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INFECTOLOGIA
Malária
• Os agente etiológicos mais prevalentes nas Américas são: Plasmodium vivax, P.
 falciparum e P. malarie

• O P. falciparum apresenta um quadro mais grave, de evolução mais rápida e que
 desenvolve resistência aos antimaláricos mais rapidamente

• Temos atualmente entre 400.000 e 600.000 casos anuais de malária, dos quais cerca
 de 75% devidos a P. vivax

• O vetor é do gênero Anopheles dos subgêneros Nyssorhynchus (A. darlingi, A,
 aquasalis, A. albirtasis) e Kerteszia (A. cruzii, A. bellator) Tais mosquitos são
 popularmente conhecidos por “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”, “mosquito-prego” e
 “bicuda”.
• Período de incubação
  • O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio.
    Para P. falciparum, de 8 a 12 dias; P. vivax, 13 a 17; e P. malariae, 18 a 30 dias.

• Período de transmissibilidade
  • O mosquito é infectado ao sugar o sangue de uma pessoa com gametócitos
    circulantes. Os gametócitos surgem na corrente sanguínea, em período que varia
    de poucas horas para o P. vivax e de 7 a 12 dias para o P. falciparum. Para malária
    por P. falciparum, o indivíduo pode ser fonte de infecção por até 1 ano; P. vivax,
    até 3 anos; e P. malariae, por mais de 3 anos, desde que não seja
    adequadamente tratado.
Fisiopatologia
• Três características do P. falciparum explicam parcialmente a maior
  virulência dessa espécie: a capacidade de produzir grande número de
  merozoítos ao final da esquizogonia hepática e a capacidade desses
  merozoítos invadirem hemácias de todas as idades, além de induzir uma
  capacidade de adesão das hemácias parasitadas por estágio maduro ao
  endotélio de pequenos vasos sanguíneos (citoaderência) e adesão a
  hemácias não parasitadas, estrutura conhecida como rosetas.
• A citoaderência e a formação de rosetas é em decorrência de uma proteína
  relacionada ao parasita, que é expressa na superfície externa da membrana.
• Essa aderência pode ocasionar obstrução e hipóxia local. Além disso,
  algumas moléculas do Plasmodium induzem a produção de citocinas pró-
  inflamatórias levando à produção de moléculas de adesão nas paredes
  vasculares
• Os maiores acometimentos na malária é decorrente da citoaderência e
  possivelmente da formação de rosetas e as moléculas inflamatórias.
Aspectos clínicos
• Em pessoas não-imunes, o acometimento é paroxístico que se iniciam com
 calafrios, acompanhados de mal-estar, cefaléia, e dores musculares e
 articulares. Náuseas e vômitos são sintomas comuns, dor abdominal. Em
 algumas horas, inicia-se febre alta, que produz adinamia e prostação,
 seguido por um período de sudorese profusa, com melhora progressiva do
 estado geral
  • Pacientes em infecção por P. ovale, P. vivax e P. falciparum apresenta paroxismo
    febril a cada 48h (febre terçã) e por P. malarie com paroxismos a cada 72h (febre
    quartã)
  • Anemia e hepatoesplenomegalia podem estar presentes

• Malária grave ou complicada é um conceito operacional que permite
  identificar pacientes infectados por P. falciparum
• Pacientes que não podem realizar o uso de antimaláricos devem ser
  hospitalizados
• Período de infecção – a fase sintomática inicial caracteriza-se por mal-estar, cansaço
  e mialgia. O ataque paroxístico inicia-se com calafrio, acompanhado de tremor
  generalizado, com duração de 15 minutos a 1 hora. Na fase febril, a temperatura
  pode atingir 41°C. Esta fase pode ser acompanhada de cefaleia, náuseas e vômitos. É
  seguida de sudorese intensa.

