A Missa é o memorial perfeito de Jesus, onde sua presença viva nos mantém conscientes dele. É também um banquete divino onde Deus provê sua própria carne e sangue. Sobre tudo, a Missa é um sacrifício perfeito onde Cristo oferece a si mesmo como vítima infinitamente valiosa em nome de todos os cristãos.
2. O que significa a Eucaristia na vida da Igreja?
A Eucaristia é a fonte e o ápice da vida cristã. Na
Eucaristia, atingem o auge a ação santificadora de Deus
em nosso favor e o nosso culto para com Ele. Nela está
contido todo o tesouro espiritual da Igreja: o próprio Cristo,
nossa Páscoa. A comunhão da vida divina e a unidade do
Povo de Deus são significadas e realizadas na Eucaristia.
Pela celebração eucarística unimo-nos desde já à liturgia
do Céu e antecipamos a vida eterna.
3. Introdução
O centro da liturgia da Igreja é a Eucaristia - a
Missa -, que os Apóstolos celebraram desde
o primeiro momento; desde então até agora,
a Missa tem permanecido essencialmente a
mesma.
5. A Missa
A missa é um memorial de Nosso Senhor. “Fazei isto em
memória de mim”, disse Jesus ao ordenar sacerdotes os
seus Apóstolos. É inerente ao coração humano o desejo de
conservar viva a lembrança das pessoas que se amou ou
se admirou. Quer se trate de um retrato desbotado dos
nossos falecidos pais, ou de um monumento a um herói
nacional, o mundo está semeado de memoriais. Nosso
Senhor Jesus, que tanto nos ama e que tanto deseja o
nosso amor, deixou-nos um memorial de Si mesmo como
só Deus o podia conceber. Não é um quadro, um
monumento, uma estátua; é a presença viva de Si mesmo,
que vem diariamente a nós na missa.
6. Na Missa, temos o próprio Corpo e o próprio Sangue de
Jesus imolado na Cruz. Nela, Jesus continua através do
tempo o oferecimento de Si no Calvário, aplicando à
nossa alma os méritos que nos ganhou no Gólgota. Não
é apenas a sua morte que recordamos na Missa, mas
também a sua ressurreição, pela qual Jesus nos
arrebatou das garras da morte, de uma vez para
sempre; e também a sua Ascensão aos céus, à glória
para a qual nos predestinou, e que um dia partilhará
conosco, se nós o quisermos.
Além de ser uma recordação de Nosso Senhor, a Missa
é um banquete sagrado. À sua mesa, Jesus alimenta-se
com o seu próprio corpo e sangue.
7. A Missa é um memorial do Senhor Jesus. É um memorial
perfeito, em que a sua presença viva nos mantém
vividamente conscientes dEle. É também um banquete
divino, em que Deus provê a mesa com seu próprio
corpo e o seu próprio sangue. Mas é mais do que um
memorial e mais do que um banquete. É sobretudo um
sacrifício.
8. Com o transcorrer dos séculos, a palavra sacrifício perdeu
grande parte do seu significado exato, e passou a indicar
antes algo doloroso e, por isso, desagradável: a renúncia a
alguma coisa que gostaríamos de ter ou de fazer.
Originariamente, no entanto, essa palavra tinha um só
significado: aplicava-se à ação pela qual se oferece a
Deus um dom, e esse é ainda hoje o seu sentido estrito e
mais apropriado. Deriva de duas palavras latinas: sacrum,
sagrado e facere, fazer. Fazia-se sagrada uma coisa
subtraindo-se à posse e ao uso humano, e oferecendo-a a
Deus por um ato simbólico de doação.
9. A Missa é o sacrifício perfeito. Todos os sacrifícios
anteriores à Missa tinham um grande defeito: para Deus,
os dons oferecidos não tinham, em si, valor nenhum.
Simplesmente devolviam a Deus as coisas que Ele
mesmo havia criado: touros, ovelhas, pão e vinho. Mesmo
todo ouro que é guardado nos bancos do mundo, em si,
não teria valor nenhum para Deus. O Senhor comprazia-
se nas oferendas porque se dignava fazê-lo, aceitava
graciosamente os nossos insignificantes dons por serem
expressão do amor dos homens.
