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Convenções e Transcrição Fonética
O Alfabeto Fonético Internacional
Na grafia de qualquer língua, a relação entre o som e a letra (o símbolo que representa
convencionalmente o som) não é biunívoca, ou seja, a uma letra não corresponde sempre o
mesmo som e um som não é representado sempre pela mesma letra. Por outro lado, num
determinado alfabeto (como o latino, p.ex. que é o utilizado por muitas línguas como as
românicas e as germânicas) a mesma letra pode corresponder a sons diferentes em diferentes
línguas. Esta variação, decorrente de diversos factores entre os quais se inclui a relação entre os
sons no interior de uma palavra, levou à criação de alfabetos fonéticos que permitem descrever
de forma não ambígua o contínuo sonoro e possibilitam, a quem não conheça determinada
língua, saber como se pronunciam os sons de uma palavra quando transcritos foneticamente. O
sistema de transcrição fonética mais usado é o Alfabeto Fonético Internacional (AFI),
criado em 1888 pela Associação Internacional de Fonética. Nesta apresentação utilizamos o AFI
de acordo com a sua última actualização, datada de 1996. O Alfabeto Fonético é constituído
por símbolos que representam os sons básicos mais frequentes nas línguas do mundo (como as
consoantes [p] ou [f], ou a vogal [a]) e por sinais diacríticos que acrescentam aos símbolos
informação sobre aspectos complementares (como o til, [~], sobre a vogal para indicar a
nasalidade – [õ] – ou o diacrítico ['] que, neste texto, precede a sílaba em que está a vogal
acentuada – ['pa]).
O conjunto de sons da norma-padrão do Português Europeu e a sua representação com os
símbolos do AFI constituem três grupos: vogais orais e vogais nasais, semivogais
orais e nasais (o segundo elemento de um ditongo) e consoantes. Os exemplos são, sempre
que possível, palavras monossilábicas cuja pronúncia se pode ouvir.
Vogais Orais
[i] vi ['vi]
[e] vê ['ve]
[ɛ] pé ['pɛ]
[a] pá ['pa]
[ɐ] para [pɐɾɐ]
[ɛ] de
[ɔ] sol ['sɔl]
[o] pôr, sou ['poɾ, 'so]
[u] tu ['tu]
Vogais Nasais
[ĩ] sim ['sĩ]
[e͂] pente
[ɐ͂] romã, banco [ʀu'mɐ͂, 'bɐ͂ku]
[õ] põe, ponte
[ũ] atum [ɐ'tũ]
Semivogais ou glides orais e nasais
[j] pai ['paj] mãe
[w] pau ['paw] [w̃] cão ['kɐ͂w̃]
Consoantes
[p] pá ['pa]
[b] bem
[t] tu ['tu]
[d] dou ['do]
[k] cacto ['katu]
[g] gato ['gatu]
[f] fé ['fɛ]
[v] vê ['ve]
[s] sabe, passo, caça ['sabɨ, 'pasu, 'kasɐ]
[z] casa, azar ['kazɐ, ɐ'zaɾ]
[ʃ] chave
[ʒ] já ['ʒa]
[m] mão ['mɐ͂w̃]
[n] não ['nɐ͂w̃]
[ɲ] venho ['vɐɲu]
[l] lá ['la]
[ʎ] valha ['vaʎɐ]
[ɾ] caro ['kaɾu]
[ʀ] carro ['kaʀu]
Acrescente-se que alguns dialectos do Português Europeu têm sons que não fazem parte da
norma-padrão mas que são aqui referidos embora não venham a ser descritos em particular.
Assim, enquanto na norma-padrão as vogais nasais são [ɐ͂], [e͂], [õ], em certos dialectos do norte
de Portugal pronunciam-se mais abertas, (por exemplo, [ã] banco ['bãku] como no francês blanc).
Também em dialectos do norte a consoante [b] tem uma pronúncia que se confunde com [v] mas
que se representa por [β] (por exemplo, vaca ['βakɐ]); [s] e [z] soam como [ʃ] embora sejam
consoantes diferentes, representadas por [ʂ] e [ʐ] (por exemplo, sabe, passo,
casa ) e [ʃ], representado graficamente pelo dígrafo <ch>, pronuncia-se [tʃ]͡͡͡ (por
exemplo, chave ).
Letras e sons
Visto que letras e sons não têm uma relação biunívoca, apresentam-se os seguintes diagramas
que partem das letras utilizadas em Português Europeu e mostram quais os sons que podem ser
representados por elas.
Vogais Orais
<a> [a] (pá) [ɐ] (da)
<e> [e] (vê) [ɛ] (pé) [ɐ] (meia) [i] (emigrar)
<i> [i] (vi) [j] (pai)
<o> [ɔ] (sol) [o] (pôr) [u] (sapo) [w] (mágoa)
<u> [u] (tu) [w] (pau)
Vogais Nasais
<in, im> [ĩ] (tinta, sim)
<en, em> [e͂] (pente, membro) [ɐ͂j] (cem)
<an, am> [ɐ͂] (banco, ambos)
<am> [ɐ͂w̃]) (formas verbais como amam, batam)
<ã> [ɐ͂] (romã)
<on, om> [õ] (ponte, pombo)
<õ> [õ] (põe)
<un, um> [ũ] (unto, atum)
Consoantes
<p> [p] (pá)
<b> [b] (bem)
<t> [t] (tu)
<d> [d] (dou)
<f> [f] (fé)
<v> [v] (vê)
<s> [s] (sabe) [z] (casa) [ʃ] (lista, listas) [ʒ] (mesmo)
<ss> [s] (passo)
<z> [z] (fazer) [ʃ] (rapaz)
<x> [ʃ] (xaile) [ks] (léxico) [s] (sintaxe) [z] (êxito)
<c>
[k] (cacto, cravo,
cota)
[s] (céu, cinza)
<ch> [ʃ] (chave)
<ç> [s] (paço)
<qu> [k] (quer) [kw] (qual)
<j> [ʒ] (hoje)
<g>
[g] (gato, golo,
agudo)
[ʒ] (viagem, fugir)
<m> [m] (mão)
<n> [n] (não)
<nh> [ɲ] (venho)
<r> [ɾ] (para) [ʀ] (rato)
<rr> [ʀ] (carro)
<l> [l] (lado)
<lh> [ʎ] (valha)
Fonética e Fonologia: Que diferença?
