1. 1
HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA
DEFINIÇÃO: Resposta exacerbada a um estímulo sensorial (tátil, térmico ou
químico) que normalmente não causaria sensibilidade em um dente sadio.
NOMENCLATURA: A hipersensibilidade dentinária pode ser encontrada na
literatura com outros termos que definem, na verdade, o mesmo tipo de alteração:
Sensibilidade dental ou dentinária;
Hipersensibilidade dental ou dentinária;
Hipersensibilidade dentinária cervical;
Alodontia (Curro 1990);
Dentinalgia (Burman 1985).
EPIDEMIOLOGIA
Segundo Kanapka (1990) a hipersensibilidade dentinária afeta cerca de 40
milhões de adultos nos Estados Unidos. Gillam et al. (1994) foi mais longe; segundo o
autor, a hipersensibilidade dentinária é uma condição clínica dolorosa que acomete
35% da população mundial. Em 2002, Gillam constatou por meio de questionário
destinado a cirurgiões dentistas do Reino Unido, que 1 em cada 4 pacientes
demonstrava hipersensibilidade dentinária (83,4%).
Segundo Jolán Bánóczy (Dentin hipersensitivity - World Dental Congress –
Viena – 2002), embora a hipersensibilidade dentinária possa afetar até um entre três
adultos, poucos são os que se consultam com dentistas. Por outro lado, a maior
queixa dos pacientes que procuraram orientação é que não recebiam orientação e
tratamento dos dentistas.
EXPOSIÇÃO CERVICAL – Consideração anatômica
O esmalte dental é a estrutura mais mineralizada do corpo humano. Esta estrutura é
praticamente impermeável e recobre a dentina coronária, mostrando-se contínuo
desde o limite amelo-dentinário. O cemento recobre a dentina radicular, e modifica
sua espessura dependendo da localização: próximo à junção esmalte-cemento é mais
2. 2
delgado (20 a 50um) e torna-se mais espesso a medida que se aproxima do ápice da
raiz (150 a 200 um).
A relação entre o cemento e o esmalte na região cervical é variável:
1- Em 30% dos casos o cemento encontra-se com a extremidade cervical do esmalte
numa linha aguda;
2- Muito raramente o esmalte pode sobrepor-se ao cemento;
3- Em 60% o cemento recobre a extremidade cervical do esmalte.
4- Em 10% dos casos não existe a junção esmalte-cemento e uma zona de dentina
radicular
encontra-se
exposta. Ocorrendo
a
exposição
da dentina,
muito
provavelmente ocorrerá a hipersensibilidade dentinária e, assim, necessitará de
tratamento e acompanhamento profissional.
Quando ocorre a doença periodontal causada por acúmulo de placa bacteriana e
tártaro, a hipersensibilidade dentinária geralmente aumenta em função da
reabsorção óssea, perda de tecido cementário e da maior exposição e instrumentação
dentinária.
Dr. Diego Barreto
Dr. Diego Barreto
3. 3
“É importante destacar que o grau de hipersensibilidade dentinária pode
variar, dependendo da causa da dor, de paciente para paciente, de dente para dente
no mesmo paciente e até em áreas diferentes de dentina exposta no mesmo dente”
(Pereira et al, 1995).
MECANISMOS DA SENSIBILIDADE DENTINÁRIA
-
Teoria
da
inervação
da
dentina
ou
da
modulação
(substâncias
neurotransmissoras): Os primeiros pesquisadores acreditavam que a sensibilidade da
dentina era devido à presença de nervos nesse tecido. Com o uso de microscopia
óptica e com o uso de coloração com metais pesados tentaram demonstrar a presença
de nervos na dentina. Verificaram, com o decorrer do tempo, que isso constituía um
defeito de técnica e não a presença de nervo.
Outro argumento contra a inervação da dentina foi demonstrado por alguns
autores que falharam em tentar causar dor na dentina com auxílio de substâncias que
causam despolarização das células nervosas (acetilcolina) aplicadas à dentina recémcortada. Anderson & Brännström (1962) destacaram que a sensibilidade da dentina
não é destruída por nitrato de prata, ou pela aplicação direta de um analgésico local;
ou seja, a sensibilidade dolorosa da dentina é independente de suas células vivas.
- Teoria da transdução odontoblástica (sinapses): Os defensores desta teoria
argumentavam que os odontoblastos faziam sinapse com os nervos, mas na realidade
nunca se observou esse fato e as terminações dos odontoblastos não apresentam
vesículas sinápticas.
