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Créditos
Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância
Diretor Regional
Luiz Francisco de Assis Salgado
Superintendente Universitário
e de Desenvolvimento
Luiz Carlos Dourado
Reitor
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Diretor de Graduação
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Diretor de Pós-Graduação e Extensão
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Gerentes de Desenvolvimento
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Coordenadora de Desenvolvimento
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Coordenador de Operação
Educação a Distância
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Professora Autora
Naiane Caroline Silva Olah
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Técnicos de Desenvolvimento
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Equipe de Design Educacional
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Libras
Aula 01
O que é Libras?
Objetivos Específicos
• Entender basicamente o que é a Libras e o que a torna uma língua.
Temas
Introdução
1 O que é língua?
2 O que é Libras?
3 Como é composta a Libras?
Considerações finais
Referências
Naiane Caroline Silva Olah
Professora
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Libras
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Introdução
A Língua Brasileira de Sinais – Libras vem sendo estudada e difundida com mais frequência
nos últimos anos. Há leis, pesquisas, atividades culturais, discussões pedagógicas, políticas
públicas cada vez mais voltadas para a área da surdez e, consequentemente, para a Libras.
Mas, afinal, o que é a Libras?
Nesta disciplina, veremos seus fundamentos básicos de forma teórica e prática. Para
isso, será necessário compreender agora, neste primeiro texto, o que é língua, o que é a
Libras, quem a usa e quais são suas principais características.
1 O que é língua?
Segundo o dicionário Aurélio, é o “conjunto das palavras e expressões usadas por um
povo, uma nação, e o conjunto de regras de sua gramática; idioma”. É também um “sistema
de signos que permite a comunicação entre os membros de uma comunidade”. Agora que
vimos o que é língua, vamos entender o que é Libras.
2 O que é Libras?
A Libras é a Língua Brasileira de Sinais, natural dos surdos brasileiros. É usada pela maioria
dos surdos dos centros urbanos de nosso país e reconhecida pela Lei 10.346 de abril/2002.
Surgiu da Língua de Sinais Francesa em consequência do trabalho de Abade Charles-Michel
de l’Epeé, o qual contribuiu para a criação do Instituto Nacional da Educação de Surdos em
1857. Por isso, é semelhante a outras línguas de sinais da Europa e da América. É importante
deixar claro que a Libras não é a simples gestualização da língua portuguesa, e sim uma língua
à parte, como o comprova o fato de que em Portugal usa-se uma língua de sinais diferente, a
língua gestual portuguesa (LGP).
Assim como as diversas línguas naturais e humanas existentes, ela é composta por níveis
linguísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica. Por ser a língua natural dos
surdos, é pertencente à modalidade visual-espacial. Isso quer dizer que uma mensagem na
Libras é recebida através da visão e quando a mensagem é transmitida utiliza-se o espaço
físico por meio de sinais e expressões corporais. A língua portuguesa e as demais línguas
orais pertencem à modalidade oral-auditiva, ou seja, utiliza-se o canal auditivo e da fala para
estabelecer comunicação.
Da mesma forma que nas línguas orais-auditivas existem palavras, nas línguas de sinais
também existem itens lexicais, que recebem o nome de sinais. Para se comunicar em Libras,
não basta apenas conhecer os sinais. É necessário conhecer a sua gramática para combinar
as frases, estabelecendo, assim, a comunicação.
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Como dissemos, estruturalmente, a Libras, como em outras línguas de sinais, utiliza-
se de sinais e marcações no espaço e no corpo do falante. Por isso suas sentenças não são
apresentadas linearmente como na língua portuguesa. E o que seria uma estrutura linear? É
quando o contexto se dá através de frases com palavras consecutivas (uma depois da outra).
Caso contrário, não seria possível compreender qualquer sentença. Já nas línguas de sinais, as
frases são apresentadas de modo diferente, como em blocos; não fazem sentido se articulados
os sinais um após o outro. É necessário identificar no espaço todas as informações. A imagem
a seguir pode ilustrar melhor tal raciocínio:
Figura 1
Já nas línguas de sinais, as informações são transmitidas em espécies de “blocos”. Por
exemplo:
Figura 2
Muitas vezes, uma mesma sentença falada em português e em Libras pode levar menos
tempo quando dita em sinais, devido a esse fator estrutural. Durante as aulas práticas, será
possível notar essa característica com mais clareza.
Como apresentado anteriormente, a Libras possui níveis linguísticos (fonologia,
morfologia, sintaxe e semântica). Por isso, chamá-la de “linguagem de sinais” torna-se um
equívoco, uma vez que a linguagem e a língua se diferem em seus níveis linguísticos e de
complexidade. Algumas espécies de animais possui sua própria linguagem, como as abelhas
ou os golfinhos. Eles possuem um sistema de comunicação que garante a sobrevivência da
espécie e, através desse sistema, organizam as funções de cada membro da colônia ou grupo,
bem como indicam onde há comida e ameaça de predadores. Porém, nas línguas, tanto as
orais quanto as de sinais, as comunicações estabelecidas são mais complexas, podendo-se
falar sobre qualquer assunto e até mesmo expressar-se de forma poética. Assim é a Libras.
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3 Como é composta a Libras?
Como já vimos, a Libras é pertencente à modalidade visual-espacial. Os sinais surgem da
combinação de configurações de mão, movimentos e de pontos de articulação — locais no
espaço ou no corpo onde os sinais são feitos, os quais, juntos, compõem as unidades básicas
dessa língua.
A representação das letras é feita por meio do alfabeto manual (também
chamado de alfabeto digital), e através desse alfabeto é possível soletrar as
palavras com as mãos. É aconselhável soletrar devagar, formando as palavras
com nitidez. Depois de cada palavra soletrada, é melhor fazer uma pausa curta
ou mover a mão direita para o lado direito, como se estivesse empurrando a
palavra já soletrada para o lado. Normalmente, o alfabeto manual é utilizado
para soletrar os nomes de pessoas, lugares, rótulos etc. e para os vocábulos não
existentes na língua de sinais.
Assim como nas línguas orais, as línguas de sinais, como a Libras, apresentam dialetos
regionais, o que reforça seu caráter de língua natural. Nos dialetos sociais, as variações nas
configurações e/ou no movimento das mãos não modificam o sentido do sinal. A palavra
“verde”, por exemplo, é falada de maneira diferente no Rio de Janeiro, em São Paulo e em
Curitiba. Essas mudanças são históricas, ocorrem no sinal com o passar do tempo, conforme
se modificam os costumes de cada geração que a utiliza. O sinal de “branco” já sofreu algumas
alterações com o decorrer dos anos.
As comunidades surdas de diferentes regiões criam alguns poucos sinais diferentes para
suas necessidades de comunicação. Os sinais são criados de acordo com a necessidade de
cada grupo, porém há alguns mais gerais que, quando criados, acabam sendo incorporados
à língua.
A modalidade gestual, visual e espacial pela qual a Libras é produzida e percebida pelos
surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais são o desenho no ar
do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a
realização de um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a que
se refere, mas isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da Libras é arbitrária, não
mantendo nenhuma relação de semelhança alguma com seu referente.
Os sinais que apresentam semelhança com a pessoa ou o objeto a que referem são
chamados de sinais icônicos, por exemplo: telefone, casa, xícara, comer, carro, moto, calor
etc. Você poderá ver muitos desses sinais em nossas aulas práticas.
Os sinais icônicos não são iguais em todas as línguas. Geralmente, cada comunidade
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observa diferentes aspectos do mesmo referente (pessoa, objeto, lugar...) e os representa por
meio de seus próprios sinais, de forma convencional.
Como vimos, os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento
das mãos, e também do ponto no corpo ou no espaço, onde esses sinais são feitos. Nas
línguas de sinais, podem ser encontrados os seguintes parâmetros de formação dos sinais:
• Configuração de Mão (CM): é a forma que a mão assume durante a realização
de um sinal. Pelas pesquisas linguísticas, foi comprovado que na Libras existem
62 configurações de mãos, sendo que o alfabeto manual utiliza apenas 26 destas
configurações, para representar as letras. Por exemplo, os sinais “avião”, “energia”,
“evitar”, “brincar”, “boi” possuem a mesma configuração de mão (com a CM “Y”),
mas são diferentes em seu ponto de articulação e movimentação. Você poderá ver
no vídeo desta aula esses e outros exemplos.
• Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, ou
seja, o local onde é feito o sinal, podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em
um espaço neutro.
• Movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Por exemplo, os sinais em
pé e sentado não têm movimento; os sinais evitar e trabalhar possuem movimento.
• Expressõesfaciaise/oucorporais:asexpressõesfaciais/corporaissãodefundamental
importância para o entendimento real dos sinais, sendo que a entonação em língua
de sinais é feita pela expressão facial. Por exemplo, os sinais “alegre” e “triste”.
• Orientação/direção: os sinais têm uma direção em relação aos parâmetros acima.
Assim, os verbos ir, vamos, vir, vou e vai opõem-se em relação à direcionalidade.
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Considerações finais
Como vimos, a Libras se apresenta como um sistema linguístico de transmissão de ideias
e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Como em qualquer língua,
também apresentam diferenças regionais. Portanto, deve-se ter atenção às suas variações
em cada unidade federativa do Brasil. Trata-se de uma língua de modalidade visual-espacial,
que possui níveis linguísticos, gramática e estutura próprias.
Referências
BRITO, L. F. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.
CAPOVILLA, F. C. et al. A língua brasileira de sinais e sua iconicidade: análises experimentais
computadorizadas de caso único. Ciência Cognitiva, 1 (2) pp. 781-924. 1997.
______. Manual ilustrado de sinais e sistema de comunicação em rede para surdos. São
Paulo: ed. instituto de Psicologia, USP, 1998.
______. Dicionário trilíngue. Língua de sinais brasileira, português e inglês. São Paulo: Edusp,
2000.
GESSER, A. Libras – Que língua é essa. Parábola – 2009.
QUADROS, R.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua brasileira de sinais – UFSC, Florianópolis – SC.
2009.
Libras
Aula 02
Mitos sobre a língua de sinais
Objetivos Específicos
Temas
• Esclarecer ao aluno alguns dos mitos mais comuns relacionados à língua de
sinais.
Introdução
1 Alguns mitos sobre as línguas de sinais
Considerações finais
Referências
Eduardo Pereira Silva
Fábio de Sá e Silva
Lilian Vania de Abreu Silva Olah
Naiane Caroline Silva Olah
Professores
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Introdução
Várias pessoas acreditam em coisas que não são necessariamente verdadeiras. Vamos
pensar nos discursos das pessoas que não conhecem os surdos ou as línguas de sinais:
geralmente, há uma série de crenças que não correspondem à realidade. Isso acontece
porque por muitos anos houve ideias a respeito que foram disseminadas por questões
filosóficas, religiosas, políticas e econômicas. Talvez você mesmo pense que essas ideias
sejam verdadeiras, por fruto do desconhecimento. Apesar do impacto dessas concepções, as
pesquisas avançaram muito e nos mostraram que tais concepções são equivocadas.
Nesta aula, vamos ver algumas dessas ideias equivocadas e demistificá-las. Vamos lá?
1 Alguns mitos sobre as línguas de sinais
Quadros e Karnopp (2004, 31-37) organizaram uma lista de mitos, que serão apresentados
a seguir:
A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz
de expressar conceitos abstratos.
Pantomima é a expressão de palavras, ideias e sentimentos, por meio de gestos,
expressões faciais e corporais, também chamada de mímica. Porém, o teatro gestual não tem
nada a ver com as línguas de sinais. Esse mito está atrelado à ideia filosófica de que o mundo
das ideias é abstrato e que o mundo dos gestos é concreto, e que os sinais das línguas de
sinais são gestos. Como já vimos, os sinais são palavras, apesar de não serem orais-auditivas.
Os sinais são tão arbitrários quanto às palavras.
A produção gestual na língua de sinais também acontece como observado nas línguas
faladas. A diferença é que, no caso dos sinais, os gestos também são visuais-espaciais, o que
tornam as fronteiras mais difíceis de serem estabelecidas. É importante que você saiba que
os sinais das línguas de sinais podem expressar quaisquer ideias abstratas. É possível falar
sobre emoções e sentimentos, assim como nas línguas orais.
Essa ideia de que a língua de sinais seria equivalente à mímica cai por terra quando
pensamos que uma performance dessas consegue reproduzir uma cena do cotidiano, mas
não consegue, por exemplo, argumentar ideias. Isso, só podemos desenvolver com conceitos
e vocabulário mais complexos, como na língua de sinais, na qual é possível falar sobre
qualquer coisa.
Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas.