A Fonética
O estudo da fonética e da fonologia de uma língua é a descoberta da sua face exterior, a
análise daquele nível a que temos acesso quando ouvimos alguém falar ou quando nós próprios
produzimos fala; é, enfim, o estudo dos sons da língua. Note-se que o funcionamento das línguas
é estudado sobre os dados da sua produção oral e não assenta, portanto, predominantemente
sobre a escrita, embora possa fazer referência episódica a aspectos ortográficos. A sensação que
os falantes alfabetizados têm de que as questões ortográficas são as questões linguísticas
prioritárias advém de a alfabetização se processar nos primeiros anos escolares e ser
rapidamente interiorizada, além de constituir, muitas vezes, o aspecto sobre que incide
prioritariamente a aprendizagem escolar da língua.
Mas qual é a diferença entre fonética e fonologia se ambos os estudos procuram analisar e
explicar os sons de uma língua?
A fonética descreve os aspectos articulatórios e as propriedades físicas de todos os sons que
ocorrem na produção linguística (o nível de superfície, a “face exposta” de uma língua).
A fonologia estuda os sons que têm uma função na língua e que permitem aos falantes
distinguir significados.
A Fonética
O estudo da Fonética ocupa-se da produção, da transmissão e da percepção dos sons da fala,
dividindo-se, de acordo com o seu objecto, em fonética articulatória, acústica e perceptiva. Nesta
apresentação são consideradas apenas as propriedades articulatórias e as propriedades
acústicas dos sons.
As propriedades articulatórias
Quando o estudo dos sons tem em conta a posição e o movimento dos articuladores estamos no
domínio da fonética articulatória. Deste ponto de vista, devem considerar-se os seguintes
aspectos:
• O som é produzido pela pressão exercida pelos pulmões que são uma fonte de energia e
colocam em movimento as partículas do ar neles contido. O ar passa então pela laringe, na qual
se encontra um orifício, a glote, onde se localizam ascordas vocais que, ao vibrarem, actuam
como uma fonte sonora. Os sons produzidos com vibração das cordas vocais são vozeados (ou
sonoros) – as obstruintes sonoras (oclusivas e fricativas), todas as vogais e as consoantes nasais
e líquidas (laterais e vibrantes).
• Em seguida, o ar entra na cavidade bucal que actua como uma caixa de ressonância. Nesta
cavidade, os articuladores activos, com mobilidade – lábios, língua, palato mole ou véu palatino, e
a úvula – e passivos, sem mobilidade – palato duro, alvéolos dentários e maxilar inferior –– têm
funções na definição do som que o falante pretende produzir (vogais, semivogais e consoantes).
Se o ar passar também pela cavidade nasal por abaixamento do véu palatino produz-se um som
nasal, quer consoante (como [m] ou [n]) quer vogal (como [õ] ou [ɐ͂]). O conjunto dos órgãos do
aparelho fonador que se encontram acima da laringe constitui o tracto vocal.
As Vogais
As configurações de produção dos sons determinam, no que respeita às vogais,
a altura (altas, , médias [e, ɐ, o] oubaixas [a, ɛ, ɔ]) e o ponto de
articulação (anteriores ou palatais, [i, e, ɛ], centrais, , e posteriores ou velares [u, o, ɔ]).
As vogais do Português também podem ser classificadas em relação à posição dos
lábios: arredondados na produção de [u, o, ɔ] e não-arredondados na produção das restantes
vogais.
Se o véu palatino se abaixar durante a pronúncia do som, a vogal adquire nasalidade. As vogais
nasais no Português Europeu são apenas altas e médias (o também não pode ser nasal). Veja-
se o Quadro 1 que representa as vogais orais e nasais do PE (norma--padrão). No quadro estão
marcados a altura e o ponto de articulação.
Altura
Ponto de Articulação
Anterior ou Paleatal Central Posterior ou Velal
Altas [i, ĩ] [u, ũ]
Médias [e, e͂] [ɐ,ɐ͂] [o, õ]
Baixas [ɛ] [a] [ɔ]
Não Arredondadas Arredondadas
A altura das vogais e o seu ponto de articulação decorrem da posição do dorso da língua em
relação ao que se designa como ‘posição neutra’ (de repouso):
• as vogais altas são pronunciadas com o dorso da língua elevado em relação à posição neutra,
• as médias com o dorso da língua na posição neutra,
• as baixas, com o dorso da língua abaixado em relação à posição neutra.
Quanto ao ponto de articulação, é também o dorso da língua que o determina. Assim:
• as vogais anteriores são produzidas com o dorso da língua avançado em relação à posição
neutra,
• as centrais, com o dorso da língua na posição neutra,
• as posteriores, com o dorso da língua recuado em relação à posição neutra.
A classificação das vogais deve tomar em conta os vários aspectos (parâmetros ou traços) que
estão presentes no Quadro 1 Assim, por exemplo, a vogal [i] do Português classifica-se como
uma vogal alta, anterior, não-arredondada e não nasal; a vogal [ɐ͂] classifica-se como média,
central, não-arredondada e nasal.
As Semi-Vogais ou Glides
As semivogais ou glides que se encontram no nível fonético do Português – representadas por [j]
e [w], e as nasais, por [j] e [w̃] – têm características idênticas às das vogais [i] e [u] ([ĩ], [ũ]),
mas distinguem-se delas por terem uma pronúncia mais breve e ocorrerem sempre a seguir às
vogais com as quais formam ‘ditongos decrescentes’. Assim, a semivogal [j] é alta, anterior e não
arredondada e a semivogal [w] é alta, posterior e arredondada.
