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Z'7lc Zimerman,DavidE.
Comotrabalhâmoscolììgruìlis. D:Lirl E.ZtncfiÌì:1._..L:iz Ciìrìos
Osorio...[ct.al] - PorloAl.cr. : .Írs Íédì.â!. I99:.
l. TécnicaspsicoteÍápir$.L Oorio.L.C. IL TÍLrìo
cDU 615.85r
Câtalogaçlionapublicâção:Íôn i( r BaììcjoCanlo- CRB l0/ 1023
ISBN357:07-212-2
DAVID E. ZIMER]VIAN
LUIZ CARLOSOSORiO
H COLABORAI)ORES
COMO TRABALHAMOSCOM
GRUPOS
PORTOALEGRE,I997
õs-?,
-ã-
Sumário
Pref4nin
Clqudio M. Martins
PrÁìnon
Davìd E. Zímerman
PARTE1- REVISÃO GERAL SOBR-EGRUPOS
I Fundamentosteóricos ........................23
David E. Zimerman
2 Fundamentostécnicos.......... ...............33
Dqvid E. Zimerman
3 Atributosdesejáveisparaum coordenadordegrupo..............................41
David E. Zímemun
4 A famíliacomogrupoprimordial.................. ...............49
LuizCarLosOsorío
5 Gruposespontâneos:asturmâseganguesdeadolescentes....................59
David E. Zímerman
ó Processosobstrutivosnossistemassociais,nosgrupose
nasinstituições. .........69
LuízCarlosOsorío
7 Classificaçãogerâldosgrupos............... .......................75
David E. Zimerman
8 Comosupervisionamosemgrupoterapia ......................83
LuizCarlosOsorio
PARTE2 - PRÁTICA COM GRUPOSOPERATIVOSE PSICOTER(PICOS
9 Comoagemosgruposoperativos?...................... .........95
JaníceB. Fiscmann
l0 Gruposcomunitários..... ....................l0l
Salv,adorCelia
11 Gruposdeauto-ajuda.... ....................107
CarlosA.S.M.de Barros
12 Comoagemosgruposterapêuticos?.................. ........119
David E. Zìmennan
13 Grupoterapiapsicânalítica ................12
Davìd E. Zimernnn
L4 Psicanálisecompartilhada:atualização........ ...............143
Gerqrdo Steín
15 Grupoterapiadasconfiguraçõesvinculares ................15
WaldemarJoséFernandes
16 Laboratórioterapêutico......... ............161
FrancíscoBapÍistaNeto
17 Psicodrama. .............16
NedíoSeminotti
PARTE3. PRÁTICACOM GRUPOSESPECIAIS
18 Grupoterapiacompacientessomáticos:25 anosdeexperiência..........185
Júlio de Mello Filho
19 Gruposcomportadoresdetranstomosalimentares..............................
RubénZukerfeld
20 Grupoterapiaparaalcoolistas. ...........219
Sérgio de Paula Ramos
2l Gruposcomdrogadictos ...................2
SílvíaBrasiliqno
22 Grupocomdeprimidos .....................2
Gilberto Brofman
23 Gruposcomautistas...... ..............,.....2
SoniMariq dosSantosLewis
VivianeCostade Leon
24 Psicoterapiacompacientesintemadoseegressos...,..........................
JoséOnildo B. Contel
PARTE4. PRT(TICACOM GRTJPOSNA ÁREÁ DE FAMÍLIA
25Ocasal:umaentidadepsicanalítica......... ...................28
Janine Puseí
xvlIl
26A famíliacomogrupoe o gnÌpocomofamíIia.....................................293
.lí. Cristitú Ravazzolct
SusanaBarilari
GastórtMazieres
Gruposcomgestantes .......................305
Geraldiv RantosViçosa
Gruposcomcrianças............. ............311
RuthBlay Levislq
.....321
LuizCarlosOsorio
Gruposcomidosos...................................................
Guite L Zimerman
PARTE5 - PRÂTICA COM GRUPOSNA AREA DO ENSINOE DA
APRENDIZAGEM
27
28
t0
30 ............331
LuizCarlosllLafontCoronel
32 Gruposdeeducaçãomédicâ...
David E. Zímerman
33 O trabalhocomgnìposnaescoIa........... .....................359
JoséOuoniOuteiral
J4 Gruposdeorientaçãoprofissionalcomalunosadolescentes................373
Aidê Knijník Wainberg
PARTE6 - PRÁTICA COM GRUPOSNA ÁREA INSTITUCIONAL
35 Terapiainstitucional.............. ............389
Luiz Cqrlos Osorio
36 Formaçãodelíderes:o grupoé o fórumadequado...............................399
Mauro Nogueírade Olíveíra
37Atendimentoagruposeminstituições.. ......................405
Neidí MargarethSchneider
38 Laboratório:exercíciodaautoridade,modeloTavistok.......................413
Neidí Margareth Schneíder
Luiz Carlos Osorío
Mauro Nogueira de Olìveira
Mônica GuazellíEstrougo
Epílogo............ .............421
LuizCarlosOsorio
PARTE1
RevisãoGeral
sobreGrupos
FundamentosTeóricos
DAVIDE,ZIMERMAN
Coerentecomaproposiçãogeraldestelivro,queéademanterumasimplificaçãode
naturezadidáticadosassuntospertinentesaosgrupos,opresentecapítulovaiabordar
unicamentealgunsaspectosquefundamentama teoria- tendo-seem vistaa sua
aplicabilidadeprática-, sema menorpretensãode esgotarou de explorartodaa
complexidadedeumaprofundamentoteóricoqueadinâmicadegrupopermite,pro-
piciaemerece.
Inicialmente,a fim desituaro leitorqueaindanãoestejamuitofamiliarizado
coma áreadegrupos,mencionaremosefaremosumabrevereferênciaa algunsdos
autoresmaiscitadosnaliteraturaequemaiscontribuíramparaodesenvolvimentodo
movimentogrupalista.A seguir,seráfeitaumanecessáriarevisãoacercadaconce!
tuaçãodegrupoe,porúltimo,umaabordagemdosaspectospsicológicoscontidosna
dinâmicadocampogrupal.
ALGUNS AUTORES IMPORTANTES
J. Pratt. Asgrupoterapiasestãocomemorandoo seuprimeirocentenríriodeexistên-
cia.Issosedeveaofatodequeainauguraçãodorecursogrupoteriípicocomeçoucom
estetisiologistaamericanoque,apartirde1905,emumaenfermariacommaisde50
pacientestuberculosos,criou,intüitivamente,o métodode "classescoletivas",as
quaisconsistiamemumaaulaprévia,ministradaporPratt,sobreahigienee ospro-
blemasdatuberculose,seguidadeperguntasdospacientese dasualivre discussão
comomédico.Nessasreuniões,criava-seumclimadeemulação,sendoqueospacien-
tesmaisinteressadosnasatividadescoletivase naaplicaçãodasmedidashigieno-
dietéticaserampremiadoscomo privilégiodeocuparasprimeirasfilasda salade
aula.
Essemétodo,quemostrouexcelentesresultadosnaaceleraçãodarecuperação
físicadosdoentes,estábaseadona identificaçãodessescomo médico,compondo
umaestruturafamiliar-fratemaleexercendooquehojechamamos"funçãocontinen-
te"dogrupo.Pode-sedizerqueessaseconstituinaprimeiraexperiênciagmpoterápica
registradana literaturaespecializadae que,emboratenhasidorealizadaembases
empíricas,serviucomomodeloparaoutrasorganizaçõessimilares,como,porexem-
plo,adaprestigiosa"AlcoólicosAnônimos",iniciadaem1935equeaindaseman-
témcomumapopularidadecrescente.Damesmaforma,sentimosumaemoçãofasci-
nantequesentimosaopercebermosquenaatualidadeaessênciadovelhométodode
24 . ZMERìaAN&osoRlo
Pratt estásendorevitalizadae bastanteaplicadajustamenteonde ela começou,ou
seja,no campo da medicina,sob a forma de gruposhomogêneosde auto-ajuda,e
coordenadapor médicos(ou pessoaldo corpodeenfermagem)não-psiquiatras.
Freud. Emboranuncatenhatrabalhadodiretamentecom grupoterapias,Freud
trouxevaliosascontribuiçõesespecíficasà psicologiadosgruposhumanostantoim-
plícita (petosensinamentoscontidosem toda a suaobra) como também explicita-
mente,atravésde seus5 conhecidostrabalhos:As perspectivasfuturas da terapêu-
tica psicanalítica (1910),Totetne tabu (1913),Psicologiadas massase aruilisedo
ego(1921),Ofuturo de uma ilusdo (1927)e Mal-estar na civilização (1930).
Jáno trabalhode 1910,Freudrevelaumadesuasgeniaisprevisõesaoconceber
que"... o êxito que1 terapiapassaa ter no indivíduo haverádeobtêla nacoletivida-
de". Em Toteme tabu, aÍravésdo mito da hordaselvagem,ele nos mostraque,por
intermédiodoinconsciente,a humanidadetransmiteassuasleissociais,assimcomo
estasproduzema cultura.No entanto,o seutrabalhode 1921ê consideradocomo
particularmenteo mais importanteparao entendimentoda psicodinâmicados gru-
pos,eneleFreudtrazasseguintescontribuiçõesteóricas:umarevisãosobreapsicolo-
giadasmultidões;osgrandesgruposartificiais(igrejae exército);osprocessosiden-
tificatórios(projetivoseintrojetivos)quevinculamaspessoaseosgrupos;aslideranças
e asforçasqueinfluem nacoesãoe nadesagregaçãodosgrupos.Nessemesmotraba-
lho, Freud pronunciaa suaclássicaâfirmativa de que "a psicologia individual e a
socialnão diferem em suaessência",bemcomo apontaparaasforçascoesivase as
disruptivasquejuntam e separamos indivíduosdeum grupo.Estaúltima situaçãoé
ilustradapor Freud com uma metáforaque ele tomou emprestadado filósofo
Schopenaueqa qual aludeà idéia de uma manadade porcosespinhos,no invemo,
procura sejuntar em um recíprocoaconchegoaquecedor;no entanto,a excessiva
aproximaçãoprovocaferimentosadvindosdosespinhose forçauma separàção,num
contínuoe interminávelvaivém.
J. Moreno. Em 1930,estemédico romenointroduziu a expressão"terapia de
grupo".O amordeMorenopeloteatro,desdeasuainfância,propiciouautrlizaçãoda
importantetécnicagrupaldopsicodrama,bastantedifundidoepraticadonaatualidade.
K, Lewin. A vertentesociológicado movimentogrupalistaé fortementeinspi-
radaem KuÍ Lewin, criadordaexpressão"dinâmicadegrupo", com aqual elesubs-
tituiu o conceitode "classe"pelo de "campo". Desde 1936,sãorelevantesos seus
estudossobrea estruturapsicológicadasmaioriase dasminorias,especialmenteas
judaicas.Da mesmaformasãoimportantesassuasconcepçõessobreo "campogrupal"
e a formaçãodospapéis,porquantoele postulavaquequalquerindivíduo, por mais
ignoradoqueseja,fazpartedo contextodo seugruposocial,o influenciae é por este
fortementeinfluenciadoe modelado.
S,H.Foulkes. Este psicanalistabritânico inauguroua prática da psicoterapia
psicanalíticadegrupo a partir de 1948,em Londres,com um enfoquegestáltico,ou
seja,paraeleum gruposeorganizacomouma novaentidade,diferenteda somados
indivíduos,e, por essarazão,asinterpretaçõesdo grupoterapeutadeveriamsersem-
predirigidasàtotalidadegrupal.FoulkesintroduziuumasériedeconceitoseposnÌlados
que serviramcomo principal referencialde aprendizagema sucessivasgeraçõesde
grupoterapeutas,sendoconsideradoo lídermundialdapsicoterapiaanalíticadegru-
DO.
COMOIRABAL}IAMOsCOMARUPOS . 25
Pichon Rivière. Trata-sede um psicanalistaargentinoaltamenteconceituado,
tendo se tornadoo grandenome na áreados gruposoperativos,com contribuições
originais,mundialmenteaceitase praticadas.Esteautor,partindodo seu"esquema
conceitual-referencial-operativo"(ECRO),aprofundouo estudodos fenômenosque
surgemnocampodosgruposequeseinstituemparaa finalidadenãodeterapia,mas,
sim, a de operarnumadeterminadatarefaobjetiva,como,por exemplo,a de ensino-
aprendizagem.A partir daspostulaçõesde PichonRivière, abriu-seum vasto leque
de aplicaçõesde gruposoper'Ìtivos,asquais,com algumasvariaçõestécnicas,são
conhecidaspor múltiplase diferentesdenominações.
W.R.Bion.Duranteadécada40,esteeminentepsicanalistadasociedadebritânica
depsicanálise- fortementeinfluenciadopelasidéiasdeM. Klein,comquemseana-
lisavanaépoca-, partindodesuasexperiênciascomgruposrealizadasemum hospi-
tal militar durantea SegundaGuerraMundial, e na Tavistock Clinic, de Londres,
criou e difundiu conceitostotalmenteoriginaisacercadadinâmicado campogrupal.
Entreassuascontribuiçõesvaledestacara suaconcepçãodequequalquergru-
po semovimentaem doisplanos:o primeiro,queeÌedenomina"grupodetrabalho",
operano planodo conscientee estávoltadoparaa execuçãodealgumatarefa;subja-
centea esseexisteem estadolâtente,o "grupo depressupostosbásicos",o qual está
radicadonoinconscientee suasmanifestaçõesclínicascorrespondemaum primitivo
atavismodepulsõese defantasiasinconscientes.Bion formulou trêstipos de supos-
tosbásicos:o dedependência(exigeum lídercarismáticoqueinspirea promessade
proverasnecessidadesexistenciaisbásicas),o de/ata efuqa (denafireza,paranóide,
requeruma liderançadenaturezatirânicaparaenfrentaro supostoinimigo ameaça-
dor) e o de apareaìnento(tambémconhecidocomo "acasalamento",aludeà forma-
çãodeparesno grupoquepodemseacasalare gerarum messiassalvador;portanto,
é um supostoinconscienteque,para se manter,exige um líder que tenhaalgumas
característicasmísticas).Além disso,Bion contribuiu bastanteparao entendimento
darelaçãoqueum indivíduoportadordeidéiasnovas(queelechamade"místico" ou
"gênio") travacom o establishnlentno qualeleestáinserido.EstaúÌtima concepção
tem sereveladode imprescindívelimportânciaparaa compreensãodos problemas
quecercamasinstituições.
PelaimportânciaqueBion representaparao movimentogrupalista,vale a pena
mencionaralgunsdosaspectosqueelepostulou:
. O grupoprecedeaoindivíduo, istoé, asorigensdaformaçãoespontâneade gru-
postêm suasraízesno grupoprimordial,tipo ahordaselvagem,tal comoFreuda
menclonou.
. Os supostosbásicosantesaludidosrepresentamum atavismodo grupoprimitivo
queestáinseridonamentalidadee naculturagrupal.
. A culturagrupalconsistenapermanenteinteraçãoentreo indivíduo e o seugru-
po,ou seja,entreo narcisismoe o socialismo.
. No plano tran;-subjetivo,esteatavismogrupal aparecesob a forma de mitos
grupais,comosão,por exemplo,osmìtosdeEden(DeusversasConhecimento,
sobameaçasdepunição);Babel(DeusversrsConhecimento,atravésdoestabele-
cimentodeconfusão);Esfinge(temo Conhecimento,porémlutapelonão-conhe-
cimento,tal como aparecena clássicasentença"decifra-meou te devoro",ou,
"medevoro(suicídio)semedecifrares");Edipo(castigadopelacuriosidadeano-
santee desafiadora).
