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01 ENTREVISTA RUY OHTAKE




                           CONHECIMENTO
                                                                                   e liberdade
                           Com cinco décadas de carreira, o arquiteto Ruy Ohtake continua
                                   em busca de ousadia e independência em seus projetos
                                                TEXTO Katia Calsavara FOTOS Toni Pires


                                Aos 72 anos, o paulistano Ruy Ohtake, filho da célebre artista plástica Tomie Ohtake, segue como um

                           dos mais atuantes profissionais da arquitetura contemporânea no país. Discípulo de nomes como Vilanova

                           Artigas (1915-1985) e Oscar Niemeyer, e formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

                           de São Paulo (FAU-USP) em 1960, ele é incansável na busca pela inovação e por soluções técnicas diferencia-

                           das em seus projetos. Costuma dizer que “o consenso é o principal adversário do artista”. Talvez por isso, não

                           tenha receio de polêmicas e busque valorizar ao máximo o impacto de suas obras no espaço urbano.

                                Projetos como o do Hotel Unique (1999) e o do edifício do Instituto Tomie Ohtake (1995), em São Paulo,

                           são apenas alguns exemplos de ousadia, com suas surpreendentes formas e cores. Também são de autoria

                           do arquiteto obras tão diversas quanto a Embaixada do Brasil no Japão (1981), o Brasília Alvorada Park Hotel

                           (1998), em Brasília, o Aquário (2008), em Mato Grosso do Sul, o parque aquático The Waves (1988), em São

                           Paulo, e o Parque Ecológico do Tietê (1975, reformulado em 2008), também em São Paulo, entre muitos

                           outros. O livro Ruy Ohtake – Arquitetura e a Cidade, recém-lançado pelo Instituto Tomie Ohtake, reúne mais

                           de 80 projetos do artista.

                                O arquiteto recebeu a equipe de Docol Magazine em seu escritório, na capital paulista. Em um bate-

                           papo descontraído, falou sobre sua carreira, sobre a necessidade de liberdade na arquitetura e mostrou-se

                           encantado com projetos como o da revitalização de Heliópolis e do Hotel Unique. Nessas páginas, um apa-

                           nhado da vitalidade de Ruy Ohtake.
01 ENTREVISTA RUY OHTAKE




                                               DOCOL MAGAZINE – Como a convivência do senhor com as                           mo dia 15 de dezembro, aniversário dele. Há mais de 30 anos eu
                                               artes plásticas desde a infância o influenciou?                                vou lá na mesma data. As visitas começaram quando eu ainda
                                               RUY OHTAKE – Foi muita molecagem para abrir a cabeça... Pelo                   era recém-formado; eu aparecia sem marcar nada, só ligava
                                               fato de a minha mãe ser pintora, desde garoto convivi com for-                 para saber se ele estava no Rio de Janeiro. Na primeira vez em
                                               mas, cores, artistas, e isso gerou liberdade para muitas coisas.               que estive com ele, o Oscar só conseguiu me atender tarde da
                                               Eu aprendi a pensar que, diferentemente do futebol, onde em                    noite, eu esperei por oito horas. Mas depois, ele disse: ”Vou jan-
                                               time que vence não se mexe, na arte o desafio é inovar. Então,                 tar, você pode vir comigo.” Foi a glória para um recém-formado.
                                               se você não inova, fica no senso comum. O consenso é o pior
                                               adversário da arte. Acho que ele é muito importante na políti-                 DM – E o que falaram nesse bate-papo?
                                               ca; é diferente na criação, na arte em geral.                                  RUY OHTAKE – Bate-papo não, eu fiquei só ouvindo. (risos)