• Remissão – caracteriza-se pelo declínio da temperatura (fase de apirexia). A
  diminuição dos sintomas causa sensação de melhora no paciente. Contudo, novos
  episódios de febre podem acontecer em um mesmo dia ou com intervalos variáveis,
  caracterizando um estado de febre intermitente

• Período toxêmico – se o paciente não recebe terapêutica específica, adequada e
  oportuna, os sinais e sintomas podem evoluir para formas graves e complicadas,
  dependendo da resposta imunológica do organismo, aumento da parasitemia e
  espécie de plasmódio.
Manifestações e complicações da malária grave por Plasmodium falciparum
• Malária cerebral: coma profundo ausente de outra encefalopatia infecciosa ou metabólica
    (exclusivo da malária por falciparum)
•   Convulsões generalizadas: mais de duas crises convulsivas em 24h
•   Anemia grave: hemoglobina < 5g ; hematócrito < 15%; requerem transfusão; em decorrência
    da hemólise intravascular de hemácias parasitadas e destruição de hemácias não parasitadas
    pelo sistema imune do hospedeiro.
•   Hipoglicemia: inferior a 40mg/100ml
•   Insf renal aguda: creatinina > 3mg/100ml e débito urinário < 400ml/24h; resulta de alterações
    de perfusão decorrente da desidratação e de eventual hipotensão, e agravados pela hemólise
    intravascular e consequente lesão tubular
•   Edema pulmonar e SARA: edema pulmonar, podendo ser devido à hiper-hidratação parenteral,
    diminuição do débito urinário
•   Choque circulatório (“malária álgida”)
•   Acidose metabólica: bicarbonato < 15mmol/L e pH sanguíneo < 7,35
•   Alterações de hemostasia: hemorragias retinianas e gengivais e trombocitopenia
•   Hemólise intravascular maciça ou febre hemoglobinúrica ( blackwater fever)
•   Hipertermia
•   Hiperparasitemia: parasitemia acima de 100.000 parasitas por microlitro de sangue
•   Disfunção hepática e icterícia
•   Ruptura esplênica (rara)
• A icterícia decorre tanto da hemólise intravascular como de
  alterações hepáticas. Ocorre um aumento da bilirrubina total
  (predomina aumento da BI), das enzimas hepáticas ( de 2 a 10
  vezes)
• O exame de urina, revela hemoglobina ou mioglobina
• A função renal geralmente é normal, se manter a reposição
  volêmica
Diagnóstico diferencial
• O diagnóstico diferencial da malária é feito com a febre tifoide, febre
 amarela, leptospirose, hepatite infecciosa, calazar, doença de Chagas aguda
 e outros processos febris. Na fase inicial, principalmente na criança, a
 malária confunde-se com outras doenças infecciosas dos tratos respiratório,
 urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou bacteriana. No período de
 febre intermitente, as principais doenças que se confundem com a malária
 são as infecções urinárias, tuberculose miliar, salmoneloses septicêmicas,
 calazar, endocardite bacteriana e as leucoses. Todas apresentam febre e, em
 geral, esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia e hepatomegalia.
Diagnóstico laboratorial
• Gota espessa – é o método oficialmente adotado no Brasil para o diagnóstico da
  malária. Sua técnica baseia-se na visualização do parasito através de microscopia
  óptica, após coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), permitindo a
  diferenciação específica dos parasitos, a partir da análise da sua morfologia, e dos
  seus estágios de desenvolvimento encontrados no sangue periférico.
• Esfregaço delgado – possui baixa sensibilidade (estima-se que a gota espessa é cerca
  de 30 vezes mais eficaz na detecção da infecção malárica). Porém, este método
  permite, com mais facilidade, a diferenciação específica dos parasitos a partir da
  análise de sua morfologia e das alterações provocadas no eritrócito infectado.
