O documento discute os conceitos de feio e bonito na arte e na sociedade. Apresenta como o feio foi associado ao mal na Idade Média e como artistas modernos como Van Gogh valorizaram o feio como forma de expressão. Também discute os padrões atuais de beleza e como eles exercem pressão social.
4. Associação entre o FEIO e o MAU
•As personagens más das
estórias infantis são feias tais
como as bruxas, por exemplo,
enquanto as heroínas são
formosas.
5. • Satanás é representado em formas monstruosas
nas catedrais góticas e sua feiúra tem por
finalidade colocar o fiel no caminho da virtude
através do medo.
6. Gárgulas
• Na idade média, elas eram vistas como figuras
monstruosas, animalescas ou humanas que estavam
sempre presentes na arquitetura de estilo gótico.
Segundo crenças antigas, as gárgulas eram colocadas nas
Catedrais Medievais para simbolizar que o demônio
jamais dormia e estava sempre de olho, exigindo a
atenção redobrada das pessoas, mesmo estando em solo
sagrado.
7. A moral do belo e do feio
• A origem (não intencional) da associação do feio ao
mal foram as teorias de Platão , as quais associavam
o belo ao bom e ao verdadeiro. Para Platão, o belo
seria a manifestação do bem.
• Se o belo é a exposição da verdade em nosso mundo,
então, por conseqüência, o feio só poderia ser a
manifestação do mal. Platão não disse isso, mas é
um corolário aceitável. A imensa disseminação das
teorias de Platão sobre o belo, em toda a filosofia
posterior, carregou consigo o feio como a um
inimigo subliminar, porém indissociável.
8. • O potencial da beleza de "desvirtuar as almas" já ficou
claro no pensamento teológico durante a própria Idade
Média. A denominada guerra Iconoclasta no século VIII,
por exemplo, foi uma guerra entre:
• A) os que defendiam a decoração dos templos cristãos e
• B) os que defendiam que esta decoração poderia se
tornar uma fonte de distração, de prazeres e pecado.
• Os mosaicos coloridos, os ícones dos santos, os vitrais
luminosos, etc., tudo isso poderia levar o fiel, segundo os
teólogos medievais iconoclastas, a buscar não o paraíso
mas, sim, o prazer terreno da apreciação estética.
• Sendo assim, podemos afirmar que a beleza nem sempre
é a manifestação do bem ou da divindade.
O potencial sedutor da beleza
9.
10. • A própria mitologia grega já apresenta inúmeras
passagens onde o belo é usado como uma fonte ou
instrumento de desgraça e de morte. Ulisses, por
exemplo, quando retorna para a Ática, depois da
guerra de Tróia, passa pela terrível provação de ter
de resistir ao belíssimo e apaixonante canto
das sereias. Estes seres mitológicos atraíam os
marinheiros para a morte. Os que ouviam o seu belo
canto enlouqueciam e pulavam na água, morrendo
afogados, ou então naufragavam os barcos, tentando
chegar até a ilha dos monstros.
11. A lenda conta que a linda sereia,
costuma atrair os homens com seu
canto, até o fundo dos rios, local de
onde nunca mais voltam.
Consegue se transformar num lindo, alto e forte jovem.
Ele usa um chapéu branco para encobrir o rosto e
disfarçar o nariz grande. Vai a festas e bailes noturnos ,
aproxima-se das jovens desacompanhadas, seduzindo-
as para um passeio no fundo do rio, local onde costuma
engravidá-las.
12. O feio é o diferente
• Além da definição do feio enquanto
uma característica formal percebida
nas coisas, há uma segunda
conceituação acerca da feiúra. Trata-
se de uma definição que poderíamos
intitular de narcísica.
• Narciso era um herói grego de
extraordinária beleza. Por isso, atraía
o amor de todos, mas a todos
desprezava. Depois da ninfa Eco
morrer de amores por ele, para dar
uma lição ao rapaz, a deusa Afrodite
faz com que ele se apaixone pelo
próprio reflexo em uma lagoa.
Incapaz de retirar-se de defronte de
sua própria imagem refletida na
água, Narciso definha e morre.
13. Conceitos:
• Feio: o feio é tudo aquilo que é, formalmente,
desordenado, assimétrico ou desproporcional.
Assim o feio é a deterioração ou a
desorganização da forma. Em outras
palavras, o feio é tudo aquilo que não é
formalmente perfeito.
• Bonito:é a manifestação formal da ordem, da
simetria e da proporção.
