SlideShare uma empresa Scribd logo
CRONOLOGIA VIVA
Anton Tchkhov
O salão do Conselheiro de Estado Charamikin está mergulhado em agradável
penumbra. A grande lâmpada de bronze, com seu quebra-luz verde, tinge, à
maneira de uma ―noite da Ucrânia‖, as paredes, os móveis, as fisionomias…
De quando em quando, na lareira expirante, abrasa-se uma acha que se
consome, e por um instante projeta nos rostos um clarão de incêndio. Isto,
porém, não perturba a harmonia geral das luzes. O tom de conjunto, como
diriam os pintores, mantém-se.
Ao pé da lareira, acha-se afundado em uma poltrona, na postura dum homem
que acaba de jantar, Charamikin em pessoa, senhor idoso, de suíças cinzentas
de funcionário, olhos de um azul doce. Transparece-lhe no rosto a benignidade.
Um sorriso melancólico franze-lhe os lábios. A seus pés, sobre um mocho, com
as pernas voltadas para a lareira e estirando-se preguiçosamente, está sentado
o Vice-Governador Lopnef, galharda figura de cerca de quarenta anos.
Junto ao piano brincam os filhos de Charamikin – Nina, Kólia, Nádia e Vânia.
Do salão da Sra. Charamikin chega, pela porta entreaberta, uma luz tímida. Ali,
sentada à secretária, vê-se Ana Pavlovna, presidenta do Comitê das damas da
cidade — jovem senhora, viva e picante, dos seus trinta anos e mais alguma
coisa. Através do lornhom, os olhos negros e vivos deslizam pelas páginas de
um romance francês. Sob o romance encontra-se, dilacerado, um relatório do
Comitê, do ano anterior.
— Antigamente, nesse ponto de vista — diz Charamikin, piscando os olhos
pacatos à claridade dos tições morrediços —, nossa cidade era mais
favorecida. Não se passava um inverno que não aparecesse alguma estrela.
Tivemos atores e cantores célebres. E agora?… Sabe o diabo o que é! Afora
prestidigitadores e tocadores de realejo, não vem mais ninguém. Nenhum
prazer estético… Parece que vivemos no mato… Sim… Lembra-se,
Excelência, daquele trágico italiano?… Como se chamava mesmo?… Um
moreno, alto… Queira Deus que eu me lembre! Ah! sim! Luigi Ernesto di
Ruggiero. Um talento notável… Que força! Era ele abrir a boca, e o teatro em
peso estremecia. A minha Anniutotchka se interessava muito pelo talento dele.
Conseguiu-lhe o teatro e vendeu bilhetes para dez espetáculos… Ele, em
recompensa, lhe deu lições de declamação e de música. Um amor de homem!
Ele esteve aqui… não vá eu enganar-me… há doze anos… Não, estou
enganado… Menos, apenas dez. Anniutotchka, que idade tem a nossa Nina?
— Vai fazer dez anos — gritou Ana Pavlovna lá do seu escritório. — Por quê?
— Nada, minha filhinha, só para saber… E às vezes também vinham bons
cantores… Lembra-se do tenore di grazia Priliptchin? Que amor de homem!
Que aparência!… Um louro… semblante expressivo, maneiras parisienses… E
que voz, Excelência! Só tinha um defeito: cantava algumas notas com o ventre
e emitia o ré em falsete; no mais, tudo era bom. Dizia-se aluno de Tamberlick…
Anniutotchka e eu conseguimos para ele o salão do Círculo, e, como prova de
gratidão, ele cantava em nossa casa, dias e noites… Ensinava canto a
Anniutotchka… Esteve aqui, lembro-me bem, pela Quaresma, isto há… doze
anos. Não, mais!… Que memória, santo Deus! Anniutotchka, quantos anos tem
a nossa pequena Nádia?
— Doze anos.
— Doze… se acrescentarmos dez meses… Exatamente… treze anos!…
Antigamente havia na cidade — como direi? — mais vida… Vejamos, por
exemplo, os nossos saraus de beneficência. Que belos saraus que houve…
Que encanto! Tocava-se, cantava-se, declamava-se… Depois da guerra,
lembro-me bem, houve aqui prisioneiros turcos. Anniutotchka organizou um
sarau em benefício dos feridos. Rendeu mil e cem rublos… Os oficiais turcos
ficaram doidos com a voz de Anniutotchka, e levavam o tempo a lhe beijar a
mão. Eh! eh!… Apesar de asiáticos, são pessoas reconhecidas, os turcos. O
sarau alcançou tamanho êxito que — imagine V. Exa. — eu anotei no meu
diário. Isto foi, se estou bem lembrado, em 76… Não… Em 77… Não! Um
momento! Quando foi mesmo que tivemos os turcos? Anniutotchka, quantos
anos tem o nosso Kolitchka?
— Eu tenho sete anos, papai — disse Kólia, garoto trigueiro, de cabelos pretos
como carvão.
— Sim, a gente envelhece — assenta Charamikin, sorrindo. — A nossa energia
já não é a mesma… Eis aí a razão de tudo… A velhice, meu caro! Faltam
precursores novos, e os velhos envelheceram… Já não se tem o mesmo ardor.
Quando eu era mais moço, não gostava que as pessoas se aborrecessem…
Era o primeiro a ajudar a nossa Ana Pavlovna… Tratava-se de organizar um
sarau de beneficência, uma tômbola, de dar apoio a uma celebridade
estrangeira? Eu largava tudo e metia mãos à obra… Um inverno, recordo-me
bem, corri tanto, trabalhei tanto, que caí doente… Não posso esquecer esse
inverno… Lembra-se do espetáculo que organizamos com a nossa Ana
Pavlovna em benefício das vítimas do incêndio?
— Em que ano foi isso?
— Não faz muito tempo… Em 79. Não, creio que em 80. Um momento. Que
idade tem nosso Vânia?
— Cinco anos — grita Ana Pavlovna lá do seu salão.
— Então foi há seis anos… Sim, meu caro, tantas coisas… Agora já não há
nada disso! O ardor já não é o mesmo.
Lopnef e Charamikin meditam. A acha morrediça aviva-se pela última vez e se
cobre de cinza.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria
2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria
2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria
Fabricio Vargas
 
