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Em: SILVA, W. S. Criacionismo no século 21, Uma abordagem multidisciplinar. 
CePLiB: Cachoeira, 2013 
C a p í t u lo 2 
O ENSINO DO CRIAQIONISMO NAS 
AULAS DE CIÊNCIAS: 
A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA REDE 
ADVENTISTA DE ENSINO 
íM a y a r a F a r ia s d a S iC v a S a n t o s 
'W e f â n g t o n Ç i í (R o d r ig u e s 
In t r o d u ç ã o 
Desde o seu surgimento na segunda metade do século XIX, o darwinismo 
tem provocado várias polêmicas e uma das principais é a questão do ensino das 
origens, ou seja, a tão decantada polêmica criação x evolução. Um dos seus 
principais aspectos é quanto ao status do ensino de criacionismo nas escolas. 
Há quem defenda que este pode ser considerado ciência e, por isso, merece 
espaço no currículo na mesma medida dada ao ensino do evolucionismo. Em 
contrapartida, outros discordam dessa posição, apontando tal ensino como 
religioso e não científico e, como tal, deve se restringir ao espaço da igreja ou 
ao momento da aula de religião. Essas polêmicas demonstram a necessidade de 
um estudo mais aprofundado sobre o tema. 
Um grupo especialmente envolvido nessa polêmica é de professores da 
rede adventista de ensino visto que esta declara ter seu currículo pautado nos 
princípios bíblico-cristãos e manter firme a postura do ensino do criacionismo 
em meio a uma comunidade educacional que supervaloriza o conhecimento 
“científico" em detrimento do que diz a Bíblia. É necessário, contudo, entender 
o posicionamento específico da educação adventista sobre esse assunto, bem 
como as concepções dos professores dessa rede a respeito do mesmo e como 
essas concepções se refletem na sua prática pedagógica. O problema que guia 
este trabalho é o questionamento: como os professores de ciências da rede
m. tCaplmio2 1 - Mayara Santos e Wellington Rodrigues 
adventista relacionam suas perspectivas sobre o criacionismo com a sua prática 
do ensino de ciências em sala de aula? 
Na próxima seção, estão apresentados, de maneira sucinta, os referenciais 
teóricos procedentes da literatura em educação científica, e da filosofia da 
educação adventista que subsidiaram esta investigação. Em seguida, encontra-se 
explanada a metodologia empregada e os dados obtidos, sendo discutidos à 
luz da teoria. Finalmente, discute-se a contribuição que os resultados da pesquisa 
têm a oferecer à educação adventista e, mais especificamente, aos professores 
de ciências que atuam nessa rede de ensino. 
C r ia c io n is mo e s e u s C o n c e it o s 
A polêmica já começa sobre o significado do que é o criacionismo. 
Trata-se de uma teoria? Uma filosofia? Apenas um modo de pensar? Pode ser 
chamado de ciência? Esses e outros questionamentos estão bem presentes 
no ambiente das relações entre criacionismo e evolucionismo, entre ciência e 
religião e precisam ser discutidos e esclarecidos a fim de proporcionar uma 
melhor compreensão do tema. 
Alguns há que entendem tanto o evolucionismo como o criacionismo 
como ciência. Outros acreditam que o evolucionismo é ciência e o criacionismo, 
apenas religião. Outros há, ainda, que acham que nenhum dos dois é ciência, 
mas apenas filosofias. E as polêmicas de discussão entre essas duas vertentes 
só vêm aumentando cada vez mais. 
O Dr. Antonio Zichichi, então presidente da Federação Mundial de 
Cientistas, declara que o evolucionismo não pode ser considerado ciência no 
sentido estrito do termo, ou seja, ciência empírica. Segundo ele, 
[...] a teoria que deseja colocar o homem na mesma árvore genealógica 
dos símios está abaixo do nível mais baixo de credibilidade cientifica. 
... Se o homem do nosso tempo tivesse uma cultura verdadeiramente 
moderna, deveria saber que a teoria evolucionista não faz parte da 
ciência galileana. Faltam-lhe os dois pilares que permitiriam a grande 
virada de 16o0: a reprodução e o rigor. (ZICHICHI, 1999, p. 81 e 
82). 
Por esse mesmo motivo, Borges (2004) declara que a teoria criacionista 
também não pode ser considerada verdadeira ciência galileana, pois a mesma 
aponta para a existência de um Deus, um ser divino que transcende a lógica 
humana e não pode ser comprovado em testes de laboratório, nem tampouco 
através da lógica matemática. 
48
D E n s im ü ü ü C r ia c i g n is m o m s A u l a s p [ C iê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d d s p r í h s s í m s d e c iê n c i a s e a o f a í w n t .s i a d f e h s ih u 
Ruy Carlos de Camargo Vieira, presidente da Sociedade Criacionista 
Brasileira, parece concordar com esse posicionamento ao afirmar que 
“fundamentalmente, os modelos' criacionista e evolucionista são duas posições 
filosóficas e não científicas, que têm a ver com pressupostos a respeito do 
Universo no qual estamos inseridos” (apud Borges, 2004, p. 20). 
Por outro lado, Asimov (1981, p. 183) afirma que o evolucionismo pode 
ser considerado uma teoria científica ao passo que o criacionismo, não. Para 
ele, uma teoria “é uma descrição detalhada de alguma faceta do funcionamento 
do Universo que é baseada em longa observação e experimentação e que tem 
sobrevivido ao estudo crítico dos cientistas em geral.” Segundo ele, a teoria celular, 
da gravitação, a teoria quântica e a da relatividade são bem fundamentadas e 
“aceitas como descrições válidas deste ou daquele aspecto do universo. Elas não 
são palpite nem especulações. E nenhuma é melhor fundamentada, examinada 
mais de perto, mais questionada criticamente e mais largamente aceita do que 
a teoria da evolução” . 
Nessa perspectiva, os argumentos e descobertas em relação à teoria 
evolucionista têm base científica e são verdadeiras, pois partem da lógica humana 
e do estudo científico dessa realidade, ao mesmo tempo em que se contrapõe 
aos argumentos do criacionismo, ao dizer que este não é uma teoria. Para 
Asimov (1981, p. 183), não existe “nenhum indício, cientificamente falando, que 
o apoie. O criacionismo, ou pelo menos a variedade particular aceita por muitos 
americanos, é uma expressão de uma lenda dos primórdios do Oriente Médio. 
Ela é descrita, com justiça, como ‘apenas um mito’.” 
De acordo com Engler (2007, p. 83, 84), de modo geral, “o conceito vigente 
de ‘criacionismo’ [...] é a crença cristã segundo a qual Deus criou o mundo e 
todos os seres vivos conforme ê descrito no livro bíblico do Gênesis". 
No entanto, não existe apenas uma descrição de criacionismo. Não é apenas 
acreditar que Deus é o criador do mundo que faz de alguém um criacionista, 
no sentido estrito da palavra. Existe uma variedade de teorias para defender o 
criacionismo e nem todas elas aceitam a interpretação da Bíblia como sendo 
literal, no que diz respeito à criação do mundo e da vida. A seguir, encontram-se 
alguns quadros que demonstram os principais tipos de criacionismo e o que cada 
um deles defende e ensina. Essas descrições baseiam-se em alguns autores, a 
Modelo é uma coisa mentalmente estruturada para tentar reproduzir da maneira mais 
aproximada possível a ‘realidade1, o que, para a filosofia é inatingível, visto que nem tudo é 
mensurável. (VIEIRA, 2004, p. 20)
ICaiHlulo2 1 - Mayara Santas e Wellington Rodrigues 
saber, Freire-Maia (1986), Moreland e Reynolds (2006) entre outros. 
Quadro 1 - Tipos de Criacionismo Segundo Freire-Maia (1986) 
TIPOS DE 
CRIACIONISMO DESCRIÇÃO CONCEITUAL 
Criacionismo-fixista 
Deus criou todos os seres vivos (incluindo 0 homem, 
os animais domésticos, as plantas cultivadas, as raças 
geográficas, as variedades, etc.) e, desde 0 início, não 
nouve mudanças evolutivas, (p. 20). 
Criacionismo-semifixista 
Deus criou 0 homem e todas as espécies de animais e 
vegetais ditas selvagens, que se mantiveram fixos até 
hoje; os animais domésticos e as plantas cultivadas, 
com todas as suas variedades, surgiram, pelo trabalho 
do homem, a partir de ancestrais selvagens; as raças 
geográficas (mesmo as humanas) desenvolveram-se por 
evolução (intra-específica). (p. 20). Certa posição dos 
criacionistas-semifixistas vem senao chamada ae “cria-cionismo 
científico” , (p. 23) 
Criacionismo-evolucionista 
Deus criou a matéria com propriedades evolutivas e, as-sim, 
a evolução ocorre pela ação de fatores naturais, 
em consequencia daquelas potencialidades. Deus está 
presente na origem e no destino de tudo. Antes do acaso 
e da necessidade, frutos das contingências naturais, en-contra- 
se a onipresença divina. Essa posição está, como 
bem se vê, intimamente ligada a uma visao religiosa de 
mundo. (p. 21-2 2 ).
0 E n s in c d u C k ia c i o n iü m u n a s A u i í S 3 : C iê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d g s h r o e e ^ i m s d e c iê n c ia s d a r e d e a d v e n t i s u d f f n s in ii 
Quadro 2 - Tipos de Criacionismo Segundo Moreland e Reynolds et al 
( 2006) 
TIPOS DE 
CRIACIONISMO DESCRIÇÃO CONCEITUAL 
Criacionismo 
recente 
Essa teoria, também conhecida como ‘teoria da terra jo-vem’ 
acredita que as coisas existentes no Universo foram 
criadas pela ação direta de Deus, durante a semana 
descrita em Gênesis. Acredita também, que ao sair das 
mãos de seu Criador, a Terra era perfeita e, com a en-trada 
do pecado, sofreu uma arande degradação de seu 
estado original. Esse mal resultou numa atitude, da parte 
de Deus, ae destruição da Terra por um Dilúvio, sobre-vivendo 
apenas, uma família para então, povoar nova-mente 
a Terra. 
Criacionismo 
progressivo 
Esta teoria defende que Deus criou a Terra em uma 
progressão - uma quantidade de passos, ao longo de 
um período estendido de tempo, no qual estabeleceu e 
aperfeiçoou cada estágio do ambiente antes de adicio-nar 
um estágio mais desenvolvido. Dentro desse tipo de 
criacionismo se encontram algumas variantes com ideias 
diferentes entre si: 
• teoria do intervalo: o Universo foi criado por Deus 
num determinado momento e, após algum tempo, a 
Terra foi destruída por Satanás ("era porém sem rorma 
e vazia.” Gên. 1:2). Há alguns milhares de anos, Deus 
iniciou novamente sua criação em seis dias literais, 
conforme mostra os primeiros capítulos de Gênesis. 
Essa teoria acredita que o relato de Gênesis refere-se, 
não à criação do mundo, mas à restauração do 
planeta Terra feita por Deus. (p. 120). 
• hipótese do dia-era os dias da criação não foram 
literais, mas correspondem a longos períodos de anos 
- eras - nos quais, Deus criou o mundo. Muitos são 
adeptos desse pensamento, tentando conciliar o relato 
bíblico aos ensinamentos geológicos. 
• hipótese do dia interminente’. cada dia da criação 
relatado na Bíblia, corresponde a 1 dia de 24 horas 
que marca o início de uma era criativa, na qual, foram 
criados os atributos do Universo - atmosfera, solo, 
luz, oxigênio, vegetação, etc. 0 sétimo dia ainda não 
chegou e consiste no descanso a ser dado por Deus 
para a humanidade, a fim de se deleitarem nos novos 
céus e na nova terra. 
Comparando essas teorias, diferentes entre si, é possível separá-las em 
apenas dois grupos: os que têm a interpretação bíblica de Gênesis como literal 
e os que não a têm. Apesar de se diferenciarem em relação aos pressupostos 
e explicações para a origem do mundo e da vida, as teorias do criacionismo 
semifixista, evolucionista e progressivo, apontam para a realidade de um mundo
I C a p im i a 2 1 - Mayara Santos e Weilington Radriguss 
criado por um ser superior. No entanto, não acreditam que a leitura de Gênesis 
deve ser interpretada literalmente, buscando fazer uma conciliação entre o que a 
ciência ensina e o que a Bíblia ensina. 
Por outro lado, o criacionismo fixista e o recente acreditam que Deus é 
o criador do mundo e da vida e que esta criação aconteceu exatamente como 
é narrado no primeiro livro da Bíblia, Gênesis. Mesmo com algumas variâncias, 
todas possuem a mesma crença nas Escrituras Sagradas como dignas de 
plena confiança por se tratar da palavra de Deus (literalismo bíblico). Este é 
um aspecto relevante quando se trata do estudo do criacionismo, pois mesmo 
entre os cristãos existem muitas visões diferentes acerca da origem da vida e 
do Universo e da interpretação do relato bíblico sobre essa questão. Portanto, é 
extremamente interessante apresentar como se caracteriza o tipo de criacionismo 
conforme entendido pela igreja adventista do sétimo dia. 
O C r ia c io n is mo D e f e n d id o p e l a Ig r e j a A d v e n t is t a 
d o S é t imo D ia 
Esse estudo teve como sujeitos um grupo específico de pessoas: 
professores que fazem parte de uma rede confessional de ensino. Esta rede - 
adventista - possui uma filosofia e uma crença a respeito desse assunto e faz-se 
necessário situar em que tipo de criacionismo está pautada essa filosofia. 
Ellen G. White (2007), autora adventista, se posiciona da seguinte 
maneira: 
[...] a Bíblia não admite longas eras em que a Terra vagarosamente 
evoiuiu do caos. De cada dia consecutivo da criação, declara o 
registro sagrado que constituiu de tarde e manhã, como todos os 
outros dias que se seguiram. No final de cada dia dá-se o resultado 
da obra do Criador. Faz-se esta declaração no fim do relato da 
primeira semana: ‘ estas são as origens do céu e da Terra quando 
foram criados (Gn. 2:4). Mas isto não confere a ideia de que os dias 
da criação eram diversos de dias literais. Cada dia foi chamado uma 
origem ou geração, porque nele Deus gerou ou produziu alguma 
nova porção de Sua obra. (WHITE, 2007, p. 70.. 71). 
Esta é uma das várias declarações encontradas nos escritos de Ellen G. 
White em relação a este assunto, deixando claro, portanto, que a posição da 
Igreja Adventista sobre isso é a de que a criação da Terra aconteceu em 6 dias 
de 24 horas, assim como se tem hoje. Essa é uma interpretação literal do texto 
de Gênesis e, segundo essa perspectiva, os dias do Gênesis não podem ser 
interpretados de outra maneira.
D E n s in o m C r ia c i d n i s m d m A d i a s g e C iê n c ia s : a p e r s p e c t i v a d d s P R P f t S s iM S d e c iê n c ia s d a b e d e a d v e n t - s t a o e e n s in q 
Confirmando isso, o documento oficial das crenças fundamentais da Igreja 
Adventista, intitulado Nisto Cremos (2008), declara o seguinte: 
Os dias mencionados no relato bíblico da criação representam 
períodos literais de 24 horas. Típica da forma como o povo do Deus 
do Antigo Testamento media o tempo, a expressão tarde e manhã 
(Gn. 1:5, 8, 13, 19, 23, 31) especifica dias individuais, com o dia 
iniciando no pôr-do-sol (Lv. 23: 32: Dt. 16: 6) Não existe qualquer 
justificativa para se dizer que a expressão representa um dia literal 
em Levítico, por exemplo: e um periodo de milhões de anos em 
Gênesis. [...] A palavra hebraica traduzida por dia em Gênesis 1 
é yom. Quando yom se faz acompanhar de um número definido, 
sempre significa um dia literal de 24 horas [...]. Aqueles que vêm 
nos dias da criação períodos de milhões ou até mesmo de bilhões 
de anos estão questionando a validade da Palavra de Deus, da 
mesma forma como Eva foi levada a fazê-lo, tentada pela serpente, 
(p. 89, 90). 
Portanto, os Adventistas do Sétimo Dia acreditam e defendem que a 
criação do mundo aconteceu em 6 dias de 24 horas cada um. No entanto, 
estabelecem uma distinção entre a criação do universo (universo antigo) e a 
criação da terra. 
Ev o l u c io n is mo X C r ia c io n is mo : a H is t ó r ia d a C o n t r o v é r s ia 
Existem aqueles que defendem que nas aulas de Ciências só há espaço 
para o evolucionismo e que criacionismo é assunto para Religião. Há outros que 
se opõem a este pensamento, ao defender que ambas as teorias, ou filosofias, 
devem ser estudadas nas aulas de Ciências, colocando-as, assim, num mesmo 
patamar. Vejamos, então, como se deu essa polêmica ao longo da história. 
Desde 1859, quando Charles Darwin publicou seu livro Sobre a Origem 
das Espécies por Meio da Seleção Natural, iniciou-se essa polêmica sobre o 
ensino das origens do homem e da Terra. Até então, as pessoas tinham uma 
visão religiosa das coisas e não havia oposições fundamentadas a respeito desse 
assunto (COUTINHO, 2003). 
Brum (2004) relata que, em oposição a essa teoria, surge, ao longo 
do século XX% na Europa, o Criacionismo, estabelecendo-se, porém, com 
maior força, nos EUA. A religião católica e várias igrejas protestantes 
defendem que o relato de Gênesis é apenas simbólico e assim deve ser 
J Período da massificação da escola pública a qual, ensinava a teoria da Evolução. Em 
1890, cerca de apenas 200 mil crianças frequentavam a escola pública nos EUA, passando para 
aproximadamente 2 milhões em 1920. Isso causou certa preocupação ao grupo de criacionistas, visto 
que 0 ensino nas escolas se limitava apenas ao evolucionismo. (BRUM. 2004)
ICapftulo2 1 - Mayara Santas e Wellington Rodrigues 
compreendido, porém, alguns fundamentalistasj insistem que a teoria da 
evolução é incompatível com o relato bíblico. Sendo assim, surge essa polêmica 
que tem como um dos principais cenários de discussões, a sala de aula. 
Nos EUA, na década de 20, quatro estados - Oklahoma, Tennessee, 
Mississipi e Arkansas - excluíram o ensino de evolucionismo do currículo das 
escolas públicas. É nesse contexto que, em 1925, um professor de Tennessee, 
John Thomas Scopes, foi julgado por ensinar a teoria da evolução em uma escola 
pública. O julgamento, que teve repercussão em toda a América, e posteriormente 
no mundo, através de filmes, durou 11 dias e o professor foi condenado a uma 
multa de 100 dólares. (BRUM, 2004). 
Em 1968, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou que todas as 
“leis dos macacos” dos vários Estados eram inconstitucionais, argumentando 
que as mesmas serviam para estabelecer uma religião apoiada pelo Estado e 
desrespeitavam a separação entre a igreja e o Estado. (Supremo Tribunal dos 
Estados Unidos, Epperson v. Arkansas, 1968). 
Em 1973, o Estado do Tennessee aprovou uma substituição para a Lei 
de Butler. A nova lei, que ficou conhecida como Lei do Tratamento Equilibrado, 
declarava que: "Qualquer manual de biologia usado para o ensino nas escolas 
públicas, que expresse uma opinião ou trate de uma teoria sobre as origens 
ou a criação do homem e do seu mundo, dará igual quantidade de ênfase ao 
[...] relato do Gênesis da Bíblia." (Public Acts of Tennessee [Leis Públicas do 
Tennessee], 1973, Capítulo 377, citado em LaFollettw, 1983, p. 80). 
Seguindo essa tendência, em 1981, - O Estado do Arkansas aprovou uma 
lei, a Lei 590, ordenando que fosse dada à “ciência da criação” nas escolas 
públicas o mesmo tempo que era dado à evolução. 