Tratamento
• Objetivos do tratamento – o tratamento da malária visa a atingir o parasito
 em pontos-chave de seu ciclo evolutivo, os quais podem ser didaticamente
 resumidos em:
  • interrupção da esquizogonia sangüínea, responsável pela patogenia e
    manifestações clínicas da infecção;
  • destruição de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos) das
    espécies P. vivax e P. ovale, evitando assim as recaídas tardias;
  • interrupção da transmissão do parasito, pelo uso de drogas que impedem o
    desenvolvimento de formas sexuadas dos parasitos (gametócitos).
Tratamento
• Decisão sobre o tratamento – a decisão de como tratar o paciente
 com malária deve ser precedida de informações sobre os seguintes
 aspectos:
  • espécie de plasmódio infectante, pela especificidade dos esquemas
      terapêuticos a serem utilizados;
  •   idade do paciente, pela maior toxicidade para crianças e idosos;
  •   história de exposição anterior à infecção uma vez que indivíduo
      primoinfectados tendem a apresentar formas mais graves da doença;
  •   condições associadas, tais como gravidez e outros problemas de saúde;
  •   gravidade da doença, pela necessidade de hospitalização e de
      tratamento com esquemas especiais de antimaláricos.
Tratamento
• O objetivo primário é erradicar os estágios assexuados sanguíneos do
  parasita, cuja multiplicação produz o conjunto de sinais e sintomas.
• O objetivo secundário é eliminar os estágios hepáticos latentes e
  interromper a transmissão vetorial, mediante a erradicação dos
  gametócitos circulantes
• As drogas antimaláricas atualmente em uso dividem-se nos seguintes
  grupos químicos quinolinometanóis naturais (quinina), e sintéticos (mefloquina),
  fenantrenometanóis (halofantrina e lumefantrina), 4-aminoquinolinas (cloroquina e
  amodiaquina), 8-aminoquinolinas (primaquina), peróxido de lactona sesquiterpênica
  (artesunato e artemeter), naftoquinas (atovaquona), antifolatos (pirimetamina e
  proguanil) e antibióticos (trtraciclina, doxiciclina e clindamicina). Como atuam em
  diferentes fases do ciclo do parasita, são classificadas como esquizonticidas
  (teciduais e sanguíneos), hipnozoiticidas, gametocitocidas ou esporonticidas
• O SUS possui na rede: cloroquina, primaquina, mefloquina, quinina, doxiciclina e
  artesunato, e também as combinações artemeter + lumefantrina e artesunato +
  mefloquina
Tratamento
• A cloroquina possui ação esquizonticida, gametocitocida (contra P. vivax),
  antipirética e anti-inflamatória. Pode ocasionar prurido, cefaléia, náuseas e vômitos.
  NÃO UTILIZAR EM PACIENTES COM PSORÍASE E PORFIRIA
• A primaquina atua como gametocitocida e hipnozoitocida. Contra indicada em
  gestantes e crianças menores de 6 meses. Pode ocasionar supressão da medula
  óssea, não sendo utilizadas em imunosssuprimidos.
• A mefloquina possui ação esquizonticida (P. falciparum, P. vivax, P. malarie) e ação
  gametocitocida (P. vivax ) . Não deve ser utilizada como monoterapia. Pode
  ocasionar náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal; manifestações
  neuropsiquiátricas e arritmias raramente ocorrem. Evitar o uso se o paciente já
  recebeu tratamento anterior com quinina, lumefantrina ou halofantrina
• A quinina é reservada ao tratamento da malária por falciparum sensível a esse
  fármaco, devendo ser usada associada a doxiciclina ou tetraciclina em áreas que
  exista resistência. O efeito colateral é o cinchonismo (tontura e zumbido intenso).
  Não deve ser utilizado em pacientes em uso de beta-bloquadores, bloqueadores do
  canal de cálcio e digitálicos, além de pacientes que fizeram uso de mefloquina nas 3
  semanas anteriores
Tratamento
• Os antibióticos utilizados são a doxiciclina por 5 dias, em 2 doses diárias, não
  devendo ser utilizada em gestantes e menores de 8 anos pelo risco de distúrbios na
  osteogênese e descoloração dos dentes
• A artemisina e seus derivados artemeter e artesunato, que atua inibindo a enzima
  adenosina-trifosfatase de cálcio, que é essencial para o metabolismo do parasita.