                                               DM – Artigas e Niemeyer exerceram importante influência em                     DM – Como o senhor avalia o atual momento da arquitetura
                                               sua carreira...                                                                brasileira? Ainda falta ousadia?
                                               RUY OHTAKE – Muito. O Artigas, como professor – fui aluno                      RUY OHTAKE – Sim. Falta uma presença mais significativa nas
                                               dele por dois anos –, me ensinou a olhar a arquitetura sob o                   nossas cidades. Isso porque a arquitetura ajuda a contar a his-
                                               aspecto estético, de técnicas de construção, da contempora-                    tória de uma cidade. Se eu faço uma projeto hoje, no começo
                                               neidade e também a usar as questões sociais. O Niemeyer                        do século 21, daqui a 50, 100 anos, quero que ele conte a histo-
                                               conheci depois de formado... Eu segui muito a visão modernis-                  ria da cidade nessa virada de século. Acho que a arquitetura
                                               ta, mas alguma coisa me incomodava e faltava: o lado emocio-                   tem que olhar para a frente, não para trás.
                                               nal da arquitetura. Quando comecei a ver as obras do Oscar,
                                               falei, é isso! Foi aí que percebi que a arquitetura tem que estar
                                               presente no espaço da cidade de forma que as pessoas não                       DM – O senhor se considera um herdeiro de Niemeyer?
                                               passem indiferentes por ela.                                                   RUY OHTAKE – O Oscar é o maior arquiteto do mundo no sécu-
                                                                                                                              lo 20. Eu vou fazendo aquilo que é possível. E no limite da liber-
                                               DM – E como é hoje a sua relação com Niemeyer?                                 dade que consegui, porque a liberdade não vem de graça, a
                                               RUY OHTAKE – Eu o visito todos os anos e estive com ele no últi-               gente precisa conquistar. Como? Com as ousadias.


    “Eu aprendi a pensar
    que, diferentemente do
    futebol, onde em time que vence            NA PÁGINA AO LADO, NO ALTO, O EDIFÍCIO SANTA CATARINA (2008), NA AVENIDA PAULISTA, E A EMBAIXADA DO BRASIL EM TÓQUIO (1983). ABAIXO, DETALHE DA IMENSA
                                               CÚPULA DO BRASÍLIA ALVORADA PARK HOTEL, PROJETO DE   2000, LOCALIZADO NA CAPITAL FEDERAL. PARA RUY OHTAKE, FAZER A DIFERENÇA É ESSENCIAL NA ARQUITETURA
    não se mexe, na arte o desafio é inovar.
    Se você não inova, fica no senso comum.”
01 ENTREVISTA RUY OHTAKE




 DM – Como conquistar a liberdade de criação na arquitetura?                    eu faço o Hotel Unique em uma área de maior poder aquisitivo,
 RUY OHTAKE – São alguns fatores. Um deles é a gente ter isso                   por que não faço também alguma coisa nessa área da comunida-
 como um desafio e percorrê-lo estudando ligeiramente quem                      de? Em Heliópolis, é tudo construído, não tem nada ocioso, nada
 está atrás. Se estudar muito, isso começa a brecar o seu avanço.               pra revitalizar, como no centro histórico. Lá está a esperança.
 Se puder viajar um pouco pelo país, isso ajuda a ver o que foi
 importante para nós. Se a pessoa tiver condições de ir para fora,              DM – E o que foi transformado após o seu trabalho?
 a mesma coisa. A primeira vez que fui para a França, não fiz o                 RUY OHTAKE – Quando as lideranças de Heliópolis me chama-
 circuito turístico normal, fui atrás das obras do Le Corbusier em              ram, perguntando como eu poderia ajudar, cheguei lá e falei
 Paris e nas cidades por perto.                                                 que poderia trabalhar junto com eles, com dupla responsabili-
                                                                                dade. Falei que precisariam trabalhar desde o início do projeto
 DM – Em que momento o uso das cores e a ousadia formal                         até a gestão dele. Todos toparam. Então, fiz uma listinha de tu-
 começaram a aparecer em seus projetos?                                         do: a pintura, uma biblioteca dentro da favela, um cinema, tu-
 RUY OHTAKE – São duas coisas que se entrelaçam. O Brasil é um                  do para fortalecer a identidade cultural de Heliópolis. Come-
 país com muita cor, é só você analisar cidades como Paraty,                    çamos por pintar a casa de três vias escolhidas por eles. Foram
 Ouro Preto, Salvador, Olinda e cidades pequenas, que também                    278 casinhas, quatro moradores não quiseram pintar. Ali, a rua
 são muito coloridas. Nos últimos cem anos é que as cidades                     é complemento da casa, é a sala de visitas deles. Marcamos de
 brasileiras foram perdendo a cor e se tornaram muito medro-                    iniciar o projeto em um sábado, e foi uma festa... Os pintores
 sas, não as cidades em si, mas os responsáveis que definem a                   da comunidade fizeram um curso de capacitação em dois me-
 pintura nas edificações. Então, começou-se a usar o creme, o                   ses, em que aprenderam a misturar tintas, separar as cores,
 azul-claro, o cinza claro. As cores brasileiras são fortes, o verme-           tomar cuidado com a umidade, fazer orçamento... Aqueles que
 lho, o azul forte... Sobre a ousadia formal, comecei a ousar mais              não queriam ter a casa pintada logo pediram para entrar por-
 quando vi as primeiras obras de Niemeyer fora de São Paulo.                    que não sabiam que ficaria tão bonito.