As Consoantes
Os parâmetros de classificação das consoantes são os seguintes:
• O ponto de articulação – bilabiais, lábio-dentais, apico-dentais, alveolares, palatais e velares,
conforme as zonas da boca em que são produzidas e os articuladores que as estimulam (as
consoantes lábio-dentais, por exemplo, são produzidas com o lábio inferior junto dos dentes;
podendo apenas ser fricativas como o [f]; as apico-dentais são produzidas com a ponta da língua,
ou apex, junto dos dentes, podendo ser fricativas como [s] ou oclusivas, como o [t]).
• O modo de articulação – oclusivas, fricativas, laterais e vibrantes conforme o tipo de constrição
que apresentam à passagem do ar (as oclusivas têm uma interrupção completa à passagem do
ar; as fricativas têm uma constrição parcial que provoca ruído; as laterais têm uma constrição
provocada pela ponta da língua no centro da boca, passando o ar pelos lados; nas vibrantes, a
passagem do ar provoca uma vibração na zona do véu palatino (o [ʀ] do dialecto de Lisboa) ou
um simples toque da coroa da língua nos alvéolos (o [ɾ]).
• A nasalidade vs. a oralidade – as consoantes nasais são consoantes oclusivas em que a
passagem do ar sofre uma interrupção na cavidade bucal mas sai pela cavidade nasal por
abaixamento do véu palatino.
• A acção das cordas vocais – quando elas vibram, temos uma consoante vozeada (ou sonora) –
as oclusivas [b], [d], [g], as fricativas [v], [z], [ʒ], e todas as nasais e líquidas.
A classificação tradicional das consoantes do Português Europeu pode apresentar-se de acordo
com estes quatro parâmetros:ponto de articulação, modo de
articulação, nasalidade e vozeamento.
Veja-se o Quadro 2
Ponto de Articulação
Modo de Articulação
Oclusivas
Fricativas Laterais Vibrantes
Orais Nasais
Bilabiais
Vozeada b m
Não-Vozeada p
Labio-Dentais
Vozeada v
Não-Vozeada f
Apico-Dentais
Vozeada d z
Não-Vozeada t s
Alveolares
Vozeada n l ɾ
Não-Vozeada
Palatais
Vozeada ɲ ʒ ʎ
Não-Vozeada ʃ
Velares Vozeada
Vozeada g ʀ
Não-Vozeada k
As propriedades acústicas
Os sons possuem outras propriedades que lhes são inerentes e que os caracterizam como
entidades físicas. Estas propriedades são estudadas pela fonética acústica porque estão
relacionadas com as características acústicas das ondas sonoras. São elas:
• A frequência da onda sonora, ou seja, o número de vezes que um ciclo completo de vibração
das partículas se repete durante um segundo. O tom é o correlato linguístico da frequência.
Quanto maior for o número de ciclos de vibração das partículas, maior é a altura do som e,
portanto, mais “alto” é o tom. Esta propriedade relaciona-se, de um ponto de vista articulatório,
com as cordas vocais: quanto maior é o número de vibrações, maior é a altura do som. Uma
sequência de segmentos com os respectivos tons cria a entoação dessa sequência, quer se trate
de uma palavra ou de um grupo de palavras.
Clique nos quadros em baixo para ouvir as representações de onda acústica.
• A amplitude da onda sonora, ou seja, a distância entre o ponto zero e a pressão máxima da
onda, de que decorre a intensidade do som. Quanto maior for a amplitude de vibração das
partículas, maior é a quantidade de energia transportada por estas e maior é a sensação auditiva
de intensidade do som. O que chamamos “acento” numa palavra ou frase decorre desta
intensidade.
• A duração refere-se ao tempo de articulação de um som, sílaba ou enunciado, e tem uma
importância fundamental no ritmo de cada língua. A duração de cada unidade varia conforme a
velocidade de elocução, o que significa que se a velocidade de produção for maior, a duração de
cada elemento é menor.
Estas propriedades que estão sempre presentes nos sons têm na língua funções prosódicas, ou
seja, são postas ao serviço da entoação e do significado de um modo geral.
Leituras complementares
Delgado-Martins, Maria Raquel (1988) Ouvir falar: Introdução à Fonética do Português. Lisboa:
Caminho. (Capítulos 8 e 9)
Delgado-Martins, Maria Raquel (1973) Análise acústica das vogais tónicas do português. In
Delgado Martins (2002) Fonética do Português. Trinta anos de investigação. Lisboa: Editorial
Caminho: 41-52.
Johnson, Keneth (1997) Acoustic and auditory phonetics. Oxford: Blackwell Publishers.
Ladefoged, Peter (1982) A Course in Phonetics. New York: Harcourt publishers.
Stevens, K. (1998) Acoustic phonetics. London: The MIT Press.
Xavier, Maria Francisca e Mateus, Maria Helena (1990 e 1992). Dicionário de Termos
Linguísticos. Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e
Computacional. Lisboa: Edições Cosmos (Volume 1).
http://www.ait.pt/index2.htm
Características Fonéticas do Português Europeu VS Português Brasileiro
As diferenças mais evidentes entre as variantes de uma língua são de ordem fonética embora isto
não queira dizer que não se encontrem diferenças sintácticas, morfológicas ou de uso da língua.
Sentimos que um falante é desta ou daquela região, é português ou é brasileiro pela forma como
pronuncia certos sons. Tendo em atenção esta constatação, e dado que temos como objectivo
tratar a pronúncia da norma-padrão do Português Europeu, vale a pena chamar a atenção para
alguns aspectos que caracterizam o Português Europeu em relação a uma outra variedade da
língua – o Português Brasileiro.