  São potentes e de ação rápida, eliminando o parasita, em 24 a 48h. São eficazes
  contra P. falciparum

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  • 2. • Os agente etiológicos mais prevalentes nas Américas são: Plasmodium vivax, P. falciparum e P. malarie • O P. falciparum apresenta um quadro mais grave, de evolução mais rápida e que desenvolve resistência aos antimaláricos mais rapidamente • Temos atualmente entre 400.000 e 600.000 casos anuais de malária, dos quais cerca de 75% devidos a P. vivax • O vetor é do gênero Anopheles dos subgêneros Nyssorhynchus (A. darlingi, A, aquasalis, A. albirtasis) e Kerteszia (A. cruzii, A. bellator) Tais mosquitos são popularmente conhecidos por “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”, “mosquito-prego” e “bicuda”.
  • 3. • Período de incubação • O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio. Para P. falciparum, de 8 a 12 dias; P. vivax, 13 a 17; e P. malariae, 18 a 30 dias. • Período de transmissibilidade • O mosquito é infectado ao sugar o sangue de uma pessoa com gametócitos circulantes. Os gametócitos surgem na corrente sanguínea, em período que varia de poucas horas para o P. vivax e de 7 a 12 dias para o P. falciparum. Para malária por P. falciparum, o indivíduo pode ser fonte de infecção por até 1 ano; P. vivax, até 3 anos; e P. malariae, por mais de 3 anos, desde que não seja adequadamente tratado.
  • 4. Fisiopatologia • Três características do P. falciparum explicam parcialmente a maior virulência dessa espécie: a capacidade de produzir grande número de merozoítos ao final da esquizogonia hepática e a capacidade desses merozoítos invadirem hemácias de todas as idades, além de induzir uma capacidade de adesão das hemácias parasitadas por estágio maduro ao endotélio de pequenos vasos sanguíneos (citoaderência) e adesão a hemácias não parasitadas, estrutura conhecida como rosetas. • A citoaderência e a formação de rosetas é em decorrência de uma proteína relacionada ao parasita, que é expressa na superfície externa da membrana. • Essa aderência pode ocasionar obstrução e hipóxia local. Além disso, algumas moléculas do Plasmodium induzem a produção de citocinas pró- inflamatórias levando à produção de moléculas de adesão nas paredes vasculares • Os maiores acometimentos na malária é decorrente da citoaderência e possivelmente da formação de rosetas e as moléculas inflamatórias.
  • 5. Aspectos clínicos • Em pessoas não-imunes, o acometimento é paroxístico que se iniciam com calafrios, acompanhados de mal-estar, cefaléia, e dores musculares e articulares. Náuseas e vômitos são sintomas comuns, dor abdominal. Em algumas horas, inicia-se febre alta, que produz adinamia e prostação, seguido por um período de sudorese profusa, com melhora progressiva do estado geral • Pacientes em infecção por P. ovale, P. vivax e P. falciparum apresenta paroxismo febril a cada 48h (febre terçã) e por P. malarie com paroxismos a cada 72h (febre quartã) • Anemia e hepatoesplenomegalia podem estar presentes • Malária grave ou complicada é um conceito operacional que permite identificar pacientes infectados por P. falciparum • Pacientes que não podem realizar o uso de antimaláricos devem ser hospitalizados
  • 6. • Período de infecção – a fase sintomática inicial caracteriza-se por mal-estar, cansaço e mialgia. O ataque paroxístico inicia-se com calafrio, acompanhado de tremor generalizado, com duração de 15 minutos a 1 hora. Na fase febril, a temperatura pode atingir 41°C. Esta fase pode ser acompanhada de cefaleia, náuseas e vômitos. É seguida de sudorese intensa. • Remissão – caracteriza-se pelo declínio da temperatura (fase de apirexia). A diminuição dos sintomas causa sensação de melhora no paciente. Contudo, novos episódios de febre podem acontecer em um mesmo dia ou com intervalos variáveis, caracterizando um estado de febre intermitente • Período toxêmico – se o paciente não recebe terapêutica específica, adequada e oportuna, os sinais e sintomas podem evoluir para formas graves e complicadas, dependendo da resposta imunológica do organismo, aumento da parasitemia e espécie de plasmódio.