Esta ideia está relacionada com o que vimos anteriormente. Se os sinais das línguas de
sinais fossem gestos, então elas seriam universais, ou seja, iguais em todos os países. Mas já
sabemos que há várias línguas de sinais, diferentes umas das outras. Assim como as línguas
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faladas, temos línguas de sinais que pertencem a troncos diferentes. Há ao menos dois troncos
identificados: as línguas de origem francesa e as línguas de origem inglesa. Provavelmente, a
Libras pertence ao tronco das línguas de sinais que se originaram na língua de sinais francesa.
Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, sendo um pidgin
(mistura de gestos e falas de duas línguas) sem estrutura própria, subordinado e inferior
às línguas orais.
As línguas de sinais independem das línguas faladas. Por exemplo, tanto no Brasil quanto
em Portugal, a língua falada é o português. No entanto, a língua de sinais portuguesa é
muito diferente da Libras, justamente porque pertencem a troncos diferentes. É claro que
não podemos negar o fato de ambas as línguas estarem em contato, principalmente entre
os surdos letrados. O que se observa diante deste contato é que, da mesma forma como
observado entre línguas faladas, existem alguns empréstimos linguísticos.
Aslínguasdesinaisnãotêmrelaçãocomaslínguasfaladasdoseupaís.Elassãoautônomas
e apresentam o mesmo estatuto linguístico identificado nas línguas faladas, ou seja, dispõem
dos mesmos níveis linguísticos de análise e são tão complexas quanto às línguas faladas.
Não existem sinais na Libras que não possuem palavras correspondentes no Português.
Assim como não existem sinais da Libras para todas as palavras no português.
A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo restrito,
sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral.
Já sabemos que as línguas de sinais são tão complexas quanto às línguas faladas, portanto
esta afirmação não é verdadeira. As línguas de sinais podem ser utilizadas para as inúmeras
funções identificadas na produção das línguas humanas. Você pode usar a língua de sinais
para produzir um poema, contar uma história, um conto, informar, argumentar, persuadir,
criticar, aconselhar, entre tantas outras possibilidades. Deste modo, a língua de sinais não é
inferior a nenhuma outra língua e é tão linguisticamente reconhecida quanto qualquer outra
língua.
As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes.
Mais um mito que confunde gestos com a língua de sinais. Muitas pessoas acreditam que
é fácil aprender as línguas de sinais porque estão diretamente relacionadas com os gestos.
No entanto, as línguas de sinais são tão difíceis de serem adquiridas quanto qualquer outra
língua. É preciso muito estudo e treino, são anos de dedicação para aprendermos uma língua
de sinais.
Claro que você pode se comunicar utilizando apenas gestos, por exemplo, quando
chegamos a um país em que é falada uma língua que você não domina. Mas você estará
sempre limitado à identificação direta entre o gesto e sua intenção, sem poder detalhar ou
argumentar sobre algum assunto. Para isso, você teria que conhecer a língua. No caso da
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comunicação com os surdos, você vai precisar aprender a língua de sinais.
As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas
no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo
processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem.
Da mesma forma que nas línguas faladas, as línguas de sinais são processadas
linguisticamente no hemisfério esquerdo do cérebro, fato comprovado por pesquisas. Existe
sim uma diferença que está relacionada com informações espaciais, pois estas, além de
serem processadas no hemisfério esquerdo com suas informações linguísticas, são também
processadas no hemisfério direito, quanto às suas informações de ordem puramente espacial.
Assim, parece haver um processamento até mais complexo do que o observado em pessoas
que usam línguas faladas. As investigações concluem que a língua de sinais é um sistema, que
faz parte da linguagem humana, processado no hemisfério esquerdo e no hemisfério direito.
Considerações finais
Há muitas outras ideias equivocadas relacionadas à surdez e às língua de sinais,
principalmente quando trata de temas sobre cultura, identidade, comportamento e direitos.
Veja mais no vídeo desta aula. É necessário manter uma postura aberta diante desses assuntos
e procurar se esclarecer. Isso torna-se importante no processo de entendimento de aceitação
e contato com uma nova língua e cultura. Cada indivíduo relaciona-se com sua língua e cultura
de maneira única; assim também as pessoas com deficiências lidam de maneira individual
com suas experiências. Portanto, generalizar comportamentos e estabelecer padrões não é
uma boa opção.
Referências
GESSER, A. Libras – Que língua é essa. Parábola – 2009.
QUADROS, R.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua brasileira de sinais I – UFSC, Florianópolis – SC.
2009.
QUADROS, R.; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira. Estudos linguísticos. Porto Alegre:
Artmed; 2004.
Libras
Aula 03
Expressões não manuais e classificadores
Objetivos Específicos
• Apresentar as expressões não manuais e os classificadores como parte da
língua.
Temas
Introdução
1 Classificadores
Considerações finais
Referências
Eduardo Pereira Silva
Fábio de Sá e Silva
Lilian Vania de Abreu Silva Olah
Naiane Caroline Silva Olah
Professores
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Introdução
A Libras possui elementos sem os quais sua estrutura gramatical não seria respeitada.
Como foi visto no texto da aula 1, ela possui 5 parâmetros:
• Configuração de mão
• Ponto de articulação
• Movimento
• Orientação/direção
• Expressões não manuais
As expressões não manuais e os classificadores têm valor gramatical na Libras. E vão além
das expressões afetivas (entonação de voz, suaves expressões da face) presentes também na
língua oral. Caso não sejam utilizados, a Libras torna-se incompleta ou mesmo sem sentido,
por ser da modalidade visual-espacial.
1 Classificadores
Assim como algumas línguas orais e várias línguas de sinais, a Libras possui classificadores,
um tipo de morfema gramatical que é afixado a um morfema lexical ou sinal para mencionar
a classe a que pertence o referente desse sinal, para descrevê-lo quanto à forma e tamanho
ou para descrever a maneira como esse referente é segurado ou se comporta na ação verbal.
Em Libras, como dificilmente se pode falar em prefixo e em sufixo porque os morfemas ou
outros componentes dos sinais se juntam ao radical simultaneamente, preferimos dizer que
os classificadores são afixos incorporados ao radical verbal ou nominal. Assim, nos exemplos
abaixo, pode-se observar o classificador V e V, que respectivamente, referem-se à maneira
como uma pessoa anda e como um animal anda.
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Figura 1
O classificador em ANDAR (para pessoa) pode ser utilizado também com outros
significados como “duas pessoas passeando” ou “um casal de namorados” (no caso das
pontas dos dedos estarem voltadas para cima), “uma pessoa em pé” (pontas dos dedos para
baixo) etc. Este classificador é representado pela configuração de mãos em V, como se segue:
Figura 2
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O classificador C pode representar qualquer tipo de objeto cilíndrico profundo como um
copo, uma caixa, uma urna como no exemplo abaixo do sinal VOTAR:
Figura 3
Outros classificadores podem ser os morfemas representados pelas configurações de mão B e Y como se segue:
Figura 4
O classificador B refere-se e descreve superfícies planas como mesa, parede, chão etc.
enquanto que o classificador Y refere-se e descreve objetos multiformes ou com formas
irregulares, porém não planos nem finos.
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Inúmeros são os classificadores em Libras, sua natureza semântica e sua função.
Entretanto, apenas mencionamos alguns a título de ilustração. Você conhecerá muitos outros
nos vídeos das aulas práticas.
Não se deve confundir os classificadores, que são algumas configurações de mãos
incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos que,
nas línguas de sinais, por serem espaço-visuais, representam iconicamente qualidades de
objetos. Por exemplo, para dizer nestas línguas que “uma pessoa está vestindo uma blusa de
bolinhas, quadriculada ou listrada”, estas expressões adjetivas serão desenhadas no peito do
emissor, mas esta descrição não é um classificador, e sim um adjetivo que, embora classifique,
estabelece apenas uma relação de qualidade do objeto e não relação de concordância de
gênero: pessoa, animal, coisa, que é a característica dos classificadores na Libras, como
também em outras línguas orais e de sinais.
Considerações finais
São geralmente usuais em adjetivos descritivos ou mesmo para definir gênero,
quantidade, intensidade, forma e tamanho.
Na língua de sinais, as expressões não manuais e os classificadores são gramaticais. Por
isso, quanto menos usá-los mais pobre se torna o discurso. Fazer um discurso em Libras
sobre o quanto alguém está feliz e a expressão facial não demonstrar tal caracterísitica do
sujeito é gramaticalmente incorreto. Ou seja, não podemos dizer sobre algo triste sem que a
expressão facial indique tristeza. Não podemos dizer sobre algo cômico sem que a expressão
não manual não indique a comicidade; e assim por diante.
Referências
GESSER, A. LIBRAS Libras – Que língua é essa. Parábola – 2009.
QUADROS, R., PIZZIO, A. e REZENDE, P. Língua brasileira de sinais II – UFSC, Florianópolis – SC.
2008.
Libras
Aula 09
Legislação e filosofias educacionais
Objetivos Específicos
• Apresentar a legislação brasileira na qual se refere aos aspectos relacionados
à Libras e ao indivíduo surdo e as filosofias educacionais para surdos.
Temas
Introdução
1 Política nacional para surdos
2 Filosofias educacionais
Considerações finais
Referências
Eduardo Pereira Silva
Fábio de Sá e Silva
Lilian Vania de Abreu Silva Olah
Naiane Caroline Silva Olah
Professores
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Libras
2
Introdução
As questões relacionadas aos surdos são regulamentadas por diversas leis. Apresentamos
a legislação como um importante material de consulta e de esclarecimento.
Apresentamos também as filosofias educacionais para surdos utilizadas durante a
história da educação de surdos no Brasil e no mundo. É importante ressaltar que algumas das
filosofias educacionais a serem apresentadas não são mais usuais atualmente.
1 Política nacional para surdos
Decreto n° 3298/99 (Regulamento Lei 7853, de 24 de outubro de 1989)
Dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência, consolida
as normas de proteção e dá outras providências.
Direitos dos surdos - acessibilidade
Lei Federal n° 10.098 de 19 de novembro de 2000
“Estabelece Normas Gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das Pessoas Portadoras de Deficiências ou com mobilidade reduzida, e dá outras
providências”.CapítuloVIIdaacessibilidadenossistemasdecomunicaçãoesinalização
Art.17 a 19 (Surdos)
Lei Libras
Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Libras e oficializa como segunda língua
oficial do Brasil.
Escola
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira
de Sinais- Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
Capítulo II
Da inclusão da Libras como disciplina curricular
Art. 3º a Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de
formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos
cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal
de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
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Libras
3
Lei Federal n° 10.172 de 9 de janeiro de 2001
Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências (Educação Especial-
Implantar em 5 (cinco), generalizar em 10 (dez) anos o ensino de Língua Brasileira de Sinais
para os alunos Surdos e, sempre que possível, para seus familiares e para o pessoal da Unidade
Escolar, mediante um programa de formação de monitores, em parceria com organizações
não governamentais).
Surdez
Decreto n° 3.298 de 20 de dezembro de 1999
Art. 4º. é considerada Pessoa Portadora de Deficiência aquela que se enquadrar nas
seguintes categorias:
a. De 25 a 40 decibéis (Db)- Surdez Leve;
b. De 41 a 55 (Db)- Surdez Moderada;
c. De 56 a 70 (Db)- Surdez Acentuada;
d. De 71 a 91 (Db)- Surdez Severa;
e. Acima de 91 (Db)-Surdez Profunda
f. Anacusia (profunda)
Telefone
Decreto n° 2.592 de 15 de maio de 1998- Plano Geral de Metas para a Universalização
do Serviço telefônico fixo comutado prestado no regime público.
Art. 60- a partir de 31 de dezembro de 1999.
A Concessionária deverá assegurar condições de acesso ao serviço telefônico para
Deficientes Auditivos e da fala: Tornar disponível o Centro de atendimento para Intermediação
da Comunicação (1402)
TV Libras
Tribunal Superior-TSE
Resolução TSE n° 14.550 de 1 de setembro de 1994
Dispõe sobre a obrigatoriedade de utilização de intérpretes de Libras na Propaganda
Eleitoral Gratuita na TV.
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Libras
4
Tv - Legenda em Português
Lei Federal n° 6.606 de 7 de dezembro de 1978 – o Art.1 o. dispõe sobre a obrigatoriedade
das emissoras de televisão em todo o país a incluir em sua programação semanal,
preferencialmente aos sábados, pelo menos um filme legendado em português.
Diretrizes para a educação de surdos
Decreto n° 5.626 de dezembro de 2005 – Essa lei apresenta as diretrizes para a
educação de surdos e inclusão da Libras como disciplina curricular obrigatória em alguns
cursos superiores e como disciplina curricular optativa para demais cursos. A lei regulamenta
também a respeito da formação do professor de Libras e do instrutor de Libras. E também a
formação do tradutor intérprete de Libras.
Na videoaula, veremos que se destacam entre essas leis a lei 10.436 e o decreto 5.626,
por oficializarem direitos essenciais aos surdos enquanto cidadãos: sua língua e educação.
