente ‘um conduzir saber. Mas que manifestam nos
propósitos do Plano Nacional melhor’.” O mesmo para a leitura. inquéritos um maior interesse
de Leitura (PNL). Depois do Até há pouco tempo, o pela leitura, isso é verdade”,
lema criado há cinco anos, “ler orçamento do PNL permitia dotar diz o comissário. A avaliação é
mais”, acrescenta-se outro, muitas bibliotecas escolares de feita por uma equipa do Centro
“ler melhor”. O comissário, novos livros, mas agora entrou de Investigação e Estudos de
Fernando Pinto do Amaral, numa “fase de restrição”, como Sociologia do Instituto Superior
explicou à Pública o que lhe chama, e já não é possível de Ciências do Trabalho e da
significa: “Quanto mais o jovem adquirir tantos títulos. “Se até Empresa, sob a coordenação de
lê, mais familiaridade cria com aqui tínhamos ‘x’ para apoiar as António Firmino da Costa.
os livros. Passa a olhá-los como escolas, agora vamos ter menos. Aos pais, Fernando Pinto
um objecto do quotidiano, da E, como vamos ter menos, a do Amaral sugere alguns
mesma forma que olha para um ideia de apostar na qualidade procedimentos, como o de
computador, uma caneta ou um em detrimento da quantidade tentarem acompanhar as leituras
copo de água. O que queremos também nos pode facilitar dos miúdos, estarem atentos ao
evitar é que o livro seja ‘aquela no sentido de termos menos que se vai publicando na literatura
coisa estranha’ em que ele recursos.” para crianças e jovens, fazerem o
nunca pega. Ler mais é a base mais possível para que eles leiam
para ler melhor. E tem a ver com Maior interesse logo quando ainda são pequenos.
rotinas de leitura, com treino, O relatório de avaliação externa E, chegados à adolescência,
capacidade, skill.” apresentado recentemente na “acompanharem-nos à distância,
Para reforçar o entendimento V Conferência Internacional pois não reagem bem ao sentir
do novo lema, o professor do PNL, na Fundação Calouste que se estão a imiscuir em tudo
universitário faz uma analogia Gulbenkian, dá conta de um o que fazem”. É compreensível:
com o uso do automóvel: “Quem aumento de interesse na “Eles já têm a sua identidade e
conduz mais quase sempre leitura entre os jovens dos não querem intrusos na sua vida.
conduz melhor, porque tem 15 aos 24 anos, com 52,4% Acho bem. É altura de fazer um
prática de o fazer. E uma pessoa a considerarem-na “muito acompanhamento mais sóbrio,
que conduz pouquíssimo, importante”. Há cinco anos, à distância. Podemos aconselhar
2. MONALyN GrACIA/COrbIS/VMI
um ou outro título, mas devemos
deixá-los escolher. Há que
anterior Governo foi o de
equipar as escolas, nem todas,
recorda a sua própria juventude:
“No final do secundário e já
“Importante
confiar nos jovens.” Nas idades mas muitas”), agora, querem na faculdade, muitas vezes foi é pôr os livros
mais baixas, “é preciso criar “apostar mais no software do com os amigos que troquei
rotinas, são pequeninos e alguma que no hardware”. Será também experiências de leitura. Lê à disposição
obrigatoriedade não lhes faz mal”.
O comissário atribui ao PNL o
o momento de “aprofundar as
acções a nível humano, para que
aquele livro, aquele autor…
Este é melhor. É uma partilha, o
dos jovens nas
papel de “abrir as portas para a os equipamentos e materiais boca-a-boca.” bibliotecas
leitura” e elogia o trabalho dos não fiquem ali sem utilização. O mais importante, considera,
professores-bibliotecários, “os Aí, é muito importante o papel é pôr os livros à disposição dos escolares”, diz
verdadeiros agentes do Plano
Nacional de Leitura”. “As escolas
dos professores-bibliotecários,
pois são eles que dinamizam
jovens, facultar-lhe condições.
“Eles têm de saber que, se
Fernando Pinto
e agrupamentos escolares que as actividades e as práticas de quiserem ler este ou aquele do Amaral
tenham um determinado n.º promoção da leitura”. livro, o têm na biblioteca.
de alunos têm um professor- Os outros professores também Sobretudo naquela fase de
bibliotecário. São eles que têm um papel fundamental transição, no 3.º ciclo, 14/15
estão no terreno e contactam na orientação dos jovens nas anos, em que se perdem hábitos
directamente com as crianças.” escolhas de livros, em sala de de leitura. É muito importante
aula, “mais ainda quando a não forçar. Estão numa fase
Mais orientação criança vem de meios em que contestatária e pode surtir o
Passada a fase de equipar as os pais não conseguem fazê- efeito contrário.”