Plumas e paetês maria do carmo costa
Plumas e paetês maria do carmo costaPlumas e paetês maria do carmo costa
Plumas e paetês maria do carmo costa
Luzia Gabriele
 
Trovadorismo impacto
Trovadorismo impactoTrovadorismo impacto
Trovadorismo impacto
Neuma Matos
 
A improvisação no choro processos harmônicos e suas influências.pdf
A improvisação no choro   processos harmônicos e suas influências.pdfA improvisação no choro   processos harmônicos e suas influências.pdf
A improvisação no choro processos harmônicos e suas influências.pdf
Partitura de Banda
 
Ppt o paralelismo
Ppt o paralelismoPpt o paralelismo
Ppt o paralelismo
JABatista
 
Humanismo - introdução
Humanismo - introduçãoHumanismo - introdução
Humanismo - introdução
Olivaldo Ferreira
 
Trabalho (TCC) em Teatro- Uergs
Trabalho (TCC) em Teatro- UergsTrabalho (TCC) em Teatro- Uergs
Trabalho (TCC) em Teatro- Uergs
Taty Siqueira
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
Carolina Matuck
 
Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016
Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016
Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016
Partitura de Banda
 
Decadencia Do Romantismo
Decadencia Do RomantismoDecadencia Do Romantismo
Decadencia Do RomantismoTop Cat
 
ProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIA
ProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIAProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIA
ProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIAJoao Martins
 
Decadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica BrasileiraDecadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica Brasileirajosyespirita
 
Decadencia da musica brasileira
Decadencia da musica  brasileiraDecadencia da musica  brasileira
Decadencia da musica brasileiraSergio Falcetti
 
Decadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica BrasileiraDecadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica BrasileiraRita Steter
 
Decadencia Da Musica Brasil
Decadencia Da Musica BrasilDecadencia Da Musica Brasil
Decadencia Da Musica BrasilAndySans 2008
 

Mais procurados (20)

2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria
2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria
2ª Tertúlia da Poesia de Santa Maria
 
Plumas e paetês maria do carmo costa
Plumas e paetês maria do carmo costaPlumas e paetês maria do carmo costa
Plumas e paetês maria do carmo costa
 