2 Filosofias educacionais
A seguir, apresentaremos as filosofias educacionais que permeam a história da educação
de surdos.
Oralismo
A principal meta da filosofia oralista é a integração do surdo no mundo ouvinte. Para os
adeptos dessa filosofia, a linguagem só pode ser desenvolvida através da língua oral. A língua
oral deve ser a única forma de comunicação dos surdos.
O oralismo vê a surdez como uma deficiência, que deve se minimizada através da
estimulação auditiva. Com esta estimulação a criança aprende a língua portuguesa e, assim,
se integra na comunidade ouvinte e desenvolve uma identidade ouvinte.
O oralismo, então, objetiva a reabilitação da criança surda, tentando aproximá-la da
normalidade. Utiliza várias metodologias sendo as mais importantes: Polack (unissensorial),
Perdoncini e verbo-tonal (multissensorial).
A metodologia de Polack é chamada unissensorial porque se utiliza apenas do estímulo
auditivo no trabalho com surdos, ou seja, o surdo não tem nenhuma outra pista, que não
o auditivo para entender o enunciado. O terapeuta coloca uma barreira, folha de papel ou
outro objeto, na frente de seu rosto e diz o enunciado, e o surdo não tem pista visual do que
lhe é dito.
As metodologias Perdoncini e verbo-tonal são chamadas multissensoriais, porque, além
do estímulo auditivo, o surdo tem acesso às pistas visuais, como expressão facial, corporal,
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mímica e até gestos (não é língua de sinais), visando à comunicação.
Essas metodologias unissensorial e multissensorial se baseiam em pressupostos teóricos
diferentes, mas possuem o mesmo objetivo: a oralização do surdo e a rejeição à língua de
sinais. Nessa filosofia, o envolvimento da família é de suma importância, em que os pais
devem atuar como “terapeutas da fala” da criança, em casa.
O surdo, aqui, é visto no que lhe falta, ele é um corpo danificado que precisa ser
recuperado. O surdo deve ser transformado em ouvinte ou “quase ouvinte”. A maioria dos
seguidores do oralismo não considera a língua de sinais como língua.
A literatura comprova que somente uma pequena parte dos surdos consegue dominar
razoavelmente o português.
Comunicação total
Na década de 1960, com a insatisfação dos resultados obtidos no oralismo, foram feitas
muitas pesquisas nos Estados Unidos, comparando filhos surdos de pais ouvintes e filhos
surdos com pais surdos. Os filhos surdos de pais surdos eram expostos à língua de sinais
desde pequenos e depois colocados em escolas oralistas. Percebeu-se que eles tinham
melhor desempenho que os filhos surdos de pais ouvintes.
Em 1960, estudos comprovaram que a língua de sinais tinha valor linguístico semelhante
às línguas orais. A partir desses estudos e do descontentamento com o desenvolvimento das
crianças surdas através do método oral começou e se pensar numa nova filosofia.
O importante na comunicação total é o estabelecimento de uma comunicação efetiva
entre o surdo e o mundo que o cerca. Para isso utiliza-se de recursos auditivos, visuais,
manuais e orais, qualquer recurso que funcione na interação entre o falante e o surdo.
Os profissionais da comunicação total percebem a surdez como uma marca que afeta as
relações sociais, desenvolvimento cognitivo e afetivo do surdo.
A comunicação total privilegia a comunicação e a interação e não apenas uma língua.
Então ela se utiliza de vários recursos como a datilologia, o “cued-speech”1
, português
sinalizado, léxico da língua de sinais na estrutura do português e também sinais inventados
e o pidgin2
.
Todos esses códigos manuais-visuais são utilizados concomitantemente à língua
oral, sendo essa forma de comunicação chamada bimodalismo. Há, ainda, o trabalho de
estimulação auditiva e de oralização, porém não é o principal objetivo e sim um dos meios
1 Sistema de comunicação utilizado com e entre surdos ou pessoas com deficiência auditiva. É baseado em fonemas e possibilita que as línguas
faladas tradicionalmente sejam acessíveis por meio de um pequeno número de configurações de mãos (representando consoantes) utilizados
em locais diferentes da face e próximo da boca (representando vogais).
2 Linguagem simplificada que se desenvolve como um meio de comunicação entre dois ou mais grupos que não têm um idioma em comum.
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para se conseguir a comunicação com o surdo. Nesse caso, a criança não é discriminada por
não conseguir dominar a oralidade e nem por usar sinais. Entretanto, o que aconteceu na
realidade foi que a oralidade continuou sendo o principal objetivo dos profissionais.
Essa filosofia melhorou o desenvolvimento do surdo, mas não contemplou todos os
problemas que aconteciam no oralismo.
Bilinguismo
O primeiro país a implantar o bilinguismo foi a Suécia, onde a língua de sinais, após a
realização de pesquisas aprofundadas, obteve o status de língua.
Os surdos começaram, então, a se organizar e a exigir o reconhecimento da Língua de
Sinais como língua e sua utilização na educação.
O pressuposto básico desta filosofia é que o surdo deve ser bilíngue, isto quer dizer que
a língua de sinais será sua primeira, pois é a língua natural dos surdos, e a língua oficial do
seu país como segunda língua.
O conceito mais importante que a filosofia bilíngue traz é de que os surdos formam
uma comunidade, com cultura e língua próprias. A noção de que o surdo deve, a todo
custo, tentar aprender a modalidade oral da língua para poder se aproximar o máximo
possível do padrão da normalidade é rejeitada por esta filosofia. Isto não significa
que a aprendizagem da língua oral não seja importante para o surdo, ao contrário,
este aprendizado é bastante desejado mas não é percebido como o único objetivo
educacional do surdo nem como uma possibilidade de minimizar as diferenças
causadas pela surdez. (GOLDFELD, 39, 1997)
O bilinguismo busca conhecer os aspectos linguísticos, culturais, a forma de pensar e de
agir dos surdos, não apenas os aspectos biológicos da surdez.
No entanto, há divergências na aplicação do bilinguismo, destacando-se duas
vertentes: uma que acredita que o surdo deve adquirir a língua de sinais e a língua oral
concomitantemente, e depois ser alfabetizado na língua escrita. A outra acredita que o surdo
deve primeiro aprender a língua de sinais e depois aprender a modalidade escrita da língua
de seu país, sendo que a oralidade só será trabalhada se o surdo optar por isso.
A aquisição da língua de sinais deve ser na interação com surdos adultos que dominem
a língua. Os pais também devem aprendê-la.
A língua oral, apesar de ser desejada pela família do surdo, seria a segunda língua dele,
pois não é adquirida naturalmente, e sim através de técnicas específicas. É um aprendizado
lento, pois necessita da audição para isso. Dessa forma, será sempre uma língua estranha
para o surdo, nunca natural, pois o surdo não tem como monitorar a sua fala.
Sendo assim, a língua de sinais é a única que pode promover o desenvolvimento global
do surdo de maneira compatível com o ouvinte.
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Considerações finais
Nesta unidade pudemos perceber o quanto questões relacionadas à uma minoria
linguística, que são os surdos, envolvem política e cidadania. As leis regulam os direitos da
pessoa surda, bem como a formação dos profissionais responsáveis por sua educação e
difusão da língua de sinais. Porém sabemos que a legislação não assegura o cumprimento de
suas disposições e muito menos fiscaliza a garantia dos direitos por ela estabelecidos. Nesse
ponto, nosso sistema político e social tem muito a se desenvolver.
Vimos ainda nessa unidade as tentativas de se encontrar um meio pelo qual os surdos
recebessem educação como um todo. Infelizmente muitos traumas e conflitos foram gerados
a partir desse processo. Algumas filosofias educacionais muitas vezes foram estabelecidas
como oficiais para que fosse beneficiada apenas a parcela ouvinte e maioritária da sociedade,
excluindo muitas vezes o fator identitário e humano do sujeito surdo. Dentre as filosofias
citadas nesse texto, podemos citar o bilinguismo como o mais completo meio encontrado até
agora de estabelecer as condições para um aprendizado eficaz.
Percebemos que o bilinguismo trata muito mais do que a questão da língua, trata também
a questão da identidade, do biculturalismo, do ser surdo, da questão visual, dos aspectos
globais e positivos do surdo, porque vê o sujeito.
Referências
KLIMA, E. & U. Bellugi (1979). The Signs of Language. Cambridge, Mass: Harvard University
Press.
LABORIT, E. O Voo da Gaivota, 1994. Ed. Best Seller.
LIDDELL, S. (2003). Grammar, Gesture, and Meaning in American Sign Language. Cambridge:
Cambridge University Press.
MORAL, S. Quebrando o silêncio. 2005. Ed. Ottoni.
QUADROS, R. M. (1997). Aspectos da sintaxe e da aquisição da Língua Brasileira de Sinais.
Letras de Hoje, 32(4): 125-146.
SALLES, H.[et al.] Ensino de Língua Portuguesa para Surdos. Vol. 1, 2004. MEC.
SKILIAR, C. A surdez um olhar sobre as diferenças. 1998. Ed. Mediação
STRNADOVÁ, V. Como é ser surdo. 2000. Ed. Babel
WILCOX, S. & P.Wilcox (1997). Learning to See. Washington, D.C.: Gallaudet University Press.
Libras
Aula 10
Cultura surda
Objetivos Específicos
• Apresentar fundamentos da cultura e identidade surda.
Temas
Introdução
1 Quem é o surdo?
2 Conhecendo melhor o surdo
Considerações finais
Referências
Eduardo Pereira Silva
Fábio de Sá e Silva
Lilian Vania de Abreu Silva Olah
Naiane Caroline Silva Olah
Professores
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2
Introdução
Osurdonãoémudo,nãoédeficiente,nãoéalienadomentaletambémnãoéumacópia
malfeita do ouvinte. Ele é surdo, humano, autor e ator de inúmeros personagens...
Maria Cecília de Moura / fonte: APAS- JABOTICABAL-SP
Uma pessoa com deficiência deve ser vista como pessoa antes de sua deficiência. Para
os surdos, sua identidade e língua são fatores que os representam e por onde demonstram
seus inúmeros potenciais. O texto a seguir, organizado e elaborado por Lilian Olah, apresenta
alguns fundamentos da cultura surda. Vale mais uma vez ressaltar que, assim como dito na
aula 2, nem todas as características são aplicáveis a todos os indivíduos.
1 Quem é o surdo?
As diferenças humanas
Depoimento citado por Perlmutter (1986, apud Padden & Humphies, op.cit.), descrito
por Sam Supalla, surdo.
Sam nasceu numa família surda com muitos irmãos surdos, mais velhos que ele e,
por isso, demorou a sentir a falta de amigos. Quando seu interesse saiu do mundo
familiar, notou, no apartamento ao lado do seu, uma garotinha cuja idade era mais
ou menos a sua. Após algumas tentativas, se tornaram amigos. Ela era legal, mas era
esquisita: ele não conseguia conversar com ela, como conversava com seus pais e
irmãos mais velhos. Ela tinha dificuldade de entender gestos elementares! Depois
de tentativas frustradas de se comunicar, ele começou a apontar para o que queria
ou, simplesmente, arrastava a amiga para onde ele queria ir. Ele imaginava como
deveria ser ruim para a amiga não conseguir se comunicar, mas, uma vez que eles
desenvolveram uma forma de interagir, ele estava contente em se acomodar às
necessidades peculiares da amiga. Um dia, a mãe da menina aproximou-se e moveu
seus lábios e, como mágica, a menina pegou a sua casa de boneca e moveu-a para
outro lugar. Sam ficou admirado e foi para sua casa perguntar à sua mãe sobre,
exatamente, qual era o tipo de problema da vizinha. Sua mãe lhe explicou que a amiga
dele, bem como a mãe dela, eram ouvintes e por isso não sabiam sinais. Elas falavam
e moviam seus lábios para se comunicar com os outros. Sam perguntou se somente
a amiga e a sua mãe eram assim e sua mãe lhe explicou que era sua família que era
incomum e não a da amiga. A outras pessoas eram como sua amiga e a mãe. Sam não
possuía a sensação de perda. Imerso no mundo de sua família, eram os vizinhos que
tinham uma perda, uma desabilidade de comunicação.
Quebrar o paradigma da deficiência é enxergar as restrições de ambos: surdos e ouvintes.
Por exemplo, enquanto um surdo não conversa no escuro, o ouvinte não conversa debaixo
d’água; em local barulhento, o ouvinte não consegue se comunicar a menos que grite e, nesse
caso, o surdo se comunica sem problemas. Além disso, o ouvinte não consegue comer e falar
ao mesmo tempo, educadamente e sem engasgar, enquanto o surdo não sofre essa restrição.