2ó . zlltERrlÂN& osoRlo
. Organizâçãodacultura,atravésda instituiçãode normas,Ìeis,dogmas,conven-
çõese um código de valoresmoraise éticos.
. O modeloqueBion propôsparaa relaçãoqueo indivíduotemcom o grupoé o da
relaçãocontinente-conteúdo,a qual compoÍa trêstipos:parasitiírio,comensale
simbiótico.
. A relaçãoql'l.eo establÌshmeÌrÍmantémcom o indivíduo místico, sentidocomo
um ameçadorportadordeidéiasnovas,adquireumadessasformas:simplesmen-
te o expulsam,ouignoram,oudesqualificam,ouco-optamatravésdaatribuição
de funçõesadministrativas,ou ainda,decorrido algum tempo, adotamas suas
idéias,porémdivulgam-nascomo seelastivessempartidodos pró-homensda
cúpuladiretiva.
. A estruturaçãodequalquerindivíduo requera suaparticipaçãoem grupo.
EscolaFrancesa.Na décadade60,começama surgirostrabalhossobreadinâ-
micadosgruposcomum novoenfoque,a partirdostrabalhosdospsicanalistasfran-
cesesD. Anzieue R. Kàes,osquais,retomandoalgunsdospostuladosoriginaisde
Freud, propõem o importanteconceitode "aparelhopsíquico grupal", o qual está
dotadodasmesmasinstânciasqueo psiquismoinconscienteindividl:al,masnãodos
mesmosprincípiosdefuncionamento.Comasconcepçõesteóricasdessesdoisauto-
res,o edifício que abrigaas grupoterapiascomeçaa adquirir alicercesreferenciais
específicose representaumatentativano sentidodeasgrupoterapiasadquiriremuma
identidadeprópria.
EscolaArgentina. OsnomesdospsicanalistasargentinosL. Grinberg,M. Langer
e E. Rodriguéjá sãobastanteconhecidos,porquantoo seu livro Psicoterapiadel
grupo tornou-seumaespéciedebíblia paraalgumasgeraçõesdegrupoterapeutasem
formação.Na atualidade,é necessáriodestacar:GeraldoStein,com assuasconcep-
çõesoriginaisa respeitodo que ele denomina"psicanálisecompartida";Rubén
Zuckerfeld,com assuasimportantescontribuiçõesnautilizaçãodetécnicasgrupais
no atendimentoa pacientesportadoresde transtornosde alimentação;e grupo de
autoresargentinos- no qual, entreoutros,pontifica o nome de JaninePuget- que
vêmestudandoe divulgandoa modema" psicanálisedasconfiguraçõesvinculares",
notadamentecom casais,famíliase grupos.
Brasil. No Brasil,a psicoterapiadegrupode inspiraçãopsicanalíticateveco-
meçocomAlcion B. Bahia;outrosnomesimportantesepioneirossãoosdeWalderedo
Ismaelde Oliveirae WemerKemper,no Rio deJaneiro;BernardoBlay Neto,Luis
Miller de Paivae OscarRezendede Lima, em SãoPaulo,e Cyro Martins,David
Zimmermann e Paulo Guedes,em Porto Alegre. Na atualidade,há no Brasil uma
sériedepessoas,emdiversase múltiplasáreas,trabalhandoativamenteem buscade
novoscaminhose deumaassistênciamaisamplae abrangentecom a aplicaçãodos
recursosda dinâmicagrupal.
coNcErTUAçAODEGRUPO
O ser humanoé gregáriopor nâturezae so.Ienteexiste,ou subsiste,em função de
seusinter-relacionamentosgrupais.Sempre,desdeo nascimento,o indivíduopartici-
pa de diferentesgÍupos,numaconstantedialéticaentrea buscade suaidentidade
individuale a necessidadedeumaidentidadesruDâle social.
COMOI'RÂBALHAMOSCOMORUPO5
'
27
Um conjuntode pessoasconstituium grupo, um conjuntode gruposconstitui
uma comunidadee um conjuntointerativodascomunidadesconfigurauma socieda-
de.
A importânciado conhecimentoe autilizaçãodapsicologiagmpal decorrejus-
tamentedo fato de que todo indivíduo passaa maior parte do tempo de sua vida
convivendoe interagindocom distintosgrupos.Assim,desdeo primeiro gruponatu-
ral que existeem todasasculturas- a família nuclear,ondeo bebêconvive com os
pais,avós,irmãos,babá,etc.,e, a seguir,passandopor creches,escolasmaternaise
bancosescolares,alémdeinúmerosgruposdeformaçãoespontâneae oscostumeiros
cursinhosparalelos-, acriançaestabelecevínculosdiversificados.Taisgrupamentos
vão serenovandoe ampliandonavida adulta,com a constituiçãodenovasfamíliase
de gruposassociativos,profissionais,esportivos,sociais,etc.
A essênciade todo e qualquerindivíduo consisteno fato dele serportadorde
um conjuntode sistemas:desejos,identificações,valores,capacidades,mecanismos
defensivose, sobretudo,necessidadesbásicas,como a da dependênciae a de ser
reconhecidopelosoutros,com os quaisele é compelidoa conviver.Assim, como o
mundointerior e o exteriorsãoa continuidadeum do outro,damesmaforma o indi-
vidual e o social não existem separadamente,pelo contrário, eles se diluem,
interpenetram,complementame confundementresi.
Com basenessaspremissas,é legítimo afirmar que todo indívíduoé um grupo
(na medidaem que,no seumundo interno,um grupo de personagensintrojetados,
comoospais,irmãos,etc.,convivee interageentresi),damesmamaneiracomotodo
grupo pode comportar-secomouma individualidade(inclusivepodendoadquirir a
uniformidadedeuma caracterologiaespecíficae típica,o quenos levamuitasvezes
a referir determinadogrupocomo sendo"um grupoobsessivo",ou "atuadoÍ", etc.).
É muito vaga e imprecisaa definição do termo "grupo", porquantoele pode
designarconceituaçõesmuito dispersasnum amplolequede acepções.Assim, a pa-
lavra "grupo" tantodefine,concretamente,um conjuntodetrêspessoas(paramuitos
autores,umarelaçãobipessoaljáconfiguraumgrupo)comotambémpodeconceihrar
umafamflia, uma turmaou ganguedeformaçãoespontânea;umacomposiçãoartifi-
cial de grupos como, por exemplo, o de uma classede aula ou a de um grupo
terapêutico;uma fila de ônibus;um auditório;umatorcidanum estádio;uma multi-
dão reunidanum comício, etc. Da mesmaforma, a conceituaçãode grupo pode se
estenderatéo nível deuma abstração,como seriao casodeum conjuntodepessoas
que,compondouma'audiência,estejasintonizadonum mesmoprogramade televi-
são;ou pode abrangeruma nação,unificadano simbolismode um hino ou de uma
bandeira,e assimpor diante.
Existem,portanto,gruposde todosos tipos, e uma primeira subdivisãoque se
faz necessáriaé a que diferenciaos grandesgrupos(pertencemà iíreada macro-
sociologia)dos pequenosgrupos(micropsicologia).No entanto,vale adiantarque,
em linhasgerais,osmicrogrupos- comoé o casodeum grupoterapêutico- costu-
mam reproduzir,em miniatura,ascaracterísticassócio-econômico-políticase adinâ-
mica psicológicados grandesgrupos.
Em relaçãoaosmicrogrupostambémseimpõe uma necessáriadistinçãoentre
grupo propriamenÍedito e agrupamento.Por "agrupamento"entendemosum con-
junto depessoasqueconvivepartilhandodeum mesmoespaçoe queguardamentre
si uma certavalênciade inter-relacionamentoe uma potencialidadeem virem a se
constituir como um grupopropriamentedito. Podeservir de exemploa situaçãode
uma "serialidade"depessoas,comono casodeumafila àesperadeum ônibus:essas
pessoascompartemum mesmointeresse,apesardenãoestarhavendoo menorvíncu-
28 . ZMERMAN&(xoRlo
lo emocionalentreelas,atéqueum determinadoincidentepodemodificartodaa
configuraçãogrupal.Umoutroexemploseriaasituaçãodeumasériedepessoasque
estãoseencaminhandoparaumcongressocientífico:elasestãopróximas,mascomo
nãoseconheceme nãoestãointeragindoelasnãoformammaisdoqueumagrupa-
mento,atéqueumpoucomaisadiantepodemparticipardeumamesmasaladedis-
cussãoclínicaeseconstituíremcomouminterativogrupodetrabalho.Pode-sedizer
quea passagemdacondiçãodeum agrupamentoparaa de um gnrpoconsistena
transformaçãode"interessescomuns"paraade"interessesemcomum".
O que,então,caracterizaum grupopropriamentedito?Quandoo grupo,quer
sejadenaturezaoperativaou terapêutica,preencheasseguintescondiçõesbásicas
mínimas,estácaracterizado:
. Um gruponãoéummerosomatóriodeindivíduos;pelocontrário,eleseconsti-
tui comonovaentidade,comleise mecanismosprópfiose específicos.
. Todososintegrantesdogrupoestãoreunidos,faceaface,emtomodeumatarefa
edeumobjetivocomunsaointeressedeles.
. O tamanhodeumgruponãopodeexcedero limitequeponhaemriscoa indis-
pensávelpreservaçãodacomunicação,tantoavisualcomoaauditivaeaconceitual.
. Devehaverainstituiçãodeumenquadre(seÍing)eocumprirnentodascombina-
çõesnelefeitas.Assim,alémdeterosobjetivosclaramentedefinidos,o grupo
develevaremcontaapreservaçãodeespaço(osdiase o localdasreuniões),de
tempo(horiários,tempodeduraçãodasreuniões,planodeférias,etc.),eacombi-
naçãodealgumasregrase outrasvariáveisquedelimiteme normatizema ativi-
dadegrupalproposta.
. O grupoéumaunidadequesecomportacomoumatotalidade,e vice-versa,de
modoque,tãoimportantequantoo fatode eleseorganizara serviçode seus
membros,é tambéma recíprocadisso-Cabeumaanalogiacoma relaçãoque
existeentreaspeçasseparadasdeumquebra-cabeçase destecomo todoa ser
arÍnado.
. Apesardeumgruposeconstituircomoumanovaentidade,comumaidentidade
grupalprópriaegenuína,étambémindispensávelquefiquemclaramentepreser-
vadas,separadamente,asidentidadesespecíficasdecadaurndosindivíduoscom-
ponentesdogrupo.
. EmtodogrupocoexistemduasforçascontraditóriaspeÍmanentementeemjogo:
umatendenteàsuacoesão,e aoutra,àsuadesintegração.
. A dinâmicagrupaldequalquergruposeprocessaemdoisplanos,tal comonos
ensinouBion:um é o da intencionalidadeconsciente(grupode trabalho),e o
outroéo dainterferênciadefatoresinconscientes(grupodesupostosbásicos).É
claroque,naprática,essesdoisplanosnãosãorigidamenteestanques,pelocontrá-
rio,costumahaverumaceÍa flutuaçãoesuperposiçãoentreeles.
. É inerenteàconceituaçãodegrupoaexistênciaentreosseusmembrosdealguma
formadeinteraçãoafetiva,aqualcostumaassumirasmaisvariadase múltiplas
formas.
Nosgmpossemprevaiexistirumahierárquicadistribuiçãodeposiçõesedepa-
péis,dedistintasmodalidades.
É inevitávelaformaçãodeumcampogrupaldinâmico,emquegravitamfantasi-
as,ansiedades,rnecanismosdefensivos,funções,fenômenosresistenciaisetrans-
ferenciais,etc.,alémdealgunsoutrosfenômenosquesãopróprioseespecíficos
dosgrupos,talcomopretendemosdesenvolvernotópicoquesegue.
coMo TRÂaALHAIVÍOScoM CRUPOS . 29
O CAMPO GRUPAL
Como mencionadoanteriormente,em qualquergrupoconstituídosefonna um cam-
po grupaldinâmico,o qual secomportacomoumaestruturaquevai alémda somade
seuscomponentes,da mesmaforma como uma melodia resultanão da somadas
notasmusicais,mas,sìm,dacombinaçãoe do arranjoentreelas.
Essecampoé compostopor múltiplos fenômenose elementosdo psiquismoe,
comotrata-sedeumaestrutura,resultaquetodosesteselementos,tantoosintracomo
osinter-subjetivos,estãoarticuladosentresi, detal modoquea alteraçãodecadaum
delesvai repercutirsobreos demais,em uma constanteinteraçãoentre todos. Por
outrolado,o campogrupalrepresentaum enormepotencialenergéticopsíquico,tudo
dependendodo vetor resultantedo embateentreasforçascoesivase asdisruptivas.
Tambémé útil realçarque,emboraressalvandoasóbviasdiferenças,em suaessên-
cia, asleis da dinâmicapsicológicasãoasmesmasem todosos grupos.
Como um esquemasimplificado,valedestacaros seguintesaspectosque estão
alivamentepresentesnocampogrupal:
. Uma permanenteinteraçãooscilatóriaentreo grupode trabalhoe o de supostos
básicos,antesdefinidos.
. Umapresençapermanente,manifesta,disfarçadao oculta,depulsões-libidinais,
agressivasenarcisísticas- quesemanifestamsobaformadenecessidades,dese-
jos, demandas,inveja e seusderivados,ideais,etc.
. Da mesmafoma, no campogrupal ctrcúam ansiedades- asquaispodemserde
naturezapersecutória,depressiva,confusional, aniquilamento,engolfamento,
perdadeamorou a decastração- queresultamtantodosconflitos intemoscomo
podem emergir em função das inevitáveis,e necessárias,frustraçõesimpostas
pelarealidadeexterna.
. Por conseguinte,paracontrarrestara essasansiedades,cadaum do grupo e esse
comoum todomobilizammecanismosdefensivos,quetantopodemserosmuito
primitivos (negaçãoe controle onipotente,dissociação,projeção, idealizaçío,
defesasmaníacas,etc.) como tambémcirculam defesasmais elaboradas,a re-
pressão,deslocamento,isolamento,formaçãoreativa,etc.Um tipo dedefesaque
devemerecerumaatençãoespecialporpartedocoordenadordogrupoé a quediz
respeitoàsdiversasformasdenegaçãodecertasverdadespenosas.
. Em particular,paraaquelesquecoordenamgrupoterapiaspsicanalíticas,é neces-
sárioressaltarqueapsicanálisecontemporâneaalargoua concepçãodaestrutura
damente,emrelaçãoàtradicionalfórmulasimplistadoconflito psíquicocentrado
no embateentreaspulsõesdold versasasdefesasdoegoe aprolÏsiçáodosuperego-
Na ahralidade,os psicanalistasaplicamna práticaclínica os conceitosde: ego
anxiliar (ê uma parte do superegoresultanteda introjeção,sem conflitos, dos
necessáriosvaloresnormativose delimitadoresdospais);ego recl (conesponde
aoqueo sujeitoreolmenteé emcontraposiçãoaoqueeleimaginaser);egoideal
(herdeirodireto do narcisismo,correspondea uma perfeiçãode valoresque o
sujeitoimaginapossuir,porém,defato,o sujeitonãoospossuie nemtem possi-
bilidadesfuturasparatal, masbaseiaa suavida nessacrença,o que o leva a um
constanteconflito com a realidadeexterior); ideal do ego (o sujeitofica prisio-
leiro dasexpectativasideaisque os paisprimitivos inculcaramnele); alÍer-ego
(é uma partedo sujeitoqueestáprojetadaem uma outrapessoae que,portanto.
representaseÍum "duplo" seu);contrã-ego( é uma denominaçãoqueeu propo-
nho paradesignarosaspectosque,desdedentrodo sefdo sujeito,organizam-se
30 . znasru.aeNaosor.ro
deformapatológica,e agemcontraascapacidadesdo próprioego.Comofica
evidente,asituaçãopsicanalíticaâpaÍir destesreferenciaisdaestruhrradamen-
te ganhouemcomplexidade,porémcomissotambémganhouumariquezade
horizontesdeabordagemclínica,sendoqueagrupoterapiapsicanalíticapropicia
o surgimentodosaspectosantesreferidos.