Uma característica do Português Europeu que constitui, talvez, a mais notória diferença em
relação ao Português do Brasil diz respeito às vogais não-acentuadas que são muito mais
audíveis no Português Brasileiro do que no Europeu, sendo, nesta variedade, muito reduzidas, o
que leva, por vezes, à sua supressão. Esta característica do Português Europeu tem como
consequência que os estrangeiros compreendem melhor a pronúncia de um brasileiro do que de
um português, sentindo, neste último caso, que a língua parece ter só consoantes.
Um outra característica diz respeito à pronúncia da consoante fricativa que termina sílaba, quer
no interior da palavra (antes de outra consoante como em lista, mesmo) ou no final da palavra.
Normalmente, a consoante representa-se com a letra <s>(sapos) mas pode também grafar-se
com <z> (rapaz). Em Português Europeu, a consoante é uma palatal, ou , conforme estiver
antes de uma consoante vozeada ou não-vozeada (mesmo , lista ). Dado que esta
consoante é muito frequente por ser o sufixo do plural e por terminar vários radicais, provoca nos
ouvintes a sensação de que o Português Europeu, além de ter poucas vogais (muitas vogais
átonas são reduzidas ou suprimidas), tem numerosas consoantes palatais. No Português do
Brasil só um pequeno número de dialectos apresenta esta consoante palatal, ocorrendo no
mesmo contexto, com mais frequência, a fricativa dental [s].
As duas variedades nacionais do Português (europeia e brasileira) diferem ainda em mais alguns
aspectos:
• Nas sílabas e nas palavras terminadas em /l/, esta consoante soa como velarizada no Português
Europeu (representada foneticamente por ) e pronuncia-se como semivogal na maioria dos
dialectos brasileiros, acrescentando assim mais ocorrências de ditongos aos muitos já existentes
em Português (por exemplo, papel ] em Português Europeu e em Português do
Brasil).
• No PB, quando as consoantes /t/ e /d/ estão seguidas de /i/ (ou de /e/ com o som de [i])
palatalizam e tornam-se africadas, isto é, pronunciam-se como e (por exemplo, as
palavras tia, dia, bate, pode com as seguintes pronúncias: Português Europeu ;
Português Brasileiro ).
• A grafia <ou> representa, na norma-padrão do Português Europeu, a vogal média [o].
Historicamente, trata-se de uma monotongação do ditongo [ow] que persiste como tal em
dialectos do norte de Portugal e na maioria dos dialectos brasileiros.
• Certas sequências de consoantes que, por diferentes motivos, ocorrem em palavras do
Português Europeu (como [bs] em absurdo ou [dm] em admirar) são separadas pela vogal [i] em
Português do Brasil ( ou )
Podemos fazer agora, a partir da representação fonética da mesma frase, uma comparação entre
as variedades portuguesa (PE) e brasileira (PB), com distinção de registos: formal (pausado) ou
coloquial (rápido):
A menina faltou ao teste de psicologia
1)
2)
3)
4)
Estas quatro transcrições da mesma frase distinguem-se por representarem, de forma
simplificada, as seguintes pronúncias:
(1) pausada (e silabada) em PE;
(2) coloquial em PE;
(3) pausada (e silabada) em PB;
(4) coloquial em PB.
Analisemos em pormenor as diferenças na pronúncia das vogais tónicas e átonas e das
consoantes:
• A vogal átona só ocorre no registo pausado e silabado de PE (cf. (1)); a mesma vogal é
suprimida no registo coloquial (cf. (2)) e ocorre como [i] no PB (cf. (3) e (4));
• A vogal correspondente à grafia <o>, quando átona, manifesta-se como [u] em PE (cf. (1) e (2))
e como [o] no PB (cf. (3) e (4)); a vogal ortografada <a> quando átona apresenta-se como em
PE e como [a] em PB, excepto em posição final; o ditongo [ow] reduz-se à vogal [o] em PE e no
registo coloquial de PB (cf. (1), (2) e (4)), e apenas se manifesta na pronúncia pausada de PB (cf.
(3));
• � grafia <l>na palavra faltou corresponde a consoante velarizada, , em PE (cf. (1) e (2)), e a
semivogal [w] em PB (cf. (3) e (4));
• As consoantes [t] e [d] seguidas de [i] tornam-se respectivamente e em PB (cf. (4));
• O grupo de consoantes [ps] que não constitui em português um 'grupo próprio' (denominação
tradicional atribuída a outros grupos como [bR], [kl], ou seja, consoante oclusiva seguida de
líquida), manifesta, no registo coloquial do PB, a inserção de um [i], designado vogal ‘epentética’
(cf. (4))
• O <s> gráfico ocorre como antes de uma consoante não-vozeada (e em final de palavra) em
PE e PB (cf. (1) - (4)).
A verificação das diferenças não impede que se relacionem as duas variantes.
Assim, as vogais átonas mostram uma elevação em relação às acentuadas. Em PE /a/ -» , /o/
-» [u] e /e/ -» ; em PB /e/ -» [i] mas o não existe. Portanto o Português Europeu distingue-se
por uma maior elevação (e consequente redução) das vogais não-acentuadas.
No que respeita às consoantes, a pronúncia, em PE, do /l/ como velarizado, , está relacionada
foneticamente com a pronúncia, em PB, de uma semivogal recuada, [w], porque nos dois casos é
necessário um recuo do dorso da língua em direcção ao véu palatino. E a palatalização de /t/ e
/d/, e em PB, antes da vogal palatal, é resultado da assimilação do traço palatal da vogal
[i], mesmo quando esta vogal resulta de um /e/ fonológico, como em bate e pode .
Por fim, a supressão em PE das vogais átonas muito reduzidas (veja-se menina , teste
de ) e a inserção da vogal [i] em PB entre duas consoantes (cf. psicologia )
decorrem da diferença entre a estrutura da sílaba manifestada nestas duas variedades, diferença
que, a par de outros factores prosódicos, tem consequências na apreensão do ritmo da língua.
