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PARA
VOSSOS
E PARA
0 BATISMO CRISTÃO
PAULO ANGLADA
p*b a VOS epara
vossos FILHOS
0 BATISMO CRISTÃO
PAULO ANGLADA l «
PREFÁCIO
O batismo infantil (ou pedobatismo) é considerado uma prática
estranha por boa parte dos evangélicos no contexto brasileiro, forma­
do prindpalmente por igrejas batistas e pentecostais (credobatistas).
Para esses irmãos, a ordenança do batismo precisa ser acompanhada
de profissão de fé - o que as crianças pequenas obviamente não são
capazes de fazer. Além disso, no Brasil, a igreja conhecida por batizar
crianças é a Igreja de Roma, a qual realiza o rito de maneira indiscri­
minada, batizando qualquer criança.
Nessa situação, é importante explicar as razões que nos levam
(igrejas reformadas) a receber como membros da Igreja, através do
batismo, os filhos menores das famílias da aliança. É verdade, observa
John Murray, que "pensar a revelação da Escritura organicamente é
muito mais difícil do que pensar atomisticamente”.10 argumento em
defesa do batismo infantil não se baseia no ensino direto de textos bí­
blicos avulsos. Ele "se fundamenta no reconhecimento de que a ação
redentiva e revelacional de Deus neste mundo é pactuai”.12Nem por
isso, entretanto, as bases para o batismo infantil por aspersão ou ablu-
ção são mais fracas ou menos bíblicas do que os argumentos opostos.
1 John Murray, Christian Baptism (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed,
1980), ii.
6 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
Muito pelo contrário. Elas são fortes, profundas, abrangentes e con­
sistentes. Elas refletem “um conceito chave no Novo Testamento”:
Todo o povo de Deus (judeu ou gentio - passado ou presente) é abençoado
de acordo com a aliança (isto é, a promessa de bênção) que Deus fez com
Abraão.3
Conforme explica o apóstolo Paulo:
Os dajè é que sãofilhos deAbraão.Ora, tendo a Escritura previsto que Deus
justificaria pela fé os gentios, preanundou o evangelho a Abraão: Em ti,
serão abençoados todos os povos. De modo que os dajè são abençoados com
o crente Abraão... Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar... para que a bênção deAbraão chegasse aos
gentios, emJesus Cristo.4
Meu objetivo, portanto, ao publicar este pequeno livro, é escla­
recer os leitores quanto ao conceito e prática reformada relacionados
ao significado, simbolismo e forma do batismo; e, principalmente,
explicar as razões pelas quais praticamos o batismo infantil. A obra
não tem nenhuma pretensão acadêmica. Não pretendi ser exaustivo
ou realizar uma pesquisa histórica, exegética ou teológica profunda,
para acadêmicos, teólogos ou especialistas.
Também não desejo, com esta pequena obra, provocar polê­
mica, menosprezar ou ofender aqueles que pensam de maneira di­
ferente. Durante quase vinte anos tive o privilégio de ensinar várias
disciplinas em um seminário batista, e de comungar,-respeitar e amar
irmãos de várias denominações batistas e pentecostais que ali estuda­
ram ou ensinaram ao longo desses anos. Amo-os sinceramente em
Cristo, para tencionar de maneira alguma ofendê-los ou feri-los.
Minha motivação é puramente pastoral. Meu desejo sincero ao
produzir esse material, foi, primeiramente, esclarecer os membros
da minha própria igreja com relação às razões das nossas práticas
3 Bryan Chapell, Wfty Do We Baptize Infants? Basics of the Faith (Phiilipsburg, NJ:
Puritan and Refòrmed, 2006), 7 (ênfase do autor).
4 Gálatas 3:7-9 (ênfase minha).
PREFÁCIO 7
acerca do batismo e das questões controvertidas associadas a esse
sacramento. Este estudo foi realizado inicialmente no contexto do
meu ministério como pastor da Igreja Presbiteriana Central do Pará,
para instrução da igreja e principalmente dos pais, por ocasião da
realização de batismos infantis.
Ele foi posteriormente publicado, em uma forma mais resumi­
da, há quatorze anos atrás, em uma obra coletiva, juntamente com
artigos deJohn Sartelle, John Evans eJoseph Pipa.5
Na presente forma, esses estudos apresentam-se desenvolvidos
com a inclusão de novas seções e conteúdos, enriquecidos com novas
pesquisas bíblicas, e aprofundados com citações e referências a obras
clássicas e contemporâneas significativas sobre o tema.
Expresso os meus agradecimentos a todos quantos, direta ou
indiretamente, contribuíram para a preparação e publicação desta
obra: aos meus pais, Hélio e Beatriz (em memória); aos meus filhos,
Karis Beatriz, Paulus Roberto e Anna Layse; e, espedalmente, à mi­
nha esposa, Layse. Agradeço também aos membros da Igreja Pres­
biteriana Central do Pará e ao irmão em Cristo Josias Baía e família,
pela importante contribuição para a publicação deste livro. Sou grato
principalmente a Deus, pela graciosa salvação, vocação e providência
em CristoJesus.
Espero que o Supremo Pastor condescenda em fazer uso dessa
pequena obra para esclarecimento de dúvidas dos leitores acerca do
significado e práticas relacionadas ao batismo cristão, com vistas à
edificação da sua Igreja.
Charlotte, NC, 26 de maio de 2014
Paulo R. B. Anglada
5 Paulo Anglada, "Batismo: A Circuncisão Cristã”, em O Batismo Infantil: O Que os
Pais Deveríam SaberAcerca deste Sacramento (São Paulo: Editora Os Puritanos, 2000),
37-52.
ÍNDICE
Prefácio........................................................................................................5
Introdução............................................................................................... ll
1 Significado do Batismo C ristão........................................................ 13
Atestado de Salvação?................................................................................ 14
Meio de Salvação?........................................................................................ 15
Essencial à Salvação?....................................................................................16
Continuação da Circuncisão.......................................................................17
Sinal e Selo do Pacto da Graça.................................................................... 19
Representa União com Cristo
e Todos os Benefícios Decorrentes............................................................ 22
2 O Batismo e as C rianças da Afiança...............................................25
No Antigo Testam ento..............................................................................25
No Novo Testamento................................................................................. 27
3 O bjeções Contra o Batismo Infantil............................................... 33
Não Existe Mandamento
Bíblico Explícito para Batizar Crianças.......................................................33
Não Existem Exemplos Claros de
Batismo Infantil no Novo Testamento.......................................................35
Jesus Só foi Batizado aos Trinta Anos de Idade.........................................35
10 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
As Crianças Não Preenchem as
Condições Necessárias: Arrependimento e F é ........................................36
Dedicar ou Apresentar Crianças
Não é mais Bíblico do que Batizá-las?......................................................38
Não é uma Incoerência Batizar Crianças
e Não Permitir que Participem da Ceia?..................................................38
Que Benefícios o Batismo Infantil Pode Proporcionar?.........................39
4 B enefícios do Batismo Infantil..........................................................41
Para a Igreja..................................................................................................42
Para os Pais...................................................................................................43
Para as Crianças...........................................................................................45
Conclusão....................................................................................................46
5 Simbolismo e M o do d o Batismo.........................................................49
A Prática Batista e Pentecostal....................................................................49
A Prática Reformada e Protestante............................................................ 50
C o nclusã o .................................................................................................59
Bibliografia, 61
INTRODUÇÃO1
O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordena­
dos por Jesus para serem observados na dispensação da graça. Na
concepção reformada:
Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente
instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar
o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível
entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente
comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra.2
A ceia do Senhor foi instituída por ocasião da ultima participa­
ção de Cristo na páscoa (Mt 26:26-30).’O batismo cristão foi ordena­
do na grande comissão, em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16.
Existem algumas questões controvertidas relacionadas ao ba­
tismo, especialmente no que diz respeito ao batismo de crianças e
ao modo do batismo. Algumas denominações evangélicas batistas e
pentecostais, as quais constituem a maioria em nosso contexto, não
batizam crianças e reconhecem unicamente o batismo por imersão.
Entretanto, o batismo infantil representa a prática Cristã histórica. As
outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada,*1
' Ler Gn 17:1-14; Cl 2:8-12; Mt 28:18-20; e Tt 3:4-7.
1 “Confissão de Fé de Westminster”, em SímbolosdeFé: ConfissãodcFéde Wcstminstcr,
Catecismo Maior; BreveCatecismo (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), 27:1.
1 Conferir também Mc 14:22-26; Lc 22:14-20; e 1 Co 11:23-26.
12 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
anglicana, presbiteriana, metodista, etc.) batizam crianças e reco­
nhecem a legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão),
dando preferência ao segundo.
Em virtude dessas controvérsias e da prática católico-romana de
batizar indiscriminadamente qualquer criança, é importante esclare­
cermos porque batizamos filhos menores de crentes professos, e pra­
ticamos batismo por aspersão ou ablução. Esta obra pretende explicar,
resumidamente, a razão das nossas práticas concernente ao batismo,
especialmente no que se refere a essas questões controvertidas.
O livro contém cinco capítulos. O capítulo primeiro aborda o
tema do significado do batismo cristão: como ele deve ser compre­
endido, na ótica reformada. O capítulo segundo lida com a questão
do batismo infantil: o lugar dos filhos da aliança no Antigo e no Novo
Testamento. O capítulo terceiro apresenta respostas reformadas às
principais objeções levantadas contra o batismo infantil. O capítulo
quarto indica os benefícios e as implicações do batismo infantil para
a igreja, para os pais e para as crianças. O capítulo cinco discute a
questão do simbolismo e do modo do batismo, sustentando que os
batismos por aspersão e ablução são tão legítimos quanto o batismo
por imersão.
Que o Senhor da Igreja, o próprio conteúdo do batismo cristão,
faça uso deste pequeno livro para a instrução e a edificação do povo
da aliança.
Capítulo 1
SIGNIFICADO
DO BATISMO CRISTÃO
Do ponto de vista reformado, o equívoco básico daqueles que
não batizam crianças e que exigem o método da imersão reside na
compreensão inadequada da continuidade da revelação da história
da redenção. A progressividade da revelação da obra da salvação, pla­
nejada por Deus na eternidade, não deve eclipsar a sua continuidade
e unidade,1 como cumprimento das promessas da aliança.12 “Existe
uma unidade fundamental da aliança da graça à medida que ela se
desdobra progressivamente por toda a Escritura, de Gênesis 3:15
até o seu clímax, com a vinda de Cristo na ‘plenitude do tempo’ (G1
4:4)”.3 Sinclair Ferguson resume bem a unidade histórica da Igreja,
como segue:
A igreja é organicamente uma em toda a história da revelação redentiva.
Ela consiste de todos os que são abraçados pela aliança de Deus. A graça de
Deus é uma; a fundação da salvação é uma, administrada diferentemente
1 Cf.Jr 31:31-34; Os 1:10-11; Am 9:11-15; Rm 2:28-29; 9:6-8; e G13:7;
2 Cf. Lc 1:54-55, 68-70,72-73; At 2:14-40; 13:32-33; e G13:13-14.
3 Daniel R. Hyde,Jesus Laves the Little Cbildren: Wky WeBaptizc Chihhiv Kà .iiulvillr.
MI: Reformed Fellowship, 2006), 30.
14 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
nas épocas de promessa e cumprimento; o instrumento da justificação é
um, ou seja, fé salvadora; há um único Israel de Deus.4
O Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões
diferentes. A Igreja Cristã não é outra igreja. A igreja de Deus no
Antigo e no Novo Testamento pode ser comparada a uma lagarta e
uma borboleta. Elas são consideravelmente diferentes quanto à for­
ma, mas a mesma na essência.5Tanto é assim, que as palavras igreja/
congregação6e Israel são aplicadas tanto ao povo de Deus no Antigo
Testamento, como ao povo de Deus, no Novo.7
O apóstolo Paulo explica claramente que a igreja Cristã não é
uma nova árvore, e sim apenas um galho enxertado na mesma árvo­
re, cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o “pai de todos os crentes” (Rm
4:11). Abraão é o pai tanto de circuncisos, como de incircuncisos,
“que andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de
ser circuncidado” (Rm 4:11-12). Ele foi um pecador salvo pela graça
de Deus, mediante a fé nas suas promessas, assim como todo crente
genuíno, em todas as épocas.
O que representa o batismo, no entendimento reformado? Ve­
jamos, primeiramente, o que o batismo não é, para, depois, conside­
rarmos o que ele é.
ATESTADO DE SALVAÇÃO?
Primeiramente, é preciso ressaltar que o batismo não é neces­
sariamente um atestado de salvação, um sinal visível de que a pessoa
está incondicionalmente salva. Não se trata de um rito de admissão
pública na igreja invisível, mas na igreja visível - e esta inclui salvos e
não salvos. Conforme argumenta o apóstolo Paulo:
4 Sinclair B. Ferguson, "Infant Baptism View”, em Baptism: Three Views, ed. David F.
Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 100-101.
5 Larry Wilson, Why Does the OPC Baptize Infantsf A Messagefrom the Orthodox Pres-
byterian Church (Willow Grove, PA: The Committee on Christian Education of the
Orthodox Presbyterian Church, 2007), 3.
6 Tradução do termo grego èKKr)oía, correspondente ao hebraico: bnp,
7 ( :f. 1Ib 2:12 (citando o Sl 22:22); At 7:38 e G16:16.
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO D
Nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes
de Abraão, são todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua
descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da
carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da
promessa (Rm 9:6-8).
Existem vários exemplos de membros professos na igreja no
Antigo e no Novo Testamento, os quais foram circuncidados ou ba­
tizados, mas nunca experimentaram o lavar regenerador do Espírito
Santo. Auxiliares diretos do apóstolo Paulo, como Demas, abando­
naram a fé cristã por amarem o presente século (2 Tm 4:10). Tais
pessoas são ‘mcircuncisas de coração” (Jr 9:26; At 7:51). Elas trazem
o sinal da circuncisão ou do batismo, mas não a realidade que eles
representam.89
Referindo-se a essa classe de pessoas, o apóstolo João explica
que "eles saíram do nosso meio [isto é, da igreja visível], porque não
eram dos nossos [membros da igreja invisível]; porque se tivessem
sido dos nossos [da igreja invisível], teriam permanecido conosco [na
igreja visível]; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que
nenhum deles é dos nossos [da igreja invisível]” (1 Jo 2:19).
Parece desnecessário demonstrar o que a História da Igreja e a
experiência tornam evidente: o batismo não atesta, necessariamente,
a salvação daqueles que o recebem.
MEIO DE SALVAÇÃO?
O batismo também não é um instrumento de salvação. O único
meio de salvação, segundo Bíblia, é a graça de Deus, mediante o arre­
pendimento e a fé, operados exclusivamente por meio da Palavra de
Deus lida ou pregada. O batismo não tem poder divino inerente. Em
simesmo, ele não pode regenerar ninguém. Essa doutrina, da regene­
ração batismal, parece ter sido sustentada por vários Pais da Igreja,''
8 Cf. Mt 7:22-23.
9 Tais como Irineu, Cirilo de Alexandria, Tertuliano, Gregóriode Nazi.mzo. rime
outros. Cf. William A. BeVier, “Water Baptism in the First Five Ccnmries. Ini II
Modes of Water Baptism in the Ancient Church”, Bibliotheat Siunt 11e> lf. l < i‘ivh
230-32.
16 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
e é ensinada pela Igreja Católico-Romana. Para a Igreja de Roma,
o batismo confere o mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo,
purificando da corrupção interna, garantindo remissão da culpa do
pecado e a infusão da graça santificadora, unindo o batizado com
Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus.1011Na teologia católico-romana,
a eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante,
nem dos méritos do batizado, mas da própria ação sacramental.
Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si
mesmo. Ele não opera uma nova vida. Ele a pressupõe e fortalece,
mas não a opera nem garante, como declara a Confissão de Fé de
Westminster:
Posto que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança,
contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas
a ela, que sem ela uma pessoa não possa ser regenerada e salva, ou que
sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados."
É preciso ressaltar, como faz Pierre Marcei, que, à luz das Es­
crituras:
A Palavra ouvida e crida, antes e depois do batismo, contém todos os dons,
os quais são plenamente alcançados mediante a fé. Não existe um só dom
que não possa ser comunicado pela Palavra, e sim pelo sacramento.12
ESSENCIAL A SALVAÇÃO?
A Igreja Católica considera que o batismo é necessário para a
salvação. Nós, protestantes, não pensamos assim. O batismo é obri­
gatório, por obediência aos preceitos de Deus - e a nossa desobediên­
cia a esse preceito naturalmente resulta em empobrecimento espiri­
tual, como acontece com a desobediência a outros preceitos bíblicos.
Entretanto, essa concepção do batismo como essencial à salvação é
contrária ao caráter espiritual do evangelho, que não condiciona a
10 Newman, Lectures onJustificoticm, 257. Citado em Alexander Hodge, Ouüines of
Theology (Edinburgh: Banner of Truth, 1972), 625.
11 Capítulo XXVIII, parágrafo V
12 Pierre Charles Marcei, ElBautismo: Sacramento deiPacto de Grada (Rijswijk: Funda-
cion Editorial de Literatura Reformada, 1968).
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 17
salvação a formas externas (Jo 4:21-24). O ladrão arrependido na cruz
é evidência incontestável desse fato. Jesus afirmou que naquele mes­
mo dia ele estaria consigo no paraíso, apesar de não haver recebido o
sacramento do batismo.
Do ponto de vista protestante, considerar o batismo como in­
dispensável à salvação significa atribuir a essa ordenação bíblica um
caráter supersticioso, incompatível com o evangelho de Cristo.
CONTINUAÇÃO DA CIRCUNCISÃO
Se o batismo não é um atestado de salvação, um meio de salva­
ção, nem é essencial à salvação, o que é ele, então? É a continuação
da circuncisão. É a versão evangélica da circuncisão; o correspondente
neotestamentário do sacramento vétero-testamentário da circuncisão.
Os dois sacramentos do Antigo Testamento, a páscoa e a cir­
cuncisão, não foram abolidos, e, sim, substituídos. A páscoa, o sacra­
mento comemorativo da igreja visível, foi transformada porJesus na
santa-ceia, a ceia da nova aliança, quando ele participou da páscoa
pela última vez (Mt 26:26-30). A circuncisão, o sacramento de admis­
são na igreja visível, foi transformada no batismo cristão, visto que
não mais haveria necessidade de derramamento de sangue, uma vez
que o Cordeiro Pascal estava prestes a ser imolado.
Colossenses 2:11-12 “relaciona daramente a circuncisão com o
batismo, e ensina que a circundsão de Cristo, isto é, a do coração,
representada pela circuncisão da carne, é cumprida pelo batismo, ou
seja, pelo que este significa”.13 Nessa importante passagem bíblica,
“enfatizando a continuidade da aliança, assim como a natureza
da mudança do sinal que a acompanha”,14 o batismo cristão é
chamado explidtamente de “circundsão de Cristo”, isto é, a cir­
cuncisão cristã:15
13 Ibid., 159.
14 Chapell, WhyDo WeHaplizetnfanlsí, 14.
15 Trata-se de um uso comum do genitivo (o genitivo descritivo), com função adjeti­
va, como nos seguintes exemplos: tò CTüjpaTÍjç àpapTÍaç, ocorpodopecado, isto é,
pecaminoso (Rm 6:6); êv tü atópan Tfjç crapicós, nocorpodacarne, isto é, carnal (Cl
1:22); TÒ (MuTKTpa ’lomvou, o batismodeJoão, isto éjoanino (Mt 21:25).
18 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
Nele, também fostes drcunddados, não por intermédio de mãos, mas no
despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido
sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes
ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre
os mortos.
O argumento do apóstolo Paulo é evidente: nós, cristãos, tam­
bém fomos drcunddados, não com o corte do prepúcio, mas com
o batismo cristão, o qual, por ter o mesmo significado e substituir a
circuncisão judaica na nova aliança, pode ser referido como circunci­
são cristã. Conforme explica Ferguson:
A preocupação de Paulo, em Colossenses 2:11-15, é ressaltar a importância
da obra de Cristo, a qual simultaneamente cumpre o significado da
circuncisão e fundamenta o significado do batismo. Nesse sentido, os dois
sinais, cada um dentro da sua própria aliança, apontam para uma mesma
realidade.16
Marcei destaca a correspondência entre a drcundsão e o batis­
mo, como segue:
A promessa, que é o fundamento da circuncisão, é igualmente do batismo;
o representado é o mesmo; a causa, que é o amor de Deus, é a mesma; o
conteúdo, Jesus Cristo, é o mesmo; a razão e o motivo pelos quais nos foi
dado o sinal são os mesmos... o uso e eficácia são idênticos, assim como
as condições de admissão. Eles só diferem com relação à natureza do sinal
externo: depois de Jesus Cristo, um sacramento não podia mais ser um
sacrifício sangrento.17
É importante reconhecer, com relação à circuncisão, conforme
ressalta Murray, que:
A sua significação primária e essencial era que ela era sinal e selo das mais
elevadas e ricas bênçãos espirituais que Deus dispensa aos homens... A
16 Sinclair B. Ferguson, “Infant Baptism Response”,em Baptism: Three Views, ed. Da-
vid F. Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 58.
17 Marcei, El Bautismo: Sacramento deiPacto deGrada, 158 (ênfases do autor). Quanto
à diferença relacionada às mulheres, Marcei escreve: "visto que esse sinal do Senhor
[a circuncisão] demonstrava a santificação da sementede Israel, é certo que o mesmo
servia tanto para os varões como para as mulheres; sem dúvida, não era aplicado às
mulheres, porque a sua natureza não permitia” (ibid, 161; ênfase do autor).
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 19
aliança feita com Abraão é, nos termos em que ele recebeu a promessa,
que nele seriam abençoadas as famílias da terra. É nos termos dessa
aliança que ele é o pai de todos os fiéis. E essa aliança que é desdobrada no
Novo Testamento e é nos termos dessa aliança que a bênção de Abraão
vem aos gentios.18
Subsidiariamente, a circuncisão indica uma identidade nacio­
nal e implica em bênçãos materiais. Contudo, nem a aliança, nem
o seu selo, a circuncisão, devem ser limitados a essa identidade
nacional. A natureza espiritual (mais ampla e profunda) da aliança
com Abraão e do seu sinal e selo, é indicada nas palavras da própria
aliança: “Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (cf. Jr 31:33; Gn
17:7; Êx 19:5-6; Dt 7:6).1920
SINAL E SELO DO PACTO DA GRAÇA
Visto que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica,
ele representa, para a igreja visível no Novo Testamento, o mesmo
que a circuncisão representava para a igreja visível no Antigo Testa­
mento: o sinal visível e o selo21’da aliança que Deus fez com Abraão,
o “pai de todos os crentes”.21 Esse é o papel da circuncisão, con­
forme as palavras do próprio Senhor a Abraão, por ocasião da
instituição dessa ordenança, em Gênesis 17:1-13:
Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o
SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha
presença e sê perfeito. Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei
extraordinariamente... será contigo aminhaaliança;seráspaide numerosas
18 Murray, Christian Baptism, 46.
19 Ibid., 47. Com relação ao significado espiritual da circuncisão, ver Dt 30:6;Jr 4:4;
Rm4:ll; eFp3:3.
20 Cf. Rm 4:10. Assim como uma aliança de casamento simboliza e sela o pacto de
companheirismo e fidelidade entre um homem e uma mulher que se unem por
amor; ou a autenticação de um documento em cartório.