Umoutroaspectodepresençaimportantenocampogmpaléo surgimentodeum
jogoativodeidentirtcações,tantoasprojetivascomoasintrojetivas,ouatémes-
moasadesivas.O problemadasidentificaçõesavultadeimportâncianamedida
emqueelasseconstituemcomoo elementoformadordosensodeidenúdade.
A comunicação,niassuasmúltiplasformasdeapresentação- asverbaiseasnão-
verbais-, representaumaspectodeespecialimportâncianadinâmicadocampo
grupal.
Igualmente,odesempenhodepapáis,emespecialosqueadquiremumacaracte-
ística derepetiçãoestereotipada- como,porexemplo,o debodeexpiatório-, é
umaexcelentefontedeobservaçãoemanejoporpartedocoordenadordogrupo.
Cadavezmaisestásendovalorizadaa formacomoos vínculos(deamor,ódio,
conhecimentoe reconhecimento),nocampogrupal,manifestam-see articulam
entresi, querno planointrapessoal,no interpessoalou aténotranspessoal.Da
mesmamaneira,háumafortetendênciaemtrabalharcomasconfiguraçõesvin-
cularcs,tal comoelasaparecemnoscasais,famílias,grupose instituições.
No campogrupal,costumaaparecerum fenômenoespecíficoe típico:a resso-
nâncìa,qu.e,comoo seunomesugere,consistenofatodeque,comoumjogode
diapasõesacústicosoudebilhar,acomunicaçãotrazidaporummembrodogru-
po vai ressoaremum outro;o qual,por suavez,vai transmitirum significado
afetivoequivalente,aindaque,Fovavelmente,venhaembutidonumanaÍrativa
deembalagembemdiferente,eassimpordiante.Pode-sedizerqueessefenôme-
noequivaleaoda"livreassociaçãodeidéias"queacontecenassituaçõesindivi-
duaiseque,porissomesmo,exigeumaatençãoespecialporpartedocoordena-
dordogrupo.
O campogrupalseconstituicomoumagaleriadeespelftos,ondecadaumpode
refletir e serrefletidonos,epelos outros.Particularmentenosgrupospsicotera-
pêuticos,essaoportunidadedeencontrodosefde umindivíduocomo deoutros
configuraumapossibilidadedediscriminar,afirmareconsolidaraprópriaidenti-
dade.
Um grupocoesoebemconstituído,porsi só,tomadonosentidodeumaabstra-
ção,exerceumaimportantíssimafunção,qualseja,a deserum continentedas
angrístiase necessidadesdecadaum e detodos-Issoadquireumaimportância
especialquandosetratadeumgrupocompostoporpessoasbastanteregressivas.
Apesardetodososavançosteóricos,como incrementodenovascorentesdo
pensamentogrupalístico-ê ateoriasistêmicaéumexemplodisso-,aindanãose
podeproclamarqueaciênciadadinâmicadocampogrupaljá tenhaencontrado
plenamentea suaautênticaidentidade,assuasleise referenciaisprópriose ex-
clusivos,porquantoelacontinuamuitopresaaosconceitosquetomouempresta-
dodapsicanáliseindividual.
Creioserlegítimoconjecturarque,indoalémdosfatos,dasfantasiasedosconfli-
tos,quepodemserpercebidossensorialeracionalmente,tambémexistenocam-
po grup;l muitosaipectosqueperÍnanecemocultos,enigmáticose secretos.À
modadeumaconjecturaimaginativa,cabeousardizerquetambémexistealgo
cercadodealgummistério,queanossa"vãpsicologiaaindanãoexplica",masque
muitasvezessemanifestapormelhorasinexplicáveis,ououtrascoisasdogênero.
COMOI'RABÂLHAMOSCOMGRUPOS . 31
. Da mesmaforma como, em termosde micropsicologia,foi enfatizadaa relação
do indivíduo com os diversosgruposcom os quais ele convive, é igualmente
relevantedestacar,em termosmacroscópicos,a relaçãodo sujeitocom a cultura
naqual eleestáinserido.Uma afirmativainicial queme pareceimportanteé a de
que o fator sócio-culturalsomentealterao modode agir, masnãoa naturezado
reagir.Explico melhorcomum exemplotiradodaminhapráticacomogrupotera-
peuta,parailustrar o fato de que,diantedeumamesmasituação- a vida genital
deumamulherjovem e solteira- foi vivenciadadeforma totalmentedistintaem
duasépocasdistantesuns vinte anosuma da outra. Assim, na década60, uma
jovem estudantede medicinalevou mais de um ano para "confessar"ao grupo
quemantinhaumaatividadesexuaìcom o seunamorado,devidoàssuasculpase
ao pânico de que sofreriaum repúdio generalizadopela sua transgressãoaos
valoressociaisvigentesnaquelaépoca.Em contrapartida,em um outro grupo,
em fins dadécada80,uma outramoçatambémlevou um longotempoatépoder
poderpartilharcom osdemaiso seusentimentodevergonhae o temordevir aser
ridicularizadae humilhadapor elespelo fato de "ainda sercabaçuda".Em resu-
mo, o modo deagir foi totalmenteoposto,masa natureza(medo,vergonha,cul-
pa, etc.)foi a mesma.Cabetirarmosduasconclusões:uma, é a de que costuma
havero estabelecimentode um conflito entreo ego individual e o ideal de ego
coletivo; a segundaconstataçãoé a dequeo discursodo Outro (paise cultura) é
quedeterminao sentidoe geraa estruturada mente.
. Todosos elementosteóricosdo campogrupalantesenumeradossomenteadqui-
rem um sentidodeexistênciae de validadeseencontraremum ecode reciproci-
dadeno exercícioda técnicae práticagrupal.Igualmente,a técnicatambémnão
podeprescindirda teoria,de maneiraqueambasinterageme evoluemde forma
conjugadae paralela.Pode-seafirmarqueateoriasema técnicavai resvalarpara
uma práticaabstrata,com uma intelectualizaçãoacadêmica,enquantoa técnica
semuma fundamentaçãoteóricacorre o risco de não ser mais do que um agir
intuitivo oupassional.Poressasrazões,nocapítuloquesegue,tentaremosestabe-
leceralgumasinter-Íelaçõesentreâ teoriae a técnicada práticagrupal.
FundamentosTécnicos
DAVIDE.ZIMERMAN
Conquantoos fundamentosteóricose as leis da dinâmica grupal que presidemos
grupos,de forma manifestaou latente.sempreestejampresentese sejamda mesma
essênciaem todoseles,é inegávelqueastécnicasempregadassãomuito distintase
variáveis,de acordo,sobretudo,com a finalidadeparaa qual determinadogrupo foi
criado.Em outraspalavras:damesmaformacomotodososindivíduosquenosprocu-
ram- pacientes,por exemplo- sãoportadoresdeuma mesmaessênciapsicológica,
é óbvio que,no casodeum tratamento,paracadasujeitoem especialigualmentevai
sernecessárioum planejamentode atendimentoparticular,com o empregode uma
técnicaadequadaàsnecessidades,possibilidadese peculiaridadesdecadaum deles.
Diante do fato de que existe um vasto polimorfismo grupalísticoe que, por
conseguinte,tambémháumaextensae múltipla possibilidadedevariaçãonasestraté-
gias,técnicase táticas,toma-seimpossívelpretender,em um único capítuÌo,esgotar
oufazerum detalhamentominuciosodetodaselas.Poressarazão,vamosnoslimitar
aenumerar,deformagenérica,osprincipaisfundamentosdatécnica,quedizemrespei
to aocotidianodapráticagrupal,tentandorastreá-losdesdeo planejamentodaforma-
çãodeum grupo,o seufuncionâmentoduranteo cursoevolutivo,procurandoacentu-
aralgumasformasdemanejotécnicodiantedosdiferentesaspectose fenômenosque
surgemno campogrupaldinâmico.
Planejamento. Inicialmente,creio ser útil fazer uma discriminaçãoentre os
conceitosde logística,estratégia,técnicae tritica,termosque,emboraprovindosda
terminologiada áreamilitar, parecem-metambémadequadosao campoda psicolo-
gia.Por logísticaentendemosum conjuntode conhecimentose equipamentose um
lastrode experiênciaque servemde suportepara o planejamentode uma ação(no
caso,o daformaçãodeum grupo).Estratégiadestgnaum estudodetalhadodecomo
utilizar a logísticaparaatingir e alcançarum êxito operativona finalidadeplanejada
(comohipótese,um grupopsicoterápicoparapacientesdeestruturaneurótica).Técnica
serefereaum conjuntodeprocedimentose deregras,deaplicabilidadeprática,e que
fundamentama exeqüibilidadeda operação(na hipóteseque estános servindode
exempÌo,poderiasera utilizaçãode umatécnicade fundamentaçãopsicanalítica).
Tótica aludeàs variadasformas de abordagemexistentes,que, de acordo com as
circunstânciasda operaçãoem cursoe com o estìlopeculiarde cadacoordenador,
emboraatécnicapermaneçaessencialmenteamesma(aindanonossoexemplohipoté-
tico, é a possibilidadede que um grupoterapeutaprefira a interpretaçãoimediatae
sistemáticano "aqui-agora-comigo"datransferência,enquantoum outro grupotera-
peutai,qualmentecapaz,e deumamesmacorrentegrupanalítica,optepelatáticade
34 . ZMERMANsuosoRlo
evitaÍoempregosistemáticoeexclusivodessaformadeinterpretar,comoumatática
capazdecriarum climamaispropíciode acessibilidadeaosindivíduose ao todo
grupal).
Destarte,diantedaresoluçãodecriarecomporumgÍupo,devemosestâraptos
a respondera algumasquestõesfundamentais,comoasseguintes:Quemvai sero
coordenador?(Qualéasualogística,Qualéo seuesquemareferencial?,etc.).PaÍao
quèe paraqualfrnalidadeo grupoestásendocomposto?(E um grupodeensino-
aprendizagem?De auto-ajuda?De.saúdemental?Psicoterápico?Defamília?,etc.).
Paraquemelesedestina?(Sãopessoasqueestãomotivadas?Coincidecomuma
necessidadeporpanedeumconjuntodeindivíduosequeo grupoemplanejamento
poderápreencher?Sãocrianças,adolescentes,adultos,gestantes,psicóticos,empre-
siírios,alunos,etc.?).Comoelefuncionará?(Homogêneoouheterogêneo,abertoou
fechado,comousemco-terapia,qualseráo enquadredonúmerodeparticipantes,o
númerodereuniõessemanais,o tempodeduraçãodasmesmas,seráacompanhado
ounãoporumsupervisor?,etc.).Onde,emquaiscircunstâncias,e comquaisrecur-
sos?(Noconsultórioprivado?Emumainstituiçãoe,nestecaso,temoapoiodacúpu-
la administrativa?Vai conseguirmantera necessáriacontinuidadede um mesmo
locale doshorárioscombinadoscomo grupo?,etc.).
Comoumatentativadesintetizartudoisso,valeafirmarquea primeirareco-
mendaçãotécnicaparaquemvai organizarumgrupoé adequeeletenhaumaidéia
bemclarado quepretendecomessegrupoe decomovai operacionalizaresseseu
intentoicasocontrário,é muitoprovávelqueo seugrupopatinaránumclimade
confusão,deincertezâsedemâl-entendidos.
Seleçãoegrupamento.Osgrupoterapeutasnãosãounânimesquantoaoscrité-
riosdeseleçãodosindivíduosparaacomposiçãodeumgrupo,queressesejaoperativo,
quersejaterapêutico.Algunspreferemaceitarqualquerpessoaquemanifestarum
interesseemparticipardeumdeterminadogrupo,sobaalegaçãodequeospossíveis
contratemposserãoresolvidosduranteo próprioandamentodo grupo.Outros,no
entanto,entreosquaisparticularmentemefilio, preferemadotarumcertorigorismo
naseleção,ancoradosnosargumentosqueseguem:
É muitoimpoÍanteedelicadoo problemadasindicaçõese contra-indicações.
Umamotivaçãopordemaisfrágilacarretaumaaltapossibilidadedeumapartici-
paçãopobreouadeumabandonoprematuro.
Essetipodeabandonocausaummal-estare umasensaçãodefracassotantono
indivíduoquenãoficounogrupocomotambémnocoordenadorenatotalidade
do grupo;alémdisso,esteúltimovai ficar sobrecarregado,aomesmotempo,
comsentimentosdeculpae.comumestadodeindignaçãoporsesentirdesrespeita-
do e violentado,nãounicamentepelointrusoqueteveacessoà intimidadedos
participantesefugou,mastambémcontraanegligênciadocoordenador.
Um outroprejuízopossíveléo dacomposiçãodeuminadequado"grupamento"
(essetermonãotemomesmosignificadode"agrupamento"ealudeaumagestalt,
ouseja,aumavisãoglobalística,àformacomocadaindivíduointeragirácomos
demaisnacomposiçãodeumatotalidadegrupalsingular).
Alémdesses,podemaconteceroutrosincovenientes,comopossibilidadedeum
permanenteestadodedesconfortocontratransferencial,assimcomotambémpo-
democonercertassituaçõesconstrangedorasquando,porexemplo,muitocedo
fica patenteentreaspessoascomponentesum acentuadodesnívelde cultura,
inteligência,patologiapsíquica,etc.
collo 1RÂBÂLHAMOSCOÌiÍCRUPOS o 35
Podeservircomoumaexemplificaçãomaiscompletado impoÍanteprocesso
deseleção,particularmenteparaosleitoresmaisinteressadosemgrupoterapiapsica-
nalítica,a exposiçãopresenteno capítuÌoespecífico,naParte2 destelivro.
Enquadre (seÍrng).Umaimportanterecomendaçãodetécnicagrupalísticacon-
sisteno estabelecimentodeum enquadree a necessidadedepreservaçãodo mesmo.
O enquadreé conceituadocomoa somadetodososprocedimentosqueorganizam,
noÍTnatizame possibilitamo funcionamentogrupaÌ.Assim,eleresultadeumacon-
junçãode regras,atitudese combinações,como,por exemplo,o localdasreuniÕes.
os horários,a periodicidade,o planode férias,os honorários(naeventualidadede
quehajaalgumaformade pagamento,a combinaçãodesseaspectodeveficar bem
claro),o númeromédiodeparticipantes,etc.
Todosessesaspectosformam"asregrasdojogo",masnãoojogo propriamente
dito.O.retlirrgnãosecomportacomoumasituaçãomeramentepassiva,pelocontrá-
rio,eleé um importanteelementotécnicoporquerepresentaasseguintese imponan-
tesfunções:
. A criaçãodeum novoespaçoparareexperimentare ressignificarfortese antigas
experiênciasemocionais.
. Uma formadeestabelecerumanecessáriadelimitaçãode papéise de posições,
dedireitose deveres,entreo queé desejávele o queé possível,etc.