Estas observações evidenciam o funcionamento em sistema dos sons da língua e da sua inter-
relação
• com os sons que constituem o seu contexto fónico,
• (b) com o acento de palavra
• (c) com a estrutura silábica.

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Fonética Portuguesa

  • 1. Convenções e Transcrição Fonética O Alfabeto Fonético Internacional Na grafia de qualquer língua, a relação entre o som e a letra (o símbolo que representa convencionalmente o som) não é biunívoca, ou seja, a uma letra não corresponde sempre o mesmo som e um som não é representado sempre pela mesma letra. Por outro lado, num determinado alfabeto (como o latino, p.ex. que é o utilizado por muitas línguas como as românicas e as germânicas) a mesma letra pode corresponder a sons diferentes em diferentes línguas. Esta variação, decorrente de diversos factores entre os quais se inclui a relação entre os sons no interior de uma palavra, levou à criação de alfabetos fonéticos que permitem descrever de forma não ambígua o contínuo sonoro e possibilitam, a quem não conheça determinada língua, saber como se pronunciam os sons de uma palavra quando transcritos foneticamente. O sistema de transcrição fonética mais usado é o Alfabeto Fonético Internacional (AFI), criado em 1888 pela Associação Internacional de Fonética. Nesta apresentação utilizamos o AFI de acordo com a sua última actualização, datada de 1996. O Alfabeto Fonético é constituído por símbolos que representam os sons básicos mais frequentes nas línguas do mundo (como as consoantes [p] ou [f], ou a vogal [a]) e por sinais diacríticos que acrescentam aos símbolos informação sobre aspectos complementares (como o til, [~], sobre a vogal para indicar a nasalidade – [õ] – ou o diacrítico ['] que, neste texto, precede a sílaba em que está a vogal acentuada – ['pa]). O conjunto de sons da norma-padrão do Português Europeu e a sua representação com os símbolos do AFI constituem três grupos: vogais orais e vogais nasais, semivogais orais e nasais (o segundo elemento de um ditongo) e consoantes. Os exemplos são, sempre que possível, palavras monossilábicas cuja pronúncia se pode ouvir. Vogais Orais [i] vi ['vi] [e] vê ['ve] [ɛ] pé ['pɛ] [a] pá ['pa] [ɐ] para [pɐɾɐ] [ɛ] de [ɔ] sol ['sɔl] [o] pôr, sou ['poɾ, 'so] [u] tu ['tu]
  • 2. Vogais Nasais [ĩ] sim ['sĩ] [e͂] pente [ɐ͂] romã, banco [ʀu'mɐ͂, 'bɐ͂ku] [õ] põe, ponte [ũ] atum [ɐ'tũ] Semivogais ou glides orais e nasais [j] pai ['paj] mãe [w] pau ['paw] [w̃] cão ['kɐ͂w̃] Consoantes [p] pá ['pa] [b] bem [t] tu ['tu] [d] dou ['do] [k] cacto ['katu] [g] gato ['gatu] [f] fé ['fɛ] [v] vê ['ve] [s] sabe, passo, caça ['sabɨ, 'pasu, 'kasɐ] [z] casa, azar ['kazɐ, ɐ'zaɾ] [ʃ] chave [ʒ] já ['ʒa] [m] mão ['mɐ͂w̃] [n] não ['nɐ͂w̃] [ɲ] venho ['vɐɲu] [l] lá ['la]
  • 3. [ʎ] valha ['vaʎɐ] [ɾ] caro ['kaɾu] [ʀ] carro ['kaʀu] Acrescente-se que alguns dialectos do Português Europeu têm sons que não fazem parte da norma-padrão mas que são aqui referidos embora não venham a ser descritos em particular. Assim, enquanto na norma-padrão as vogais nasais são [ɐ͂], [e͂], [õ], em certos dialectos do norte de Portugal pronunciam-se mais abertas, (por exemplo, [ã] banco ['bãku] como no francês blanc). Também em dialectos do norte a consoante [b] tem uma pronúncia que se confunde com [v] mas que se representa por [β] (por exemplo, vaca ['βakɐ]); [s] e [z] soam como [ʃ] embora sejam consoantes diferentes, representadas por [ʂ] e [ʐ] (por exemplo, sabe, passo, casa ) e [ʃ], representado graficamente pelo dígrafo <ch>, pronuncia-se [tʃ]͡͡͡ (por exemplo, chave ). Letras e sons Visto que letras e sons não têm uma relação biunívoca, apresentam-se os seguintes diagramas que partem das letras utilizadas em Português Europeu e mostram quais os sons que podem ser representados por elas. Vogais Orais <a> [a] (pá) [ɐ] (da) <e> [e] (vê) [ɛ] (pé) [ɐ] (meia) [i] (emigrar) <i> [i] (vi) [j] (pai) <o> [ɔ] (sol) [o] (pôr) [u] (sapo) [w] (mágoa) <u> [u] (tu) [w] (pau)
  • 4. Vogais Nasais <in, im> [ĩ] (tinta, sim) <en, em> [e͂] (pente, membro) [ɐ͂j] (cem) <an, am> [ɐ͂] (banco, ambos) <am> [ɐ͂w̃]) (formas verbais como amam, batam) <ã> [ɐ͂] (romã) <on, om> [õ] (ponte, pombo) <õ> [õ] (põe) <un, um> [ũ] (unto, atum) Consoantes <p> [p] (pá) <b> [b] (bem) <t> [t] (tu) <d> [d] (dou) <f> [f] (fé) <v> [v] (vê) <s> [s] (sabe) [z] (casa) [ʃ] (lista, listas) [ʒ] (mesmo) <ss> [s] (passo) <z> [z] (fazer) [ʃ] (rapaz) <x> [ʃ] (xaile) [ks] (léxico) [s] (sintaxe) [z] (êxito) <c> [k] (cacto, cravo, cota) [s] (céu, cinza) <ch> [ʃ] (chave) <ç> [s] (paço) <qu> [k] (quer) [kw] (qual) <j> [ʒ] (hoje) <g> [g] (gato, golo, agudo) [ʒ] (viagem, fugir) <m> [m] (mão) <n> [n] (não) <nh> [ɲ] (venho) <r> [ɾ] (para) [ʀ] (rato) <rr> [ʀ] (carro)