Essas leis têm seu fim em 1987, quando o Supremo Tribunal concluiu 
que o propósito da “ciência da criação” era “reestruturar o currículo da ciência 
para conformá-lo com uma opinião religiosa particular,” (Supremo Tribunal dos 
Estados Unidos, Edwards v. Aguilard, 1 987). E assim, todas as leis de “Tratamento 
Equilibrado” existentes foram revogadas. 
Utilizamos neste trabalho essa expressão para se referir às igrejas protestantes que 
interpretam o que está escrito na Bíblia ao pé da letra, sem aceitar que sejam símbolos ou 
metáforas.
0 E n s in o o o C r i a c m s m o n a s A u l a s d e C iê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d o s p r o f e s s o r e s d e c iê n c i a s d a r e d e a d v e n t is t a o e e n s in d 
A C o n t r o v é r s ia n a s S a l a s d e A u l a d o B r a s i l 
Coutinho (2003) descreve que o criacionismo nunca foi muito popular no 
Brasil, devido ao grande índice de católicos existentes (70%), visto que esta 
igreja não se opõe e nem opina sobre os conteúdos das disciplinas científicas. No 
entanto, dados do IBOPE de 2004 apontam uma realidade um pouco diferente. 
Foi constatado que 54% da população acredita na evolução, porém, sob o 
planejamento e direção de Deus. Sobre o ensino do criacionismo nas escolas, 
75% dos depoentes de maior renda concordam que este deve acontecer, assim 
como, 89% dos de menor renda. 
Em maio de 2004, a então governadora do Rio de Janeiro, Rosinha 
Matheus, declarou ao Jornal O Globo ser adepta do criacionismo. Duas semanas 
depois, 31 professores de religião da região no Norte Fluminense decidiram incluir 
“a teoria criacionista” no currículo escolar. Eles fazem parte do grupo de 793 
professores concursados e pagos pelo governo do Estado a fim de ministrarem 
aulas de religião confessional no Ensino Fundamental das escolas da rede 
pública de ensino, de acordo com a lei sancionada em 2002 pelo governo de 
Anthony Garotinho. Lei esta, que previa a oferta de ensino religioso confessional 
nas escolas públicas. (FRANÇA; MARTINS, 2004). 
Isto teve grande repercussão no meio científico, pois, até então, o ensino 
público no Brasil não valorizava ou aceitava o criacionismo por entender que se 
trata de religião e não de ciência. Em entrevista à Revista Época (29/12/2004), 
o astrofísico Marcelo Gleiser declarou “É um defeito do sistema educacional 
[...] Aqui, nos Estados Unidos, e aí, no Brasil, os professores não ensinam as 
crianças direito e quando elas crescem começam a acreditar nessas coisas. Está 
na hora de a comunidade científica acordar, porque estamos perdendo essa 
guerra." 
De acordo com Romanini (2009) as escolas brasileiras confessionais 
sempre ensinaram o criacionismo. Nos momentos de culto e nas aulas de religião 
era abordado esse assunto. Com o tempo, o tema da criação foi ganhando 
espaço, inclusive nas aulas de biologia e ciências. Entre essas escolas, destaca-se 
a rede adventista de ensino que conta com um grande número de escolas de 
Educação Básica e Ensino Superior. Estas escolas defendem o criacionismo e o 
têm como conteúdo científico.
,&DS¯WXOR - Mayara Santos e Wellingtan Radriques 
Há cinco anos, funciona no Centro Universitário Adventista de São Paulo 
(UNASP), o Núcleo de Estudo das Origens (NEO) que visa orientar seus cerca 
de 4 mil alunos a respeito do criacionismo. Além disso, dentro do currículo dos 
cursos de graduação, há um curso chamado Ciência das Origens que, ministrado 
por seis acadêmicos de várias áreas, usa as “teorias científicas para provar e 
fortalecer o criacionismo, como diz Euler Pereira Bahia, reitor da universidade. 
(FRANÇA; MARTINS, 2004). 
Os mesmos autores afirmam que as pesquisas revelam que, mesmo 
valorizando e ensinando o criacionismo nas aulas de ciências, as escolas 
adventistas estão entre as melhores do país. 
O S u r g ime n t o d o C r ia c io n is mo n o P e n s a me n t o A d v e n t is t a e a s 
Imp l ic a ç õ e s n a E d u c a ç ã o A d v e n t is t a 
Conforme elucidado anteriormente, a crença da igreja adventista no 
criacionismo é bem clara e específica. Suas crenças em relação a esse assunto 
são atestadas nos escritos de Ellen White e na declaração das teses fundamentais 
defendidas pela igreja. No entanto, é necessário um esclarecimento sobre o 
criacionismo enquanto teoria e ciência, no pensamento adventista a partir do 
século XX. 
Os estudos e discussões sobre o criacionismo no meio adventista iniciaram 
com George McCready Price, um adventista do sétimo dia que, após anos de 
estudo e investigação profundos, escreveu um livro intitulado The New Geology 
[A Nova Geologia], no qual defende que as características geológicas que são 
vistas hoje em dia resultaram do Dilúvio bíblico, e não dos processos geológicos 
apresentados pelos cientistas. Aponta também, que os fósseis são apenas os 
corpos mortos de todos os que não entraram na Arca de Noé, ou seja, animais 
e seres humanos existentes na época. (BRUM, 2004). 
Price nasceu no Canadá em 1870 e, ainda na infância se tornou membro 
da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Concluiu o Ensino Médio aos 15 anos e 
casou-se aos 17. Era muito dedicado aos estudos e, com muito esforço, 
conseguiu concluí-los e se tornar professor de ensino médio. O trabalho o levou 
a morar numa vila de fazendeiros, na qual, conheceu Alfred Corbert Smith que, 
por sua vez, ao perceber o posicionamento criacionista de Price, ofereceu alguns 
volumes de sua própria biblioteca, com os quais se iniciou uma longa carreira de 
pesquisas (DELEPRANI, 2007).
□ Ensino DD C r ia c i d n is m d ím s A u l a s j ; C iê n l i a s : a p l i-ís p e c t iv a d o s p r e if e s s d r ís d e c iê n c i a s d a r f d í a p i í f i t i s t í n r f n s in d 
Por ser adventista, Price tinha conhecimento da posição da igreja em 
relação às origens. Esse posicionamento, como já foi visto anteriormente, 
encontra-se embasado na Bíblia e nos escritos de Ellen White. E, apesar de ter 
lido sobre outras teorias que defendiam as longas eras de criação, de acordo 
com Heeren (2008), Price manteve-se firme em suas crenças iniciais e influenciou 
criacionistas em outras denominações, como se pode ver na fala abaixo: 
@ H[DP LQDUHP RV FRP R RV WHP DV P DLV LP SRUWDQWHV GR DWXDO 0 RYLP HQWR GD 7HUUD 
-RYHP  SULQFLSDOP HQWH D JHRORJLD GR GLOXYLR
HVW¥R DUUDLJDGRV QDV VXSRVWDV 
YLV·HV GH (OOHQ * : KLWH SURIHWLVD IXQGDGRUD GRV $ GYHQWLVWDV GR 6«WLP R 'LD 
TXH WLQKD XP LQWHUHVVH SHVVRDO HYLGHQWH HP UHOD©¥R DR VHWLP R GWD OLWHUDO 2V 
HQVLQDP HQWRVGHOD FRQYHUWHUDP  * HRUJH 0 F5HDG 3ULFH DHVVD YLV¥R H RVHVFULWRV 
GHOH SRU VXD YH] FRQYHUWHUDP  + HQU 0 RUULV O¯GHU GR DWXDO P RYLP HQWR GD 7HUUD 
-RYHP  +((5(1  S
Com seus estudos, Price contribuiu para fortalecera crença no relato bíblico 
de que a Terra é jovem, contrapondo-se, assim, à ideia de que o planeta existe 
a bilhões de anos. Seus argumentos baseiam-se em descobertas geológicas que 
apontam para rochas ’supostamente’ antigas contendo fósseis que só poderiam 
ser encontrados em rochas recentes. Defende, também, que as rochas, fósseis e 
minerais encontrados nas costas marítimas e leitos de diversos rios indicam uma 
idade semelhante entre as rochas, negando assim, a possibilidade de longas 
eras diferentes de umas e outras. 
Price foi o antepassado intelectual dos cientistas criacionistas adventistas, 
os quais tem no Geoscience Research Institute (www.grisda.org) o principal 
órgão de produção e divulgação de pesquisa científica baseadas no paradigma 
criacionista. 
M e t o d o l o g ia 
O estudo adotou uma abordagem qualitativa. A amostragem foi escolhida 
a partir de alguns critérios: ser professor da rede adventista de ensino; lecionar 
a disciplina de ciências; ser adventista. A pesquisa foi desenvolvida nas escolas 
da rede adventista de ensino que estão localizadas nas cidades de Salvador 
e Cachoeira, BA. Do grupo de docentes dessa rede, foram selecionados os 
professores de Ciências que têm formação em Ciências e são membros da 
Igreja Adventista do Sétimo Dia. Os dados coletados foram analisados através 
de reflexões críticas sobre o assunto estudado. O quadro abaixo apresenta o 
perfil dos depoentes: 
I 57 |
ICagitulB 2 1 - Mayara Sgntps E Wellmgtnn Rodrigues 
Quadro 3 - Perfil Geral dos Entrevistados 
Professor Gênero Idade Formação 
Série/ 
Ano que 
Leciona 
Tempo de 
Trabalho na 
Rede Adventista 
Tempo de 
Adventista 
E1 M 27 Graduação em 
Biologia EM 7 anos 18 anos 
E2 F 19 Graduação em 
Enfermagem 5o ao 9o . . . . 9 anos 
E3 F 32 Graduação em 
Biologia 6o ao 9° 1 ano Desde o 
nascimento 
E4 M - 
Graduação em 
Biomedicina 
6o ao 9o 
e 1° ano 
do EM 
2 anos e meio Desde o 
nascimento 
E5 F 24 Graduação em 
Matemática 6o ao 9o 1 ano 16 anos 
E6 M 34 
Graduação 
em Biologia; 
Especialização 
em Nutrição 
Humana e 
Saúde 
EM 5 anos 17 anos 
E7 F 26 
Graduação 
em Biofogia; 
Especialização 
em Educaçao 
e Gestão Am-bientai 
5o ao 7° 
ano lano 10 anos 
Fonte: Pesquisa de campo 
Como se pode observar, a amostra foi heterogênea no que se refere ao 
gênero, havendo uma mistura de homens (3) e mulheres (4), o que, para os 
pesquisadores, não alterou/influenciou nos resultados. A idade do grupo varia 
entre 19 e 34 anos o que, inicialmente, também não interfere nos resultados 
obtidos. Apesar de a área de formação não ter sido um critério de inclusão/ 
exclusão, há uma predominância de professores com graduação na área de 
ciências naturais (4/2), o que, certamente interfere nos achados da investigação, 
visto que esta área proporciona um maior conhecimento das teorias das origens. 
Torna-se relevante destacar a série/ano de atuação desses professores. Todos 
estão a partir do 5o ano do ensino fundamental e 3 deles, lecionam no Ensino 
Médio (EM). Este aspecto é relevante pelo fato de que, em algumas escolas 
em que se ensina o criacionismo, este é um assunto apenas para a Educação 
Infantil e as séries iniciais do Ensino Fundamental. O tempo de atuação na 
i 58 |
0 E n s :n q c g C M C im i S i f f l n a s A u l a s d e C iê n c ia s : a p e r s p e o i v a d o s p r o e e s s u ije s d e c ê c i A S q ü r e c e a d o t i s k h e e n s in e ; 
rede adventista altera entre 1 e 7 anos, o que pode intervir nos resultados, 
já que o fator tempo pode proporcionar uma maior compreensão e aceitação 
da filosofia da educação adventista. E finalmente, o tempo de adventista dos 
professores (desde o nascimento para alguns) também pode ter influenciado nos 
resultados, pois a concepção que eles têm de Deus, do criacionismo e da igreja 
é diretamente afetada por este tempo. 
A técnica utilizada para a coleta de dados foi a entrevista, as quais foram 
gravadas e, em seguida, transcritas para uma análise mais exata dos dados. 
As respostas foram classificadas em categorias e subcategorias, a depender 
do assunto de que tratava e em seguida, os dados foram explorados à luz da 
teoria. 
R e s u l t a d o s e D is c u s s ã o 
C o n c e i t u a n d o C r ia c io n i s mo 
Ao serem questionados sobre o conceito de criacionismo, os professores 
apresentaram diversas opiniões. Desde um simples “modelo explicativo” até um 
sentido para a existência” , os conceitos se diferenciam, no entanto é perceptível 
que a maioria dos entrevistados associa esse conceito à sua crença pessoal em 
Deus. Isto pode ser confirmado a partir de algumas declarações: 
“Então foi um ser, nosso Deus que criou tudo da maneira perfeita. ” 
[ E2]. 
“Deus criou todas as coisas. ” [E7]. 
“[...] um ser supremo, criador, onipotente, onipresente e onisciente que 
rege todos os fenômenos que acontecem no planeta Terra.” [E1]. 
Os comentários acima demonstram que o conceito de criacionismo 
defendido pelos professores em questão está baseado em sua crença pessoal 
em Deus, o que nos leva a questionar até que ponto a ciência e evidências 
científicas estão relacionadas ao conceito de criacionismo desses professores. 
Entendemos que não se trata apenas de acreditar ou não que Deus é 
o criador do mundo. Os conflitos envolvendo o criacionismo não se limitam a 
discutir quem criou, mas como criou. Este é o cerne da questão, pois como já foi 
visto, há várias vertentes do criacionismo. Não é suficiente apresentar a crença 
59
DS¯WXOR - Mgyarg Santos b Wellingtun Rodrigues 
em Deus como o criador das coisas, é necessário se posicionar sobre a maneira 
que se deu esse processo de criação. Nesse processo criativo há espaço para a 
crença ou conciliação com a evolução? Qual a idade da Terra? O universo e a 
Terra têm a mesma idade? O homem surgiu na mesma época dos outros seres 
vivos ou é mais recente? 
Nisto consiste a discussão a respeito do criacionismo, visto que, hoje em 
dia não é tão difícil encontrar quem defenda e acredite em diferentes tipos de 
criacionismos e evolucionismos enquanto explicação sobre a origem da vida. 
Para os adventistas a principal questão está em escolher, dentre estas muitas 
vertentes, qual a que mais se aproxima do que a Bíblia apresenta como verdade. 
Sobre essa questão, Nelson e Reynolds (2006) se posicionam defendendo que a 
criação da terra se deu em 6 dias literais (de 24 horas) ao afirmarem que a teoria 
da criação recente da terra apresenta, dentre outros pressupostos, que Deus 
criou todos os organismos fundamentais em seis dias de 24 horas. 
Em contrapartida, Collins (2007) se posiciona afirmando que o criacionismo 
da terra jovem não é um conceito confiável, ou mesmo, aceitável para os dias de 
hoje. O autor se contrapõe a tal teoria defendendo que os cristãos devem buscar 
uma integração entre o que a Bíblia diz e o que a ciência defende. Isso pode ser 
visto no comentário a seguir: 
[...] o Criacionismo da Terra Jovem chegou a um ponto de falência 
intelectual, tanto em sua ciência quanto em sua teologia. Sua 
insistência é, assim, um dos maiores enigmas e uma das maiores 
tragédias de nosso tempo. Ao atacar as bases de praticamente 
cada ramificação da ciência, ele amplia a ruptura entre as visões 
de mundo cientifica e espiritual, justamente numa época em que 
se necessita desesperadamente de um caminho em direção à 
harmonia, (p. 183). 
Apoiando esta posição encontra-se Thomas (1984), que aponta outras 
teorias sobre a criação do mundo, conciliando-a com a defendida pela ciência, 
a saber, a teoria do grande caos, a dos intervalos, dia-era e dias revelados. 
O autor apresenta a concepção literal dos fatos relatados em Gênesis como 
sendo “ingênua” e, apesar de não taxar como errada esta opinião, se posiciona 
afirmando que tal definição é pouco confiável no meio científico: 
5 HFRQKHFHP RV FRQWXGR TXH P XLWR SRXFDV SHVVRDV FRP WHQG¬QFLD RX IRUP D©¥R 
FLHQW¯ILFD WHU¥R VLP SDWLD SRU HVWH SRQWR GH YLVWD 1¥R « SURY£YHO SXH VH SRVVD 
FRQYHUWHU P XLWRV JHµORJRV DR FULVWLDQLVP R DOUDY«V RH WDO FRQFHLWR SRU«P  VH 
DOJX«P  DFHLWD HVVD LGHLD HVW£ FODUR TXH QHQKXP  VHU QXPDQR HQFRQWUDVH HP 
SRVL©¥R GH SURYDUOKH TXH HVW£ HQJDQDGR S 2 '
( Q V LQ G  G R   U L D F L X Q L V P  Q D V  $ X O D V  G H   L¬ Q F L D V  D  S H U V S H F W LY D  G R V  S H G I H V V F N H V  G H  F L¬ Q F LD V  G D  U H G H  D G Y H Q W LV W D  G H  H Q V LQ O 
Pode-se entender, com base nesses comentários, porque muitos 
consideram desnecessário descartar a crença em Deus para acreditar ou aceitar 
as ideias evolucionistas. E, concordando com isso encontra-se também o famoso 
geneticista brasileiro Newton Freire-Maia (1986) ao declarar que “o evolucionismo 
não é contrário ao criacionismo, mas sim, ao fixismo' (p. 19). Para ele, é muito 
possível crer em Deus e, ao mesmo tempo, conceber a ideia de evolução, desde 
que não se tenha uma interpretação literal da Bíblia. 
Contrapondo-se a essas declarações, Roth (2010) afirma que 0 mundo 
apresenta evidências de que Deus criou todas as coisas em 6 dias literais. São 
muitas, segundo ele, as incoerências em relação ao tempo da Terra defendido 
pela ciência - aproximadamente 5 bilhões de anos. Ao considerar a complexidade 
de uma simples molécula de proteína - necessária à formação do DNA - e 0 
tempo necessário para se originar tal complexidade, Roth (2 0 10) conclui que: 
As supostas longuíssimas eras da Terra e do Universo são curtas 
demais para acomodar os improváveis eventos imaginados pela 
evolução. Cálculos indicam que os cinco bilhões de anos da Terra 
são bilhões de vezes curtos demais para a média de tempo exigido 
para produzir uma única molécula específica de proteína por acaso. 
Deus parece necessário. [...] Quando se acredita na criação, temos 
então um Deus onipotente, não limitado pelo tempo, que não 
necessita de muito tempo para criar. (p. 169 e 249). 
Percebe-se, então que, a questão da idade da Terra e o tempo em que ela 
foi criada é um dos aspectos que mais suscita discussões, mesmo no meio dos 
que acreditam que Deus é 0 criador de todas as coisas. Esse é um dos fatores 
que faz com que muitos cientistas critiquem o criacionismo visto que há tantas 
contradições e divisões dentro do mesmo grupo. 
Apesar de a maioria dos entrevistados não se ater em explicar como as 
coisas foram criadas, um dos professores menciona algo sobre isso: 
e aí a gente parte para aquela parte como Ele criou e a gente 
começa a explicar como foi que Deus começou a criar as coisas, criou 
tudo pela paiavra. “ (E3]. 
O comentário supracitado demonstra que tal professor acredita na maneira 
que a Bíblia relata ter acontecido a criação do mundo, ou seja, através da palavra 
de Deus. No entanto, conforme discutido anteriormente, essa resposta não 
abrange todos os pormenores envolvidos nesse como. 
4 Ver definição de fixismo no quadro de conceitos, p. 6. 
I 61 I
,DS¯IXOR - Mayara Santas e Wellinqton Rodrigues 
Sendo assim, a partir dessa análise, fica clara a crença pessoal desse 
grupo de professores em um Deus que criou todas as coisas, apesar de não se 
deterem em explicar como foram criadas. Nota-se que a preocupação maior dos 
professores em questão está em defender que Deus existe, que é um Deus de 
amor que criou o mundo e tudo o que nele há, que cuida dos seres criados e 
mantém o mundo com Seu poder. 
