O documento discute as complicações cardiovasculares associadas à infecção pelo HIV, incluindo cardiomiopatia, doença coronária e derrame pericárdico. Aborda os mecanismos fisiopatológicos envolvidos e as manifestações clínicas, além de fornecer recomendações sobre o tratamento e gestão destas complicações.
Complicações cardiovasculares associadas à infecção pelo HIV
1. Departamento de Medicina
Serviço de Cardiologia
Complicações Cardíacas do HIV
Málen Barroso
Residente em Medicina Interna
R3
Maputo, Julho de 2021 1
2. • Introdução
• Mecanismos de lesão
• Manifestações cardiovasculares em pacientes
HIV
• Pontos chaves
• Bibliografia
CONTEÚDO
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3. Introdução
ESTATÍSTICAS GLOBAIS DE HIV
• 37,6 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com HIV em
2020.
• 1,5 milhão de pessoas foram infectadas pelo HIV em 2020.
• 690.000 de pessoas morreram de doenças relacionadas à SIDA em
2020
• No final de Dezembro de 2020, 27,4 milhões de pessoas tiveram
acesso ao TARV a comparativamente aos 7,8 milhões em 2010.
World Health Organization (WHO). HIV/AIDS. World Health Organization
(WHO). Available at https://www.who.int/health-topics/hiv-
aids/#tab=tab_1.
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4. Introdução
• Em Moçambique 2,2 milhões de pessoas vivendo
com HIV/SIDA
• Actual taxa de prevalência se mantém em 13,2%
entre a população com idade entre 14 e 49 anos
no país
• Na africa Subsariana problemas como doenças
metabólicas, cardiovasculares e neoplásicas
passaram a liderar as causas de morte
World Health Organization (WHO). HIV/AIDS. World Health
Organization (WHO). Available at https://www.who.int/health-
topics/hiv-aids/#tab=tab_1. 4
5. Introdução
• Antes da introdução do TARV as manifestações
cardíacas eram fatais
• No entanto, com a melhora da sobrevida estes
passaram a estar mais expostos a doenças
emergentes, principalmente a doenças crónicas.
• As complicações cardiovasculares passaram a
representar uma das principais causas de morbi-
mortalidade na população infectada pelo HIV
World Health Organization (WHO). HIV/AIDS. World Health
Organization (WHO). Available at https://www.who.int/health-
topics/hiv-aids/#tab=tab_1.
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6. Inflamação crónica e aumento do risco para Co
morbidades em Pts HIV-positivos
Infecção por HIV não
tratada
Replicação Viral
• Inflamação cronica,
• Activação imunológica,
• ↑ marcadores de coagulação ,
• Translocação microbiana,
• Aumento do risco de co-infecção
Factores de risco: dislipidemia, tabagismo, lipodistrofia, hipertensão,
obesidade, uso de substâncias
Doença cardiovascular 6
7. Mecanismos patogénicos envolvidos no desenvolvimento de cardiomiopatia
associada ao HIV
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HIV. AIDSInfo. December 18, 2019; Accessed: January 24, 2020. 7
8. Mecanismos potenciais de
complicações cardíacas no HIV
Mecanismo Complicações
Infecção directa do HIV aos miócitos
do coração
Cardiomiopatia / Miocardite
Toxicidade dos componentes do HIV Deficiência contráctil
Processos imunológicos envolvendo
MHC I, anti-α-miosina Ab, citocinas
Cardiomiopatia e disfunção endotelial
Deficiências nutricionais (carnitina,
tiamina)
Cardiomiopatia
Toxicidade de drogas (TARV,
antifúngicos,)
Cardiomiopatia, condução distúrbios,
intolerância à glicose, DAC
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9. Manifestações cardiovasculares
em pacientes HIV
1. Cardiomiopatia
1. Infecções : HIV, Toxoplasmose,
CMV, EBV
2. Resposta auto imune a infecção
3. Drogas: Análogos de
nucleosídeos , Doxirrubicina,
Interferon
4. Deficiência Nutricional: B12,
Selénio
2. Doença coronária
1. Aterosclerose
2. Coagulopatias
3. Arterite
3. HTA Sistémica
1. Disfunção endotelial
2. Aterosclerose
3. Vasculite
4. Derrame Pericárdico
1. Infecções:
Bacteriana(Staphylococcus,
Streptococcus,Klebsiella, TB),
Vírus(HIV, Herpes,CMV),
Maligno(SK, Linfoma, )
5. Hipertensão Pulmonar
1. Infecções pulmonares
recorrentes
2. Embolia pulmonar
3. Arterite pulmonar
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10. Cardiomiopatia
Causas:
Infecções : HIV, Toxoplasmose, CMV, EBV
Resposta auto imune a infecção
Drogas: Análogos de nucleosídeos , Doxirrubicina, Interferon
Deficiência Nutricional: tiamina
• Forma de acometimento cardiovascular típico da
imunodepressão avançada
– lesão miocardite direta pelo próprio vírus.