10. Mas, no Sacrifício da Missa, irrompe um elemento novo e
maravilhoso: pela primeira vez e todos os dias, a
humanidade pode já oferecer a Deus um dom digno dEle: o
dom do seu próprio Filho, um dom de valor infinito, digno
de Deus infinito. Aqui temos um dom que Deus não só
digna aceitar, mas tem que aceitar, um dom que Deus não
pode recusar, um dom precioso aos seus olhos porque é
um dom de Deus a Deus.
A Missa é as três coisas: memorial, banquete, sacrifício,
mas acima de tudo, é sacrifício. É o sacrifício que durará
enquanto o tempo durar.
11. Que constitui um sacrifício?
O sacrifício é um dom feito a Deus. No entanto, nem todos
os dons oferecidos a Deus são sacrifícios. O dinheiro com
que contribuímos para as despesas da paróquia ainda que
seja um dom oferecido a Deus (se nossa intenção é reta),
não constitui um sacrifício no sentido estrito da palavra.
Num autêntico sacrifício, a oferenda é subtraída ao uso
humano e de alguma maneira destruída, para significar que
é um dom que se faz a Deus. Nos sacrifícios pré-cristãos,
se se oferecia um animal, este era morto sobre o altar e,
frequentemente, consumido pelo fogo. Se se oferecia vinho,
este era derramado no chão, diante do altar. Essa
destruição do dom era e é essencial à ideia de sacrifício.
12. Há um nome especial para o dom que se oferece a
Deus em sacrifício: vítima. A palavra latina victima
significava especificamente o dom que se oferecia
a Deus em sacrifício. E o mesmo sentido que
“vítima” tem a palavra hóstia.
13. Outro ponto a sublinhar é que o sacrifício não é um ato de
piedade individual. A oferenda de um sacrifício é um ato
de culto social, quer dizer, de grupo. Isto significa que
quem oferece um sacrifício não o faz em nome próprio,
como indivíduo particular. Oferece-o em nome do grupo
que representa, do qual ele é o porta-voz. Nos tempos
pré-cristãos, o patriarca oferecia o sacrifício em nome da
sua tribo ou família; o rei, em nome dos seus súditos; os
filhos de Aarão, em nome dos israelitas.
14. E isto revela-nos o último requisito de um sacrifício
genuíno: deve haver um sacerdote. Quem oferece
um sacrifício deve ter o direito de representar o
grupo em cujo nome faz a oferenda. Seja patriarca-
sacerdote, rei-sacerdote ou aaronita-sacerdote, deve
ter o direito de se dirigir a Deus em nome do povo de
Deus.
15. Passo a passo, fomos construindo a definição de
sacrifício. Podemos agora descrevê-lo como a
oferenda de um dom (chamado vítima) que um
grupo faz a Deus, e a destruição dessa vítima
para indicar que é um dom feito a Deus, realizado
por alguém (chamado sacerdote) que tem o
direito de representar esse grupo.
16. Devemos ter ideias claras sobre a razão pela qual chamamos à
Missa o Santo Sacrifício. Tem todos os elementos essenciais a um
verdadeiro sacrifício. O primeiro e o principal é que há a oferenda
de um dom infinitamente precioso, da vítima infinitamente perfeita:
o próprio Filho de Deus. Há o grupo pelo qual o dom é oferecido:
todos os cristãos batizados em união com o Vigário de Cristo na
terra, o Papa; quer dizer, o Corpo Místico de Cristo. Há também o
sacerdote: o homem que, por meio do sacramento da Ordem
Sagrada, recebeu de Deus não só o mandato, mas também o
poder necessário para oferecer a Deus esse dom sublime, o poder
de mudar o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo.