  • 5. <l> [l] (lado) <lh> [ʎ] (valha) Fonética e Fonologia: Que diferença? A Fonética O estudo da fonética e da fonologia de uma língua é a descoberta da sua face exterior, a análise daquele nível a que temos acesso quando ouvimos alguém falar ou quando nós próprios produzimos fala; é, enfim, o estudo dos sons da língua. Note-se que o funcionamento das línguas é estudado sobre os dados da sua produção oral e não assenta, portanto, predominantemente sobre a escrita, embora possa fazer referência episódica a aspectos ortográficos. A sensação que os falantes alfabetizados têm de que as questões ortográficas são as questões linguísticas prioritárias advém de a alfabetização se processar nos primeiros anos escolares e ser rapidamente interiorizada, além de constituir, muitas vezes, o aspecto sobre que incide prioritariamente a aprendizagem escolar da língua. Mas qual é a diferença entre fonética e fonologia se ambos os estudos procuram analisar e explicar os sons de uma língua? A fonética descreve os aspectos articulatórios e as propriedades físicas de todos os sons que ocorrem na produção linguística (o nível de superfície, a “face exposta” de uma língua). A fonologia estuda os sons que têm uma função na língua e que permitem aos falantes distinguir significados. A Fonética O estudo da Fonética ocupa-se da produção, da transmissão e da percepção dos sons da fala, dividindo-se, de acordo com o seu objecto, em fonética articulatória, acústica e perceptiva. Nesta apresentação são consideradas apenas as propriedades articulatórias e as propriedades acústicas dos sons. As propriedades articulatórias Quando o estudo dos sons tem em conta a posição e o movimento dos articuladores estamos no domínio da fonética articulatória. Deste ponto de vista, devem considerar-se os seguintes
  • 6. aspectos: • O som é produzido pela pressão exercida pelos pulmões que são uma fonte de energia e colocam em movimento as partículas do ar neles contido. O ar passa então pela laringe, na qual se encontra um orifício, a glote, onde se localizam ascordas vocais que, ao vibrarem, actuam como uma fonte sonora. Os sons produzidos com vibração das cordas vocais são vozeados (ou sonoros) – as obstruintes sonoras (oclusivas e fricativas), todas as vogais e as consoantes nasais e líquidas (laterais e vibrantes). • Em seguida, o ar entra na cavidade bucal que actua como uma caixa de ressonância. Nesta cavidade, os articuladores activos, com mobilidade – lábios, língua, palato mole ou véu palatino, e a úvula – e passivos, sem mobilidade – palato duro, alvéolos dentários e maxilar inferior –– têm funções na definição do som que o falante pretende produzir (vogais, semivogais e consoantes). Se o ar passar também pela cavidade nasal por abaixamento do véu palatino produz-se um som nasal, quer consoante (como [m] ou [n]) quer vogal (como [õ] ou [ɐ͂]). O conjunto dos órgãos do aparelho fonador que se encontram acima da laringe constitui o tracto vocal. As Vogais As configurações de produção dos sons determinam, no que respeita às vogais, a altura (altas, , médias [e, ɐ, o] oubaixas [a, ɛ, ɔ]) e o ponto de articulação (anteriores ou palatais, [i, e, ɛ], centrais, , e posteriores ou velares [u, o, ɔ]). As vogais do Português também podem ser classificadas em relação à posição dos lábios: arredondados na produção de [u, o, ɔ] e não-arredondados na produção das restantes vogais. Se o véu palatino se abaixar durante a pronúncia do som, a vogal adquire nasalidade. As vogais nasais no Português Europeu são apenas altas e médias (o também não pode ser nasal). Veja- se o Quadro 1 que representa as vogais orais e nasais do PE (norma--padrão). No quadro estão marcados a altura e o ponto de articulação. Altura Ponto de Articulação Anterior ou Paleatal Central Posterior ou Velal Altas [i, ĩ] [u, ũ] Médias [e, e͂] [ɐ,ɐ͂] [o, õ] Baixas [ɛ] [a] [ɔ] Não Arredondadas Arredondadas
  • 7. A altura das vogais e o seu ponto de articulação decorrem da posição do dorso da língua em relação ao que se designa como ‘posição neutra’ (de repouso): • as vogais altas são pronunciadas com o dorso da língua elevado em relação à posição neutra, • as médias com o dorso da língua na posição neutra, • as baixas, com o dorso da língua abaixado em relação à posição neutra. Quanto ao ponto de articulação, é também o dorso da língua que o determina. Assim: • as vogais anteriores são produzidas com o dorso da língua avançado em relação à posição neutra, • as centrais, com o dorso da língua na posição neutra, • as posteriores, com o dorso da língua recuado em relação à posição neutra. A classificação das vogais deve tomar em conta os vários aspectos (parâmetros ou traços) que estão presentes no Quadro 1 Assim, por exemplo, a vogal [i] do Português classifica-se como uma vogal alta, anterior, não-arredondada e não nasal; a vogal [ɐ͂] classifica-se como média, central, não-arredondada e nasal. As Semi-Vogais ou Glides As semivogais ou glides que se encontram no nível fonético do Português – representadas por [j] e [w], e as nasais, por [j] e [w̃] – têm características idênticas às das vogais [i] e [u] ([ĩ], [ũ]), mas distinguem-se delas por terem uma pronúncia mais breve e ocorrerem sempre a seguir às vogais com as quais formam ‘ditongos decrescentes’. Assim, a semivogal [j] é alta, anterior e não arredondada e a semivogal [w] é alta, posterior e arredondada. As Consoantes Os parâmetros de classificação das consoantes são os seguintes: • O ponto de articulação – bilabiais, lábio-dentais, apico-dentais, alveolares, palatais e velares, conforme as zonas da boca em que são produzidas e os articuladores que as estimulam (as consoantes lábio-dentais, por exemplo, são produzidas com o lábio inferior junto dos dentes; podendo apenas ser fricativas como o [f]; as apico-dentais são produzidas com a ponta da língua,