C r ia c io n i s m o : C iê n c ia o u R e l ig iã o ? 
Algumas questões importantes foram levantadas a respeito do criacionismo 
enquanto conhecimento cientifico e, por isso, faz-se necessária uma análise das 
opiniões dos professores a respeito desse assunto. A maioria dos professores 
considera o criacionismo como ciência. Isso é relevante, pois implica, dentre 
outros aspectos, em qual disciplina se deve estudar o criacionismo, se em 
ciências ou se em religião. Para tanto, faz-se necessário discutir o que vem a 
ser ciência. 
Falando sobre esse assunto, Thomas ( 1984) afirma que a ciência que não 
admite o criacionismo não se trata de ciência exata, mas de Cientismo, pois, 
segundo ele, a ciência reconhece que existem áreas da vida que ela não pode 
explicar, por se tratarem de coisas que estão em outros campos do conhecimento, 
ao passo que o Cientismo defende que a ciência explica todas as coisas e que 
aquelas que não consegue explicar não podem ser consideradas reais. Assim, o 
autor explica que, sob este ponto de vista, a ciência/cientismo não pode aceitar 
o criacionismo como científico. 
O domínio da ciência está limitado ao mundo físico da natureza, 
sendo pois tão inexperiente como qualquer outra disciplina quando 
se trata de realidades ou valores espirituais tais como a moral e 
outras coisas semelhantes. [...] Quando qualquer cientista rejeita a 
criação divina ou a providência de Deus nos assuntos humanos, 
simplesmente por não serem científicas, estará então formulando 'a 
priori um julgamento filosófico, especulativo e não cientifico. Estará 
então empregando o Cientismo, já que a ciência não provou nem 
pode provar que não existe uma providência em ação. (THOMAS, 
1984, p. 120). 
Para Thomas ( 1984), é preciso que se dê à ciência o lugar que corresponde 
a ela, ao mesmo tempo em que deve se dar à fé o seu devido lugar também, pois 
são vertentes diferentes do conhecimento humano e ambas, têm suas verdades, 
limitações e vantagens. 
i ^ ii
0 E n s in o ü d C m c iO M S H Q m A u l a s d e D è n u i a s : h p e r s p e c t i v a u u s p r o f e s s o r e s n t c i f N c u s n : k l j e a u v e m i s t a d e e n s in o 
Ao serem questionados sobre o que é ciência, os professores deram 
algumas respostas que merecem um destaque. Os entrevistados mencionados 
abaixo apresentaram um conceito semelhante ao que Thomas (1984) denomina 
de Cientismo: 
“a ciência como já diz é um estudo geral. A ciência estuda tudo. Ela 
quer comprovar o que existe [...]” (E4, grifo nosso). 
“é um estudo geral, um estudo sobre tudo que existe e sempre 
trazendo questionamento do como surgiu, porque e como esses 
mecanismos funcionam do micro para o macro e tudo em gerai'. (E 5, 
grifo nosso). 
Como se pode observar, essa ideia de que a ciência busca explicar todos 
os fenômenos que existem é um tanto perigosa, pois acaba considerando tudo 
aquilo que a ciência não o pode explicar como sendo irreal. Porém, esta é uma 
definição muito comum, visto que se acredita que o conhecimento científico é 
absoluto e comprovado. 
Um dos entrevistados menciona o método científico ao falar sobre a ciência, 
o que é muito relevante, pois de acordo com Thomas (1984), esse método 
possibilita uma melhor compreensão da ciência como sendo exata. A ciência 
se utiliza desse método a fim de comprovar seus experimentos e encontrar as 
respostas para os questionamentos que surgem sobre os aspectos naturais da 
vida. 
Para mim, ciência seria a utilização do método cientifico para fazer 
alguma descoberta ou para estudar a natureza ou conhecer a 
natureza. (E1). 
Ao analisar sob este prisma, pode-se ter a ciência como exata e verdadeira, 
visto que o método científico deve se basear em experimentos e comprovações. 
E é exatamente baseado nessa concepção que Borges (2004) defende que 
nem o criacionismo nem o evolucionismo podem ser considerados como teorias 
científicas, pois segundo ele, nenhuma das duas é completamente experimentada 
e comprovada em laboratório. 
E é nesse contexto que surge uma das grandes polêmicas no campo 
da ciência e da religião. Pois sendo que o criacionismo não é considerado um 
conhecimento científico, como pode ele ser ensinado nas aulas de ciências?
ICapÉUilo2 1 - Mayara Santas e WEllinqton Rodrigues 
E quanto ao status científico do evolucionismo? Defensores do criacionismo 
afirmam que, se o criacionismo não pode ser ensinado nas aulas de ciências, a 
evolução também não o poderia. 
Os professores entrevistados nessa pesquisa afirmaram que concordam 
que a criação pode ser considerada conhecimento científico. Sendo assim, é 
correto ensinar criacionismo nas aulas de ciências? Este é um aspecto central da 
polêmica entre ciência e reügião nas salas de aula de ciências. Veremos, então, 
o que os professores opinam sobre isso: 
“todas as disciplinas podem falar, revelar sobre o criacionismo e não 
somente a disciplina de religião, em especial as disciplinas de biologia 
e ciências têm características bem peculiares para ensinar para os 
alunos o criacionismo[Ei]. 
‘‘deve ser ensinado sim nas aulas de ciências [...] acho que toda aula 
de ciências dá para usar o criacionismo” [E3j. 
“com certeza deve [ensinar] sim e inclusive a incentivar os alunos a 
pesquisarem isso também.” [E4]. 
“é uma ciência e, como toda ciência, deve ser estudada, sim, na aula 
de ciências”[E5]. 
“é possível. [...] Pode ser ensinado.” [Ee], 
Praticamente todos os professores defendem que o criacionismo deve ser 
ensinado nas aulas de Ciências, visto que, para eles, o criacionismo pode ser 
considerado um conhecimento científico. Isso pode ser explicado pelo fato de 
que todos eles acreditam que o criacionismo é uma verdade digna de confiança. 
Baseado em Forquin (1993; 2000) Dorvíllé afirma que 
[...] o professor enfrenta no seu dia-a-dia, explicitamente ou não, 
a questão da justificativa do que ensina. Ensinar e aprender são 
atividades que envolvem custos e esforços de todos os tipos e desta 
maneira sempre se faz necessário fazer escolhas, priorizando-se 
determinados conteúdos e não outros. [...] ninguém pode ensinar 
verdadeiramente se não ensina alguma coisa que seja verdadeira ou 
válida a seus próprios olhos. Esta noção de valor intrínseco da coisa 
ensinada, tão difícil de defimr e de justificar quanto de refutar ou 
rejeitar, está no próprio centro daquilo que constitui a especificidade 
da intenção docente como projeto de comunicação formadora. É por 
isso que todo questionamento ou toda critica envolvendo a verdadeira 
natureza dos conteúdos ensinados, sua pertinência, sua consistência. 
I 64 |
D E n s in ü d d C r ia c i o m is m o n a s A u l a s d e C i ê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d o s p r o f e s s d r e s o e c iê n c i a s c a r e d e a e m m i s i a d l e n s in o 
sua utilidade, seu interesse, seu valor educativo ou cultural, constitui 
para os professores um motivo privilegiado de inquieta reação ou de 
dolorosa consciência {DORV1LLÉ, 2010, p. 110). 
Isso acontece porque, como já foi visto anteriormente, cada professor, 
ao ministrar suas aulas deixa evidenciar a sua crença pessoal. No caso de 
professores criacionistas é quase impossível falar sobre a origem da vida e 
não mencionar a existência de Deus, pois essa crença faz parte de sua própria 
cosmovisão e filosofia de vida. 
Por isso, Lourenço (2009 apud DORVILLÉ, 2010) declara que a maior 
dificuldade em aceitar o ensino de criacionismo nas aulas de ciências se dá pelo 
fato de que há uma tendência em falar em Deus e, para ele, as aulas de ciências 
deveriam se limitar em estudar as evidências da criação sem, necessariamente, 
apontar para o Criador. Quando se remete ao Criador, deixa de ser considerado 
como ciências e passa a ser religião. Nas aulas de ciências deve-se estudar o 
criacionismo científico, ou seja, seus aspectos que podem ser considerados fatos 
científicos e não os aspectos que envolvem o ser Divino que criou as coisas. 
A parte religiosa não é testável. (...) O criacionismo trabalha 
especificamente nesta questão: ‘É possível provar cientificamente 
que o mundo foi criado? Sim! 'É possível provar cientificamente 
quem criou o mundo? Não! [...] Realmente, eu não posso numa aula 
de biologia - que è uma aula de ciência - ensinar que Deus criou 
o mundo. Na aula de biologia, eu tenho que ensinar como a vida 
teria surgido e como ela teria se desenvolvido. Agora, é possível 
mostrar que a vida foi criada pronta, completa, complexa, com uma 
capacidade de adaptação básica? Claro que sim. Temos evidência 
para isso? Claro que sim. Esse é o ponto principal: nós estamos 
puxando novamente nesta direção. Queremos ensinar o criacionismo 
científico e não o religioso. (LOURENÇO, 2009, apud DORVILLÉ, 
2010, P- 124). 
Há ainda os que defendem que o criacionismo é tanto ciência como 
religião, conforme demonstram os comentários a seguir: 
“eu acho que é as duas coisas. [...] Ciência e religião. Eu acho que é 
os dois sim.” [E 7]. 
“ele pode ser considerado cientifico-religioso. Religioso no sentido que 
a filosofia aí vai precisar de você crer em algo que não se consegue 
medir, contere tudo mais, ele tem essa vertente diferenciada.” [E 6]. 
Dentre os teóricos e materiais estudados para fundamentar esta pesquisa, 
não foi encontrado nenhum que concorde com tal posicionamento. Há quem 
apoie a ideia de que o criacionismo é ciência e outros que o defendem como
I C a p í i i l o 2 1 - Mayara Santps b W^llington Radriques M 
religião. No entanto, considerando a ideia de Lourenço (2009), ao mencionar os 
dois objetos aos quais o criacionismo pode se direcionar (evidências da natureza 
e Criador), conclui-se que ele pode assumir esses dois posicionamentos a 
depender do que se está estudando ou da ênfase que se dá. 
Ao ponderar todos esses comentários e posições, percebe-se que esse 
assunto é um tanto mais polêmico porquanto muitos não compreendem ainda o 
que envolve o conceito de conhecimento científico. Vê-se o quanto as posições 
e opiniões sobre esse assunto ainda se encontram divididas, e por isso é tão 
necessário que o professor tenha uma concepção muito clara de suas crenças e 
de como se posicionar em relação a elas já que isso interfere em grande medida 
na maneira como ministrará suas aulas sobre esse assunto. 
P o s t u r a d o P r o f e s s o r A d v e n t i s t a a o T r a b a l h a r o 
C r ia c io n i s m o em S a l a d e A u l a 
Os professores entrevistados relataram que, apesar de sua crença pessoal 
no criacionismo, buscam ensinar os dois pontos de vista (evolução e criação) 
sem promover a crença de um em detrimento do outro, segundo demonstram os 
comentários a seguir: 
“apesar de eu ser criacionista não é requisito em minha disciplina 
todos acreditarem ou entenderem... ou se tomarem criacionistas, eu 
tenho alunos que são evolucionistas e que apesar de minhas aulas 
aprendem o que é criacionismo e permanecem evolucionistas.[E1]. 
“eu penso que a evolução é uma coisa que surgiu do nada e vai con-tinuar 
do nada. Isso é o que eu penso e não o que eu passo em sala 
de aula.” [E3]. 
“eu acredito, mas a partir do momento que mostro para meu aluno eu 
digo a ele o que eu acredito e que a igreja Adventista trabalha dessa 
forma. Mas eu sempre procuro deixar o aluno aberto a pensar o que 
quiser e procuro ouvir dele o que ele traz, mesmo que em algumas 
aulas eu consiga debater com ele, necessariamente “eu não posso 
empurrara minha crença goela abaixo’’ eu não gosto disso, não é a 
minha prática. ” [E6].
m.   ( Q V LQ R  @'   U L¯F LG Q LV P G  P $ X OD V  G I  LŒ +  LWV  D 3 ) 5 6 3 )  LLYW Q F V  S U X A V V X U H V   F LK  $ V  GR PLPPP X I PP 
Esse tipo de posicionamento é apoiado por Roth e Alexander (1997 apud 
OLIVEIRA, 2009) ao relatar, fundamentados na ideia de integração entre ciência 
e religião, que nenhum dos discursos, seja o da evolução, seja o da criação, 
deve ser privilegiado sobre o outro, pois que ambos podem ser aceitos por uma 
mesma pessoa sem que conduzam a construções teóricas incoerentes. 
Já Bahia (2004) alega que a postura do professor ao abordar o criacionismo 
em sala de aula deve ser, primeiramente, inteligente e indica a promoção do 
criacionismo ao mencionar que o professor deve conhecer os pressupostos 
criacionistas para então poder confrontá-los com o evolucionismo. O autor 
completa ratificando que a maioria dos estudantes é oriunda de uma formação 
religiosa que acredita no criacionismo e, por isso, não há tanta dificuldade de 
aceitação e compreensão desse ensino em sala de aula. 
Falando sobre o ensino de criacionismo nas aulas de ciências dos EUA, 
Dorvillé (2010) acrescenta que apesar de, legalmente não ser permitido, este 
ensino vem ganhando espaço nessas escolas. Dados de 20084 revelam que 25% 
dos professores admitiram ensinar o criacionismo em suas aulas de Biologia 
e, ainda, defenderam que este pode ser considerado uma alternativa científica 
às explicações da evolução das espécies. Dorvillé (2010) aponta como uma 
das razões para essa realidade o fato de grande parte dos professores ser 
criacionista. Isto confirma a ideia de que as concepções e crenças pessoais do 
professor influenciam sobremaneira as suas práticas pedagógicas. 
Em pesquisa com alguns professores evangélicos de ciências e biologia, 
Dorvillé (2010) constatou posicionamentos diversos em relação à sua postura ao 
ministrar aulas sobre as teorias das origens. Alguns professores pontuaram que 
buscam separar o conhecimento científico do religioso, ou seja, não falam sobre 
criacionismo em aulas de ciências ou biologia, detendo-se, apenas ao ensino do 
evolucionismo. 
Outros professores demonstraram buscar uma conciliação entre ambos 
os conceitos - evolução e criação - apresentando os postulados que os vários 
teóricos defendem ao buscar uma integração entre ciência e religião, levando os 
alunos a compreenderem que a interpretação bíblica pode, sem prejuízo de sua 
crença pessoal, se acomodar às descobertas científicas. 
Já uma professora, em especial, revelou um posicionamento muito firme e 
um tanto radical, no que diz respeito à crença na Bíblia, pois declara que, o que 
' Pesquisa de escala nacional feita por BERKMAN; PACHECO  PLUTZER (2008) com 939 
professores do Ensino Médio nos EUA. 
I 67 I
f t . [Capitulo21 - Mayara Santas e WeliinQtan RpdriquES 
a Bíblia fala é daquele jeito, não havendo chance nenhuma de erros ou mesmo 
interpretação diferenciada das palavras que estão lá escritas. É o que acontece 
no caso da história de Josué, quando a Bíblia relata que o Sol parou e hoje, já 
se descobriu que quem parou de fato não foi o Sol, mas a Terra, visto que nosso 
sistema é heliocêntrico, ou seja, todos os planetas giram em torno do Sol. Para 
essa professora, se a Bíblia diz que o Sol parou, há então uma chance de a 
teoria do heliocentrismo estar equivocada. 
Na literatura adventista, a recomendação é a de que a postura dos 
professores deve ser de firmeza quanto a não acomodar a interpretação bíblica 
às alegações científicas quando estas vêm se manifestando contra o que defende 
a Bíblia. A posição da igreja, conforme discutido anteriormente, é de rejeição 
às ideias evolutivas apesar de abrir espaço para a aceitação do processo de 
adaptação dos seres vivos. Para o adventismo, a Bíblia é de uma ordem de 
conhecimento superior a todos os outros ensinamentos e o professor adventista 
precisa assumir uma postura de defesa das verdades deste livro, levando os 
alunos a refletirem sobre esses fatos. 
M e t o d o l o g ia s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n i s m o 
É unânime, no meio pedagógico, o conhecimento de que deve haver uma 
coerência entre os objetivos, a metodologia e os conteúdos do currículo escolar. 
Por isso, a necessidade de se esclarecer este aspecto neste trabalho. Questionou-se 
como os professores da rede adventista de ensino estão trabalhando o assunto 
do criacionismo nas aulas de Ciências? Qual a melhor maneira de se trabalhar 
tal conteúdo nas aulas de Ciências? Estas são indagações que necessitam de 
respostas significativas e coerentes com a filosofia adventista e é sobre isso que 
aborda esta parte do trabalho. 
Libâneo (1994) e CUBIASD (2010) concordam que os métodos de ensino 
precisam estar pautados sobre determinados princípios. Estes fazem parte da 
filosofia do sistema de ensino e norteiam todas as ações educativas. Por isso, 
fez-se necessário a elucidação dos princípios metodológicos da pedagogia 
adventista, “os quais são diretrizes amplas de sustentação curricular para a 
seleção dos métodos e meios de ensino utilizados na sala de aula e demais 
espaços educativos.” (CUBIASD, 2010, p. 71). 
Ao serem questionados sobre sua prática em sala de aula, os professores 
i 68 |
D E n s in q g d C r ia c i o n i s m o u a s A u u s a e C iê n c ia s : h p e r s p e c t i v a d a s p r o f e s s o r e s p f F L ¬ Q F L D V  o a r e d e a d v e h t i s t a d e e n s in o m 
citaram algumas metodologias utilizadas por eles para ensinar o criacionismo 
imas aulas de ciências. 
Ao relacionar as estratégias utilizadas pelos professores com os métodos 
fecomendados por Libâneo (1994) e CUBIASD (2010), chega-se à conclusão de 
que as estratégias estão voltadas para o método expositivo, no qual o professor 
explica os conhecimentos e habilidades para os alunos, seja através de exposição 
verbal, demonstração, ilustração ou exemplificação. Este é um dos métodos 
usados por Jesus em seu ministério e proporciona condições para a ponderação 
e reflexão de determinados assuntos. 
Alguns professores mencionaram que se reportam à beleza e à perfeição 
do mundo criado, à complexidade dos seres para reafirmar a existência e 
perfeição de Deus: 
“Quando você fala da célula; quando você fala do 
funcionamento do corpo; quando você fala do sistema digestório; 
quando você fala de qualquer sistema do corpo, você consegue 
introduzir o criacionismo, porque você consegue mostrar como que 
Deus fez funcionar Só mesmo um Deus perfeito, só mesmo um ser 
perfeito com muita inteligência conseguiria fazer um órgão do nosso 
corpo como o cérebro, por exemplo, funcionar de uma maneira tão 
perfeita.” [E3j. 
“Quando você faia sobre embriologia; como acontece 
um milagre do nascimento de um bebê, todo o processo que 
acontece, você percebe a proteção, todos os passos para acontecer 
corretamente. ” [,E4]. 
“como nosso organismo é perfeito; como as plantas; a minúcia; 
os detalhes de tudo como foi criado e saber que isso tudo não tinha 
como ser do acaso. Que existe um Deus, um Criador que pensou, 
alguém que projetou para que tudo aquilo desse certo, tudo aquilo 
funcionasse com perfeição e se algum sistemazinho, se algum 
aparelhinho desses tiver algum defeitinho, algum problema a depender 
da situação pode vir a óbito. [Eõ], 
Esse é um argumento muito utilizado pelos criacionistas de modo geral, 
já que o mundo apresenta tantas evidências de uma ação planejada tendo em 
I 69
,DSLOXOR - Mayara Santas b WBilinqtan Rodrigues M 
vista a complexidade de coisas tão pequenas. No entanto, o perigo de se deter 
apenas neste tipo de comentário está nas imperfeições do mundo e dos seres. Se 
a evidência que o mundo foi criado por Deus é a perfeição do corpo humano, por 
exemplo, como explicar os casos de anomalias, deficiências e demais incidentes 
que ocorrem com tantas pessoas? 
