A degomagem é o processo de remoção de fosfatídeos presentes nos óleos vegetais. Existem diversos processos de degomagem, incluindo degomagem com água, ácida ou enzimática. A escolha do processo depende da composição do óleo e dos objetivos do processamento.
Aula 06 classificação do petroleo e introdução ao refino
degomagem
1. Revista Óleos & Gorduras
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caderno técnico 02
A
degomagem é o processo para
remoção de fosfatídeos presentes nos
óleos vegetais e que podem interferir
nos processos subsequentes. Além disto,
em alguns casos, as gomas removidas neste
processo podem ser aproveitadas devido ao
seu valor econômico.
A degomagem pode ser considerada
como o primeiro passo no processo de refino
de óleos vegetais, porém nem sempre é um
processo a parte, visto que os fosfatídeos
podem ser retirados de forma eficaz em
outras etapas do processo.
As etapas de processamento de óleos
vegetais (degomagem, neutralização,
branqueamento, desacidificação/
desodorização, etc.) são definidas em função
da composição de cada óleo, principalmente
os teores de fosfatídeos (muitas vezes
expresso como fósforo “P”) e ácidos graxos
livres (AGL). A combinação de fatores como
composição do óleo, qualidade do produto
final, perdas e custos de processo, custo
de investimento e utilização e valor dos
subprodutos gerados é que vai definir a
necessidade ou não da etapa dedicada de
degomagem do óleo.
Existem situações específicas onde alguns
processadores (como é o caso nos EUA e
Canadá com óleos de soja e canola) preferem
refinar o óleo bruto não degomado.
O fato é que hoje, os principais motivos
para a degomagem são: para atender o
mercado existente de comercialização de
óleo degomado, para produção de um óleo
degomado adequado para armazenagem ou
transporte, para preparar o óleo para o refino
físico ou para produzir lecitina. Refinarias
operando de forma independente das plantas
de extração consideram como vantajoso o
degomagemO importante processo para a remoção de fosfatídeos presentes nos óleos vegetais.
por Paulo Telles
Óleo
Teor de
fosfatídeos
Como
fosforo
(P)
Teor de
Ácidos Graxos
Livres (AGL)
% Ppm %
Coco 0.025-0.05 10-20 0.5-5.0
Palma 0.04-0.1 15-40 1.5-5.0
Girassol 0.8-1.8 300-700 0.5-2.0
Milho 0.7-2.0 300-800 1.0-4.0
Canola 0.5-2.3 200-900 0.5-1.5
Algodão 1.0-2.5 400-1000 1.0-10
Soja 1.0-3.0 400-1200 0.3-0.8
processamento de óleo degomado já que o
menor teor de fosfatídeos do óleo representa
uma redução na carga de subprodutos gerados
no refino.
Existem diversos processos para
degomagem dos óleos vegetais, cada um deles
com características e aplicações especificas
dependendo do tipo de óleo a ser tratado e
objetivos a se alcançar.
Os óleos de girassol, canola e soja, que
apresentam o maior teor de fosfatídeos são
os que normalmente passam pelo processo
dedicado de degomagem principalmente para
atender o mercado de óleos degomados e, além
disto, as gomas oriundas do óleo de soja são as
mais utilizadas para produção de lecitina.
Os óleos com baixo teor de fosfatídeos como
os óleos de coco e palma normalmente são dego-
2. Revista Óleos & Gorduras
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mados “a seco”, ou seja, estes fosfatídeos residuais
são removidos do óleo na etapa de branqueamento
do processo de refino físico destes óleos.Este proces-
so envolve a dosagem de ácido, geralmente fosfórico
ou cítrico seguido de breve retenção em temperatura
alta e agitação intensa ou retenção longa em tempe-
ratura baixa e agitação menos vigorosa. O ácido e os
fosfatídeos precipitados são removidos na subse-
quente operação de branqueamento.
A degomagem tradicional com água é eficaz
somente para remoção de fosfatídeos hidratá-
veis; aqueles que possuem mais afinidade para
permanecer na fase de água do que na fase do óleo.
No entanto, existem quantidades significativas
de fosfatídeos não hidratáveis (NHP em inglês)
que não podem ser efetivamente removidos sem
tratamentos especiais. A presença de quantidades
significativas de NHP geralmente indica uma má
qualidade do óleo. Para óleo de soja proveniente
de sementes de boa qualidade, aproximadamente
90% dos fosfatídeos são geralmente hidratáveis.
No entanto, quando as sementes são seriamente
danificadas, o teor de fosfatídeos não hidratáveis
é maior do que normalmente se encontra em óleos
oriundos de sementes de boa qualidade.
Tipos de fosfatídeos
• Hidratáveis (removidos por água)
– Phosphatidylcholine (PC)
– Phosphatodylinositol (PI)
• Nãohidratáveis (reagidos com um acido para
então serem removidos)
– Phosphatiticacid (PA)
– Phosphatidyletholamine (PE)
• Fosfatídeos não hidratáveis contem sais de
cálcio e magnésio
A Figura 1 ilustra um processo típico de degoma-
gem integrado com o processo de produção de leci-
tina. Se a lecitina é produzida para fins comestíveis,
o óleo bruto é primeiramente filtrado (ou clarificado
por centrifugação) para remover partículas finas de
farelo e outras impurezas insolúveis. Se o processo
for somente de degomagem (sem a produção da
lecitina), os finos no óleo vindo da extração deverão
estar dentro das quantidades máximas especificadas
para remoção por centrifugação junto com as gomas.