17. O sacerdote humano, no entanto, não passa de uma figura
secundária. É o próprio Jesus Cristo quem representa realmente
o povo de Deus, um povo que Ele comprou com o seu sangue. É
o próprio Cristo o sacerdote real de cada missa: é Cristo-
sacerdote quem oferece Cristo-vítima a Deus por todos nós. O
sacerdote humano é simplesmente o “instrumento vivo de Cristo-
Sacerdote”, como nos lembra o Concílio Vaticano II. Pelo
sacramento da Ordem Sagrada, Jesus designou esse homem e
deu-lhe poderes para ser seu agente livre e cooperante, para
dizer as palavras pelas quais Ele mesmo, num ponto
determinado do tempo e do espaço, renova a oferenda de Si
feita na cruz.
18. E é aqui que se dá a destruição da Vítima. Cada Missa não é
um novo sacrifício em que Jesus morra outra vez, mas a
continuação e prolongamento – no tempo – da morte, realizada
de uma vez por todas, de Jesus, na cruz. A Missa torna-nos
presente e eficaz, aqui e agora, a Vítima oferecida no altar da
cruz. A morte de Jesus é muito mais que um fato histórico. É
um sacrifício eterno. Não há ontem para Deus. Na sua mente
infinita, para a qual todas as coisas passadas são presente,
Jesus pende eternamente da cruz.
Não é uma verdade fácil de captar, mas é a verdade: na Missa,
o tempo e a distância são aniquiladas num sentido místico, e
você e eu nos encontramos ao pé da cruz na qual o Filho de
Deus se oferece em reparação pelos nossos pecados.
19. Finalidades da Missa
A Missa tem um fim quádruplo, e esses quatro
objetivos dizem respeito à relação que existe entre
Deus e nós. Deus é o Dono e Senhor de toda a
criação. Tudo o que existe, foi Ele que o fez.
Somos criaturas de Deus, propriedades de Deus;
pertencemos-lhe em corpo e alma. Da própria
natureza da relação entre criatura e Criador
surgem certas obrigações indispensáveis.
20. A primeira de todas é reconhecer essa própria relação: reconhecer o
infinito poder, sabedoria e bondade de Deus, reconhecer que Ele é tudo
e nós não somos nada comparados com Ele. O próprio fim da nossa
existência, a razão pela qual Deus nos fez, é dar-lhe glória. Abaixo do
nível humano, as coisas criadas dão glória a Deus simplesmente por
existirem. Os minerais, as plantas e os animais dão testemunho da
grandeza de Deus simplesmente sendo o que são. Mas o caso do
homem é diferente, e dele se espera mais. Com a sua alma imortal, com
o seu livre-arbítrio e a sua capacidade de pensar e falar, o homem não
pode ser um mero testemunho mudo da glória divina. Com a sua
liberdade, que é seu privilégio exclusivo, o homem deve dar glória a
Deus livremente, deve cantar livremente os louvores divinos.
21. Em resumo, o homem deve adorar a Deus. Adorar
a Deus é o primeiro dos seus deveres, o elemento
mais essencial da sua oração, o fim primordial de
todos os seus sacrifícios. Em consequência, a
adoração é o fim primordial da Missa. Na Missa,
pela primeira vez, a humanidade pôde adorar a
Deus adequadamente, na pessoa do próprio Filho
de Deus que nos representa.
22. Depois da adoração, o segundo dos nossos deveres para com
Deus é a gratidão. Sendo Deus a fonte de todo o bem, sabemos
que tudo o que somos, temos ou esperamos, vem dEle. Nem
sequer poderíamos continuar a existir se Ele nos deixasse fora da
sua mente por um simples instante. A vida física e a vida espiritual,
as graças que continuamente recebemos todos os dias, o amor e
a amizade, as ondas da televisão e a água que sai da torneira:
tudo, absolutamente tudo, é de Deus e a Ele devemos agradecer.
Dar graças a Deus é, pois, o segundo elemento essencial de toda
oração e sacrifício verdadeiros.
É o segundo fim da Missa. Nela, Jesus Cristo oferece a Deus, em
nosso nome, uma ação de graças que sobrepuja os dons que
recebemos, uma ação de graças infinita, que a própria infinita
bondade de Deus não pode superar.
23. Além de adorar e dar graças, a nossa relação com Deus
impõe-nos outro dever: o de pedir-lhe as graças de que
nós e os demais homens necessitamos para alcançar o
céu. Dotando-nos de uma vontade livre, Deus fez com que
a nossa salvação dependesse da nossa livre cooperação.