• A clínica é de uma síndrome de insuficiência cardíaca
congestiva, acompanhada de dilatação biventricular.
• Tratamento voltado para doença de base.
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11. Doença das artérias coronárias
Causas:
Aterosclerose
Coagulopatias
Arterite
• Apresentação mais frequente IAM com supradesnivelamento do segmento ST,
seguido pela IAM sem supradesnivelamento do segmento ST e angina instável.
• Mecanismos de lesão:
– Activação de citocinas e moléculas de adesão celular e alteração da
histocompatibilidade principal-moléculas complexas (MHC) de classe I na
superfície das células do músculo liso
– Proteína gp 120 induz células de músculo liso a apoptose através de uma
via controlada pela mitocôndria por activação de citocinas inflamatórias
– Dislipidémia
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12. Medicamentos antitrombóticos Terapia anti-retroviral
Clopidogrel Fraca interação com IPs e cobicistate
(diminui a eficácia do clopidogrel) e
interação com efavirenz e etravirina.
Sem interação com outros NNRTis, anti-
integrase ou maraviroc
Ticagrelor Contra-indicado com IPs (risco de
sangramento)
Prasugrel Possível uso com PIs
Interações Medicamentosas
Doença das artérias coronárias
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13. Medicamentos antitrombóticos Terapia anti-retroviral
warfarina Precaução com IPs (diminuir os níveis
plasmáticos de warfarina)
Interações medicamentosas
Doença das artérias coronárias
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14. Doença das artérias coronárias
• Quadro clinico é semelhante aos doentes não
infectados pelo HIV
• O tratamento da doença coronária, seja estável
ou instável, não difere entre os indivíduos
infectados pelo HIV e a população em geral.
• O prognóstico de pacientes infectados pelo HIV
durante a fase aguda do IAM não difere dos
indivíduos não infectados.
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15. Aterosclerose
• Pacientes HIV (+) tem maior predisposição
– Lesão vascular crónica
• HTA
– Dislipidemia
• HIV e
• Inibidores de proteases
• É Imperioso fazer o controlo da dislipidémia
seguindo directrizes da população em geral.
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16. Tratamento da hiperlipidemia em pacientes HIV +
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17. Endocardite
• Causas:
• Staphylococcus (Aureos70%, Viridans 20%)
• Streptococcus pneumoniae e Haemophilus.
• outras bactérias como a Salmonella
• Fungos(candida, criptococcus)
• Entre viciados em drogas intravenosas, a válvula tricúspide é mais
afectada
• Endocardite trombótica não bacteriana era uma complicação
bastante prevalente antes do advento do TARV
– Países em desenvolvimento → alta incidência (cerca de 10-15%)
– Mortalidade por embolização sistêmica
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18. Endocardite
• Quadro clinico é semelhante aos doentes não
infectados pelo HIV
• O tratamento não difere entre os indivíduos
infectados pelo HIV e a população em geral.
• O prognóstico pior.