 DM – Como surgiu a ideia da revitalização, por meio de novas                   DM – E o que achou do resultado?
 fachadas e outros projetos, da favela de Heliópolis?                           RUY OHTAKE – Ficou fantástico, não tem nada igual no mundo.
 RUY OHTAKE – Como arquiteto, vejo que São Paulo tem quatro                     As fachadas ficaram como obras de arte. Muitos moradores
 áreas bem definidas. O núcleo de maior poder aquisitivo, o nú-                 passaram a cuidar da parte interna das casas, começaram a
 cleo da classe média, o do centro histórico e o da periferia, que se           assumir que moravam em Heliópolis; antes tinham vergonha
 constitui de populações carentes. São Paulo é a minha cidade. Se               disso. Começaram a exercer a cidadania na prática.
                                                                                                                                                                       “O Brasil é um país com
                                                                                                                                                                  muita cor, é só você analisar
 NA PÁGINA AO LADO, NO ALTO, FACHADA DE UMA DAS MUITAS CASAS REVITALIZADAS EM HELIÓPOLIS    (2003): PROJETO DE RUY OHTAKE EM PARCERIA COM A
 COMUNIDADE, E O EDIFÍCIO DO INSTITUTO TOMIE OHTAKE   (2001). ABAIXO, A RESIDÊNCIA PAULO CHEDID, DE 1976: FORMAS E CORES EM DIFERENTES CONSTRUÇÕES            cidades como Paraty, Ouro Preto,
                                                                                                                                                          Salvador... Nos últimos cem anos, as
                                                                                                                                                     cidades brasileiras foram perdendo a cor.”
01 ENTREVISTA RUY OHTAKE