. Esteúltimoaspectoganharelevâncianosgruposcompacientesregressivos,como,
por exemplo,os borderline,porquantoelescostumamapresentaruma "difusão
de identidade"por aindanãoestaremclaramentedelimitadasasrepresentações
do sefe dosobjetos;portantoé imprescindívela colocaçãodelimites,tal como
o settÌng pÍopicia.
. O enquadreestásobumacontínuaameaçadevir a serdesvirtuadopelaspressões
oriundasdo interiordecadaum e detodos,soba formadedemandasinsaciáveis,
pordistintasmanobrasdeenvolvimento,pelaaçãodealgumasformasresistenciais
e transferenciais,etc.,e, por issomesmo,o enquadreexigeum manejotécnico
adequado,tendoporbasea necessidadedeleserpreservadoaomáximo.
. Um aspectoquemerecea atençãodo coordenadorserefereaograudeansiedade
noqualo grupovai trabalhar,derraneiraa quenãohajaumaangústiaexcessiva,
porémumafaltatotaldeansiedadedeveserdiscriminadado quepodeestarsen-
do um conformismocom a tarefa,umaapatia.
. Ainda um outroelementoinerenteaoenquadreé o quepodemosdenominar"at-
mosferagrupal",a qualdependebasìcamentedaatitudeafetivaintemado coor-
denador,do seuestilopessoaldetrabalhare do empregode táticasdentrodeum
determinadoreferenciaÌtécnico.
. Osprincipaiselementosa seremlevadosemcontanaconfiguraçãodeum J?/Íilg
grupalsãoosseguintes:
- E um grupohomogêneo(umamesmacategoriade patologia,ou de idade,
sexo,graucultural,etc.)ou heterogêneo(comportavariaçõesno tipo e grau
de doença,no casode um gÍïpo terapêutico;no tipo e nível de formaçãoe
qualificaçãoprofissional,no casode um grupooperativode aprendizado.
etc.)?
- E um grupofechado(umavezcompostoo grupo,nãoentramaisninguém)ou
aberto(semprequehouvervaga,podemseradmitidosnovosmembros)?
- A combinaçãoé a deduraçãolimitada(emreláìçãoaotempoprevistoparaa
existênciadogrupooudapermanêncìamáximadecadaindivíduonessesru-
36 . znamull,c osonro
po, comocomumenteocorrenasinstituições),ou eleserádeduraçãoilimita-
da (comopodeserno casodosgruposabertos)?
- Quantoao númerode participantes,poderávariar desdeum pequenogmpo
com trêsparticipantes- oudois,nocasodeumaterapiadecasal-, ou podese
tratardo grupodenominado"numeroso",quecomportadezenasdepessoas.
- Da mesmaforma, tambémabrigamuma amplagamade variações- confor-
me o tipo e a finalidadedo grupo- outrosaspectosrelevantesdo enquadre
grupal,comoé o casodonúmerodereuniõessemanais(oumensais),o tempo
deduraçãodecadareunião,e assimpor diante.
Manejo das resistências.O melhor instrumentotécnicoqueum coordenador
degrupopodepossuirparaenfrentarasresistênciasquesurgemno campogrupalé o
de ter uma idéiaclarada funçãoqueelasestãorepresentandoparaum determinado
momentodadinâmicadeseugrupo.Assim,umaprimeiraobservaçãoqueseimpõeé
a que diz respeitoà necessidadede o coordenadordiscriminar entreas resistências
inconscientesque de fato são obstrutivase que visam a impedir a livre evolução
exitosado grupo,e aquelasoutrasresistênciasque sãobenvindasao campo grupal,
porquantoestãodandoumaclaraamostragemde comoo sefde cadaum e detodos
aprendeua sedefenderna vida contrao risco de seremhumilhados,abandonados,
não-entendidos,etc.
Da mesmaforma,é útil queo coordenadorpossareconhecercontraquaisansi-
edadesemergentesno grupoumadeterminadaresistênciaseorganiza:é ela denatu-
rezaparanóide?(medoda situaçãonova,denão serreconhecidocomoum igual aos
outrose denãoseraceitopor esses,do riscodevir a passarvergonhae humilhações,
de vir a ser desmascarado,etc.), ou é de naturezadepressiva?(no caso de uma
grupoterapiapsicanalítica,é comumsurgiro medodeenfrentâro respectivoquinhão
deresponsabilidadeoudeeventuaisculpaseo medodeseconfrontarcom um mundo
intemo destruídoe sempossibilidadederepamções,o temordeter que renunciarao
mundodasilusões,etc.,),e assimpor diante.
Nosgruposoperativosemgeral(porexemplo,um grupodeensino-prendizagem),
um critério que o coordenadorpodeutilizar como sinalisadorda presençade resis-
tênciasé quandosucedemexcessivosatrasose faltas,aliadosa um decréscimoda
leiora dos textoscombinados,acompanhadospor uma discussãonão mais do que
moma,caracterizandoum clima de apatia.Um outro sinalpreocupante,porqueinvi-
sível na maioria das vezes,é quandoo grupo elegeos corredorescomo fórum de
debatede sentimentos,idéiase reivindicações.Da mesmaforma, o condutorde um
grupo operativodeveestaralertaparaa possibilidadede que os "supostosbásicos"
estejamemergindoe interferindono cumprimentoda finalidadedatarefado "grupo
de trabalho". Nestesúltimos casos,é recomendávelque o coordenadorda tarefa
operativasolicite ao grupo que façam uma pausana sua tarefa a fim de poderem
entendero queestásepassando.
Ainda emrelaçãoàsresistências,maisduasobservaçõessãonecessáriaseambas
dizem respeitoà pessoado coordenador,qualquerque sejaa naturezado grupo que
eleestáconduzindo.A primeiraé apossibiÌidadedequea resistênciado grupoesteja
representandouma natural,e até sadia,reaçãocontraaspossíveisinadequaçõesdo
cooordenadorna suaforma deconcebere conduziro grupo.A segunda,igualmente
importante,diz respeitoàpossívelformaçãodeum,inconsciente,"conluioresistencial"
entre o coordenadorc os demais,contra o desenvolvimentode certosaspectosda
tarefana qual estãotrabalhando.
coMo TRABALHAì!íoScov cnupos . 37
Manejo dos aspectostransferenciais. Da mesmaforma comofoi Íeferido em
relaçãoàs resistências,é necessáriofrisar que, diante do inevitável surgimentode
situaçõestransferenciais,um manejotécnicoadequadoconsisteem reconhecere dis-
criminá-las.Assim, cabeafirmar que o surgimentodeum movimentotransferencial
estámuito longede representarqueestejahavendoa instalaçãodeuma "neurosede
transferência",ou seja,é legítimo dizerqueno carnpogrupal,inclusiveno grupana-
lítïco, há transferênciaemtudo,masnemtudo é transferênciaa ser trabalhada.
No campogrupal,asmanifestaçõestransferenciaisadquiremuma compÌexida-
demaiordoqueno individual,porquantonelesurgemasassimdenominadas"transfe-
rênciascruzadas",queindicamapossibilidadedainstalaçãodequatroníveisdeiransfe-
rênciagrupal: de cadaindivíduo paracom os seuspares,de cadaum em relaçãoà
figura centraldo coordenadorde cadaum parao grupo como uma totalidade,e do
todo grupalem relaçãoaocoordenador.
Um aspectoqueestáadquirindouma crescenteimportânciatécnicaé o fato de
ossentimentostransferenciasnãorepresentaremexclusivamenteumamerarepetição
de antigasexperiênciasemocionaiscom figuras do passado;eles podem também
estarrefletindonovasexperiênciasqueestãosendovivenciadascom apessoareal do
coordenadore cadaum dosdemais.
Em relaçãoaossentimenÍoscontratransferenciais,o impoÍanteéqueo coordena-
dor saibaqueelessãodesurgimentoinevitável;queo segredodoêxitotécnicoconsiste
em nãopermitir queos sentimentosdespertadosinvadama suamente,de modo a se
tomarempatogênicos;pelocontrário,queelespossamseconstituircomo um instru-
mento de empatia;e que, finalmente,o coordenadorestejaatentopara o risco de,
inconscientemente,poderestarenvolvido em algum tipo de "conluio inconsciente"
com o grupo, o qual podeserdenaturezanarcisística,sado-masoquista,etc.
Manejo dosdcÍr'rrgs.Todosostécnicosquetrabalhamcom gruposreconhecem
que a tendênciaao acíing ("a açío") é de cursoparticularmentefreqüente,e que a
intensidadedelescresceráemumaproporçãogeométricacomahipótesedequeindiví-
duos de caracterologiapsicopáticatenhamsido incluídos na sua composição.Do
ponto de vista de ser utilizado como um instrumentotécnico, é necessárioque o
coordenadorreconheçaqueosacllngsrepresentamumadeterminadacondutaquese
processacomouma forma desubstituirsentimentosquenãoconseguemsemanifes-
tar no plano consciente.Isso costumaocorrer devido a uma das cinco condições
s€guintes:quandoosseltimentosre!reladosig:espqndelrygos, fantasiase ansie-
dadesqueestãoreprimidase quenãosãorecoÈladas(como Freudensinou),ou que
nãosãopensadas(segundoBion), ou quenãosãocomunicadaspelaverbalização,ou
quenãoconseguemficar contidasdentrodopróprio indivíduoe,finalmente,o impor-
tanteaspectodequeoacting podeestarfuncionandocomoum recursodecomunica-
çãomuito primitivo.
As atuaçõesadquiremum extensolequedemanifestações;no entanto,o quede
fato mais importaé a necessidadede o coordenadordo gruposaberdiscriminarcom
segurançaquandosetratade actingsbenignos(como é o casodasconversaspré e
pós-reuniões,encontrossociaisentre os participantes,às vezesacompanhadosdos
respectivoscônjuges,ou o exercíciodealgumaaçãotransgressora,masque,no fun-
do, pode estarsignificandouma saudáveltentativade quebraralgunstabuse este-
reotipiasobsessivas)e dequandoseÍaÌz deactingsmalignos,comosão,por exem-
plo, osdenaturezapsicopática.Háumaformadeatuaçãoque,emborasejadeapareci-
mentocomum,apresentaumarepercussãodeletéria,devendo,por isso,serbemtraba-
lhadapelocoordenador:é aqueserefereàdivulgação,parafora dogrupo,dealguma
38 . ãìíERMAN&osoRlo
situaçãomuitosigilosae privativadaintimidadedeste.Nãocustarepetirqu" u.à
adequadaseleçãoecomposiçãonaformaçãodeumgmpominimizao riscodeatua-
çõesmalignas.
Comunicação.Partindodaafirmativadeque"o grandemaldahumanidadeéo
problemado mal-entenlido",pode-seaquilatara importânciaqueos aspectosda
normalidadee patologiadacomunicaçãonosgmposrepresentaparaa técnicae a
práticagrupalísticas.Dessaforma,o grupoéumexcelentecampodeobservaçãode
comosãotransmitidaserecebidasasmensagensverbais,comaspossíveisdistoÍções
ereaçõesporpaÍe detodos.Umaspectodacomunicaçãoverbalquemereceatenção
especialéo queapontaparaapossibilidadedequeo discursoestejasendousadode
fato nãoparacomunicaralgo,porém,pelocontrário,queele estejaa serviçoda
incomunicação.
Poroutrolado,nãoéunicamenteacomunicaçãoverbalqueimporta,porquanto
cadavezmaissetomarelevantea importânciadasmúltiplasformasdelinguagem
não-verbais(gestos,tipo deroupas,maneirismos,somatizações,silêncios,choros,
actings,etc.).
Atividadeinterpretativa.Utilizo a expressão"atividadeinterpretativa"em
lugarde"interpretação",pelofatodestaúltimaserdeusomaisrestritoàssituações
quevisamaumaformapsicanalíticadeacessoaoinconscienteindividuale grupal,
enquantoaprimeiraexpressãopermitesuporumamaiorabrangênciaderecursospor
partedocoordenâdordeumgrupo,comoé o usodeperguntasqueinstiguemrefle-
xões;claÍeamentos;assinalamentosdeparadoxosecontradições;umconfrontoentre
arealidadeeoimaginário;aaberturadenovosvérticesdepercepçãodeumadetermi-
nadaexperiênciaemocional,etc.Com"atividadeinterpretativa"tamMmestouenglo-
bandotodaapaÍicipaçãoverbaldocoordenadorque,dealgumaforma,consigapro-
movera integraçãodosaspectosdissociadosdosindivíduos,datarefae dogrupo.
Assimconcebida,a atividadeinterpretativano grupoconstitui-secomoo seu
principalinstrumentotécnico,sendoquenãoexistemfórmulasacabadase "certas"
decomoe o quedizer,poisassituaçõespráticassãomuitovariáveise,alémdisso,
cadacoordenadordeverespeitaroseuesfilopeculiareautênticodeformularedeser.
Nocasodegrupoterapiapsicanalítica,aquestãomaispolêmicagiraemtomodaque-
lesgnrpoterapeutasqueprefereminterpretarsempresedirigindoaogrupocomouma
totalidadegestáltica,enquantooutrosadvogamqueainterpretaçãopode(oudeve)ser
dirigidaaosindivíduossepaÌadamente,desdequeelavenhaacompanhadadeumaadi-
culaçãocomadinâmicadatotalidadedo grupo.Esseassuntoé paÍticularmenterele-
vanteeseráabordadomaisdetidamentenocapítulosobregrupoterapiaspsicanalíticas.
Creiosernecessáriosublinharque,assimcomoexistea possibilidadedeuma
"violênciada interpÍetaçãÕ' (comoé o casodeum grupoterapeutapretenderimpor
osseusprópriosvalorese expectativas,oudeapontarverdadesdoloridassemuma
sensibilidadeamorosa),tambémexistea "violênciada imposiçãode preconceitos
técnicosuniversais",semlevaremcontaaspeculiaridadesdecadatipodegrupo,ou
desituaçõese circunstânciasespeciais.
Funçõesdoego.A situaçãodocampogrupalpropiciaosurgimentodasfunções
doego,istoé,decomoosindivíduosutilizamacapacidadedepercepção,pensamen-
to, conhecimento,juízo crítico,discrimínaçã.o,comunicação,açAo,etc.;por essa
razão,trabalharcom essesaspectosé parteimportanteda instrumentagãotécnica.
Paradarumúnicoexemplo,valemencionarqueaessênciadeumaterapiadecasal,
ou de famflia, consistebasicamenteem "ensinar" os participantesa usaremasfun-
çõesde sabereJcrtdr o outro(é diferentede simplesmente"ouvir"), decadaum yer
o outro(édiferentede"olhar"), depoderpensarno queestáescutandoenasexperiên-
ciasemocionaispelasquaiselesestãopassando,e assimpor dianle.
Papéis.Convémenfatizarqueumadascaracteísticasmaisrelevantesqueper-
meiamo campogrupalé a transparênciado desempenhodepapéispor paíe decada
um dos componentes.A importânciadessefenômenogrupalconsisteno fato de que
o indivíduo tambémestáexecutandoessesmesmospapéisnasdiversasáreasde sua
vida- como a familiar, profirssional,social,etc.
Eum deverdocoordenadordogrupoestaratentoàpossibilidadedeestarocorren-
doumafixidez eumaestereotipiadepapéispatológicosexercidossemprepelasmes-
maspessoas,como seestivessemprogramadasparaassimagiremao longo de toda
vida. O melhorexemplodecomoa atribuiçãoe a assunçãodepapéispoderepresen-
tar um recurso técnico por excelência é o que pode ser confirmado pelos
grupoterapeutasdefamíli4 quetãobemconhecemo fenômenodo "pacienteidentifica-
do" (a família elegealguémparaservircomo depositárioda doençaocultadetodos
osdemais)e outrosaspectosequivalentes.