  • 7. Manifestações e complicações da malária grave por Plasmodium falciparum • Malária cerebral: coma profundo ausente de outra encefalopatia infecciosa ou metabólica (exclusivo da malária por falciparum) • Convulsões generalizadas: mais de duas crises convulsivas em 24h • Anemia grave: hemoglobina < 5g ; hematócrito < 15%; requerem transfusão; em decorrência da hemólise intravascular de hemácias parasitadas e destruição de hemácias não parasitadas pelo sistema imune do hospedeiro. • Hipoglicemia: inferior a 40mg/100ml • Insf renal aguda: creatinina > 3mg/100ml e débito urinário < 400ml/24h; resulta de alterações de perfusão decorrente da desidratação e de eventual hipotensão, e agravados pela hemólise intravascular e consequente lesão tubular • Edema pulmonar e SARA: edema pulmonar, podendo ser devido à hiper-hidratação parenteral, diminuição do débito urinário • Choque circulatório (“malária álgida”) • Acidose metabólica: bicarbonato < 15mmol/L e pH sanguíneo < 7,35 • Alterações de hemostasia: hemorragias retinianas e gengivais e trombocitopenia • Hemólise intravascular maciça ou febre hemoglobinúrica ( blackwater fever) • Hipertermia • Hiperparasitemia: parasitemia acima de 100.000 parasitas por microlitro de sangue • Disfunção hepática e icterícia • Ruptura esplênica (rara)
  • 8. • A icterícia decorre tanto da hemólise intravascular como de alterações hepáticas. Ocorre um aumento da bilirrubina total (predomina aumento da BI), das enzimas hepáticas ( de 2 a 10 vezes) • O exame de urina, revela hemoglobina ou mioglobina • A função renal geralmente é normal, se manter a reposição volêmica
  • 9. Diagnóstico diferencial • O diagnóstico diferencial da malária é feito com a febre tifoide, febre amarela, leptospirose, hepatite infecciosa, calazar, doença de Chagas aguda e outros processos febris. Na fase inicial, principalmente na criança, a malária confunde-se com outras doenças infecciosas dos tratos respiratório, urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou bacteriana. No período de febre intermitente, as principais doenças que se confundem com a malária são as infecções urinárias, tuberculose miliar, salmoneloses septicêmicas, calazar, endocardite bacteriana e as leucoses. Todas apresentam febre e, em geral, esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia e hepatomegalia.
  • 10. Diagnóstico laboratorial • Gota espessa – é o método oficialmente adotado no Brasil para o diagnóstico da malária. Sua técnica baseia-se na visualização do parasito através de microscopia óptica, após coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), permitindo a diferenciação específica dos parasitos, a partir da análise da sua morfologia, e dos seus estágios de desenvolvimento encontrados no sangue periférico. • Esfregaço delgado – possui baixa sensibilidade (estima-se que a gota espessa é cerca de 30 vezes mais eficaz na detecção da infecção malárica). Porém, este método permite, com mais facilidade, a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise de sua morfologia e das alterações provocadas no eritrócito infectado.
  • 11. Tratamento • Objetivos do tratamento – o tratamento da malária visa a atingir o parasito em pontos-chave de seu ciclo evolutivo, os quais podem ser didaticamente resumidos em: • interrupção da esquizogonia sangüínea, responsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção; • destruição de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos) das espécies P. vivax e P. ovale, evitando assim as recaídas tardias; • interrupção da transmissão do parasito, pelo uso de drogas que impedem o desenvolvimento de formas sexuadas dos parasitos (gametócitos).