21 A aliança com Abraão é uma administração histórica do pacto etemo da redenção,
entre as trêspessoas da Trindade, com vistas à salvação dos eleitos de Deus, por meio
da obra redentora de Cristo e operação do Espírito Santo. Mais sobre o pacto da
redenção em Paulo Anglada, Imago Dei: Antropologia Reformada (Ananindeua: Knox
Publicações, 2013). 135-96.
20 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
nações... estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência
no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da
tua descendência. Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança,
tu e a tua descendência no decurso das suas gerações... Circundareisa carne
do vossoprepúcio; será isso porsinal de aliança entremim evós.O que tem oito
dias será drcuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o
escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que
não for da tua estirpe. Com efeito, será drcuncidado o nascido em tua
casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne
e será aliança perpétua (ênfase minha).
A circuncisão dos israelitas e dos prosélitos do judaísmo era,
portanto, um sinal externo de confirmação do pacto de Deus com
Abraão, segundo o qual ele (Abraão) e seus descendentes constitui­
ríam a igreja visível de Deus na terra - e não meramente símbolo da
fé dos beneficiários. “Como todos os sinais de aliança, a circuncisão
significava a atividade e graça divinas, às quais os recipientes eram
chamados a responder com fé (cf. Gn 17:11). Ela não significava a
própria fé”.22Por conseguinte:
O pacto da graça é o fundamento do batismo.
Quando buscamos o fundamento do batismo, não basta dizer que o
encontramos em Cristo. Ele é o conteúdo do batismo, e como tal, seu
lugar é eminente. Mas o verdadeiro fundamento dessa ordenança deve
buscar-se na profundidade do decreto de Deus pelo qual Cristo nos foi
dado, graças ao qual o Eterno veio a ser “Deus conosco”, e nos é revelado
no pacto da graça.23
Como resume Samuel Miller: a "circuncisão era um sinal de
visível membresia na família de Deus, e da obrigação pactuai para
com Ele”.24 O batismo cristão, assim como a circuncisão judaica,
22 Ferguson, "Infant Baptism Response”, 55.
23 Marcei, EIBautismo: Sacramento deiPacto de Grada, 154 (ênfases do autor). Ver ex­
planação completa de Marcei sobre o pacto da graça como fundamento do batismo,
nas páginas 154-58.
24 Samuel Miller, Infant Baptism: Scriptural and Reasonable and Baptism by Sprinkling
orEffitsion: theMost Suitableand EdifyingMode (Philadelphia:Joseph Whethan, 1835;
reimpressão, Dahlonega, GA: Crown Rights Book Company, 2008), 23.
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 21
é, por conseguinte, o sinal externo solene de admissão na igreja visí­
vel, distinguindo o povo da aliança das demais pessoas. Conforme
explica a Confissão de Fé de Westminster, tanto o batismo, como
a ceia do Senhor (os sacramentos):
São santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por
Deus para representar Cristo e os seus benefícios, e confirmar o nosso
interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que
pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente obrigá-los ao
serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra.25
O sinal da circuncisão não implicava necessariamente em que
todos os de Israel, a igreja visível no Antigo Testamento, fossem ou
seriam verdadeiros israelitas (isto é, membros da igreja invisível), ou
seja: que necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salva­
dora. Para isso, eles precisavam se arrepender dos seus pecados c
crer nas promessas da aliança, principalmente na obra messiânica
da redenção (a aliança é condicional).26 A circuncisão também não
implicava em que os gentios não pudessem se tornar membros
da aliança - eles também poderiam ser admitidos na igreja visível
e receber o seu sinal e selo. O sinal da circuncisão implicava, sim,
em que os judeus e gentios circuncidados (prosélitos do judaís
mo) seriam considerados povo de Deus, objeto do seu cuidado
peculiar e da sua bênção, possuidores da sua revelação especial, e
instrumentos da sua graça para todos os povos.
Os compatriotas de Paulo segundo a carne desfrutaram de
privilégios especiais, tais como "a adoção, e também a glória, as
25 Capítulo XXVII, parágrafo I.
26 Quanto ao aspecto negativo da circuncisão e do batismo, como consequência da
desobediência obstinada aos termos da aliança, ver Hyde, Jesus Loves the Littk Chil-
dren, 15-16 e 22-25. Hyde ressalta que "o batismo [assim como a circuncisão] também
é um sinal de maldição... Para aqueles que crêem no que o batismo significa, ele é
um sinal e selo das suas bênçãos em Cristo, mas para aqueles que rejeitam o que o
batismo significa, é um sinal e selo dojulgamento deles como violadores da aliança”
(Ibid., 22). Na mesma linha, Ferguson escreve: ''Reversamente, quando se depara
com obstinada incredulidade, esses sinais [batismo e ceia do Senhor] confirmarão o
julgamento que eles implicam (cf. 1 Co 11:27-32; cf. Hb 3:7; 47)'' (“Infant Baptism
View”, 93; ver também pp. 96-100).
22 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas
e também deles descende o Cristo, segundo a carne...” (Rm 9:3-4).
Após demonstrar a culpabilidade universal de gentios e judeus o
apóstolo Paulo pergunta: "Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou
qual a utilidade da circuncisão?” Ele mesmo responde: “Muita, sob
todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confia­
dos os oráculos de Deus” (Rm 3:1-2).
À luz do que foi dito até aqui, podemos chegar à seguinte con­
clusão: obatismo, assim comoa circuncisão, éoritopúblico ouforma externa
determinadaporDeuspara simbolizareselara admissão depessoasna igreja
visível, como beneficiárias do pacto eterno da graça e objeto do seu cuidado
especial, com vistas à promoção do reino edaglória de Deus no mundo.
REPRESENTA UNIÃO COM CRISTO
E TODOS OS BENEFÍCIOS DECORRENTES
Passagens bíblicas como Romanos 6:3-6; 1 Coríntios 12:13;
Gálatas 3:27-28; e Colossenses 2:11-12, indicam que o batismo repre­
senta a união mística do crente com Cristo, e todas as bênçãos da
aliança, realizadas pela operação do Espírito, mediante a fé salvadora
na sua obra redentora. Afinal, todas as promessas da aliança têm
cumprimento nele (2 Co 1:20). Conforme explica Marcei:
Quando alguém recebe o evangelho com fé verdadeira, recebe os
benefícios que o mesmo promete; quando recebe o batismo com fé,
recebe as bênçãos de que este é sinal e selo. Para quem o recebe - exceto se
não for sincero - o batismo é um ato de fé, pelo qual e no qual se apropria
das bênçãos da redenção de Cristo que lhe são oferecidas.27
As próprias palavras da instituição do batismo, em Mateus 28:19,
apontam para essa realidade: “Fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em [ou para]28nome do Pai, e do Filho, e do Espírito San­
to”. Com base nessa e em outras passagens bíblicas, Ferguson chama
atenção para a amplitude do significado do batismo, como segue:
27 Marcei, El Baulismo: Sacramento dei Pacto de G rada, 166.
28 Tradução da preposição grega eiç, para, em direção à, para dentro de.
1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 23
No batismo, o nome do Senhor nos é dado (Mt 28:18-20). Batismo é uma
cerimônia nominativa. Nesse sentido, batismo em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo consuma a bênção triúna da aliança da época mosaica
(Nm 6:22-26). Nosso grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, anuncia as
bênçãos. Somos batizados para o seu nome, com vistas aos seus recursos
salvíficos, suas posses, autoridade e comunhão. Batismo, portanto, aponta
primariamenteparaCristo,dequem asmultifacetáriasbênçãosdaredenção,
justificação e santificação são recebidas pela união de fé (1 Co 1:30).29
O batismo significa tudo o que está em Cristo para nós; ele aponta para
tudo o que ele fará por nós e tudo o que nos tomaremos nele.30
O batismo simboliza, portanto,justificação, redenção, regenera­
ção, purificação dos pecados, e todas as bênçãos decorrentes da nossa
união com Cristo,31 sendo união e purificação os seus simbolismos
proeminentes.
Murray também explica o significado básico do batismo:
Batismo significa união com Cristo em virtude da sua morte e do poder
da sua ressurreição, purificação da contaminação do pecado pela graça
renovadora do Espírito Santo, e purificação da culpa do pecado pela
aspersão do sangue de Cristo.32
Ser "batizado em Cristo” é ser unido a ele nos laços dessa união que nos
toma beneficiários de todas as bênçãos da redenção e nos compromete
com seu Senhorio.33
Por que razão Deus escolheu esses símbolos específicos: circun­
cisão e batismo, como sinais e selos do pacto da redenção? Em função
do significado purificador que eles encerram. Eles comunicam a idéia
de limpeza e purificação.34A circuncisão e o batismo apontam para
o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo (Tt 3:5; At 22:16), por
29 Ferguson, “Infant Baptism View”, 89-90.
30 Ibid., 91.
31 Cf. At 2:38; 22:16; Ef 5:26; Hb 10:22; Rm 4:11; e 1 Co 1:30.
32 Murray, Christian Baptism, 5.
33 Ibid., 29-30. Ver também Marcei, El Bautismo: Sacramento dei Pacto de (Inicia.
145-52.
34 Cf. Isaías 52:1, onde apalavra drcundsão é empregada como sinônimo di- Iiiii| hv.i
24 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
meio do arrependimento e da fé salvadora em Cristo. Os símbolos
não operam, não garantem, nem são essenciais à salvação. Contudo,
eles apontam para a separação cerimonial, espiritual e moral do povo
da aliança, e para as realidades espirituais por eles significadas, asso­
ciadas à obra redentora de Cristo.35
Isso não significa, também, que a circuncisão e o batismo, sinais
de admissão na igreja visível, sejam sempre subsequentes aos benefí­
cios espirituais simbolizados. “A eficácia do batismo não se limita [ou
está atada] ao momento em que é administrado”.36
Por que a circuncisão foi substituída pelo batismo na nova alian­
ça? Devido ao caráter tipológico do Antigo Testamento e ao caráter
universal do Novo. O sangue derramado na circuncisão, como em
quase todas as cerimônias da antiga aliança, apontava para o sangue
purificador do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. A
água, utilizada no batismo, explicaJohn Sartelle:
É um agente universal de limpeza. Não seria de esperar que poeira, folhas
ou suco de frutas fossem usados para significar limpeza. Eles não são
usados para tornar limpos os nossos corpos. A água, entretanto, é usada
diariamente no mundo inteiro como agente de limpeza.37
35 O perdão dos pecados (At 2:38), da união com Cristo (Gl 3:26-29), do revesti­
mento de Cristo (Gl 3:28), da nova vida em Cristo (Rm 6:4), da unidade cristã (1
Co 12:13), etc.
36 "Confissão de Fé de Westminster”, 28:6.
37 John P. Sartelle, What Christian Parents Should Know about Infant Baptism (Phillips-
burg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1985), 7.
Capítulo 2
O BATISMO
E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA
E com relação às crianças: elas devem ser batizadas? A resposta
a essa pergunta depende da resposta a uma questão mais ampla: qual
é a condição das crianças no pacto da graça ou da redenção? Elas
fazem parte da família da aliança?
NO ANTIGO TESTAMENTO
A questão realmente importante acerca do batismo infantil
como a circuncisão cristã, portanto, é a seguinte: as crianças foram
incluídas como beneficiárias do pacto que Deus fez com Abraão? A
resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão, as
crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias da alian­
ça, isto é, como membros da igreja visível no Antigo Testamento.
Por essa razão, elas deveríam ser circuncidadas: "o que tem oito dias
será circunddado entre vós, todo macho nas vossas gerações” (Gn
17:9-12). A circuncisão podería ter sido instituída apenas para os adul­
tos. Deus podería ter ordenado a Abraão que as crianças de Israel
l<>ssemrecebidas como membros do pacto apenas quando se tornas
sem adultas e evidenciassem fé nas promessas da aliança. Entretant(>,
isso não ocorreu. As crianças também foram incluídas, porque ei a
26 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
propósito de Deus que a sua aliança fosse com Abraão é com a sua
descendência, desde a mais tenra idade.'
É importante compreender que a aliança que Deus fez com
Abraão, o pacto da graça, é a implementação histórica de uma
aliança eterna, que nunca foi anulada. Essa aliança, cujo selo era a
circuncisão, e agora é o batismo, a "circuncisão de Cristo”, é ante­
rior à lei de Moisés e, portanto, continua vigorando. O pacto da lei
foi abolido, é verdade, bem como as suas leis cerimoniais - a lei de
Moisés representa um parêntesis na história da redenção. Entretan­
to, a aliança da graça com Abraão, instituída cerca de quatrocentos
anos antes da lei de Moisés, jamais foi revogada. Trata-se de uma
"aliança eterna”. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, sofreram
transformações: primeiro, havia somente a circuncisão; depois, foi
acrescentada a páscoa; posteriormente, ambas foram substituídas
pelo batismo e pela ceia do Senhor. A forma externa, portanto, dos
sacramentos da aliança mudou, porém a aliança permanece em vi­
gor (cf. Gl 3:7-9,14,29).
É esse o argumento do apóstolo Paulo em Gaiatas 3:17. De­
monstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com
Abraão, ele assevera que “uma aliança já anteriormente confirmada
por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode
ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.”
Por conseguinte, a aliança mencionada no Novo Testamento
não é outra aliança, uma aliança recentemente estabelecida, que
anulou a aliança feita com Abraão. E a mesma aliança, renovada por
Jesus, o Mediador da aliança (cf. Gl 3:27,29). A palavra traduzida por
nova, na expressão "nova aliança”, não traduz o termo grego véoç,12
e, sim, K aivós, como em novos céus e nova terra - onde a palavra
certamente não denota outros céus e outra terra, mas os mesmos
céus e a mesma terra renovados.
1 Na realidade, os filhos foram incluídos não apenas na aliança com Abraão, mas
em codas as alianças no Antigo Testamento: com Adão (Gn 15:3), com Noé (Gn 9:8),
com Moisés (Dt 29:1-15), etc.
2 Novo, geralmente usada com o sentido dejovem, recente; outro.
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 27
O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo
corpo. Pertencemos à “comunidade do pacto”. Somos os verdadei­
ros descendentes de Abraão: “os da fé é que são filhos de Abraão” (G1
3:7). A Igreja Cristã são os ramos que, enxertados, tornaram-se parti­
cipantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira que representa o
povo de Deus na antiga dispensação (Rm 11:17). O meio de salvação
também não mudou. Somos salvos, hoje, da mesma maneira como
foram salvos os crentes na antiga dispensação, isto é, pela graça sobe­
rana de Deus mediante o arrependimento e a fé nas suas promessas,
entre as quais a principal era a vinda e a obra do Messias, o Redentor
de Israel.3‘A dispensação do evangelho é o desdobramento da alian­
ça com Abraão, a extensão e o alargamento da bênção comunicada
por meio dessa aliança ao povo do Antigo Testamento. Abraão é o
pai de todos os crentes”.4 A diferença é meramente relacionada ao
tempo: “No tempo do Antigo Testamento, as pessoas eram salvas ao
confiarem na obra redentora que Deus proveria em Cristo. Hoje, as
pessoas são salvas ao confiarem na obra redentora que Deus proveu
em Cristo”.5Como resume Miller:
Tudo o que é essencial à identidade eclesiástica é evidentemente
encontrado aqui [na igreja na antiga e na nova aliança |. O mesmo Cabeça
divino; as mesmaspreciosas alianças; o mesmo grande propósito espiritual;
o mesmo sangue expiatório; o mesmo Espírito santificador...6
Logo, por que razão os filhos dos membros da aliança na nova
dispensação deveríam ser excluídos da comunidade do pacto, isto é, da
igreja visível? Por que negar-lhes o selo da aliança: o batismo cristão?
NO NOVO TESTAMENTO
Se o batismo é o selo do pacto da graça, e as crianças na an­
tiga dispensação estavam incluídas como beneficiárias desse pacto, a
pergunta que deve ser feita, agora, na dispensação do evangelho, é a
3 Verjo 8:56; Rm 4:1-17; e Ef 2:20-23 (cf. Hb 10:1-12).
4 Murray, ChristianBaptism, 48.
5 Wilson, WhyDoes the OPCBaptizeInjànts?, 3.
6 Miller, InfantBaptism, 18.
28 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
seguinte: o Novo Testamento exclui as crianças da condição de bene­
ficiárias do pacto da graça? A resposta é não. Em nenhum lugar no
Novo Testamento os filhos dos que pertenciam à aliança — os quais
tão enfática e explidtamente nela foram incluídos em Gênesis 17 —
são excluídos. Pelo contrário, no Novo Testamento há declarações
que não teriam sentido se elas devessem ser excluídas dessa condição.
Primeiramente, o próprio SenhorJesus afirma que as crianças
pertencem ao seu reino: "deixai vir a mim os pequeninos e não os
embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus” (Lc 18:16). Fazendo
referência a este acontecimento, Francis Turretin, teólogo reformado
do século XVII, pergunta:
Poisbem,se foicorreto osinfantes serem trazidos aCristo,porque também
não serem recebidos para batismo, o símbolo da nossa comunhão com
Cristo? Por que a Igreja não deveria receber no seu seio aqueles a quem
Cristo recebeu no seu?7
Pedro confirma que a promessa incluios filhosdapromessa: “pois
para vós outros é apromessa, para vossos filhos e para todos os que ain­
da estão longe” (At 2:39). Pedro podería ter dito apenas que apromessa
era “para vós outros e para todos os que ainda estão longe”. Mas acres­
centou “para vossos filhos”. Por que razão ele diria isso, se os filhos
devessem ser excluídos da família da aliança na nova dispensação?8
7 Francis Turretin, Institutes of Elenctíc Theology, trad. George Musgrave Giger, ed,
James T. Dennison, vol. 3 (Philippsburg: Puritan & Reformed, 1997), 417. Por que,
então (alguém pode perguntar),Jesus apenas abençoou, mas não batizou essas crian­
ças? Porque, Jesus não julgou oportuno batizar ninguém naquele estágio da história
de redenção (cf.Jo 4:2). Contudo, como explica Ferguson, a linguagem pactuai deJe­
sus, ao abençoar essas crianças, estabelece “o fundamento teológico para o batismo
infantil” (Ferguson, “InfantBaptismView”, 109).
8 Os credobatistas limitam o significado do termo “promessa”, aqui, exdusiva-
mente ao derramamento do Espírito, praticamente eliminando a sua relação com
a aliança com Abraão (cf. Bruce A. Ware, “Believers' Baptism View”, em Baptism:
Three Views, ed. David F. Wright [Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009], 35-37). Essa
interpretação, entretanto, não explica a inclusão deliberada da expressão “e paravos­
sos filhos”, entre “para vós” e "para todos os que ainda estão longe”;nem fazjustiça
à perspectiva futura da promessa da aliança (como em Jeremias 31:31-34 e 32:38-40),
conforme argumenta Ferguson (“Infant Baptism Response”, 57-58; e “Infant Bap­
tism View”, 103).
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 29
O apóstolo Paulo, por sua vez, reconhece a posição dos filhos
como “santos”, quando pelo menos um dos pais é crente. Escreven­
do aos Coríntios, ele orienta os cônjuges que haviam se convertido
a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente,
argumentando que “o marido incrédulo é santificado no convívio
da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido
crente”. E acrescenta: "Doutra sorte, os vossos filhos seriam impu­
ros; porém, agora são santos” (1 Co 7:14). Isto é, os filhos de pelo
menos um cônjuge crente são considerados "santos”9- no sentido
cerimonial, designando separação do mundo para Deus, consagração,
frequentemente empregado para designar membros da igreja visível,
no Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo.1011
Existem também exemplos implícitos da prática do batismo
infantil nas páginas do Novo Testamento, quando casas inteiras (fa­
mílias) foram batizadas. É o caso de Lídia, do carcereiro de Filipos e
de Estéfanas, entre outros.
Acerca de Lídia, é dito que o Senhor abriu o seu coração para
crer, e logo foi “batizada, ela e toda a sua casa” (At 16:14,15). Com
relação ao carcereiro de Filipos, havendo ele perguntado a Paulo e
Silas o que deveria fazer para ser salvo, eles responderam-lhe: “crê no
SenhorJesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra
de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os
seus” (At 16:30-33).“ Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo
havia batizado estava a “casa de Estéfanas” (I Co 1:16). E improvável
que não houvesse crianças nessas famílias judaicas (geralmente nu­
9 Por que, então, não batizamos os cônjuges não-crentes e os filhos adultos, junta­
mente com os filhos pequenos? Porque, na condição de adultos, eles são responsá­
veis por fazer ou não a sua própria profissão de fé, enquanto as crianças, incapazes de
professar fé, são admitidas nessa condição, com base na fé dos pais (ou de um deles),
até alcançarem a idade da razão.
10 Cf. Rm 1:7; 8:27; 12:13; 15:25,26; 16:15; 1 Co 1:2; 6:1,2; 14:33; 16:1,15; 2 Co 1:1; 8:4;
9:1,12; 13:13; Ef 1:1,15; 2:19; 3:8,18; 4:12; 5:3; 6:18; Fp 1:1; 4:21,22; Cl 1:2,4; 3:12; etc.
11 A expressão "por terem crido em Deus”, no verso 34, está no singular no original
(TTemaTeuKCÍis) - assim como "crê”, no verso 31 - devendo, portanto, ser traduzida:
“por tercrido em Deus”, fazendo referenda apenas à fé do carcereiro.
30 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
merosas), ou que todos os membros adultos tenham se convertido
no mesmo momento, ou, ainda, que os membros adultos da família
fossem batizados com base apenas na fé dos pais. A referência, por­
tanto, deve ser aos filhos menores.
A realidade é que o batismo de famílias não é exceção, mas a
norma no Novo Testamento: dos nove casos nominais de batismo
mencionados: Simão, o mágico (At 8:13), o eunuco etíope (At 8:38),
Paulo (At 9:18), Cornélio (At 10:48; 11:14), Lídia (At 16:15), o carcerei­
ro de Filipe (At 16:33), Crispo (At 18:8; 1 Co 1:14), Gaio (1 Co 1:14) e
Estéfanas (1 Co 1:16); dois não tinham família: o eunuco etíope e Pau­
lo; e cinco tiveram as suas famíliasbatizadas: Cornélio, o carcereiro de
Filipe, Lídia, Crispo e Estéfanas. Não obstante, lembra Ferguson:
Isso, em si mesmo, não é o ponto significativo. O ponto é que o batismo
de uma casa inteira, como tal (At 16:15; 1 Co 1:16), ecoa o padrão que
governa a circuncisão cm Gênesis 17:11-14.12
Ademais, vários Pais da Igreja reconhecem e mencionam a prá­
tica do batismo infantil. Especialmente a partir do século terceiro,
quando a produção literária cristã preservada se torna mais abundan­
te, há evidências explícitas da prática generalizada de batismo infantil,
por exemplo, nos escritos de Tertuliano (160-230), Flipólito de Roma
(170-236), Orígenes (185-254) e Cipriano (200-258).13Posteriormente,
Agostinho afirmou que “nenhum conciliojamais ordenara o batismo
infantil por ser esta uma prática que vinha desde os tempos apostóli­
cos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja que sustentasse
o contrário”. O Concilio de Cartago recebeu consulta se era lícito
batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do
batismo infantil a partir do oitavo dia de vida era comum.14
12 lêrguson, “Infant Baptism View”, 106.