Outra maneira de introduzir o assunto do criacionismo, mencionada pelos 
professores, é através de questionamentos a respeito do evolucionismo. Os 
professores afirmaram que fazem perguntas que levam os alunos a refletir sobre 
a veracidade da evolução, utilizando expressões que conduzam os alunos a 
duvidar do mesmo: 
“você pode chegar para o aluno e dizer: gente tem lógica isso 
ser um processo de evolução? Você percebe o poder, alguém que 
pensou em fazer esse tipo de coisas acontecer e acontecer da forma 
que acontece. ” [E4]. 
“a gente tem assim, já umas palavrinhas mágicas pra usar, [...] 
pra deixar aquilo ali: será que realmente, numa explosão, [...] então 
como é que o mundo se originou de uma explosão? [...j mas como é 
que uma explosão poderia gerar assim um mundo tão perfeito como 
a gente vê, né? [...} Se originar um ser e tal, de um macaco, ” então, 
a gente sempre coloca, “será?” Deixa aquela interrogação pra eles 
chegarem a conclusão que: ‘não! isso aí é besteira, num tem como 
acreditar', levar por esse lado, né.” [E7, grifo nosso]. 
Desta problematização surgem os questionamentos sobre a veracidade 
da evolução tomando como base as incoerências existentes neste modelo. Um 
professor relata que em suas aulas levanta essas questões para discussão, 
levando os alunos a refletir se estas incoerências não podem ser razões para 
duvidar da exatidão dos argumentos evolucionistas ao passo que o criacionismo 
pode ser mais coerente. 
“[...] algo pra despertar no aluno, e dizer assim: opa! O 
evolucionismo tá começando a ter alguma falha e criacionismo tá 
começando a falar alguma coisa diferente. [...] começo a inserir 
pequenos textos, fatos evidências, que possam despertar no aluno ele 
fazer essa diferenciação entre uma teoria e outra.” [E6].
0 E n s in o d o C r ia c i d w s m o m h m s d e C iê n c ia s : a p e r s p e c t i v a c-d s P R D -E s s riH b s d e c i ê ^ i i a s d * re d e » v e n t i s t a eie [n s im d 
A estratégia de questionamento é muito utilizada por diversos professores 
em diversos assuntos e é recomendada uma vez que pode, se corretamente 
«utilizada, conduzir o aluno a uma reflexão crítica dos fatos, possibilitando um 
Üevantamento de hipóteses, construções, desconstruções e reconstruções de 
conceitos e saberes que fazem com que o aluno possa ter um posicionamento 
pessoal diante de determinada questão. No entanto, para Dorvillé (2010, p. 202), a 
utilização dessa técnica na maioria das vezes demonstra que “O questionamento 
revela-se importante não por representar uma oportunidade de construir novas 
ideias ou de refazer as antigas, mas como uma chance de reafirmar a precedência 
ae sua visão de mundo em relação a todas as outras.” 
Ademais, esta é uma das metodologias sugeridas pelos Parâmetros 
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Dentre as Orientações Didáticas ali 
apresentadas, encontra-se a Problematização que consiste em fazer perguntas 
e levantar problemas que levem o aluno a questionar o que já sabem ou o que 
está posto, buscando uma nova maneira de conceber certos conhecimentos. 
Explica-se quanticamente a estrutura infinitesimal, as microscópicas 
estruturas de construção dos seres, sua reprodução e seu 
desenvolvimento. E se debate, com questões existenciais de grande 
repercussão filosófica, se a origem da vida é um acidente, uma 
casualidade que poderia não ter acontecido ou se, pelo contrário, 
é a realização de uma ordem já inscrita na própria constituição da 
matéria primeva. (BRASIL, 1997, p. 25). 
Apesar de o conhecimento científico ser considerado por muitos professores 
como completamente objetivo, os PCNs apontam para a necessidade de levar 
os alunos entenderem tal conhecimento como subjetivo e sujeito a modificações 
já que o conhecimento se constrói ao longo do tempo e em coerência com as 
transformações da sociedade. Além disso, essa estratégia desperta no aluno 
o senso crítico possibilitando a formação de um cidadão pensante que não se 
conforma apenas com respostas prontas, mas que se constituí num construtor de 
seu conhecimento. (BRASIL, 1998). 
Dentre os princípios metodológicos da educação adventista está a 
integração fé e ensino. Com base neste princípio, qualquer que seja o método 
escolhido pelo professor, deve-se ter em vista a educação para a eternidade. 
Na filosofia adventista não há espaço para contrapor-se ao que a Bíblia ensina. 
Qualquer conhecimento que esteja indo de encontro ao que a Bíblia ensina deve 
ser questionado fazendo com que os ensinamentos bíblicos sejam reconhecidos 
_ _
I C a p i t u l o 2 1 - Maysra Santos b WEllingtpn Rpdrigues 
e aceitos como verdadeiros. (CUBIASD, 2010). 
Ao conduzir os alunos a uma reflexão sobre os postulados científicos que 
estão em desarmonia com os ensinamentos bíblicos, os professores estão em 
consonância com o que defende a filosofia da educação adventista, pois estão 
contribuindo para a formação de seres pensantes e agentes de seu conhecimento. 
“Em vez de pusilânimes educados, as instituições de ensino poderão produzir 
homens fortes para pensar e agir, homens que sejam senhores e não escravos 
das circunstâncias, homens que possuam amplidão de espírito, clareza de 
pensamento, e coragem nas suas convicções.” (WHITE, 2008 p. 18). 
J u s t i f ic a t iv a s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n is mo n a s A u l a s d e 
C iê n c ia s 
Todas as ações educativas necessitam de um porquê. É necessário ter 
sempre em mente os motivos que conduzem à ação para se fazer uma prática 
mais significativa, eficaz e eficiente. Por isso, ao planejar e conduzir suas aulas 
de ciências faz-se necessário que os professores compreendam as razões em 
trabalhar a temática do criacionismo com seus alunos. Isso contribui para se 
obter os resultados mais almejados. 
É pertinente registrar que estas justificativas estão no mesmo nível de 
aceitação por parte dos professores, ou seja, cada uma delas foi mencionada por 
apenas um professor, tendo como exceção apenas duas - 0 fato de ser ciência 
e 0 despertar da crença no criacionismo - , pois estas foram apontadas por dois 
professores. 
Analisando essas respostas, conjectura-se que os motivos para o ensino 
do criacionismo nas aulas de ciências estão divididos em duas razões principais: 
a) tentativa de igualar, em nível de importância e reconhecimento, o criacionismo 
ao evolucionismo (justificativas 1, 2 e 3); b) os valores espirituais que envolvem 
o ensino do criacionismo (justificativas 4 e 5). 
Por se tratar de uma pedagogia que tem sua base filosófica centrada 
na Bíblia, é comum notar que os professores alegam o fator espiritual como 
justificativa para 0 ensino da temática nas aulas de ciências. No currículo da 
escola adventista chamado de Integral-restaurador todas as ações devem estar 
pautadas numa perspectiva bíblico-cristã, com o objetivo maior de restaurar 0 
homem à imagem de Deus. 
6 V e r C U B IA S D ( 2 0 1 0)
D E h S IN D D D Ç r IA C ID M S H D N A S A ü LAS DE C l È M A S : A P E R SPEC TIVA DO S P E Q F E S S tM S DE C IÊ N C IA S DA REDE AD VEN TISTA 3E E N SIN O 
O b j e t i v o s d o P r o f e s s o r A d v e n t i s t a a o T r a b a l h a r o 
C r ia c io n i s mo n a s A u l a s d e C iê n c ia s 
Um dos elementos mais falados e pensados do currículo são os objetivos. 
São eles que norteiam as ações pedagógicas dentro e fora do espaço escolar, 
subsidiando as metodologias, os conteúdos e a avaliação. Cada ação docente, 
desde o planejamento ao desenvolvimento de suas aulas, precisa estar pautada 
em objetivos a serem alcançados, pois a educação não é um processo sem 
intencionalidades e finalidades. 
É necessário conhecer quais os objetivos dos professores ao trabalhar o 
criacionismo nas aulas de ciências e discutir se os tais estão em concordância 
com os objetivos da filosofia adventista de educação. 
Percebemos a predominância da crença no criacionismo por parte dos 
alunos. É significativo considerar que, praticamente os mesmos professores que 
apontam como objetivo a compreensão do criacionismo, desejam também, que 
seus alunos acreditem no mesmo: 
“que ele entenda em primeiro lugar” [E3] 
“fazer com que acredite, sim, no criacionismo.” [E3] 
“o aluno tem que entender, tem que ter sua opinião e tem que 
formar aí para que lado ele vai partir com sua opinião. ” [E2]. 
“nós temos como propósito que ele acredite.’7[E2]. 
Nota-se que ao mesmo tempo em que pretende que o aluno entenda para 
fazer sua escolha própria, o professor mencionado acima tem um objetivo que o 
aluno acredite no criacionismo. 
Como já foi mencionado anteriormente, o processo educativo não é neutro, 
mas traz as intencionalidades e finalidades nas quais se baseia cada ação e isso 
não é diferente na educação adventista, pois que todas as ações pedagógicas 
estão pautadas em princípios filosóficos que apresentam objetivos a serem 
alcançados. O currículo integral-restaurador é norteado por objetivos que estão 
além do mundo natural e físico, pois envolve o mundo espiritual (CUBIASD, 
2010). O despertar da crença em Deus e em Jesus Cristo também fazem parte 
dos objetivos destes professores. E isso está completamente de acordo com os 
objetivos da educação adventista.
ICapilulo21 - Mayara Santos e WEÍIingtan Rodrigues 
Percebe-se que os objetivos dos professores entrevistados estão em 
harmonia com os objetivos da educação adventista, já que a crença em Deus 
faz parte desses objetivos. Ao ministrar suas aulas sobre quaisquer assuntos, 
os professores dessa rede precisam ter em vista o principal objetivo que é a 
restauração do homem. Para que isso aconteça, é necessário desenvolver uma 
prática voltada, acima de tudo, para a promoção do conhecimento e da crença em 
Deus e isso é bem viável e possível ao trabalhar a temática do criacionismo. 
R e c u r s o s U t i l i z a d o s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n i s m o n a s A u l a s 
d e C iê n c ia s 
Além dos métodos de ensino, Libâneo (1997) e CUBIASD (2010) pontuam 
os recursos e materiais utilizados na ministração das aulas, aos quais denominam 
de meios do ensino. Estes podem ser de uso geral, ou seja, úteis e necessários 
para todas as disciplinas (mesa, carteiras, quadro-negro, giz, lousa, etc.) ou 
de uso específico de cada disciplina (mapas, enciclopédias, globo terrestre, 
discos, dicionários, recursos naturais, etc.). Somados a esses recursos, estão os 
equipamentos tecnológicos que, hoje em dia, são bastante utilizados em sala de 
aula, proporcionando ainda maior aprendizagem. 
Para que as aulas sejam mais atrativas e a aprendizagem mais 
significativa, é necessário que o professor seja capaz de selecionar os recursos 
mais condizentes com a realidade da turma e com os objetivos que se quer 
alcançar com a aula. Dentre os recursos que existem à disposição, os professores 
entrevistados selecionaram os seguintes: 
Livros paradidáticos que falem sobre o criacionismo; 
Livros didáticos editados pela CASA7; 
Escritos de Ellen White. 
Nota-se que os recursos utilizados pelos professores podem oferecer 
subsídios pertinentes ao assunto abordado, já que são bem específicos. Dentre os 
paradidáticos, foram citados livros de Michelson Borges, um jornalista adventista 
que escreve sobre o assunto: 
Casa Publicadora Brasileira, editora dos adventistas do sétimo dia.
D E n s in o D E C h iA C iD S IS M B m A L IA S DE C lF H C IftS : A PEB SPC C TIVA D C S P H G fE S S a R E S q e c iê n c ia s c a r e d f C J V E N T IS U d e e n s ih d 
Eu trabalho com esses livros, o livro A história da vida”, o livro 
“Por que creio”, tenho o livro “Origens” também. [...] alguns livros de 
pessoas criacionistas que mostram indícios da natureza, da história do 
mundo, do que tem feito que possam apoiar que não foi o acaso. [E6]. 
Os livros didáticos utilizados na rede adventista são elaborados pela 
CASA, que é uma editora adventista e publica, em seus livros didáticos de 
ciências, a explicação do criacionismo e a versão evolucionista, comparando-os 
e promovendo o criacionismo em detrimento do evolucionismo. Isto também é 
apoiado pela educação adventista, pois segundo a CUBIASD (2010), a escolha 
e utilização de livros didáticos precisam “levar em conta a concepção filosófica 
apresentada.” (p. 85). E, por serem produzidos por uma editora que participa da 
mesma filosofia, não encontra problemas quanto à coerência entre a concepção 
filosófica do livro e a da educação adventista, 
A utilização desses livros proporciona ao professor mais segurança ao 
ministrarem suas aulas, pois que oferecem argumentos e posicionamentos que 
se adequam à sua própria crença pessoal, como pode ser evidenciado nos 
comentários abaixo: 
“a gente utiliza os livros da Casa Publicadora, como os colegas 
falaram, todos os materiais como fonte de pesquisa e é muito 
interessante como 0 livro coloca essa maneira de colocar Deus.” [E3], 
“Tudo 0 que passarmos aos alunos nós temos que colocar, 
mostrar como Deus, principalmente em biologia, como Deus é 
maravilhoso e os livros didáticos da CASA eles trabalham isso também 
e isso é muito bom, isso é 0 diferencial da escola adventista.” [E4]. 
Os escritos de Ellen White foram um dos recursos mais apontados 
pelos professores, pois, para eles, são materiais muito úteis por esclarecerem 
certas dúvidas que de outra maneira não seria possível, conforme comprovam 
os comentários a seguir: 
“EGW traz muitas informações mais detalhadas sobre os 
escritos bíblicos e isso é utilizado de maneira mais enfática em sala 
de aula como sendo um referencial teórico além da Bíblia.” [E1].
a . DS¯WXOR - Mayara Santos e Wellinqtgn RadriquEs M 
“Eflen White foi uma das maiores escritoras existentes da face 
da terra [...] então, a gente iança mão né desses escritos, desses 
textos que ela usa para que a gente possa enriquecer a nossa aula. 
[E2] 
“é impossível não usar [os escritos de EGW], porque ela me 
ajuda a entender alguns assuntos que eu não consigo entender em 
livros didáticos [...] então tudo isso me ajuda em nível de pesquisa 
para eu passar para meus alunos. ” [E3j. 
Para esses professores como se trata de uma escola confessional que 
tem filosofia própria, não há problema em utilizar esses materiais, já que esta 
autora é a principal teórica adventista. 
Como se pode perceber, os professores entrevistados têm buscado tornar 
suas aulas de criacíonismo significativas e, para isso, procuram trazer materiais 
diversos para trabalhar esse assunto. No entanto, outros recursos poderiam 
ser acrescentados, como por exemplo, vídeos sobre o criacionismo, imagens, 
revistas que tratem do assunto, dentre outros. 
C o n s id e r a ç õ e s F in a is 
A reflexão na ação docente, nas práticas pedagógicas e no fazer do professor 
proporciona crescimento profissional e pessoal. O exercício pedagógico precisa 
estar pautado em reflexões constantes sobre as práticas envolvidas no processo 
de ensino e aprendizagem. Com isso, entende-se que há uma necessidade de 
constantes reflexões sobre as questões que envolvem o currículo. 
O professor adventista faz parte de uma filosofia única e especial que busca 
um desenvolvimento holístico do indivíduo e visa, acima de tudo, a eternidade. 
Por isso, este profissional precisa estar ciente de sua responsabilidade enquanto 
agente participante e diretamente ligado à formação dos alunos e condução 
destes à restauração da imagem de Deus. 
Dentre as diversas questões que perfazem o conhecimento científico está 
a origem da vida, do Universo e dos seres humanos. Este é um assunto polêmico 
quando se trata da educação adventista porque, no mundo científico há uma 
valorização e aceitação do modelo evolucionista em detrimento do criacionista. 
Há, portanto o desafio de se posicionar diante desta realidade e manter firme o 
I 7 6 I
□ E n s in d d d C r ía c i d h is h d n a s A u ia s d e C i ê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d o s p r d e e s s d r e s c e c iê n c i a s d a r e d e a d y e n t i s ía d e e n s in l 
princípio bíblico, mesmo quando este é desvalorizado e até ridicularizado. 
O presente estudo contribuiu significativamente para a reflexão e 
a ponderação nesta realidade, fazendo com que compreendamos mais 
profundamente os aspectos que estão envolvidos nesse assunto. Além disso, 
a investigação evidenciou que o criacionismo é um assunto polêmico, inclusive 
entre os adventistas do sétimo dia. Há uma necessidade, entre os professores 
da rede adventista, de maior segurança em trabalhar esse conteúdo em sala de 
aula. As concepções destes professores sobre essa temática precisam ser mais 
firmemente alicerçadas na filosofia adventista a fim de influenciarem positivamente 
em sua prática docente. 
Este trabalho pretende ser uma contribuição para a rede adventista por 
proporcionar uma visão mais profunda sobre aspectos que merecem e precisam 
de mais atenção, pois que é um assunto que envolve, acima de tudo, a salvação 
dos alunos. Espera-se que os professores de ciências possam levantara bandeira 
do criacionismo com mais convicção para exaltar o Criador de todas as coisas, 
pois este é o maior objetivo da educação adventista. 
Recomendamos, entretanto, mais estudos nessa área, envolvendo uma 
quantidade maior de sujeitos para que se tenha uma visão ainda mais real dos 
fatos. Ademais, fica o desejo de que este material contribua para uma prática 
adventista de educação mais efetiva e celestial e menos terrena.
ICapítulo2 1 - Mayara Santos e Wellington Rodrigues 
R e f e r ê n c ia s 
ABRANTES, Paulo; ALMEIDA, Fábio. Criacionismo e darwinismo confrontam-se 
nos tribunais... da razão e do direito. Revista Episteme, Porto Alegre, v. 11, n. 
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discordianismo. wordpress.com/20i0/l2/23/interessante/. Acesso em: 20 nov. 
2 0 1 1 . 
BAHIA, Euler. Em defesa do criacionismo. In: BORGES, Michelson. Porque creio: 
doze pesquisadores falam sobre ciência e religião. Tatuí, SP: Casa Publicadora 
Brasileira, 2004. 
BERKMAN, Michael B.; PACHECO, Julianna S.; PLUTZER, Eric. Evolution 
and creationism in America’s classrooms: a national portrait. PLoS Biology , 
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BORGES, Michelson. Porque creio: doze pesquisadores falam sobre ciência e 
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MEC / SEF, 1998. 
BRUM, Eliane. A evolução do criacionismo. Disponível em: http://revistaepoca. 
globo.com /Epoca/0,6993,EPT884203-i,00,html. Acesso em: 21 nov. 2011. 
COLLINS, Francis. A linguagem de Deus: um cientista apresenta evidencias de 
que Ele existe. Tradução: Giorgio Capelli. 6. ed. São Paulo: Gente, 2007. 
CONFEDERAÇÃO DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA DO 
SÉTIMO DIA (CUBIASD). Pedagogia adventista. Tatuí, SP: CPB, 201 0 . 
COUTINHO, Marilia. Criacionismo - a religião contra-ataca: movimento nos EUA 
é tão forte que interfere no ensino de ciência nas escolas. Revista Galileu. 
Disponível em:  http://galileu.globo.com/edic/l2l/rep_biologia.htm. Acesso em: 
21 nov. 2011. 