Uma quantidade calculada de água (correspondente
a quantidade de fosfatídeos) é dosada e misturada ao
óleo a temperatura de processo que segue para um
tanque de hidratação com agitação suave. Durante o
período de retenção no tanque de hidratação (geral-
mente em torno de 20-30 minutos), as gomas aglome-
ram-se e começam a se separar da fase óleo. A mistura
então segue a separadora centrifuga onde as fases
leve (óleo) e pesada (gomas) serão separadas. A fase
leve (óleo) segue para o secador a vácuo para remoção
de umidade, é resfriado e finalmente transferido para
o armazenamento.
Quando não utilizadas para produção de lecitina,
as gomas podem voltar para o farelo através do DT,
acrescentando energia à farinha. Quando vendidas
como lecitina de grau não comestível, as gomas são
simplesmente secadas a partir de uma umidade ini-
cial entre 35 e 50 % e são utilizadas ou como umprodu-
to em estado físico “plástico”e com alto teor de Insolú-
veis em Acetona (AI em inglês), ou como um produto
mais fluido,seforemmisturadas com óleo degomado
Processos de Degomagem
Teor de fósforo
no óleo
degomado / ppm
Degomagem com agua 100-200
Degomagem acida 20-50
Degomagem especial, um
estagio.
20-30
Degomagem especial com
lavagem
15-20
Degomagem especial com
sílica
5
Super/Uni Degumming (*) 5-15
TOP Degumming (*) 5-10
Degomagem enzimática PLA 5-20
Degomagem enzimática PLC 50-100
(*) patentes Westfalia
Faixas de teor de fosforo no óleo degomado para
diferentes tipos de processo de degomagem.
Figura 1. Processos de
degomagem e lecitina
3. Revista Óleos Gorduras
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Figura 2. Sistema “MultiPure” de
degomagem/neutralização Crown
caderno técnico 02
sistemas estão ganhando atenção mais recentemen-
te. Um dos sistemas que tem sido foco de atenção é a
degomagem enzimática, com o apelo de aumento de
rendimento em óleo e a possibilidade de remoção de
fosfatídeos para um nível tal que possibilite o envio
do óleo degomado para as etapas de branqueamento
e desodorização no caso de óleos comestíveis ou
diretamente para a desacidificação para utilização do
óleo como matéria prima de uma planta de biodiesel.
Os processos de degomagem enzimática reque-
rem o uso de diferentes tipos de enzimas em função
do objetivo do processo; as enzimas PLA permitem
a degomagem “total” do óleo, porem com um au-
mento na acidez do óleo degomado. As enzimas PLC
reduzem o teor de fosfatídeos no óleo degomado
para valores baixos sem aumento de acidez do óleo
(há uma conversão dos fosfatídeos em digliceríde-
os), porem não atinge a degomagem total (P5ppm).
Os processos enzimáticos exigem o uso de
misturadores de alta forca de cisalhamento com
grande potencia instalada e tempos de reação do
óleo com as enzimas entre 2 a 6 horas, dependendo
do tipo de enzima utilizada.
Durante a reação do óleo com as enzimas, há
a formação de liso-gomas diluídas em agua, que
serão separadas do óleo por centrifugação. Estas
liso-gomas não são utilizadas para produção de
lecitina e devem ser descartadas. O óleo degomado
pode seguir para a etapa de lavagem ou tratamento
com sílica ou diretamente para a próxima etapa do
processo ou para armazenagem.
Degomagem é uma parte integrante da ope-
ração de refino físico, que continuara crescendo
em resposta às pressões ambientais e a busca de
melhores índices de desempenho das plantas de
processamento de óleos vegetais.
Paulo Telles
Gerente de aplicações
Crown Iron Works Co., USA
ou com ácidos graxos destilados.
Muitos tratamentos ácidos e outros processos ga-
nharam aceitação na produção de óleo degomado com
baixo teor de fósforo. Estes processos, incluindo a Super
Degomagem da Unilever, o processo TOP, Degomagem
Total, e outros, concentram-se no fato de que o cálcio,
o magnésio, e os sais de ferro de ácido fosfatídico têm
mais afinidade pela fase do óleo do que pela fase de
água e devem ser removidos do óleo por um processo
especial. O pré-tratamento do óleo com ácido fosfórico,
ácido cítrico ou outro agente a temperatura apropriada,
tempo de retenção e condições de agitação, seguido
pela hidratação com água como descrito acima, é geral-
mente eficaz na remoção de compostos com fosfatí-
deos. Os processos de absorção por sílica também são
eficazes na precipitação destes fosfatídeos. A utilização
destes sistemas de pré-tratamento podem produzir um
óleo degomado que quando branqueado adequada-
mente terão níveis de conteúdo de fosforo menores do
que 3ppmapesar de que estes processos normalmente
não são tão flexíveis como os processos tradicionais de
refino alcalino.Aqualidade destes óleos é geralmente
aceitável como matéria-prima para o refino físico, tema
que será tratado em outra oportunidade.
Enquanto sistemas de superdegomagem apresen-
tam vantagens tanto em termos de reduções de cus-
to de investimento e de operação, o impacto sobre
as gomas deve ser considerado. A lecitina resultante
do sistema utilizando ácido é geralmente de cor mais
escura e geralmente considerada inadequada para
fins comestíveis. Gomas úmidas do sistema de dego-
magem com ácido devem ser neutralizadas antes da
introdução no farelo.
Enquanto os fundamentos do processo de degoma-
gem permanecem os mesmos por vários anos, novos
Figura 3 Ação de diferentes enzimas (PLA1, PLA2 e PLC)
sobre os fosfatídeos.