Vínculos. Cadavezmais,os técnicosda áreadapsicologiaestãovalorizandoa
configuraçãoqueadquiremasligaçõesvincularesentreaspessoas.Indo muito além
do exclusivoconflito do vínculodoamor contrao doódia, na atualidade,considera-
semais importantea observaçãoatentadecomo semanifestamasdiferentesformas
deamar,deagrediÍe asinteraçõesentreambas.Além disso,Bion introduziuo impor-
tantíssimovínculodo conhecimento,quepossibilitaum melhormanejotécnicocom
os problemasligados às diversasformas de "negação"que explicam a gênesede
muitosquadrosdepsicopatolgia,assimcomotambémfavoreceaotécnicoumamaior
clarezanacompreensãodacirculaçãodasverdades,falsidadese mentirasno campo
grupal.Particularmente,tenhopropostoaexistênciadeum quartovínculo,o doreco-
nhecimento,atravésdo qual é possívelaocoordenadorpercebero quantocadaindi-
víduonecessita,deformavital, serreconhecidopelosdemaisdogrupocomoalguém
que,defato, pertenceaogrupo (éo fenômenogrupalconhecidocomo "pertencência"),
e tambémaludeà necessidadedequecadarmreconheçaao outro comoalguémque
temo direitodeserdiferentee emancipadodele.
Tendo por baseessesquatro vínculos,e as inúmerascombinaçõese arranjos
possíveisentreeles,a compreensãoe o manejodosmesmostomam-seum excelente
recursotécnicono tratode casais,famílias,gruposou instituições.
Término. Termoquedesignaduaspossibilidades:umaéadequeo grupotermi
ne,ou por umadissoluçãodele,ou paracumprir umacombinaçãopÉvia, como é no
casodosgrupos"fechados";a segundaeventualidadeé a dequedeterminadapessoa
encerrea sua participação,emborao grupo continue,como é no casodos grupos
"abertos".Saberterminar algo,qu.epodeserumatarcfa,um tratamento,um casamento,
etc., representâum significativo crescimentomental. Daí considerarmosque deve
haverpor partedo coordenadorde qualquergrupouma fundamentaçãotécnicaque
possibiliteuma definiçãode critériosde término e um manejoadequadoparacada
situaçãoem particular,semprelevandoem contaa possibilidadedo risco de que os
resultadosalcançadospodemter sidoenganadores.Issovale especialmentepaÍa os
gruposde frnalidadeterâpêutica,emborana atualidadeo grupoterapeutapossacon-
tar com claroscritériosdeum verdadeirocrescimentopsíquico.
coMoTRABALHAMoScov cnuPos . 39
40 . zn.lgwaN E..t.tt
Atributos deum coordenadordegrupo.DecidiincorporaÍestetópicocomo
integrantedafundamentaçãotécnica,porquemepareceimpossíveldissociarumade-
quadomanejotécnicoemqualquermodalidadedegrupo,semquehajaumasimultâ-
neaatitudeintemanapessoarealdoprofissional.
Assim,alémdosnecessárioscrnliecimentos(provindosdemuitoestudoeleitu-
ras),dehabilidades(treinoe supervisáo),asatitudes(ümtratamentodebasepsica-
nalíticaajudamuito)sãoindispensáveis,e elassãotecidascomalgunsatributose
funçõescomoasmencionadasaseguir:
. Gostareacreditaremgrupos.
. Sercontinente(capacidadedeconterasangústiase necessidadesdosoutros,e
tambémassuaspróprias).
. Empatia(pder colocar-senolugaÍdooutroeassimmanterumasintoniaafetiva).
. Discrìminação(paranãoficar perdidono cipoaldascruzadasidentificações
projetivase introjetivas).
. NovomodelodeidentiJìcaçõo(contribuiparaaimportantefunçãodedesidentifi-
caçãoedessignificaçãodeexperiênciaspassadas,abrindoespaçoparaneo-identifi-
caçõeseneo-significações).
o Comunìcação(tantocomoemissoÍou receptor, coma linguagemverbalou a
não-verbal,comapreservaçãodeumestilopróprio,ecomoumaformademode-
lo paraosdemaisdognrpo).
. Sq verdadeiro(se o coordenadornão tiver amor às verdadese Dreferirnão
enfrentá-las,nãopoderáservircomoum modeloparao seugrupo,e o melhor
serátrocardeprofissão).
. Sensodehumor(umcoordenadorpodeserfirmesemserrígido,flexívelsemser
frouxo,bomsemseÍbonzinhoe,damesmaforma,podedescontrair,rir, brincar,
semperdero seupapeleamanutençãodosnecessárioslimites).
. Integraçãoesíntese(ê acapacidadedeextrairodenominadorcomumdasmensa-
gensemitidaspelosdiversoscomponentesdogrupoedeintegrá-lasemumtodo
coerenteeunificado,semartificialismosforçados).
Ao longoda leituradoscapítulosdapráticaclínicadosdiversosautoresdeste
livro,nassuasentrelinhas,o leitorpoderáidentificartodosessesatributos,e outros
mais,comoconstituintesbásicosdafi:ndamentaçãotécnica.
AtributosDesejáveispara
um CoordenadordeGrupo
DAVIDE,ZIMERMAN
Ao longode virtualmentetodososcapítulosdestelivro, de umaformaou de outra,
sempreháum destaqueà pessoado coordenadordo grupono temaqueestásendo
especificamenteabordado,comosendoum fatordefundamentalimportâncianaevo-
luçãodo respectivogrupo, sejaele de que naturezâfor. Creio que bastaessarazão
parajustificar a inclusãodeum capítuloqueabordedeforma maisdireta,abrangente
e enfáticaas condiçõesnecessárias,ou pelo menosdesejáveis,paraa pessoaque
coordenagrupos.De certaforma,portanto,estecapítuloé umasíntesedeaspectosjá
suficientementedestacadosnestelivro, tantodemodoexplícitoquantoimplícito.
Inicialmente,éútil escÌarecerqueo termo"coordenador"estáaquisendoempre-
gadono sentidomaisamplodotermo,desdeassituaçõesqueseformamnaturalmen-
te, semmaioresformalismos(como podeser,por exemplo,uma atendentecom um
_erupodebebêsdeumacreche,ou com criancinhasdeumaescolinhamatemal;um
grupodeauto-ajuda,noqualsempresurgemliderançasnaturaisquefuncionamcomo
coordenadores;um professoruniversitárioemumasaladeaula,um empresáriocom
a suaequipedetrabalho,etc.),passandoporgruposespecialmenteorganizadospara
aÌgumatarefa,atéasituaçãomaissofisticadaecomplexadeum grupoterapeutacoorde-
nandoum grupopsicanaÌítico.
Valeressaltarque,indo muito alémdo importantepapeldefigura transferencial
quequalquercondutordegruposemprerepresenta,aênfasedopresentetextoincidirá
deforma maisparticularnapessoareal do coordenador,com o seujeito verdadeiro
deser,e,por conseguinte,comosâtributoshumanosqueeìepossui,ou lhefaltam.
Fazendoa necessáriaressalvade que cadasituaçãogrupal específicatambém
eriee atributosigualmenteespeciaisparaapessoadocoordenador,consideroperfeita-
m:nte legítimo ressaltarqueaessámciadascondiçõesintemasdevesera mesmaem
:ada um deles.Uma segundaressalvaé a de que a discriminaçãoem separadodos
Civersosatributosa seguirmencionadospodedarumafalsaimpressãodequeestamos
:resando uma enormidadede requisitosparaum coordenadorde grupo, quaseque
:..ntìgurandoumacondiçãode "super-homem".Serealmentefor essaa impressão
i:irada. peçoaoleitorquereleve,poistudosepassadeformasimultânea,conjunta
: :atural.e aquantidadedeitensdescritosnãoé maisdoqueum esquemadepropósi-
:-.didático.
Destarte,seguindoumaordemmaisdelembrançado quede importância,vale
::ite.ar os seguintesatributoscomoum conjuntode condiçõesdesejáveise, para
j i:r. !ituacòes.imorescindíveis:
42 . znasrM,c,Na osorro
. Gostare acreditar€m grupos,E claroquequalqueratividadeprofissional
exigequeopraticantegostedoquefaz,casocontrárioeletrabalharácomumenoÍïne
desgastepessoalecomalgumgraudeprejuízoemsuatarefa.No entanto,atrevo-me
a dizerque,paÍicularmentenacoordenaçãodegrupos,esseaspectoadquireuma
relevânciaespecial,porquantoa gestaltdeum grupo,qualum "radar",captacom
maisfacilidadeaquiloquelheé "passado"pelocoordenador,sejaentusiasmoou
enfado.verdadeoufalsidade.etc
Cabedeixarbemclaroqueo fatodesegostardetrabalharcomgruposdemodo
algumexcluio fatodevir asentirtransitóÍiasansiedades,cansaço,descrenças,etc.
. Amor àsverdades.Nãoéexageroafirmarqueessaé umacondiçâosinequa
nonparaumcoordenadordequalquergrupo- muitoespecialmenteparaosdepropósi-
to psicanalítico-, poisninguémconiestaquea verdadeé o caminhorégioparaa
confiaça,acriatividadee a liberdade.
E necessárioesclarecerquenãoestamosaludindoa umacaçaobsessivaem
buscadasverdades,atémesmoporqueasmesmasnuncasãototalmenteabsolutase
dependemmuitodo vérticedeobservação,mas,sim,referimos-nosà condiçãodo
coordenadorserverdadeiro.O coordenadorquenãopossuiresseatributotambém
terádificuldadesemfazerumnecessáriodiscemimentoentreverdades,falsidadese
mentirasquecorremnoscamposgrupais.Damesmaforma,haveráumprejuízona
suaimportantefunçãodeservircomoummodelodeidentificação,decomoenfrentar
assituaçõesdifíceisdavida.
No casodosgrupospsicoterápicos,o atributodeocoordenadorserumapessoa
veraz,alémdeum deverético,tambémé um princípiotécnicofundamental,pois
somenteatravésdoamoràsverdades,pormaispenosasqueelassejam,ospacientes
conseguirãofazer verdadeirasmudançasinternas.Ademais,tal atitudedo
grupoterapeutamodelaráa formaçãodoindispensávelclimadeumalealfranqueza
entreosmembrosquepartilhamumagrupoterapia.
. Coerênciâ.Nemsempreumapessoaverdadeiraécoerente,pois,conformeo
seuestadodeespírito,ouo efeitodeumadeterminadacircunstânciaexterior,épos-
sívelqueeleprópriose"desdiga"emodifiqueposiçõesassumidas.Pequenasincoe-
rênciasfazempaÍe dacondutadequalquerindivíduo;no entanto,a existênciade
incoerênciassistemáticasporpartedealgumeducador- comosãoaquelasprovindas
depais,professores,etc.- levaa criançaa um estadoconfusionale a um abalona
construçãodosnúcleosdeconfiançabásica.Defato,éaltamentedanosoparao psi-
quismodeurnacriançaque,diantedeumamesma"arte",emumdiaelasejaaplaudi-
dapelospaise,numoutro,sejaseveramenteadmoestadaoucastigada;assimcomoé
igualmentepatogênicaapossibilidadedequecadaumdospais,separadamente,se-
jampessoascoerentesnassuasposições,porémmanifestamenteincoerentesentreas
respectivasposiçõesassumidasperanteo filho. Essaatitudedo educadorconstitui
umaformadedesrespeitoàcriança.
O mesmoraciocíniovaleintegralmenteparaapessoadecoordenadordealgum
grupo,porquanto,de algumaforma,eletambémestásempreexercendoum certo
graudefunçãoeducadora.
. Sensodeética.Oconceitodeética,aqui,aludeaofatodequeumcoordenador
degruponãotemo direitodeinvadiro espaçomentaldosoutros,impondoìhesos
seusprópriosvalorese expectativas:pelocontrário,eledevepropiciarum alarga-
COMO'IRAEALHAMOSCOVCRUPOS
'
43
mento do espaçointerior e exterior de cadaum deles,atravésda aquisiçãode um
sensode liberdadedetodos,desdequeessaliberdadenãoinvadaa dosoutros.
Da mesmaforma,faltacoma éticao coordenadordegrupoquenãomantémum
mínimo de sigilo daquilo que lhe foi dadoem confiança,ou pelasinúmerasoutras
formasde faltar com o respeitoparacom os outros.
. Respeito.Esteatributotem um significadomuito mais amplo e profundo do
que o usualmenteempregado.Respeitovem de re (de novo) + specíore(olhar), ou
seja,é a capacidadedeum coordenadorde grupovoltar a olharparaaspessoascom
asquaiseleestáemíntima interaçãocom outrosoÌhos,com outrasperspectivas,sem
a miopia repetitivados rótulose papéisque,desdecriancinha,foramJhesincutidos.
Igualmente,faz partedesteatributoanecessidadedequehajaumanecessâriadistân-
cia ótima entreelee osdemais,umatolerânciapelasfalhase limitaçõespresentesem
algumaspessoasdo grupo,assimcomoumacompreensáoe paciênciapelaseventu-
ais inibiçõese pelo ritmo peculiardecadaum.
Tudoissoestábaseadono importantefato dequeaimagemqueumamãeou pai
(o terapeuta,no casodeuma grupoterapia)tem dospotenciaisdos seusfilhos (paci-
entes)e da família como um todo (equivaleao grupo) setoma parteimportanteda
imagemquecadaindivíduo virá a ter de si próprio.
. Paciência.Habitualmente,o significadodestapalavraestáassociadoa uma
idéiadepassividade.deresignação,eo queaquiestamosvalorizandocomoum impor-
tanteatributodeum coordenadordegrupoéfrontalmenteopostoaisso.Paciênciadeve
serentendidacomouma atitudedtiva,comoum tempodeesperanecessi4rioparaque
uma determinadapessoado gruporeduzaa suapossívelansiedadeparanóideinicial,
adquiraumaconfiançabasalnosoutros,permita-sedarunspassosrumo a um terreno
desconhecido,e assimpor diante.Assim concebida,a capacidadede paciênciafaz
partedeum atributomaiscontingente,qual seja,o defuncionarcomoum continente.
. Continente. Cadavez mais, na literaturapsicológicaem geral, a expressão
"continente"(éoriginaldeBion) ampliao seuespaçodeutilizaçãoe o reconhecimento
pelaimportânciadeseusignificado.Esseatributoaludeoriginariamenteaumacapa-
cidadequeuma mãedevepossuirparapoderacolhere conteÍ asnecessidadese an-
gústiasdo seufilho, ao mesmotempo que as vai compreendendo,desintoxicando,
emprestandoum sentido,um significadoe especialmenteum nome, para só então
devolvêJasà criançanadosee no ritmo adequadosàscapacidadesdesta.
A capacidadedo coordenadorde grupo em funcionar como um continenteé
impoÍante por trêsrazões:
l. Permitequeelepossacor,rteraspossíveisfu quepodememergirno
campogrupalprovindasdecadaum edetodoseque,por vezes,sãocolocadasde
forma maciçae volumosadentrode suapessoa.
3.
Possibilitaqueelecontenhaassuasprópriasangústias,comoé o caso,por exem-
plo, denãosabero queestásepassandonadinâmicado grupo,ou aexistênciade
dúvidas,de sentimentosdespertados,etc. Essacondiçãode reconhecere conter
as emoçõesnegativascostumaserdenominadacapacidadenegativae seráme-
lhor descritano tópico qnesegueabaixo.
Fazpartedacapacidadedecontinenteda mãe(ou do coordenadordeum grupo)
a assim denominada,por Bion, função alfa, que serádescritaum pouco maìs
adiante,em "Funçãodeegoauxiliar".