                                                                                                                                       DM – Como a água está presente em seu trabalho?                       poderia aproveitar melhor esse momento?
                                                                                                                                       RUY OHTAKE – A água tem uma relação vital com a arquitetura. Está     RUY OHTAKE – A infraestrutura das cidades está um pouco
                                                                                                                                       sempre dentro de formatos não convencionais e contemporâneos. O       defasada. Primeiro porque houve um boom de crescimento
                                                                                                                                       espelho d’água, a piscina, o pequeno córrego – que desenhei no jar-   da população, de tal forma que é quase impossível uma pre-
                                                                                                                                       dim do Hotel Unique –, a água da chuva, que cai da gárgula da laje    feitura acompanhar essas mudanças. Então, a Copa, assim
                                                                                                                                       de cobertura, a água como protetor térmico, a água como refletor...   como as Olimpíadas, ajudam a renovar essa infraestrutura. O
                                                                                                                                                                                                             legado que a Copa pode deixar para a cidade são essas
                                                                                                                                       DM – A Copa do Mundo de 2014 pode causar um boom de cons-             melhorias que vão ficar, posteriormente, para as cidades e
                                                                                                                                       truções no país. De que forma o senhor acredita que o Brasil          para a população. d
                 “Quando você está convicto de uma coisa, é preciso insistir”
                                                                                                                                                                                                                      AQUI, FACHADA DO HOTEL UNIQUE: OBRA-PRIMA DO ARQUITETO. NO
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   DM – Como nasceu a idéia do projeto do Hotel Unique?             DM – Quando e por que o senhor começou a desenhar móveis?
   RUY OHTAKE – Desenhando muito. O Unique tem alguns con-          Que tipos de material mais utiliza nos mobiliários?
   ceitos realmente inovadores. Na Avenida Brigadeiro Luís          RUY OHTAKE – Comecei a desenhar 
                                                                                                   móveis, como estantes e ban-
   Antônio, a altura permitida é de 25 andares. É uma estatura      cos, já nos meus primeiros projetos, como um complemento da
   pequena, e eu queria fazer um projeto forte. Onde está a força   arquitetura. Esses móveis eram fixados  na alvenaria.
   dessa forma? [E desenha o formato de meia melancia aberta        Posteriormente, comecei a desenhar móveis mais independentes
   na lousa.] Nos dois vazios laterais. É um conceito ousado.       de paredes, eles começaram a ter ”vida própria”. Venho dese-
   Outro é o piso de alguns quartos, que sobe até encontrar o       nhando até hoje esse tipo de mobiliário. Nos grandes espaços de
   forro do teto. Os experts em hotelaria acharam melhor ele ter-   arquitetura, faço móveis proporcionais, que às vezes atingem
   minar sem subir – eles preferem ser conservadores em seu         dimensões inusitadas. Por exemplo, a mesa de concreto na resi-
   parecer. Mas quando você está convicto de alguma coisa, você     dência Tomie Ohtake, com 7 metros; a mesa de centro na residên-
   precisa insistir. Quando o hotel foi inaugurado, os apartamen-   cia Zuleika Halpern, com 9 metros; e o banco de madeira no sítio
   tos de canto eram justamente os mais solicitados e se torna-     Celso Viellas, com 18 metros de extensão, entre outros. Os mate-
   ram vips, tamanha a procura que tinham. A relação entre a        riais que mais tenho utilizado são madeira (de cumaru, MDF ou
   parte interna e externa é uma consequência.                      carvalho), aço carbono, aço inox, vidro e concreto.

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Arquiteto Ruy Ohtake fala sobre carreira, ousadia e liberdade na arquitetura