DELEPRANI, Felício. George McCready Price e a contribuição adventista 
para o surgimento do criacionismo científico. 64 f. Monografia (Bacharel em 
Teologia) - Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, Cachoeira, BA, 
2007. 
DORVILLÉ, Luís Fernando. Religião, escola e ciência: conflitos e tensões nas 
visões de mundo de alunos de uma licenciatura em ciências biológicas. 2012. 
358f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 
RJ, 2010. 
ENGLER, Steven. Tipos de Criacionismos Cristãos. Revista de Estudos da 
Religião. São Paulo, p. 83-107, junho / 2007. Disponível em:  http://www.pucsp. 
br/rever/rv2_2007/ t_engler.htm. Acesso em: 20 nov. 2011. 
FRANÇA, Valéria; MARTINS, Elisa. Rosinha contra Darwin: Governo do Rio de

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Ensino do criacionismo nas aulas de ciências

  • 1. Em: SILVA, W. S. Criacionismo no século 21, Uma abordagem multidisciplinar. CePLiB: Cachoeira, 2013 C a p í t u lo 2 O ENSINO DO CRIAQIONISMO NAS AULAS DE CIÊNCIAS: A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA REDE ADVENTISTA DE ENSINO íM a y a r a F a r ia s d a S iC v a S a n t o s 'W e f â n g t o n Ç i í (R o d r ig u e s In t r o d u ç ã o Desde o seu surgimento na segunda metade do século XIX, o darwinismo tem provocado várias polêmicas e uma das principais é a questão do ensino das origens, ou seja, a tão decantada polêmica criação x evolução. Um dos seus principais aspectos é quanto ao status do ensino de criacionismo nas escolas. Há quem defenda que este pode ser considerado ciência e, por isso, merece espaço no currículo na mesma medida dada ao ensino do evolucionismo. Em contrapartida, outros discordam dessa posição, apontando tal ensino como religioso e não científico e, como tal, deve se restringir ao espaço da igreja ou ao momento da aula de religião. Essas polêmicas demonstram a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o tema. Um grupo especialmente envolvido nessa polêmica é de professores da rede adventista de ensino visto que esta declara ter seu currículo pautado nos princípios bíblico-cristãos e manter firme a postura do ensino do criacionismo em meio a uma comunidade educacional que supervaloriza o conhecimento “científico" em detrimento do que diz a Bíblia. É necessário, contudo, entender o posicionamento específico da educação adventista sobre esse assunto, bem como as concepções dos professores dessa rede a respeito do mesmo e como essas concepções se refletem na sua prática pedagógica. O problema que guia este trabalho é o questionamento: como os professores de ciências da rede
  • 2. m. tCaplmio2 1 - Mayara Santos e Wellington Rodrigues adventista relacionam suas perspectivas sobre o criacionismo com a sua prática do ensino de ciências em sala de aula? Na próxima seção, estão apresentados, de maneira sucinta, os referenciais teóricos procedentes da literatura em educação científica, e da filosofia da educação adventista que subsidiaram esta investigação. Em seguida, encontra-se explanada a metodologia empregada e os dados obtidos, sendo discutidos à luz da teoria. Finalmente, discute-se a contribuição que os resultados da pesquisa têm a oferecer à educação adventista e, mais especificamente, aos professores de ciências que atuam nessa rede de ensino. C r ia c io n is mo e s e u s C o n c e it o s A polêmica já começa sobre o significado do que é o criacionismo. Trata-se de uma teoria? Uma filosofia? Apenas um modo de pensar? Pode ser chamado de ciência? Esses e outros questionamentos estão bem presentes no ambiente das relações entre criacionismo e evolucionismo, entre ciência e religião e precisam ser discutidos e esclarecidos a fim de proporcionar uma melhor compreensão do tema. Alguns há que entendem tanto o evolucionismo como o criacionismo como ciência. Outros acreditam que o evolucionismo é ciência e o criacionismo, apenas religião. Outros há, ainda, que acham que nenhum dos dois é ciência, mas apenas filosofias. E as polêmicas de discussão entre essas duas vertentes só vêm aumentando cada vez mais. O Dr. Antonio Zichichi, então presidente da Federação Mundial de Cientistas, declara que o evolucionismo não pode ser considerado ciência no sentido estrito do termo, ou seja, ciência empírica. Segundo ele, [...] a teoria que deseja colocar o homem na mesma árvore genealógica dos símios está abaixo do nível mais baixo de credibilidade cientifica. ... Se o homem do nosso tempo tivesse uma cultura verdadeiramente moderna, deveria saber que a teoria evolucionista não faz parte da ciência galileana. Faltam-lhe os dois pilares que permitiriam a grande virada de 16o0: a reprodução e o rigor. (ZICHICHI, 1999, p. 81 e 82). Por esse mesmo motivo, Borges (2004) declara que a teoria criacionista também não pode ser considerada verdadeira ciência galileana, pois a mesma aponta para a existência de um Deus, um ser divino que transcende a lógica humana e não pode ser comprovado em testes de laboratório, nem tampouco através da lógica matemática. 48
  • 3. D E n s im ü ü ü C r ia c i g n is m o m s A u l a s p [ C iê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d d s p r í h s s í m s d e c iê n c i a s e a o f a í w n t .s i a d f e h s ih u Ruy Carlos de Camargo Vieira, presidente da Sociedade Criacionista Brasileira, parece concordar com esse posicionamento ao afirmar que “fundamentalmente, os modelos' criacionista e evolucionista são duas posições filosóficas e não científicas, que têm a ver com pressupostos a respeito do Universo no qual estamos inseridos” (apud Borges, 2004, p. 20). Por outro lado, Asimov (1981, p. 183) afirma que o evolucionismo pode ser considerado uma teoria científica ao passo que o criacionismo, não. Para ele, uma teoria “é uma descrição detalhada de alguma faceta do funcionamento do Universo que é baseada em longa observação e experimentação e que tem sobrevivido ao estudo crítico dos cientistas em geral.” Segundo ele, a teoria celular, da gravitação, a teoria quântica e a da relatividade são bem fundamentadas e “aceitas como descrições válidas deste ou daquele aspecto do universo. Elas não são palpite nem especulações. E nenhuma é melhor fundamentada, examinada mais de perto, mais questionada criticamente e mais largamente aceita do que a teoria da evolução” . Nessa perspectiva, os argumentos e descobertas em relação à teoria evolucionista têm base científica e são verdadeiras, pois partem da lógica humana e do estudo científico dessa realidade, ao mesmo tempo em que se contrapõe aos argumentos do criacionismo, ao dizer que este não é uma teoria. Para Asimov (1981, p. 183), não existe “nenhum indício, cientificamente falando, que o apoie. O criacionismo, ou pelo menos a variedade particular aceita por muitos americanos, é uma expressão de uma lenda dos primórdios do Oriente Médio. Ela é descrita, com justiça, como ‘apenas um mito’.” De acordo com Engler (2007, p. 83, 84), de modo geral, “o conceito vigente de ‘criacionismo’ [...] é a crença cristã segundo a qual Deus criou o mundo e todos os seres vivos conforme ê descrito no livro bíblico do Gênesis". No entanto, não existe apenas uma descrição de criacionismo. Não é apenas acreditar que Deus é o criador do mundo que faz de alguém um criacionista, no sentido estrito da palavra. Existe uma variedade de teorias para defender o criacionismo e nem todas elas aceitam a interpretação da Bíblia como sendo literal, no que diz respeito à criação do mundo e da vida. A seguir, encontram-se alguns quadros que demonstram os principais tipos de criacionismo e o que cada um deles defende e ensina. Essas descrições baseiam-se em alguns autores, a Modelo é uma coisa mentalmente estruturada para tentar reproduzir da maneira mais aproximada possível a ‘realidade1, o que, para a filosofia é inatingível, visto que nem tudo é mensurável. (VIEIRA, 2004, p. 20)
  • 4. ICaiHlulo2 1 - Mayara Santas e Wellington Rodrigues saber, Freire-Maia (1986), Moreland e Reynolds (2006) entre outros. Quadro 1 - Tipos de Criacionismo Segundo Freire-Maia (1986) TIPOS DE CRIACIONISMO DESCRIÇÃO CONCEITUAL Criacionismo-fixista Deus criou todos os seres vivos (incluindo 0 homem, os animais domésticos, as plantas cultivadas, as raças geográficas, as variedades, etc.) e, desde 0 início, não nouve mudanças evolutivas, (p. 20). Criacionismo-semifixista Deus criou 0 homem e todas as espécies de animais e vegetais ditas selvagens, que se mantiveram fixos até hoje; os animais domésticos e as plantas cultivadas, com todas as suas variedades, surgiram, pelo trabalho do homem, a partir de ancestrais selvagens; as raças geográficas (mesmo as humanas) desenvolveram-se por evolução (intra-específica). (p. 20). Certa posição dos criacionistas-semifixistas vem senao chamada ae “cria-cionismo científico” , (p. 23) Criacionismo-evolucionista Deus criou a matéria com propriedades evolutivas e, as-sim, a evolução ocorre pela ação de fatores naturais, em consequencia daquelas potencialidades. Deus está presente na origem e no destino de tudo. Antes do acaso e da necessidade, frutos das contingências naturais, en-contra- se a onipresença divina. Essa posição está, como bem se vê, intimamente ligada a uma visao religiosa de mundo. (p. 21-2 2 ).
  • 5. 0 E n s in c d u C k ia c i o n iü m u n a s A u i í S 3 : C iê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d g s h r o e e ^ i m s d e c iê n c ia s d a r e d e a d v e n t i s u d f f n s in ii Quadro 2 - Tipos de Criacionismo Segundo Moreland e Reynolds et al ( 2006) TIPOS DE CRIACIONISMO DESCRIÇÃO CONCEITUAL Criacionismo recente Essa teoria, também conhecida como ‘teoria da terra jo-vem’ acredita que as coisas existentes no Universo foram criadas pela ação direta de Deus, durante a semana descrita em Gênesis. Acredita também, que ao sair das mãos de seu Criador, a Terra era perfeita e, com a en-trada do pecado, sofreu uma arande degradação de seu estado original. Esse mal resultou numa atitude, da parte de Deus, ae destruição da Terra por um Dilúvio, sobre-vivendo apenas, uma família para então, povoar nova-mente a Terra. Criacionismo progressivo Esta teoria defende que Deus criou a Terra em uma progressão - uma quantidade de passos, ao longo de um período estendido de tempo, no qual estabeleceu e aperfeiçoou cada estágio do ambiente antes de adicio-nar um estágio mais desenvolvido. Dentro desse tipo de criacionismo se encontram algumas variantes com ideias diferentes entre si: • teoria do intervalo: o Universo foi criado por Deus num determinado momento e, após algum tempo, a Terra foi destruída por Satanás ("era porém sem rorma e vazia.” Gên. 1:2). Há alguns milhares de anos, Deus iniciou novamente sua criação em seis dias literais, conforme mostra os primeiros capítulos de Gênesis. Essa teoria acredita que o relato de Gênesis refere-se, não à criação do mundo, mas à restauração do planeta Terra feita por Deus. (p. 120). • hipótese do dia-era os dias da criação não foram literais, mas correspondem a longos períodos de anos - eras - nos quais, Deus criou o mundo. Muitos são adeptos desse pensamento, tentando conciliar o relato bíblico aos ensinamentos geológicos. • hipótese do dia interminente’. cada dia da criação relatado na Bíblia, corresponde a 1 dia de 24 horas que marca o início de uma era criativa, na qual, foram criados os atributos do Universo - atmosfera, solo, luz, oxigênio, vegetação, etc. 0 sétimo dia ainda não chegou e consiste no descanso a ser dado por Deus para a humanidade, a fim de se deleitarem nos novos céus e na nova terra. Comparando essas teorias, diferentes entre si, é possível separá-las em apenas dois grupos: os que têm a interpretação bíblica de Gênesis como literal e os que não a têm. Apesar de se diferenciarem em relação aos pressupostos e explicações para a origem do mundo e da vida, as teorias do criacionismo semifixista, evolucionista e progressivo, apontam para a realidade de um mundo
  • 6. I C a p im i a 2 1 - Mayara Santos e Weilington Radriguss criado por um ser superior. No entanto, não acreditam que a leitura de Gênesis deve ser interpretada literalmente, buscando fazer uma conciliação entre o que a ciência ensina e o que a Bíblia ensina. Por outro lado, o criacionismo fixista e o recente acreditam que Deus é o criador do mundo e da vida e que esta criação aconteceu exatamente como é narrado no primeiro livro da Bíblia, Gênesis. Mesmo com algumas variâncias, todas possuem a mesma crença nas Escrituras Sagradas como dignas de plena confiança por se tratar da palavra de Deus (literalismo bíblico). Este é um aspecto relevante quando se trata do estudo do criacionismo, pois mesmo entre os cristãos existem muitas visões diferentes acerca da origem da vida e do Universo e da interpretação do relato bíblico sobre essa questão. Portanto, é extremamente interessante apresentar como se caracteriza o tipo de criacionismo conforme entendido pela igreja adventista do sétimo dia. O C r ia c io n is mo D e f e n d id o p e l a Ig r e j a A d v e n t is t a d o S é t imo D ia Esse estudo teve como sujeitos um grupo específico de pessoas: professores que fazem parte de uma rede confessional de ensino. Esta rede - adventista - possui uma filosofia e uma crença a respeito desse assunto e faz-se necessário situar em que tipo de criacionismo está pautada essa filosofia. Ellen G. White (2007), autora adventista, se posiciona da seguinte maneira: [...] a Bíblia não admite longas eras em que a Terra vagarosamente evoiuiu do caos. De cada dia consecutivo da criação, declara o registro sagrado que constituiu de tarde e manhã, como todos os outros dias que se seguiram. No final de cada dia dá-se o resultado da obra do Criador. Faz-se esta declaração no fim do relato da primeira semana: ‘ estas são as origens do céu e da Terra quando foram criados (Gn. 2:4). Mas isto não confere a ideia de que os dias da criação eram diversos de dias literais. Cada dia foi chamado uma origem ou geração, porque nele Deus gerou ou produziu alguma nova porção de Sua obra. (WHITE, 2007, p. 70.. 71). Esta é uma das várias declarações encontradas nos escritos de Ellen G. White em relação a este assunto, deixando claro, portanto, que a posição da Igreja Adventista sobre isso é a de que a criação da Terra aconteceu em 6 dias de 24 horas, assim como se tem hoje. Essa é uma interpretação literal do texto de Gênesis e, segundo essa perspectiva, os dias do Gênesis não podem ser interpretados de outra maneira.
  • 7. D E n s in o m C r ia c i d n i s m d m A d i a s g e C iê n c ia s : a p e r s p e c t i v a d d s P R P f t S s iM S d e c iê n c ia s d a b e d e a d v e n t - s t a o e e n s in q Confirmando isso, o documento oficial das crenças fundamentais da Igreja Adventista, intitulado Nisto Cremos (2008), declara o seguinte: Os dias mencionados no relato bíblico da criação representam períodos literais de 24 horas. Típica da forma como o povo do Deus do Antigo Testamento media o tempo, a expressão tarde e manhã (Gn. 1:5, 8, 13, 19, 23, 31) especifica dias individuais, com o dia iniciando no pôr-do-sol (Lv. 23: 32: Dt. 16: 6) Não existe qualquer justificativa para se dizer que a expressão representa um dia literal em Levítico, por exemplo: e um periodo de milhões de anos em Gênesis. [...] A palavra hebraica traduzida por dia em Gênesis 1 é yom. Quando yom se faz acompanhar de um número definido, sempre significa um dia literal de 24 horas [...]. Aqueles que vêm nos dias da criação períodos de milhões ou até mesmo de bilhões de anos estão questionando a validade da Palavra de Deus, da mesma forma como Eva foi levada a fazê-lo, tentada pela serpente, (p. 89, 90). Portanto, os Adventistas do Sétimo Dia acreditam e defendem que a criação do mundo aconteceu em 6 dias de 24 horas cada um. No entanto, estabelecem uma distinção entre a criação do universo (universo antigo) e a criação da terra. Ev o l u c io n is mo X C r ia c io n is mo : a H is t ó r ia d a C o n t r o v é r s ia Existem aqueles que defendem que nas aulas de Ciências só há espaço para o evolucionismo e que criacionismo é assunto para Religião. Há outros que se opõem a este pensamento, ao defender que ambas as teorias, ou filosofias, devem ser estudadas nas aulas de Ciências, colocando-as, assim, num mesmo patamar. Vejamos, então, como se deu essa polêmica ao longo da história. Desde 1859, quando Charles Darwin publicou seu livro Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, iniciou-se essa polêmica sobre o ensino das origens do homem e da Terra. Até então, as pessoas tinham uma visão religiosa das coisas e não havia oposições fundamentadas a respeito desse assunto (COUTINHO, 2003). Brum (2004) relata que, em oposição a essa teoria, surge, ao longo do século XX% na Europa, o Criacionismo, estabelecendo-se, porém, com maior força, nos EUA. A religião católica e várias igrejas protestantes defendem que o relato de Gênesis é apenas simbólico e assim deve ser J Período da massificação da escola pública a qual, ensinava a teoria da Evolução. Em 1890, cerca de apenas 200 mil crianças frequentavam a escola pública nos EUA, passando para aproximadamente 2 milhões em 1920. Isso causou certa preocupação ao grupo de criacionistas, visto que 0 ensino nas escolas se limitava apenas ao evolucionismo. (BRUM. 2004)
  • 8. ICapftulo2 1 - Mayara Santas e Wellington Rodrigues compreendido, porém, alguns fundamentalistasj insistem que a teoria da evolução é incompatível com o relato bíblico. Sendo assim, surge essa polêmica que tem como um dos principais cenários de discussões, a sala de aula. Nos EUA, na década de 20, quatro estados - Oklahoma, Tennessee, Mississipi e Arkansas - excluíram o ensino de evolucionismo do currículo das escolas públicas. É nesse contexto que, em 1925, um professor de Tennessee, John Thomas Scopes, foi julgado por ensinar a teoria da evolução em uma escola pública. O julgamento, que teve repercussão em toda a América, e posteriormente no mundo, através de filmes, durou 11 dias e o professor foi condenado a uma multa de 100 dólares. (BRUM, 2004). Em 1968, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou que todas as “leis dos macacos” dos vários Estados eram inconstitucionais, argumentando que as mesmas serviam para estabelecer uma religião apoiada pelo Estado e desrespeitavam a separação entre a igreja e o Estado. (Supremo Tribunal dos Estados Unidos, Epperson v. Arkansas, 1968). Em 1973, o Estado do Tennessee aprovou uma substituição para a Lei de Butler. A nova lei, que ficou conhecida como Lei do Tratamento Equilibrado, declarava que: "Qualquer manual de biologia usado para o ensino nas escolas públicas, que expresse uma opinião ou trate de uma teoria sobre as origens ou a criação do homem e do seu mundo, dará igual quantidade de ênfase ao [...] relato do Gênesis da Bíblia." (Public Acts of Tennessee [Leis Públicas do Tennessee], 1973, Capítulo 377, citado em LaFollettw, 1983, p. 80). Seguindo essa tendência, em 1981, - O Estado do Arkansas aprovou uma lei, a Lei 590, ordenando que fosse dada à “ciência da criação” nas escolas públicas o mesmo tempo que era dado à evolução. Essas leis têm seu fim em 1987, quando o Supremo Tribunal concluiu que o propósito da “ciência da criação” era “reestruturar o currículo da ciência para conformá-lo com uma opinião religiosa particular,” (Supremo Tribunal dos Estados Unidos, Edwards v. Aguilard, 1 987). E assim, todas as leis de “Tratamento Equilibrado” existentes foram revogadas. Utilizamos neste trabalho essa expressão para se referir às igrejas protestantes que interpretam o que está escrito na Bíblia ao pé da letra, sem aceitar que sejam símbolos ou metáforas.