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3
Nelson Pimenta, ator, surdo, brasiliense, declara que a surdez deve ser reconhecida
como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana, pois ser
surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte, é apenas diferente. Se considerarmos que os
surdos não são ouvintes com defeito, mas pessoas diferentes, estaremos aptos a entender
que a diferença física entre pessoas surdas e pessoas ouvintes gera uma visão não limitada,
não determinística de uma pessoa ou de outra, mas uma visão diferente de mundo, um “jeito
ouvinte de ser” e um “jeito surdo de ser”, que nos permite falar em uma cultura da visão e a
outra da audição.
Skliar (1998:28) declara que caracterizar a cultura surda como multicultural é o primeiro
passo para admitir que a comunidade surda partilhe com a comunidade ouvinte do espaço
físico e geográfico, da alimentação e do vestuário, entre outros hábitos e costumes, mas que
sustenta em seu cerne aspectos peculiares, além de tecnologias particulares desconhecidas
ou ausentes do mundo ouvinte cotidiano.
A partir das citações e informações sobre a identidade e cultura surda acima, apresentam-
se algumas dicas e maneiras eficazes de como se comunicar corretamente com o surdo e
compreender sua cultura:
• Fale de frente, claramente e pausadamente com o surdo. Uma boa articulação dos
lábios pode facilitar a comunicação. Lembrando que a atividade da leitura labial é
muito cansativa e requer muita habilidade e conhecimento do contexto da conversa,
da pronúncia de outras pessoas, iluminação, distância e que há palavras com a mesma
articulação (exemplo: mala, bala, tala).
• Não olhe para o outro lado ao conversar. O contato visual é importante. Quando se
fala com um surdo e não se olha para ele, fica parecendo que a mensagem não é para
ele.
Obs: o olhar fixo e prolongado do surdo, durante a conversa, pode incomodar o ouvinte.
• Não é preciso gritar. Use o labial com tom de voz normal ou, de preferência, sem som
nenhum.
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Figura 1
• O surdo não pode perceber mudanças de tons ou de emoções através da voz. É preciso
ser expressivo para demonstrar seus sentimentos. Obs: As pessoas ouvintes utilizam
determinados gestos quando estão nervosas. A língua de sinais, que se baseia em
gestos, poderá deixá-los com uma sensação desagradável, porque alguns sinais serão
entendidos por eles como feios, mesmo que na realidade, estejam expressando outra
coisa.
• Se você não entender o que uma pessoa surda está falando, não tenha vergonha e
não perca a paciência. Peça para repetir e, se for preciso, escrever. O mais importante
é que exista a comunicação. Grande parte dos surdos não é infeliz por serem surdos,
ou melhor, por não ouvirem. Eles ficam infelizes ou irritados quando passam por
situações nas quais se sentem expostos e dependentes. Exemplo: o surdo fica numa
posição humilhante principalmente quando o ouvinte demonstra a má vontade para
ajudar.
• Se precisar falar com uma pessoa surda chame a atenção dela tocando em seu ombro
ou braço (de preferência no ombro). O surdo não tem nenhum problema em se tocar,
mesmo quando se encontram pela primeira vez. O toque é uma das maneiras de
chamar a atenção da pessoa surda. O toque deve ser leve, e jamais tocar na cabeça
ou nas costas. Isso seria extremamente inconveniente. Para os ouvintes, isso causa
embaraço, pois estão acostumados com o contato sonoro.
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Figura 2
• Os surdos têm uma excelente percepção visual e percebem qualquer movimento ao
redor deles. Isso pode ser aproveitado para se fazer um contato com eles. Os ouvintes
que desconhecem a cultura surda, geralmente não entendem o sentido dos acenos
e não reagem a eles.
• Como todo cidadão, o surdo tem direito à informação. A ausência de legendas nos
noticiários e em outros programas de TV impede o conhecimento dos fatos.
• Os avisos visuais são sempre muito úteis para a independência do surdo. A
comunicação fica ainda melhor se forem com ilustrações. Na falta deles, o surdo terá
maiores dificuldades.
Figura 3
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Figura 4
• A iluminação, devido à comunicação essencialmente visual, é de extrema importância.
Para o surdo, a ausência de luz representa a ausência de comunicação. O recurso
da iluminação é usado para o surdo de várias formas. Exemplo: quando se toca a
campainha da casa, acende-se um tipo, ou uma cor de lâmpada. Se o surdo não
está ao alcance da sinalização luminosa, é possível que não abra a porta mesmo não
estando em casa. Por isso, não desista. Aperte várias vezes a campainha. Quando
o bebê chora no berço, um sensor faz com que uma lâmpada de cor diferente da
campainha acenda, identificando que o bebê precisa de algo.
2 Conhecendo melhor o surdo
Para o surdo, o contato com o mundo externo se dá através da visão. Por isso, a maioria
dos surdos, ao entrar em um ambiente, observa tudo e todos que estão no local e olham
ao redor com uma frequência bem maior e com mais atenção do que os ouvintes. Tem
também a tendência de ficar com as costas viradas para a parede, numa posição defensiva; e
se possível, num canto em que se posicione de frente para a porta para poder, com a visão,
acompanhar todo e qualquer movimento. Se isso não for possível, olha frequentemente para
trás. O ouvinte não conhecendo essa característica, poderá interpretar equivocadamente
essa postura. Também poderá causar incômodo para o ouvinte que desconhece a cultura
surda o olhar fixo e contínuo do surdo durante uma conversa, ou tentativa de comunicação,
a fim de tentar entender o que o ouvinte está dizendo.
O surdo, no geral, tende a ser bem-humorado (é importante ressaltar que, como
qualquer ser humano, o surdo possui alterações de humor e personalidade); gostam muito
de piadas, principalmente as que fazem referência à incompreensão da surdez pelo ouvinte.
Podem descrever situações ou imitar pessoas com uma riqueza de detalhes e expressões
impressionante, de maneira que se tornam excelentes atores enquanto simplesmente
conversam. Para o ouvinte, tal prática requer muito treino e conhecimentos técnicos.
Quando os surdos estão participando de alguma atividade com um grupo de ouvintes e
não há nenhum intérprete para auxiliá-lo, a tendência é copiar o comportamento dos ouvintes
(se o ouvinte ri, o surdo ri), mesmo sem entender o que está acontecendo, pelo medo de se
sentirem socialmente excluídos.
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Figura 5
Devido à falta da audição, o surdo tem dificuldades em receber informações no tempo e
na forma adequada para o desenvolvimento afetivo, social e intelectual de forma saudável e
satisfatória. Com isso, seu comportamento algumas vezes pode não condizer com os padrões
estabelecidos pela sociedade e sua percepção do mundo pode ser equivocada.
Exemplo: Relato da mãe de um surdo que estava comemorando seu aniversário de 15
anos com alguns amigos em casa. Em um determinado momento, alguns de seus amigos
precisavam ir embora. O garoto os acompanhou até o ponto do ônibus. Chegando próximo ao
ponto, eles viram uma viatura da polícia e saíram correndo. Os policiais percebendo a atitude
dos jovens ligaram a sirene e saíram em perseguição, mas como a casa ficava próxima, eles
entraram na casa e se esconderam. Os policiais tocaram a campainha e a mãe, assustada, sai
e pergunta o que estava acontecendo. Os policiais relatam o acontecido e pedem para trazer
os jovens para fora, caso contrário eles entrariam na casa. A mãe pede para esperarem um
minuto, explica que os garotos são surdos e que chamaria os garotos para conversar. Quando
a mãe traz os garotos para fora pergunta: “Por que vocês correram?”. Eles respondem que na
televisão todas as vezes que as pessoas viam policiais saíam correndo, então, eles pensaram
que tinham que correr também. A mãe, que sabia Libras, pôde traduzir para os policiais e
explicar o contexto, que eles assistiam a filmes, e entenderam que deveriam agir da mesma
forma que viram na televisão.
O conceito que o surdo tem de si mesmo é o que as pessoas (familiares, amigos,
professores, médicos, intérpretes etc.) dizem que ele é.
Na comunicação vale citar o relato de Emmanuelle Laborit, em seu livro O voo da gaivota
(1994, p. 19), cuja ausência de linguagem entre zero e sete anos provocara seu isolamento.
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8
Creio que nada havia em minha cabeça, nesse período. Futuro, passado, tudo estava
em uma linha do espaço de tempo. Mamãe dizia ontem... e eu não entendia onde
estava ontem, o que era ontem. Amanhã também. E não podia perguntar-lhe. Sentia-
me impotente (...). Havia a luz do dia, a escuridão da noite, mais nada.
Até os sete anos não conseguia se comunicar:
Até os sete anos, nada de palavra, nenhuma frase em minha cabeça. Imagens somente
(...). Como tudo acontecia antes? Não tinha língua. Como pude me construir? (...).
Pensava seguramente. Mas em quê? Em minha fúria de me comunicar.
Quando Emmanuelle descobre que existe uma língua em que pode se comunicar e
experimenta dar nome às pessoas e às coisas, descobre seu próprio nome. Antes falava de si
na terceira pessoa “ela o escuta, ela não o escuta” o “eu” não existia.
Eu era ela (...). Por causa da língua de sinais pôde dizer: “Eu, Emmanuelle, tendo assim
uma identidade (...). Descobria o mundo que me cercava, e era eu que me encontrava
no interior do mundo. (p.51)
Laborit afirma que a língua de sinais é fundamental para que de fato o surdo consiga se
comunicar, obter informação e compreender o que acontece ao seu redor.
J.Schuyler Long, Diretor da Lowa School for the Deaf, diz em The sign language (1910)
que a língua de sinais é uma língua bela e expressiva, e para a qual, na comunicação e como
um modo de atingir com facilidade e rapidez a mente dos surdos, nem a natureza nem a
arte lhes concedeu um substituto à altura. Quem não a entente não consegue perceber a
quantidade de possibilidades que traz aos surdos, sua poderosa influência sobre a moral
e a felicidade social dos que são privados da audição e seu admirável poder de levar o
pensamento a intelectos que, de outro modo, estariam em perpétua escuridão. Tampouco
conseguem avaliar o poder que ela tem sobre os surdos e que enquanto houver duas pessoas
surdas sobre a face da terra e elas se encontrarem, elas usarão sinais.
Em relação à escrita, nada melhor do que o próprio surdo para descrever o grande
desafio e esforço que se apresenta no ato de escrever. Carlos Skliar em seu livro A surdez: um
olhar sobre as diferenças (1998, p. 57) relata um fato narrado por L. de 40 anos:
É tão difícil escrever, para fazê-lo meu esforço tem de ser num clima de despender
energias o suficiente demasiadas. Escrevo numa língua que não é a minha. Na
escola fiz todo esforço para entender o significado das palavras usando o dicionário.
São palavras soltas elas continuam soltas. Quando se trata de pô-las no papel, de
escrever meus pensamentos, eles são marcados por um silêncio profundo. Eu preciso
decodificar o meu pensamento visual com palavras em português que tem signos
falados. Muito há que é difícil ser traduzido, pode ser uma síntese aproximada.
Tudo parece um silêncio quando se trata da escrita em português, uma tarefa difícil,
dificílima. Esse silêncio é a mudança? Sim é. Fazer frases em português não é mesmo
que fazê-las em Libras. Eu penso em Libras, na hora de escrever em português eu não
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treinei o suficiente para juntar numa frase todas as palavras soltas. Agora no momento
de escrever, eu escrevo diferente. Quando eu leio o que escrevo, parece que não tem
uma coisa normal como a escrita ouvinte, falta uma coisa, não sei o quê.
Não sei se o que escrevo são palavras minhas, elas são exteriores, não fazem parte de
meu contexto. Parece não cair bem na frase, parece que a escrita do pensamento não dita o
que quero dizer. Vezes sem contas parecem dizer-me coisas sem sentido.
Considerações finais
Vimos nessa unidade que os surdos possuem identidade e cultura. Aceitar um povo
é aceitar sua língua e não querer que simplesmente se adeque aos padrões da maioria
ouvinte da qual a sociedade é composta. Nesse texto também vimos a melhor maneira de se
comunicar com o surdo caso desconheça a Libras, e também esclarecemos sobre os motivos
das dificuldades dos surdos para escrever na língua portuguesa.
Referências
LABORIT, E. o Vôo da gaivota. Ed. Best Seller, 1994.
OLAH, L. Curso básico de Libras. Ed. Senac, 2009.
SKLIAR, C. A surdez um olhar sobre as diferenças. Ed. Mediação, 1998.