  • 8. ou apex, junto dos dentes, podendo ser fricativas como [s] ou oclusivas, como o [t]). • O modo de articulação – oclusivas, fricativas, laterais e vibrantes conforme o tipo de constrição que apresentam à passagem do ar (as oclusivas têm uma interrupção completa à passagem do ar; as fricativas têm uma constrição parcial que provoca ruído; as laterais têm uma constrição provocada pela ponta da língua no centro da boca, passando o ar pelos lados; nas vibrantes, a passagem do ar provoca uma vibração na zona do véu palatino (o [ʀ] do dialecto de Lisboa) ou um simples toque da coroa da língua nos alvéolos (o [ɾ]). • A nasalidade vs. a oralidade – as consoantes nasais são consoantes oclusivas em que a passagem do ar sofre uma interrupção na cavidade bucal mas sai pela cavidade nasal por abaixamento do véu palatino. • A acção das cordas vocais – quando elas vibram, temos uma consoante vozeada (ou sonora) – as oclusivas [b], [d], [g], as fricativas [v], [z], [ʒ], e todas as nasais e líquidas. A classificação tradicional das consoantes do Português Europeu pode apresentar-se de acordo com estes quatro parâmetros:ponto de articulação, modo de articulação, nasalidade e vozeamento. Veja-se o Quadro 2 Ponto de Articulação Modo de Articulação Oclusivas Fricativas Laterais Vibrantes Orais Nasais Bilabiais Vozeada b m Não-Vozeada p Labio-Dentais Vozeada v Não-Vozeada f Apico-Dentais Vozeada d z Não-Vozeada t s Alveolares Vozeada n l ɾ Não-Vozeada Palatais Vozeada ɲ ʒ ʎ Não-Vozeada ʃ Velares Vozeada Vozeada g ʀ Não-Vozeada k
  • 9. As propriedades acústicas Os sons possuem outras propriedades que lhes são inerentes e que os caracterizam como entidades físicas. Estas propriedades são estudadas pela fonética acústica porque estão relacionadas com as características acústicas das ondas sonoras. São elas: • A frequência da onda sonora, ou seja, o número de vezes que um ciclo completo de vibração das partículas se repete durante um segundo. O tom é o correlato linguístico da frequência. Quanto maior for o número de ciclos de vibração das partículas, maior é a altura do som e, portanto, mais “alto” é o tom. Esta propriedade relaciona-se, de um ponto de vista articulatório, com as cordas vocais: quanto maior é o número de vibrações, maior é a altura do som. Uma sequência de segmentos com os respectivos tons cria a entoação dessa sequência, quer se trate de uma palavra ou de um grupo de palavras. Clique nos quadros em baixo para ouvir as representações de onda acústica. • A amplitude da onda sonora, ou seja, a distância entre o ponto zero e a pressão máxima da onda, de que decorre a intensidade do som. Quanto maior for a amplitude de vibração das partículas, maior é a quantidade de energia transportada por estas e maior é a sensação auditiva de intensidade do som. O que chamamos “acento” numa palavra ou frase decorre desta intensidade. • A duração refere-se ao tempo de articulação de um som, sílaba ou enunciado, e tem uma importância fundamental no ritmo de cada língua. A duração de cada unidade varia conforme a velocidade de elocução, o que significa que se a velocidade de produção for maior, a duração de cada elemento é menor. Estas propriedades que estão sempre presentes nos sons têm na língua funções prosódicas, ou seja, são postas ao serviço da entoação e do significado de um modo geral. Leituras complementares Delgado-Martins, Maria Raquel (1988) Ouvir falar: Introdução à Fonética do Português. Lisboa: Caminho. (Capítulos 8 e 9) Delgado-Martins, Maria Raquel (1973) Análise acústica das vogais tónicas do português. In Delgado Martins (2002) Fonética do Português. Trinta anos de investigação. Lisboa: Editorial
  • 10. Caminho: 41-52. Johnson, Keneth (1997) Acoustic and auditory phonetics. Oxford: Blackwell Publishers. Ladefoged, Peter (1982) A Course in Phonetics. New York: Harcourt publishers. Stevens, K. (1998) Acoustic phonetics. London: The MIT Press. Xavier, Maria Francisca e Mateus, Maria Helena (1990 e 1992). Dicionário de Termos Linguísticos. Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional. Lisboa: Edições Cosmos (Volume 1). http://www.ait.pt/index2.htm Características Fonéticas do Português Europeu VS Português Brasileiro As diferenças mais evidentes entre as variantes de uma língua são de ordem fonética embora isto não queira dizer que não se encontrem diferenças sintácticas, morfológicas ou de uso da língua. Sentimos que um falante é desta ou daquela região, é português ou é brasileiro pela forma como pronuncia certos sons. Tendo em atenção esta constatação, e dado que temos como objectivo tratar a pronúncia da norma-padrão do Português Europeu, vale a pena chamar a atenção para alguns aspectos que caracterizam o Português Europeu em relação a uma outra variedade da língua – o Português Brasileiro. Uma característica do Português Europeu que constitui, talvez, a mais notória diferença em relação ao Português do Brasil diz respeito às vogais não-acentuadas que são muito mais audíveis no Português Brasileiro do que no Europeu, sendo, nesta variedade, muito reduzidas, o que leva, por vezes, à sua supressão. Esta característica do Português Europeu tem como consequência que os estrangeiros compreendem melhor a pronúncia de um brasileiro do que de um português, sentindo, neste último caso, que a língua parece ter só consoantes. Um outra característica diz respeito à pronúncia da consoante fricativa que termina sílaba, quer no interior da palavra (antes de outra consoante como em lista, mesmo) ou no final da palavra. Normalmente, a consoante representa-se com a letra <s>(sapos) mas pode também grafar-se com <z> (rapaz). Em Português Europeu, a consoante é uma palatal, ou , conforme estiver antes de uma consoante vozeada ou não-vozeada (mesmo , lista ). Dado que esta consoante é muito frequente por ser o sufixo do plural e por terminar vários radicais, provoca nos ouvintes a sensação de que o Português Europeu, além de ter poucas vogais (muitas vogais átonas são reduzidas ou suprimidas), tem numerosas consoantes palatais. No Português do