Ele não nos força a aceitar umas graças que não
queremos. Mostramos a nossa disposição de cooperar
quando pedimos a Deus as graças de que necessitamos.
24. Deus fez também com que, em certo grau, a nossa salvação
dependesse dos outros. Jesus Cristo dignou-se fazer-nos participar do
seu trabalho redentor; as nossas orações beneficiam os outros, do
mesmo modo que a dos outros nos beneficiam. Uma vez que é lei de
Deus que amemos os outros como a nós mesmos, é lógico que
tenhamos que rezar por eles – pelas graças de que necessitam – como
rezamos por nós. Naturalmente, rezamos pelos que estão ligados a
nós por laços de sangue, de dever ou de afeto; mas as nossas orações
devem ir mais longe e abranger todos os homens. Se queremos,
podemos pedir favores temporais, mas devemos pedir pelas nossas
necessidades espirituais e pelas do próximo. A petição é o terceiro fim
pelo qual se oferece a Missa, e é o próprio Jesus Cristo quem nela
intercede conosco e por nós.
25. Além de adorar, dar graças e pedir, devemos a Deus
reparação pelos nossos pecados. Pela própria natureza da
nossa relação com Deus – a de uma criatura com o seu
Criador – devemos obediência absoluta à vontade divina.
Rebelar-nos pelo pecado contra Deus que nos fez é um ato
de injustiça infinita, e ao mesmo tempo uma ingratidão
monstruosa. Se assim nos rebelamos, é nossa obrigação
restaurar a balança da justiça reparando o nosso pecado.
Mais ainda, dada a unidade do gênero humano e a
interdependência entre todos, é também necessário que
ofereçamos reparação pelos pecados alheios.
26. Nenhum de nós pode oferecer uma satisfação adequada pelo
pecado; só Jesus podia fazê-lo, e foi o que fez na cruz e o que
continua a fazer todos os dias, tirando-a daquele depósito
inesgotável. O valor infinito da satisfação de Cristo pelo pecado
não dispensa, evidentemente, a nossa reparação pessoal.
É precisamente pela infinita satisfação pelo pecado, oferecido
por Jesus na cruz, que os nossos atos de reparação, oferecidos
em união com os de Cristo, ganham valor aos olhos de Deus.
Este é o quarto dos fins pelos quais se oferece a Missa:
reparação a Deus pelos pecados dos homens.
27. Frutos da Missa
Os teólogos distinguem três espécies de frutos na Missa. O
primeiro é o fruto geral. Em consonância com a intenção de
Nosso Senhor e da sua Igreja, o sacerdote oferece em cada
missa o Santo Sacrifício pelos presentes; pela Igreja, pelo
Papa e pelo bispo da diocese; por todos os fiéis cristãos,
vivos e defuntos, e pela salvação de todos os homens. Por
vontade de Cristo e da sua Igreja, estas intenções estão
presentes em cada missa, e o sacerdote que a oferece não
pode excluí-las nem que queira. As graças que resultam
dessa intenção são as que poderíamos chamar “graças
comuns” da Missa.
28. Além do fruto geral da Missa, temos o fruto especial, que se
aplica à pessoa ou às pessoas (vivas ou mortas) por quem a
missa é oferecida pelo celebrante. Quando damos uma
espórtula para que se celebre uma missa, esse fruto especial
aplica-se às pessoas por quem se oferece a intenção da
missa, isto é, a nós ou a terceiros. Não se deve perguntar
nunca: “Quanto custa uma missa?” A missa tem valor infinito
e não se pode fixar-lhe um preço. A espórtula não é um
preço que pagamos, é uma oferenda que fazemos. E quando
o sacerdote a aceita, é obrigado em consciência, sob pena
de pecado mortal, a procurar que essa missa seja oferecida
de acordo com as intenções do doador.
29. Além dos frutos geral e especial da Missa, há um
terceiro: as graças que resultam da participação pessoal
do sacerdote celebrante, e que contribuirão para a sua
própria santificação e reparação dos seus pecados. Este
fruto é chamado fruto pessoal da Missa.