13 Na presidência do Concilio de Cartago, no ano 253, expressando a decisão unâni­
me de sessenta e seis bispos presentes no Concilio. (Cf. Miller, InfantBaptism, 34-35).
14 Mais informações históricas acerca da prática de batismo infantil, em Joachim Je­
remias, Infant Baptism in the First Four Centuries, trad. David Caims (London: SCM
Press, 1960); Miller, Infant Baptism, 32-44.
2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 31
Não precisamos estranhar que Deus tenha incluído os filhos e
a descendência na sua aliança na nova dispensação. Ele se relaciona
salvífica e judicialmente não apenas com indivíduos, mas com famí­
lias. “Em todos os casos, no Antigo Testamento, o padrão de admi­
nistração da aliança inclui um princípio de inclusão da família e de
gerações subsequentes”.15Foi assim com Adão (Rm 5:12,15,18,19; 1
Co 15:21-22), com Noé (Gn 6:18; 9:8-9; Hb 11:7), com Abraão (Gn
17:7-8; cf. Êx 2:24-25), com Moisés (Êx 2:24; cf. 6:1-8; 12:24-27), com
Davi (2 Sm 22:51; 23:5; 1 Re 11:11-12; Sl 89:1-4), e com outros no
Antigo Testamento. Conforme argumenta Miller:
A ligação íntima e afetuosa entre pais e filhos fornece um forte argumento
em favor da membresia eclesiástica da descendência infantil dos crentes.
A voz da natureza se levanta e dama muito poderosamente em favor
da nossa causa. A idéia de separar os pais da sua prole, com relação à
mais importante das relações nas quais aprouve a Deus na sua adorável
providênda colocá-los, é igualmente repugnante ao sentimento cristão e
à lei natural.16
Essa verdade bíblica é expressa na conhecida exclamação de
Moisés:
Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em
misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que
perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o
culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até
à terceira e quarta geração!17
E conduziu o salmista a escrever:
A misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que
o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos, para com os que
guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos
e os cumprem.18
15 Gregg Strawbridge, Baptism in the Bible and Infant Baptism, 4, Internet; http:/ /
www.paedobaptism.com/fUes/baptisminthebible.pdf, acessado em 8/05/2014.
16 Miller, InfantBaptism, 16.
17 Em Êx 34:6-7.
18 Sl 103:17-18.
Capítulo 3
OBJEÇÕES CONTRA
O BATISMO INFANTIL
Algumas objeções são comumente levantadas contra o batismo
infantil. As mais frequentes são as seguintes:
NÃO EXISTE MANDAMENTO
BÍBLICO EXPLÍCITO PARA BATIZAR CRIANÇAS
E verdade. Se houvesse, não havería razão para a discussão so­
bre o assunto. Como observa Chapell: "A igreja não teria debatido
as questões que envolvem o batismo infantil durante séculos, se as
respostas certas fossem óbvias”.1Contudo, um mandamento como
esse não seria necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre
foram reconhecidas como membros da igreja visível no Antigo Tes­
tamento. Seria de se esperar o contrário, isto é, um mandamento
(que também não existe, é preciso ressaltar) para excluir as crianças
da igreja no Novo Testamento, uma vez que as próprias promessas
da nova aliança explicitamente incluíam a descendência.12Conforme
argumenta Ferguson:
1 Chapell, WhyDoWeBaptizelnfants?, 15.
2 Cf. Dt 30:6; Jr 31:33-37; 32:37-40; Ez 37:24-26; J1 2:1-29; Is 44:3; 54:10-13; 59:20-21;
eM l 4:5-6.
34 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
Visto que... todas as administrações anteriores da aliança incluem os
filhos da aliança, e ambos, o povo de Deus e o caminho da graça são
organicamente um em toda a Escritura, a ab-rogação do princípio “tu e
a tua descendência” requereria uma proclamação decisiva e específica.
Na realidade, à luz do relacionamento integral entre aliança e o princípio
da descendência, pode ser questionado se ele podería ser abandonado e a
própria administração pactuai permanecer.34
Também não existe mandamento explícito instituindo o do­
mingo como o dia do descanso cristão, nem há mandamento bíblico
explícito facultando às mulheres participação na ceia do Senhor! Não
existe, igualmente, nenhuma passagem nas Escrituras ensinando ex­
plicitamente a doutrina da Trindade. Nem por isso, entretanto, os que
questionam o batismo infantil rejeitam essas práticas e doutrina.
O que determina se uma doutrina ou prática é bíblica não é
apenas se ela é ensinada explicitamente nas Escrituras. Doutrinas e
práticas são igualmente bíblicas quando elas são lógica e claramente
inferidas do ensino geral da Bíblia, como as acima mencionadas. A
Confissão de Fé de Westminster expressa bem esse princípio teológi-
co-hermenêutico, quando afirma:
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para
a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente
declarado na Escritura ou pode ser lógica e daramente deduzido dela.'1
Respondendo a essa objeção, Samuel Miller conclui a sua argu­
mentação em defesa da legitimidade do batismo infantil, como segue:
Quando o próprio Mestre dedara com relação aos infantes, “dos tais é
o reino dos céus”; quando um apóstolo inspiradamente proclama: “a
promessa é para nós e para os nossos filhos”;e quando vemos daramente,
3 Ferguson, “Infant Baptism View, 102-03. Chapell também ressalta que “a elimina­
ção de qualquer sinal da aliança nos filhos dos crentes teria sido uma enorme mudan­
ça na prática e conceito para as famíliasjudaicas. Depois de dois mil anos de prática
de aliança familiar (estabelecida desde Gênesis), um pai judeu crente não sabería
como interpretar a continuidade da aliança abraâmica que não administrasse o sinal
da aliança aos filhos” (Chapell, WJtyDo WeBaptize Infants?, 16).
4 "AConfissão de Fé de Westminster", 1:6.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL . 4 5
sob a administração apostólica da igreja, famílias inteiras recebidas na
igreja, repetidas vezes, com base na profissão de fé de indivíduos que eram
seus cabeças representativos, exatamente como sabemos que ocorria na
antiga dispensação, quando a membiesia de infantes era indisputada;
quando lemos coisas como essas no Novo Testamento, certamente não
podemos reclamar da falta de testemunho que deveria satisfazer qualquer
inquiridor razoável.5
NÃO EXISTEM EXEMPLOS CLAROS DE
BATISMO INFANTIL NO NOVO TESTAMENTO
É verdade. Entretanto, existem exemplos implícitos: as referên­
cias a batismos de famílias inteiras, etc.
Por outro lado, se não existe exemplo explícito de batismo in­
fantil no Novo Testamento, convém observar que também não exis­
tem referências explícitas a batismos de adultos nascidos e criados
em lares cristãos - o que seria de esperar que acontecesse, se eles não
fossem batizados na infância. Apesar disso, o batismo dessa classe de
pessoas é defendido por aqueles que rejeitam o batismo infantil.
JESUS SÓ FOI BATIZADO
AOS TRINTA ANOS DE IDADE
O batismo de Jesus não serve de argumento contra o batismo
infantil. O batismo deJoão não deve ser identificado com o batismo
cristão. Tanto é assim que pessoas batizadas por ele, quando conver­
tidas à fé cristã, foram batizadas novamente, em nome deJesus.6
O batismo de Jesus por João Batista provavelmente deve ser
entendido como um marco do início do ministério público de Jesus,
semelhante à solenidade de lavagem dos sacerdotes, no Antigo Tes­
tamento, antes de realizarem o seu oficio.7É provável, como sugere
George Ladd, que o pano de fundo geral do batismo de Jesus esteja
nos ritos de lavagem cerimonial da antiga dispensação:
5 Miller, InfantBaptism, 48-49.
6 Cf. At 19:3-5.
7 Cf. Nm 19:7.
36 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
É possível que o pano de fundo para o batismo deJoão não esteja nem em
Qumran nem no batismo de prosélitos, mas no cerimonial de purificação
do Antigo Testamento. Era exigido que os sacerdotes se lavassem como
preparação para o ministério no santuário, e que o povo participasse de
determinadas purificações em várias ocasiões (Lv 11-15; Nm 19). Muitas
conhecidas passagens proféticas exortam à purificação moral sob a
figura de lavagem com água (Is l:16ss; Jr 4:14), e outras antecipam uma
purificação por Deus nos últimos tempos (Ez 36:25; Zc 13:1).89
Conforme explica Ferguson:
N o seu batismo, Jesus é identificado como o verdadeiro Sacerdote que
lida com os pecados. O próprio João, que o batiza, pertence à linhagem
do sacerdócio levítico (Lc 1:5). Por meio do batismo de Jesus (então com
trinta anos, a idade estipulada para assumir os deveres sacerdotais, cf. Nm
4:3 com Lc 3:23) e sua consagração com água (ver Ex 30:17-21; Lv 8:6),
João o nomeia tanto como Sacerdote Real, como Sacrifício. Este será
batizado não com batismo de água, mas de sangue, em favor do seu povo;
ele próprio batizará com o Espírito e com fogo (uma profecia cumprida
tanto em símbolo como em realidade no dia de Pentecoste, Atos 2:1-4)7
AS CRIANÇAS NÃO PREENCHEM
AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS: ARREPENDIMENTO E FÉ
O mesmo argumento excluiría as crianças do céu, pois as Escri­
turas também declaram: “se não vos arrependerdes, todos igualmen­
te perecereis” (Lc 13:3); e "quem nele crê não éjulgado; o que não crê
já estájulgado” (Jo 3:18). Apesar disso,Jesus não as excluiu, e mesmo
os que levantam essa objeção não as excluem.
Evidentemente, o argumento diz respeito apenas aos adultos,
os quais podem exercer fé, e não às crianças. O batismo de adultos
deve realmente ser precedido de uma profissão de fé crível. Quanto
às crianças, a Bíblia também declara: "se alguém não quer trabalhar,
também não coma” (2 Ts 3:10) - e nem por isso alguém argumenta-
8 George Eldon Ladd, The New Testament and Criticism (Grand Rapids: Eerdmans,
1967), 41. Ver também Miller, InfantBaptism, 51-52.
9 Ferguson, "Infant Baptism View”, 91.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL 37
ria que as crianças devem ser deixadas com fome, porque não podem
exercer uma profissão.
Esse argumento invalidaria também a circuncisão, no Antigo
Testamento. Afinal, as crianças, filhas da aliança, também não podiam
se arrepender e ter fé nas promessas - condição para a salvação tam­
bém no Antigo Testamento.1011Não obstante, elas eram circuncidadas
e consideradas membros da igreja visível e beneficiárias da aliança, na
condição de filhas da promessa, com base na sua relação com os pais
ou responsáveis, exatamente como ocorre no Novo Testamento.
Os infantes, filhos da promessa, não eram circuncidados no An­
tigo Testamento porque criam. Eles eram circuncidados com base na
instituição divina, que os incluiu na aliança. Da mesma forma, os filhos
de crentes na nova aliança não são batizados porque crêem ou porque
sejam presumidamente eleitos - esse conhecimento não nos pertence.
Eles são batizados com base na mesma instituição divina, porque en­
tendemos que não foram excluídos da aliança, no Novo Testamento."
Por outro lado, isso não significa que as crianças devam ser tra­
tadas como descrentes. Como observa Chapell:
Não existe razão para presumir que, porque as crianças não são capazes
de expressar fé madura, elas devam ser tratadas como descrentes. Não há
hipocrisia em levá-las à igreja, encorajá-las a expressar a alegria por Cristo,
amá-las, ou permitir que orem antes de dormir, ou manifestem outras
expressões de fé infantil. Pelo contrário, seria antibíblico tratar nossos
filhos como descendência de Satanás, não amados por Deus, e inimigos
da família da fé, até eles expressarem fé salvadora.12
Convém ressaltar ainda que o batismo - mesmo de adultos -
não representa fé salvadora. Ele representa a pacto da graça, que dá
origem à fé. Como escreve Marcei:
10 A circuncisão é explicitamente chamada de “selo dajustiça da fé” (Rm 4:11), embo­
ra os infantes que a recebiam, com oito dias de vida, não pudessem ainda exercê-la.
11 Para uma discussão mais elaborada do assunto, ver Murray, Christian Baptism, 51
58.
12 Chapell, WhyDo WeBaptíze Infants?, 28.
38 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
O batismo representa, sobretudo, um ato da graça de Deus - uma
oferta e um dom - cumprido em virtude da sua promessa. É necessário
enfatizar esse fundamento objetivo do batismo: os adultos são batizados em
razão do pacto que lhes é oferecido e que eles aceitam; não em razão da suafé ou
arrependimento, que sãofrutos dopacto. O fundamento do batismo não é a
fé e o arrependimento do crente que o pede, e sim o pacto, em virtude do
qual tais fé e arrependimento se tornam possíveis.13
DEDICAR OU APRESENTAR CRIANÇAS
NÃO É MAIS BÍBLICO DO QUE BATIZÁ-LAS?
Não. As passagens bíblicas geralmente apresentadas em defesa
da apresentação ou dedicação de crianças, ao invés de batizá-las - com
referência a Samuel, Sansão,João Batista eJesus - não dizem respeito
à recepção delas na igreja, mas à consagração ao serviço sagrado, seja
de nazireu, profeta, ou sacrificial (no caso deJesus). Sua apresentação
no templo representa um cumprimento profético, como antítipo do
cordeiro pascal.
Além disso, esses episódios não substituem a circuncisão ou o
batismo, os sinais e selos de recepção na igreja visível no Antigo e no
Novo Testamento.14
NÃO É UMA INCOERÊNCIA BATIZAR
CRIANÇAS E NÃO PERMITIR QUE PARTICIPEM DA CEIA?
De forma alguma. Assim como não representa uma incoerência
o fato de que as crianças nascem como cidadãs de um país, mas não
se encontram habilitadas a desfrutar de certos privilégios e responsa­
bilidades, como dirigir veículos, ser alunas de uma faculdade, votar,
ser votadas, etc., enquanto não alcançam determinadas idades.
Assim como a páscoa, a instituição da ceia do Senhor exige que
os participantes discirnam a natureza do fato. Por natureza, na condi­
13 Marcei, ElBautismo: SacramentodeiPacto de Gracia, 162 (ênfase do autor).
14 Para uma refutação mais elaborada da prática eclesiástica da dedicação ou apre­
sentação de menores na igreja, em substituição ao batismo infantil, ver Hyde,Jesus
LovestheLittle Children, 49-53.
3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL 39
ção de sacramento rememorativo, a participação na ceia do Senhor
requer auto-exame, julgamento, discernimento e compreensão das
doutrinas bíblicas fundamentais representadas nesse sacramento (1
Co 11:27-32).
Por essa razão, segundo a legislação pós-êxodo e estudiosos do
judaísmo, apenas após alcançarem certa idade, e de haverem sido
devidamente purificados, aqueles que haviam sido circuncidados aos
oito dias estavam autorizados a participar de todos os atos cerimo­
niais ligados à páscoa, como, entre outras coisas, oferecer sacrifícios
no templo.15
QUE BENEFÍCIOS O BATISMO
INFANTIL PODE PROPORCIONAR?
Se as crianças não têm compreensão para discernir a razão do
batismo, por que batizá-las? Qual o objetivo ou benefícios que o ba­
tismo lhes proporcionaria? Os mesmos benefícios que a circuncisão
de crianças proporcionava na antiga aliança. Afinal, também pode­
riamos perguntar: que benefícios a circuncisão traria às crianças na
antiga dispensação? Elas também não tinham capacidade para com­
preender o significado da circuncisão. Porque, então, Deus ordenou
claramente que elas fossem submetidas àquele rito tão doloroso, no
Antigo Testamento?
A realidade é que, assim como a circuncisão infantil na antiga
aliança, o batismo infantil proporciona vários benefícios, não apenas
para as crianças, mas também para a igreja e para os pais, conforme
veremos no próximo capítulo. Como ressalta Miller:
O batismo é sinal de muitas verdades importantes, e selo de muitas
importantesbênçãos pactuais.... Não há beneficio em dedicarsolenemente
15 Cf. Êx 23:18; 34:23; Nm9:13;Dt 16:5-6; c Miller, Injànt Baptism, 67-68. Uma investi­
gação histórica mais pormenorizada acercada instituição, legislações e celebração da
páscoa ao longo da história, indusive com referendas quanto à partidpação nas suas
cerimônias, pode ser encontrada em James Strong e John Mcdintock, "Passover",
em Cydopedia of Biblical, Theologicaland Ecdesiastiad Literature, vol. 7 (Rio, WI: Ages,
2000), 106-62.
40 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
nossos filhos a Deus, por meio de uma cerimônia apropriada, apontada
por Ele mesmo? Não há beneficio em nos obrigar formalmente, por meio
de compromissos pactuais, a criar os nossos filhos “na disciplina e na
admoestação do Senhor”? Não há beneficio em ratificar publicamente a
ligação dos nossos filhos, bem como a nossa, com a igreja visível, e como
que compromissá-los a uma aliança com o Deus dos seus pais?16
16 Miller, InfantBaptism, 55.
Capítulo 4
BENEFÍCIOS
DO BATISMO INFANTIL
Os sacramentos não são apenas sinais e selos. Eles são meios de
graça. Isso significa que tanto a ceia do Senhor como o batismo cris­
tão são instrumentos, por meio dos quais, Deus comunica bênçãos
ao seu povo. Isso não ocorre de modo automático ou mecânico, as­
sim como a pregação do evangelho também não comunica bênçãos
de maneira mecânica ou automática, independentemente da atitude
dos ouvintes. "Não é o ministro, nem a água, e sim Cristo quem san­
tifica e dá significado” ao batismo.1Na medida em que a igreja e os
pais desempenharem bem as suas responsabilidades, em obediência
à vontade revelada de Deus, pela graça de Deus, por intermédio da
obra de Cristo e pela operação do Espírito, todos se beneficiam do
batismo infantil.
O batismo implica também, portanto, em responsabilidades
por parte da igreja, dos pais e, em tempo próprio, das crianças. “Des­
se ponto de vista, o batismo é sinal e selo das obrigações do crente
para com Deus e para com a sua igreja”.12
1 Marcei, EIBautismo: Sacramento deiPacto de Grada, 165. Cf. Mt 3:11; 1 Co 6:11; Hb
9:13; ejo 1:7.
2 Ibid., 183.
42 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
PARA A IGREJA
Primeiramente, destaco a edificação dos membros da família
da aliança, os quais são relembrados dos privilégios que seus próprios
filhos desfrutam como membros da comunidade do pacto da graça,
na condição de filhos da promessa, debaixo do favor e do cuidado
especial de Deus, e das condições favoráveis à fé em que eles se en­
contram como membros da igreja visível. Quando contemplamos o
batismo dos filhos da aliança, nós, como igreja, somos abençoados,
edificados e encorajados, diante das circunstâncias morais e espiritu­
almente difíceis em que eles viverão. Não precisamos hesitar, como
tantos, para gerar e colocar nossos filhos neste mundo mau. Deus
será com eles, de maneira especial, porquanto são filhos da promessa,
e lhes proporcionará os cuidados e benefícios espirituais necessários
para o bem-estar espiritual deles, por meio dos cuidados da igreja e,
principalmente, dos pais.
Acerca dos benefícios do batismo para a igreja, Marcei escreve:
O batismo não diz respeito unicamente a quem o recebe. Não é - como
vê a perspectiva individualista - o meio de acrescentar um crente a outros
crentes. A igreja, como família, é mais do que a soma dos crentes que a
compõem: a igreja é o corpo de Cristo, um organismo vivo. Na igreja,
cada membro não vive apenaspara si, esim para todoocorpo... Obatismo
não somente promove um novo crente, mas edifica, santifica, purifica e
glorifica a igreja...3
Em segundo lugar, ressalto a lembrança da responsabilidade da
igreja inteira com relação ao ensino, ao exemplo, à oração e à orien­
tação das crianças e, principalmente, dos pais, com relação aos deve­
res e privilégios dos filhos da aliança. Quando uma criança é recebida
como membro da igreja visível, por intermédio do batismo, é como
se ouvíssemos uma pregação, com o seu caráter exortativo. “No ba­
tismo, os pais ligam a subsistência dos seus filhos à vida espiritual da
igreja. Eles prometem entrelaçar a vida de fé das suas famílias com a
’ Ibid.,179-80. Cf. Rm 12:3-8; Ef 4:1-6; 5:25-27; e 1 Co 12:11-27.
4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 43
vida da igreja”.4Por esse meio, portanto, somos todos admoestados
e exortados acerca das nossas responsabilidades para com os filhos da
promessa. Por um lado, somos lembrados de que apenas a graça de
Deus, por meio da obra redentora de Cristo e santificadora do Espíri­
to Santo, nos purifica do pecado. Por outro lado, somos encorajados
e animados a ser bons modelos para eles e para os seus pais, bem
como à realização dos nossos deveres espirituais mútuos: de orarmos
uns pelos outros, particularmente pelos membros não-comungantes
da igreja; de ensiná-los e lembrá-los dos privilégios espirituais que
possuem na condição de filhos da promessa, bem como das suas
responsabilidades, à medida que forem crescendo; e a exortá-los e
repreendê-los - principalmente por intermédio dos pais - quando,
porventura, se desviarem do bom caminho ou se conduzirem de ma­
neira indigna do evangelho. Não apenas pastores e presbíteros, mas
todos os membros da igreja compartilham certas responsabilidades
para com os membros não-comungantes da família da aliança.
PARA OS PAIS
Primeiramente, o batismo infantil é um ato de devoção dos
pais. Ele é uma manifestação pública de obediência a Deus, depen­
dência da sua vontade soberana e confiança na sua fidelidade. Ao
apresentarem seus filhos para receberem o selo da aliança, os pais
crentes também confessam que eles e seus filhos são pecadores e in­
suficientes para cumprirem, por.si mesmos, os termos da aliança, à
parte da graça de Deus, da obra redentora de Cristo e da capacitação
do Espírito Santo.
Em segundo lugar, ressalto o conforto que os pais crentes têm,
decorrente de saberem que seus filhos são membros da família da
aliança, filhos da promessa, membros da comunidade do pacto da
graça. A não ser que eles rejeitem a promessa quando adultos, pela
graça soberana de Deus, essa é a condição em que se encontram, e
o Senhor lhes proverá todos os meios necessários com vistas à salva­
4 Chapell, WhyDoWeBaplizelnfants?, 25.
44 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
ção deles, a uma vida íntegra, santa e útil à igreja e à sodedade, para
a glória de Deus. Na condição de filhos da promessa, a salvação é
espedalmente para eles, e para outros a quem o Senhor nosso Deus
eficazmente chamar, pelo seu Espírito, mediante a Palavra.
Evidentemente, eles são seres humanos responsáveis, e, ao
chegarem à idade da razão, se assim Deus na sua soberana provi­
dência permitir, eles precisarão confirmar a sua condição de filhos da
promessa, professando publicamente a fé genuína em Cristo como
único e suficiente salvador, dizendo: “Eu sou do Senhor, creio em
Jesus como meu único e suficiente Salvador, e prometo viver em
obediência a sua vontade revelada, para honra e glória do seu nome,
com a sua graça e com a assistência do seu Espírito”.
