Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Correio ferrugem
1. O
Instituto Agronômico de
Campinas (IAC) e o
Instituto Biológico (IB),
ambos da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do
Estado de São Paulo, alertam os
cafeicultores paulistas sobre a
antecipação dos danos
causados pela ferrugem na
safra 2018-2019. A principal
doença dessa cultura está
amplamente distribuída em
todas as regiões do País e pode
derrubar a produção em até
50%. A ferrugem forma
manchas amareladas na parte
de baixo das folhas, que caem.
A planta fica debilitada e não
consegue formar os botões
florais da safra seguinte,
reduzindo a produção.
Segundo a pesquisadora
Angelica Prela Pantano, do IAC,
a ferrugem dependente do
clima para se desenvolver e a
epidemia pode variar em cada
região onde há o cultivo. “Este
ano a doença está muito
agressiva em função do clima,
que tem altas temperaturas e
chuvas desuniformes. Foi
muita chuva em novembro e
pouca em dezembro, quando
esquentou muito”, comenta
Angelica sobre as condições
que favorecem a disseminação
da ferrugem, causada pelo
fungo Hemileia Vastatrix.
Normalmente, há maior
incidência de chuvas em
dezembro e janeiro. Neste ano,
os volumes de janeiro foram
inferiores aos esperados. Em
alguns locais como Franca,
Mococa e Caconde, o volume
esperado era de 281mm,
275mm e 247mm e foram
registrados cerca de 65,5mm,
105,2mm e 45,3mm,
respectivamente. No ano
anterior, nesse mesmo mês, a
precipitação pluviométrica
registrada foi de 193mm, em
Franca, e de 250mm em
Mococa e Caconde. “Em
Campinas, o volume registrado
de 225mm foi pouco abaixo do
esperado, que era em torno de
240mm, porém, em todos os
locais citados, as temperaturas
médias mínimas foram acima
da média histórica, o que
favorece a doença”, diz
Angélica.
De acordo com a
pesquisadora do IAC, Masako
Toma Braghini, conhecida
como Mako, a ferrugem precisa
de temperaturas amenas, em
torno de 23˚graus e água,
principalmente a umidade da
manhã, para se desenvolver.
Ela explica que a ferrugem
começa a aparecer entre
novembro e dezembro, mas
por conta do clima
desfavorável ela apareceu de
forma mais tardia. "Quando é
tardia, o pico também vai mais
para frente. A temperatura
estava muito alta e com pouca
umidade. Agora com a
umidade alta e as temperaturas
mais amenas, as condições de
ferrugem vão favorecer e vai
começar a crescer", afirma.
Segundo a pesquisadora do
IB, Flávia Rodrigues Alves
Patrício, a epidemia de
ferrugem, em geral, inicia-se
em dezembro, e pode se
manifestar até o Inverno,
quando a temperatura começa
a cair. O alerta vale para as
plantas que são suscetíveis à
ferrugem e não às que são
resistentes. As mais plantadas
no Brasil são justamente as que
são suscetíveis. A Catuaí,
amarela ou vermelha, que é de
porte baixo, e a Mundo Novo,
que é de porte alto.
Os pesquisadores do IAC e
IB fazem avaliações de campo
mensalmente nas regiões de
Campinas, Mococa, Caconde e
Franca. Ainda em janeiro,
observaram que em alguns
locais a doença já havia
atingido o nível aceitável e era
necessário iniciar o controle
químico. Essa necessidade
pode aumentar os custos da
produção porque requer mais
pulverizações. “Tem
produtores que, para
economizar, esperam atingir o
nível aceitável, para então dar
início às pulverizações”, conta
a pesquisadora do IAC.
Os níveis aceitáveis da
doença na planta estão em
torno de 3% a 5% da lavoura.
Mas é preciso cuidado, pois o
ciclo leva cerca de um mês.
Antes disso, ela já está na folha,
mas ainda não aparece.
Nos levantamentos
realizados na safra de
2018-2019, causam
preocupação as elevadas
incidências de ferrugem já em
janeiro nas regiões de
Campinas, Franca e Caconde.
Foi observada a doença, nas
áreas sem tratamento, em
44,4% das plantas da Catuaí,
em Campinas, em 32% da
Mundo Novo, em Franca, em
de 33% e 53% nas Catuaí e
Mundo Novo,
respectivamente, em Caconde.
“Apenas em Mococa, região
mais quente que as demais, as
folhas com ferrugem
encontradas em novembro
caíram e a ferrugem ainda não
está ocorrendo nas áreas sem
tratamento”, afirma Flávia.
Disseminação
Por ser composta por um pó, a
ferrugem tem fácil
disseminação pelo vento e
umidade. “A folha doente cai
no chão e o fungo permanece
vivo; ao nascer uma nova folha
ela já é contaminada”, explica a
pesquisadora do IAC. A
ferrugem ataca somente as
folhas, não incide sobre os
frutos, mas ao causar a
desfolha, compromete a safra
do ano seguinte. Isso porque a
planta gasta sua energia para
fazer o novo enfolhamento,
recurso que deveria ser usado
para a produção de fruto.
“Assim, não terá fruto, por isso
o prejuízo acontece na próxima
safra”, resume Angélica.
As pesquisas mostram que
sem o tratamento preventivo, a
incidência da ferrugem
aumenta. “Sobra inóculo para
o próximo ano e causa a
desfolha da planta”, diz
Angélica.