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  • 2. Créditos Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância Diretor Regional Luiz Francisco de Assis Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Reitor Sidney Zaganin Latorre Diretor de Graduação Eduardo Mazzaferro Ehlers Diretor de Pós-Graduação e Extensão Daniel Garcia Correa Gerentes de Desenvolvimento Claudio Luiz de Souza Silva Luciana Bon Duarte Roland Anton Zottele Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas Coordenadora de Desenvolvimento Tecnologias Aplicadas à Educação Regina Helena Ribeiro Coordenador de Operação Educação a Distância Alcir Vilela Junior Professora Autora Naiane Caroline Silva Olah Revisores Técnicos Eduardo Pereira da Silva Fábio de Sá e Silva Lilian Vania de Abreu Silva Olah Maria Aparecida Capellari Técnicos de Desenvolvimento Braulio Alexandre Banda Rubio Elza Maria de Oliveira Ventrilho Coordenadoras Pedagógicas Ariádiny Carolina Brasileiro Silva Izabella Saadi Cerutti Leal Reis Nivia Pereira Maseri de Moraes Equipe de Design Educacional Adriana Mitiko do Nascimento Takeuti Alexsandra Cristiane Santos da Silva Angélica Lúcia Kanô Cristina Yurie Takahashi Diogo Maxwell Santos Felizardo Elisangela Almeida de Souza Flaviana Neri Francisco Shoiti Tanaka Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida João Francisco Correia de Souza Juliana Quitério Lopez Salvaia Jussara Cristina Cubbo Kamila Harumi Sakurai Simões Karen Helena Bueno Lanfranchi Katya Martinez Almeida Lilian Brito Santos Luciana Marcheze Miguel Luciana Saito Mariana Valeria Gulin Melcon Mayra Bezerra de Sousa Volpato Mônica Maria Penalber de Menezes Mônica Rodrigues dos Santos Nathália Barros de Souza Santos Paula Cristina Bataglia Buratini Renata Jessica Galdino Sueli Brianezi Carvalho Thiago Martins Navarro Wallace Roberto Bernardo Equipe de Qualidade Ana Paula Pigossi Papalia Aparecida Daniele Carvalho do Nascimento Gabriela Souza da Silva Vivian Martins Gonçalves Coordenador Multimídia e Audiovisual Adriano Tanganeli Equipe de Design Visual Adriana Matsuda Caio Souza Santos Camila Lazaresko Madrid Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo Christian Ratajczyk Puig Danilo Dos Santos Netto Hugo Naoto Inácio de Assis Bento Nehme Karina de Morais Vaz Bonna Lucas Monachesi Rodrigues Marcela Corrente Marcio Rodrigo dos Reis Renan Ferreira Alves Renata Mendes Ribeiro Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti Thamires Lopes de Castro Vandré Luiz dos Santos Victor Giriotas Marçon William Mordoch Equipe de Design Multimídia Alexandre Lemes da Silva Cláudia Antônia Guimarães Rett Cristiane Marinho de Souza Eliane Katsumi Gushiken Elina Naomi Sakurabu Emília Correa Abreu Fernando Eduardo Castro da Silva Mayra Aoki Aniya Michel Iuiti Navarro Moreno Renan Carlos Nunes De Souza Rodrigo Benites Gonçalves da Silva Wagner Ferri
  • 3. Libras Aula 01 O que é Libras? Objetivos Específicos • Entender basicamente o que é a Libras e o que a torna uma língua. Temas Introdução 1 O que é língua? 2 O que é Libras? 3 Como é composta a Libras? Considerações finais Referências Naiane Caroline Silva Olah Professora
  • 4. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 2 Introdução A Língua Brasileira de Sinais – Libras vem sendo estudada e difundida com mais frequência nos últimos anos. Há leis, pesquisas, atividades culturais, discussões pedagógicas, políticas públicas cada vez mais voltadas para a área da surdez e, consequentemente, para a Libras. Mas, afinal, o que é a Libras? Nesta disciplina, veremos seus fundamentos básicos de forma teórica e prática. Para isso, será necessário compreender agora, neste primeiro texto, o que é língua, o que é a Libras, quem a usa e quais são suas principais características. 1 O que é língua? Segundo o dicionário Aurélio, é o “conjunto das palavras e expressões usadas por um povo, uma nação, e o conjunto de regras de sua gramática; idioma”. É também um “sistema de signos que permite a comunicação entre os membros de uma comunidade”. Agora que vimos o que é língua, vamos entender o que é Libras. 2 O que é Libras? A Libras é a Língua Brasileira de Sinais, natural dos surdos brasileiros. É usada pela maioria dos surdos dos centros urbanos de nosso país e reconhecida pela Lei 10.346 de abril/2002. Surgiu da Língua de Sinais Francesa em consequência do trabalho de Abade Charles-Michel de l’Epeé, o qual contribuiu para a criação do Instituto Nacional da Educação de Surdos em 1857. Por isso, é semelhante a outras línguas de sinais da Europa e da América. É importante deixar claro que a Libras não é a simples gestualização da língua portuguesa, e sim uma língua à parte, como o comprova o fato de que em Portugal usa-se uma língua de sinais diferente, a língua gestual portuguesa (LGP). Assim como as diversas línguas naturais e humanas existentes, ela é composta por níveis linguísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica. Por ser a língua natural dos surdos, é pertencente à modalidade visual-espacial. Isso quer dizer que uma mensagem na Libras é recebida através da visão e quando a mensagem é transmitida utiliza-se o espaço físico por meio de sinais e expressões corporais. A língua portuguesa e as demais línguas orais pertencem à modalidade oral-auditiva, ou seja, utiliza-se o canal auditivo e da fala para estabelecer comunicação. Da mesma forma que nas línguas orais-auditivas existem palavras, nas línguas de sinais também existem itens lexicais, que recebem o nome de sinais. Para se comunicar em Libras, não basta apenas conhecer os sinais. É necessário conhecer a sua gramática para combinar as frases, estabelecendo, assim, a comunicação.
  • 5. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 3 Como dissemos, estruturalmente, a Libras, como em outras línguas de sinais, utiliza- se de sinais e marcações no espaço e no corpo do falante. Por isso suas sentenças não são apresentadas linearmente como na língua portuguesa. E o que seria uma estrutura linear? É quando o contexto se dá através de frases com palavras consecutivas (uma depois da outra). Caso contrário, não seria possível compreender qualquer sentença. Já nas línguas de sinais, as frases são apresentadas de modo diferente, como em blocos; não fazem sentido se articulados os sinais um após o outro. É necessário identificar no espaço todas as informações. A imagem a seguir pode ilustrar melhor tal raciocínio: Figura 1 Já nas línguas de sinais, as informações são transmitidas em espécies de “blocos”. Por exemplo: Figura 2 Muitas vezes, uma mesma sentença falada em português e em Libras pode levar menos tempo quando dita em sinais, devido a esse fator estrutural. Durante as aulas práticas, será possível notar essa característica com mais clareza. Como apresentado anteriormente, a Libras possui níveis linguísticos (fonologia, morfologia, sintaxe e semântica). Por isso, chamá-la de “linguagem de sinais” torna-se um equívoco, uma vez que a linguagem e a língua se diferem em seus níveis linguísticos e de complexidade. Algumas espécies de animais possui sua própria linguagem, como as abelhas ou os golfinhos. Eles possuem um sistema de comunicação que garante a sobrevivência da espécie e, através desse sistema, organizam as funções de cada membro da colônia ou grupo, bem como indicam onde há comida e ameaça de predadores. Porém, nas línguas, tanto as orais quanto as de sinais, as comunicações estabelecidas são mais complexas, podendo-se falar sobre qualquer assunto e até mesmo expressar-se de forma poética. Assim é a Libras.
  • 6. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 4 3 Como é composta a Libras? Como já vimos, a Libras é pertencente à modalidade visual-espacial. Os sinais surgem da combinação de configurações de mão, movimentos e de pontos de articulação — locais no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos, os quais, juntos, compõem as unidades básicas dessa língua. A representação das letras é feita por meio do alfabeto manual (também chamado de alfabeto digital), e através desse alfabeto é possível soletrar as palavras com as mãos. É aconselhável soletrar devagar, formando as palavras com nitidez. Depois de cada palavra soletrada, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o lado direito, como se estivesse empurrando a palavra já soletrada para o lado. Normalmente, o alfabeto manual é utilizado para soletrar os nomes de pessoas, lugares, rótulos etc. e para os vocábulos não existentes na língua de sinais. Assim como nas línguas orais, as línguas de sinais, como a Libras, apresentam dialetos regionais, o que reforça seu caráter de língua natural. Nos dialetos sociais, as variações nas configurações e/ou no movimento das mãos não modificam o sentido do sinal. A palavra “verde”, por exemplo, é falada de maneira diferente no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Curitiba. Essas mudanças são históricas, ocorrem no sinal com o passar do tempo, conforme se modificam os costumes de cada geração que a utiliza. O sinal de “branco” já sofreu algumas alterações com o decorrer dos anos. As comunidades surdas de diferentes regiões criam alguns poucos sinais diferentes para suas necessidades de comunicação. Os sinais são criados de acordo com a necessidade de cada grupo, porém há alguns mais gerais que, quando criados, acabam sendo incorporados à língua. A modalidade gestual, visual e espacial pela qual a Libras é produzida e percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais são o desenho no ar do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a realização de um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a que se refere, mas isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da Libras é arbitrária, não mantendo nenhuma relação de semelhança alguma com seu referente. Os sinais que apresentam semelhança com a pessoa ou o objeto a que referem são chamados de sinais icônicos, por exemplo: telefone, casa, xícara, comer, carro, moto, calor etc. Você poderá ver muitos desses sinais em nossas aulas práticas. Os sinais icônicos não são iguais em todas as línguas. Geralmente, cada comunidade
  • 7. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 5 observa diferentes aspectos do mesmo referente (pessoa, objeto, lugar...) e os representa por meio de seus próprios sinais, de forma convencional. Como vimos, os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos, e também do ponto no corpo ou no espaço, onde esses sinais são feitos. Nas línguas de sinais, podem ser encontrados os seguintes parâmetros de formação dos sinais: • Configuração de Mão (CM): é a forma que a mão assume durante a realização de um sinal. Pelas pesquisas linguísticas, foi comprovado que na Libras existem 62 configurações de mãos, sendo que o alfabeto manual utiliza apenas 26 destas configurações, para representar as letras. Por exemplo, os sinais “avião”, “energia”, “evitar”, “brincar”, “boi” possuem a mesma configuração de mão (com a CM “Y”), mas são diferentes em seu ponto de articulação e movimentação. Você poderá ver no vídeo desta aula esses e outros exemplos. • Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, ou seja, o local onde é feito o sinal, podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro. • Movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Por exemplo, os sinais em pé e sentado não têm movimento; os sinais evitar e trabalhar possuem movimento. • Expressõesfaciaise/oucorporais:asexpressõesfaciais/corporaissãodefundamental importância para o entendimento real dos sinais, sendo que a entonação em língua de sinais é feita pela expressão facial. Por exemplo, os sinais “alegre” e “triste”. • Orientação/direção: os sinais têm uma direção em relação aos parâmetros acima. Assim, os verbos ir, vamos, vir, vou e vai opõem-se em relação à direcionalidade.
  • 8. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 6 Considerações finais Como vimos, a Libras se apresenta como um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Como em qualquer língua, também apresentam diferenças regionais. Portanto, deve-se ter atenção às suas variações em cada unidade federativa do Brasil. Trata-se de uma língua de modalidade visual-espacial, que possui níveis linguísticos, gramática e estutura próprias. Referências BRITO, L. F. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. CAPOVILLA, F. C. et al. A língua brasileira de sinais e sua iconicidade: análises experimentais computadorizadas de caso único. Ciência Cognitiva, 1 (2) pp. 781-924. 1997. ______. Manual ilustrado de sinais e sistema de comunicação em rede para surdos. São Paulo: ed. instituto de Psicologia, USP, 1998. ______. Dicionário trilíngue. Língua de sinais brasileira, português e inglês. São Paulo: Edusp, 2000. GESSER, A. Libras – Que língua é essa. Parábola – 2009. QUADROS, R.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua brasileira de sinais – UFSC, Florianópolis – SC. 2009.