Em terceiro lugar, o batismo infantil responsabiliza os pais pela
criação dos seus filhos. A Bíblianos ensina que a soberania de Deus na
obra da salvação não é incompatível, mas anda de mãos dadas com a
responsabilidade humana. Nem sempre sabemos como harmonizar
essas verdades bíblicas fundamentais. Entretanto, as Escrituras en­
sinam claramente que embora Deus seja absolutamente soberano,
inclusive na obra da salvação, nós somos responsáveis pelos nossos
atos, os quais incluem a criação dos nossos filhos na disciplina e na
admoestação do Senhor, e a obediência por fé, da parte deles, à von­
tade de Deus (cf. Ef 6:4 e Rm 16:26).
Assim sendo, o batismo infantil implica em uma série de res­
ponsabilidades dos pais para com os seus filhos, conforme as promes­
sas feitas por eles, na ocasião do batismo dos seus filhinhos, diante da
igreja e de Deus. Entre outras coisas, eles prometem fazer com que
os seus filhos saibam que são herdeiros da promessa e conheçam os
privilégios e responsabilidades envolvidos nisso, por terem nascido
não em lares pagãos, mas em famílias cristãs; prometem ensinar-lhes
a Bíblia e educá-los na fé; prometem ser fiéis a Deus, dando-lhes bom
testemunho e servindo-lhes de exemplo de fé e de vida; prometem
trazê-los regularmente com eles à igreja; ensiná-los a adorar a Deus
com reverência e a amar os irmãos; prometem livrá-los das más com­
4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 45
panhias; orar com eles e por eles; e criá-los na disciplina e admoesta-
ção do Senhor.5
Logo após Deus haver ordenado que a circuncisão, o sinal da
aliança com Abraão, fosse aplicado à sua descendência, ele disse, com
referência ao pai da fé: "Porque eu o escolhi para que ordene a seus
filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do
Senhor e pratiquem a justiça e o juízo” (Gn 18:19), indicando a sua
responsabilidade na criação dos seus filhos no temor do Senhor.6
É verdade, como observa Sartelle, que:
Não há como podermos dizer que temos obedecido completamente
ao Senhor nessa matéria. E a questão não é se temos sido perfeitos. E se
temos nos empenhado em guardar nossos votos da melhor maneira que
podemos.7
Que o Senhor nos conceda graça para perseverarmos fiéis aos
nossos votos, e vigilantemente educarmos nossos filhos com fideli­
dade e sabedoria, na condição de herdeiros da promessa.
PARA AS CRIANÇAS
Quando chegarem à idade da razão, elas saberão que pertencem
à aliança e se perguntarão: o que isto significa? E serão tão beneficia­
das com o batismo quanto aqueles que são batizados na idade adulta.
Não devemos pensar que os benefícios do batismo estejam restritos
ao momento do batismo. Como esclarece Chapell:
A validade de um selo não depende do tempo em que as condições
que acompanham a aliança são satisfeitas. Assim como o selo de um
documento, o selo da circuncisão podia ser aplicado muito antes dos
beneficiários da promessa e as bênçãos significadas encontrassem as
condições da aliança. O selo era simplesmente a garantia visível de Deus
de que, quando as condições da sua aliança fossem cumpridas, as bênçãos
que ele prometeu se aplicariam.8
5 Ver "Segunda Forma para o Batismo de Crianças”, em Manual Litúrgico ãa Igreja
Presbiterianado Brasil (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), 60.
6 Ver Sartelle, What Christian Parents Should KnowaboutInfantBaptism, 19.
7 Ibid., 20-21.
8 Chapell, WkyDo WeBaptizeInfantsi, 12. (cf. Confissão de Fé de Westminster, 28.6).
46 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
As crianças desfrutam dos privilégios espirituais relacionados ao
batismo no decurso da vida, e, quando alcançarem a idade da razão,
compreenderão e discernirão esses benefícios, e poderão declarar,
pessoal e publicamente, fé salvadora em Cristo.9
Elas também usufruem, desde agora, de todos os privilégios
que a igreja visívelproporciona aos seus membros: oração intercessó-
ria, orientação, admoestação, ensino da Palavra, exemplo dos outros
fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto. Por meio
da presença aos cultos e da comunhão com os demais membros da
igreja, as crianças participam de fato, não como estranhas, mas como
membros, de todos os privilégios espirituais que Cristo dispensa ao
seu povo por intermédio da igreja, com exceção da participação na
ceia do Senhor. Dela, eles compartilharão apenas quando alcançarem
a idade da razão e professarem publicamente a sua fé em Cristo.
Finalmente, os filhos da afiança devem responder positivamen­
te ao privilégio de fazerem parte do povo da promessa, manifestando
e professando fé salvadora na obra redentora de Cristo e procurando
viver em obediência de fé, para a glória de Deus. O batismo infantil
é, em tempo apropriado, uma convocação ao arrependimento e à
obediência de fé.
CONCLUSÃO
O batismo, seja ele de adultos ou de infantes, por ser uma ce­
rimônia de iniciação na igreja visível, sinal e selo do pacto da graça,
e representar a nossa união com Cristo e todos os benefícios dela
decorrentes, não deve ser visto como um fato acabado, mas como o
início de uma experiência vitalícia.
A descrição que o Catecismo Maior de Westminster oferece
das implicações do batismo continua a merecer a nossa atenção e
reflexão:
9 É interessante notar que muitas igrejas que não reconhecem o batismo infantil
adotam alguma forma externa para ligarem seus filhos ao povo de Deus, por meio
de rituais de apresentação solene dos seus filhos à igreja.
4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 47
O dever necessário, mas muito negligenciado, de tirar proveito de nosso
Batismo, deve sercumpridopornós durante anossa vida, espedalmente no
tempo da tentação e quando assistimos à administração desse sacramento
a outros, por meio de séria e grata consideração da sua natureza e dos fins
para os quais Cristo o instituiu, dos privilégios e benefícios conferidos e
selados por ele e do voto solene que nele fizemos; por meio de humilhação
devida à nossa corrupção pecaminosa, às nossas faltas, e ao andarmos
contrários à graça do Batismo e aos nossos votos; por crescermos até à
certeza do perdão de pecados e de todas as demais bênçãos a nós seladas
por esse sacramento; porfortalecer-nospela morte e ressurreição de Cristo,
em cujo nome fomos batizados para mortificação do pecado e vivificação
da graça e por esforçar-nos a viver pela fé, a ter a nossa conversação em
santidade e retidão, com o convém àqueles que deram os seus nomes a
Cristo, e a andar em amor fraterna], como batizados pelo mesmo Espírito
em um só corpo.1011
Quando os filhos são criados “nessa atmosfera”, observa Chapell:
A fé naturalmente germina e amadurece de sorte que é possível, e mesmo
comum para os filhos de pais crentes, nunca conhecerem um dia em que
não crêem que Jesus é o seu Salvador e Senhor. Esse crescimento pactuai
de uma criança é, na realidade, a vida cristã normal que Deus pretende
para o seu povo."
10 “O Catecismo Maior de Westminster”, em Símbolos de Fé: Confissão de Fé de
Westminster, Catecismo Maior; Breve Catecismo (São Paulo: Cultura Cristã, 2005),
resposta 167.
11 Chapell, WhyDo WeBaptizeInfants?, 27.
Capítulo 5
SIMBOLISMO
E MODO DO BATISMO
Com relação ao simbolismo e ao modo do batismo, desejo ape­
nas indicar aos leitores as principais razões pelas quais nossos irmãos
batistas e pentecostais exigem o batismo por imersão, e apresentar
algumas razões de natureza exegética, histórica e prática pelas quais
nós, presbiterianos, reconhecemos ambas as formas de batismo: por
imersão ou por aspersão/ablução, e porque preferimos a segunda.
A PRÁTICA BATISTA E PENTECOSTAL
Os nossos irmãos batistas e pentecostais (estes historicamente
procedentes dos primeiros) sustentam que a imersão é a única forma
legítima de batismo. A primeira razão que apresentam está relacio­
nada ao simbolismo do batismo. Para eles, com base em Romanos
6:3-5 e Colossenses 2:12, o batismo é uma prescrição para imergir,
como símbolo da morte, sepultamento e ressurreição do crente com
Cristo. Eis os textos:
Ou,porventura, ignoraisquetodos nósque fomosbatizadosem Cristojesus,
fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte
pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela
glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se
50 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos
também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5).
Tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual
igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o
ressuscitou dentre os mortos (Cl 2:12).'
A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de
exemplos de batismos por aspersão ou ablução no Novo Testamento.
A PRÁTICA REFORMADA E PROTESTANTE
Nós, reformados, não negamos a legitimidade do batismo por
imersão. Negamos apenas que essa seja a única modalidade aceitável
de batismo. Para nós, imersão, ablução e aspersão são modos legíti­
mos de batismo12 (sendo as duas últimas bíblicas e historicamente
bem fundamentadas), pelas seguintes razões:
Principalmente, porque o simbolismo do batismo não se en­
contra na imersão, mas na união com Cristo e na purificação, no la­
var purificador. Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da
impureza, o batismo com água, que é a circuncisão cristã, simboliza
o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de Cristo e
da nossa união com ele: "Ele [Deus] nos salvou mediante o lavar re-
generador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente,
por meio deJesus Cristo, nosso salvador” (Tt 3:5).3
Esse simbolismo do batismo é exemplificado no relato do
apóstolo Paulo das palavras de Ananias, por ocasião do seu próprio
batismo: "levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados...” (At
22:16). O batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação
do pecado. Conforme o Catecismo de Heidelberg:
1 Outras passagens bíblicas, como Mateus 3:6, Marcos 1:5; Mateus 3:16; Atos 8:38 e
1 Coríntios 10 são geralmente apresentadas em favordo batismo por imersão. Entre­
tanto, nenhuma delas diz qualquer coisa acerca do modo do batismo.
2 Cf. “Confissão de Fé de Westminster”, 28:3.
3 As várias lavagens cerimoniais no Antigo Testamento e promessas referentes à
dispensação do evangelho apresentam o mesmo simbolismo (cf. Lv 14:7; Nm 8:7; Ez
36:25; Hb 9:13-14; e 1 Pe 1:2).
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 5 1
Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me
encontro tão seguramente lavado com seu sangue e com seu Espírito
das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado
externamente com água que é usada para remover a sujeira do meu corpo.4
Em um sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decor­
rentes da salvação estão implícitas no símbolo: o ingresso no corpo
de Cristo por meio da nossa união com ele, a morte para o pecado,
o novo nascimento, etc. Muitas figuras são empregadas na Bíblia
para simbolizar essas realidades espirituais: morrer com Cristo, ser
sepultado com Cristo, ressuscitar com Cristo (Rm 6:3-5; Cl 2:12),
ser crucificado com Cristo (Gl 2:19), viver em Cristo (2 Tm 3:12),
estar em Cristo (Rm 16:7), andar em Cristo (Cl 2:6), estar radicado e
edificado em Cristo (Cl 2:7), revestir-se de Cristo (Gl 3:27), etc. Entre­
tanto, isso não significa que qualquer dessas figuras indique o modo
de batismo.5
A simbologia própria do batismo reside na purificação pela lava­
gem de água, apontando para a ação purificadora do Espírito Santo
e para o sangue de Cristo, que nos separa do uso comum ou impuro
e que nos une a Ele, e não no modo como essa lavagem é realizada.
Mesmo em Romanos 6, o contexto geral é de união com Cristo e de
purificação do pecado:
Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça
mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado,
nós os que para ele morremos?... Sabendo isto: que foi crucificado com
ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e
não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado
em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs.
1-2, 6, 12).
4 "O Catecismo de Heidelberg”, em A Constituição da Igreja Presbiteriana da América.
Parte I: 0 Livro das Confissões (São Paulo: Missão Presbiteriana do Brasil Central,
1969), resposta 69.
5 Na realidade, identificar o simbolismo da morte, sepultamento e ressurreição com
Cristo com o batismo por imersão é um anacronismo, visto que, na época, como
aconteceu com Jesus, os mortos não eram sepultados embaixo da terra, mas tinham
seus corpos colocados em sepulcros abertos nas rochas.
52 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
Comentando Romanos 6:4, Charles Hodge observa correta­
mente:
Não é necessário assumir que haja qualquer referência aqui à imersão do
corpo no batismo, como se fosse um sepultamento. Nenhuma alusão
como esta pode ser suposta nos próximos versos, onde é dito que somos
plantados com ele. A referência não é ao modo do batismo, mas ao seu
(feito. Nosso batismo nos une a Cristo, de sorte que morremos com ele
e ressuscitamos com ele... A mesma doutrina acerca do batismo, e da
natureza da união com Cristo, aqui expressas, é ensinada em Gaiatas 3:27
e Colossenses 2:12.6
O mesmo ocorre com relação a Colossenses 3:12. Tanto o ver­
so anterior, como o posterior, relacionam o batismo à circuncisão,
como símbolo de purificação espiritual, por meio da obra redentora
de Cristo na cruz:
Nele, também fostes drcunddados, não por intermédio de mãos, mas no
despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo... E a vós
outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela indrcundsão
da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os
nossos delitos (Cl 2:11,13).
O essencial com relação ao batismo, portanto, para nós refor­
mados, é explicitamente indicado na sua instituição e nas demais pas­
sagens do Novo Testamento, isto é, que seja realizado com água (At
10:47), em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19).7
Segundo, por causa do uso dos verbos correlatos |3aTTTÍ.£tü e
(Mtítü) na Septuaginta (versão grega antiga do Antigo Testamento).8
6 Charles Hodge, A Commentary on Romans, The Geneva Series of Commentar-
ies (Reimpressão, Edinbuigh e Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust,
1975), 194-95 (ênfases minhas). Ver a sua argumentação inteira sobre Romanos 6:3-5,
nas páginas 193 a 196. Observação: sua referência a “plantados com ele” é tradução
literal da expressão grega ouvetácpripev oúv atrccô (traduzida na versão de Almeida
como: "unidos com ele”).
7 Ver análise dessas e de outras passagens relacionadas, do ponto de vista reforma­
do, em Murray, Christian Baptism, 26-30.
8 O verbo |3aTTTL((üoéempregado apenas quatro vezes na Septuaginta, em 2 Reis 5:14;
Judite 12:7; Isaías 21:4 e Eclesiástico 34:25. O verbo j3áiTTtúébem mais frequente na
Septuaginta. Ele ocorre cerca dezessete vezes.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 53
Esses verbos não são empregados sempre, ou mesmo preferencial­
mente, no sentido específico de mergulhar ou imergir, como sugerem
os defensores do batismo por imersão. O sentido geral comum des­
ses verbos é molhar, umedecer, lavar, purificar, podendo essa lavagem
ou purificação ocorrer por imersão, ablução ou aspersão. Em Judite
12:7, por exemplo, onde se lê que "toda noite ela saía ao vale de Betú-
lia e purificava-se (èpanTÍCeTo) numa fonte de água no acampamen­
to”;e em Daniel 4:339 (ver também 5:21), onde lemos: “no mesmo
instante cumpriu-se a palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de
entre os homens e passou a comer erva como os bois, o seu corpo
foi molhado (epá^p) do orvalho do céu...”;esses verbos não indicam
imersão, mas aspersão ou ablução. Além disso, pelo menos nas se­
guintes passagens na Septuaginta, o verbo páuTto dificilmente pode
significar imergir: Levíticos 14:6 e 16; Rute 2:14; e 1 Samuel 14:27.1011
Mesmo em passagens como 2 Reis 5:14, onde a imersão é pro­
vável (mas não necessária), trata-se de uma lavagem como símbolo
de purificação, conforme indicam os versos 10,12 e 13.
Terceiro, em virtude de referências, no Novo Testamento, aos
ritos de purificação do Antigo Testamento, os quais eram frequen­
temente realizados por meio de aspersões de sangue ou de água."
Esses ritos de purificação de pessoas, utensílios, etc., são chamados
de batismos no Novo Testamento:
E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos
impuras, isto é, por lavar [cüátttoiç] (pois os fariseus e todos os judeus,
observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar [vu|jcuvTai]
cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se
aspergirem QBctTTTLcTtovTCLL]; e há muitas outras coisas que receberam para
observar, como a lavagem [(jarmaiiouç] de copos, jarros e vasos de metal
e camas), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os
teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem
com as mãos por lavar [raivais-impuras]? (Mc 7:2-5; ênfase minha).
9 Verso 30 na Septuaginta.
10 Para uma análise mais pormenorizada do significado de páiTTüjnessas e em outras
passagens na Septuaginta, ver Murray, Christian Baptism, 7-11.
11 Cf. N m l9:9,13e20.
54 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
O autor da Carta aos Hebreus também se refere a esses ritos
de purificação cerimonial do povo, do tabernáculo e dos utensílios
sagrados como batismos (PairTiapols).12
Quarto, devido ao uso do verbo (5aTm£oj no Novo Testamento.
Ele é intercambiável com vítttü) (lavar), como se pode verificar em
Marcos 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38 e Mateus 15;2,20. Observação: o
modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de
água, como hoje - só que com um jarro, ao invés de torneira. Além
disso, a contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30)
é reconhecidamente uma contenda sobre purificação (v. 25).
Em adição, João Batista, Jesus e o apóstolo Pedro se referem
ao derramamento do Espírito Santo, anunciado pelos profetas,13com
o termo batismo (cf. Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; At 1:15; 11:16). Por
essa razão, ressaltando a propriedade do simbolismo do batismo por
aspersão ou ablução, Miller escreve:
Se o batismo, quanto ao seu significado simbólico, tem a intenção de
representar a lavagem do Espírito Santo, como todos concordam; é
evidente que nenhum modo de aplicar a água batismal pode ser mais
visivelmente adequado para comunicar o seu significado simbólico, ou
mais fortemente expressivo do grande beneficio que a ordenança tenciona
manifestar e selar, do que aspeigindo ou derramando.14
Quinto, e muito importante, por causa do caráter espiritual do
culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma, mas o espírito.
A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos ofician-
tes, no templo, no rito ou em formas externas, mas na sua natureza
espiritual e verdadeira. Consequentemente, em nenhum lugar no
Novo Testamento é explicitada a forma do batismo (imersão, asper­
são ou ablução). Nem mesmo as palavras de instituição do batismo
dizem qualquer coisa acerca do modo como ele deveria ser realiza­
do. Logo, por que razão enfatizaríamos nós, por razões teológicas,
12VerHb 9:10 (cf. w. 13,19 e 21). Vertambém Murray, Christian Baptism, 17-20.
13 Ver Isaías 32:15; 44:3; Ezequiel 39:29; Joel 2:28-29 (cf. Atos 2:17-18); Zacarias
12:10.
14 Miller, Infant Baptism, 88. Ver também Murray, Christian Baptism, 20-21.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 55
uma forma específica de batismo, ao ponto de negar participação
na ceia do Senhor a crentes professos e piedosos, simplesmente por
não terem sido batizados por imersão? E preciso cuidado para não
se considerar a água batismal de modo supersticioso, atribuindo a
ela - muito menos ao modo como ela é aplicada - mais importância
do que à obra salvadora de Cristo e do seu Espírito.
Sexto, é interessante observar, ainda, que não existeum só exem­
plo de batismo no Novo Testamento que especifique de modo explí­
cito e inequívoco a forma de batismo praticada: imersão, aspersão ou
ablução. Isso não parece compatível com a insistência daqueles que
sustentam como legítimo exclusivamente o batismo por imersão.
Na realidade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos
tornam bastante improvável a possibilidade de imersão. E o caso do ba­
tismo das grandes multidões na cidade de Jerusalém, onde a água era
escassa (At 2:37-41);” do eunuco no deserto (At 8:26-40);1516de Paulo na
casa deJudas, por Ananias;17e do carcereiro de Filipos (At 16:30-33).18
15 Além disso, quanto tempo e esforço fisico seriam necessários para Pedro (mesmo
supondo que contasse com a ajuda dos demais apóstolos) batizar por imersão quase
três mil pessoas em um só dia (cf. At 2:41)?
16 A expressão “onde havia água”, no verso 36, traduz as palavras gregas “értí Ti
Ü5u)p”, que significam literalmente “em cima de” ou “próximo a alguma água”. E
as expressões “desceram à água” (Kare^r)aav ápípótepoi £Íç rò Ü5wp), literalmen­
te: "desceram ambos para a água” (v. 38), e “saíram da água” (àve^ijoav éx toO
iíSaroç), no verso 39, não implica em imersão. Elas podem significar apenas que eles
desceram do carro ou das encostas do riacho ou poça/olho d agua para a água (cf.
Mt 17:27;Jo 2:12; At 7;15; e 18:22, onde expressões semelhantes são empregadas, sem
significar imersão). Se as expressões significassem imersão, em Atos 8:38-39, então
ambos teriam imergido: Filipe e o eunuco - o que não faria sentido.
17 Nada no relato indica que saíram da casa para um rio (cf. At 9:17-19) - nem Paulo
teria condições físicas para isso, prostrado que estava, sem comer ou beber durante
três dias (cf. w. 9 e 19).
18 Além de não haver qualquer referência no relato quanto a terem saído da casa
do carcereiro para um algum rio, as circunstâncias tomam isso altamente imprová­
vel, diante das condições físicas de Paulo e Silas (cf. w. 23 e 33), do horário: após a
meia-noite, e do local: nos aposentos do carcereiro, provavelmente da área externa
do cárcere, mas dentro das edificações da prisão. Cf. I. Howard Marshall, Atos dos
Apóstolos:Introduçãoe Comentário; Série Cultura Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1982;
reimpressão, 2001), 258; e John R. Stott, A Mensagem de Atos: Até os Confins da Tenra
(São Paulo: ABU, 1994; reimpressão, 2003), 301.
56 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS
Finalmente, alguns desenhos, gravuras e pinturas mais antigas
de cenas de batismos cristãos (desde o final do primeiro ou início
do segundo século) retratam o derramamento de água sobre o ba­
tizando. Em alguns casos, o ministrante do batismo e o batizando
encontram-se ambos dentro da água (com água até o tornozelo,
pernas ou cintura), às vezes em batistérios, mas o batismo está sendo
realizado por aspersão ou ablução.19
O batismo por imersão parece ter sido uma prática comum na
igreja primitiva, mas não a única. Vários escritos e autores antigos,
como o Didaquê, Clemente de Roma, Justino Mártir, Tertuliano,
Irineu, Basílio Magno, Cipriano, Gregório de Nazianzo, Ambrosio,
Hilário, Jerônimo e Agostinho, também reconhecem a prática do
batismo por aspersão e/ou ablução.20Além disso, algumas situações
inviabilizam o batismo por imersão, como no caso de escassez de
água, de regiões muito frias e de pessoas enfermas no leito, mencio­
nado por Cipriano de Cartago, no terceiro século, como comum na
época, e amplamente praticado desde então.21
Não obstante todas as evidências mencionadas em favor do batis­
mo por aspersão ou ablução, convido o leitor a refletir sobre a seguinte
observação de Samuel Miller, em seu clássico sobre batismo infantil:
19 Cf. Clement Francis Rogers, "Baptism and Christian Archaelogy”, em Studia Bib-
UcaetEcclesiastica, vol. 5, parte IV (Oxford: Claredon Press, 1903), 241-44.
20 Outras evidêndas de batismo por aspersão ou ablução na Igreja Primitiva po­
dem ser encontradas em Rogers, 'Baptism and Christian Archaelogy”;Vertambém:
James W Dale, Christic Baptism and Patristic Baptism: BAÍITIZO: An Inquire into the
Meaningof the WordasDetermined bythe Usageof TheHoly Scripturesand Patristic Writ-
ings (Wauconda, 1L: Bolchazy-Carducri; Phillipsburg, NJ: Puritan 8i Reformed; and
Toney, AL: Loewe Belfort Project, 1995; reimpressão da segunda edição, Philadel-
phia: Presbyterian Board of Publication, 1874), 532-39. William A. BeVier, "Water
Baptism in the Andent Church, Part I”, Bibliotheca Sacra 116:462 (1959): 136-45;
idem., “Water Baptism in the First Five Centuries”:230-41.