  • 11. Brasil só um pequeno número de dialectos apresenta esta consoante palatal, ocorrendo no mesmo contexto, com mais frequência, a fricativa dental [s]. As duas variedades nacionais do Português (europeia e brasileira) diferem ainda em mais alguns aspectos: • Nas sílabas e nas palavras terminadas em /l/, esta consoante soa como velarizada no Português Europeu (representada foneticamente por ) e pronuncia-se como semivogal na maioria dos dialectos brasileiros, acrescentando assim mais ocorrências de ditongos aos muitos já existentes em Português (por exemplo, papel ] em Português Europeu e em Português do Brasil). • No PB, quando as consoantes /t/ e /d/ estão seguidas de /i/ (ou de /e/ com o som de [i]) palatalizam e tornam-se africadas, isto é, pronunciam-se como e (por exemplo, as palavras tia, dia, bate, pode com as seguintes pronúncias: Português Europeu ; Português Brasileiro ). • A grafia <ou> representa, na norma-padrão do Português Europeu, a vogal média [o]. Historicamente, trata-se de uma monotongação do ditongo [ow] que persiste como tal em dialectos do norte de Portugal e na maioria dos dialectos brasileiros. • Certas sequências de consoantes que, por diferentes motivos, ocorrem em palavras do Português Europeu (como [bs] em absurdo ou [dm] em admirar) são separadas pela vogal [i] em Português do Brasil ( ou ) Podemos fazer agora, a partir da representação fonética da mesma frase, uma comparação entre as variedades portuguesa (PE) e brasileira (PB), com distinção de registos: formal (pausado) ou coloquial (rápido): A menina faltou ao teste de psicologia 1) 2) 3) 4) Estas quatro transcrições da mesma frase distinguem-se por representarem, de forma
  • 12. simplificada, as seguintes pronúncias: (1) pausada (e silabada) em PE; (2) coloquial em PE; (3) pausada (e silabada) em PB; (4) coloquial em PB. Analisemos em pormenor as diferenças na pronúncia das vogais tónicas e átonas e das consoantes: • A vogal átona só ocorre no registo pausado e silabado de PE (cf. (1)); a mesma vogal é suprimida no registo coloquial (cf. (2)) e ocorre como [i] no PB (cf. (3) e (4)); • A vogal correspondente à grafia <o>, quando átona, manifesta-se como [u] em PE (cf. (1) e (2)) e como [o] no PB (cf. (3) e (4)); a vogal ortografada <a> quando átona apresenta-se como em PE e como [a] em PB, excepto em posição final; o ditongo [ow] reduz-se à vogal [o] em PE e no registo coloquial de PB (cf. (1), (2) e (4)), e apenas se manifesta na pronúncia pausada de PB (cf. (3)); • � grafia <l>na palavra faltou corresponde a consoante velarizada, , em PE (cf. (1) e (2)), e a semivogal [w] em PB (cf. (3) e (4)); • As consoantes [t] e [d] seguidas de [i] tornam-se respectivamente e em PB (cf. (4)); • O grupo de consoantes [ps] que não constitui em português um 'grupo próprio' (denominação tradicional atribuída a outros grupos como [bR], [kl], ou seja, consoante oclusiva seguida de líquida), manifesta, no registo coloquial do PB, a inserção de um [i], designado vogal ‘epentética’ (cf. (4)) • O <s> gráfico ocorre como antes de uma consoante não-vozeada (e em final de palavra) em PE e PB (cf. (1) - (4)). A verificação das diferenças não impede que se relacionem as duas variantes. Assim, as vogais átonas mostram uma elevação em relação às acentuadas. Em PE /a/ -» , /o/ -» [u] e /e/ -» ; em PB /e/ -» [i] mas o não existe. Portanto o Português Europeu distingue-se por uma maior elevação (e consequente redução) das vogais não-acentuadas. No que respeita às consoantes, a pronúncia, em PE, do /l/ como velarizado, , está relacionada
  • 13. foneticamente com a pronúncia, em PB, de uma semivogal recuada, [w], porque nos dois casos é necessário um recuo do dorso da língua em direcção ao véu palatino. E a palatalização de /t/ e /d/, e em PB, antes da vogal palatal, é resultado da assimilação do traço palatal da vogal [i], mesmo quando esta vogal resulta de um /e/ fonológico, como em bate e pode . Por fim, a supressão em PE das vogais átonas muito reduzidas (veja-se menina , teste de ) e a inserção da vogal [i] em PB entre duas consoantes (cf. psicologia ) decorrem da diferença entre a estrutura da sílaba manifestada nestas duas variedades, diferença que, a par de outros factores prosódicos, tem consequências na apreensão do ritmo da língua. Estas observações evidenciam o funcionamento em sistema dos sons da língua e da sua inter- relação • com os sons que constituem o seu contexto fónico, • (b) com o acento de palavra • (c) com a estrutura silábica.