  • 1. 01 ENTREVISTA RUY OHTAKE CONHECIMENTO e liberdade Com cinco décadas de carreira, o arquiteto Ruy Ohtake continua em busca de ousadia e independência em seus projetos TEXTO Katia Calsavara FOTOS Toni Pires Aos 72 anos, o paulistano Ruy Ohtake, filho da célebre artista plástica Tomie Ohtake, segue como um dos mais atuantes profissionais da arquitetura contemporânea no país. Discípulo de nomes como Vilanova Artigas (1915-1985) e Oscar Niemeyer, e formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) em 1960, ele é incansável na busca pela inovação e por soluções técnicas diferencia- das em seus projetos. Costuma dizer que “o consenso é o principal adversário do artista”. Talvez por isso, não tenha receio de polêmicas e busque valorizar ao máximo o impacto de suas obras no espaço urbano. Projetos como o do Hotel Unique (1999) e o do edifício do Instituto Tomie Ohtake (1995), em São Paulo, são apenas alguns exemplos de ousadia, com suas surpreendentes formas e cores. Também são de autoria do arquiteto obras tão diversas quanto a Embaixada do Brasil no Japão (1981), o Brasília Alvorada Park Hotel (1998), em Brasília, o Aquário (2008), em Mato Grosso do Sul, o parque aquático The Waves (1988), em São Paulo, e o Parque Ecológico do Tietê (1975, reformulado em 2008), também em São Paulo, entre muitos outros. O livro Ruy Ohtake – Arquitetura e a Cidade, recém-lançado pelo Instituto Tomie Ohtake, reúne mais de 80 projetos do artista. O arquiteto recebeu a equipe de Docol Magazine em seu escritório, na capital paulista. Em um bate- papo descontraído, falou sobre sua carreira, sobre a necessidade de liberdade na arquitetura e mostrou-se encantado com projetos como o da revitalização de Heliópolis e do Hotel Unique. Nessas páginas, um apa- nhado da vitalidade de Ruy Ohtake.
  • 2. 01 ENTREVISTA RUY OHTAKE DOCOL MAGAZINE – Como a convivência do senhor com as mo dia 15 de dezembro, aniversário dele. Há mais de 30 anos eu artes plásticas desde a infância o influenciou? vou lá na mesma data. As visitas começaram quando eu ainda RUY OHTAKE – Foi muita molecagem para abrir a cabeça... Pelo era recém-formado; eu aparecia sem marcar nada, só ligava fato de a minha mãe ser pintora, desde garoto convivi com for- para saber se ele estava no Rio de Janeiro. Na primeira vez em mas, cores, artistas, e isso gerou liberdade para muitas coisas. que estive com ele, o Oscar só conseguiu me atender tarde da Eu aprendi a pensar que, diferentemente do futebol, onde em noite, eu esperei por oito horas. Mas depois, ele disse: ”Vou jan- time que vence não se mexe, na arte o desafio é inovar. Então, tar, você pode vir comigo.” Foi a glória para um recém-formado. se você não inova, fica no senso comum. O consenso é o pior adversário da arte. Acho que ele é muito importante na políti- DM – E o que falaram nesse bate-papo? ca; é diferente na criação, na arte em geral. RUY OHTAKE – Bate-papo não, eu fiquei só ouvindo. (risos) DM – Artigas e Niemeyer exerceram importante influência em DM – Como o senhor avalia o atual momento da arquitetura sua carreira... brasileira? Ainda falta ousadia? RUY OHTAKE – Muito. O Artigas, como professor – fui aluno RUY OHTAKE – Sim. Falta uma presença mais significativa nas dele por dois anos –, me ensinou a olhar a arquitetura sob o nossas cidades. Isso porque a arquitetura ajuda a contar a his- aspecto estético, de técnicas de construção, da contempora- tória de uma cidade. Se eu faço uma projeto hoje, no começo neidade e também a usar as questões sociais. O Niemeyer do século 21, daqui a 50, 100 anos, quero que ele conte a histo- conheci depois de formado... Eu segui muito a visão modernis- ria da cidade nessa virada de século. Acho que a arquitetura ta, mas alguma coisa me incomodava e faltava: o lado emocio- tem que olhar para a frente, não para trás. nal da