bibliotecas escolares com lo”. Os amigos são igualmente Para os próximos cinco anos,
computadores, audiovisuais, importantes na partilha dos está previsto um alargamento do
etc. (“um dos méritos do interesses, e Pinto do Amaral plano o mais possível ao 3.º c
3. miúdos
ciclo e ao secundário. “A ideia é E, inclusivamente agora que A Fada Oriana
não privilegiar exclusivamente mudou o poder político, são Texto: Sophia de Mello
as faixas etárias mais baixas, o transpartidários, tal como o da Breyner Andresen; ilustração:
1.º ciclo e o pré-escolar. Embora rede de bibliotecas públicas, Natividade Corrêa; edição:
o grosso das nossas acções que começou em 1986/87 e Figueirinhas
provavelmente continue a ser depois continuou com governos (aconselhado pelo PNL para
para essas idades. É onde temos do PS e PSD. Várias cores o 5.º ano)
maior consolidação e não as políticas.”
vamos deixar, seria um erro. A Cultura deixar de ter
Mas vamos tentar alargar e criar ministro e passar a ter apenas O Olho do Lobo
novas acções para públicos mais um secretário de Estado não Texto: Daniel Pennac;
velhos.” os assustou, “dependeria da ilustração: Jacques Ferrandez;
Durante este último ano, já pessoa que ficasse à frente, edição: Terramar
lançaram um projecto-piloto mas o facto de ser um escritor (aconselhado pelo PNL para
em articulação com a rede [Francisco José Viegas], do o 5.º ano)
de bibliotecas Escolares: “Foi ponto de vista das pessoas
posto em prática numa dúzia ligadas ao livro, ao meio
de escolas públicas e privadas. editorial, aos autores, aliviou- O Corsário Negro
Vila do Conde, Castro Verde, no nos bastante, porque é alguém Texto: Emilio Salgari;
Colégio Moderno em Lisboa, por que conhece o sector do livro”. edição: Clube do Autor
exemplo.” E está contente com o (aconselhado pelo PNL para
São clubes de leitura dirigidos empenho em “manter o IVA o 3.º ciclo)
para o secundário, numa base reduzido do livro”, que o
voluntária: “Não estamos a secretário terá declarado.
inventar a roda. É o princípio Embora o PNL não dependa Poesia de Luís de Camões
das comunidades de leitores, da Cultura, mas do Ministério para Todos
que se fazem nas livrarias e que da Educação: “A nossa tutela Organização: José António
começaram nos Estados Unidos mais directa é da secretária Gomes; ilustração: Ana
e nos países anglo-saxónicos.” de Estado do Ensino básico Biscaia; edição: Porto Editora
Houve uma boa adesão, e Secundário, a professora (aconselhado pelo PNL para
algumas dezenas de estudantes Isabel Leite. Evidentemente o 3.º ciclo)
inscreveram-se. “Os clubes são que dependemos do ministro
dinamizados por professores da Educação, Nuno Crato, mas
que se disponibilizam mais directamente de Isabel
voluntariamente. Não ganham Leite, que até tem um percurso
horas extraordinárias.” profissional que está ligado a
Há cerca de dois anos, quando esta área. É especialista em
chegou ao PNL, o comissário aprendizagem da leitura.”
encontrou “uma equipa muito O comissário está muito
empenhada, entusiasmada e satisfeito com facto de Portugal
com projectos estimulantes. ser o país-tema da próxima
E uma forte ligação aos que Feira Internacional do Livro
em cada comunidade escolar Infantil de bolonha, em Março
estavam interessados em de 2012, e diz ser “uma boa
promover a leitura. A equipa ocasião para os editores e
foi criada essencialmente por autores portugueses divulgarem
Isabel Alçada (comissária do as edições de qualidade que se
plano até ser chamada para fazem em Portugal”.
ministra da Educação) e Teresa Com tanta insistência na
Calçada (coordenadora da rede promoção da leitura, faltava a
de bibliotecas Escolares). São as pergunta: ler para quê? “Ler é
almas deste projecto”. fundamental para conhecermos
melhor o mundo que nos rodeia
Continuidade e para nos conhecermos a nós
Não sentiu necessidade de fazer próprios. O acto de ler estimula
grandes alterações, conta: “No a reflexão e o sentido crítico.
essencial, continuei as linhas No caso dos melhores livros, ler
antes definidas. São projectos também nos permite aceder,
de médio e longo prazo, não pelo menos de vez em quando, a
são projectos que se possa uma dimensão oculta das coisas,
dizer que dão resultado no ano a mundos desconhecidos que
a seguir, são de continuidade. podemos ter dentro de nós.” E
E em relação aos quais não quanto mais melhor.
podemos baixar os braços
nem ‘embandeirar em arco’. rpimenta@publico.pt