  • 12. Tratamento • Decisão sobre o tratamento – a decisão de como tratar o paciente com malária deve ser precedida de informações sobre os seguintes aspectos: • espécie de plasmódio infectante, pela especificidade dos esquemas terapêuticos a serem utilizados; • idade do paciente, pela maior toxicidade para crianças e idosos; • história de exposição anterior à infecção uma vez que indivíduo primoinfectados tendem a apresentar formas mais graves da doença; • condições associadas, tais como gravidez e outros problemas de saúde; • gravidade da doença, pela necessidade de hospitalização e de tratamento com esquemas especiais de antimaláricos.
  • 13. Tratamento • O objetivo primário é erradicar os estágios assexuados sanguíneos do parasita, cuja multiplicação produz o conjunto de sinais e sintomas. • O objetivo secundário é eliminar os estágios hepáticos latentes e interromper a transmissão vetorial, mediante a erradicação dos gametócitos circulantes • As drogas antimaláricas atualmente em uso dividem-se nos seguintes grupos químicos quinolinometanóis naturais (quinina), e sintéticos (mefloquina), fenantrenometanóis (halofantrina e lumefantrina), 4-aminoquinolinas (cloroquina e amodiaquina), 8-aminoquinolinas (primaquina), peróxido de lactona sesquiterpênica (artesunato e artemeter), naftoquinas (atovaquona), antifolatos (pirimetamina e proguanil) e antibióticos (trtraciclina, doxiciclina e clindamicina). Como atuam em diferentes fases do ciclo do parasita, são classificadas como esquizonticidas (teciduais e sanguíneos), hipnozoiticidas, gametocitocidas ou esporonticidas • O SUS possui na rede: cloroquina, primaquina, mefloquina, quinina, doxiciclina e artesunato, e também as combinações artemeter + lumefantrina e artesunato + mefloquina
  • 14. Tratamento • A cloroquina possui ação esquizonticida, gametocitocida (contra P. vivax), antipirética e anti-inflamatória. Pode ocasionar prurido, cefaléia, náuseas e vômitos. NÃO UTILIZAR EM PACIENTES COM PSORÍASE E PORFIRIA • A primaquina atua como gametocitocida e hipnozoitocida. Contra indicada em gestantes e crianças menores de 6 meses. Pode ocasionar supressão da medula óssea, não sendo utilizadas em imunosssuprimidos. • A mefloquina possui ação esquizonticida (P. falciparum, P. vivax, P. malarie) e ação gametocitocida (P. vivax ) . Não deve ser utilizada como monoterapia. Pode ocasionar náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal; manifestações neuropsiquiátricas e arritmias raramente ocorrem. Evitar o uso se o paciente já recebeu tratamento anterior com quinina, lumefantrina ou halofantrina • A quinina é reservada ao tratamento da malária por falciparum sensível a esse fármaco, devendo ser usada associada a doxiciclina ou tetraciclina em áreas que exista resistência. O efeito colateral é o cinchonismo (tontura e zumbido intenso). Não deve ser utilizado em pacientes em uso de beta-bloquadores, bloqueadores do canal de cálcio e digitálicos, além de pacientes que fizeram uso de mefloquina nas 3 semanas anteriores
  • 15. Tratamento • Os antibióticos utilizados são a doxiciclina por 5 dias, em 2 doses diárias, não devendo ser utilizada em gestantes e menores de 8 anos pelo risco de distúrbios na osteogênese e descoloração dos dentes • A artemisina e seus derivados artemeter e artesunato, que atua inibindo a enzima adenosina-trifosfatase de cálcio, que é essencial para o metabolismo do parasita. São potentes e de ação rápida, eliminando o parasita, em 24 a 48h. São eficazes contra P. falciparum