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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                            59
         (Corresponde ao vigésimo-terceiro tópico do Capítulo 7,
             intitulado Alterando a estrutura das sociosferas)




                 Não-empresas-hierárquicas

Redes de stakeholders – demarcadas do meio por membranas (permeáveis
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negócios dos mundos que já se anunciam

A empresa tradicional se baseava na capacidade de aprisionar o
conhecimento, deter o segredo, guardar a fórmula a sete chaves. Só que
nós – os hackers e os netweavers - estamos encontrando "O Chaveiro"
(aquele programa do filme dos irmãos Wachowski (2003), The Matrix
Reloaded, interpretado por Randall Duk Kim). E nenhuma empresa
conseguirá, sozinha, se manter na ponta da inovação (sem o que verá suas
chances de futuro se reduzirem ou não será sustentável) sem lançar suas
"hifas" para importar capital humano (conhecimento) e social (relações) do
ambiente onde existe. Duzentos cérebros aprisionados trabalhando para um
dono não podem competir com vinte mil cooperando livremente para
encontrar uma solução (de gestão, processo ou produto).

Observe-se que estamos falando disso que chamam de 'Economics', mas
sem manter uma posição genuflexória em relação aos princípios ideológicos
proclamados por esses novos sacerdotes da modernidade conhecidos como
‘economistas’. Um desses princípios, muito conveniente para os
privatizadores de conhecimento (como Bill Gates) é aquele que reza que o
principal incentivo para a inovação é o interesse material egotista (toda
economia ortodoxa, como se sabe, se baseia na idéia de que o
comportamento da sociedade pode ser explicado a partir do comportamento
dos indivíduos, que os indivíduos se comportam fazendo escolhas racionais
a fim de maximizar a obtenção dos seus interesses e que esses interesses
são sempre, ao fim e ao cabo, egotistas. Isso é alguma coisa parecida com
religião, et pour cause).

Bem, mas então o Sr. Gates diz isso. E a realidade mostra que o mundo não
funciona (mais) assim (se é que alguma vez funcionou). Os grandes
inovadores da humanidade – em sua maioria – nunca agiram assim.
Descobriram coisas porque deram curso àquela surpreendente capacidade
humana de se maravilhar com o desconhecido e de caminhar na escuridão
em direção à luz (ainda que isso possa soar, para alguns, anacronicamente
iluminista, a figura de linguagem parece perfeita). E polinizaram com suas
descobertas outras descobertas. Toda inovação surge, dessarte, por
polinização mútua, por fertilização cruzada. Ora, isso não acontece nos
marcos do jogo comercial de interesses e nem poderá acontecer, no volume
exigido pelo ritmo alucinante das inovações contemporâneas, apenas dentro
de uma unidade fechada de aprisionamento de corpos e de cérebros (como
a empresa como unidade administrativo-produtiva isolada). Isso ocorrerá,
cada vez mais, dentro de redes de stakeholders que serão as novas
comunidades de negócios do mundo que já se anuncia, demarcadas do
meio por membranas (permeáveis ao fluxo) e não por paredes opacas.

A aplicação e o esforço devem ser remunerados, mas não o conhecimento.
Ninguém, a rigor, é dono do conhecimento, que é sempre resultante de um
processo coletivo. Alguma coisa “rodou” naquela nuvem que chamamos de
mente (e que não está restrita ao nosso cérebro, é uma cloud computing
social).

Sua avó lhe cobrou pela receita daquela magnífica geléia? Não? Então por
que você não pode fazer o mesmo? Ah! Ela então deu a receita para o



                                    2
próprio neto, mas não a daria para o neto de outra avó? Por quê? Porque a
estrutura familiar, no caso, privatizou o capital social. Não é preciso grande
esforço para perceber que, do ponto de vista social, isso gerou
improdutividade, diminuiu a intensidade do fluxo econômico. E que, como
conseqüência, muitos perderam enquanto todos poderiam ganhar.

Sim, isso é pura sócio-economia. Economia do capital social. Nossa
produtividade aumentaria muito se o capital social – que é uma espécie de
recurso sistêmico que enseja a geração dos outros capitais (para continuar
com a metáfora, além dos capitais propriamente ditos, como o físico e o
financeiro, aquel’outros que são considerados externalidades pelos
economistas: como o capital natural, o capital humano e o social) – não
fosse privatizado. Isso quer dizer que aumentaria a geração de valor... para
todos!

Não parece ser verdade, como pensam alguns, que a peer production seja
coisa para um futuro longínquo. Temos hoje milhares de produtos (bens
intangíveis e inclusive tangíveis) sendo produzidos assim. Nem é necessário
insistir nos exemplos sempre citados do Linux ou do Apache (et pour cause,
novamente). Basta ver como surgiu quase toda a produção científica:
retrocederíamos à idade da pedra sem a peer production.

Por certo, muitos mundos ainda não são assim. Mas as tendências apontam
nessa direção. Na medida em que a privatização do conhecimento vai se
tornando, cada vez mais, impraticável, vão perdendo sentido os esquemas
que visam o seu aprisionamento. E assim como está ficando cada vez mais
difícil aprisionar o conhecimento, ainda há outra evidência que corrobora
essa hipótese: o conhecimento aprisionado estraga. É um bem que cresce
quando compartilhado e decresce e perde valor quando não se modifica
continuamente pela polinização.