2.
44 . ZMERMAN&osoRlo
. Capacidadenegativa.Comoantesreferido,nocontextodestecapítulo,esta
funçãoconsistenacondiçãodeumcoordenadordegnrpodeconterassuaspróprias
angrístias,que,inevitavelmente,porvezes,surgememalgumaformaegrau,demodo
aqueelasnãoinvadamtodoespaçodesuamente.
Nãoháporqueumcoordenadordeumgrupoqualquerficarenvergonhado,ou
culpado,diantedaemergênciadesentimentos"menosnobres"despertadospelotodo
grupal,ou poÍ determinadaspessoasdo gÍupo,comopodemser,por exemplo,um
sentimentodeódio,impotência,enfado,excitaçãoerótica,confusão,etc.,desdeque
elereconheçaa existênciadosmesmos,e assimpossacontere administrálos.Caso
contriário,ouelesucumbináaumacontra-atuaçãooutrabalharácomumenormedesgaste.
. Funçãodeegoauxiliar.A "funçãoalfa"antesreferida,originariamente,con-
sistena capacidadedeumamãeexercerascapacidadesde ego(perceber,pensar,
conhecer,discriminar,juízocrítico,etc.)queaindanãoestãosuficientementedesen-
volvidasna criança.A relevânciadesteatributosedeveao fato de queum filho
somentedesenvolveráumadeterminadacapacidade- digamos,paraexemplificar,a
de serum continenteparasi aosdemais- sea suamãedemonstroupossuiressa
capacidade.
Igualmente,umcoordenadordegrupodeveestaratentoedisponívelpara,du-
rantealgumtempo,emprestarassuasfunçõesdo egoàspessoasqueaindanãoas
possuem,o queacontececomumentequandosetratadeumgrupobastanteregressi-
vo.Creioque,dentreasinúmerascapacidadesegóicasqueaindanãoestãosuficien-
tementedesenvolvidasparadeterminadasfunções,tarefase comportamentos,e que
temporariamentenecessitamdeum"egoauxiliar"porpaÍtedocoordenadordogru-
po,meÍecemum registroespecialasfunçõesdepensar,discriminarecomunicar.
. Funçãodepensar.É bastanteútil queumcoordenadordegrupo,sejaqualfor
anaturezadeste,permaneçaatentoparaperceberseospaÍticipantessabempensarâs
idéias,ossentimentose asposiçõesquesãoverbalizados,e elesomenteterácondi-
çõesdeexecutaressataÍefase,defato,possuirestafunçãodesaberpensar.
Podeparecerestranhaa afirmativaanterior;noentanto,osautorescontempo-
râneosenfatizamcadavezmaisaimportânciadeumindivíduopensarassuasexpe-
riênciasemocionais,eissoémuitodiferentedesimplesmente"descarÍegar"osnas-
centespensamentosabrumadoresparafora(sobaformadeumdiscursovazio,proje-
ções,actings,etc.)ouparadentro(somatizações).A capacidadepara"pensarospen-
samentos"tambémimplicaescutarosoutros,assumiropróprioquinhãoderesponsa-
bilidadepelanaturezadosentimentoqueacompanhaaidéia,estabelecerconfrontos
ecorrelaçõese,sobretudo,sentirumaliberdadeparapensaÍ.
Voumepermitirobservarque:"muitosindivíduospensamquepensam,mas
nãopensam,porqueestãopensandocomo pensamentodosoutros(submissãoao
pensamentodospais,professores,etc.),pâraosoutros(noscasosde "falso sef'),
contraosoutros(situaçõesparanóides)ou,comoénossujeitosexcessivamentenarci-
sistas:"eupensoemmim,sóemmim,apartirdemim,enãopensoemmimcomos
outros,porqueeucreioqueessesdevemgravitaÍemtomodomeuego".
. Discriminação.Fazpartedoprocessodepensar.Capacidadedeestabelecer
umadiferenciaçãoentreoquepertenceaoprópriosujeitoeoqueédooutro,fantasia
erealidade,intemoe extemo,presenteepassado,o desejávele o possível,o claroe
o ambíguo,verdadee mentira,etc.Particularmenteparaum cooÍdenadordegrupo,
esteatributoganharelevânciaemrazãodeumpossíveljogo deintensasidentifica-
colro 1R^BÀLH^Ì!ÍoscoM cRUPos . 45
çõesprojetivascruzadasem todasas direçõesdo campo grupal, o qual exige uma
claradiscriminaçãode"queméquem",sobo riscodogrupocairemumaconfusãode
papéise deresponsabilidades.Acreditoqueosterapeutasquetrabalhamcomcasais
e famfliaspodemtestemunhare concordarcomestaúltimacolocaçào.
. Comunicação, Paraatestara importânciada funçãode comunicar- tânto no
conteúdoquantonaforma damensagememitida- cabea afirmativadequea lingua-
gem dos educadoresdeterminao sentidoe as significaçõesdas palavrase gerc as
estruturasda mente.
O atributodeum coordenadorde grupoem sabercomunicaradequadamenteé
pârticularmenteimportanteno casode uma grupoterapiapsicanalítica,pela respon-
sabilidadeque representao conteúdode suaatividadeinterpretativa,o seuestilo de
comunicá-lae, sobretudo,seeleestásintonizadono mesmocanalde comunicação
dospacientes(por exemplo,nãoadiantaformular interpretaçõesem termosde com-
plexidadesimbólicaparapacientesregressivosque aindapermanecemnuma etapa
depensamentoconcreto,e assimpor diante).Em relaçío aoestiLo,deveserdadoum
destaqueaoqueé de naturezanarcisista,tal como seguelogo adiante.
Um aspectoparcialdacomunicaçãoéo quediz respeitoàatividadeinterpretativa,
e comoessaestáintimamenteligadaaousodasverdades,comoantesfoi ressaltado,
torna-senecessárioestabeleceruma importanteconexãoentrea formulaçãode uma
verdadepenosade serescutadae a manutençãoda verdade.Tomareiemprestadade
Bion uma sentençaque sintetizatudo o que estoupretendendodestacar:anlor sent
verdadenão é maisdo auenaixão,no entanlo,verdadesemamor é crueldade.
É igualmenteimpo.tont"qu. ,r .oordenrdordegrupoqualquervalorizeo fato
de que a comunicaçãonão é unicamenteverbal, porquantotanto ele como o seu
grupoestãocontinuamentesecomunicandoatravésdasmaissutisformasde lingua-
gemnão-verbaì.
. Tfaços caracterológicos.TantomeÌhortrabalharáum coordenadorde grupo
quantomelhoreleconhecerasipróprio,osseusvalores,idiosincrasiasecaracterologia
predominante.Dessaforma, se eÌe for exageradamenteobsessivo(emboracom a
ressalvadequeumaestruturaobsessiva,nãoexcessiva,é muitoútil, poisdetermina
seriedadee organização),vaiacontecerqueo coordenadorteráumaabsolutaintolerân-
cia a qualqueratraso,falta e coisasdo gênero,criandoum clima desufoco,ou geran-
doumadependênciasubmissa.Igualmente,umacaracterologiafóbicado coordena-
dor pode determinarque ele evite entrar em contatocom determinadassituações
angustiantes,e assimpor diante.
No entanto,valedestacaraquelestraçoscaracterológicosquesãopredominan-
tementede natnÍezànarcisìsta.Nestescasos,o maior prejuízoé queo coordenador_-
estarámaisvoltadoparao seubem-estardoqueparao dosdemais.A necessidadede
receberaplausospodesertãoimperiosa,queháo riscodequeseestabeÌeçamconluios
inconscientes,com o de uma recíprocafascinaçãonarcisista,por exemplo, onde o
valormáximoé o deum adoraro outro,semquenenhumamudançaverdadeiraocor-
ra.Uma outrapossibilidadenocivaé a dequeo coordenadorsejatãobrilhanteque
eÌedeslumbra("des"+ "lumbre",ou seja,ofuscaporque"tira a luz") àspessoasdo
grupo, como seguidamenteaconÍeceentreplofessorese alunos,mas tambóin pode
aconlecercomgrupoterapeu(ase seuspacientes.
Nesteúltimo caso,o dogmáticodiscursointerpretativopodeestarmais a servi-
ço deumafetichização,istoé,damanutençãodo ilusório,de seduzire dominar,do
46 . zMsrÌ,r,aNa osoRro
quepropriamentea umacomunicação,a uma resposta,ou a aberturaparareflexões.
A retóricapodesubstituira produçãoconceitual.
Um outroinconvenientequedecorredeum coordenadorexcessivamentenarci-
sistaéqueeletemasensaçãodequetemapropriedadeprivadasobreos
..seuspacien-
tes", do futuro dos quaisele crê ter a possee o direito de determinaro valoi deles.
Nestescasos,é comumqueesteterapeutatrabalhemaissobreosnúcleosconflitivos
e os aspectosregressivos,descartandoos aspectosmais madurose as capacidades
sadiasdo ego.
Da mesmaforma,um grupoterapeutaassimpodesertentadoa fazerexibiçãode
umaculturaerudita,defazerfrasesdeefeitoque,maisdo queum simplesbrilho que
lhe é tãonecessário,o queelebasicamentevisa,no planoinconsciente,é manteruma
largadiferençaentreelee osdemaisdo grupo.
. Modelo de identiÍicação. Todososgrupos,mesmoosquenãosãoespecifica-
mente de naturezaterapêutica,de uma forma ou outra, exercemuma função
psicoterápica.Isso,entreoutrasrazões,deve-seao modelo exercidopela figurado
coordenadordogrupo,pelamaneiracomoeleenfrentaasdificuldades,pensaosproble-
mas, estabelecelimites, discrimina os distintos aspectosdas diferentessituações,
manejacom as verdades,usao verbo,sintetiza,integrae dá coesãoao grupo. Òom
outraspalavras,o grupotambémpropiciauma oportunidadeparaqueos paÍicipan-
tes introjetema figura do coordenadore, dessaforma, identifiquem-secom murtas
característicase capacidadesdele.
Nos casos de grupoterapia psicanalítica, vale acrescentarque a atividade
interpretativa_dogrupoterapeutatambémdevevisarafazerdesidentificações,ou seja,
desfazerasidentificaçõespatógenasquepodemestarocupandoum largo espaçona
mentedos pacientes,e preencheresseespaçomental formado com neo-idànifica-
çõer,entreasquaispontifica asqueprocedemdo modelodapessoareal do grupote-
rapeuta.
. Empatia.Todos osatributosantesdiscriminadosexigemumacondiçãobásica
para que adquiramvalidade,qual sejaa de que existauma sintonia emocional do
coordenadorcom osparticipantesdo grupo.
Tal como designaa etimologiadestapalavra[asraízesgregassão:em (dentro
de) + parhos(sofrimento)],empatiarefere-seaoatributodo coordenadordeum qru-
podepodersecolocarno lugardecadaumdogrupoeentrardentrodo .,climagrupãt".
Issoé muito diferentede simpatia (que se forma a partir do prefixo sfiz, que quer
dizerao lado de e nãodentrode).
A empatiaestámuito conectadaà capacidadede sepoderfazerum aproveita-
mentoútil dossentimentoscontratransferenciaisqueestejamsendodespertadosden-
tro do coordenadordo grupo,porém,pâratanto,é necessárioqueeletenhacondições
dedistinguirentreossentimentosqueprovêmdosparticipantesdaquelesqueperten-
cem unicamentea ele mesmo.
. Síntes€e integração. A funçãode síntesede um coordenadorde grupo não
deveserconfundidacom a habilidadede fazer resumos.A conceituaçãode síntese
aludeà capacidadede seextrairum denominadorcomumdentreasinúmerascomu-
nicaçõesprovindasdaspessoasdo grupoe que,por vezes,aparentamsertotalmente
diferentesentresi, unificandoecentralizando-asnatarefaprioritária do grupo,quan-
do estefor operativo,ou noemergentedasansiedadesinconscienles,no casodegru-
po voltadoao,r2s{g/rt.Por outroÍado,é a "capacidadesintéticado ego" do grupotera-
peutaquelhepossibilitasimbolizarsignificaçõesopostase aparentementecontraditó-
rias entresi.
Assim, tambémé útil estabeleceruma diferençaconceitual entre sintetizar e
junto.r: a sínteseconsisteem fazerumatotalidade,enquantojrínÍcrconsisteem fazer
umanova ligação,isto é, em ligar deoutro modo os mesmoselementospsíquicos.
Afunçáo deintegraçõo,poÍ savez, designaumacapacidadedeo coordenador
juntar aspectosde cadaum e detodos,queestãodissociadose projetadosem outros
(dentroou forado grupo),assimcomotambémaquelesaspectosqueestãoconfusos,
ou,pelo_menos,poucoclaros,porqueaindanãoforamsuficientementebemdiscrimi-
nados.E particularmenteimportantea integraçãodosopostos,como,por exemplo,a
concomitânciadesentimentose atitudesagressivascom asamorosasquesejamcons-
trutivase repaÍadoras,etc.
Paraque um coordenadorde grupo possaexerceradequadamenteas funções
antesreferidas,muito particularmentenasgrupoterapiasdirigidasaoinsight, impõe-
se a necessidadede que seuestadomental estejavoltado para a posiçãode que o
crescimentopsíquicodosindivíduosedogrupoconsisteemaprendercomasexperiên-
ciasemocionaisque acontecemnasinter-relaçõesgrupais.Assim, ele devecomun-
garcom o grupoqueo queé realmentevaliosonavidaé teraliberdadeparafantasiar,
desejar,a sentir,pensar,dizer,sofrer,gozare estarjunÍo com os outros.
Portanto,um importantecritério de crescimentomental,emborapossaparecer
paradoxal,é aqueleque,aocontráriodevalorizarsobremaneiraqueo indivíduo este-
ja em condiçõesde haver-sesozinho,a terapiagrupaldevevisar que,diantedeuma
dificuldademaior,o sujeitopossareconhecera suapartefrágil, permita-seangustiar-
see chorare que sesintacapazde solicitare aceitaruma ajudados outros.
Vale enfatizarque a enumeraçãodos atributosque foram referidosao longo
destecapítulonãopretendeserexaustiva.Os mencionadosatributoscomportamou-
trasvariantes,permitiriam muitas outrasconsiderações,foram descritosem terÍnos
ideaisenãodevemserlevadosaopédaletra,comosefosseumaexigênciaintimidadora
ouu,maconstrangedoracamisadeforça.Antes,a descriçãoem itensseparadosvisaa
dar uma amostragemda importânciada pessoado coordenadorde qualquertipo de
_crupo.
A expressão"qualquertipo degrupo" implica umaabrangênciatal, quealguém
poderiaobjetarqueosatributosqueforamarroladosnãoconstituemnenhumaorigina-
lidadeespecífica,porquantotambémdevemvalerparamil outrassituaçõesquenão
rêmum enquadregrupalformalizado.A respostaque me ocoÍÌe dar aoshipotéticos
contestadoresé queelesestãocom a razão.Assim,em umafamíÌia nuclearé à dupla
parentalquecabea funçãodecoordenara dinâmicado grupofamiliar. Em uma sala
de aula,é o professorquemexecutaessafunção.Num grupode teatro,essepapelé
do diretor do grupo.Numa empresa,cabeàschefiase diversassubchefías,e assim
ç'ordiante.