  • 9. Libras Aula 02 Mitos sobre a língua de sinais Objetivos Específicos Temas • Esclarecer ao aluno alguns dos mitos mais comuns relacionados à língua de sinais. Introdução 1 Alguns mitos sobre as línguas de sinais Considerações finais Referências Eduardo Pereira Silva Fábio de Sá e Silva Lilian Vania de Abreu Silva Olah Naiane Caroline Silva Olah Professores
  • 10. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 2 Introdução Várias pessoas acreditam em coisas que não são necessariamente verdadeiras. Vamos pensar nos discursos das pessoas que não conhecem os surdos ou as línguas de sinais: geralmente, há uma série de crenças que não correspondem à realidade. Isso acontece porque por muitos anos houve ideias a respeito que foram disseminadas por questões filosóficas, religiosas, políticas e econômicas. Talvez você mesmo pense que essas ideias sejam verdadeiras, por fruto do desconhecimento. Apesar do impacto dessas concepções, as pesquisas avançaram muito e nos mostraram que tais concepções são equivocadas. Nesta aula, vamos ver algumas dessas ideias equivocadas e demistificá-las. Vamos lá? 1 Alguns mitos sobre as línguas de sinais Quadros e Karnopp (2004, 31-37) organizaram uma lista de mitos, que serão apresentados a seguir: A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. Pantomima é a expressão de palavras, ideias e sentimentos, por meio de gestos, expressões faciais e corporais, também chamada de mímica. Porém, o teatro gestual não tem nada a ver com as línguas de sinais. Esse mito está atrelado à ideia filosófica de que o mundo das ideias é abstrato e que o mundo dos gestos é concreto, e que os sinais das línguas de sinais são gestos. Como já vimos, os sinais são palavras, apesar de não serem orais-auditivas. Os sinais são tão arbitrários quanto às palavras. A produção gestual na língua de sinais também acontece como observado nas línguas faladas. A diferença é que, no caso dos sinais, os gestos também são visuais-espaciais, o que tornam as fronteiras mais difíceis de serem estabelecidas. É importante que você saiba que os sinais das línguas de sinais podem expressar quaisquer ideias abstratas. É possível falar sobre emoções e sentimentos, assim como nas línguas orais. Essa ideia de que a língua de sinais seria equivalente à mímica cai por terra quando pensamos que uma performance dessas consegue reproduzir uma cena do cotidiano, mas não consegue, por exemplo, argumentar ideias. Isso, só podemos desenvolver com conceitos e vocabulário mais complexos, como na língua de sinais, na qual é possível falar sobre qualquer coisa. Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas. Esta ideia está relacionada com o que vimos anteriormente. Se os sinais das línguas de sinais fossem gestos, então elas seriam universais, ou seja, iguais em todos os países. Mas já sabemos que há várias línguas de sinais, diferentes umas das outras. Assim como as línguas
  • 11. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 3 faladas, temos línguas de sinais que pertencem a troncos diferentes. Há ao menos dois troncos identificados: as línguas de origem francesa e as línguas de origem inglesa. Provavelmente, a Libras pertence ao tronco das línguas de sinais que se originaram na língua de sinais francesa. Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, sendo um pidgin (mistura de gestos e falas de duas línguas) sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais. As línguas de sinais independem das línguas faladas. Por exemplo, tanto no Brasil quanto em Portugal, a língua falada é o português. No entanto, a língua de sinais portuguesa é muito diferente da Libras, justamente porque pertencem a troncos diferentes. É claro que não podemos negar o fato de ambas as línguas estarem em contato, principalmente entre os surdos letrados. O que se observa diante deste contato é que, da mesma forma como observado entre línguas faladas, existem alguns empréstimos linguísticos. Aslínguasdesinaisnãotêmrelaçãocomaslínguasfaladasdoseupaís.Elassãoautônomas e apresentam o mesmo estatuto linguístico identificado nas línguas faladas, ou seja, dispõem dos mesmos níveis linguísticos de análise e são tão complexas quanto às línguas faladas. Não existem sinais na Libras que não possuem palavras correspondentes no Português. Assim como não existem sinais da Libras para todas as palavras no português. A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral. Já sabemos que as línguas de sinais são tão complexas quanto às línguas faladas, portanto esta afirmação não é verdadeira. As línguas de sinais podem ser utilizadas para as inúmeras funções identificadas na produção das línguas humanas. Você pode usar a língua de sinais para produzir um poema, contar uma história, um conto, informar, argumentar, persuadir, criticar, aconselhar, entre tantas outras possibilidades. Deste modo, a língua de sinais não é inferior a nenhuma outra língua e é tão linguisticamente reconhecida quanto qualquer outra língua. As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. Mais um mito que confunde gestos com a língua de sinais. Muitas pessoas acreditam que é fácil aprender as línguas de sinais porque estão diretamente relacionadas com os gestos. No entanto, as línguas de sinais são tão difíceis de serem adquiridas quanto qualquer outra língua. É preciso muito estudo e treino, são anos de dedicação para aprendermos uma língua de sinais. Claro que você pode se comunicar utilizando apenas gestos, por exemplo, quando chegamos a um país em que é falada uma língua que você não domina. Mas você estará sempre limitado à identificação direta entre o gesto e sua intenção, sem poder detalhar ou argumentar sobre algum assunto. Para isso, você teria que conhecer a língua. No caso da
  • 12. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 4 comunicação com os surdos, você vai precisar aprender a língua de sinais. As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem. Da mesma forma que nas línguas faladas, as línguas de sinais são processadas linguisticamente no hemisfério esquerdo do cérebro, fato comprovado por pesquisas. Existe sim uma diferença que está relacionada com informações espaciais, pois estas, além de serem processadas no hemisfério esquerdo com suas informações linguísticas, são também processadas no hemisfério direito, quanto às suas informações de ordem puramente espacial. Assim, parece haver um processamento até mais complexo do que o observado em pessoas que usam línguas faladas. As investigações concluem que a língua de sinais é um sistema, que faz parte da linguagem humana, processado no hemisfério esquerdo e no hemisfério direito. Considerações finais Há muitas outras ideias equivocadas relacionadas à surdez e às língua de sinais, principalmente quando trata de temas sobre cultura, identidade, comportamento e direitos. Veja mais no vídeo desta aula. É necessário manter uma postura aberta diante desses assuntos e procurar se esclarecer. Isso torna-se importante no processo de entendimento de aceitação e contato com uma nova língua e cultura. Cada indivíduo relaciona-se com sua língua e cultura de maneira única; assim também as pessoas com deficiências lidam de maneira individual com suas experiências. Portanto, generalizar comportamentos e estabelecer padrões não é uma boa opção. Referências GESSER, A. Libras – Que língua é essa. Parábola – 2009. QUADROS, R.; PIZZIO, A.; REZENDE, P. Língua brasileira de sinais I – UFSC, Florianópolis – SC. 2009. QUADROS, R.; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira. Estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed; 2004.
  • 13. Libras Aula 03 Expressões não manuais e classificadores Objetivos Específicos • Apresentar as expressões não manuais e os classificadores como parte da língua. Temas Introdução 1 Classificadores Considerações finais Referências Eduardo Pereira Silva Fábio de Sá e Silva Lilian Vania de Abreu Silva Olah Naiane Caroline Silva Olah Professores
  • 14. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 2 Introdução A Libras possui elementos sem os quais sua estrutura gramatical não seria respeitada. Como foi visto no texto da aula 1, ela possui 5 parâmetros: • Configuração de mão • Ponto de articulação • Movimento • Orientação/direção • Expressões não manuais As expressões não manuais e os classificadores têm valor gramatical na Libras. E vão além das expressões afetivas (entonação de voz, suaves expressões da face) presentes também na língua oral. Caso não sejam utilizados, a Libras torna-se incompleta ou mesmo sem sentido, por ser da modalidade visual-espacial. 1 Classificadores Assim como algumas línguas orais e várias línguas de sinais, a Libras possui classificadores, um tipo de morfema gramatical que é afixado a um morfema lexical ou sinal para mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal, para descrevê-lo quanto à forma e tamanho ou para descrever a maneira como esse referente é segurado ou se comporta na ação verbal. Em Libras, como dificilmente se pode falar em prefixo e em sufixo porque os morfemas ou outros componentes dos sinais se juntam ao radical simultaneamente, preferimos dizer que os classificadores são afixos incorporados ao radical verbal ou nominal. Assim, nos exemplos abaixo, pode-se observar o classificador V e V, que respectivamente, referem-se à maneira como uma pessoa anda e como um animal anda.
  • 15. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 3 Figura 1 O classificador em ANDAR (para pessoa) pode ser utilizado também com outros significados como “duas pessoas passeando” ou “um casal de namorados” (no caso das pontas dos dedos estarem voltadas para cima), “uma pessoa em pé” (pontas dos dedos para baixo) etc. Este classificador é representado pela configuração de mãos em V, como se segue: Figura 2
  • 16. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 4 O classificador C pode representar qualquer tipo de objeto cilíndrico profundo como um copo, uma caixa, uma urna como no exemplo abaixo do sinal VOTAR: Figura 3 Outros classificadores podem ser os morfemas representados pelas configurações de mão B e Y como se segue: Figura 4 O classificador B refere-se e descreve superfícies planas como mesa, parede, chão etc. enquanto que o classificador Y refere-se e descreve objetos multiformes ou com formas irregulares, porém não planos nem finos.
  • 17. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 5 Inúmeros são os classificadores em Libras, sua natureza semântica e sua função. Entretanto, apenas mencionamos alguns a título de ilustração. Você conhecerá muitos outros nos vídeos das aulas práticas. Não se deve confundir os classificadores, que são algumas configurações de mãos incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos que, nas línguas de sinais, por serem espaço-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. Por exemplo, para dizer nestas línguas que “uma pessoa está vestindo uma blusa de bolinhas, quadriculada ou listrada”, estas expressões adjetivas serão desenhadas no peito do emissor, mas esta descrição não é um classificador, e sim um adjetivo que, embora classifique, estabelece apenas uma relação de qualidade do objeto e não relação de concordância de gênero: pessoa, animal, coisa, que é a característica dos classificadores na Libras, como também em outras línguas orais e de sinais. Considerações finais São geralmente usuais em adjetivos descritivos ou mesmo para definir gênero, quantidade, intensidade, forma e tamanho. Na língua de sinais, as expressões não manuais e os classificadores são gramaticais. Por isso, quanto menos usá-los mais pobre se torna o discurso. Fazer um discurso em Libras sobre o quanto alguém está feliz e a expressão facial não demonstrar tal caracterísitica do sujeito é gramaticalmente incorreto. Ou seja, não podemos dizer sobre algo triste sem que a expressão facial indique tristeza. Não podemos dizer sobre algo cômico sem que a expressão não manual não indique a comicidade; e assim por diante. Referências GESSER, A. LIBRAS Libras – Que língua é essa. Parábola – 2009. QUADROS, R., PIZZIO, A. e REZENDE, P. Língua brasileira de sinais II – UFSC, Florianópolis – SC. 2008.
  • 18. Libras Aula 09 Legislação e filosofias educacionais Objetivos Específicos • Apresentar a legislação brasileira na qual se refere aos aspectos relacionados à Libras e ao indivíduo surdo e as filosofias educacionais para surdos. Temas Introdução 1 Política nacional para surdos 2 Filosofias educacionais Considerações finais Referências Eduardo Pereira Silva Fábio de Sá e Silva Lilian Vania de Abreu Silva Olah Naiane Caroline Silva Olah Professores
  • 19. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 2 Introdução As questões relacionadas aos surdos são regulamentadas por diversas leis. Apresentamos a legislação como um importante material de consulta e de esclarecimento. Apresentamos também as filosofias educacionais para surdos utilizadas durante a história da educação de surdos no Brasil e no mundo. É importante ressaltar que algumas das filosofias educacionais a serem apresentadas não são mais usuais atualmente. 1 Política nacional para surdos Decreto n° 3298/99 (Regulamento Lei 7853, de 24 de outubro de 1989) Dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências. Direitos dos surdos - acessibilidade Lei Federal n° 10.098 de 19 de novembro de 2000 “Estabelece Normas Gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das Pessoas Portadoras de Deficiências ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências”.CapítuloVIIdaacessibilidadenossistemasdecomunicaçãoesinalização Art.17 a 19 (Surdos) Lei Libras Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Libras e oficializa como segunda língua oficial do Brasil. Escola Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais- Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Capítulo II Da inclusão da Libras como disciplina curricular Art. 3º a Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
  • 20. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 3 Lei Federal n° 10.172 de 9 de janeiro de 2001 Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências (Educação Especial- Implantar em 5 (cinco), generalizar em 10 (dez) anos o ensino de Língua Brasileira de Sinais para os alunos Surdos e, sempre que possível, para seus familiares e para o pessoal da Unidade Escolar, mediante um programa de formação de monitores, em parceria com organizações não governamentais). Surdez Decreto n° 3.298 de 20 de dezembro de 1999 Art. 4º. é considerada Pessoa Portadora de Deficiência aquela que se enquadrar nas seguintes categorias: a. De 25 a 40 decibéis (Db)- Surdez Leve; b. De 41 a 55 (Db)- Surdez Moderada; c. De 56 a 70 (Db)- Surdez Acentuada; d. De 71 a 91 (Db)- Surdez Severa; e. Acima de 91 (Db)-Surdez Profunda f. Anacusia (profunda) Telefone Decreto n° 2.592 de 15 de maio de 1998- Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço telefônico fixo comutado prestado no regime público. Art. 60- a partir de 31 de dezembro de 1999. A Concessionária deverá assegurar condições de acesso ao serviço telefônico para Deficientes Auditivos e da fala: Tornar disponível o Centro de atendimento para Intermediação da Comunicação (1402) TV Libras Tribunal Superior-TSE Resolução TSE n° 14.550 de 1 de setembro de 1994 Dispõe sobre a obrigatoriedade de utilização de intérpretes de Libras na Propaganda Eleitoral Gratuita na TV.