  • 9. 0 E n s in o o o C r i a c m s m o n a s A u l a s d e C iê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d o s p r o f e s s o r e s d e c iê n c i a s d a r e d e a d v e n t is t a o e e n s in d A C o n t r o v é r s ia n a s S a l a s d e A u l a d o B r a s i l Coutinho (2003) descreve que o criacionismo nunca foi muito popular no Brasil, devido ao grande índice de católicos existentes (70%), visto que esta igreja não se opõe e nem opina sobre os conteúdos das disciplinas científicas. No entanto, dados do IBOPE de 2004 apontam uma realidade um pouco diferente. Foi constatado que 54% da população acredita na evolução, porém, sob o planejamento e direção de Deus. Sobre o ensino do criacionismo nas escolas, 75% dos depoentes de maior renda concordam que este deve acontecer, assim como, 89% dos de menor renda. Em maio de 2004, a então governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus, declarou ao Jornal O Globo ser adepta do criacionismo. Duas semanas depois, 31 professores de religião da região no Norte Fluminense decidiram incluir “a teoria criacionista” no currículo escolar. Eles fazem parte do grupo de 793 professores concursados e pagos pelo governo do Estado a fim de ministrarem aulas de religião confessional no Ensino Fundamental das escolas da rede pública de ensino, de acordo com a lei sancionada em 2002 pelo governo de Anthony Garotinho. Lei esta, que previa a oferta de ensino religioso confessional nas escolas públicas. (FRANÇA; MARTINS, 2004). Isto teve grande repercussão no meio científico, pois, até então, o ensino público no Brasil não valorizava ou aceitava o criacionismo por entender que se trata de religião e não de ciência. Em entrevista à Revista Época (29/12/2004), o astrofísico Marcelo Gleiser declarou “É um defeito do sistema educacional [...] Aqui, nos Estados Unidos, e aí, no Brasil, os professores não ensinam as crianças direito e quando elas crescem começam a acreditar nessas coisas. Está na hora de a comunidade científica acordar, porque estamos perdendo essa guerra." De acordo com Romanini (2009) as escolas brasileiras confessionais sempre ensinaram o criacionismo. Nos momentos de culto e nas aulas de religião era abordado esse assunto. Com o tempo, o tema da criação foi ganhando espaço, inclusive nas aulas de biologia e ciências. Entre essas escolas, destaca-se a rede adventista de ensino que conta com um grande número de escolas de Educação Básica e Ensino Superior. Estas escolas defendem o criacionismo e o têm como conteúdo científico.
  • 10. ,&DS¯WXOR - Mayara Santos e Wellingtan Radriques Há cinco anos, funciona no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), o Núcleo de Estudo das Origens (NEO) que visa orientar seus cerca de 4 mil alunos a respeito do criacionismo. Além disso, dentro do currículo dos cursos de graduação, há um curso chamado Ciência das Origens que, ministrado por seis acadêmicos de várias áreas, usa as “teorias científicas para provar e fortalecer o criacionismo, como diz Euler Pereira Bahia, reitor da universidade. (FRANÇA; MARTINS, 2004). Os mesmos autores afirmam que as pesquisas revelam que, mesmo valorizando e ensinando o criacionismo nas aulas de ciências, as escolas adventistas estão entre as melhores do país. O S u r g ime n t o d o C r ia c io n is mo n o P e n s a me n t o A d v e n t is t a e a s Imp l ic a ç õ e s n a E d u c a ç ã o A d v e n t is t a Conforme elucidado anteriormente, a crença da igreja adventista no criacionismo é bem clara e específica. Suas crenças em relação a esse assunto são atestadas nos escritos de Ellen White e na declaração das teses fundamentais defendidas pela igreja. No entanto, é necessário um esclarecimento sobre o criacionismo enquanto teoria e ciência, no pensamento adventista a partir do século XX. Os estudos e discussões sobre o criacionismo no meio adventista iniciaram com George McCready Price, um adventista do sétimo dia que, após anos de estudo e investigação profundos, escreveu um livro intitulado The New Geology [A Nova Geologia], no qual defende que as características geológicas que são vistas hoje em dia resultaram do Dilúvio bíblico, e não dos processos geológicos apresentados pelos cientistas. Aponta também, que os fósseis são apenas os corpos mortos de todos os que não entraram na Arca de Noé, ou seja, animais e seres humanos existentes na época. (BRUM, 2004). Price nasceu no Canadá em 1870 e, ainda na infância se tornou membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Concluiu o Ensino Médio aos 15 anos e casou-se aos 17. Era muito dedicado aos estudos e, com muito esforço, conseguiu concluí-los e se tornar professor de ensino médio. O trabalho o levou a morar numa vila de fazendeiros, na qual, conheceu Alfred Corbert Smith que, por sua vez, ao perceber o posicionamento criacionista de Price, ofereceu alguns volumes de sua própria biblioteca, com os quais se iniciou uma longa carreira de pesquisas (DELEPRANI, 2007).
  • 11. □ Ensino DD C r ia c i d n is m d ím s A u l a s j ; C iê n l i a s : a p l i-ís p e c t iv a d o s p r e if e s s d r ís d e c iê n c i a s d a r f d í a p i í f i t i s t í n r f n s in d Por ser adventista, Price tinha conhecimento da posição da igreja em relação às origens. Esse posicionamento, como já foi visto anteriormente, encontra-se embasado na Bíblia e nos escritos de Ellen White. E, apesar de ter lido sobre outras teorias que defendiam as longas eras de criação, de acordo com Heeren (2008), Price manteve-se firme em suas crenças iniciais e influenciou criacionistas em outras denominações, como se pode ver na fala abaixo: @ H[DP LQDUHP RV FRP R RV WHP DV P DLV LP SRUWDQWHV GR DWXDO 0 RYLP HQWR GD 7HUUD -RYHP SULQFLSDOP HQWH D JHRORJLD GR GLOXYLR
  • 12. HVW¥R DUUDLJDGRV QDV VXSRVWDV YLV·HV GH (OOHQ * : KLWH SURIHWLVD IXQGDGRUD GRV $ GYHQWLVWDV GR 6«WLP R 'LD TXH WLQKD XP LQWHUHVVH SHVVRDO HYLGHQWH HP UHOD©¥R DR VHWLP R GWD OLWHUDO 2V HQVLQDP HQWRVGHOD FRQYHUWHUDP * HRUJH 0 F5HDG 3ULFH DHVVD YLV¥R H RVHVFULWRV GHOH SRU VXD YH] FRQYHUWHUDP + HQU 0 RUULV O¯GHU GR DWXDO P RYLP HQWR GD 7HUUD -RYHP +((5(1 S
  • 13. Com seus estudos, Price contribuiu para fortalecera crença no relato bíblico de que a Terra é jovem, contrapondo-se, assim, à ideia de que o planeta existe a bilhões de anos. Seus argumentos baseiam-se em descobertas geológicas que apontam para rochas ’supostamente’ antigas contendo fósseis que só poderiam ser encontrados em rochas recentes. Defende, também, que as rochas, fósseis e minerais encontrados nas costas marítimas e leitos de diversos rios indicam uma idade semelhante entre as rochas, negando assim, a possibilidade de longas eras diferentes de umas e outras. Price foi o antepassado intelectual dos cientistas criacionistas adventistas, os quais tem no Geoscience Research Institute (www.grisda.org) o principal órgão de produção e divulgação de pesquisa científica baseadas no paradigma criacionista. M e t o d o l o g ia O estudo adotou uma abordagem qualitativa. A amostragem foi escolhida a partir de alguns critérios: ser professor da rede adventista de ensino; lecionar a disciplina de ciências; ser adventista. A pesquisa foi desenvolvida nas escolas da rede adventista de ensino que estão localizadas nas cidades de Salvador e Cachoeira, BA. Do grupo de docentes dessa rede, foram selecionados os professores de Ciências que têm formação em Ciências e são membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Os dados coletados foram analisados através de reflexões críticas sobre o assunto estudado. O quadro abaixo apresenta o perfil dos depoentes: I 57 |
  • 14. ICagitulB 2 1 - Mayara Sgntps E Wellmgtnn Rodrigues Quadro 3 - Perfil Geral dos Entrevistados Professor Gênero Idade Formação Série/ Ano que Leciona Tempo de Trabalho na Rede Adventista Tempo de Adventista E1 M 27 Graduação em Biologia EM 7 anos 18 anos E2 F 19 Graduação em Enfermagem 5o ao 9o . . . . 9 anos E3 F 32 Graduação em Biologia 6o ao 9° 1 ano Desde o nascimento E4 M - Graduação em Biomedicina 6o ao 9o e 1° ano do EM 2 anos e meio Desde o nascimento E5 F 24 Graduação em Matemática 6o ao 9o 1 ano 16 anos E6 M 34 Graduação em Biologia; Especialização em Nutrição Humana e Saúde EM 5 anos 17 anos E7 F 26 Graduação em Biofogia; Especialização em Educaçao e Gestão Am-bientai 5o ao 7° ano lano 10 anos Fonte: Pesquisa de campo Como se pode observar, a amostra foi heterogênea no que se refere ao gênero, havendo uma mistura de homens (3) e mulheres (4), o que, para os pesquisadores, não alterou/influenciou nos resultados. A idade do grupo varia entre 19 e 34 anos o que, inicialmente, também não interfere nos resultados obtidos. Apesar de a área de formação não ter sido um critério de inclusão/ exclusão, há uma predominância de professores com graduação na área de ciências naturais (4/2), o que, certamente interfere nos achados da investigação, visto que esta área proporciona um maior conhecimento das teorias das origens. Torna-se relevante destacar a série/ano de atuação desses professores. Todos estão a partir do 5o ano do ensino fundamental e 3 deles, lecionam no Ensino Médio (EM). Este aspecto é relevante pelo fato de que, em algumas escolas em que se ensina o criacionismo, este é um assunto apenas para a Educação Infantil e as séries iniciais do Ensino Fundamental. O tempo de atuação na i 58 |
  • 15. 0 E n s :n q c g C M C im i S i f f l n a s A u l a s d e C iê n c ia s : a p e r s p e o i v a d o s p r o e e s s u ije s d e c ê c i A S q ü r e c e a d o t i s k h e e n s in e ; rede adventista altera entre 1 e 7 anos, o que pode intervir nos resultados, já que o fator tempo pode proporcionar uma maior compreensão e aceitação da filosofia da educação adventista. E finalmente, o tempo de adventista dos professores (desde o nascimento para alguns) também pode ter influenciado nos resultados, pois a concepção que eles têm de Deus, do criacionismo e da igreja é diretamente afetada por este tempo. A técnica utilizada para a coleta de dados foi a entrevista, as quais foram gravadas e, em seguida, transcritas para uma análise mais exata dos dados. As respostas foram classificadas em categorias e subcategorias, a depender do assunto de que tratava e em seguida, os dados foram explorados à luz da teoria. R e s u l t a d o s e D is c u s s ã o C o n c e i t u a n d o C r ia c io n i s mo Ao serem questionados sobre o conceito de criacionismo, os professores apresentaram diversas opiniões. Desde um simples “modelo explicativo” até um sentido para a existência” , os conceitos se diferenciam, no entanto é perceptível que a maioria dos entrevistados associa esse conceito à sua crença pessoal em Deus. Isto pode ser confirmado a partir de algumas declarações: “Então foi um ser, nosso Deus que criou tudo da maneira perfeita. ” [ E2]. “Deus criou todas as coisas. ” [E7]. “[...] um ser supremo, criador, onipotente, onipresente e onisciente que rege todos os fenômenos que acontecem no planeta Terra.” [E1]. Os comentários acima demonstram que o conceito de criacionismo defendido pelos professores em questão está baseado em sua crença pessoal em Deus, o que nos leva a questionar até que ponto a ciência e evidências científicas estão relacionadas ao conceito de criacionismo desses professores. Entendemos que não se trata apenas de acreditar ou não que Deus é o criador do mundo. Os conflitos envolvendo o criacionismo não se limitam a discutir quem criou, mas como criou. Este é o cerne da questão, pois como já foi visto, há várias vertentes do criacionismo. Não é suficiente apresentar a crença 59
  • 16. DS¯WXOR - Mgyarg Santos b Wellingtun Rodrigues em Deus como o criador das coisas, é necessário se posicionar sobre a maneira que se deu esse processo de criação. Nesse processo criativo há espaço para a crença ou conciliação com a evolução? Qual a idade da Terra? O universo e a Terra têm a mesma idade? O homem surgiu na mesma época dos outros seres vivos ou é mais recente? Nisto consiste a discussão a respeito do criacionismo, visto que, hoje em dia não é tão difícil encontrar quem defenda e acredite em diferentes tipos de criacionismos e evolucionismos enquanto explicação sobre a origem da vida. Para os adventistas a principal questão está em escolher, dentre estas muitas vertentes, qual a que mais se aproxima do que a Bíblia apresenta como verdade. Sobre essa questão, Nelson e Reynolds (2006) se posicionam defendendo que a criação da terra se deu em 6 dias literais (de 24 horas) ao afirmarem que a teoria da criação recente da terra apresenta, dentre outros pressupostos, que Deus criou todos os organismos fundamentais em seis dias de 24 horas. Em contrapartida, Collins (2007) se posiciona afirmando que o criacionismo da terra jovem não é um conceito confiável, ou mesmo, aceitável para os dias de hoje. O autor se contrapõe a tal teoria defendendo que os cristãos devem buscar uma integração entre o que a Bíblia diz e o que a ciência defende. Isso pode ser visto no comentário a seguir: [...] o Criacionismo da Terra Jovem chegou a um ponto de falência intelectual, tanto em sua ciência quanto em sua teologia. Sua insistência é, assim, um dos maiores enigmas e uma das maiores tragédias de nosso tempo. Ao atacar as bases de praticamente cada ramificação da ciência, ele amplia a ruptura entre as visões de mundo cientifica e espiritual, justamente numa época em que se necessita desesperadamente de um caminho em direção à harmonia, (p. 183). Apoiando esta posição encontra-se Thomas (1984), que aponta outras teorias sobre a criação do mundo, conciliando-a com a defendida pela ciência, a saber, a teoria do grande caos, a dos intervalos, dia-era e dias revelados. O autor apresenta a concepção literal dos fatos relatados em Gênesis como sendo “ingênua” e, apesar de não taxar como errada esta opinião, se posiciona afirmando que tal definição é pouco confiável no meio científico: 5 HFRQKHFHP RV FRQWXGR TXH P XLWR SRXFDV SHVVRDV FRP WHQG¬QFLD RX IRUP D©¥R FLHQW¯ILFD WHU¥R VLP SDWLD SRU HVWH SRQWR GH YLVWD 1¥R « SURY£YHO SXH VH SRVVD FRQYHUWHU P XLWRV JHµORJRV DR FULVWLDQLVP R DOUDY«V RH WDO FRQFHLWR SRU«P VH DOJX«P DFHLWD HVVD LGHLD HVW£ FODUR TXH QHQKXP VHU QXPDQR HQFRQWUDVH HP SRVL©¥R GH SURYDUOKH TXH HVW£ HQJDQDGR S 2 '
  • 17. ( Q V LQ G G R U L D F L X Q L V P Q D V $ X O D V G H L¬ Q F L D V D S H U V S H F W LY D G R V S H G I H V V F N H V G H F L¬ Q F LD V G D U H G H D G Y H Q W LV W D G H H Q V LQ O Pode-se entender, com base nesses comentários, porque muitos consideram desnecessário descartar a crença em Deus para acreditar ou aceitar as ideias evolucionistas. E, concordando com isso encontra-se também o famoso geneticista brasileiro Newton Freire-Maia (1986) ao declarar que “o evolucionismo não é contrário ao criacionismo, mas sim, ao fixismo' (p. 19). Para ele, é muito possível crer em Deus e, ao mesmo tempo, conceber a ideia de evolução, desde que não se tenha uma interpretação literal da Bíblia. Contrapondo-se a essas declarações, Roth (2010) afirma que 0 mundo apresenta evidências de que Deus criou todas as coisas em 6 dias literais. São muitas, segundo ele, as incoerências em relação ao tempo da Terra defendido pela ciência - aproximadamente 5 bilhões de anos. Ao considerar a complexidade de uma simples molécula de proteína - necessária à formação do DNA - e 0 tempo necessário para se originar tal complexidade, Roth (2 0 10) conclui que: As supostas longuíssimas eras da Terra e do Universo são curtas demais para acomodar os improváveis eventos imaginados pela evolução. Cálculos indicam que os cinco bilhões de anos da Terra são bilhões de vezes curtos demais para a média de tempo exigido para produzir uma única molécula específica de proteína por acaso. Deus parece necessário. [...] Quando se acredita na criação, temos então um Deus onipotente, não limitado pelo tempo, que não necessita de muito tempo para criar. (p. 169 e 249). Percebe-se, então que, a questão da idade da Terra e o tempo em que ela foi criada é um dos aspectos que mais suscita discussões, mesmo no meio dos que acreditam que Deus é 0 criador de todas as coisas. Esse é um dos fatores que faz com que muitos cientistas critiquem o criacionismo visto que há tantas contradições e divisões dentro do mesmo grupo. Apesar de a maioria dos entrevistados não se ater em explicar como as coisas foram criadas, um dos professores menciona algo sobre isso: e aí a gente parte para aquela parte como Ele criou e a gente começa a explicar como foi que Deus começou a criar as coisas, criou tudo pela paiavra. “ (E3]. O comentário supracitado demonstra que tal professor acredita na maneira que a Bíblia relata ter acontecido a criação do mundo, ou seja, através da palavra de Deus. No entanto, conforme discutido anteriormente, essa resposta não abrange todos os pormenores envolvidos nesse como. 4 Ver definição de fixismo no quadro de conceitos, p. 6. I 61 I
  • 18. ,DS¯IXOR - Mayara Santas e Wellinqton Rodrigues Sendo assim, a partir dessa análise, fica clara a crença pessoal desse grupo de professores em um Deus que criou todas as coisas, apesar de não se deterem em explicar como foram criadas. Nota-se que a preocupação maior dos professores em questão está em defender que Deus existe, que é um Deus de amor que criou o mundo e tudo o que nele há, que cuida dos seres criados e mantém o mundo com Seu poder. C r ia c io n i s m o : C iê n c ia o u R e l ig iã o ? Algumas questões importantes foram levantadas a respeito do criacionismo enquanto conhecimento cientifico e, por isso, faz-se necessária uma análise das opiniões dos professores a respeito desse assunto. A maioria dos professores considera o criacionismo como ciência. Isso é relevante, pois implica, dentre outros aspectos, em qual disciplina se deve estudar o criacionismo, se em ciências ou se em religião. Para tanto, faz-se necessário discutir o que vem a ser ciência. Falando sobre esse assunto, Thomas ( 1984) afirma que a ciência que não admite o criacionismo não se trata de ciência exata, mas de Cientismo, pois, segundo ele, a ciência reconhece que existem áreas da vida que ela não pode explicar, por se tratarem de coisas que estão em outros campos do conhecimento, ao passo que o Cientismo defende que a ciência explica todas as coisas e que aquelas que não consegue explicar não podem ser consideradas reais. Assim, o autor explica que, sob este ponto de vista, a ciência/cientismo não pode aceitar o criacionismo como científico. O domínio da ciência está limitado ao mundo físico da natureza, sendo pois tão inexperiente como qualquer outra disciplina quando se trata de realidades ou valores espirituais tais como a moral e outras coisas semelhantes. [...] Quando qualquer cientista rejeita a criação divina ou a providência de Deus nos assuntos humanos, simplesmente por não serem científicas, estará então formulando 'a priori um julgamento filosófico, especulativo e não cientifico. Estará então empregando o Cientismo, já que a ciência não provou nem pode provar que não existe uma providência em ação. (THOMAS, 1984, p. 120). Para Thomas ( 1984), é preciso que se dê à ciência o lugar que corresponde a ela, ao mesmo tempo em que deve se dar à fé o seu devido lugar também, pois são vertentes diferentes do conhecimento humano e ambas, têm suas verdades, limitações e vantagens. i ^ ii
  • 19. 0 E n s in o ü d C m c iO M S H Q m A u l a s d e D è n u i a s : h p e r s p e c t i v a u u s p r o f e s s o r e s n t c i f N c u s n : k l j e a u v e m i s t a d e e n s in o Ao serem questionados sobre o que é ciência, os professores deram algumas respostas que merecem um destaque. Os entrevistados mencionados abaixo apresentaram um conceito semelhante ao que Thomas (1984) denomina de Cientismo: “a ciência como já diz é um estudo geral. A ciência estuda tudo. Ela quer comprovar o que existe [...]” (E4, grifo nosso). “é um estudo geral, um estudo sobre tudo que existe e sempre trazendo questionamento do como surgiu, porque e como esses mecanismos funcionam do micro para o macro e tudo em gerai'. (E 5, grifo nosso). Como se pode observar, essa ideia de que a ciência busca explicar todos os fenômenos que existem é um tanto perigosa, pois acaba considerando tudo aquilo que a ciência não o pode explicar como sendo irreal. Porém, esta é uma definição muito comum, visto que se acredita que o conhecimento científico é absoluto e comprovado. Um dos entrevistados menciona o método científico ao falar sobre a ciência, o que é muito relevante, pois de acordo com Thomas (1984), esse método possibilita uma melhor compreensão da ciência como sendo exata. A ciência se utiliza desse método a fim de comprovar seus experimentos e encontrar as respostas para os questionamentos que surgem sobre os aspectos naturais da vida. Para mim, ciência seria a utilização do método cientifico para fazer alguma descoberta ou para estudar a natureza ou conhecer a natureza. (E1). Ao analisar sob este prisma, pode-se ter a ciência como exata e verdadeira, visto que o método científico deve se basear em experimentos e comprovações. E é exatamente baseado nessa concepção que Borges (2004) defende que nem o criacionismo nem o evolucionismo podem ser considerados como teorias científicas, pois segundo ele, nenhuma das duas é completamente experimentada e comprovada em laboratório. E é nesse contexto que surge uma das grandes polêmicas no campo da ciência e da religião. Pois sendo que o criacionismo não é considerado um conhecimento científico, como pode ele ser ensinado nas aulas de ciências?