21 Batismo conhecido como “clínico”, do latim dinici (termo originado da expressão
grega: kv tt) kXÍi/q,no leito). B. B. Waríield, 'Archaeology of the Mood of Baptism”,
Bibliotheca Sacra 53:212 (1896): 609. Esse artigo de Waríield contém uma história por­
menorizada do modo do batismo cristão (pp. 601-604). Ver também Dale, Ckristic
Baptism andPatristic Baptism, 523-32.
5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 57
Mesmo que pudesse ser provado (o que sabemos que não pode ser) que o
modo debatismo adotado no tempo de Cristo e seus apóstolos era [apenas]
por imersão; ainda assim, se esse modo de administração da ordenança não
for significativo de alguma verdade que outro modo não possa representar,
temos plena liberdade para considerá-lo como uma circunstância não
essencial, a qual podemos não observar, quando a conveniência requerer,
como todos fazemos em outros casos... A Ceia do Senhor, por exemplo,
foi sem dúvida instituída com pão asmo - e essa foi, provavelmente, a
prática comum no início. Entretanto, visto que ser ou não levedado nada
tem a ver com o objetivo e escopo da ordenança... a maioria dos crentes
professos, incluindo nossos irmãos batistas, consideram-se autorizados a
celebrar a ceia do Senhor com pão fermentado, sem a menor hesitação.22
22
Miller, Infant Baptism, 100.
Para Vós e Vossos Filhos - O Batismo Cristão - Paulo Anglada
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  • 1. PARA VOSSOS E PARA 0 BATISMO CRISTÃO PAULO ANGLADA
  • 2. p*b a VOS epara vossos FILHOS 0 BATISMO CRISTÃO PAULO ANGLADA l «
  • 3. PREFÁCIO O batismo infantil (ou pedobatismo) é considerado uma prática estranha por boa parte dos evangélicos no contexto brasileiro, forma­ do prindpalmente por igrejas batistas e pentecostais (credobatistas). Para esses irmãos, a ordenança do batismo precisa ser acompanhada de profissão de fé - o que as crianças pequenas obviamente não são capazes de fazer. Além disso, no Brasil, a igreja conhecida por batizar crianças é a Igreja de Roma, a qual realiza o rito de maneira indiscri­ minada, batizando qualquer criança. Nessa situação, é importante explicar as razões que nos levam (igrejas reformadas) a receber como membros da Igreja, através do batismo, os filhos menores das famílias da aliança. É verdade, observa John Murray, que "pensar a revelação da Escritura organicamente é muito mais difícil do que pensar atomisticamente”.10 argumento em defesa do batismo infantil não se baseia no ensino direto de textos bí­ blicos avulsos. Ele "se fundamenta no reconhecimento de que a ação redentiva e revelacional de Deus neste mundo é pactuai”.12Nem por isso, entretanto, as bases para o batismo infantil por aspersão ou ablu- ção são mais fracas ou menos bíblicas do que os argumentos opostos. 1 John Murray, Christian Baptism (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1980), ii.
  • 4. 6 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS Muito pelo contrário. Elas são fortes, profundas, abrangentes e con­ sistentes. Elas refletem “um conceito chave no Novo Testamento”: Todo o povo de Deus (judeu ou gentio - passado ou presente) é abençoado de acordo com a aliança (isto é, a promessa de bênção) que Deus fez com Abraão.3 Conforme explica o apóstolo Paulo: Os dajè é que sãofilhos deAbraão.Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanundou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os dajè são abençoados com o crente Abraão... Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar... para que a bênção deAbraão chegasse aos gentios, emJesus Cristo.4 Meu objetivo, portanto, ao publicar este pequeno livro, é escla­ recer os leitores quanto ao conceito e prática reformada relacionados ao significado, simbolismo e forma do batismo; e, principalmente, explicar as razões pelas quais praticamos o batismo infantil. A obra não tem nenhuma pretensão acadêmica. Não pretendi ser exaustivo ou realizar uma pesquisa histórica, exegética ou teológica profunda, para acadêmicos, teólogos ou especialistas. Também não desejo, com esta pequena obra, provocar polê­ mica, menosprezar ou ofender aqueles que pensam de maneira di­ ferente. Durante quase vinte anos tive o privilégio de ensinar várias disciplinas em um seminário batista, e de comungar,-respeitar e amar irmãos de várias denominações batistas e pentecostais que ali estuda­ ram ou ensinaram ao longo desses anos. Amo-os sinceramente em Cristo, para tencionar de maneira alguma ofendê-los ou feri-los. Minha motivação é puramente pastoral. Meu desejo sincero ao produzir esse material, foi, primeiramente, esclarecer os membros da minha própria igreja com relação às razões das nossas práticas 3 Bryan Chapell, Wfty Do We Baptize Infants? Basics of the Faith (Phiilipsburg, NJ: Puritan and Refòrmed, 2006), 7 (ênfase do autor). 4 Gálatas 3:7-9 (ênfase minha).
  • 5. PREFÁCIO 7 acerca do batismo e das questões controvertidas associadas a esse sacramento. Este estudo foi realizado inicialmente no contexto do meu ministério como pastor da Igreja Presbiteriana Central do Pará, para instrução da igreja e principalmente dos pais, por ocasião da realização de batismos infantis. Ele foi posteriormente publicado, em uma forma mais resumi­ da, há quatorze anos atrás, em uma obra coletiva, juntamente com artigos deJohn Sartelle, John Evans eJoseph Pipa.5 Na presente forma, esses estudos apresentam-se desenvolvidos com a inclusão de novas seções e conteúdos, enriquecidos com novas pesquisas bíblicas, e aprofundados com citações e referências a obras clássicas e contemporâneas significativas sobre o tema. Expresso os meus agradecimentos a todos quantos, direta ou indiretamente, contribuíram para a preparação e publicação desta obra: aos meus pais, Hélio e Beatriz (em memória); aos meus filhos, Karis Beatriz, Paulus Roberto e Anna Layse; e, espedalmente, à mi­ nha esposa, Layse. Agradeço também aos membros da Igreja Pres­ biteriana Central do Pará e ao irmão em Cristo Josias Baía e família, pela importante contribuição para a publicação deste livro. Sou grato principalmente a Deus, pela graciosa salvação, vocação e providência em CristoJesus. Espero que o Supremo Pastor condescenda em fazer uso dessa pequena obra para esclarecimento de dúvidas dos leitores acerca do significado e práticas relacionadas ao batismo cristão, com vistas à edificação da sua Igreja. Charlotte, NC, 26 de maio de 2014 Paulo R. B. Anglada 5 Paulo Anglada, "Batismo: A Circuncisão Cristã”, em O Batismo Infantil: O Que os Pais Deveríam SaberAcerca deste Sacramento (São Paulo: Editora Os Puritanos, 2000), 37-52.
  • 6. ÍNDICE Prefácio........................................................................................................5 Introdução............................................................................................... ll 1 Significado do Batismo C ristão........................................................ 13 Atestado de Salvação?................................................................................ 14 Meio de Salvação?........................................................................................ 15 Essencial à Salvação?....................................................................................16 Continuação da Circuncisão.......................................................................17 Sinal e Selo do Pacto da Graça.................................................................... 19 Representa União com Cristo e Todos os Benefícios Decorrentes............................................................ 22 2 O Batismo e as C rianças da Afiança...............................................25 No Antigo Testam ento..............................................................................25 No Novo Testamento................................................................................. 27 3 O bjeções Contra o Batismo Infantil............................................... 33 Não Existe Mandamento Bíblico Explícito para Batizar Crianças.......................................................33 Não Existem Exemplos Claros de Batismo Infantil no Novo Testamento.......................................................35 Jesus Só foi Batizado aos Trinta Anos de Idade.........................................35
  • 7. 10 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS As Crianças Não Preenchem as Condições Necessárias: Arrependimento e F é ........................................36 Dedicar ou Apresentar Crianças Não é mais Bíblico do que Batizá-las?......................................................38 Não é uma Incoerência Batizar Crianças e Não Permitir que Participem da Ceia?..................................................38 Que Benefícios o Batismo Infantil Pode Proporcionar?.........................39 4 B enefícios do Batismo Infantil..........................................................41 Para a Igreja..................................................................................................42 Para os Pais...................................................................................................43 Para as Crianças...........................................................................................45 Conclusão....................................................................................................46 5 Simbolismo e M o do d o Batismo.........................................................49 A Prática Batista e Pentecostal....................................................................49 A Prática Reformada e Protestante............................................................ 50 C o nclusã o .................................................................................................59 Bibliografia, 61
  • 8. INTRODUÇÃO1 O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordena­ dos por Jesus para serem observados na dispensação da graça. Na concepção reformada: Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra.2 A ceia do Senhor foi instituída por ocasião da ultima participa­ ção de Cristo na páscoa (Mt 26:26-30).’O batismo cristão foi ordena­ do na grande comissão, em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16. Existem algumas questões controvertidas relacionadas ao ba­ tismo, especialmente no que diz respeito ao batismo de crianças e ao modo do batismo. Algumas denominações evangélicas batistas e pentecostais, as quais constituem a maioria em nosso contexto, não batizam crianças e reconhecem unicamente o batismo por imersão. Entretanto, o batismo infantil representa a prática Cristã histórica. As outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada,*1 ' Ler Gn 17:1-14; Cl 2:8-12; Mt 28:18-20; e Tt 3:4-7. 1 “Confissão de Fé de Westminster”, em SímbolosdeFé: ConfissãodcFéde Wcstminstcr, Catecismo Maior; BreveCatecismo (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), 27:1. 1 Conferir também Mc 14:22-26; Lc 22:14-20; e 1 Co 11:23-26.
  • 9. 12 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS anglicana, presbiteriana, metodista, etc.) batizam crianças e reco­ nhecem a legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão), dando preferência ao segundo. Em virtude dessas controvérsias e da prática católico-romana de batizar indiscriminadamente qualquer criança, é importante esclare­ cermos porque batizamos filhos menores de crentes professos, e pra­ ticamos batismo por aspersão ou ablução. Esta obra pretende explicar, resumidamente, a razão das nossas práticas concernente ao batismo, especialmente no que se refere a essas questões controvertidas. O livro contém cinco capítulos. O capítulo primeiro aborda o tema do significado do batismo cristão: como ele deve ser compre­ endido, na ótica reformada. O capítulo segundo lida com a questão do batismo infantil: o lugar dos filhos da aliança no Antigo e no Novo Testamento. O capítulo terceiro apresenta respostas reformadas às principais objeções levantadas contra o batismo infantil. O capítulo quarto indica os benefícios e as implicações do batismo infantil para a igreja, para os pais e para as crianças. O capítulo cinco discute a questão do simbolismo e do modo do batismo, sustentando que os batismos por aspersão e ablução são tão legítimos quanto o batismo por imersão. Que o Senhor da Igreja, o próprio conteúdo do batismo cristão, faça uso deste pequeno livro para a instrução e a edificação do povo da aliança.
  • 10. Capítulo 1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO Do ponto de vista reformado, o equívoco básico daqueles que não batizam crianças e que exigem o método da imersão reside na compreensão inadequada da continuidade da revelação da história da redenção. A progressividade da revelação da obra da salvação, pla­ nejada por Deus na eternidade, não deve eclipsar a sua continuidade e unidade,1 como cumprimento das promessas da aliança.12 “Existe uma unidade fundamental da aliança da graça à medida que ela se desdobra progressivamente por toda a Escritura, de Gênesis 3:15 até o seu clímax, com a vinda de Cristo na ‘plenitude do tempo’ (G1 4:4)”.3 Sinclair Ferguson resume bem a unidade histórica da Igreja, como segue: A igreja é organicamente uma em toda a história da revelação redentiva. Ela consiste de todos os que são abraçados pela aliança de Deus. A graça de Deus é uma; a fundação da salvação é uma, administrada diferentemente 1 Cf.Jr 31:31-34; Os 1:10-11; Am 9:11-15; Rm 2:28-29; 9:6-8; e G13:7; 2 Cf. Lc 1:54-55, 68-70,72-73; At 2:14-40; 13:32-33; e G13:13-14. 3 Daniel R. Hyde,Jesus Laves the Little Cbildren: Wky WeBaptizc Chihhiv Kà .iiulvillr. MI: Reformed Fellowship, 2006), 30.
  • 11. 14 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS nas épocas de promessa e cumprimento; o instrumento da justificação é um, ou seja, fé salvadora; há um único Israel de Deus.4 O Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões diferentes. A Igreja Cristã não é outra igreja. A igreja de Deus no Antigo e no Novo Testamento pode ser comparada a uma lagarta e uma borboleta. Elas são consideravelmente diferentes quanto à for­ ma, mas a mesma na essência.5Tanto é assim, que as palavras igreja/ congregação6e Israel são aplicadas tanto ao povo de Deus no Antigo Testamento, como ao povo de Deus, no Novo.7 O apóstolo Paulo explica claramente que a igreja Cristã não é uma nova árvore, e sim apenas um galho enxertado na mesma árvo­ re, cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o “pai de todos os crentes” (Rm 4:11). Abraão é o pai tanto de circuncisos, como de incircuncisos, “que andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado” (Rm 4:11-12). Ele foi um pecador salvo pela graça de Deus, mediante a fé nas suas promessas, assim como todo crente genuíno, em todas as épocas. O que representa o batismo, no entendimento reformado? Ve­ jamos, primeiramente, o que o batismo não é, para, depois, conside­ rarmos o que ele é. ATESTADO DE SALVAÇÃO? Primeiramente, é preciso ressaltar que o batismo não é neces­ sariamente um atestado de salvação, um sinal visível de que a pessoa está incondicionalmente salva. Não se trata de um rito de admissão pública na igreja invisível, mas na igreja visível - e esta inclui salvos e não salvos. Conforme argumenta o apóstolo Paulo: 4 Sinclair B. Ferguson, "Infant Baptism View”, em Baptism: Three Views, ed. David F. Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 100-101. 5 Larry Wilson, Why Does the OPC Baptize Infantsf A Messagefrom the Orthodox Pres- byterian Church (Willow Grove, PA: The Committee on Christian Education of the Orthodox Presbyterian Church, 2007), 3. 6 Tradução do termo grego èKKr)oía, correspondente ao hebraico: bnp, 7 ( :f. 1Ib 2:12 (citando o Sl 22:22); At 7:38 e G16:16.
  • 12. 1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO D Nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes de Abraão, são todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa (Rm 9:6-8). Existem vários exemplos de membros professos na igreja no Antigo e no Novo Testamento, os quais foram circuncidados ou ba­ tizados, mas nunca experimentaram o lavar regenerador do Espírito Santo. Auxiliares diretos do apóstolo Paulo, como Demas, abando­ naram a fé cristã por amarem o presente século (2 Tm 4:10). Tais pessoas são ‘mcircuncisas de coração” (Jr 9:26; At 7:51). Elas trazem o sinal da circuncisão ou do batismo, mas não a realidade que eles representam.89 Referindo-se a essa classe de pessoas, o apóstolo João explica que "eles saíram do nosso meio [isto é, da igreja visível], porque não eram dos nossos [membros da igreja invisível]; porque se tivessem sido dos nossos [da igreja invisível], teriam permanecido conosco [na igreja visível]; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos [da igreja invisível]” (1 Jo 2:19). Parece desnecessário demonstrar o que a História da Igreja e a experiência tornam evidente: o batismo não atesta, necessariamente, a salvação daqueles que o recebem. MEIO DE SALVAÇÃO? O batismo também não é um instrumento de salvação. O único meio de salvação, segundo Bíblia, é a graça de Deus, mediante o arre­ pendimento e a fé, operados exclusivamente por meio da Palavra de Deus lida ou pregada. O batismo não tem poder divino inerente. Em simesmo, ele não pode regenerar ninguém. Essa doutrina, da regene­ ração batismal, parece ter sido sustentada por vários Pais da Igreja,'' 8 Cf. Mt 7:22-23. 9 Tais como Irineu, Cirilo de Alexandria, Tertuliano, Gregóriode Nazi.mzo. rime outros. Cf. William A. BeVier, “Water Baptism in the First Five Ccnmries. Ini II Modes of Water Baptism in the Ancient Church”, Bibliotheat Siunt 11e> lf. l < i‘ivh 230-32.
  • 13. 16 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS e é ensinada pela Igreja Católico-Romana. Para a Igreja de Roma, o batismo confere o mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo, purificando da corrupção interna, garantindo remissão da culpa do pecado e a infusão da graça santificadora, unindo o batizado com Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus.1011Na teologia católico-romana, a eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante, nem dos méritos do batizado, mas da própria ação sacramental. Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si mesmo. Ele não opera uma nova vida. Ele a pressupõe e fortalece, mas não a opera nem garante, como declara a Confissão de Fé de Westminster: Posto que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas a ela, que sem ela uma pessoa não possa ser regenerada e salva, ou que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados." É preciso ressaltar, como faz Pierre Marcei, que, à luz das Es­ crituras: A Palavra ouvida e crida, antes e depois do batismo, contém todos os dons, os quais são plenamente alcançados mediante a fé. Não existe um só dom que não possa ser comunicado pela Palavra, e sim pelo sacramento.12 ESSENCIAL A SALVAÇÃO? A Igreja Católica considera que o batismo é necessário para a salvação. Nós, protestantes, não pensamos assim. O batismo é obri­ gatório, por obediência aos preceitos de Deus - e a nossa desobediên­ cia a esse preceito naturalmente resulta em empobrecimento espiri­ tual, como acontece com a desobediência a outros preceitos bíblicos. Entretanto, essa concepção do batismo como essencial à salvação é contrária ao caráter espiritual do evangelho, que não condiciona a 10 Newman, Lectures onJustificoticm, 257. Citado em Alexander Hodge, Ouüines of Theology (Edinburgh: Banner of Truth, 1972), 625. 11 Capítulo XXVIII, parágrafo V 12 Pierre Charles Marcei, ElBautismo: Sacramento deiPacto de Grada (Rijswijk: Funda- cion Editorial de Literatura Reformada, 1968).
  • 14. 1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 17 salvação a formas externas (Jo 4:21-24). O ladrão arrependido na cruz é evidência incontestável desse fato. Jesus afirmou que naquele mes­ mo dia ele estaria consigo no paraíso, apesar de não haver recebido o sacramento do batismo. Do ponto de vista protestante, considerar o batismo como in­ dispensável à salvação significa atribuir a essa ordenação bíblica um caráter supersticioso, incompatível com o evangelho de Cristo. CONTINUAÇÃO DA CIRCUNCISÃO Se o batismo não é um atestado de salvação, um meio de salva­ ção, nem é essencial à salvação, o que é ele, então? É a continuação da circuncisão. É a versão evangélica da circuncisão; o correspondente neotestamentário do sacramento vétero-testamentário da circuncisão. Os dois sacramentos do Antigo Testamento, a páscoa e a cir­ cuncisão, não foram abolidos, e, sim, substituídos. A páscoa, o sacra­ mento comemorativo da igreja visível, foi transformada porJesus na santa-ceia, a ceia da nova aliança, quando ele participou da páscoa pela última vez (Mt 26:26-30). A circuncisão, o sacramento de admis­ são na igreja visível, foi transformada no batismo cristão, visto que não mais haveria necessidade de derramamento de sangue, uma vez que o Cordeiro Pascal estava prestes a ser imolado. Colossenses 2:11-12 “relaciona daramente a circuncisão com o batismo, e ensina que a circundsão de Cristo, isto é, a do coração, representada pela circuncisão da carne, é cumprida pelo batismo, ou seja, pelo que este significa”.13 Nessa importante passagem bíblica, “enfatizando a continuidade da aliança, assim como a natureza da mudança do sinal que a acompanha”,14 o batismo cristão é chamado explidtamente de “circundsão de Cristo”, isto é, a cir­ cuncisão cristã:15 13 Ibid., 159. 14 Chapell, WhyDo WeHaplizetnfanlsí, 14. 15 Trata-se de um uso comum do genitivo (o genitivo descritivo), com função adjeti­ va, como nos seguintes exemplos: tò CTüjpaTÍjç àpapTÍaç, ocorpodopecado, isto é, pecaminoso (Rm 6:6); êv tü atópan Tfjç crapicós, nocorpodacarne, isto é, carnal (Cl 1:22); TÒ (MuTKTpa ’lomvou, o batismodeJoão, isto éjoanino (Mt 21:25).
  • 15. 18 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS Nele, também fostes drcunddados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. O argumento do apóstolo Paulo é evidente: nós, cristãos, tam­ bém fomos drcunddados, não com o corte do prepúcio, mas com o batismo cristão, o qual, por ter o mesmo significado e substituir a circuncisão judaica na nova aliança, pode ser referido como circunci­ são cristã. Conforme explica Ferguson: A preocupação de Paulo, em Colossenses 2:11-15, é ressaltar a importância da obra de Cristo, a qual simultaneamente cumpre o significado da circuncisão e fundamenta o significado do batismo. Nesse sentido, os dois sinais, cada um dentro da sua própria aliança, apontam para uma mesma realidade.16 Marcei destaca a correspondência entre a drcundsão e o batis­ mo, como segue: A promessa, que é o fundamento da circuncisão, é igualmente do batismo; o representado é o mesmo; a causa, que é o amor de Deus, é a mesma; o conteúdo, Jesus Cristo, é o mesmo; a razão e o motivo pelos quais nos foi dado o sinal são os mesmos... o uso e eficácia são idênticos, assim como as condições de admissão. Eles só diferem com relação à natureza do sinal externo: depois de Jesus Cristo, um sacramento não podia mais ser um sacrifício sangrento.17 É importante reconhecer, com relação à circuncisão, conforme ressalta Murray, que: A sua significação primária e essencial era que ela era sinal e selo das mais elevadas e ricas bênçãos espirituais que Deus dispensa aos homens... A 16 Sinclair B. Ferguson, “Infant Baptism Response”,em Baptism: Three Views, ed. Da- vid F. Wright (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009), 58. 17 Marcei, El Bautismo: Sacramento deiPacto deGrada, 158 (ênfases do autor). Quanto à diferença relacionada às mulheres, Marcei escreve: "visto que esse sinal do Senhor [a circuncisão] demonstrava a santificação da sementede Israel, é certo que o mesmo servia tanto para os varões como para as mulheres; sem dúvida, não era aplicado às mulheres, porque a sua natureza não permitia” (ibid, 161; ênfase do autor).