Carmen
CarmenCarmen
Carmen
 
Trovadorismo impacto
Trovadorismo impactoTrovadorismo impacto
Trovadorismo impacto
 
A improvisação no choro processos harmônicos e suas influências.pdf
A improvisação no choro   processos harmônicos e suas influências.pdfA improvisação no choro   processos harmônicos e suas influências.pdf
A improvisação no choro processos harmônicos e suas influências.pdf
 
Serestas
SerestasSerestas
Serestas
 
Ppt o paralelismo
Ppt o paralelismoPpt o paralelismo
Ppt o paralelismo
 
Humanismo - introdução
Humanismo - introduçãoHumanismo - introdução
Humanismo - introdução
 
Trabalho (TCC) em Teatro- Uergs
Trabalho (TCC) em Teatro- UergsTrabalho (TCC) em Teatro- Uergs
Trabalho (TCC) em Teatro- Uergs
 
Volare
VolareVolare
Volare
 
Decadencia do romantismo
Decadencia do romantismoDecadencia do romantismo
Decadencia do romantismo
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016
Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016
Revista clarinete - Nº 2 dezembro 2016
 
Decadencia do romantismo
Decadencia do romantismoDecadencia do romantismo
Decadencia do romantismo
 
Decadencia Do Romantismo
Decadencia Do RomantismoDecadencia Do Romantismo
Decadencia Do Romantismo
 
ProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIA
ProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIAProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIA
ProgramaUMA NOITE EM CASA DE AMÁLIA
 
Decadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica BrasileiraDecadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica Brasileira
 
Decadencia da musica brasileira
Decadencia da musica  brasileiraDecadencia da musica  brasileira
Decadencia da musica brasileira
 
Decadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica BrasileiraDecadencia Da Musica Brasileira
Decadencia Da Musica Brasileira
 
Decadencia Da Musica Brasil
Decadencia Da Musica BrasilDecadencia Da Musica Brasil
Decadencia Da Musica Brasil
 

Destaque

A obra de arte
A obra de arteA obra de arte
A obra de arteLRede
 
A mulher do farmacêutico
A mulher do farmacêuticoA mulher do farmacêutico
A mulher do farmacêuticoLRede
 
Um drama na caca & outros contos anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos   anton tchekhovUm drama na caca & outros contos   anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos anton tchekhovLRede
 
O inimigo
O inimigoO inimigo
O inimigoLRede
 
O bilhete premiado
O bilhete premiadoO bilhete premiado
O bilhete premiadoLRede
 
As três irmãs - Anton Tchekhov
As três irmãs - Anton TchekhovAs três irmãs - Anton Tchekhov
As três irmãs - Anton TchekhovLRede
 

Destaque (6)

A obra de arte
A obra de arteA obra de arte
A obra de arte
 
A mulher do farmacêutico
A mulher do farmacêuticoA mulher do farmacêutico
A mulher do farmacêutico
 
Um drama na caca & outros contos anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos   anton tchekhovUm drama na caca & outros contos   anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos anton tchekhov
 
O inimigo
O inimigoO inimigo
O inimigo
 
O bilhete premiado
O bilhete premiadoO bilhete premiado
O bilhete premiado
 
As três irmãs - Anton Tchekhov
As três irmãs - Anton TchekhovAs três irmãs - Anton Tchekhov
As três irmãs - Anton Tchekhov
 

Semelhante a Cronologia viva

Quintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloQuintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloPatrizia Ercole
 
Adolfo caminha no país dos ianques
Adolfo caminha   no país dos ianquesAdolfo caminha   no país dos ianques
Adolfo caminha no país dos ianquesTulipa Zoá
 
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da PaixãoCenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
wiyofog561
 
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da PaixãoCenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
wiyofog561
 
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
gersonastolfi
 
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Madga Silva
 
Noite na taverna
Noite na tavernaNoite na taverna
Noite na tavernabianca27vs
 
SIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptxSIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptx
MatoseRodriguesAdvoc
 
Poesia do Realismo
Poesia do RealismoPoesia do Realismo
Poesia do Realismo
Cláudia Heloísa
 
Exposição: Dia Mundial do Teatro
Exposição: Dia Mundial do TeatroExposição: Dia Mundial do Teatro
Exposição: Dia Mundial do Teatro
Maria Manuela Torres Paredes
 