  • 20. ICapÉUilo2 1 - Mayara Santas e WEllinqton Rodrigues E quanto ao status científico do evolucionismo? Defensores do criacionismo afirmam que, se o criacionismo não pode ser ensinado nas aulas de ciências, a evolução também não o poderia. Os professores entrevistados nessa pesquisa afirmaram que concordam que a criação pode ser considerada conhecimento científico. Sendo assim, é correto ensinar criacionismo nas aulas de ciências? Este é um aspecto central da polêmica entre ciência e reügião nas salas de aula de ciências. Veremos, então, o que os professores opinam sobre isso: “todas as disciplinas podem falar, revelar sobre o criacionismo e não somente a disciplina de religião, em especial as disciplinas de biologia e ciências têm características bem peculiares para ensinar para os alunos o criacionismo[Ei]. ‘‘deve ser ensinado sim nas aulas de ciências [...] acho que toda aula de ciências dá para usar o criacionismo” [E3j. “com certeza deve [ensinar] sim e inclusive a incentivar os alunos a pesquisarem isso também.” [E4]. “é uma ciência e, como toda ciência, deve ser estudada, sim, na aula de ciências”[E5]. “é possível. [...] Pode ser ensinado.” [Ee], Praticamente todos os professores defendem que o criacionismo deve ser ensinado nas aulas de Ciências, visto que, para eles, o criacionismo pode ser considerado um conhecimento científico. Isso pode ser explicado pelo fato de que todos eles acreditam que o criacionismo é uma verdade digna de confiança. Baseado em Forquin (1993; 2000) Dorvíllé afirma que [...] o professor enfrenta no seu dia-a-dia, explicitamente ou não, a questão da justificativa do que ensina. Ensinar e aprender são atividades que envolvem custos e esforços de todos os tipos e desta maneira sempre se faz necessário fazer escolhas, priorizando-se determinados conteúdos e não outros. [...] ninguém pode ensinar verdadeiramente se não ensina alguma coisa que seja verdadeira ou válida a seus próprios olhos. Esta noção de valor intrínseco da coisa ensinada, tão difícil de defimr e de justificar quanto de refutar ou rejeitar, está no próprio centro daquilo que constitui a especificidade da intenção docente como projeto de comunicação formadora. É por isso que todo questionamento ou toda critica envolvendo a verdadeira natureza dos conteúdos ensinados, sua pertinência, sua consistência. I 64 |
  • 21. D E n s in ü d d C r ia c i o m is m o n a s A u l a s d e C i ê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d o s p r o f e s s d r e s o e c iê n c i a s c a r e d e a e m m i s i a d l e n s in o sua utilidade, seu interesse, seu valor educativo ou cultural, constitui para os professores um motivo privilegiado de inquieta reação ou de dolorosa consciência {DORV1LLÉ, 2010, p. 110). Isso acontece porque, como já foi visto anteriormente, cada professor, ao ministrar suas aulas deixa evidenciar a sua crença pessoal. No caso de professores criacionistas é quase impossível falar sobre a origem da vida e não mencionar a existência de Deus, pois essa crença faz parte de sua própria cosmovisão e filosofia de vida. Por isso, Lourenço (2009 apud DORVILLÉ, 2010) declara que a maior dificuldade em aceitar o ensino de criacionismo nas aulas de ciências se dá pelo fato de que há uma tendência em falar em Deus e, para ele, as aulas de ciências deveriam se limitar em estudar as evidências da criação sem, necessariamente, apontar para o Criador. Quando se remete ao Criador, deixa de ser considerado como ciências e passa a ser religião. Nas aulas de ciências deve-se estudar o criacionismo científico, ou seja, seus aspectos que podem ser considerados fatos científicos e não os aspectos que envolvem o ser Divino que criou as coisas. A parte religiosa não é testável. (...) O criacionismo trabalha especificamente nesta questão: ‘É possível provar cientificamente que o mundo foi criado? Sim! 'É possível provar cientificamente quem criou o mundo? Não! [...] Realmente, eu não posso numa aula de biologia - que è uma aula de ciência - ensinar que Deus criou o mundo. Na aula de biologia, eu tenho que ensinar como a vida teria surgido e como ela teria se desenvolvido. Agora, é possível mostrar que a vida foi criada pronta, completa, complexa, com uma capacidade de adaptação básica? Claro que sim. Temos evidência para isso? Claro que sim. Esse é o ponto principal: nós estamos puxando novamente nesta direção. Queremos ensinar o criacionismo científico e não o religioso. (LOURENÇO, 2009, apud DORVILLÉ, 2010, P- 124). Há ainda os que defendem que o criacionismo é tanto ciência como religião, conforme demonstram os comentários a seguir: “eu acho que é as duas coisas. [...] Ciência e religião. Eu acho que é os dois sim.” [E 7]. “ele pode ser considerado cientifico-religioso. Religioso no sentido que a filosofia aí vai precisar de você crer em algo que não se consegue medir, contere tudo mais, ele tem essa vertente diferenciada.” [E 6]. Dentre os teóricos e materiais estudados para fundamentar esta pesquisa, não foi encontrado nenhum que concorde com tal posicionamento. Há quem apoie a ideia de que o criacionismo é ciência e outros que o defendem como
  • 22. I C a p í i i l o 2 1 - Mayara Santps b W^llington Radriques M religião. No entanto, considerando a ideia de Lourenço (2009), ao mencionar os dois objetos aos quais o criacionismo pode se direcionar (evidências da natureza e Criador), conclui-se que ele pode assumir esses dois posicionamentos a depender do que se está estudando ou da ênfase que se dá. Ao ponderar todos esses comentários e posições, percebe-se que esse assunto é um tanto mais polêmico porquanto muitos não compreendem ainda o que envolve o conceito de conhecimento científico. Vê-se o quanto as posições e opiniões sobre esse assunto ainda se encontram divididas, e por isso é tão necessário que o professor tenha uma concepção muito clara de suas crenças e de como se posicionar em relação a elas já que isso interfere em grande medida na maneira como ministrará suas aulas sobre esse assunto. P o s t u r a d o P r o f e s s o r A d v e n t i s t a a o T r a b a l h a r o C r ia c io n i s m o em S a l a d e A u l a Os professores entrevistados relataram que, apesar de sua crença pessoal no criacionismo, buscam ensinar os dois pontos de vista (evolução e criação) sem promover a crença de um em detrimento do outro, segundo demonstram os comentários a seguir: “apesar de eu ser criacionista não é requisito em minha disciplina todos acreditarem ou entenderem... ou se tomarem criacionistas, eu tenho alunos que são evolucionistas e que apesar de minhas aulas aprendem o que é criacionismo e permanecem evolucionistas.[E1]. “eu penso que a evolução é uma coisa que surgiu do nada e vai con-tinuar do nada. Isso é o que eu penso e não o que eu passo em sala de aula.” [E3]. “eu acredito, mas a partir do momento que mostro para meu aluno eu digo a ele o que eu acredito e que a igreja Adventista trabalha dessa forma. Mas eu sempre procuro deixar o aluno aberto a pensar o que quiser e procuro ouvir dele o que ele traz, mesmo que em algumas aulas eu consiga debater com ele, necessariamente “eu não posso empurrara minha crença goela abaixo’’ eu não gosto disso, não é a minha prática. ” [E6].
  • 23. m. ( Q V LQ R @' U L¯F LG Q LV P G P $ X OD V G I LŒ + LWV D 3 ) 5 6 3 ) LLYW Q F V S U X A V V X U H V F LK $ V GR PLPPP X I PP Esse tipo de posicionamento é apoiado por Roth e Alexander (1997 apud OLIVEIRA, 2009) ao relatar, fundamentados na ideia de integração entre ciência e religião, que nenhum dos discursos, seja o da evolução, seja o da criação, deve ser privilegiado sobre o outro, pois que ambos podem ser aceitos por uma mesma pessoa sem que conduzam a construções teóricas incoerentes. Já Bahia (2004) alega que a postura do professor ao abordar o criacionismo em sala de aula deve ser, primeiramente, inteligente e indica a promoção do criacionismo ao mencionar que o professor deve conhecer os pressupostos criacionistas para então poder confrontá-los com o evolucionismo. O autor completa ratificando que a maioria dos estudantes é oriunda de uma formação religiosa que acredita no criacionismo e, por isso, não há tanta dificuldade de aceitação e compreensão desse ensino em sala de aula. Falando sobre o ensino de criacionismo nas aulas de ciências dos EUA, Dorvillé (2010) acrescenta que apesar de, legalmente não ser permitido, este ensino vem ganhando espaço nessas escolas. Dados de 20084 revelam que 25% dos professores admitiram ensinar o criacionismo em suas aulas de Biologia e, ainda, defenderam que este pode ser considerado uma alternativa científica às explicações da evolução das espécies. Dorvillé (2010) aponta como uma das razões para essa realidade o fato de grande parte dos professores ser criacionista. Isto confirma a ideia de que as concepções e crenças pessoais do professor influenciam sobremaneira as suas práticas pedagógicas. Em pesquisa com alguns professores evangélicos de ciências e biologia, Dorvillé (2010) constatou posicionamentos diversos em relação à sua postura ao ministrar aulas sobre as teorias das origens. Alguns professores pontuaram que buscam separar o conhecimento científico do religioso, ou seja, não falam sobre criacionismo em aulas de ciências ou biologia, detendo-se, apenas ao ensino do evolucionismo. Outros professores demonstraram buscar uma conciliação entre ambos os conceitos - evolução e criação - apresentando os postulados que os vários teóricos defendem ao buscar uma integração entre ciência e religião, levando os alunos a compreenderem que a interpretação bíblica pode, sem prejuízo de sua crença pessoal, se acomodar às descobertas científicas. Já uma professora, em especial, revelou um posicionamento muito firme e um tanto radical, no que diz respeito à crença na Bíblia, pois declara que, o que ' Pesquisa de escala nacional feita por BERKMAN; PACHECO PLUTZER (2008) com 939 professores do Ensino Médio nos EUA. I 67 I
  • 24. f t . [Capitulo21 - Mayara Santas e WeliinQtan RpdriquES a Bíblia fala é daquele jeito, não havendo chance nenhuma de erros ou mesmo interpretação diferenciada das palavras que estão lá escritas. É o que acontece no caso da história de Josué, quando a Bíblia relata que o Sol parou e hoje, já se descobriu que quem parou de fato não foi o Sol, mas a Terra, visto que nosso sistema é heliocêntrico, ou seja, todos os planetas giram em torno do Sol. Para essa professora, se a Bíblia diz que o Sol parou, há então uma chance de a teoria do heliocentrismo estar equivocada. Na literatura adventista, a recomendação é a de que a postura dos professores deve ser de firmeza quanto a não acomodar a interpretação bíblica às alegações científicas quando estas vêm se manifestando contra o que defende a Bíblia. A posição da igreja, conforme discutido anteriormente, é de rejeição às ideias evolutivas apesar de abrir espaço para a aceitação do processo de adaptação dos seres vivos. Para o adventismo, a Bíblia é de uma ordem de conhecimento superior a todos os outros ensinamentos e o professor adventista precisa assumir uma postura de defesa das verdades deste livro, levando os alunos a refletirem sobre esses fatos. M e t o d o l o g ia s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n i s m o É unânime, no meio pedagógico, o conhecimento de que deve haver uma coerência entre os objetivos, a metodologia e os conteúdos do currículo escolar. Por isso, a necessidade de se esclarecer este aspecto neste trabalho. Questionou-se como os professores da rede adventista de ensino estão trabalhando o assunto do criacionismo nas aulas de Ciências? Qual a melhor maneira de se trabalhar tal conteúdo nas aulas de Ciências? Estas são indagações que necessitam de respostas significativas e coerentes com a filosofia adventista e é sobre isso que aborda esta parte do trabalho. Libâneo (1994) e CUBIASD (2010) concordam que os métodos de ensino precisam estar pautados sobre determinados princípios. Estes fazem parte da filosofia do sistema de ensino e norteiam todas as ações educativas. Por isso, fez-se necessário a elucidação dos princípios metodológicos da pedagogia adventista, “os quais são diretrizes amplas de sustentação curricular para a seleção dos métodos e meios de ensino utilizados na sala de aula e demais espaços educativos.” (CUBIASD, 2010, p. 71). Ao serem questionados sobre sua prática em sala de aula, os professores i 68 |
  • 25. D E n s in q g d C r ia c i o n i s m o u a s A u u s a e C iê n c ia s : h p e r s p e c t i v a d a s p r o f e s s o r e s p f F L ¬ Q F L D V o a r e d e a d v e h t i s t a d e e n s in o m citaram algumas metodologias utilizadas por eles para ensinar o criacionismo imas aulas de ciências. Ao relacionar as estratégias utilizadas pelos professores com os métodos fecomendados por Libâneo (1994) e CUBIASD (2010), chega-se à conclusão de que as estratégias estão voltadas para o método expositivo, no qual o professor explica os conhecimentos e habilidades para os alunos, seja através de exposição verbal, demonstração, ilustração ou exemplificação. Este é um dos métodos usados por Jesus em seu ministério e proporciona condições para a ponderação e reflexão de determinados assuntos. Alguns professores mencionaram que se reportam à beleza e à perfeição do mundo criado, à complexidade dos seres para reafirmar a existência e perfeição de Deus: “Quando você fala da célula; quando você fala do funcionamento do corpo; quando você fala do sistema digestório; quando você fala de qualquer sistema do corpo, você consegue introduzir o criacionismo, porque você consegue mostrar como que Deus fez funcionar Só mesmo um Deus perfeito, só mesmo um ser perfeito com muita inteligência conseguiria fazer um órgão do nosso corpo como o cérebro, por exemplo, funcionar de uma maneira tão perfeita.” [E3j. “Quando você faia sobre embriologia; como acontece um milagre do nascimento de um bebê, todo o processo que acontece, você percebe a proteção, todos os passos para acontecer corretamente. ” [,E4]. “como nosso organismo é perfeito; como as plantas; a minúcia; os detalhes de tudo como foi criado e saber que isso tudo não tinha como ser do acaso. Que existe um Deus, um Criador que pensou, alguém que projetou para que tudo aquilo desse certo, tudo aquilo funcionasse com perfeição e se algum sistemazinho, se algum aparelhinho desses tiver algum defeitinho, algum problema a depender da situação pode vir a óbito. [Eõ], Esse é um argumento muito utilizado pelos criacionistas de modo geral, já que o mundo apresenta tantas evidências de uma ação planejada tendo em I 69
  • 26. ,DSLOXOR - Mayara Santas b WBilinqtan Rodrigues M vista a complexidade de coisas tão pequenas. No entanto, o perigo de se deter apenas neste tipo de comentário está nas imperfeições do mundo e dos seres. Se a evidência que o mundo foi criado por Deus é a perfeição do corpo humano, por exemplo, como explicar os casos de anomalias, deficiências e demais incidentes que ocorrem com tantas pessoas? Outra maneira de introduzir o assunto do criacionismo, mencionada pelos professores, é através de questionamentos a respeito do evolucionismo. Os professores afirmaram que fazem perguntas que levam os alunos a refletir sobre a veracidade da evolução, utilizando expressões que conduzam os alunos a duvidar do mesmo: “você pode chegar para o aluno e dizer: gente tem lógica isso ser um processo de evolução? Você percebe o poder, alguém que pensou em fazer esse tipo de coisas acontecer e acontecer da forma que acontece. ” [E4]. “a gente tem assim, já umas palavrinhas mágicas pra usar, [...] pra deixar aquilo ali: será que realmente, numa explosão, [...] então como é que o mundo se originou de uma explosão? [...j mas como é que uma explosão poderia gerar assim um mundo tão perfeito como a gente vê, né? [...} Se originar um ser e tal, de um macaco, ” então, a gente sempre coloca, “será?” Deixa aquela interrogação pra eles chegarem a conclusão que: ‘não! isso aí é besteira, num tem como acreditar', levar por esse lado, né.” [E7, grifo nosso]. Desta problematização surgem os questionamentos sobre a veracidade da evolução tomando como base as incoerências existentes neste modelo. Um professor relata que em suas aulas levanta essas questões para discussão, levando os alunos a refletir se estas incoerências não podem ser razões para duvidar da exatidão dos argumentos evolucionistas ao passo que o criacionismo pode ser mais coerente. “[...] algo pra despertar no aluno, e dizer assim: opa! O evolucionismo tá começando a ter alguma falha e criacionismo tá começando a falar alguma coisa diferente. [...] começo a inserir pequenos textos, fatos evidências, que possam despertar no aluno ele fazer essa diferenciação entre uma teoria e outra.” [E6].