arquitetura. Quando comecei a ver as obras do Oscar, falei, é isso! Foi aí que percebi que a arquitetura tem que estar presente no espaço da cidade de forma que as pessoas não DM – O senhor se considera um herdeiro de Niemeyer? passem indiferentes por ela. RUY OHTAKE – O Oscar é o maior arquiteto do mundo no sécu- lo 20. Eu vou fazendo aquilo que é possível. E no limite da liber- DM – E como é hoje a sua relação com Niemeyer? dade que consegui, porque a liberdade não vem de graça, a RUY OHTAKE – Eu o visito todos os anos e estive com ele no últi- gente precisa conquistar. Como? Com as ousadias. “Eu aprendi a pensar que, diferentemente do futebol, onde em time que vence NA PÁGINA AO LADO, NO ALTO, O EDIFÍCIO SANTA CATARINA (2008), NA AVENIDA PAULISTA, E A EMBAIXADA DO BRASIL EM TÓQUIO (1983). ABAIXO, DETALHE DA IMENSA CÚPULA DO BRASÍLIA ALVORADA PARK HOTEL, PROJETO DE 2000, LOCALIZADO NA CAPITAL FEDERAL. PARA RUY OHTAKE, FAZER A DIFERENÇA É ESSENCIAL NA ARQUITETURA não se mexe, na arte o desafio é inovar. Se você não inova, fica no senso comum.”
  • 3. 01 ENTREVISTA RUY OHTAKE DM – Como conquistar a liberdade de criação na arquitetura? eu faço o Hotel Unique em uma área de maior poder aquisitivo, RUY OHTAKE – São alguns fatores. Um deles é a gente ter isso por que não faço também alguma coisa nessa área da comunida- como um desafio e percorrê-lo estudando ligeiramente quem de? Em Heliópolis, é tudo construído, não tem nada ocioso, nada está atrás. Se estudar muito, isso começa a brecar o seu avanço. pra revitalizar, como no centro histórico. Lá está a esperança. Se puder viajar um pouco pelo país, isso ajuda a ver o que foi importante para nós. Se a pessoa tiver condições de ir para fora, DM – E o que foi transformado após o seu trabalho? a mesma coisa. A primeira vez que fui para a França, não fiz o RUY OHTAKE – Quando as lideranças de Heliópolis me chama- circuito turístico normal, fui atrás das obras do Le Corbusier em ram, perguntando como eu poderia ajudar, cheguei lá e falei Paris e nas cidades por perto. que poderia trabalhar junto com eles, com dupla responsabili- dade. Falei que precisariam trabalhar desde o início do projeto DM – Em que momento o uso das cores e a ousadia formal até a gestão dele. Todos toparam. Então, fiz uma listinha de tu- começaram a aparecer em seus projetos? do: a pintura, uma biblioteca dentro da favela, um cinema, tu- RUY OHTAKE – São duas coisas que se entrelaçam. O Brasil é um do para fortalecer a identidade cultural de Heliópolis. Come- país com muita cor, é só você analisar cidades como Paraty, çamos por pintar a casa de três vias escolhidas por eles. Foram Ouro Preto, Salvador, Olinda e cidades pequenas, que também 278 casinhas, quatro moradores não quiseram pintar. Ali, a rua são muito coloridas. Nos últimos cem anos é que as cidades é complemento da casa, é a sala de visitas deles. Marcamos de brasileiras foram perdendo a cor e se tornaram muito medro- iniciar o projeto em um sábado, e foi uma festa... Os pintores sas, não as cidades em si, mas os responsáveis que definem a da comunidade fizeram um curso de capacitação em dois me- pintura nas edificações. Então, começou-se a usar o creme, o ses, em que aprenderam a misturar tintas, separar as cores, azul-claro, o cinza claro. As cores brasileiras são fortes, o verme- tomar cuidado com a umidade, fazer orçamento... Aqueles que lho, o azul forte... Sobre a ousadia formal, comecei a ousar mais não queriam ter a casa pintada logo pediram para entrar por- quando vi as primeiras obras de Niemeyer fora de São Paulo. que não sabiam que ficaria tão bonito. DM – Como surgiu a ideia da revitalização, por meio de novas DM – E o que achou do resultado? fachadas e outros projetos, da favela de Heliópolis? RUY OHTAKE – Ficou fantástico, não tem nada igual no mundo. RUY OHTAKE – Como arquiteto, vejo que