Camaro visita encontro de Opaleiros no Bairro Milionários
1. E STA D O D E M I N A S ● S Á B A D O , 2 7 D E M A R Ç O D E 2 0 1 0
8 VEÍCULOS
Leia
PORSCHE CELEBRA 60 ANOS FLAGRAMOS A MULA
DE PRODUÇÃO NA ALEMANHA DO NOVO CITROËN C3
Fábrica de Zuffenhausen ultrapassou a Disfarçada sob a carroceria do modelo
também...
marca de um milhão de unidades, atual, plataforma do novo hatch está
feitas desde 1950. sendo testada no Brasil.
● CADERNO 2 ● CADERNO 2
PORSCHE/DIVULGAÇÃO WAGNER FIGLIOLO/ESP. EM/D.A PRESS
DEPOIMENTO
FOTOS: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS
Muscle Car vai ao encontro de
opaleiros no Bairro Milionários e
relata a experiência de
rever primos mais velhos e fãs que
aguardam sua chegada ao Brasil
como importado Opaleiros do
Barreiro
observam com
admiração
motor V8 do
Camaro
Visita ilustre
CHEVROLET CAMARO (*) opaleiros que se reúnem para observar minhas entranhas,
meu motor. Máquinas digitais, celulares, sorrisos, dedos. Não
Subir a Avenida Nossa Senhora do Carmo depois das 18h faltam meios para me tocar e registrar. Não me aborreço, se
não é uma boa. Quem pensou em me guiar por esse trajeto, quisesse ser discreto não teria essas formas, esse tamanho e
provavelmente, não sabe do que sou capaz. Desde que saí da principalmente essa potência: 406cv, provenientes do V8
garagem do jornal, no Bairro Funcionários, não consigo mos- (leia todos os dados no teste que fizeram comigo nas pá-
trar nem um átimo do que guardo sobre meu imenso capô. ginas 1, 4 e 5).
O trânsito é um caos. Escuto repórter e fotógrafo comentan- Sinto-me em casa. Os carros perfilados são da família, co-
do onde pretendem me levar: para um encontro de Opalas, mo primos distantes e estão todos vestidos de gala para o en-
na Praça do Cristo, no Bairro Milionários. contro, ostentando a gravata-borboleta. Aliás, o motivo de
O trânsito é confuso, um caos na verdade, falavam da che- minha passagem por essas bandas é que vou ser importado
gada a um Anel Rodoviário e vislumbrei uma pista próxima oficialmente para o Brasil. Terra que cultiva uma paixão espe-
às minhas condições. Ilusão, pois estava tudo congestionado. cial por carros como eu. Basta ver o frenesi que ando desper-
Depois de quase uma hora de arranca e para, chego em um tando por aqui. Chego a pensar que sou uma estrela de Ho-
local bacana, com uma bela vista da cidade e uma imensa es- llywood e não um corriqueiro muscle car, feito para acelerar,
tátua do Cristo Redentor. Ao redor da praça vejo que vários de pouco mais de US$ 30 mil, fabricado em uma planta do
Opalas aguardam minha chegada. Estacionam-me aos pés da gelado Canadá. Cada quarteirão é um flash. Quando parado,
estátua, com a traseira virada para a cidade. Aos poucos, os torno-me um monumento.
Antigas gerações fizeram muito sucesso nos EUA, mas atual mantém a aura mística Opalas vão parando ao meu lado. O dono de um ajuda o ou- Sobre a minha relação com meus primos Opalas, que vêm
tro a manobrar e todos ficam posicionados. Abrem meu ca- do meu antepassado: para quem não sabe, fui apresentado
pô, acendem todas as minhas luzes e ainda pisam no acele- ao mundo em 1967, passei algumas gerações até ter a produ-
rador com o simples intuito de que eu berre e faça barulho ção encerrada em 2002, com quase 4,8 milhões de unidades
para o delírio da turma. vendidas. Nessa primeira etapa da minha passagem pelas
“Cabe no meu Opala”, é a primeira frase que escuto dos pistas e estradas, fui equipado com motores seis cilindros em
linha, 3.8 e 4.1, semelhantes aos dos Opalas. É claro que, além
desses, tive vários outros propulsores, mas esse elo com os
brasileiros ficou na lata.
Depois de anos no limbo, sem ser produzido, ressuscitaram
minha espécie. Sou outro carro, mais moderno, com design di-
ferente, mas com a mesma aura. “Quando projetavam, diziam
que poderia dar origem a um novo Opala”, diz um dos opalei-
ros que me rodeiam se referindo à minha recriação. Se é verda-
de? Não sei. Outro completa, transformando meu capô em
uma mesa de bar: “Se recriarem o Opala como fizeram com o
Camaro, sou contra. O preço seria um absurdo”. A discussão
não cessa: “Acho que seria um sonho. Faria de tudo para com-
prar um, mas jamais venderia meu Opala”, completa outro.
São sete Opalas reunidos, todos fazem parte do Barreiro
Opala Clube, é o que escuto da conversa entre os donos e o
repórter, que instiga os opaleiros sobre o consumo de seus
carros e aproveita para falar sobre minha sede voraz. Benfei-
to, ele escuta de bate-pronto uma resposta desaforada:
“Quem tem Opala não liga para consumo. Nem olha isso”, diz
um. Quem compra um carro da minha espécie deve compar-
tilhar o mesmo pensamento.
Estão presentes seis Opalas com motor quatro cilindros,
três de 1979, um de 1978, outro de 1972 e um de 1968. Tem
também um 1991 com motor de seis cilindros. O clube tem
800 carros e não há preconceito, conta o presidente Beto, que
diz que aceita desde veículos com placa preta até carro tuna-
do. O site é www.bareiroopalaclube.com.br
● (*) Texto: Daniel Camargos
Opalas lustram a gravata borboleta para receber primo famoso