Desde 2016, uma equipe
formada por pesquisadores do
Instituto Agronômico, Instituto
Biológico, Embrapa Café e
produtores rurais de Franca e
Caconde realizam
levantamentos em Franca,
Caconde, Mococa e Campinas
para estudar a relação entre a
ocorrência de doenças e pragas
e o clima do período analisado.
Nesses locais, pequenas áreas
das lavouras são
disponibilizadas para os
levantamentos e permanecem
sem tratamentos químicos
contra doenças e pragas
durante os experimentos.
Aplicação de defensivo precisa de monitoramento
Doença
chegou em
1970
Pesquisadora do IAC
Roberto Antonio Thomazie-
llo, engenheiro agrônomo do
IAC, explica que a doença
chegou ao Brasil em 1970 e foi
detectada no Estado da Bahia.
"No começo não tínhamos
tecnologia de controle
químico para ferrugem. O que
tinha eram trabalhos aqui do
Centro de Café, do Dr. Alcides
Carvalho — que dá nome ao
Centro. Ele já tinha se
antecipado que um dia a
ferrugem iria ocorrer. Foi uma
visão fantástica de pesquisa. Já
tinha a doença na África."
Ele aponta que há
controvérsias como a doença
chegou ao País, se foi alguma
muda ou pirataria. "Mas a
ferrugem é um esporo, vem
pelo vento, corrente marítima
pode trazer. Ele se antecipou e
começou um trabalho de
melhoramento de café com
resistência à ferrugem", relata.
Por conta desses estudos
pioneiros, hoje existem
plantas que são resistentes as
17 raças do patógeno
encontradas no Brasil.
"Resistência não significa
imune. Muitas vezes ela tem
uma tolerância. Alguns
materiais até o momento são
totalmente resistentes às raças
que estão aí, mas pode ser que
essa resistência total num
determinado momento possa
ser quebrada por uma
evolução, uma nova raça. Mas
existe e se o produtor quiser
plantar um material com
resistência, isso diminui o
custo porque não aplica o
defensivo", conclui.
(FLN/AAN)
O engenheiro agrônomo do
IAC, Roberto Antonio
Thomaziello, aponta que não
basta fazer a aplicação do
defensivo nas lavouras, é
preciso monitoramento para
aplicá-lo nos momentos
corretos. De acordo com ele,
o correto é fazer a primeira
aplicação entre novembro e
dezembro e a segunda em no
máximo 60 dias.
"A gente anda muito, faz
muitas visitas, e o grande
problema que eu vejo no
campo é que o produtor às
vezes não faz a aplicação no
momento correto. Às vezes,
espaça para fazer a segunda,
passa de 60 dias. Não adianta
fazer a aplicação correta,
com o produto correto, com
a dosagem correta se o
indivíduo não faz no
momento certo", explica.
Ainda de acordo com o
engenheiro, em um ano de
safra alta a planta fica mais
suscetível à doença e é
recomendado nem esperar
os 60 dias para a segunda
aplicação. "Pode antecipar
um pouco e fazer com 45
dias para não correr o risco
porque nessa época chove
muito. Se você espera 60
dias, e a pressão da ferrugem
está alta, começa a chover e
tem que esperar a chuva
passar para não lavar (o
veneno das folhas)", aponta.
Quem fez a primeira
aplicação do defensivo em
dezembro, por exemplo,
agora em fevereiro já deve ter
terminado a segunda. "Essa é
a orientação. E,
provavelmente, tenha que
fazer uma terceira aplicação.
É preciso monitorar. Duas é
o mínimo. Uma terceira
depende do monitoramento
que se faz. Hoje, em lavouras
muito bem cuidadas você
tem que fazer pelo menos
três aplicações. É muito
difícil hoje segurar com
duas", comenta.
Thomaziello diz que já
está aparecendo bastante
ferrugem nas lavouras, por
isso, o alerta dos institutos.
"Veio um produtor aqui, da
região do Sul de Minas, e
disse: ‘vou começar a fazer a
segunda aplicação’. Eu falei
para ele que já perdeu
tempo. Já está atrasado. Já
devia estar terminando a
segunda porque já tem
ferrugem", afirma.
(FLN/AAN)
Ferrugem pode
derrubar a safra
Sem o MAPEAMENTO da lavoura e a aplicação correta de
defensivos para conter a DOENÇA que debilita a planta, há
o RISCO de perdas de até 50% na safra de 2018-2019
“Se não monitorar e não fizer aplicação, vai ter
infestação alta no campo, que não consegue mais
controlar com nenhum veneno. Pode chegar até
50% de perda na produção, esse é o alerta.”
MASAKO TOMA BRAGHINI
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
As condições
climáticas
registradas nos
últimos meses
favorecem a
disseminação, em
todas as partes do
País, da ferrugem,
uma praga causada
pelo fungo
Hemileia Vastatrix,
que forma
manchas
amareladas na
parte de baixo das
folhas, que acabam
caindo
REPORTAGEM
ESPECIAL PRAGA NO
CAFEZAL
francisco.neto@rac.com.br
Francisco Lima Neto
Roberto Antonio Thomaziello,
engenheiro agrônomo do IAC
Fotos: Matheus Pereira/Especial para a AAN
A6 CORREIO POPULARA6 Campinas, domingo, 24 de fevereiro de 2019
CIDADES