São Paulo tem quatro As fachadas ficaram como obras de arte. Muitos moradores áreas bem definidas. O núcleo de maior poder aquisitivo, o nú- passaram a cuidar da parte interna das casas, começaram a cleo da classe média, o do centro histórico e o da periferia, que se assumir que moravam em Heliópolis; antes tinham vergonha constitui de populações carentes. São Paulo é a minha cidade. Se disso. Começaram a exercer a cidadania na prática. “O Brasil é um país com muita cor, é só você analisar NA PÁGINA AO LADO, NO ALTO, FACHADA DE UMA DAS MUITAS CASAS REVITALIZADAS EM HELIÓPOLIS (2003): PROJETO DE RUY OHTAKE EM PARCERIA COM A COMUNIDADE, E O EDIFÍCIO DO INSTITUTO TOMIE OHTAKE (2001). ABAIXO, A RESIDÊNCIA PAULO CHEDID, DE 1976: FORMAS E CORES EM DIFERENTES CONSTRUÇÕES cidades como Paraty, Ouro Preto, Salvador... Nos últimos cem anos, as cidades brasileiras foram perdendo a cor.”
  • 4. 01 ENTREVISTA RUY OHTAKE DM – Como a água está presente em seu trabalho? poderia aproveitar melhor esse momento? RUY OHTAKE – A água tem uma relação vital com a arquitetura. Está RUY OHTAKE – A infraestrutura das cidades está um pouco sempre dentro de formatos não convencionais e contemporâneos. O defasada. Primeiro porque houve um boom de crescimento espelho d’água, a piscina, o pequeno córrego – que desenhei no jar- da população, de tal forma que é quase impossível uma pre- dim do Hotel Unique –, a água da chuva, que cai da gárgula da laje feitura acompanhar essas mudanças. Então, a Copa, assim de cobertura, a água como protetor térmico, a água como refletor... como as Olimpíadas, ajudam a renovar essa infraestrutura. O legado que a Copa pode deixar para a cidade são essas DM – A Copa do Mundo de 2014 pode causar um boom de cons- melhorias que vão ficar, posteriormente, para as cidades e truções no país. De que forma o senhor acredita que o Brasil para a população. d “Quando você está convicto de uma coisa, é preciso insistir” AQUI, FACHADA DO HOTEL UNIQUE: OBRA-PRIMA DO ARQUITETO. NO ALTO E NA PÁGINA AO LADO, OHTAKE EM SEU ESCRITÓRIO, EM SÃO PAULO DM – Como nasceu a idéia do projeto do Hotel Unique? DM – Quando e por que o senhor começou a desenhar móveis? RUY OHTAKE – Desenhando muito. O Unique tem alguns con- Que tipos de material mais utiliza nos mobiliários? ceitos realmente inovadores. Na Avenida Brigadeiro Luís RUY OHTAKE – Comecei a desenhar  móveis, como estantes e ban- Antônio, a altura permitida é de 25 andares. É uma estatura cos, já nos meus primeiros projetos, como um complemento da pequena, e eu queria fazer um projeto forte. Onde está a força arquitetura. Esses móveis eram fixados  na alvenaria. dessa forma? [E desenha o formato de meia melancia aberta Posteriormente, comecei a desenhar móveis mais independentes na lousa.] Nos dois vazios laterais. É um conceito ousado. de paredes, eles começaram a ter ”vida própria”. Venho dese- Outro é o piso de alguns quartos, que sobe até encontrar o nhando até hoje esse tipo de mobiliário. Nos grandes espaços de forro do teto. Os experts em hotelaria acharam melhor ele ter- arquitetura, faço móveis proporcionais, que às vezes atingem minar sem subir – eles preferem ser conservadores em seu dimensões inusitadas. Por exemplo, a mesa de concreto na resi- parecer. Mas quando você está convicto de alguma coisa, você dência Tomie Ohtake, com 7 metros; a mesa de centro na residên- precisa insistir. Quando o hotel foi inaugurado, os apartamen- cia Zuleika Halpern, com 9 metros; e o banco de madeira no sítio tos de canto eram justamente os mais solicitados e se torna- Celso Viellas, com 18 metros de extensão, entre outros. Os mate- ram vips, tamanha a procura que tinham. A relação entre a riais que mais tenho utilizado são madeira (de cumaru, MDF ou parte interna e externa é uma consequência. carvalho), aço carbono, aço inox, vidro e concreto.