Numa visualizaçãomacro-sociológica- umanação,por exemplo-, asmesmas
:onsideraçõesvalemparaa pirâmidequegovemaosdestinosdo país,desdeacúpula
Jo presidentecoordenandoo seu primeiro escalãode auxiliaresdiretos, cada um
Jessesexercendoa funçãodecoordenarosrespectivossubescalões,em uma escala-
ü progressiva,passandopelos organismossindicaisem direçãoàs bases.Se não
hyer verdade,respeito,coerência,empatia,etc.,porpartedascúpulasdiretivas(como
.r dos paisem uma família, a de um coordenadornum gÍupo, etc.), é virtualmente
::no quea mesmacondutaacontecerápor partedos respectivosgrupos.
O que importadestacaré o fato de que o modelodasliderançasé o maior res-
se.rri;ír'elpelosvalorese característicasdeum grupo,sejaele de quetipo for.
CoMoTRABALHAMOS COll CIUPOS r 47
A FamíIiacomoGrupo
Primordial
LUIZCÀRLOSOSORIO
EM BUSCADE UM CONCEITO OPERATIVODE FAMILIA
Família nãoéum conceitounívoco.Pode-sedizerquea família nãoéumaexpressão
passívelde conceituação,mastão somentededescrições,ou seja,é possíveldescre-
ver asváriasestruturasou modalidadesassumidaspela família atravésdos tempos,
masnãodefini-la ou encontraralgumelementocomumatodasasformascom quese
apresentaesteagrupamenlohumano.
Mesmo sea considerarmosapenasnum dado momentoevolutivo do processo
civilizatório temosdificuldadesem integraro proteimorfismode suasconfigurações
numapautaconceìtual.O queteráem comumnos diasatuais,por exemplo,uma
famflia deuma metrópolenorte-americanacom a deum vilarejo rural daChina?Ou
a de um kibbutz israelensecom a de um latifundiário australiano?Que similitude
encontrarentrea deum retirantenordestinoe a de um lapãoda Escandinávia?Ou a
deum porto-riquenhoquevive numguetonova-iorquinocom adeum bem-sucedido
empresáriosuíço?Ou, ainda,comoequipararadeum sicilianomafiosocom adeum
muçulmanopaquistanense?Ou adeum bérberenorte-africanocomadeum decadente
lordeinglês?
Sãotantasasvariáveisambientais,socrars,econômicas,culturais,políticasou
religiosasquedeterminamasdistintascomposiçõesdasfamíliasatéhoje,queo sim-
pÌescogitar abarcá-lasnum enunciadointegradorjá nos paralisao ânimo e tolhe o
propósito.Não obstante,comonãopodemosprescindirdeuma definição,aindaque
precáriae limitada,quenosfacilite acomunicaçãoe nosajudeadiscriminaro funda-
mentaldo perfunctório,vamosàprocuradeum conceitoquepossaseroperativopara
asfinalidadesdestecapítu1o,valendo-nosparatantodascontribuiçõesdeoutrosautores
quesedebruçaramsobreaingentetarefadeencontrarumanoçãodefamíliasuficiente-
menteabrangenteparaservir-nosdeparâmetroaqui e agora.
Dizer que a família é a unidadebásicada interaçãosocial talvez sejaa forma
nais _genéricae sintéticade enunciá-la;mas,obviamente,não bastaparasituá-la
:u1moagrupamentohumanonocontextohistórico-evolutivodoprocessocivilizatório.
Escardóobserva-nosque"a palavra/amílía nío designauma instituiçãopadrão,
:-:ree invariável.Atravésdostempos,a famíia adotaforïnase mecanlsmossumamente
::..ersos,e naatualidadecoexistemno gênerohumanotiposdefamfliaconstituídosso-
::: princípiosmoraise psicológicosdiferentese aindacontraditóriose ilconciliáveis".
50 . znrmve,Na osonro
A estruorafamiliarvaria,portanto,enormemente,conformealatitude,asdistin-
tasépocashistóricaseosfatoressócio-políticos,econômicosoureligiososprevalentes
numdadomomentodaevoluçãodedeterminadacultura.
SegundoPichonRivtère,"a,famíliaproporcionaomarcoadequadoparaadefini-
gãoe conservaçãodasdiferençashumanas,dandoformaobjetivaaospapéisdistin-
tos,masmutuamentevinculados,do pai,da mãee dosfilhos,queconstihlemos
papéisbásicosemtodasasculturas".
ParaLéviStrauss,sãotrêsostiposderelaçõespessoaisqrueconírguramafamí-
lia: aliança(casal),filiação(paise Írlhos)econsangüinidade(irmãos).lssonoscon-
duza outroreferencialintimamentevinculadoànoçãodefamflia:oparentesco.
Oparentescoconsistenumarelaçãoentrepessoasquesevinculampelocasa-
mentoou cujasuniõessexuaisgeramfilhosou,aind4quepossuamancestraisco-
muns.Nestaconcepção,maridoe mulhersãoparentes,independentementedegera-
remfilhos,assimcomoo sãoospaisdeumacriança,emboranãosejamlegalmente
casados;poroutrolado,doisindivíduosquevivammaritalmentesemqueessarela-
çãosejaoficializadalegalmenteouquedelaresultemfilhosnãosãoparentes.
Frcud,emTotemetaòu,assinalaqueo "parentescoé algomaisantigodoquea
vidafamiliare,naìã-oria dassociedadesprimitivasquenossãoconhecidas.afamí-
lia continhamembrosdemaisdeumparôntesco.Comoveremosmaisadiante,por
nãoseconheceropapeldopainareprodução,n_ospovo_sprimitivo-so parentescoera
restritoàlinhagemmatema.
NÌo o6Bkúiteã no-çãóãafamíliarepousesobreaexistênciadocasalqlLelhedâ
origem,considera-sequesuaessênciaestejarepresentadana relaçã,opais-filhns,jât
queaorigemeo destinodesteagrupamentohumanocoincidemnoobjetivodegerar
ecriarfilhos.
. ,A,c,on(içã!neçtênicadaespéciehumana,ou seja,a impossibilidadede sua
descendênciasobreviversemcuidadosaolongodosprimeirosanosdevida,foi, sem
dúvida,responsávelpelosurgimentodonúcleofamiliarcomoagentedeperpetuação
da vidahumana,o queigualmenteocorrecomoutrasespéciesanimais,cujaprole
tambémnecessitadaprovisãodealimentose proteçãopor partedeindivíduosadul-
tos,enquantonãopodefazêìaporseusprópriosmeios.A famfliatoma-se,assim,
tantonohomemcomoemoutrascategoriaszoológicas,o modelonaturalparaasse-
gurarasobrevivênciabiológicadaespécie;apardestafunçãobásica,propiciasimul-
taneamenteamatrizparao desenvolvimentopsíçico dosdescendentese aaprendi-
zagemdainteraçãosocial.
Emrealidade,nãopodemosdissociarafunçãobiológicadafunçãopsicossocia
dafamília;seéfatoqueafinalidâdebiológicadeconservaraeèpécieestánaorigem
daformaçãodafamíia,éigualmentepertinentedizerqueafamíliaéum-grupoespe-
- ctârrTaoonallgguçaooepessoascomvlnculospecultaresequeseconsutulnacelula
orimordialdetodae qualquercultura.
----- Cõm6seiãèmàntoi introdutóriosjá estamosemcondiçõesdeformularuma
defniçãoadhoc,decunhooperativo,paraospropósitosaquipresentes:
"Farníliaéumaunidadegrupalondesedesenvolvemtrêstiposderelaçõespessoais
- aliança(casal),filiação (pais/filhos)econsangüinidade(irmãos)- e quea partir
dosobjertvosgenéricosdepreservara espécie,nutrir eprotegera descendênciae
fornecer-lhecondiçõespara a aquisiçãodesuasidentidadespessoaisdesenvolveu
atravésdostemposfunçõesdiversificadasde transmissõode valoreséticos,estétï
cos,religiososeculturais".
coMorR^BALHAMoscov cnupos . 51
Consideraremos,ainda,quea família podeseapresentar,grossomodo,sobtrês
formatosbásicos:a nuclear(conjugal),a extensa(consangüínea)e a abrangente.
Porfamília nuclearentenda-seaconstituídapelotripépai-mãe-filhos;por famí-
lia extensaa que secomponhatambémpor outrosmembrosque tenhamquaisquer
laçosdeparentesco,e aabrangenteaqueincluamesmoosnão-parentesquecoabitem.
Convencionaremosquedoravantesemprequenosreferirmosàfamflia, a menos
queseparticularizea modalidadedeagrupamentofamiliar considerada,o estaremos
fazendotendoem menteseuformatonuclear,prevalentenamodemacivilizaçãooci-
dental,quebalizao cotidianoexistencialdaquelesa quemsedestinaestelivro.
{S ORIGENSDA FAMÍLIA
A família é umainstituiçãocujasorigensremontamaosancestraisdaespéciehuma-
nae confundem-secom a própriatrajetóriafilogenética.
A organizaçãofamiliar nãoéexclusivadohomem;vamosencontrá-laem outras
espéciesanimais,quer entreos vertebrados,quer,mesmosobformasrudimentares,
entreos invertebrados.
Assim comonaespéciehumana,encontram-sedistintasformasde organização
familiar entreosanimais.Há famíliasnasquais,apóso acasalamento,aprole fica aos
cuidadosde um só dos genitores,geralmente,a fêmea;mas tambémpoderáser o
machoquem seencarregadoscuidadoscom osdescendentes,como em certasespé-
ciesdepeixes.Algumasespéciesentreasavesvivem em família durantea épocada
reproduçãoe em bandosduranteasdemaisépocasdo ano.Os paispodempermane-
cerjunto aosfilhotespelavidatoda,masessesgeralmenÍedeixamospaisantesque
nasçamoutrasninhadas.Há tambémentreos animaisfamílias ampliadas(ou exten-
sas),ondeosjovens ajudama criar os irmãos.As abelhasoperárias,que sãofilhas
estéreisdasabelhasrainhas,constituementresi umafratria ou comunidadede irmãs
com funçõesdemútuoscuidados,proteçãoe alimentação.
Essabrevereferênciaaoscomportamentosfamiliares de certosanimaistem o
propósitode enfatizaro caráteruniversaldos agrupamentosfamiliarese chamara
atençãoparasuâonipresençanãosóaolongodaevoluçãodaespéciehumana,mâsna
de outrosseresdo reino animal.
Curiosamente,a origemetimológicadapalavrafamília nosremeteaovocábulo
latinofamulus, qrl'esignifica"servo" ou "escravo",sugerindoqueprimitivamentese
consideravaa família como sendoo conjuntodeescravosou criadosdeuma mesma
pessoa.Parece-me,contudo,que essaraiz etimológica aludeà naturezapossessiva
dasrelaçõesfamiliaresentreospovosprimitivos, ondea mulherdeviaobedecerseu
maridocomo seseuamoe senhorfosse,e os filhos pertenciama seuspais,a quem
deviamsuasvidase conseqüentementeessessejulgavamcom direito absolutosobre
elas.A noçãodeposseeaquestãodopoderestão,portanto,intrinsecamente,vinculadas
à origem e à evoluçãodo grupofamiliar, conforme veremosmais adianteao tratar-
mosdosmitos familiares.
Há váriasteoriassobrea origemdafamília: umasa fundamentamem suasfun-
çõesbiológicas;outras,em suasfunçõespsicossociais.Foram formuladasas mais
diÏersas hipóteses,tendocomoponto de partidaquestõesatinentesà parentalidade,
ou seja,aospapéispatemoe matemocomoestruturadoresdo grupofamiÌiar.
O vérticeevolutivo - queconsideraque a família, tal qual os seresque a com-
poem,necessitapassarporetapassucessivasnocursodeseudesenvolvimento- tem
sido a pedrade toquena fundamentaçãodasdiversasteoriasque tentamexplicar a
52 . zmsnve" * oso*to
origemeaestruhlraçãodogrupofamiliarcomoo encontrâmosaolongodoprocesso
civilizatórioenasdistintasculturas.
Asfamíliasoriginalmenteseorganizavamsobaformamatriarcal,aoqueparece
pelodesconhecimentodopapeldopainareprodução.Essaexplicação,contudo,não
éconsensualentreosantropólogos.Noentanto,éo quenospareceocorreremcertas
sociedadesditasmatrilinearesaindaencontradasemnossosdias- taiscomoosmela-
nésiosestudadosporMalinovski-, ondeaautoridadepatemarecaisobreafigurado
tio matemo(aúnculo),que,entreoutrasatribuições,temade"concederamão"das
sobrinhasaoseventuaispretendentesacomelassecasarem.Essa"transferência"ao
tio matemodosdireitose devereshabirualmenteatribuídosaopaiprovém,aoque
tudoindica,do referidodesconhecimentodo papeldo homemna reproduçãoem
temposidos.Esseshábitosmilenaresdosmelanésioscomrelaçãoaopapelavuncular
teriamsubsistidomesmoapósarevelaçãodafunçãoreprodutorapatema.
O matriarcado,segundooutrasfontes,seriaumadecorrêncianaturalda vida
nômadedospovosprimitivos,pois,enquantooshomens- desconhecendoaindaas
técnicasprópriasao cultivoda terra- tinhamquesairà procurade alimento,as
mulheresficavamnosacampamentoscomosfilhos,quecresciampraticamentesoba
influênciaexclusivadasmães,aquemcabiaaindafomecerummínimodeestabilida-
desocialaestesnúcleosfamiliaresincipientes.
Comodecorrênciadessapreponderânciadafiguramaterna,emcertassocieda-
desmatriarcaisasmulherestinhamo direitodepropriedadee certasprerrogativas
poÍticas,comoentreosiroquesescanadensesestudadosporMorgannoséculopassado.
Entreeles,asmulherespossuíamasterrascultiváveiseashabitações,podendovetar
aeleiçãodeumchefe,emboranãoocuparumcargonoconselhosupremo.
Paraosevolucionistas,odesenvolvimentodaagriculturaeoconseqüenteadvento
dosedentarismoforamosresponsáveispelainstalaçãoprogressivadopatriarcado.
Em fins do séculopassadoe princípiosdestehouveum verdadeiroboomde
estudosantropológicossobrepopulaçõesprimitivas,sustentandoa emergênciade
múltiplastesessobreo comportamentodosgruposfamiliares.No entanto,é algo
temeráriotirar-seconclusõessobrea origemdafamfliaa partirdaobservaçãodas
tribosprimitivas,poisanoçãodeevoluçãoculturallinearnãoómaisaceitaentreos
antropólogos.Issoquerdizerqueospovosditosprimitivosquenossãocontemporâ-
neosnãonecessariamenteestãoreproduzindoformasdeagrupamentofamiliaren-
contradasnopassadoremoto.Aindaassim,aconstataçãodequecertospadrõessão
reiteradamenteencontradosemtemposelugaresdiversospermitequesetomecomo
válidasmuitasdasafirmaçõesfeitascombasenessesestudos.
Ao discutir-sea origemdafamília,umaperguntainicialqueinsistentemente
nosocorreé seainstituiçãofamiliaréuniversal.
Em 1949,o antropólogonorte-americanoG.P.Murdockpublicouseuestudo
transculturalsobreparentesco,confirmandoahipótesedauniversalidadedafamília.
ParaMurdocknãoapenasafamíliaemgeral,masafamflianuclear,emparticulaÍ,é
universal,concluindoquenenhumaculturaousociedadepodeencontrarum substi-
tuto adequadoparaafamílianuclear.
A famflianuclear,segundoesseautor,apresentaquatrofunçõeselementares:a
sexual,a reprodutiva,a econômicae a educativa.Essasfunçõesseriamrequisitos
paraasobrevivênciadequalquersociedade.E baseando-senessefatoqueMurdock
afirmaserafamílianuclearuniversal.