Tintapres
TintapresTintapres
Tintapres
TintapresTintapres
Nos mares do fim do mundo, de Bernardo Santareno
Nos mares do fim do mundo, de Bernardo SantarenoNos mares do fim do mundo, de Bernardo Santareno
UM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓS
UM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓSUM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓS
UM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓS
Silvia Raquel Freitas Vieira
 
Olegário Mariano
Olegário MarianoOlegário Mariano
Olegário MarianoMima Badan
 
Poetas nacionalismo.pdf
Poetas nacionalismo.pdfPoetas nacionalismo.pdf
Poetas nacionalismo.pdf
Homedigital3
 
Antologia Digital da ALSPA.pdf
Antologia Digital da ALSPA.pdfAntologia Digital da ALSPA.pdf
Antologia Digital da ALSPA.pdf
Luciana Rugani
 
A Apreciação Crítica no programa de português.pptx
A Apreciação Crítica no programa de português.pptxA Apreciação Crítica no programa de português.pptx
A Apreciação Crítica no programa de português.pptx
AnaSimes583336
 

Semelhante a Cronologia viva (20)

Quintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloQuintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapallo
 
Adolfo caminha no país dos ianques
Adolfo caminha   no país dos ianquesAdolfo caminha   no país dos ianques
Adolfo caminha no país dos ianques
 
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da PaixãoCenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
 
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da PaixãoCenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
Cenas da Escravidão - Rodolfo Gustavo da Paixão - Rodolpho Gustavo da Paixão
 
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
 
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
 
Noite na taverna
Noite na tavernaNoite na taverna
Noite na taverna
 
SIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptxSIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptx
 
Poesia do Realismo
Poesia do RealismoPoesia do Realismo
Poesia do Realismo
 
Exposição: Dia Mundial do Teatro
Exposição: Dia Mundial do TeatroExposição: Dia Mundial do Teatro
Exposição: Dia Mundial do Teatro
 
Tintapres
TintapresTintapres
Tintapres
 
Tintapres
TintapresTintapres
Tintapres
 
Nos mares do fim do mundo, de Bernardo Santareno
Nos mares do fim do mundo, de Bernardo SantarenoNos mares do fim do mundo, de Bernardo Santareno
Nos mares do fim do mundo, de Bernardo Santareno
 
UM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓS
UM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓSUM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓS
UM POETA LÍRICO EÇA DE QUEIRÓS
 
Sobre as Asas
Sobre as AsasSobre as Asas
Sobre as Asas
 
Olegário Mariano
Olegário MarianoOlegário Mariano
Olegário Mariano
 
Poetas nacionalismo.pdf
Poetas nacionalismo.pdfPoetas nacionalismo.pdf
Poetas nacionalismo.pdf
 
Antologia Digital da ALSPA.pdf
Antologia Digital da ALSPA.pdfAntologia Digital da ALSPA.pdf
Antologia Digital da ALSPA.pdf
 
Revist'A Barata - 01
Revist'A Barata - 01Revist'A Barata - 01
Revist'A Barata - 01
 
A Apreciação Crítica no programa de português.pptx
A Apreciação Crítica no programa de português.pptxA Apreciação Crítica no programa de português.pptx
A Apreciação Crítica no programa de português.pptx
 

Mais de LRede

Livro do Projeto Mulheres Mil
Livro do Projeto Mulheres MilLivro do Projeto Mulheres Mil
Livro do Projeto Mulheres Mil
LRede
 
Histórias para oficina simpósio
Histórias para oficina simpósioHistórias para oficina simpósio
Histórias para oficina simpósioLRede
 
Era uma vez... Não foi bem assim!
Era uma vez... Não foi bem assim!Era uma vez... Não foi bem assim!
Era uma vez... Não foi bem assim!LRede
 
Um drama na caca & outros contos anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos   anton tchekhovUm drama na caca & outros contos   anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos anton tchekhovLRede
 
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazA ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazLRede
 
O ateu-ambulante-salma-ferraz
O ateu-ambulante-salma-ferrazO ateu-ambulante-salma-ferraz
O ateu-ambulante-salma-ferrazLRede
 