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19. Derrame Pericárdico
• Causas:
– Derrames virais (HIV, herpes simples, adenovírus ,CMV, EBV),
– Doenças sistémicas (ICC, cirrose, IAM, uremia, miocardite)
– Desnutrição
– Maligno(SK, Linfoma)
• Apresentação: Pericardite, Derrame com ou sem
tamponamento, Pericardite constritiva, Infiltração
neoplásica
• Mecanismo de lesão: Estado inflamatório crónico ↑ da
permeabilidade)
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20. Derrame Pericárdico
• Quadro clinico:
– Febre, Dor torácica , Tosse, Insuficiência respiratória
secundária ao Tamponamento,
– Pulso Paradoxal
• O tratamento não difere entre os indivíduos
infectados pelo HIV e a população em geral.
• O prognóstico pior.
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21. Hipertensão Pulmonar
• A infecção da células dendríticas que não são sensíveis
ao anti-retrovirais causam uma liberação crónica de
citocinas citotóxicas( endotelina-1, interleucina-6,
interleucina-1 beta e TNF alfa) contribuindo para:
– Lesões vasculares plexogênicas
– Dano tecidual progressivo
– ICC
• Antagonistas do receptor de endotelina-1 (Bosentan)
combinação com TARV nas fases iniciais da doença.
• Inibidores de fosfodiesterase-5 (Sildenafil)
interacção com inibidores de protease.
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22. Guidelines for the Use of Antiretroviral
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23. PONTOS CHAVES
• A doença cardiovascular associada ao HIV é causada por uma
complexa rede de interacção de factores associados ao vírus, ao
hospedeiro e ao TARV.
• O início precoce da TARV pode reduzir as complicações
cardiovasculares.
• Novos agentes anti-retrovirais têm menos impacto nos
distúrbios metabólicos e, portanto, provavelmente, menos risco
cardiovascular
• A escolha da combinação de medicamentos anti-retrovirais
deve ser feita de forma individualizada e deve reflectir a adesão do
paciente à terapia, risco cardiovascular e co morbidades.
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24. BIBLIOGRAFIA
• Franck B. 2016. “HIV and Heart Disease: What Cardiologists Should
Know VIH y cardiopatı ́a: que ́ deben saber los cardio ́logos? ”.
Artigo em Rev Esp Cardiol. 69(12):1126–1130
• Guidelines for the Use of Antiretroviral Agents in Adults and
Adolescents with HIV. AIDSInfo. December 18, 2019; Accessed:
January 24, 2020
• El-Sadr WM et al.2006. “ The Strategies for Management of
Antiretroviral Therapy (SMART) Study Group. CD4+ count-guided
interruption of antiretroviral treatment.” article in New Engl J
Med.355:2283–96.
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Notas do Editor
A infecção de células miocárdicas pelo HIV-1 ou por outros vírus pode ser responsável pela liberação de citocinas específicas (TNF-a, IL-1, IL-6, IL-10) que ativar a forma induzível de óxido nítrico sinase (iNOS). A interação entre os linfócitos T citotóxicos e o complexo receptor Fas / ligante Fas localizado na superfície da célula alvo pode causar dano mitocondrial com liberação de fatores mitocondriais pró-apoptose [citocomo c, fator indutor de apoptose (AIF)
vírions do HIV parecem infectar as células do miocárdio em distribuições irregulares, sem uma associação direta clara entre o HIV e a disfunção do miócito cardíaco [4,6]. Não está claro como o vírus entra nas células negativas para o receptor CD4, como os miócitos.
Zidovudina está associada à destruição difusa da ultraestrutura mi-tocondrial cardíaca e inibição da Replicação de DNA que pode contribuir para a célula miocárdica disfunção3
Doxorrubicina (adria-mycin), que é usada para tratar Sarcoma de Kaposi associado à AIDS e linfoma não Hodgkin, tem um efeito relacionado à dose na cardiomiopatia dilatada4, assim como o foscarnet sódio quando usado no tratamento da esofagite por citomegalovírus
Os cardiologistas devem estar cientes de várias potenciais interações medicamentosas, particularmente com agentes antiplaquetários, estatinas e antirretrovirais