  • 27. 0 E n s in o d o C r ia c i d w s m o m h m s d e C iê n c ia s : a p e r s p e c t i v a c-d s P R D -E s s riH b s d e c i ê ^ i i a s d * re d e » v e n t i s t a eie [n s im d A estratégia de questionamento é muito utilizada por diversos professores em diversos assuntos e é recomendada uma vez que pode, se corretamente «utilizada, conduzir o aluno a uma reflexão crítica dos fatos, possibilitando um Üevantamento de hipóteses, construções, desconstruções e reconstruções de conceitos e saberes que fazem com que o aluno possa ter um posicionamento pessoal diante de determinada questão. No entanto, para Dorvillé (2010, p. 202), a utilização dessa técnica na maioria das vezes demonstra que “O questionamento revela-se importante não por representar uma oportunidade de construir novas ideias ou de refazer as antigas, mas como uma chance de reafirmar a precedência ae sua visão de mundo em relação a todas as outras.” Ademais, esta é uma das metodologias sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Dentre as Orientações Didáticas ali apresentadas, encontra-se a Problematização que consiste em fazer perguntas e levantar problemas que levem o aluno a questionar o que já sabem ou o que está posto, buscando uma nova maneira de conceber certos conhecimentos. Explica-se quanticamente a estrutura infinitesimal, as microscópicas estruturas de construção dos seres, sua reprodução e seu desenvolvimento. E se debate, com questões existenciais de grande repercussão filosófica, se a origem da vida é um acidente, uma casualidade que poderia não ter acontecido ou se, pelo contrário, é a realização de uma ordem já inscrita na própria constituição da matéria primeva. (BRASIL, 1997, p. 25). Apesar de o conhecimento científico ser considerado por muitos professores como completamente objetivo, os PCNs apontam para a necessidade de levar os alunos entenderem tal conhecimento como subjetivo e sujeito a modificações já que o conhecimento se constrói ao longo do tempo e em coerência com as transformações da sociedade. Além disso, essa estratégia desperta no aluno o senso crítico possibilitando a formação de um cidadão pensante que não se conforma apenas com respostas prontas, mas que se constituí num construtor de seu conhecimento. (BRASIL, 1998). Dentre os princípios metodológicos da educação adventista está a integração fé e ensino. Com base neste princípio, qualquer que seja o método escolhido pelo professor, deve-se ter em vista a educação para a eternidade. Na filosofia adventista não há espaço para contrapor-se ao que a Bíblia ensina. Qualquer conhecimento que esteja indo de encontro ao que a Bíblia ensina deve ser questionado fazendo com que os ensinamentos bíblicos sejam reconhecidos _ _
  • 28. I C a p i t u l o 2 1 - Maysra Santos b WEllingtpn Rpdrigues e aceitos como verdadeiros. (CUBIASD, 2010). Ao conduzir os alunos a uma reflexão sobre os postulados científicos que estão em desarmonia com os ensinamentos bíblicos, os professores estão em consonância com o que defende a filosofia da educação adventista, pois estão contribuindo para a formação de seres pensantes e agentes de seu conhecimento. “Em vez de pusilânimes educados, as instituições de ensino poderão produzir homens fortes para pensar e agir, homens que sejam senhores e não escravos das circunstâncias, homens que possuam amplidão de espírito, clareza de pensamento, e coragem nas suas convicções.” (WHITE, 2008 p. 18). J u s t i f ic a t iv a s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n is mo n a s A u l a s d e C iê n c ia s Todas as ações educativas necessitam de um porquê. É necessário ter sempre em mente os motivos que conduzem à ação para se fazer uma prática mais significativa, eficaz e eficiente. Por isso, ao planejar e conduzir suas aulas de ciências faz-se necessário que os professores compreendam as razões em trabalhar a temática do criacionismo com seus alunos. Isso contribui para se obter os resultados mais almejados. É pertinente registrar que estas justificativas estão no mesmo nível de aceitação por parte dos professores, ou seja, cada uma delas foi mencionada por apenas um professor, tendo como exceção apenas duas - 0 fato de ser ciência e 0 despertar da crença no criacionismo - , pois estas foram apontadas por dois professores. Analisando essas respostas, conjectura-se que os motivos para o ensino do criacionismo nas aulas de ciências estão divididos em duas razões principais: a) tentativa de igualar, em nível de importância e reconhecimento, o criacionismo ao evolucionismo (justificativas 1, 2 e 3); b) os valores espirituais que envolvem o ensino do criacionismo (justificativas 4 e 5). Por se tratar de uma pedagogia que tem sua base filosófica centrada na Bíblia, é comum notar que os professores alegam o fator espiritual como justificativa para 0 ensino da temática nas aulas de ciências. No currículo da escola adventista chamado de Integral-restaurador todas as ações devem estar pautadas numa perspectiva bíblico-cristã, com o objetivo maior de restaurar 0 homem à imagem de Deus. 6 V e r C U B IA S D ( 2 0 1 0)
  • 29. D E h S IN D D D Ç r IA C ID M S H D N A S A ü LAS DE C l È M A S : A P E R SPEC TIVA DO S P E Q F E S S tM S DE C IÊ N C IA S DA REDE AD VEN TISTA 3E E N SIN O O b j e t i v o s d o P r o f e s s o r A d v e n t i s t a a o T r a b a l h a r o C r ia c io n i s mo n a s A u l a s d e C iê n c ia s Um dos elementos mais falados e pensados do currículo são os objetivos. São eles que norteiam as ações pedagógicas dentro e fora do espaço escolar, subsidiando as metodologias, os conteúdos e a avaliação. Cada ação docente, desde o planejamento ao desenvolvimento de suas aulas, precisa estar pautada em objetivos a serem alcançados, pois a educação não é um processo sem intencionalidades e finalidades. É necessário conhecer quais os objetivos dos professores ao trabalhar o criacionismo nas aulas de ciências e discutir se os tais estão em concordância com os objetivos da filosofia adventista de educação. Percebemos a predominância da crença no criacionismo por parte dos alunos. É significativo considerar que, praticamente os mesmos professores que apontam como objetivo a compreensão do criacionismo, desejam também, que seus alunos acreditem no mesmo: “que ele entenda em primeiro lugar” [E3] “fazer com que acredite, sim, no criacionismo.” [E3] “o aluno tem que entender, tem que ter sua opinião e tem que formar aí para que lado ele vai partir com sua opinião. ” [E2]. “nós temos como propósito que ele acredite.’7[E2]. Nota-se que ao mesmo tempo em que pretende que o aluno entenda para fazer sua escolha própria, o professor mencionado acima tem um objetivo que o aluno acredite no criacionismo. Como já foi mencionado anteriormente, o processo educativo não é neutro, mas traz as intencionalidades e finalidades nas quais se baseia cada ação e isso não é diferente na educação adventista, pois que todas as ações pedagógicas estão pautadas em princípios filosóficos que apresentam objetivos a serem alcançados. O currículo integral-restaurador é norteado por objetivos que estão além do mundo natural e físico, pois envolve o mundo espiritual (CUBIASD, 2010). O despertar da crença em Deus e em Jesus Cristo também fazem parte dos objetivos destes professores. E isso está completamente de acordo com os objetivos da educação adventista.
  • 30. ICapilulo21 - Mayara Santos e WEÍIingtan Rodrigues Percebe-se que os objetivos dos professores entrevistados estão em harmonia com os objetivos da educação adventista, já que a crença em Deus faz parte desses objetivos. Ao ministrar suas aulas sobre quaisquer assuntos, os professores dessa rede precisam ter em vista o principal objetivo que é a restauração do homem. Para que isso aconteça, é necessário desenvolver uma prática voltada, acima de tudo, para a promoção do conhecimento e da crença em Deus e isso é bem viável e possível ao trabalhar a temática do criacionismo. R e c u r s o s U t i l i z a d o s p a r a o E n s in o d e C r ia c io n i s m o n a s A u l a s d e C iê n c ia s Além dos métodos de ensino, Libâneo (1997) e CUBIASD (2010) pontuam os recursos e materiais utilizados na ministração das aulas, aos quais denominam de meios do ensino. Estes podem ser de uso geral, ou seja, úteis e necessários para todas as disciplinas (mesa, carteiras, quadro-negro, giz, lousa, etc.) ou de uso específico de cada disciplina (mapas, enciclopédias, globo terrestre, discos, dicionários, recursos naturais, etc.). Somados a esses recursos, estão os equipamentos tecnológicos que, hoje em dia, são bastante utilizados em sala de aula, proporcionando ainda maior aprendizagem. Para que as aulas sejam mais atrativas e a aprendizagem mais significativa, é necessário que o professor seja capaz de selecionar os recursos mais condizentes com a realidade da turma e com os objetivos que se quer alcançar com a aula. Dentre os recursos que existem à disposição, os professores entrevistados selecionaram os seguintes: Livros paradidáticos que falem sobre o criacionismo; Livros didáticos editados pela CASA7; Escritos de Ellen White. Nota-se que os recursos utilizados pelos professores podem oferecer subsídios pertinentes ao assunto abordado, já que são bem específicos. Dentre os paradidáticos, foram citados livros de Michelson Borges, um jornalista adventista que escreve sobre o assunto: Casa Publicadora Brasileira, editora dos adventistas do sétimo dia.
  • 31. D E n s in o D E C h iA C iD S IS M B m A L IA S DE C lF H C IftS : A PEB SPC C TIVA D C S P H G fE S S a R E S q e c iê n c ia s c a r e d f C J V E N T IS U d e e n s ih d Eu trabalho com esses livros, o livro A história da vida”, o livro “Por que creio”, tenho o livro “Origens” também. [...] alguns livros de pessoas criacionistas que mostram indícios da natureza, da história do mundo, do que tem feito que possam apoiar que não foi o acaso. [E6]. Os livros didáticos utilizados na rede adventista são elaborados pela CASA, que é uma editora adventista e publica, em seus livros didáticos de ciências, a explicação do criacionismo e a versão evolucionista, comparando-os e promovendo o criacionismo em detrimento do evolucionismo. Isto também é apoiado pela educação adventista, pois segundo a CUBIASD (2010), a escolha e utilização de livros didáticos precisam “levar em conta a concepção filosófica apresentada.” (p. 85). E, por serem produzidos por uma editora que participa da mesma filosofia, não encontra problemas quanto à coerência entre a concepção filosófica do livro e a da educação adventista, A utilização desses livros proporciona ao professor mais segurança ao ministrarem suas aulas, pois que oferecem argumentos e posicionamentos que se adequam à sua própria crença pessoal, como pode ser evidenciado nos comentários abaixo: “a gente utiliza os livros da Casa Publicadora, como os colegas falaram, todos os materiais como fonte de pesquisa e é muito interessante como 0 livro coloca essa maneira de colocar Deus.” [E3], “Tudo 0 que passarmos aos alunos nós temos que colocar, mostrar como Deus, principalmente em biologia, como Deus é maravilhoso e os livros didáticos da CASA eles trabalham isso também e isso é muito bom, isso é 0 diferencial da escola adventista.” [E4]. Os escritos de Ellen White foram um dos recursos mais apontados pelos professores, pois, para eles, são materiais muito úteis por esclarecerem certas dúvidas que de outra maneira não seria possível, conforme comprovam os comentários a seguir: “EGW traz muitas informações mais detalhadas sobre os escritos bíblicos e isso é utilizado de maneira mais enfática em sala de aula como sendo um referencial teórico além da Bíblia.” [E1].
  • 32. a . DS¯WXOR - Mayara Santos e Wellinqtgn RadriquEs M “Eflen White foi uma das maiores escritoras existentes da face da terra [...] então, a gente iança mão né desses escritos, desses textos que ela usa para que a gente possa enriquecer a nossa aula. [E2] “é impossível não usar [os escritos de EGW], porque ela me ajuda a entender alguns assuntos que eu não consigo entender em livros didáticos [...] então tudo isso me ajuda em nível de pesquisa para eu passar para meus alunos. ” [E3j. Para esses professores como se trata de uma escola confessional que tem filosofia própria, não há problema em utilizar esses materiais, já que esta autora é a principal teórica adventista. Como se pode perceber, os professores entrevistados têm buscado tornar suas aulas de criacíonismo significativas e, para isso, procuram trazer materiais diversos para trabalhar esse assunto. No entanto, outros recursos poderiam ser acrescentados, como por exemplo, vídeos sobre o criacionismo, imagens, revistas que tratem do assunto, dentre outros. C o n s id e r a ç õ e s F in a is A reflexão na ação docente, nas práticas pedagógicas e no fazer do professor proporciona crescimento profissional e pessoal. O exercício pedagógico precisa estar pautado em reflexões constantes sobre as práticas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem. Com isso, entende-se que há uma necessidade de constantes reflexões sobre as questões que envolvem o currículo. O professor adventista faz parte de uma filosofia única e especial que busca um desenvolvimento holístico do indivíduo e visa, acima de tudo, a eternidade. Por isso, este profissional precisa estar ciente de sua responsabilidade enquanto agente participante e diretamente ligado à formação dos alunos e condução destes à restauração da imagem de Deus. Dentre as diversas questões que perfazem o conhecimento científico está a origem da vida, do Universo e dos seres humanos. Este é um assunto polêmico quando se trata da educação adventista porque, no mundo científico há uma valorização e aceitação do modelo evolucionista em detrimento do criacionista. Há, portanto o desafio de se posicionar diante desta realidade e manter firme o I 7 6 I
  • 33. □ E n s in d d d C r ía c i d h is h d n a s A u ia s d e C i ê n c ia s : a p e r s p e c t iv a d o s p r d e e s s d r e s c e c iê n c i a s d a r e d e a d y e n t i s ía d e e n s in l princípio bíblico, mesmo quando este é desvalorizado e até ridicularizado. O presente estudo contribuiu significativamente para a reflexão e a ponderação nesta realidade, fazendo com que compreendamos mais profundamente os aspectos que estão envolvidos nesse assunto. Além disso, a investigação evidenciou que o criacionismo é um assunto polêmico, inclusive entre os adventistas do sétimo dia. Há uma necessidade, entre os professores da rede adventista, de maior segurança em trabalhar esse conteúdo em sala de aula. As concepções destes professores sobre essa temática precisam ser mais firmemente alicerçadas na filosofia adventista a fim de influenciarem positivamente em sua prática docente. Este trabalho pretende ser uma contribuição para a rede adventista por proporcionar uma visão mais profunda sobre aspectos que merecem e precisam de mais atenção, pois que é um assunto que envolve, acima de tudo, a salvação dos alunos. Espera-se que os professores de ciências possam levantara bandeira do criacionismo com mais convicção para exaltar o Criador de todas as coisas, pois este é o maior objetivo da educação adventista. Recomendamos, entretanto, mais estudos nessa área, envolvendo uma quantidade maior de sujeitos para que se tenha uma visão ainda mais real dos fatos. Ademais, fica o desejo de que este material contribua para uma prática adventista de educação mais efetiva e celestial e menos terrena.
  • 34. ICapítulo2 1 - Mayara Santos e Wellington Rodrigues R e f e r ê n c ia s ABRANTES, Paulo; ALMEIDA, Fábio. Criacionismo e darwinismo confrontam-se nos tribunais... da razão e do direito. Revista Episteme, Porto Alegre, v. 11, n. 24, p. 357-401, jul./dez. 2006. ASIMOV, Isaac. A ameaça do criacionismo, 2010. Disponível em: http:// discordianismo. wordpress.com/20i0/l2/23/interessante/. Acesso em: 20 nov. 2 0 1 1 . BAHIA, Euler. Em defesa do criacionismo. In: BORGES, Michelson. Porque creio: doze pesquisadores falam sobre ciência e religião. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. BERKMAN, Michael B.; PACHECO, Julianna S.; PLUTZER, Eric. Evolution and creationism in America’s classrooms: a national portrait. PLoS Biology , 2008. BORGES, Michelson. Porque creio: doze pesquisadores falam sobre ciência e religião. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC / SEF, 1998. BRUM, Eliane. A evolução do criacionismo. Disponível em: http://revistaepoca. globo.com /Epoca/0,6993,EPT884203-i,00,html. Acesso em: 21 nov. 2011. COLLINS, Francis. A linguagem de Deus: um cientista apresenta evidencias de que Ele existe. Tradução: Giorgio Capelli. 6. ed. São Paulo: Gente, 2007. CONFEDERAÇÃO DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA (CUBIASD). Pedagogia adventista. Tatuí, SP: CPB, 201 0 . COUTINHO, Marilia. Criacionismo - a religião contra-ataca: movimento nos EUA é tão forte que interfere no ensino de ciência nas escolas. Revista Galileu. Disponível em: http://galileu.globo.com/edic/l2l/rep_biologia.htm. Acesso em: 21 nov. 2011. DELEPRANI, Felício. George McCready Price e a contribuição adventista para o surgimento do criacionismo científico. 64 f. Monografia (Bacharel em Teologia) - Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, Cachoeira, BA, 2007. DORVILLÉ, Luís Fernando. Religião, escola e ciência: conflitos e tensões nas visões de mundo de alunos de uma licenciatura em ciências biológicas. 2012. 358f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2010. ENGLER, Steven. Tipos de Criacionismos Cristãos. Revista de Estudos da Religião. São Paulo, p. 83-107, junho / 2007. Disponível em: http://www.pucsp. br/rever/rv2_2007/ t_engler.htm. Acesso em: 20 nov. 2011. FRANÇA, Valéria; MARTINS, Elisa. Rosinha contra Darwin: Governo do Rio de
  • 35. 0 E n S IM n n C r ia C IO M S M D N A S A ü L A S DE C iÉ M C íA S : k P E R SPEC TIVA DO S PRO FESSOR ES DE ClCWCIftS DA REDE ADVENT1STA ÜE bN S IN D Janeiro institui aulas que questionam a evolução das espécies. Revista Época, 2C34. Disponível em: http://www.revistaepoca. globo. com/Epoca/....html. Acesso em: 20 nov. 2011. FREIRE-MAIA, Newton. Criação e evolução: Deus, o acaso e a necessidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986. FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas. 208p, 1993. ______. O currículo entre o relativismo e o universalismo. Educação Sociedade, vol. 21, p. 47-70, 2000. GIL, Wellington; MOTTA, Rosilene. Relações entre ciência e religião na perspectiva dos professores da faculdade adventista de fisioterapia (FAFIS). Práxis Teológica. Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, v. 1, n. i. jan./dez. 2011. HEEREN, Fred. Mostre-me Deus: o que a mensagem do espaço nos diz a respeito de Deus. Trad. Soraya Bausells. São Paulo: Clyo, 2008. IBOPE, Opinião. Pesquisa de opinião pública sobre o criacionismo 2004. Disponível em: http://www2.ibope.com.br/calandrakbx/mng.nsf/Opiniao%20 Publica/Downloads/Opp9 92-criacionismo.pdf/SFile/Opp992-criacionismo.pdf. Acesso em 21 maio 2012. LIBÂNEO, José. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. MOON, Peter. Fé sem razão. Disponível em: http://www.istoe.com.br/ reportagens/33343 _FE+SEM+RAZAO. Acesso em: 21 nov. 2011. MORA, José. (Ed). Dicionário de filosofia. Co-editor: Eduardo Garcia Belsunce. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1982. MORELAND, J. P.; REYNOLDS, John (Org.) et al. Criação e evolução: 3 pontos de vista. Trad.: Marson Guedes. São Paulo: Vida, 2006. NELSON, Paul; REYNOLDS, John. Teoria da criação recente da Terra. In: MORELAND, J. P.; REYNOLDS, John (Org.) et al. Criação e evolução; 3 pontos de vista. Trad.: Marson Guedes. São Paulo: Vida, 2006. OLIVEIRA, Graciela. Aceitação/rejeição da evolução biológica: atitudes de alunos da educação básica. 2009. I69f. Dissertação (Mestrado em Educação: ensino de Ciências e Matemática) - Faculdade de Educação da universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2009. ROMANINI, Carolina. Onde Darwin é só mais uma teoria. Revista Veja, 11 de fevereiro de 2009. ROTH, Ariel. A ciência descobre Deus: evidências convincentes de que o Criador existe. Tradução: Neumar de Lima e Eunice do Prado. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010. SEPULVEDA, Claudia; EL-HANI, Charbel. Quando visões de mundo se encontram: religião e ciência na trajetória de formação de alunos protestantes de
  • 36. uma licenciatura em ciências biológicas. Investigações em ensino de Ciências, Feira de Santana, v. 9, n. 2, p. 135-175, 2004. THOMAS, J. Razão, ciência e fé: compreendendo a relação entre os fatos da ciência e os argumentos da fé. São Paulo: Vida Cristã, 1984. YOUNKER, Randall W. La creación de Dios: explorando el relato dei Génesis. Miami, Flórida: Associación Publicadora Interamericana, 1999. WHITE, Ellen. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008. Mayara Farias da Sitva Santos Pedagoga peta Faculdade Adventista da Bahia. Wellington Git Rodrigues Mestre em Educação pela Universidade Federal do Maranhão, professor de Ciência e Religião da Faculdade Adventista da Bahia.