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 59 (Corresponde ao vigésimo-terceiro tópico do Capítulo 7, intitulado Alterando a estrutura das sociosferas) Não-empresas-hierárquicas Redes de stakeholders – demarcadas do meio por membranas (permeáveis ao fluxo) e não por paredes opacas – são as novas comunidades de negócios dos mundos que já se anunciam A empresa tradicional se baseava na capacidade de aprisionar o conhecimento, deter o segredo, guardar a fórmula a sete chaves. Só que nós – os hackers e os netweavers - estamos encontrando "O Chaveiro" (aquele programa do filme dos irmãos Wachowski (2003), The Matrix Reloaded, interpretado por Randall Duk Kim). E nenhuma empresa conseguirá, sozinha, se manter na ponta da inovação (sem o que verá suas chances de futuro se reduzirem ou não será sustentável) sem lançar suas
  • 2. "hifas" para importar capital humano (conhecimento) e social (relações) do ambiente onde existe. Duzentos cérebros aprisionados trabalhando para um dono não podem competir com vinte mil cooperando livremente para encontrar uma solução (de gestão, processo ou produto). Observe-se que estamos falando disso que chamam de 'Economics', mas sem manter uma posição genuflexória em relação aos princípios ideológicos proclamados por esses novos sacerdotes da modernidade conhecidos como ‘economistas’. Um desses princípios, muito conveniente para os privatizadores de conhecimento (como Bill Gates) é aquele que reza que o principal incentivo para a inovação é o interesse material egotista (toda economia ortodoxa, como se sabe, se baseia na idéia de que o comportamento da sociedade pode ser explicado a partir do comportamento dos indivíduos, que os indivíduos se comportam fazendo escolhas racionais a fim de maximizar a obtenção dos seus interesses e que esses interesses são sempre, ao fim e ao cabo, egotistas. Isso é alguma coisa parecida com religião, et pour cause). Bem, mas então o Sr. Gates diz isso. E a realidade mostra que o mundo não funciona (mais) assim (se é que alguma vez funcionou). Os grandes inovadores da humanidade – em sua maioria – nunca agiram assim. Descobriram coisas porque deram curso àquela surpreendente capacidade humana de se maravilhar com o desconhecido e de caminhar na escuridão em direção à luz (ainda que isso possa soar, para alguns, anacronicamente iluminista, a figura de linguagem parece perfeita). E polinizaram com suas descobertas outras descobertas. Toda inovação surge, dessarte, por polinização mútua, por fertilização cruzada. Ora, isso não acontece nos marcos do jogo comercial de interesses e nem poderá acontecer, no volume exigido pelo ritmo alucinante das inovações contemporâneas, apenas dentro de uma unidade fechada de aprisionamento de corpos e de cérebros (como a empresa como unidade administrativo-produtiva isolada). Isso ocorrerá, cada vez mais, dentro de redes de stakeholders que serão as novas comunidades de negócios do mundo que já se anuncia, demarcadas do meio por membranas (permeáveis ao fluxo) e não por paredes opacas. A aplicação e o esforço devem ser remunerados, mas não o conhecimento. Ninguém, a rigor, é dono do conhecimento, que é sempre resultante de um processo coletivo. Alguma coisa “rodou” naquela nuvem que chamamos de mente (e que não está restrita ao nosso cérebro, é uma cloud computing social). Sua avó lhe cobrou pela receita daquela magnífica geléia? Não? Então por que você não pode fazer o mesmo? Ah! Ela então deu a receita para o 2
  • 3. próprio neto, mas não a daria para o neto de outra avó? Por quê? Porque a estrutura familiar, no caso, privatizou o capital social. Não é preciso grande esforço para perceber que, do ponto de vista social, isso gerou improdutividade, diminuiu a intensidade do fluxo econômico. E que, como conseqüência, muitos perderam enquanto todos poderiam ganhar. Sim, isso é pura sócio-economia. Economia do capital social. Nossa produtividade aumentaria muito se o capital social – que é uma espécie de recurso sistêmico que enseja a geração dos outros capitais (para continuar com a metáfora, além dos capitais propriamente ditos, como o físico e o financeiro, aquel’outros que são considerados externalidades pelos economistas: como o capital natural, o capital humano e o social) – não fosse privatizado. Isso quer dizer que aumentaria a geração de valor... para todos! Não parece ser verdade, como pensam alguns, que a peer production seja coisa para um futuro longínquo. Temos hoje milhares de produtos (bens intangíveis e inclusive tangíveis) sendo produzidos assim. Nem é necessário insistir nos exemplos sempre citados do Linux ou do Apache (et pour cause, novamente). Basta ver como surgiu quase toda a produção científica: retrocederíamos à idade da pedra sem a peer production. Por certo, muitos mundos ainda não são assim. Mas as tendências apontam nessa direção. Na medida em que a privatização do conhecimento vai se tornando, cada vez mais, impraticável, vão perdendo sentido os esquemas que visam o seu aprisionamento. E assim como está ficando cada vez mais difícil aprisionar o conhecimento, ainda há outra evidência que corrobora essa hipótese: o conhecimento aprisionado estraga. É um bem que cresce quando compartilhado e decresce e perde valor quando não se modifica continuamente pela polinização. 3