  • 16. 1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 19 aliança feita com Abraão é, nos termos em que ele recebeu a promessa, que nele seriam abençoadas as famílias da terra. É nos termos dessa aliança que ele é o pai de todos os fiéis. E essa aliança que é desdobrada no Novo Testamento e é nos termos dessa aliança que a bênção de Abraão vem aos gentios.18 Subsidiariamente, a circuncisão indica uma identidade nacio­ nal e implica em bênçãos materiais. Contudo, nem a aliança, nem o seu selo, a circuncisão, devem ser limitados a essa identidade nacional. A natureza espiritual (mais ampla e profunda) da aliança com Abraão e do seu sinal e selo, é indicada nas palavras da própria aliança: “Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (cf. Jr 31:33; Gn 17:7; Êx 19:5-6; Dt 7:6).1920 SINAL E SELO DO PACTO DA GRAÇA Visto que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica, ele representa, para a igreja visível no Novo Testamento, o mesmo que a circuncisão representava para a igreja visível no Antigo Testa­ mento: o sinal visível e o selo21’da aliança que Deus fez com Abraão, o “pai de todos os crentes”.21 Esse é o papel da circuncisão, con­ forme as palavras do próprio Senhor a Abraão, por ocasião da instituição dessa ordenança, em Gênesis 17:1-13: Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente... será contigo aminhaaliança;seráspaide numerosas 18 Murray, Christian Baptism, 46. 19 Ibid., 47. Com relação ao significado espiritual da circuncisão, ver Dt 30:6;Jr 4:4; Rm4:ll; eFp3:3. 20 Cf. Rm 4:10. Assim como uma aliança de casamento simboliza e sela o pacto de companheirismo e fidelidade entre um homem e uma mulher que se unem por amor; ou a autenticação de um documento em cartório. 21 A aliança com Abraão é uma administração histórica do pacto etemo da redenção, entre as trêspessoas da Trindade, com vistas à salvação dos eleitos de Deus, por meio da obra redentora de Cristo e operação do Espírito Santo. Mais sobre o pacto da redenção em Paulo Anglada, Imago Dei: Antropologia Reformada (Ananindeua: Knox Publicações, 2013). 135-96.
  • 17. 20 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS nações... estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações... Circundareisa carne do vossoprepúcio; será isso porsinal de aliança entremim evós.O que tem oito dias será drcuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será drcuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua (ênfase minha). A circuncisão dos israelitas e dos prosélitos do judaísmo era, portanto, um sinal externo de confirmação do pacto de Deus com Abraão, segundo o qual ele (Abraão) e seus descendentes constitui­ ríam a igreja visível de Deus na terra - e não meramente símbolo da fé dos beneficiários. “Como todos os sinais de aliança, a circuncisão significava a atividade e graça divinas, às quais os recipientes eram chamados a responder com fé (cf. Gn 17:11). Ela não significava a própria fé”.22Por conseguinte: O pacto da graça é o fundamento do batismo. Quando buscamos o fundamento do batismo, não basta dizer que o encontramos em Cristo. Ele é o conteúdo do batismo, e como tal, seu lugar é eminente. Mas o verdadeiro fundamento dessa ordenança deve buscar-se na profundidade do decreto de Deus pelo qual Cristo nos foi dado, graças ao qual o Eterno veio a ser “Deus conosco”, e nos é revelado no pacto da graça.23 Como resume Samuel Miller: a "circuncisão era um sinal de visível membresia na família de Deus, e da obrigação pactuai para com Ele”.24 O batismo cristão, assim como a circuncisão judaica, 22 Ferguson, "Infant Baptism Response”, 55. 23 Marcei, EIBautismo: Sacramento deiPacto de Grada, 154 (ênfases do autor). Ver ex­ planação completa de Marcei sobre o pacto da graça como fundamento do batismo, nas páginas 154-58. 24 Samuel Miller, Infant Baptism: Scriptural and Reasonable and Baptism by Sprinkling orEffitsion: theMost Suitableand EdifyingMode (Philadelphia:Joseph Whethan, 1835; reimpressão, Dahlonega, GA: Crown Rights Book Company, 2008), 23.
  • 18. 1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 21 é, por conseguinte, o sinal externo solene de admissão na igreja visí­ vel, distinguindo o povo da aliança das demais pessoas. Conforme explica a Confissão de Fé de Westminster, tanto o batismo, como a ceia do Senhor (os sacramentos): São santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e os seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra.25 O sinal da circuncisão não implicava necessariamente em que todos os de Israel, a igreja visível no Antigo Testamento, fossem ou seriam verdadeiros israelitas (isto é, membros da igreja invisível), ou seja: que necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salva­ dora. Para isso, eles precisavam se arrepender dos seus pecados c crer nas promessas da aliança, principalmente na obra messiânica da redenção (a aliança é condicional).26 A circuncisão também não implicava em que os gentios não pudessem se tornar membros da aliança - eles também poderiam ser admitidos na igreja visível e receber o seu sinal e selo. O sinal da circuncisão implicava, sim, em que os judeus e gentios circuncidados (prosélitos do judaís mo) seriam considerados povo de Deus, objeto do seu cuidado peculiar e da sua bênção, possuidores da sua revelação especial, e instrumentos da sua graça para todos os povos. Os compatriotas de Paulo segundo a carne desfrutaram de privilégios especiais, tais como "a adoção, e também a glória, as 25 Capítulo XXVII, parágrafo I. 26 Quanto ao aspecto negativo da circuncisão e do batismo, como consequência da desobediência obstinada aos termos da aliança, ver Hyde, Jesus Loves the Littk Chil- dren, 15-16 e 22-25. Hyde ressalta que "o batismo [assim como a circuncisão] também é um sinal de maldição... Para aqueles que crêem no que o batismo significa, ele é um sinal e selo das suas bênçãos em Cristo, mas para aqueles que rejeitam o que o batismo significa, é um sinal e selo dojulgamento deles como violadores da aliança” (Ibid., 22). Na mesma linha, Ferguson escreve: ''Reversamente, quando se depara com obstinada incredulidade, esses sinais [batismo e ceia do Senhor] confirmarão o julgamento que eles implicam (cf. 1 Co 11:27-32; cf. Hb 3:7; 47)'' (“Infant Baptism View”, 93; ver também pp. 96-100).
  • 19. 22 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne...” (Rm 9:3-4). Após demonstrar a culpabilidade universal de gentios e judeus o apóstolo Paulo pergunta: "Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?” Ele mesmo responde: “Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confia­ dos os oráculos de Deus” (Rm 3:1-2). À luz do que foi dito até aqui, podemos chegar à seguinte con­ clusão: obatismo, assim comoa circuncisão, éoritopúblico ouforma externa determinadaporDeuspara simbolizareselara admissão depessoasna igreja visível, como beneficiárias do pacto eterno da graça e objeto do seu cuidado especial, com vistas à promoção do reino edaglória de Deus no mundo. REPRESENTA UNIÃO COM CRISTO E TODOS OS BENEFÍCIOS DECORRENTES Passagens bíblicas como Romanos 6:3-6; 1 Coríntios 12:13; Gálatas 3:27-28; e Colossenses 2:11-12, indicam que o batismo repre­ senta a união mística do crente com Cristo, e todas as bênçãos da aliança, realizadas pela operação do Espírito, mediante a fé salvadora na sua obra redentora. Afinal, todas as promessas da aliança têm cumprimento nele (2 Co 1:20). Conforme explica Marcei: Quando alguém recebe o evangelho com fé verdadeira, recebe os benefícios que o mesmo promete; quando recebe o batismo com fé, recebe as bênçãos de que este é sinal e selo. Para quem o recebe - exceto se não for sincero - o batismo é um ato de fé, pelo qual e no qual se apropria das bênçãos da redenção de Cristo que lhe são oferecidas.27 As próprias palavras da instituição do batismo, em Mateus 28:19, apontam para essa realidade: “Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em [ou para]28nome do Pai, e do Filho, e do Espírito San­ to”. Com base nessa e em outras passagens bíblicas, Ferguson chama atenção para a amplitude do significado do batismo, como segue: 27 Marcei, El Baulismo: Sacramento dei Pacto de G rada, 166. 28 Tradução da preposição grega eiç, para, em direção à, para dentro de.
  • 20. 1 SIGNIFICADO DO BATISMO CRISTÃO 23 No batismo, o nome do Senhor nos é dado (Mt 28:18-20). Batismo é uma cerimônia nominativa. Nesse sentido, batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo consuma a bênção triúna da aliança da época mosaica (Nm 6:22-26). Nosso grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, anuncia as bênçãos. Somos batizados para o seu nome, com vistas aos seus recursos salvíficos, suas posses, autoridade e comunhão. Batismo, portanto, aponta primariamenteparaCristo,dequem asmultifacetáriasbênçãosdaredenção, justificação e santificação são recebidas pela união de fé (1 Co 1:30).29 O batismo significa tudo o que está em Cristo para nós; ele aponta para tudo o que ele fará por nós e tudo o que nos tomaremos nele.30 O batismo simboliza, portanto,justificação, redenção, regenera­ ção, purificação dos pecados, e todas as bênçãos decorrentes da nossa união com Cristo,31 sendo união e purificação os seus simbolismos proeminentes. Murray também explica o significado básico do batismo: Batismo significa união com Cristo em virtude da sua morte e do poder da sua ressurreição, purificação da contaminação do pecado pela graça renovadora do Espírito Santo, e purificação da culpa do pecado pela aspersão do sangue de Cristo.32 Ser "batizado em Cristo” é ser unido a ele nos laços dessa união que nos toma beneficiários de todas as bênçãos da redenção e nos compromete com seu Senhorio.33 Por que razão Deus escolheu esses símbolos específicos: circun­ cisão e batismo, como sinais e selos do pacto da redenção? Em função do significado purificador que eles encerram. Eles comunicam a idéia de limpeza e purificação.34A circuncisão e o batismo apontam para o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo (Tt 3:5; At 22:16), por 29 Ferguson, “Infant Baptism View”, 89-90. 30 Ibid., 91. 31 Cf. At 2:38; 22:16; Ef 5:26; Hb 10:22; Rm 4:11; e 1 Co 1:30. 32 Murray, Christian Baptism, 5. 33 Ibid., 29-30. Ver também Marcei, El Bautismo: Sacramento dei Pacto de (Inicia. 145-52. 34 Cf. Isaías 52:1, onde apalavra drcundsão é empregada como sinônimo di- Iiiii| hv.i
  • 21. 24 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS meio do arrependimento e da fé salvadora em Cristo. Os símbolos não operam, não garantem, nem são essenciais à salvação. Contudo, eles apontam para a separação cerimonial, espiritual e moral do povo da aliança, e para as realidades espirituais por eles significadas, asso­ ciadas à obra redentora de Cristo.35 Isso não significa, também, que a circuncisão e o batismo, sinais de admissão na igreja visível, sejam sempre subsequentes aos benefí­ cios espirituais simbolizados. “A eficácia do batismo não se limita [ou está atada] ao momento em que é administrado”.36 Por que a circuncisão foi substituída pelo batismo na nova alian­ ça? Devido ao caráter tipológico do Antigo Testamento e ao caráter universal do Novo. O sangue derramado na circuncisão, como em quase todas as cerimônias da antiga aliança, apontava para o sangue purificador do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. A água, utilizada no batismo, explicaJohn Sartelle: É um agente universal de limpeza. Não seria de esperar que poeira, folhas ou suco de frutas fossem usados para significar limpeza. Eles não são usados para tornar limpos os nossos corpos. A água, entretanto, é usada diariamente no mundo inteiro como agente de limpeza.37 35 O perdão dos pecados (At 2:38), da união com Cristo (Gl 3:26-29), do revesti­ mento de Cristo (Gl 3:28), da nova vida em Cristo (Rm 6:4), da unidade cristã (1 Co 12:13), etc. 36 "Confissão de Fé de Westminster”, 28:6. 37 John P. Sartelle, What Christian Parents Should Know about Infant Baptism (Phillips- burg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1985), 7.
  • 22. Capítulo 2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA E com relação às crianças: elas devem ser batizadas? A resposta a essa pergunta depende da resposta a uma questão mais ampla: qual é a condição das crianças no pacto da graça ou da redenção? Elas fazem parte da família da aliança? NO ANTIGO TESTAMENTO A questão realmente importante acerca do batismo infantil como a circuncisão cristã, portanto, é a seguinte: as crianças foram incluídas como beneficiárias do pacto que Deus fez com Abraão? A resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão, as crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias da alian­ ça, isto é, como membros da igreja visível no Antigo Testamento. Por essa razão, elas deveríam ser circuncidadas: "o que tem oito dias será circunddado entre vós, todo macho nas vossas gerações” (Gn 17:9-12). A circuncisão podería ter sido instituída apenas para os adul­ tos. Deus podería ter ordenado a Abraão que as crianças de Israel l<>ssemrecebidas como membros do pacto apenas quando se tornas sem adultas e evidenciassem fé nas promessas da aliança. Entretant(>, isso não ocorreu. As crianças também foram incluídas, porque ei a
  • 23. 26 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS propósito de Deus que a sua aliança fosse com Abraão é com a sua descendência, desde a mais tenra idade.' É importante compreender que a aliança que Deus fez com Abraão, o pacto da graça, é a implementação histórica de uma aliança eterna, que nunca foi anulada. Essa aliança, cujo selo era a circuncisão, e agora é o batismo, a "circuncisão de Cristo”, é ante­ rior à lei de Moisés e, portanto, continua vigorando. O pacto da lei foi abolido, é verdade, bem como as suas leis cerimoniais - a lei de Moisés representa um parêntesis na história da redenção. Entretan­ to, a aliança da graça com Abraão, instituída cerca de quatrocentos anos antes da lei de Moisés, jamais foi revogada. Trata-se de uma "aliança eterna”. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, sofreram transformações: primeiro, havia somente a circuncisão; depois, foi acrescentada a páscoa; posteriormente, ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. A forma externa, portanto, dos sacramentos da aliança mudou, porém a aliança permanece em vi­ gor (cf. Gl 3:7-9,14,29). É esse o argumento do apóstolo Paulo em Gaiatas 3:17. De­ monstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com Abraão, ele assevera que “uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.” Por conseguinte, a aliança mencionada no Novo Testamento não é outra aliança, uma aliança recentemente estabelecida, que anulou a aliança feita com Abraão. E a mesma aliança, renovada por Jesus, o Mediador da aliança (cf. Gl 3:27,29). A palavra traduzida por nova, na expressão "nova aliança”, não traduz o termo grego véoç,12 e, sim, K aivós, como em novos céus e nova terra - onde a palavra certamente não denota outros céus e outra terra, mas os mesmos céus e a mesma terra renovados. 1 Na realidade, os filhos foram incluídos não apenas na aliança com Abraão, mas em codas as alianças no Antigo Testamento: com Adão (Gn 15:3), com Noé (Gn 9:8), com Moisés (Dt 29:1-15), etc. 2 Novo, geralmente usada com o sentido dejovem, recente; outro.
  • 24. 2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 27 O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Pertencemos à “comunidade do pacto”. Somos os verdadei­ ros descendentes de Abraão: “os da fé é que são filhos de Abraão” (G1 3:7). A Igreja Cristã são os ramos que, enxertados, tornaram-se parti­ cipantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira que representa o povo de Deus na antiga dispensação (Rm 11:17). O meio de salvação também não mudou. Somos salvos, hoje, da mesma maneira como foram salvos os crentes na antiga dispensação, isto é, pela graça sobe­ rana de Deus mediante o arrependimento e a fé nas suas promessas, entre as quais a principal era a vinda e a obra do Messias, o Redentor de Israel.3‘A dispensação do evangelho é o desdobramento da alian­ ça com Abraão, a extensão e o alargamento da bênção comunicada por meio dessa aliança ao povo do Antigo Testamento. Abraão é o pai de todos os crentes”.4 A diferença é meramente relacionada ao tempo: “No tempo do Antigo Testamento, as pessoas eram salvas ao confiarem na obra redentora que Deus proveria em Cristo. Hoje, as pessoas são salvas ao confiarem na obra redentora que Deus proveu em Cristo”.5Como resume Miller: Tudo o que é essencial à identidade eclesiástica é evidentemente encontrado aqui [na igreja na antiga e na nova aliança |. O mesmo Cabeça divino; as mesmaspreciosas alianças; o mesmo grande propósito espiritual; o mesmo sangue expiatório; o mesmo Espírito santificador...6 Logo, por que razão os filhos dos membros da aliança na nova dispensação deveríam ser excluídos da comunidade do pacto, isto é, da igreja visível? Por que negar-lhes o selo da aliança: o batismo cristão? NO NOVO TESTAMENTO Se o batismo é o selo do pacto da graça, e as crianças na an­ tiga dispensação estavam incluídas como beneficiárias desse pacto, a pergunta que deve ser feita, agora, na dispensação do evangelho, é a 3 Verjo 8:56; Rm 4:1-17; e Ef 2:20-23 (cf. Hb 10:1-12). 4 Murray, ChristianBaptism, 48. 5 Wilson, WhyDoes the OPCBaptizeInjànts?, 3. 6 Miller, InfantBaptism, 18.
  • 25. 28 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS seguinte: o Novo Testamento exclui as crianças da condição de bene­ ficiárias do pacto da graça? A resposta é não. Em nenhum lugar no Novo Testamento os filhos dos que pertenciam à aliança — os quais tão enfática e explidtamente nela foram incluídos em Gênesis 17 — são excluídos. Pelo contrário, no Novo Testamento há declarações que não teriam sentido se elas devessem ser excluídas dessa condição. Primeiramente, o próprio SenhorJesus afirma que as crianças pertencem ao seu reino: "deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus” (Lc 18:16). Fazendo referência a este acontecimento, Francis Turretin, teólogo reformado do século XVII, pergunta: Poisbem,se foicorreto osinfantes serem trazidos aCristo,porque também não serem recebidos para batismo, o símbolo da nossa comunhão com Cristo? Por que a Igreja não deveria receber no seu seio aqueles a quem Cristo recebeu no seu?7 Pedro confirma que a promessa incluios filhosdapromessa: “pois para vós outros é apromessa, para vossos filhos e para todos os que ain­ da estão longe” (At 2:39). Pedro podería ter dito apenas que apromessa era “para vós outros e para todos os que ainda estão longe”. Mas acres­ centou “para vossos filhos”. Por que razão ele diria isso, se os filhos devessem ser excluídos da família da aliança na nova dispensação?8 7 Francis Turretin, Institutes of Elenctíc Theology, trad. George Musgrave Giger, ed, James T. Dennison, vol. 3 (Philippsburg: Puritan & Reformed, 1997), 417. Por que, então (alguém pode perguntar),Jesus apenas abençoou, mas não batizou essas crian­ ças? Porque, Jesus não julgou oportuno batizar ninguém naquele estágio da história de redenção (cf.Jo 4:2). Contudo, como explica Ferguson, a linguagem pactuai deJe­ sus, ao abençoar essas crianças, estabelece “o fundamento teológico para o batismo infantil” (Ferguson, “InfantBaptismView”, 109). 8 Os credobatistas limitam o significado do termo “promessa”, aqui, exdusiva- mente ao derramamento do Espírito, praticamente eliminando a sua relação com a aliança com Abraão (cf. Bruce A. Ware, “Believers' Baptism View”, em Baptism: Three Views, ed. David F. Wright [Downers Grove, IL: InterVarsity, 2009], 35-37). Essa interpretação, entretanto, não explica a inclusão deliberada da expressão “e paravos­ sos filhos”, entre “para vós” e "para todos os que ainda estão longe”;nem fazjustiça à perspectiva futura da promessa da aliança (como em Jeremias 31:31-34 e 32:38-40), conforme argumenta Ferguson (“Infant Baptism Response”, 57-58; e “Infant Bap­ tism View”, 103).
  • 26. 2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 29 O apóstolo Paulo, por sua vez, reconhece a posição dos filhos como “santos”, quando pelo menos um dos pais é crente. Escreven­ do aos Coríntios, ele orienta os cônjuges que haviam se convertido a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente, argumentando que “o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente”. E acrescenta: "Doutra sorte, os vossos filhos seriam impu­ ros; porém, agora são santos” (1 Co 7:14). Isto é, os filhos de pelo menos um cônjuge crente são considerados "santos”9- no sentido cerimonial, designando separação do mundo para Deus, consagração, frequentemente empregado para designar membros da igreja visível, no Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo.1011 Existem também exemplos implícitos da prática do batismo infantil nas páginas do Novo Testamento, quando casas inteiras (fa­ mílias) foram batizadas. É o caso de Lídia, do carcereiro de Filipos e de Estéfanas, entre outros. Acerca de Lídia, é dito que o Senhor abriu o seu coração para crer, e logo foi “batizada, ela e toda a sua casa” (At 16:14,15). Com relação ao carcereiro de Filipos, havendo ele perguntado a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo, eles responderam-lhe: “crê no SenhorJesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os seus” (At 16:30-33).“ Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo havia batizado estava a “casa de Estéfanas” (I Co 1:16). E improvável que não houvesse crianças nessas famílias judaicas (geralmente nu­ 9 Por que, então, não batizamos os cônjuges não-crentes e os filhos adultos, junta­ mente com os filhos pequenos? Porque, na condição de adultos, eles são responsá­ veis por fazer ou não a sua própria profissão de fé, enquanto as crianças, incapazes de professar fé, são admitidas nessa condição, com base na fé dos pais (ou de um deles), até alcançarem a idade da razão. 10 Cf. Rm 1:7; 8:27; 12:13; 15:25,26; 16:15; 1 Co 1:2; 6:1,2; 14:33; 16:1,15; 2 Co 1:1; 8:4; 9:1,12; 13:13; Ef 1:1,15; 2:19; 3:8,18; 4:12; 5:3; 6:18; Fp 1:1; 4:21,22; Cl 1:2,4; 3:12; etc. 11 A expressão "por terem crido em Deus”, no verso 34, está no singular no original (TTemaTeuKCÍis) - assim como "crê”, no verso 31 - devendo, portanto, ser traduzida: “por tercrido em Deus”, fazendo referenda apenas à fé do carcereiro.
  • 27. 30 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS merosas), ou que todos os membros adultos tenham se convertido no mesmo momento, ou, ainda, que os membros adultos da família fossem batizados com base apenas na fé dos pais. A referência, por­ tanto, deve ser aos filhos menores. A realidade é que o batismo de famílias não é exceção, mas a norma no Novo Testamento: dos nove casos nominais de batismo mencionados: Simão, o mágico (At 8:13), o eunuco etíope (At 8:38), Paulo (At 9:18), Cornélio (At 10:48; 11:14), Lídia (At 16:15), o carcerei­ ro de Filipe (At 16:33), Crispo (At 18:8; 1 Co 1:14), Gaio (1 Co 1:14) e Estéfanas (1 Co 1:16); dois não tinham família: o eunuco etíope e Pau­ lo; e cinco tiveram as suas famíliasbatizadas: Cornélio, o carcereiro de Filipe, Lídia, Crispo e Estéfanas. Não obstante, lembra Ferguson: Isso, em si mesmo, não é o ponto significativo. O ponto é que o batismo de uma casa inteira, como tal (At 16:15; 1 Co 1:16), ecoa o padrão que governa a circuncisão cm Gênesis 17:11-14.12 Ademais, vários Pais da Igreja reconhecem e mencionam a prá­ tica do batismo infantil. Especialmente a partir do século terceiro, quando a produção literária cristã preservada se torna mais abundan­ te, há evidências explícitas da prática generalizada de batismo infantil, por exemplo, nos escritos de Tertuliano (160-230), Flipólito de Roma (170-236), Orígenes (185-254) e Cipriano (200-258).13Posteriormente, Agostinho afirmou que “nenhum conciliojamais ordenara o batismo infantil por ser esta uma prática que vinha desde os tempos apostóli­ cos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja que sustentasse o contrário”. O Concilio de Cartago recebeu consulta se era lícito batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do batismo infantil a partir do oitavo dia de vida era comum.14 12 lêrguson, “Infant Baptism View”, 106. 13 Na presidência do Concilio de Cartago, no ano 253, expressando a decisão unâni­ me de sessenta e seis bispos presentes no Concilio. (Cf. Miller, InfantBaptism, 34-35). 14 Mais informações históricas acerca da prática de batismo infantil, em Joachim Je­ remias, Infant Baptism in the First Four Centuries, trad. David Caims (London: SCM Press, 1960); Miller, Infant Baptism, 32-44.