Encarnação
EncarnaçãoEncarnação
EncarnaçãoLRede
 
O navio negreiro
O navio negreiroO navio negreiro
O navio negreiroLRede
 
Ultimos sonetos
Ultimos sonetosUltimos sonetos
Ultimos sonetosLRede
 

Mais de LRede (9)

Livro do Projeto Mulheres Mil
Livro do Projeto Mulheres MilLivro do Projeto Mulheres Mil
Livro do Projeto Mulheres Mil
 
Histórias para oficina simpósio
Histórias para oficina simpósioHistórias para oficina simpósio
Histórias para oficina simpósio
 
Era uma vez... Não foi bem assim!
Era uma vez... Não foi bem assim!Era uma vez... Não foi bem assim!
Era uma vez... Não foi bem assim!
 
Um drama na caca & outros contos anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos   anton tchekhovUm drama na caca & outros contos   anton tchekhov
Um drama na caca & outros contos anton tchekhov
 
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazA ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
 
O ateu-ambulante-salma-ferraz
O ateu-ambulante-salma-ferrazO ateu-ambulante-salma-ferraz
O ateu-ambulante-salma-ferraz
 
Encarnação
EncarnaçãoEncarnação
Encarnação
 
O navio negreiro
O navio negreiroO navio negreiro
O navio negreiro
 
Ultimos sonetos
Ultimos sonetosUltimos sonetos
Ultimos sonetos
 

Último

Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptxSlides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
LuizHenriquedeAlmeid6
 
ptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultos
ptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultosptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultos
ptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultos
Escola Municipal Jesus Cristo
 
os-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdf
os-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdfos-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdf
os-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdf
GiselaAlves15
 
Química orgânica e as funções organicas.pptx
Química orgânica e as funções organicas.pptxQuímica orgânica e as funções organicas.pptx
Química orgânica e as funções organicas.pptx
KeilianeOliveira3
 
Fato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptx
Fato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptxFato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptx
Fato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptx
MariaFatima425285
 
HISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptx
HISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptxHISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptx
HISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptx
WALTERDECARVALHOBRAG
 
Apresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptx
Apresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptxApresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptx
Apresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptx
JulianeMelo17
 
LIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptx
LIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptxLIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptx
LIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptx
WelidaFreitas1
 
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmenteeducação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
DeuzinhaAzevedo
 
EJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdf
EJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdfEJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdf
EJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdf
Escola Municipal Jesus Cristo
 
História Do Assaré - Prof. Francisco Leite
História Do Assaré - Prof. Francisco LeiteHistória Do Assaré - Prof. Francisco Leite
História Do Assaré - Prof. Francisco Leite
profesfrancleite
 
.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt
.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt
.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt
IslanderAndrade
 
Aula01 - ensino médio - (Filosofia).pptx
Aula01 - ensino médio - (Filosofia).pptxAula01 - ensino médio - (Filosofia).pptx
Aula01 - ensino médio - (Filosofia).pptx
kdn15710
 
O sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de Carvalho
O sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de CarvalhoO sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de Carvalho
O sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de Carvalho
analuisasesso
 
BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...
BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...
BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...
Escola Municipal Jesus Cristo
 
Caça-palavras ortografia M antes de P e B.
Caça-palavras    ortografia M antes de P e B.Caça-palavras    ortografia M antes de P e B.
Caça-palavras ortografia M antes de P e B.
Mary Alvarenga
 
the_story_garden_5_SB_with_activities.pdf
the_story_garden_5_SB_with_activities.pdfthe_story_garden_5_SB_with_activities.pdf
the_story_garden_5_SB_with_activities.pdf
CarinaSoto12
 
UFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manual
UFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manualUFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manual
UFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manual
Manuais Formação
 
iNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdf
iNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdfiNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdf
iNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdf
andressacastro36
 
Slides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptx
Slides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptxSlides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptx
Slides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptx
LuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptxSlides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
 
ptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultos
ptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultosptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultos
ptoposta curricular de geografia.da educação de jovens a e adultos
 
os-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdf
os-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdfos-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdf
os-lusiadas-resumo-os-lusiadas-10-ano.pdf
 
Química orgânica e as funções organicas.pptx
Química orgânica e as funções organicas.pptxQuímica orgânica e as funções organicas.pptx
Química orgânica e as funções organicas.pptx
 