Estudos com microscópio eletrônico de varredura demonstraram que metade
ou dois terços dos canalículos dentinários apresentam-se sem odontoblastos. O
odontoblasto estende apenas um terço do comprimento dos canalículos e o resto é
preenchido com fluido semelhante ao líqüido intersticial. Este fato faz com que fique
impossível estimular diretamente um odontoblasto em determinadas áreas da
dentina e, muito menos, um nervo.
4. 4
- Teoria da vibração (estímulos ampliados e transmitidos): Segundo esta
teoria, os estímulos seriam capazes de provocar vibrações nos odontoblastos
localizados na periferia da polpa e, dessa forma, estimular as fibras nervosas até a
ocorrência da dor. Não se pode descartar totalmente esta teoria, entretanto, sabe-se
que túbulos dentinários sem prolongamentos dos odontoblastos, apenas com fluido
dentinário, transmitem a mensagem de dor, não dependendo da vibração.
Portanto, se nem todos os túbulos dentinários apresentam prolongamentos
dos odontoblastos; se nem todos os prolongamentos dos odontoblastos chegam ao
limite amelo-dentinário; e, se não há sinapse entre os odontoblastos e o plexo
nervoso, como explicar a sensibilidade dentinária?
- Teoria Hidrodinâmica de Brännström: Relaciona a dor à movimentação de fluidos
no interior dos túbulos, para fora e para dentro, estimulando por diferença de
pressão as terminações nervosas. Corresponde à teoria mais aceita para explicar o
fenômeno da sensibilidade dentinária.
Preparo cavitário - estímulo positivo que
pode provocar a dor, dependendo da
intensidade, do estado de vitalidade
pulpar e do limiar de dor.
Jato de ar – estímulo negativo em que o
fluido tenta sair, causando a dor.
Açúcar – estímulo iônico negativo (atrai
água).
Condensação do amálgama – estímulo
positivo (pressão).
A sensibilidade dentinária é dependente da estimulação de receptores
aferentes localizados na polpa, as fibras mecano-receptoras mielínicas do grupo Adelta. Assim, ela é sempre percebida como dor aguda ou primária e bem localizada.
Cabe destacar também, que o primeiro relato encontrado na literatura a respeito dos
movimentos dos fluidos no interior dos túbulos dentinários data de 1900
5. 5
(“Sensibilidade da dentina” - Movimento dos fluidos dentro dos túbulos dentinários.
GYSI, A. An attempt to explain the sensitiveness of dentin. Br J Dent Sci, 43: 865-8,
1900).
CAUSAS DA HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA
Exposição de dentina;
Túbulos abertos: ...”os dentes com hipersensibilidade apresentam na superfície
dentinária, até 8 vezes mais o número de túbulos abertos, e o diâmetro desses
túbulos é o dobro dos encontrados em uma dentina normal”... (Martin Addy, 2002);
Exposição radicular fisiológica (envelhecimento);
Exposição radicular patológica:
o
Escovação dental;
o
Má posição dental;
o
Trauma oclusal;
o
Doenças e tratamento periodontal;
Abrasão;
Erosão;
Abfração;
Associação de fatores:
Estudos in vitro, in situ e epidemiológicos evidenciam que a ingestão ácida
freqüente é fator dominante na prevalência da erosão dental (Nunn, 2000; Zero &
Lussi, 2000);
No ponto mais comum de ocorrência da hipersensibilidade dentinária, região
vestíbulo-cervical, há evidências que sugerem que a erosão ácida tem o potencial de
iniciar novas lesões (Addy, 2002);
Estudos também comprovam que, em alguns indivíduos consumidores de cerca
de 1 litro de refrigerante por dia, a remoção de esmalte na região vestíbulo-cervical
pode ser praticamente total em alguns anos (Hughes et al, 1999; Hooper et al., 2003);
A perda de esmalte nesses casos já fragilizados é ainda mais acelerada pela
escovação dental regular.
6. 6
ABFRAÇÃO – Lesões cervicais não cariosas
Definição: Perda fisiológica de tecido duro em
decorrência de forças biomecânicas que causam flexão
dental e conseqüente fadiga do esmalte e dentina em
local distante do ponto da carga oclusal (Grippo, J.O.
Abfraction: a new classification of hard tissues lesions
of teeth. J Esthet Dent, Ontario, v.3, n.1, p.14-19,
jan/feb. 1991).
Ab – distante, separação
fratio – quebra, rompimento
“Nenhum tipo de abrasão por escovação, nem mesmo erosão por ácidos pode
produzir lesão semelhante” (Bishop et al, 1997).