  • 28. 2 O BATISMO E AS CRIANÇAS DA ALIANÇA 31 Não precisamos estranhar que Deus tenha incluído os filhos e a descendência na sua aliança na nova dispensação. Ele se relaciona salvífica e judicialmente não apenas com indivíduos, mas com famí­ lias. “Em todos os casos, no Antigo Testamento, o padrão de admi­ nistração da aliança inclui um princípio de inclusão da família e de gerações subsequentes”.15Foi assim com Adão (Rm 5:12,15,18,19; 1 Co 15:21-22), com Noé (Gn 6:18; 9:8-9; Hb 11:7), com Abraão (Gn 17:7-8; cf. Êx 2:24-25), com Moisés (Êx 2:24; cf. 6:1-8; 12:24-27), com Davi (2 Sm 22:51; 23:5; 1 Re 11:11-12; Sl 89:1-4), e com outros no Antigo Testamento. Conforme argumenta Miller: A ligação íntima e afetuosa entre pais e filhos fornece um forte argumento em favor da membresia eclesiástica da descendência infantil dos crentes. A voz da natureza se levanta e dama muito poderosamente em favor da nossa causa. A idéia de separar os pais da sua prole, com relação à mais importante das relações nas quais aprouve a Deus na sua adorável providênda colocá-los, é igualmente repugnante ao sentimento cristão e à lei natural.16 Essa verdade bíblica é expressa na conhecida exclamação de Moisés: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!17 E conduziu o salmista a escrever: A misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos, para com os que guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos e os cumprem.18 15 Gregg Strawbridge, Baptism in the Bible and Infant Baptism, 4, Internet; http:/ / www.paedobaptism.com/fUes/baptisminthebible.pdf, acessado em 8/05/2014. 16 Miller, InfantBaptism, 16. 17 Em Êx 34:6-7. 18 Sl 103:17-18.
  • 29. Capítulo 3 OBJEÇÕES CONTRA O BATISMO INFANTIL Algumas objeções são comumente levantadas contra o batismo infantil. As mais frequentes são as seguintes: NÃO EXISTE MANDAMENTO BÍBLICO EXPLÍCITO PARA BATIZAR CRIANÇAS E verdade. Se houvesse, não havería razão para a discussão so­ bre o assunto. Como observa Chapell: "A igreja não teria debatido as questões que envolvem o batismo infantil durante séculos, se as respostas certas fossem óbvias”.1Contudo, um mandamento como esse não seria necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre foram reconhecidas como membros da igreja visível no Antigo Tes­ tamento. Seria de se esperar o contrário, isto é, um mandamento (que também não existe, é preciso ressaltar) para excluir as crianças da igreja no Novo Testamento, uma vez que as próprias promessas da nova aliança explicitamente incluíam a descendência.12Conforme argumenta Ferguson: 1 Chapell, WhyDoWeBaptizelnfants?, 15. 2 Cf. Dt 30:6; Jr 31:33-37; 32:37-40; Ez 37:24-26; J1 2:1-29; Is 44:3; 54:10-13; 59:20-21; eM l 4:5-6.
  • 30. 34 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS Visto que... todas as administrações anteriores da aliança incluem os filhos da aliança, e ambos, o povo de Deus e o caminho da graça são organicamente um em toda a Escritura, a ab-rogação do princípio “tu e a tua descendência” requereria uma proclamação decisiva e específica. Na realidade, à luz do relacionamento integral entre aliança e o princípio da descendência, pode ser questionado se ele podería ser abandonado e a própria administração pactuai permanecer.34 Também não existe mandamento explícito instituindo o do­ mingo como o dia do descanso cristão, nem há mandamento bíblico explícito facultando às mulheres participação na ceia do Senhor! Não existe, igualmente, nenhuma passagem nas Escrituras ensinando ex­ plicitamente a doutrina da Trindade. Nem por isso, entretanto, os que questionam o batismo infantil rejeitam essas práticas e doutrina. O que determina se uma doutrina ou prática é bíblica não é apenas se ela é ensinada explicitamente nas Escrituras. Doutrinas e práticas são igualmente bíblicas quando elas são lógica e claramente inferidas do ensino geral da Bíblia, como as acima mencionadas. A Confissão de Fé de Westminster expressa bem esse princípio teológi- co-hermenêutico, quando afirma: Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e daramente deduzido dela.'1 Respondendo a essa objeção, Samuel Miller conclui a sua argu­ mentação em defesa da legitimidade do batismo infantil, como segue: Quando o próprio Mestre dedara com relação aos infantes, “dos tais é o reino dos céus”; quando um apóstolo inspiradamente proclama: “a promessa é para nós e para os nossos filhos”;e quando vemos daramente, 3 Ferguson, “Infant Baptism View, 102-03. Chapell também ressalta que “a elimina­ ção de qualquer sinal da aliança nos filhos dos crentes teria sido uma enorme mudan­ ça na prática e conceito para as famíliasjudaicas. Depois de dois mil anos de prática de aliança familiar (estabelecida desde Gênesis), um pai judeu crente não sabería como interpretar a continuidade da aliança abraâmica que não administrasse o sinal da aliança aos filhos” (Chapell, WJtyDo WeBaptize Infants?, 16). 4 "AConfissão de Fé de Westminster", 1:6.
  • 31. 3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL . 4 5 sob a administração apostólica da igreja, famílias inteiras recebidas na igreja, repetidas vezes, com base na profissão de fé de indivíduos que eram seus cabeças representativos, exatamente como sabemos que ocorria na antiga dispensação, quando a membiesia de infantes era indisputada; quando lemos coisas como essas no Novo Testamento, certamente não podemos reclamar da falta de testemunho que deveria satisfazer qualquer inquiridor razoável.5 NÃO EXISTEM EXEMPLOS CLAROS DE BATISMO INFANTIL NO NOVO TESTAMENTO É verdade. Entretanto, existem exemplos implícitos: as referên­ cias a batismos de famílias inteiras, etc. Por outro lado, se não existe exemplo explícito de batismo in­ fantil no Novo Testamento, convém observar que também não exis­ tem referências explícitas a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos - o que seria de esperar que acontecesse, se eles não fossem batizados na infância. Apesar disso, o batismo dessa classe de pessoas é defendido por aqueles que rejeitam o batismo infantil. JESUS SÓ FOI BATIZADO AOS TRINTA ANOS DE IDADE O batismo de Jesus não serve de argumento contra o batismo infantil. O batismo deJoão não deve ser identificado com o batismo cristão. Tanto é assim que pessoas batizadas por ele, quando conver­ tidas à fé cristã, foram batizadas novamente, em nome deJesus.6 O batismo de Jesus por João Batista provavelmente deve ser entendido como um marco do início do ministério público de Jesus, semelhante à solenidade de lavagem dos sacerdotes, no Antigo Tes­ tamento, antes de realizarem o seu oficio.7É provável, como sugere George Ladd, que o pano de fundo geral do batismo de Jesus esteja nos ritos de lavagem cerimonial da antiga dispensação: 5 Miller, InfantBaptism, 48-49. 6 Cf. At 19:3-5. 7 Cf. Nm 19:7.
  • 32. 36 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS É possível que o pano de fundo para o batismo deJoão não esteja nem em Qumran nem no batismo de prosélitos, mas no cerimonial de purificação do Antigo Testamento. Era exigido que os sacerdotes se lavassem como preparação para o ministério no santuário, e que o povo participasse de determinadas purificações em várias ocasiões (Lv 11-15; Nm 19). Muitas conhecidas passagens proféticas exortam à purificação moral sob a figura de lavagem com água (Is l:16ss; Jr 4:14), e outras antecipam uma purificação por Deus nos últimos tempos (Ez 36:25; Zc 13:1).89 Conforme explica Ferguson: N o seu batismo, Jesus é identificado como o verdadeiro Sacerdote que lida com os pecados. O próprio João, que o batiza, pertence à linhagem do sacerdócio levítico (Lc 1:5). Por meio do batismo de Jesus (então com trinta anos, a idade estipulada para assumir os deveres sacerdotais, cf. Nm 4:3 com Lc 3:23) e sua consagração com água (ver Ex 30:17-21; Lv 8:6), João o nomeia tanto como Sacerdote Real, como Sacrifício. Este será batizado não com batismo de água, mas de sangue, em favor do seu povo; ele próprio batizará com o Espírito e com fogo (uma profecia cumprida tanto em símbolo como em realidade no dia de Pentecoste, Atos 2:1-4)7 AS CRIANÇAS NÃO PREENCHEM AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS: ARREPENDIMENTO E FÉ O mesmo argumento excluiría as crianças do céu, pois as Escri­ turas também declaram: “se não vos arrependerdes, todos igualmen­ te perecereis” (Lc 13:3); e "quem nele crê não éjulgado; o que não crê já estájulgado” (Jo 3:18). Apesar disso,Jesus não as excluiu, e mesmo os que levantam essa objeção não as excluem. Evidentemente, o argumento diz respeito apenas aos adultos, os quais podem exercer fé, e não às crianças. O batismo de adultos deve realmente ser precedido de uma profissão de fé crível. Quanto às crianças, a Bíblia também declara: "se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Ts 3:10) - e nem por isso alguém argumenta- 8 George Eldon Ladd, The New Testament and Criticism (Grand Rapids: Eerdmans, 1967), 41. Ver também Miller, InfantBaptism, 51-52. 9 Ferguson, "Infant Baptism View”, 91.
  • 33. 3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL 37 ria que as crianças devem ser deixadas com fome, porque não podem exercer uma profissão. Esse argumento invalidaria também a circuncisão, no Antigo Testamento. Afinal, as crianças, filhas da aliança, também não podiam se arrepender e ter fé nas promessas - condição para a salvação tam­ bém no Antigo Testamento.1011Não obstante, elas eram circuncidadas e consideradas membros da igreja visível e beneficiárias da aliança, na condição de filhas da promessa, com base na sua relação com os pais ou responsáveis, exatamente como ocorre no Novo Testamento. Os infantes, filhos da promessa, não eram circuncidados no An­ tigo Testamento porque criam. Eles eram circuncidados com base na instituição divina, que os incluiu na aliança. Da mesma forma, os filhos de crentes na nova aliança não são batizados porque crêem ou porque sejam presumidamente eleitos - esse conhecimento não nos pertence. Eles são batizados com base na mesma instituição divina, porque en­ tendemos que não foram excluídos da aliança, no Novo Testamento." Por outro lado, isso não significa que as crianças devam ser tra­ tadas como descrentes. Como observa Chapell: Não existe razão para presumir que, porque as crianças não são capazes de expressar fé madura, elas devam ser tratadas como descrentes. Não há hipocrisia em levá-las à igreja, encorajá-las a expressar a alegria por Cristo, amá-las, ou permitir que orem antes de dormir, ou manifestem outras expressões de fé infantil. Pelo contrário, seria antibíblico tratar nossos filhos como descendência de Satanás, não amados por Deus, e inimigos da família da fé, até eles expressarem fé salvadora.12 Convém ressaltar ainda que o batismo - mesmo de adultos - não representa fé salvadora. Ele representa a pacto da graça, que dá origem à fé. Como escreve Marcei: 10 A circuncisão é explicitamente chamada de “selo dajustiça da fé” (Rm 4:11), embo­ ra os infantes que a recebiam, com oito dias de vida, não pudessem ainda exercê-la. 11 Para uma discussão mais elaborada do assunto, ver Murray, Christian Baptism, 51 58. 12 Chapell, WhyDo WeBaptíze Infants?, 28.
  • 34. 38 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS O batismo representa, sobretudo, um ato da graça de Deus - uma oferta e um dom - cumprido em virtude da sua promessa. É necessário enfatizar esse fundamento objetivo do batismo: os adultos são batizados em razão do pacto que lhes é oferecido e que eles aceitam; não em razão da suafé ou arrependimento, que sãofrutos dopacto. O fundamento do batismo não é a fé e o arrependimento do crente que o pede, e sim o pacto, em virtude do qual tais fé e arrependimento se tornam possíveis.13 DEDICAR OU APRESENTAR CRIANÇAS NÃO É MAIS BÍBLICO DO QUE BATIZÁ-LAS? Não. As passagens bíblicas geralmente apresentadas em defesa da apresentação ou dedicação de crianças, ao invés de batizá-las - com referência a Samuel, Sansão,João Batista eJesus - não dizem respeito à recepção delas na igreja, mas à consagração ao serviço sagrado, seja de nazireu, profeta, ou sacrificial (no caso deJesus). Sua apresentação no templo representa um cumprimento profético, como antítipo do cordeiro pascal. Além disso, esses episódios não substituem a circuncisão ou o batismo, os sinais e selos de recepção na igreja visível no Antigo e no Novo Testamento.14 NÃO É UMA INCOERÊNCIA BATIZAR CRIANÇAS E NÃO PERMITIR QUE PARTICIPEM DA CEIA? De forma alguma. Assim como não representa uma incoerência o fato de que as crianças nascem como cidadãs de um país, mas não se encontram habilitadas a desfrutar de certos privilégios e responsa­ bilidades, como dirigir veículos, ser alunas de uma faculdade, votar, ser votadas, etc., enquanto não alcançam determinadas idades. Assim como a páscoa, a instituição da ceia do Senhor exige que os participantes discirnam a natureza do fato. Por natureza, na condi­ 13 Marcei, ElBautismo: SacramentodeiPacto de Gracia, 162 (ênfase do autor). 14 Para uma refutação mais elaborada da prática eclesiástica da dedicação ou apre­ sentação de menores na igreja, em substituição ao batismo infantil, ver Hyde,Jesus LovestheLittle Children, 49-53.
  • 35. 3 OBJEÇÕES CONTRA O BASTISMO INFANTIL 39 ção de sacramento rememorativo, a participação na ceia do Senhor requer auto-exame, julgamento, discernimento e compreensão das doutrinas bíblicas fundamentais representadas nesse sacramento (1 Co 11:27-32). Por essa razão, segundo a legislação pós-êxodo e estudiosos do judaísmo, apenas após alcançarem certa idade, e de haverem sido devidamente purificados, aqueles que haviam sido circuncidados aos oito dias estavam autorizados a participar de todos os atos cerimo­ niais ligados à páscoa, como, entre outras coisas, oferecer sacrifícios no templo.15 QUE BENEFÍCIOS O BATISMO INFANTIL PODE PROPORCIONAR? Se as crianças não têm compreensão para discernir a razão do batismo, por que batizá-las? Qual o objetivo ou benefícios que o ba­ tismo lhes proporcionaria? Os mesmos benefícios que a circuncisão de crianças proporcionava na antiga aliança. Afinal, também pode­ riamos perguntar: que benefícios a circuncisão traria às crianças na antiga dispensação? Elas também não tinham capacidade para com­ preender o significado da circuncisão. Porque, então, Deus ordenou claramente que elas fossem submetidas àquele rito tão doloroso, no Antigo Testamento? A realidade é que, assim como a circuncisão infantil na antiga aliança, o batismo infantil proporciona vários benefícios, não apenas para as crianças, mas também para a igreja e para os pais, conforme veremos no próximo capítulo. Como ressalta Miller: O batismo é sinal de muitas verdades importantes, e selo de muitas importantesbênçãos pactuais.... Não há beneficio em dedicarsolenemente 15 Cf. Êx 23:18; 34:23; Nm9:13;Dt 16:5-6; c Miller, Injànt Baptism, 67-68. Uma investi­ gação histórica mais pormenorizada acercada instituição, legislações e celebração da páscoa ao longo da história, indusive com referendas quanto à partidpação nas suas cerimônias, pode ser encontrada em James Strong e John Mcdintock, "Passover", em Cydopedia of Biblical, Theologicaland Ecdesiastiad Literature, vol. 7 (Rio, WI: Ages, 2000), 106-62.
  • 36. 40 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS nossos filhos a Deus, por meio de uma cerimônia apropriada, apontada por Ele mesmo? Não há beneficio em nos obrigar formalmente, por meio de compromissos pactuais, a criar os nossos filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor”? Não há beneficio em ratificar publicamente a ligação dos nossos filhos, bem como a nossa, com a igreja visível, e como que compromissá-los a uma aliança com o Deus dos seus pais?16 16 Miller, InfantBaptism, 55.
  • 37. Capítulo 4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL Os sacramentos não são apenas sinais e selos. Eles são meios de graça. Isso significa que tanto a ceia do Senhor como o batismo cris­ tão são instrumentos, por meio dos quais, Deus comunica bênçãos ao seu povo. Isso não ocorre de modo automático ou mecânico, as­ sim como a pregação do evangelho também não comunica bênçãos de maneira mecânica ou automática, independentemente da atitude dos ouvintes. "Não é o ministro, nem a água, e sim Cristo quem san­ tifica e dá significado” ao batismo.1Na medida em que a igreja e os pais desempenharem bem as suas responsabilidades, em obediência à vontade revelada de Deus, pela graça de Deus, por intermédio da obra de Cristo e pela operação do Espírito, todos se beneficiam do batismo infantil. O batismo implica também, portanto, em responsabilidades por parte da igreja, dos pais e, em tempo próprio, das crianças. “Des­ se ponto de vista, o batismo é sinal e selo das obrigações do crente para com Deus e para com a sua igreja”.12 1 Marcei, EIBautismo: Sacramento deiPacto de Grada, 165. Cf. Mt 3:11; 1 Co 6:11; Hb 9:13; ejo 1:7. 2 Ibid., 183.
  • 38. 42 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS PARA A IGREJA Primeiramente, destaco a edificação dos membros da família da aliança, os quais são relembrados dos privilégios que seus próprios filhos desfrutam como membros da comunidade do pacto da graça, na condição de filhos da promessa, debaixo do favor e do cuidado especial de Deus, e das condições favoráveis à fé em que eles se en­ contram como membros da igreja visível. Quando contemplamos o batismo dos filhos da aliança, nós, como igreja, somos abençoados, edificados e encorajados, diante das circunstâncias morais e espiritu­ almente difíceis em que eles viverão. Não precisamos hesitar, como tantos, para gerar e colocar nossos filhos neste mundo mau. Deus será com eles, de maneira especial, porquanto são filhos da promessa, e lhes proporcionará os cuidados e benefícios espirituais necessários para o bem-estar espiritual deles, por meio dos cuidados da igreja e, principalmente, dos pais. Acerca dos benefícios do batismo para a igreja, Marcei escreve: O batismo não diz respeito unicamente a quem o recebe. Não é - como vê a perspectiva individualista - o meio de acrescentar um crente a outros crentes. A igreja, como família, é mais do que a soma dos crentes que a compõem: a igreja é o corpo de Cristo, um organismo vivo. Na igreja, cada membro não vive apenaspara si, esim para todoocorpo... Obatismo não somente promove um novo crente, mas edifica, santifica, purifica e glorifica a igreja...3 Em segundo lugar, ressalto a lembrança da responsabilidade da igreja inteira com relação ao ensino, ao exemplo, à oração e à orien­ tação das crianças e, principalmente, dos pais, com relação aos deve­ res e privilégios dos filhos da aliança. Quando uma criança é recebida como membro da igreja visível, por intermédio do batismo, é como se ouvíssemos uma pregação, com o seu caráter exortativo. “No ba­ tismo, os pais ligam a subsistência dos seus filhos à vida espiritual da igreja. Eles prometem entrelaçar a vida de fé das suas famílias com a ’ Ibid.,179-80. Cf. Rm 12:3-8; Ef 4:1-6; 5:25-27; e 1 Co 12:11-27.
  • 39. 4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 43 vida da igreja”.4Por esse meio, portanto, somos todos admoestados e exortados acerca das nossas responsabilidades para com os filhos da promessa. Por um lado, somos lembrados de que apenas a graça de Deus, por meio da obra redentora de Cristo e santificadora do Espíri­ to Santo, nos purifica do pecado. Por outro lado, somos encorajados e animados a ser bons modelos para eles e para os seus pais, bem como à realização dos nossos deveres espirituais mútuos: de orarmos uns pelos outros, particularmente pelos membros não-comungantes da igreja; de ensiná-los e lembrá-los dos privilégios espirituais que possuem na condição de filhos da promessa, bem como das suas responsabilidades, à medida que forem crescendo; e a exortá-los e repreendê-los - principalmente por intermédio dos pais - quando, porventura, se desviarem do bom caminho ou se conduzirem de ma­ neira indigna do evangelho. Não apenas pastores e presbíteros, mas todos os membros da igreja compartilham certas responsabilidades para com os membros não-comungantes da família da aliança. PARA OS PAIS Primeiramente, o batismo infantil é um ato de devoção dos pais. Ele é uma manifestação pública de obediência a Deus, depen­ dência da sua vontade soberana e confiança na sua fidelidade. Ao apresentarem seus filhos para receberem o selo da aliança, os pais crentes também confessam que eles e seus filhos são pecadores e in­ suficientes para cumprirem, por.si mesmos, os termos da aliança, à parte da graça de Deus, da obra redentora de Cristo e da capacitação do Espírito Santo. Em segundo lugar, ressalto o conforto que os pais crentes têm, decorrente de saberem que seus filhos são membros da família da aliança, filhos da promessa, membros da comunidade do pacto da graça. A não ser que eles rejeitem a promessa quando adultos, pela graça soberana de Deus, essa é a condição em que se encontram, e o Senhor lhes proverá todos os meios necessários com vistas à salva­ 4 Chapell, WhyDoWeBaplizelnfants?, 25.