Fato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptx
Fato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptxFato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptx
Fato X Opinião (Língua Portuguesa 9º Ano).pptx
 
HISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptx
HISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptxHISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptx
HISTÓRIA DO CEARÁ MOVIMENTOS REVOLUCIONARIOS NO CEARÁ.pptx
 
Apresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptx
Apresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptxApresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptx
Apresentação_Primeira_Guerra_Mundial 9 ANO-1.pptx
 
LIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptx
LIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptxLIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptx
LIÇÃO 9 - ORDENANÇAS PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO.pptx
 
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmenteeducação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
educação inclusiva na atualidade como ela se estabelece atualmente
 
EJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdf
EJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdfEJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdf
EJA -livro para professor -dos anos iniciais letramento e alfabetização.pdf
 
História Do Assaré - Prof. Francisco Leite
História Do Assaré - Prof. Francisco LeiteHistória Do Assaré - Prof. Francisco Leite
História Do Assaré - Prof. Francisco Leite
 
.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt
.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt
.Template .padrao .slides .TCC .2024 ppt
 
Aula01 - ensino médio - (Filosofia).pptx
Aula01 - ensino médio - (Filosofia).pptxAula01 - ensino médio - (Filosofia).pptx
Aula01 - ensino médio - (Filosofia).pptx
 
O sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de Carvalho
O sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de CarvalhoO sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de Carvalho
O sentimento nacional brasiliero, segundo o historiador Jose Murlo de Carvalho
 
BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...
BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...
BULLYING NÃO É AMOR.pdf LIVRO PARA TRABALHAR COM ALUNOS ATRAVÉS DE PROJETOS...
 
Caça-palavras ortografia M antes de P e B.
Caça-palavras    ortografia M antes de P e B.Caça-palavras    ortografia M antes de P e B.
Caça-palavras ortografia M antes de P e B.
 
the_story_garden_5_SB_with_activities.pdf
the_story_garden_5_SB_with_activities.pdfthe_story_garden_5_SB_with_activities.pdf
the_story_garden_5_SB_with_activities.pdf
 
UFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manual
UFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manualUFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manual
UFCD_8298_Cozinha criativa_índice do manual
 
iNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdf
iNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdfiNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdf
iNTRODUÇÃO À Plantas terrestres e Plantas aquáticas. (1).pdf
 
Slides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptx
Slides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptxSlides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptx
Slides Lição 10, CPAD, Desenvolvendo uma Consciência de Santidade, 2Tr24.pptx
 