O conhecimento deste fenômeno tem apenas uma década, até então as lesões
deste tipo que surgiam na região cervical eram confundidas com lesões de erosão ou
abrasão.
INCIDÊNCIA
98% na face vestibular
68.8% em premolares
12% em molares
11.6% em caninos
7,4% em incisivos
(Azevedo, 1994)
CÁRIE
Cuidado: A sensibilidade dentinária nem sempre está associada a uma lesão
não cariosa. As lesões de cárie agudas são de evolução rápida e muito sensíveis,
podendo confundir o diagnóstico de hipersensibilidade dentinária.
7. 7
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA
Dor aguda e curta;
Dor provocada por estímulo térmico, químico, tátil ou volátil;
Dor que geralmente desaparece com a remoção do estímulo;
Período de remissão espontânea;
DIAGNÓSTICO
Na ausência de outra patologia local, o desaparecimento da dor ocorre
imediatamente após a remoção do estímulo;
Radiograficamente não apresenta evidência de patologia periapical;
Síndrome do dente Gretado;
Pulpite reversível.
MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO
História da dor (cronologia, natureza, localização, irradiação e fatores de
exacerbação e redução);
Percussão
Palpação
Inspeção do dente
Teste térmico (elétrico)
Rx
PREVENÇÃO DA HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA - PROFISSIONAIS
Evitar instrumentar em excesso as superfícies radiculares;
Evitar polir em excesso as raízes expostas;
Cuidado com o acabamento de restaurações cervicais;
Evitar violar o espaço biológico – Prótese;
Clareamento – indicação e uso de dessensibilizantes;
Restaurações supragengivais;
Proservação.
8. 8
PREVENÇÃO DA HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA - PACIENTES
Correta técnica de higiene oral;
Evitar hábitos parafuncionais;
Pouca quantidade de creme dental;
Escovação suave e com cerdas macias;
Evitar a escovação imediata após alimentos ácidos;
Não palitar os dentes;
Procurar um dentista com freqüência;
TRATAMENTO – REQUISITOS DO AGENTE DESSENSIBILIZANTE
Não irritante a polpa;
Fácil aplicação;
Bem tolerado pelo paciente;
Custo acessível;
Efeito imediato e duradouro;
Não promover manchamento do dente.
TRATAMENTO
Remoção das causas
Anti-inflamatório
Efeito oclusivo dos canalículos dentinários
o Precipitação de proteínas (podem exercer efeito duplo)
Nitrato de prata – “coagula” prolongamentos de Tomes
Formalina 40% - irritante á polpa, não mancha
Cloreto de zinco 40% - aplicação por fricção
o Deposição de partículas
Bruxismo
hidróxido de cálcio
compostos fluoretados
Flúor
Sais de estrôncio (Cloretos e Acetatos)
9. 9
Oxalato de potássio e Oxalato de ferro – esfregar:
Por terem grande afinidade com os íons cálcio e fosfato presente
no líquido dos túbulos dentinários, reagem e formam cristais
insolúveis que se depositam na abertura dos túbulos expostos,
obliterando-os e bloqueando o fluxo osmótico. Isto impede que
os estímulos externos atuem sobre os sensores nervosos,
evitando a dor.
o Aplicação de película impermeabilizadora - Vedamento tubular:
Adesivos com condicionamento ácido ou autocondicionantes.
o Procedimentos restauradores – Vedamento marginal.
o Aplicação de laser.
Cirúrgico – Co2
Terapêutico – diodo (635nm a 850nm)
- He-Ne (632,8 nm)
- ArGaAl ( 780 nm e 830 nm)
Despolarização das terminações nervosas - age diretamente nas fibras A-Delta
o Sais de Potássio – Cloretos, Citratos e Nitratos
Nitratos de potássio – A recomendação para o uso de moldeiras é o uso de 5% de
nitrato de potássio e flúor, sem lauril sulfato de sódio (formação de espuma)
Câmara Técnica de Cosméticos –CATEC: Parecer Técnico nº 4, de 6/7/2005
Nitrato de potássio – 5,0%
Citrato de potássio – 5,5%
Cloreto de potássio – 3,7%
CLAREAMENTO DENTAL – CUIDADOS:
Avaliar se há sensibilidade prévia;
Avaliar a intensidade;
Escolher a técnica de clareamento mais adequada;
Utilizar dessensibilizantes antes e após o procedimento;
Acompanhamento profissional.