  • 21. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 4 Tv - Legenda em Português Lei Federal n° 6.606 de 7 de dezembro de 1978 – o Art.1 o. dispõe sobre a obrigatoriedade das emissoras de televisão em todo o país a incluir em sua programação semanal, preferencialmente aos sábados, pelo menos um filme legendado em português. Diretrizes para a educação de surdos Decreto n° 5.626 de dezembro de 2005 – Essa lei apresenta as diretrizes para a educação de surdos e inclusão da Libras como disciplina curricular obrigatória em alguns cursos superiores e como disciplina curricular optativa para demais cursos. A lei regulamenta também a respeito da formação do professor de Libras e do instrutor de Libras. E também a formação do tradutor intérprete de Libras. Na videoaula, veremos que se destacam entre essas leis a lei 10.436 e o decreto 5.626, por oficializarem direitos essenciais aos surdos enquanto cidadãos: sua língua e educação. 2 Filosofias educacionais A seguir, apresentaremos as filosofias educacionais que permeam a história da educação de surdos. Oralismo A principal meta da filosofia oralista é a integração do surdo no mundo ouvinte. Para os adeptos dessa filosofia, a linguagem só pode ser desenvolvida através da língua oral. A língua oral deve ser a única forma de comunicação dos surdos. O oralismo vê a surdez como uma deficiência, que deve se minimizada através da estimulação auditiva. Com esta estimulação a criança aprende a língua portuguesa e, assim, se integra na comunidade ouvinte e desenvolve uma identidade ouvinte. O oralismo, então, objetiva a reabilitação da criança surda, tentando aproximá-la da normalidade. Utiliza várias metodologias sendo as mais importantes: Polack (unissensorial), Perdoncini e verbo-tonal (multissensorial). A metodologia de Polack é chamada unissensorial porque se utiliza apenas do estímulo auditivo no trabalho com surdos, ou seja, o surdo não tem nenhuma outra pista, que não o auditivo para entender o enunciado. O terapeuta coloca uma barreira, folha de papel ou outro objeto, na frente de seu rosto e diz o enunciado, e o surdo não tem pista visual do que lhe é dito. As metodologias Perdoncini e verbo-tonal são chamadas multissensoriais, porque, além do estímulo auditivo, o surdo tem acesso às pistas visuais, como expressão facial, corporal,
  • 22. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 5 mímica e até gestos (não é língua de sinais), visando à comunicação. Essas metodologias unissensorial e multissensorial se baseiam em pressupostos teóricos diferentes, mas possuem o mesmo objetivo: a oralização do surdo e a rejeição à língua de sinais. Nessa filosofia, o envolvimento da família é de suma importância, em que os pais devem atuar como “terapeutas da fala” da criança, em casa. O surdo, aqui, é visto no que lhe falta, ele é um corpo danificado que precisa ser recuperado. O surdo deve ser transformado em ouvinte ou “quase ouvinte”. A maioria dos seguidores do oralismo não considera a língua de sinais como língua. A literatura comprova que somente uma pequena parte dos surdos consegue dominar razoavelmente o português. Comunicação total Na década de 1960, com a insatisfação dos resultados obtidos no oralismo, foram feitas muitas pesquisas nos Estados Unidos, comparando filhos surdos de pais ouvintes e filhos surdos com pais surdos. Os filhos surdos de pais surdos eram expostos à língua de sinais desde pequenos e depois colocados em escolas oralistas. Percebeu-se que eles tinham melhor desempenho que os filhos surdos de pais ouvintes. Em 1960, estudos comprovaram que a língua de sinais tinha valor linguístico semelhante às línguas orais. A partir desses estudos e do descontentamento com o desenvolvimento das crianças surdas através do método oral começou e se pensar numa nova filosofia. O importante na comunicação total é o estabelecimento de uma comunicação efetiva entre o surdo e o mundo que o cerca. Para isso utiliza-se de recursos auditivos, visuais, manuais e orais, qualquer recurso que funcione na interação entre o falante e o surdo. Os profissionais da comunicação total percebem a surdez como uma marca que afeta as relações sociais, desenvolvimento cognitivo e afetivo do surdo. A comunicação total privilegia a comunicação e a interação e não apenas uma língua. Então ela se utiliza de vários recursos como a datilologia, o “cued-speech”1 , português sinalizado, léxico da língua de sinais na estrutura do português e também sinais inventados e o pidgin2 . Todos esses códigos manuais-visuais são utilizados concomitantemente à língua oral, sendo essa forma de comunicação chamada bimodalismo. Há, ainda, o trabalho de estimulação auditiva e de oralização, porém não é o principal objetivo e sim um dos meios 1 Sistema de comunicação utilizado com e entre surdos ou pessoas com deficiência auditiva. É baseado em fonemas e possibilita que as línguas faladas tradicionalmente sejam acessíveis por meio de um pequeno número de configurações de mãos (representando consoantes) utilizados em locais diferentes da face e próximo da boca (representando vogais). 2 Linguagem simplificada que se desenvolve como um meio de comunicação entre dois ou mais grupos que não têm um idioma em comum.
  • 23. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 6 para se conseguir a comunicação com o surdo. Nesse caso, a criança não é discriminada por não conseguir dominar a oralidade e nem por usar sinais. Entretanto, o que aconteceu na realidade foi que a oralidade continuou sendo o principal objetivo dos profissionais. Essa filosofia melhorou o desenvolvimento do surdo, mas não contemplou todos os problemas que aconteciam no oralismo. Bilinguismo O primeiro país a implantar o bilinguismo foi a Suécia, onde a língua de sinais, após a realização de pesquisas aprofundadas, obteve o status de língua. Os surdos começaram, então, a se organizar e a exigir o reconhecimento da Língua de Sinais como língua e sua utilização na educação. O pressuposto básico desta filosofia é que o surdo deve ser bilíngue, isto quer dizer que a língua de sinais será sua primeira, pois é a língua natural dos surdos, e a língua oficial do seu país como segunda língua. O conceito mais importante que a filosofia bilíngue traz é de que os surdos formam uma comunidade, com cultura e língua próprias. A noção de que o surdo deve, a todo custo, tentar aprender a modalidade oral da língua para poder se aproximar o máximo possível do padrão da normalidade é rejeitada por esta filosofia. Isto não significa que a aprendizagem da língua oral não seja importante para o surdo, ao contrário, este aprendizado é bastante desejado mas não é percebido como o único objetivo educacional do surdo nem como uma possibilidade de minimizar as diferenças causadas pela surdez. (GOLDFELD, 39, 1997) O bilinguismo busca conhecer os aspectos linguísticos, culturais, a forma de pensar e de agir dos surdos, não apenas os aspectos biológicos da surdez. No entanto, há divergências na aplicação do bilinguismo, destacando-se duas vertentes: uma que acredita que o surdo deve adquirir a língua de sinais e a língua oral concomitantemente, e depois ser alfabetizado na língua escrita. A outra acredita que o surdo deve primeiro aprender a língua de sinais e depois aprender a modalidade escrita da língua de seu país, sendo que a oralidade só será trabalhada se o surdo optar por isso. A aquisição da língua de sinais deve ser na interação com surdos adultos que dominem a língua. Os pais também devem aprendê-la. A língua oral, apesar de ser desejada pela família do surdo, seria a segunda língua dele, pois não é adquirida naturalmente, e sim através de técnicas específicas. É um aprendizado lento, pois necessita da audição para isso. Dessa forma, será sempre uma língua estranha para o surdo, nunca natural, pois o surdo não tem como monitorar a sua fala. Sendo assim, a língua de sinais é a única que pode promover o desenvolvimento global do surdo de maneira compatível com o ouvinte.
  • 24. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 7 Considerações finais Nesta unidade pudemos perceber o quanto questões relacionadas à uma minoria linguística, que são os surdos, envolvem política e cidadania. As leis regulam os direitos da pessoa surda, bem como a formação dos profissionais responsáveis por sua educação e difusão da língua de sinais. Porém sabemos que a legislação não assegura o cumprimento de suas disposições e muito menos fiscaliza a garantia dos direitos por ela estabelecidos. Nesse ponto, nosso sistema político e social tem muito a se desenvolver. Vimos ainda nessa unidade as tentativas de se encontrar um meio pelo qual os surdos recebessem educação como um todo. Infelizmente muitos traumas e conflitos foram gerados a partir desse processo. Algumas filosofias educacionais muitas vezes foram estabelecidas como oficiais para que fosse beneficiada apenas a parcela ouvinte e maioritária da sociedade, excluindo muitas vezes o fator identitário e humano do sujeito surdo. Dentre as filosofias citadas nesse texto, podemos citar o bilinguismo como o mais completo meio encontrado até agora de estabelecer as condições para um aprendizado eficaz. Percebemos que o bilinguismo trata muito mais do que a questão da língua, trata também a questão da identidade, do biculturalismo, do ser surdo, da questão visual, dos aspectos globais e positivos do surdo, porque vê o sujeito. Referências KLIMA, E. & U. Bellugi (1979). The Signs of Language. Cambridge, Mass: Harvard University Press. LABORIT, E. O Voo da Gaivota, 1994. Ed. Best Seller. LIDDELL, S. (2003). Grammar, Gesture, and Meaning in American Sign Language. Cambridge: Cambridge University Press. MORAL, S. Quebrando o silêncio. 2005. Ed. Ottoni. QUADROS, R. M. (1997). Aspectos da sintaxe e da aquisição da Língua Brasileira de Sinais. Letras de Hoje, 32(4): 125-146. SALLES, H.[et al.] Ensino de Língua Portuguesa para Surdos. Vol. 1, 2004. MEC. SKILIAR, C. A surdez um olhar sobre as diferenças. 1998. Ed. Mediação STRNADOVÁ, V. Como é ser surdo. 2000. Ed. Babel WILCOX, S. & P.Wilcox (1997). Learning to See. Washington, D.C.: Gallaudet University Press.
  • 25. Libras Aula 10 Cultura surda Objetivos Específicos • Apresentar fundamentos da cultura e identidade surda. Temas Introdução 1 Quem é o surdo? 2 Conhecendo melhor o surdo Considerações finais Referências Eduardo Pereira Silva Fábio de Sá e Silva Lilian Vania de Abreu Silva Olah Naiane Caroline Silva Olah Professores
  • 26. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 2 Introdução Osurdonãoémudo,nãoédeficiente,nãoéalienadomentaletambémnãoéumacópia malfeita do ouvinte. Ele é surdo, humano, autor e ator de inúmeros personagens... Maria Cecília de Moura / fonte: APAS- JABOTICABAL-SP Uma pessoa com deficiência deve ser vista como pessoa antes de sua deficiência. Para os surdos, sua identidade e língua são fatores que os representam e por onde demonstram seus inúmeros potenciais. O texto a seguir, organizado e elaborado por Lilian Olah, apresenta alguns fundamentos da cultura surda. Vale mais uma vez ressaltar que, assim como dito na aula 2, nem todas as características são aplicáveis a todos os indivíduos. 1 Quem é o surdo? As diferenças humanas Depoimento citado por Perlmutter (1986, apud Padden & Humphies, op.cit.), descrito por Sam Supalla, surdo. Sam nasceu numa família surda com muitos irmãos surdos, mais velhos que ele e, por isso, demorou a sentir a falta de amigos. Quando seu interesse saiu do mundo familiar, notou, no apartamento ao lado do seu, uma garotinha cuja idade era mais ou menos a sua. Após algumas tentativas, se tornaram amigos. Ela era legal, mas era esquisita: ele não conseguia conversar com ela, como conversava com seus pais e irmãos mais velhos. Ela tinha dificuldade de entender gestos elementares! Depois de tentativas frustradas de se comunicar, ele começou a apontar para o que queria ou, simplesmente, arrastava a amiga para onde ele queria ir. Ele imaginava como deveria ser ruim para a amiga não conseguir se comunicar, mas, uma vez que eles desenvolveram uma forma de interagir, ele estava contente em se acomodar às necessidades peculiares da amiga. Um dia, a mãe da menina aproximou-se e moveu seus lábios e, como mágica, a menina pegou a sua casa de boneca e moveu-a para outro lugar. Sam ficou admirado e foi para sua casa perguntar à sua mãe sobre, exatamente, qual era o tipo de problema da vizinha. Sua mãe lhe explicou que a amiga dele, bem como a mãe dela, eram ouvintes e por isso não sabiam sinais. Elas falavam e moviam seus lábios para se comunicar com os outros. Sam perguntou se somente a amiga e a sua mãe eram assim e sua mãe lhe explicou que era sua família que era incomum e não a da amiga. A outras pessoas eram como sua amiga e a mãe. Sam não possuía a sensação de perda. Imerso no mundo de sua família, eram os vizinhos que tinham uma perda, uma desabilidade de comunicação. Quebrar o paradigma da deficiência é enxergar as restrições de ambos: surdos e ouvintes. Por exemplo, enquanto um surdo não conversa no escuro, o ouvinte não conversa debaixo d’água; em local barulhento, o ouvinte não consegue se comunicar a menos que grite e, nesse caso, o surdo se comunica sem problemas. Além disso, o ouvinte não consegue comer e falar ao mesmo tempo, educadamente e sem engasgar, enquanto o surdo não sofre essa restrição.