  • 40. 44 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS ção deles, a uma vida íntegra, santa e útil à igreja e à sodedade, para a glória de Deus. Na condição de filhos da promessa, a salvação é espedalmente para eles, e para outros a quem o Senhor nosso Deus eficazmente chamar, pelo seu Espírito, mediante a Palavra. Evidentemente, eles são seres humanos responsáveis, e, ao chegarem à idade da razão, se assim Deus na sua soberana provi­ dência permitir, eles precisarão confirmar a sua condição de filhos da promessa, professando publicamente a fé genuína em Cristo como único e suficiente salvador, dizendo: “Eu sou do Senhor, creio em Jesus como meu único e suficiente Salvador, e prometo viver em obediência a sua vontade revelada, para honra e glória do seu nome, com a sua graça e com a assistência do seu Espírito”. Em terceiro lugar, o batismo infantil responsabiliza os pais pela criação dos seus filhos. A Bíblianos ensina que a soberania de Deus na obra da salvação não é incompatível, mas anda de mãos dadas com a responsabilidade humana. Nem sempre sabemos como harmonizar essas verdades bíblicas fundamentais. Entretanto, as Escrituras en­ sinam claramente que embora Deus seja absolutamente soberano, inclusive na obra da salvação, nós somos responsáveis pelos nossos atos, os quais incluem a criação dos nossos filhos na disciplina e na admoestação do Senhor, e a obediência por fé, da parte deles, à von­ tade de Deus (cf. Ef 6:4 e Rm 16:26). Assim sendo, o batismo infantil implica em uma série de res­ ponsabilidades dos pais para com os seus filhos, conforme as promes­ sas feitas por eles, na ocasião do batismo dos seus filhinhos, diante da igreja e de Deus. Entre outras coisas, eles prometem fazer com que os seus filhos saibam que são herdeiros da promessa e conheçam os privilégios e responsabilidades envolvidos nisso, por terem nascido não em lares pagãos, mas em famílias cristãs; prometem ensinar-lhes a Bíblia e educá-los na fé; prometem ser fiéis a Deus, dando-lhes bom testemunho e servindo-lhes de exemplo de fé e de vida; prometem trazê-los regularmente com eles à igreja; ensiná-los a adorar a Deus com reverência e a amar os irmãos; prometem livrá-los das más com­
  • 41. 4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 45 panhias; orar com eles e por eles; e criá-los na disciplina e admoesta- ção do Senhor.5 Logo após Deus haver ordenado que a circuncisão, o sinal da aliança com Abraão, fosse aplicado à sua descendência, ele disse, com referência ao pai da fé: "Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo” (Gn 18:19), indicando a sua responsabilidade na criação dos seus filhos no temor do Senhor.6 É verdade, como observa Sartelle, que: Não há como podermos dizer que temos obedecido completamente ao Senhor nessa matéria. E a questão não é se temos sido perfeitos. E se temos nos empenhado em guardar nossos votos da melhor maneira que podemos.7 Que o Senhor nos conceda graça para perseverarmos fiéis aos nossos votos, e vigilantemente educarmos nossos filhos com fideli­ dade e sabedoria, na condição de herdeiros da promessa. PARA AS CRIANÇAS Quando chegarem à idade da razão, elas saberão que pertencem à aliança e se perguntarão: o que isto significa? E serão tão beneficia­ das com o batismo quanto aqueles que são batizados na idade adulta. Não devemos pensar que os benefícios do batismo estejam restritos ao momento do batismo. Como esclarece Chapell: A validade de um selo não depende do tempo em que as condições que acompanham a aliança são satisfeitas. Assim como o selo de um documento, o selo da circuncisão podia ser aplicado muito antes dos beneficiários da promessa e as bênçãos significadas encontrassem as condições da aliança. O selo era simplesmente a garantia visível de Deus de que, quando as condições da sua aliança fossem cumpridas, as bênçãos que ele prometeu se aplicariam.8 5 Ver "Segunda Forma para o Batismo de Crianças”, em Manual Litúrgico ãa Igreja Presbiterianado Brasil (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), 60. 6 Ver Sartelle, What Christian Parents Should KnowaboutInfantBaptism, 19. 7 Ibid., 20-21. 8 Chapell, WkyDo WeBaptizeInfantsi, 12. (cf. Confissão de Fé de Westminster, 28.6).
  • 42. 46 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS As crianças desfrutam dos privilégios espirituais relacionados ao batismo no decurso da vida, e, quando alcançarem a idade da razão, compreenderão e discernirão esses benefícios, e poderão declarar, pessoal e publicamente, fé salvadora em Cristo.9 Elas também usufruem, desde agora, de todos os privilégios que a igreja visívelproporciona aos seus membros: oração intercessó- ria, orientação, admoestação, ensino da Palavra, exemplo dos outros fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto. Por meio da presença aos cultos e da comunhão com os demais membros da igreja, as crianças participam de fato, não como estranhas, mas como membros, de todos os privilégios espirituais que Cristo dispensa ao seu povo por intermédio da igreja, com exceção da participação na ceia do Senhor. Dela, eles compartilharão apenas quando alcançarem a idade da razão e professarem publicamente a sua fé em Cristo. Finalmente, os filhos da afiança devem responder positivamen­ te ao privilégio de fazerem parte do povo da promessa, manifestando e professando fé salvadora na obra redentora de Cristo e procurando viver em obediência de fé, para a glória de Deus. O batismo infantil é, em tempo apropriado, uma convocação ao arrependimento e à obediência de fé. CONCLUSÃO O batismo, seja ele de adultos ou de infantes, por ser uma ce­ rimônia de iniciação na igreja visível, sinal e selo do pacto da graça, e representar a nossa união com Cristo e todos os benefícios dela decorrentes, não deve ser visto como um fato acabado, mas como o início de uma experiência vitalícia. A descrição que o Catecismo Maior de Westminster oferece das implicações do batismo continua a merecer a nossa atenção e reflexão: 9 É interessante notar que muitas igrejas que não reconhecem o batismo infantil adotam alguma forma externa para ligarem seus filhos ao povo de Deus, por meio de rituais de apresentação solene dos seus filhos à igreja.
  • 43. 4 BENEFÍCIOS DO BATISMO INFANTIL 47 O dever necessário, mas muito negligenciado, de tirar proveito de nosso Batismo, deve sercumpridopornós durante anossa vida, espedalmente no tempo da tentação e quando assistimos à administração desse sacramento a outros, por meio de séria e grata consideração da sua natureza e dos fins para os quais Cristo o instituiu, dos privilégios e benefícios conferidos e selados por ele e do voto solene que nele fizemos; por meio de humilhação devida à nossa corrupção pecaminosa, às nossas faltas, e ao andarmos contrários à graça do Batismo e aos nossos votos; por crescermos até à certeza do perdão de pecados e de todas as demais bênçãos a nós seladas por esse sacramento; porfortalecer-nospela morte e ressurreição de Cristo, em cujo nome fomos batizados para mortificação do pecado e vivificação da graça e por esforçar-nos a viver pela fé, a ter a nossa conversação em santidade e retidão, com o convém àqueles que deram os seus nomes a Cristo, e a andar em amor fraterna], como batizados pelo mesmo Espírito em um só corpo.1011 Quando os filhos são criados “nessa atmosfera”, observa Chapell: A fé naturalmente germina e amadurece de sorte que é possível, e mesmo comum para os filhos de pais crentes, nunca conhecerem um dia em que não crêem que Jesus é o seu Salvador e Senhor. Esse crescimento pactuai de uma criança é, na realidade, a vida cristã normal que Deus pretende para o seu povo." 10 “O Catecismo Maior de Westminster”, em Símbolos de Fé: Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior; Breve Catecismo (São Paulo: Cultura Cristã, 2005), resposta 167. 11 Chapell, WhyDo WeBaptizeInfants?, 27.
  • 44. Capítulo 5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO Com relação ao simbolismo e ao modo do batismo, desejo ape­ nas indicar aos leitores as principais razões pelas quais nossos irmãos batistas e pentecostais exigem o batismo por imersão, e apresentar algumas razões de natureza exegética, histórica e prática pelas quais nós, presbiterianos, reconhecemos ambas as formas de batismo: por imersão ou por aspersão/ablução, e porque preferimos a segunda. A PRÁTICA BATISTA E PENTECOSTAL Os nossos irmãos batistas e pentecostais (estes historicamente procedentes dos primeiros) sustentam que a imersão é a única forma legítima de batismo. A primeira razão que apresentam está relacio­ nada ao simbolismo do batismo. Para eles, com base em Romanos 6:3-5 e Colossenses 2:12, o batismo é uma prescrição para imergir, como símbolo da morte, sepultamento e ressurreição do crente com Cristo. Eis os textos: Ou,porventura, ignoraisquetodos nósque fomosbatizadosem Cristojesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se
  • 45. 50 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5). Tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl 2:12).' A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de exemplos de batismos por aspersão ou ablução no Novo Testamento. A PRÁTICA REFORMADA E PROTESTANTE Nós, reformados, não negamos a legitimidade do batismo por imersão. Negamos apenas que essa seja a única modalidade aceitável de batismo. Para nós, imersão, ablução e aspersão são modos legíti­ mos de batismo12 (sendo as duas últimas bíblicas e historicamente bem fundamentadas), pelas seguintes razões: Principalmente, porque o simbolismo do batismo não se en­ contra na imersão, mas na união com Cristo e na purificação, no la­ var purificador. Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da impureza, o batismo com água, que é a circuncisão cristã, simboliza o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de Cristo e da nossa união com ele: "Ele [Deus] nos salvou mediante o lavar re- generador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio deJesus Cristo, nosso salvador” (Tt 3:5).3 Esse simbolismo do batismo é exemplificado no relato do apóstolo Paulo das palavras de Ananias, por ocasião do seu próprio batismo: "levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados...” (At 22:16). O batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação do pecado. Conforme o Catecismo de Heidelberg: 1 Outras passagens bíblicas, como Mateus 3:6, Marcos 1:5; Mateus 3:16; Atos 8:38 e 1 Coríntios 10 são geralmente apresentadas em favordo batismo por imersão. Entre­ tanto, nenhuma delas diz qualquer coisa acerca do modo do batismo. 2 Cf. “Confissão de Fé de Westminster”, 28:3. 3 As várias lavagens cerimoniais no Antigo Testamento e promessas referentes à dispensação do evangelho apresentam o mesmo simbolismo (cf. Lv 14:7; Nm 8:7; Ez 36:25; Hb 9:13-14; e 1 Pe 1:2).
  • 46. 5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 5 1 Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me encontro tão seguramente lavado com seu sangue e com seu Espírito das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado externamente com água que é usada para remover a sujeira do meu corpo.4 Em um sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decor­ rentes da salvação estão implícitas no símbolo: o ingresso no corpo de Cristo por meio da nossa união com ele, a morte para o pecado, o novo nascimento, etc. Muitas figuras são empregadas na Bíblia para simbolizar essas realidades espirituais: morrer com Cristo, ser sepultado com Cristo, ressuscitar com Cristo (Rm 6:3-5; Cl 2:12), ser crucificado com Cristo (Gl 2:19), viver em Cristo (2 Tm 3:12), estar em Cristo (Rm 16:7), andar em Cristo (Cl 2:6), estar radicado e edificado em Cristo (Cl 2:7), revestir-se de Cristo (Gl 3:27), etc. Entre­ tanto, isso não significa que qualquer dessas figuras indique o modo de batismo.5 A simbologia própria do batismo reside na purificação pela lava­ gem de água, apontando para a ação purificadora do Espírito Santo e para o sangue de Cristo, que nos separa do uso comum ou impuro e que nos une a Ele, e não no modo como essa lavagem é realizada. Mesmo em Romanos 6, o contexto geral é de união com Cristo e de purificação do pecado: Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?... Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs. 1-2, 6, 12). 4 "O Catecismo de Heidelberg”, em A Constituição da Igreja Presbiteriana da América. Parte I: 0 Livro das Confissões (São Paulo: Missão Presbiteriana do Brasil Central, 1969), resposta 69. 5 Na realidade, identificar o simbolismo da morte, sepultamento e ressurreição com Cristo com o batismo por imersão é um anacronismo, visto que, na época, como aconteceu com Jesus, os mortos não eram sepultados embaixo da terra, mas tinham seus corpos colocados em sepulcros abertos nas rochas.
  • 47. 52 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS Comentando Romanos 6:4, Charles Hodge observa correta­ mente: Não é necessário assumir que haja qualquer referência aqui à imersão do corpo no batismo, como se fosse um sepultamento. Nenhuma alusão como esta pode ser suposta nos próximos versos, onde é dito que somos plantados com ele. A referência não é ao modo do batismo, mas ao seu (feito. Nosso batismo nos une a Cristo, de sorte que morremos com ele e ressuscitamos com ele... A mesma doutrina acerca do batismo, e da natureza da união com Cristo, aqui expressas, é ensinada em Gaiatas 3:27 e Colossenses 2:12.6 O mesmo ocorre com relação a Colossenses 3:12. Tanto o ver­ so anterior, como o posterior, relacionam o batismo à circuncisão, como símbolo de purificação espiritual, por meio da obra redentora de Cristo na cruz: Nele, também fostes drcunddados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo... E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela indrcundsão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos (Cl 2:11,13). O essencial com relação ao batismo, portanto, para nós refor­ mados, é explicitamente indicado na sua instituição e nas demais pas­ sagens do Novo Testamento, isto é, que seja realizado com água (At 10:47), em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19).7 Segundo, por causa do uso dos verbos correlatos |3aTTTÍ.£tü e (Mtítü) na Septuaginta (versão grega antiga do Antigo Testamento).8 6 Charles Hodge, A Commentary on Romans, The Geneva Series of Commentar- ies (Reimpressão, Edinbuigh e Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1975), 194-95 (ênfases minhas). Ver a sua argumentação inteira sobre Romanos 6:3-5, nas páginas 193 a 196. Observação: sua referência a “plantados com ele” é tradução literal da expressão grega ouvetácpripev oúv atrccô (traduzida na versão de Almeida como: "unidos com ele”). 7 Ver análise dessas e de outras passagens relacionadas, do ponto de vista reforma­ do, em Murray, Christian Baptism, 26-30. 8 O verbo |3aTTTL((üoéempregado apenas quatro vezes na Septuaginta, em 2 Reis 5:14; Judite 12:7; Isaías 21:4 e Eclesiástico 34:25. O verbo j3áiTTtúébem mais frequente na Septuaginta. Ele ocorre cerca dezessete vezes.
  • 48. 5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 53 Esses verbos não são empregados sempre, ou mesmo preferencial­ mente, no sentido específico de mergulhar ou imergir, como sugerem os defensores do batismo por imersão. O sentido geral comum des­ ses verbos é molhar, umedecer, lavar, purificar, podendo essa lavagem ou purificação ocorrer por imersão, ablução ou aspersão. Em Judite 12:7, por exemplo, onde se lê que "toda noite ela saía ao vale de Betú- lia e purificava-se (èpanTÍCeTo) numa fonte de água no acampamen­ to”;e em Daniel 4:339 (ver também 5:21), onde lemos: “no mesmo instante cumpriu-se a palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de entre os homens e passou a comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado (epá^p) do orvalho do céu...”;esses verbos não indicam imersão, mas aspersão ou ablução. Além disso, pelo menos nas se­ guintes passagens na Septuaginta, o verbo páuTto dificilmente pode significar imergir: Levíticos 14:6 e 16; Rute 2:14; e 1 Samuel 14:27.1011 Mesmo em passagens como 2 Reis 5:14, onde a imersão é pro­ vável (mas não necessária), trata-se de uma lavagem como símbolo de purificação, conforme indicam os versos 10,12 e 13. Terceiro, em virtude de referências, no Novo Testamento, aos ritos de purificação do Antigo Testamento, os quais eram frequen­ temente realizados por meio de aspersões de sangue ou de água." Esses ritos de purificação de pessoas, utensílios, etc., são chamados de batismos no Novo Testamento: E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar [cüátttoiç] (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar [vu|jcuvTai] cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se aspergirem QBctTTTLcTtovTCLL]; e há muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem [(jarmaiiouç] de copos, jarros e vasos de metal e camas), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar [raivais-impuras]? (Mc 7:2-5; ênfase minha). 9 Verso 30 na Septuaginta. 10 Para uma análise mais pormenorizada do significado de páiTTüjnessas e em outras passagens na Septuaginta, ver Murray, Christian Baptism, 7-11. 11 Cf. N m l9:9,13e20.
  • 49. 54 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS O autor da Carta aos Hebreus também se refere a esses ritos de purificação cerimonial do povo, do tabernáculo e dos utensílios sagrados como batismos (PairTiapols).12 Quarto, devido ao uso do verbo (5aTm£oj no Novo Testamento. Ele é intercambiável com vítttü) (lavar), como se pode verificar em Marcos 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38 e Mateus 15;2,20. Observação: o modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de água, como hoje - só que com um jarro, ao invés de torneira. Além disso, a contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30) é reconhecidamente uma contenda sobre purificação (v. 25). Em adição, João Batista, Jesus e o apóstolo Pedro se referem ao derramamento do Espírito Santo, anunciado pelos profetas,13com o termo batismo (cf. Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; At 1:15; 11:16). Por essa razão, ressaltando a propriedade do simbolismo do batismo por aspersão ou ablução, Miller escreve: Se o batismo, quanto ao seu significado simbólico, tem a intenção de representar a lavagem do Espírito Santo, como todos concordam; é evidente que nenhum modo de aplicar a água batismal pode ser mais visivelmente adequado para comunicar o seu significado simbólico, ou mais fortemente expressivo do grande beneficio que a ordenança tenciona manifestar e selar, do que aspeigindo ou derramando.14 Quinto, e muito importante, por causa do caráter espiritual do culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma, mas o espírito. A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos ofician- tes, no templo, no rito ou em formas externas, mas na sua natureza espiritual e verdadeira. Consequentemente, em nenhum lugar no Novo Testamento é explicitada a forma do batismo (imersão, asper­ são ou ablução). Nem mesmo as palavras de instituição do batismo dizem qualquer coisa acerca do modo como ele deveria ser realiza­ do. Logo, por que razão enfatizaríamos nós, por razões teológicas, 12VerHb 9:10 (cf. w. 13,19 e 21). Vertambém Murray, Christian Baptism, 17-20. 13 Ver Isaías 32:15; 44:3; Ezequiel 39:29; Joel 2:28-29 (cf. Atos 2:17-18); Zacarias 12:10. 14 Miller, Infant Baptism, 88. Ver também Murray, Christian Baptism, 20-21.
  • 50. 5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 55 uma forma específica de batismo, ao ponto de negar participação na ceia do Senhor a crentes professos e piedosos, simplesmente por não terem sido batizados por imersão? E preciso cuidado para não se considerar a água batismal de modo supersticioso, atribuindo a ela - muito menos ao modo como ela é aplicada - mais importância do que à obra salvadora de Cristo e do seu Espírito. Sexto, é interessante observar, ainda, que não existeum só exem­ plo de batismo no Novo Testamento que especifique de modo explí­ cito e inequívoco a forma de batismo praticada: imersão, aspersão ou ablução. Isso não parece compatível com a insistência daqueles que sustentam como legítimo exclusivamente o batismo por imersão. Na realidade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos tornam bastante improvável a possibilidade de imersão. E o caso do ba­ tismo das grandes multidões na cidade de Jerusalém, onde a água era escassa (At 2:37-41);” do eunuco no deserto (At 8:26-40);1516de Paulo na casa deJudas, por Ananias;17e do carcereiro de Filipos (At 16:30-33).18 15 Além disso, quanto tempo e esforço fisico seriam necessários para Pedro (mesmo supondo que contasse com a ajuda dos demais apóstolos) batizar por imersão quase três mil pessoas em um só dia (cf. At 2:41)? 16 A expressão “onde havia água”, no verso 36, traduz as palavras gregas “értí Ti Ü5u)p”, que significam literalmente “em cima de” ou “próximo a alguma água”. E as expressões “desceram à água” (Kare^r)aav ápípótepoi £Íç rò Ü5wp), literalmen­ te: "desceram ambos para a água” (v. 38), e “saíram da água” (àve^ijoav éx toO iíSaroç), no verso 39, não implica em imersão. Elas podem significar apenas que eles desceram do carro ou das encostas do riacho ou poça/olho d agua para a água (cf. Mt 17:27;Jo 2:12; At 7;15; e 18:22, onde expressões semelhantes são empregadas, sem significar imersão). Se as expressões significassem imersão, em Atos 8:38-39, então ambos teriam imergido: Filipe e o eunuco - o que não faria sentido. 17 Nada no relato indica que saíram da casa para um rio (cf. At 9:17-19) - nem Paulo teria condições físicas para isso, prostrado que estava, sem comer ou beber durante três dias (cf. w. 9 e 19). 18 Além de não haver qualquer referência no relato quanto a terem saído da casa do carcereiro para um algum rio, as circunstâncias tomam isso altamente imprová­ vel, diante das condições físicas de Paulo e Silas (cf. w. 23 e 33), do horário: após a meia-noite, e do local: nos aposentos do carcereiro, provavelmente da área externa do cárcere, mas dentro das edificações da prisão. Cf. I. Howard Marshall, Atos dos Apóstolos:Introduçãoe Comentário; Série Cultura Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1982; reimpressão, 2001), 258; e John R. Stott, A Mensagem de Atos: Até os Confins da Tenra (São Paulo: ABU, 1994; reimpressão, 2003), 301.
  • 51. 56 PARA VÓS E PARA VOSSOS FILHOS Finalmente, alguns desenhos, gravuras e pinturas mais antigas de cenas de batismos cristãos (desde o final do primeiro ou início do segundo século) retratam o derramamento de água sobre o ba­ tizando. Em alguns casos, o ministrante do batismo e o batizando encontram-se ambos dentro da água (com água até o tornozelo, pernas ou cintura), às vezes em batistérios, mas o batismo está sendo realizado por aspersão ou ablução.19 O batismo por imersão parece ter sido uma prática comum na igreja primitiva, mas não a única. Vários escritos e autores antigos, como o Didaquê, Clemente de Roma, Justino Mártir, Tertuliano, Irineu, Basílio Magno, Cipriano, Gregório de Nazianzo, Ambrosio, Hilário, Jerônimo e Agostinho, também reconhecem a prática do batismo por aspersão e/ou ablução.20Além disso, algumas situações inviabilizam o batismo por imersão, como no caso de escassez de água, de regiões muito frias e de pessoas enfermas no leito, mencio­ nado por Cipriano de Cartago, no terceiro século, como comum na época, e amplamente praticado desde então.21 Não obstante todas as evidências mencionadas em favor do batis­ mo por aspersão ou ablução, convido o leitor a refletir sobre a seguinte observação de Samuel Miller, em seu clássico sobre batismo infantil: 19 Cf. Clement Francis Rogers, "Baptism and Christian Archaelogy”, em Studia Bib- UcaetEcclesiastica, vol. 5, parte IV (Oxford: Claredon Press, 1903), 241-44. 20 Outras evidêndas de batismo por aspersão ou ablução na Igreja Primitiva po­ dem ser encontradas em Rogers, 'Baptism and Christian Archaelogy”;Vertambém: James W Dale, Christic Baptism and Patristic Baptism: BAÍITIZO: An Inquire into the Meaningof the WordasDetermined bythe Usageof TheHoly Scripturesand Patristic Writ- ings (Wauconda, 1L: Bolchazy-Carducri; Phillipsburg, NJ: Puritan 8i Reformed; and Toney, AL: Loewe Belfort Project, 1995; reimpressão da segunda edição, Philadel- phia: Presbyterian Board of Publication, 1874), 532-39. William A. BeVier, "Water Baptism in the Andent Church, Part I”, Bibliotheca Sacra 116:462 (1959): 136-45; idem., “Water Baptism in the First Five Centuries”:230-41. 21 Batismo conhecido como “clínico”, do latim dinici (termo originado da expressão grega: kv tt) kXÍi/q,no leito). B. B. Waríield, 'Archaeology of the Mood of Baptism”, Bibliotheca Sacra 53:212 (1896): 609. Esse artigo de Waríield contém uma história por­ menorizada do modo do batismo cristão (pp. 601-604). Ver também Dale, Ckristic Baptism andPatristic Baptism, 523-32.
  • 52. 5 SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO 57 Mesmo que pudesse ser provado (o que sabemos que não pode ser) que o modo debatismo adotado no tempo de Cristo e seus apóstolos era [apenas] por imersão; ainda assim, se esse modo de administração da ordenança não for significativo de alguma verdade que outro modo não possa representar, temos plena liberdade para considerá-lo como uma circunstância não essencial, a qual podemos não observar, quando a conveniência requerer, como todos fazemos em outros casos... A Ceia do Senhor, por exemplo, foi sem dúvida instituída com pão asmo - e essa foi, provavelmente, a prática comum no início. Entretanto, visto que ser ou não levedado nada tem a ver com o objetivo e escopo da ordenança... a maioria dos crentes professos, incluindo nossos irmãos batistas, consideram-se autorizados a celebrar a ceia do Senhor com pão fermentado, sem a menor hesitação.22 22 Miller, Infant Baptism, 100.