14. • Simetria: é definida como tudo aquilo que
pode ser dividido em partes, sendo que
ambas as partes devem coincidir
perfeitamente quando sobrepostas.
• De acordo com esta teoria, nossa percepção
procura, a um nível inconsciente, pela
forma organizada. Isto é, nós tendemos a buscar
semelhanças e proximidades entre os fenômenos
visuais, por exemplo, como uma maneira de
compreender o mundo, dar-lhe significado.
19. Alguns exemplos do feio formal em cabeças desenhadas
por Leonardo da Vinci .Podemos perceber claramente
nestes desenhos a evidente desproporção e assimetria dos
rostos.
A desproporção no formato
do queixo desta figura é um
exemplo do feio formal.
Leonardo da Vinci, "Perfil
grotesco", c. 1487-90,
desenho.
fonte: Wikipedia.
Rosto assimétrico e
desproporcional.
Leonardo da Vinci, "Cabeça
grotesca", c. 1480-1510,
carvão vermelho sobre papel,
17,2 x 14,3 cm.,
Biblioteca Real do Castelo de
Windsor,
fonte: Wikipedia.
20. Leonardo da Vinci, "Cinco caricaturas de
cabeças", após 1490, pena e tinta sobre
papel, 18 x 12 cm.
Accademia de Veneza, Itália,
fonte: Wikipedia.
Leonardo da Vinci, "Cinco cabeças
grotescas", c. 1494, pena e tinta sobre
papel, 261 x 206 cm.
Biblioteca Real, Castelo de Windsor,
Inglaterra,
fonte: Wikipedia.
21. Em todos os seres vivos também ocorrem alterações
genéticas, as quais podem ser consideradas feias porque
são formalmente diferentes do padrão morfológico
daquela espécie.
22. Gostar do feio
• A assunção da arte moderna, no início do
século XX, - a qual mudou o panorama da
arte contemporânea mundial - surgiu, em
parte, como uma revolta contra o belo
clássico.
• Dentre os muitos aspectos conceituais
ligados à esta revolta cultural, um, em
particular, nos interessa: a valorização do
feio enquanto produto cultural
intencionalmente buscado.
• O sucesso das chamadas vanguardas foi
tão retumbante nesta empreitada que
hoje é quase uma heresia colocar em uma
mesma frase o nome de Van Gogh e a
palavra "feio". Entretanto, parte do que
motivou a rejeição dos contemporâneos
de Van Gogh à sua arte foi, justamente,
esta inconformidade do pintor holandês
para com os padrões estéticos da beleza
formal, simétrica e proporcional. A
pintura de Van Gogh é, formal e
intencionalmente, feia.
Doze girassóis numa jarra (1889) - Um
dos mais conhecidos quadros da série de
girassóis que van Gogh começou a
pintar em Arles.
23. • Entretanto, nesta recusa da beleza clássica reside
seu maior valor. Através da feiúra, Van Gogh nos
mostrou que existem outros valores possíveis na
arte, além da beleza. Muitas vezes, um artista
deforma o objeto de sua pintura, para que esta
pintura expresse mais intensamente a emoção que o
artista está sentindo. Isto é, o artista moderno
trocou a beleza pela expressividade.
• Esta atitude criativa teve muitas conseqüências e
desdobramentos culturais. Uma destas
conseqüências é que, hoje em dia, nós, apreciadores
contemporâneos, aprendemos a gostar do que é
feio. Isto é, a partir dos vanguardistas, nós
aprendemos a aceitar, em arte, aquilo que não é
belo, clássico. Nós aprendemos a buscar outros
valores artísticos, para além da beleza.
24. O feio e a cultura atual
• A indústria dos cosméticos, da cirurgia plástica e das
academias de ginástica prolifera como cogumelos depois
da chuva. Assim, embora nós evitemos usar palavras tais
como "gordo" ou "velho", por exemplo, para nos
referirmos às outras pessoas, por outro lado, gastamos,
anualmente, milhões de dólares em produtos para reduzir
a barriguinha proeminente ou as rugas em nossa face.
• Em nossa cultura atual, gostemos ou não, há uma grande
pressão social em prol das formas que são
anatomicamente mais próximas de um determinado
padrão morfológico do corpo humano, qual seja, magro e
jovem.
27. • Podemos e devemos discordar deste padrão
cultural atual de beleza e de feiúra. Podemos e
devemos trabalhar culturalmente para diminuir
o seu impacto social, mas não podemos negar
que este padrão existe, e que impera em nossa
sociedade.