Cronologia viva

  • 1. CRONOLOGIA VIVA Anton Tchkhov O salão do Conselheiro de Estado Charamikin está mergulhado em agradável penumbra. A grande lâmpada de bronze, com seu quebra-luz verde, tinge, à maneira de uma ―noite da Ucrânia‖, as paredes, os móveis, as fisionomias… De quando em quando, na lareira expirante, abrasa-se uma acha que se consome, e por um instante projeta nos rostos um clarão de incêndio. Isto, porém, não perturba a harmonia geral das luzes. O tom de conjunto, como diriam os pintores, mantém-se. Ao pé da lareira, acha-se afundado em uma poltrona, na postura dum homem que acaba de jantar, Charamikin em pessoa, senhor idoso, de suíças cinzentas de funcionário, olhos de um azul doce. Transparece-lhe no rosto a benignidade. Um sorriso melancólico franze-lhe os lábios. A seus pés, sobre um mocho, com as pernas voltadas para a lareira e estirando-se preguiçosamente, está sentado o Vice-Governador Lopnef, galharda figura de cerca de quarenta anos. Junto ao piano brincam os filhos de Charamikin – Nina, Kólia, Nádia e Vânia. Do salão da Sra. Charamikin chega, pela porta entreaberta, uma luz tímida. Ali, sentada à secretária, vê-se Ana Pavlovna, presidenta do Comitê das damas da cidade — jovem senhora, viva e picante, dos seus trinta anos e mais alguma coisa. Através do lornhom, os olhos negros e vivos deslizam pelas páginas de um romance francês. Sob o romance encontra-se, dilacerado, um relatório do Comitê, do ano anterior.
  • 2. — Antigamente, nesse ponto de vista — diz Charamikin, piscando os olhos pacatos à claridade dos tições morrediços —, nossa cidade era mais favorecida. Não se passava um inverno que não aparecesse alguma estrela. Tivemos atores e cantores célebres. E agora?… Sabe o diabo o que é! Afora prestidigitadores e tocadores de realejo, não vem mais ninguém. Nenhum prazer estético… Parece que vivemos no mato… Sim… Lembra-se, Excelência, daquele trágico italiano?… Como se chamava mesmo?… Um moreno, alto… Queira Deus que eu me lembre! Ah! sim! Luigi Ernesto di Ruggiero. Um talento notável… Que força! Era ele abrir a boca, e o teatro em peso estremecia. A minha Anniutotchka se interessava muito pelo talento dele. Conseguiu-lhe o teatro e vendeu bilhetes para dez espetáculos… Ele, em recompensa, lhe deu lições de declamação e de música. Um amor de homem! Ele esteve aqui… não vá eu enganar-me… há doze anos… Não, estou enganado… Menos, apenas dez. Anniutotchka, que idade tem a nossa Nina? — Vai fazer dez anos — gritou Ana Pavlovna lá do seu escritório. — Por quê? — Nada, minha filhinha, só para saber… E às vezes também vinham bons cantores… Lembra-se do tenore di grazia Priliptchin? Que amor de homem! Que aparência!… Um louro… semblante expressivo, maneiras parisienses… E que voz, Excelência! Só tinha um defeito: cantava algumas notas com o ventre e emitia o ré em falsete; no mais, tudo era bom. Dizia-se aluno de Tamberlick… Anniutotchka e eu conseguimos para ele o salão do Círculo, e, como prova de gratidão, ele cantava em nossa casa, dias e noites… Ensinava canto a Anniutotchka… Esteve aqui, lembro-me bem, pela Quaresma, isto há… doze anos. Não, mais!… Que memória, santo Deus! Anniutotchka, quantos anos tem a nossa pequena Nádia? — Doze anos.
  • 3. — Doze… se acrescentarmos dez meses… Exatamente… treze anos!… Antigamente havia na cidade — como direi? — mais vida… Vejamos, por exemplo, os nossos saraus de beneficência. Que belos saraus que houve… Que encanto! Tocava-se, cantava-se, declamava-se… Depois da guerra, lembro-me bem, houve aqui prisioneiros turcos. Anniutotchka organizou um sarau em benefício dos feridos. Rendeu mil e cem rublos… Os oficiais turcos ficaram doidos com a voz de Anniutotchka, e levavam o tempo a lhe beijar a mão. Eh! eh!… Apesar de asiáticos, são pessoas reconhecidas, os turcos. O sarau alcançou tamanho êxito que — imagine V. Exa. — eu anotei no meu diário. Isto foi, se estou bem lembrado, em 76… Não… Em 77… Não! Um momento! Quando foi mesmo que tivemos os turcos? Anniutotchka, quantos anos tem o nosso Kolitchka? — Eu tenho sete anos, papai — disse Kólia, garoto trigueiro, de cabelos pretos como carvão. — Sim, a gente envelhece — assenta Charamikin, sorrindo. — A nossa energia já não é a mesma… Eis aí a razão de tudo… A velhice, meu caro! Faltam precursores novos, e os velhos envelheceram… Já não se tem o mesmo ardor. Quando eu era mais moço, não gostava que as pessoas se aborrecessem… Era o primeiro a ajudar a nossa Ana Pavlovna… Tratava-se de organizar um sarau de beneficência, uma tômbola, de dar apoio a uma celebridade estrangeira? Eu largava tudo e metia mãos à obra… Um inverno, recordo-me bem, corri tanto, trabalhei tanto, que caí doente… Não posso esquecer esse inverno… Lembra-se do espetáculo que organizamos com a nossa Ana Pavlovna em benefício das vítimas do incêndio? — Em que ano foi isso?
  • 4. — Não faz muito tempo… Em 79. Não, creio que em 80. Um momento. Que idade tem nosso Vânia? — Cinco anos — grita Ana Pavlovna lá do seu salão. — Então foi há seis anos… Sim, meu caro, tantas coisas… Agora já não há nada disso! O ardor já não é o mesmo. Lopnef e Charamikin meditam. A acha morrediça aviva-se pela última vez e se cobre de cinza.