  • 27. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 3 Nelson Pimenta, ator, surdo, brasiliense, declara que a surdez deve ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana, pois ser surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte, é apenas diferente. Se considerarmos que os surdos não são ouvintes com defeito, mas pessoas diferentes, estaremos aptos a entender que a diferença física entre pessoas surdas e pessoas ouvintes gera uma visão não limitada, não determinística de uma pessoa ou de outra, mas uma visão diferente de mundo, um “jeito ouvinte de ser” e um “jeito surdo de ser”, que nos permite falar em uma cultura da visão e a outra da audição. Skliar (1998:28) declara que caracterizar a cultura surda como multicultural é o primeiro passo para admitir que a comunidade surda partilhe com a comunidade ouvinte do espaço físico e geográfico, da alimentação e do vestuário, entre outros hábitos e costumes, mas que sustenta em seu cerne aspectos peculiares, além de tecnologias particulares desconhecidas ou ausentes do mundo ouvinte cotidiano. A partir das citações e informações sobre a identidade e cultura surda acima, apresentam- se algumas dicas e maneiras eficazes de como se comunicar corretamente com o surdo e compreender sua cultura: • Fale de frente, claramente e pausadamente com o surdo. Uma boa articulação dos lábios pode facilitar a comunicação. Lembrando que a atividade da leitura labial é muito cansativa e requer muita habilidade e conhecimento do contexto da conversa, da pronúncia de outras pessoas, iluminação, distância e que há palavras com a mesma articulação (exemplo: mala, bala, tala). • Não olhe para o outro lado ao conversar. O contato visual é importante. Quando se fala com um surdo e não se olha para ele, fica parecendo que a mensagem não é para ele. Obs: o olhar fixo e prolongado do surdo, durante a conversa, pode incomodar o ouvinte. • Não é preciso gritar. Use o labial com tom de voz normal ou, de preferência, sem som nenhum.
  • 28. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 4 Figura 1 • O surdo não pode perceber mudanças de tons ou de emoções através da voz. É preciso ser expressivo para demonstrar seus sentimentos. Obs: As pessoas ouvintes utilizam determinados gestos quando estão nervosas. A língua de sinais, que se baseia em gestos, poderá deixá-los com uma sensação desagradável, porque alguns sinais serão entendidos por eles como feios, mesmo que na realidade, estejam expressando outra coisa. • Se você não entender o que uma pessoa surda está falando, não tenha vergonha e não perca a paciência. Peça para repetir e, se for preciso, escrever. O mais importante é que exista a comunicação. Grande parte dos surdos não é infeliz por serem surdos, ou melhor, por não ouvirem. Eles ficam infelizes ou irritados quando passam por situações nas quais se sentem expostos e dependentes. Exemplo: o surdo fica numa posição humilhante principalmente quando o ouvinte demonstra a má vontade para ajudar. • Se precisar falar com uma pessoa surda chame a atenção dela tocando em seu ombro ou braço (de preferência no ombro). O surdo não tem nenhum problema em se tocar, mesmo quando se encontram pela primeira vez. O toque é uma das maneiras de chamar a atenção da pessoa surda. O toque deve ser leve, e jamais tocar na cabeça ou nas costas. Isso seria extremamente inconveniente. Para os ouvintes, isso causa embaraço, pois estão acostumados com o contato sonoro.
  • 29. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 5 Figura 2 • Os surdos têm uma excelente percepção visual e percebem qualquer movimento ao redor deles. Isso pode ser aproveitado para se fazer um contato com eles. Os ouvintes que desconhecem a cultura surda, geralmente não entendem o sentido dos acenos e não reagem a eles. • Como todo cidadão, o surdo tem direito à informação. A ausência de legendas nos noticiários e em outros programas de TV impede o conhecimento dos fatos. • Os avisos visuais são sempre muito úteis para a independência do surdo. A comunicação fica ainda melhor se forem com ilustrações. Na falta deles, o surdo terá maiores dificuldades. Figura 3
  • 30. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 6 Figura 4 • A iluminação, devido à comunicação essencialmente visual, é de extrema importância. Para o surdo, a ausência de luz representa a ausência de comunicação. O recurso da iluminação é usado para o surdo de várias formas. Exemplo: quando se toca a campainha da casa, acende-se um tipo, ou uma cor de lâmpada. Se o surdo não está ao alcance da sinalização luminosa, é possível que não abra a porta mesmo não estando em casa. Por isso, não desista. Aperte várias vezes a campainha. Quando o bebê chora no berço, um sensor faz com que uma lâmpada de cor diferente da campainha acenda, identificando que o bebê precisa de algo. 2 Conhecendo melhor o surdo Para o surdo, o contato com o mundo externo se dá através da visão. Por isso, a maioria dos surdos, ao entrar em um ambiente, observa tudo e todos que estão no local e olham ao redor com uma frequência bem maior e com mais atenção do que os ouvintes. Tem também a tendência de ficar com as costas viradas para a parede, numa posição defensiva; e se possível, num canto em que se posicione de frente para a porta para poder, com a visão, acompanhar todo e qualquer movimento. Se isso não for possível, olha frequentemente para trás. O ouvinte não conhecendo essa característica, poderá interpretar equivocadamente essa postura. Também poderá causar incômodo para o ouvinte que desconhece a cultura surda o olhar fixo e contínuo do surdo durante uma conversa, ou tentativa de comunicação, a fim de tentar entender o que o ouvinte está dizendo. O surdo, no geral, tende a ser bem-humorado (é importante ressaltar que, como qualquer ser humano, o surdo possui alterações de humor e personalidade); gostam muito de piadas, principalmente as que fazem referência à incompreensão da surdez pelo ouvinte. Podem descrever situações ou imitar pessoas com uma riqueza de detalhes e expressões impressionante, de maneira que se tornam excelentes atores enquanto simplesmente conversam. Para o ouvinte, tal prática requer muito treino e conhecimentos técnicos. Quando os surdos estão participando de alguma atividade com um grupo de ouvintes e não há nenhum intérprete para auxiliá-lo, a tendência é copiar o comportamento dos ouvintes (se o ouvinte ri, o surdo ri), mesmo sem entender o que está acontecendo, pelo medo de se sentirem socialmente excluídos.
  • 31. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 7 Figura 5 Devido à falta da audição, o surdo tem dificuldades em receber informações no tempo e na forma adequada para o desenvolvimento afetivo, social e intelectual de forma saudável e satisfatória. Com isso, seu comportamento algumas vezes pode não condizer com os padrões estabelecidos pela sociedade e sua percepção do mundo pode ser equivocada. Exemplo: Relato da mãe de um surdo que estava comemorando seu aniversário de 15 anos com alguns amigos em casa. Em um determinado momento, alguns de seus amigos precisavam ir embora. O garoto os acompanhou até o ponto do ônibus. Chegando próximo ao ponto, eles viram uma viatura da polícia e saíram correndo. Os policiais percebendo a atitude dos jovens ligaram a sirene e saíram em perseguição, mas como a casa ficava próxima, eles entraram na casa e se esconderam. Os policiais tocaram a campainha e a mãe, assustada, sai e pergunta o que estava acontecendo. Os policiais relatam o acontecido e pedem para trazer os jovens para fora, caso contrário eles entrariam na casa. A mãe pede para esperarem um minuto, explica que os garotos são surdos e que chamaria os garotos para conversar. Quando a mãe traz os garotos para fora pergunta: “Por que vocês correram?”. Eles respondem que na televisão todas as vezes que as pessoas viam policiais saíam correndo, então, eles pensaram que tinham que correr também. A mãe, que sabia Libras, pôde traduzir para os policiais e explicar o contexto, que eles assistiam a filmes, e entenderam que deveriam agir da mesma forma que viram na televisão. O conceito que o surdo tem de si mesmo é o que as pessoas (familiares, amigos, professores, médicos, intérpretes etc.) dizem que ele é. Na comunicação vale citar o relato de Emmanuelle Laborit, em seu livro O voo da gaivota (1994, p. 19), cuja ausência de linguagem entre zero e sete anos provocara seu isolamento.
  • 32. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 8 Creio que nada havia em minha cabeça, nesse período. Futuro, passado, tudo estava em uma linha do espaço de tempo. Mamãe dizia ontem... e eu não entendia onde estava ontem, o que era ontem. Amanhã também. E não podia perguntar-lhe. Sentia- me impotente (...). Havia a luz do dia, a escuridão da noite, mais nada. Até os sete anos não conseguia se comunicar: Até os sete anos, nada de palavra, nenhuma frase em minha cabeça. Imagens somente (...). Como tudo acontecia antes? Não tinha língua. Como pude me construir? (...). Pensava seguramente. Mas em quê? Em minha fúria de me comunicar. Quando Emmanuelle descobre que existe uma língua em que pode se comunicar e experimenta dar nome às pessoas e às coisas, descobre seu próprio nome. Antes falava de si na terceira pessoa “ela o escuta, ela não o escuta” o “eu” não existia. Eu era ela (...). Por causa da língua de sinais pôde dizer: “Eu, Emmanuelle, tendo assim uma identidade (...). Descobria o mundo que me cercava, e era eu que me encontrava no interior do mundo. (p.51) Laborit afirma que a língua de sinais é fundamental para que de fato o surdo consiga se comunicar, obter informação e compreender o que acontece ao seu redor. J.Schuyler Long, Diretor da Lowa School for the Deaf, diz em The sign language (1910) que a língua de sinais é uma língua bela e expressiva, e para a qual, na comunicação e como um modo de atingir com facilidade e rapidez a mente dos surdos, nem a natureza nem a arte lhes concedeu um substituto à altura. Quem não a entente não consegue perceber a quantidade de possibilidades que traz aos surdos, sua poderosa influência sobre a moral e a felicidade social dos que são privados da audição e seu admirável poder de levar o pensamento a intelectos que, de outro modo, estariam em perpétua escuridão. Tampouco conseguem avaliar o poder que ela tem sobre os surdos e que enquanto houver duas pessoas surdas sobre a face da terra e elas se encontrarem, elas usarão sinais. Em relação à escrita, nada melhor do que o próprio surdo para descrever o grande desafio e esforço que se apresenta no ato de escrever. Carlos Skliar em seu livro A surdez: um olhar sobre as diferenças (1998, p. 57) relata um fato narrado por L. de 40 anos: É tão difícil escrever, para fazê-lo meu esforço tem de ser num clima de despender energias o suficiente demasiadas. Escrevo numa língua que não é a minha. Na escola fiz todo esforço para entender o significado das palavras usando o dicionário. São palavras soltas elas continuam soltas. Quando se trata de pô-las no papel, de escrever meus pensamentos, eles são marcados por um silêncio profundo. Eu preciso decodificar o meu pensamento visual com palavras em português que tem signos falados. Muito há que é difícil ser traduzido, pode ser uma síntese aproximada. Tudo parece um silêncio quando se trata da escrita em português, uma tarefa difícil, dificílima. Esse silêncio é a mudança? Sim é. Fazer frases em português não é mesmo que fazê-las em Libras. Eu penso em Libras, na hora de escrever em português eu não
  • 33. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Libras 9 treinei o suficiente para juntar numa frase todas as palavras soltas. Agora no momento de escrever, eu escrevo diferente. Quando eu leio o que escrevo, parece que não tem uma coisa normal como a escrita ouvinte, falta uma coisa, não sei o quê. Não sei se o que escrevo são palavras minhas, elas são exteriores, não fazem parte de meu contexto. Parece não cair bem na frase, parece que a escrita do pensamento não dita o que quero dizer. Vezes sem contas parecem dizer-me coisas sem sentido. Considerações finais Vimos nessa unidade que os surdos possuem identidade e cultura. Aceitar um povo é aceitar sua língua e não querer que simplesmente se adeque aos padrões da maioria ouvinte da qual a sociedade é composta. Nesse texto também vimos a melhor maneira de se comunicar com o surdo caso desconheça a Libras, e também esclarecemos sobre os motivos das dificuldades dos surdos para escrever na língua portuguesa. Referências LABORIT, E. o Vôo da gaivota. Ed. Best Seller, 1994. OLAH, L. Curso básico de Libras. Ed. Senac, 2009. SKLIAR, C. A surdez um olhar sobre as diferenças. Ed. Mediação, 1998.