Háquempossaobjetarcomaobservaçãodequetemosemnossostemposestrutu-
rassociaisquenãoincluema famflia,como,porexemplo,oskibbutzdeIsrael.No
entanto,comoobservaSpiro,estasociedadeessencialmentevoltadaparaacriança,
COIIIOTRABALHAMOSCOMCRUPOS
'
53
emborado ponto de vista estruturalpareçaconstituir-senuma exceçãoà idéia da
universalidadedafamília,serveparaconfirmáìa dopontodevistafuncionalepsicoló-
gïco.Nokibbutz,acomunidadeinteirapassaaserumagrandefamíliaextensa.Somente
numa sociedadefamilial como o kibbutz,afirma Spiro, seriapossívelnão haver a
família nucleardesempenhandosuasfunçõesindispensáveis.
A questãodaorigemdafamflia conduz-nosnaturalmenteàdiscussãodasques-
tõesrelativasao pârentesco,as relaçõesentre o tabu do incestoe a exogami4 e a
instituiçãodo casamento.
L.H. Morgan,advogadonoÍte-americanoquenasegundametadedoséculopassa-
do se interessouvivamentepela observaçãoda vida dos aborígenesque viviam na
fronteira dos EUA e Canadá,tomou-seo fundador da modema antropologiacom
seusestudospioneiros sobreas relaçõesde parentesco.Embora seu enfoque
evolucionistapossasercontestadopelosavançosulterioresdainvestigaçãoantropoló-
gica, suatipologia familiar perÌnanececomo ponto de referênciaparao estudodas
estruturasfamiliarese dasteoriassociológicassobrea família.
SegundoMorganhaviaoriginariamenteumapromiscuidadeabsoluta,semqual-
quer interdiçãopara o intercursosexualentre os sereshumanos.Este teria sido o
peíodo da família consangüínea,estruturadaa partir dos acasalamentosdentro de
um mesmogrupo.
A seguir,pelo surgimentoda interdiçãodo relacionamentosexualentrepais e
filhos e posteriormenteentre irmãos,atravésdo tabu do incesto,surgiu a famflia
punaluana,ondeos membrosde um grupo casamcom os de outro grupo, mas não
entresi. Assim, os homensdeum determinadogruposãoconsideradosaptosa casar
somentecom asmulheresdeum outro determinadogrupo,e essesdoisgruposintei
ros casamentre si. Essaestruturafamiliar é tambémconhecidacomo família por
grupo.
Na famflia sindesmáticaou de casal,o casamentoocorre entre casaisque se
constituemrespeitandoo tabudo incesto,massemcondicionarsualigaçãoà obriga-
toriedadedo casamentointergrupos.Essasfamílias,encontradasentreos primitivos
povos nômades,caracterizam-sepela coabitaçãode vários casaissob a autoridade
matriarcal,responsávelpelacoesãòcomunalatiavésdaeconomiadomésticacompar-
tida.
A repartiçãode tarefasadvindasdo desenvolvimentoda agriculturateria dado
origemàfamília patriarcal,fundadasobreaautoridadeabsolutado patriarcaou "che-
fe defamília", queem geralvivia num regimepoligâmico,com asmulhereshabitual-
menteisoladasou confinadasem determinadoslocais(gineceus,haréns).
Finalmente,temosa família monogâmica,paradigmáticadacivilizaçãodo oci-
dente,cujasorigenssevinculamaodesenvolvimentodaidéiadepropriedadeaolon-
go do processocivilizatório. A fìdelidadeconjugalcomocondiçãoparao reconheci-
mentode filhos legítimose a transmissãohereditáriada propriedade,bem como o
estabelecimentoda coabitaçãoexclusivademarcandoo território da parentalidade
sãoos elementosemblemáticosdestaque,aindahoje,é o tipo de família prevalente
no mundo ocidental.
Engels,o colaboradordeMarx naelaboraçãodasbasesprogramáticasdo movi-
mento comunista,apoiando-senas idéias de Morgan, sustentousua tesede que a
famflia monogâmicateria sido a primeira famflia fundadanão mais com baseem
condiçõesnaturais,massociais,jáqueamonogamiaparaelenãoseriaumadecorrência
doamorsexuale,sim,dotriunfodapropriedadeindividualsobreo primitivo comunis-
mo espontâneo.A monogamiaé visualizadasoba óticado materialismohistórico
nãocomo umaforma maisevoluídadeestruturafamiliar.porémcomo a suieicãode
54 . ,*u*"on soso^,o
um sexoao outro a serviçodo podereconômico.Como a inclinaçãonaturaldo ho-
mem seriaa liberdadede intercâmbiosexual,a monogamiateria sido responsável
pelo incrementodaprostituiçãoepelafalênciadessesistemafamiliar nosdiasatuais.
Sobreas relaçõesde parentesco,podemosconsiderá-lassob duas apresenta-
ções:a consangüinidadeem linha direta,que ocoÍTeentre pessoasque sejamuma
descendentediretada outra,e a consangüinidadeem linha colateral,que sedá entre
pessoasquedescendemdeantepassadoscomuns,masnãodescendemuma daoutra.
Enquantoessasrelaçõesdeparentescoseriamasdeterminadaspelanatureza,aquelas
baseadasno casamentoseriamasestabelecidaspeÌasconvençõessociais.Marido e
mulher sãoparentesem funçãodo contratosocialqueos uniu.
As relaçõesde parentescotidas como primárias ou fundantesdas estruturas
familiaresseriamasseguintes:maridoe mulher,paise filhos,e irmãos.
Lévi-Strauss,antropólogocontemporâneoformadonaescolasociológicafrance-
sa,aplicoua perspectivaestruturalistaà antropologia,descrevendoo quechama"as
estÍuturaselementaresdo parentesco".Partindoda noçãode que a estruturaé um
sistemadeleisqueregeastransformaçõespossíveisnum dadoconjunto,LévlStrauss
procurou estabeÌeceras relaçõesconstantesna estruturafamiliar que determinam
nãosósuaaparênciafenomênicaem determinadoinstantehistórico,comosuaspos-
síveismodificaçõesao longodostempos.
Tomandocomopontodepartidaateoriada"troca ritual dodom" deMauss(um
de seusmestresna escolasociológicafrancesaacimamencionada)e bebendonas
fontesda psicanálisee da lingüística,ramosdo conhecimentoapenasemergentesna
épocade seusprimeiros estudos,Lévi-Straussprocuroudeterminarque elementos
subjazemaos padrõesrelacionaisque configuram a família desdesuasfundações
mais arcaicas.
Cadaelementodoadoimplica a obrigaçãode suarestituiçãopelo receptor,diz-
nos a aludida teoria de Mauss.Assim, na famflia estruturalmentemais simples (e
supostamenteanterioraoconhecimentodo papeldopai nareprodução),aotio mater-
no (avunculus)catseriaa funçãode "doar" mulheresà geraçãoseguinte.Ao atribuir-
setal funçãoaotio matemoestava-sesimultaneamentecriandoa interdiçãodo inces-
to, pois a sobrinhasó poderiaserdoadapelo tio a quemnão pertencesseao círculo
endogâmico(pai,irmãos).
A proibiçãodo incestoentãoinstaladaé a regrada reciprocidadepor excelên-
cia, pois a trocarecíprocade mulheresasseguraa circulaçãocontínuadasesposase
filhas queo grupopossui.Com o tabudo incesto,afamília marcaapassagemdo fato
naturaldaconsangüinidadeaofato cultural daafinidadee a relaçãoawncular é, por
assimdizer,o elementoaxial a partir do qual sedesenvolverátodaa estruhrrasocial
do parentesco.
O tabudo incestoe a exogamiaquelhe é conseqüenteestariam,segundoLévi-
Strauss,nasraízesda sociedadehumana.A exogamia,ou seja,o casamentofora do
grupofamiliar primordial,funda-sena"troca", queé a basedetodasasmodalidades
dainstituiçãomatrimonial.O laçodeafinidadecomumafamília diferenteassegurao
domíniodo socialsobreo biológico,docultural sobreo natural(por issoa afirmação
deLévi-Straussdequecom o tabudo incestoafamília marcaa passagemdanatureza
à cultura).
A exogamia,comoa linguagem,teriaa mesmafunçãofundamental:a comuni-
caçãocom os outros.E dessacomunicaçãoa possibilidadede que surjaum novo
nível de integraçãono relacionamentohumano.A partir dessepropósito, é que a
exogamiadáorigem à instituiçãomatrimonial.
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  • 2. DAVID E. ZIMER]VIAN LUIZ CARLOSOSORiO H COLABORAI)ORES COMO TRABALHAMOSCOM GRUPOS PORTOALEGRE,I997 õs-?, -ã-
  • 3. Sumário Pref4nin Clqudio M. Martins PrÁìnon Davìd E. Zímerman PARTE1- REVISÃO GERAL SOBR-EGRUPOS I Fundamentosteóricos ........................23 David E. Zimerman 2 Fundamentostécnicos.......... ...............33 Dqvid E. Zimerman 3 Atributosdesejáveisparaum coordenadordegrupo..............................41 David E. Zímemun 4 A famíliacomogrupoprimordial.................. ...............49 LuizCarLosOsorío 5 Gruposespontâneos:asturmâseganguesdeadolescentes....................59 David E. Zímerman ó Processosobstrutivosnossistemassociais,nosgrupose nasinstituições. .........69 LuízCarlosOsorío 7 Classificaçãogerâldosgrupos............... .......................75 David E. Zimerman 8 Comosupervisionamosemgrupoterapia ......................83 LuizCarlosOsorio PARTE2 - PRÁTICA COM GRUPOSOPERATIVOSE PSICOTER(PICOS 9 Comoagemosgruposoperativos?...................... .........95 JaníceB. Fiscmann l0 Gruposcomunitários..... ....................l0l Salv,adorCelia
  • 4. 11 Gruposdeauto-ajuda.... ....................107 CarlosA.S.M.de Barros 12 Comoagemosgruposterapêuticos?.................. ........119 David E. Zìmennan 13 Grupoterapiapsicânalítica ................12 Davìd E. Zimernnn L4 Psicanálisecompartilhada:atualização........ ...............143 Gerqrdo Steín 15 Grupoterapiadasconfiguraçõesvinculares ................15 WaldemarJoséFernandes 16 Laboratórioterapêutico......... ............161 FrancíscoBapÍistaNeto 17 Psicodrama. .............16 NedíoSeminotti PARTE3. PRÁTICACOM GRUPOSESPECIAIS 18 Grupoterapiacompacientessomáticos:25 anosdeexperiência..........185 Júlio de Mello Filho 19 Gruposcomportadoresdetranstomosalimentares.............................. RubénZukerfeld 20 Grupoterapiaparaalcoolistas. ...........219 Sérgio de Paula Ramos 2l Gruposcomdrogadictos ...................2 SílvíaBrasiliqno 22 Grupocomdeprimidos .....................2 Gilberto Brofman 23 Gruposcomautistas...... ..............,.....2 SoniMariq dosSantosLewis VivianeCostade Leon 24 Psicoterapiacompacientesintemadoseegressos...,.......................... JoséOnildo B. Contel PARTE4. PRT(TICACOM GRTJPOSNA ÁREÁ DE FAMÍLIA 25Ocasal:umaentidadepsicanalítica......... ...................28 Janine Puseí xvlIl
  • 5. 26A famíliacomogrupoe o gnÌpocomofamíIia.....................................293 .lí. Cristitú Ravazzolct SusanaBarilari GastórtMazieres Gruposcomgestantes .......................305 Geraldiv RantosViçosa Gruposcomcrianças............. ............311 RuthBlay Levislq .....321 LuizCarlosOsorio Gruposcomidosos................................................... Guite L Zimerman PARTE5 - PRÂTICA COM GRUPOSNA AREA DO ENSINOE DA APRENDIZAGEM 27 28 t0 30 ............331 LuizCarlosllLafontCoronel 32 Gruposdeeducaçãomédicâ... David E. Zímerman 33 O trabalhocomgnìposnaescoIa........... .....................359 JoséOuoniOuteiral J4 Gruposdeorientaçãoprofissionalcomalunosadolescentes................373 Aidê Knijník Wainberg PARTE6 - PRÁTICA COM GRUPOSNA ÁREA INSTITUCIONAL 35 Terapiainstitucional.............. ............389 Luiz Cqrlos Osorio 36 Formaçãodelíderes:o grupoé o fórumadequado...............................399 Mauro Nogueírade Olíveíra 37Atendimentoagruposeminstituições.. ......................405 Neidí MargarethSchneider 38 Laboratório:exercíciodaautoridade,modeloTavistok.......................413 Neidí Margareth Schneíder Luiz Carlos Osorío Mauro Nogueira de Olìveira Mônica GuazellíEstrougo Epílogo............ .............421 LuizCarlosOsorio
  • 7. FundamentosTeóricos DAVIDE,ZIMERMAN Coerentecomaproposiçãogeraldestelivro,queéademanterumasimplificaçãode naturezadidáticadosassuntospertinentesaosgrupos,opresentecapítulovaiabordar unicamentealgunsaspectosquefundamentama teoria- tendo-seem vistaa sua aplicabilidadeprática-, sema menorpretensãode esgotarou de explorartodaa complexidadedeumaprofundamentoteóricoqueadinâmicadegrupopermite,pro- piciaemerece. Inicialmente,a fim desituaro leitorqueaindanãoestejamuitofamiliarizado coma áreadegrupos,mencionaremosefaremosumabrevereferênciaa algunsdos autoresmaiscitadosnaliteraturaequemaiscontribuíramparaodesenvolvimentodo movimentogrupalista.A seguir,seráfeitaumanecessáriarevisãoacercadaconce! tuaçãodegrupoe,porúltimo,umaabordagemdosaspectospsicológicoscontidosna dinâmicadocampogrupal. ALGUNS AUTORES IMPORTANTES J. Pratt. Asgrupoterapiasestãocomemorandoo seuprimeirocentenríriodeexistên- cia.Issosedeveaofatodequeainauguraçãodorecursogrupoteriípicocomeçoucom estetisiologistaamericanoque,apartirde1905,emumaenfermariacommaisde50 pacientestuberculosos,criou,intüitivamente,o métodode "classescoletivas",as quaisconsistiamemumaaulaprévia,ministradaporPratt,sobreahigienee ospro- blemasdatuberculose,seguidadeperguntasdospacientese dasualivre discussão comomédico.Nessasreuniões,criava-seumclimadeemulação,sendoqueospacien- tesmaisinteressadosnasatividadescoletivase naaplicaçãodasmedidashigieno- dietéticaserampremiadoscomo privilégiodeocuparasprimeirasfilasda salade aula. Essemétodo,quemostrouexcelentesresultadosnaaceleraçãodarecuperação físicadosdoentes,estábaseadona identificaçãodessescomo médico,compondo umaestruturafamiliar-fratemaleexercendooquehojechamamos"funçãocontinen- te"dogrupo.Pode-sedizerqueessaseconstituinaprimeiraexperiênciagmpoterápica registradana literaturaespecializadae que,emboratenhasidorealizadaembases empíricas,serviucomomodeloparaoutrasorganizaçõessimilares,como,porexem- plo,adaprestigiosa"AlcoólicosAnônimos",iniciadaem1935equeaindaseman- témcomumapopularidadecrescente.Damesmaforma,sentimosumaemoçãofasci- nantequesentimosaopercebermosquenaatualidadeaessênciadovelhométodode
  • 8. 24 . ZMERìaAN&osoRlo Pratt estásendorevitalizadae bastanteaplicadajustamenteonde ela começou,ou seja,no campo da medicina,sob a forma de gruposhomogêneosde auto-ajuda,e coordenadapor médicos(ou pessoaldo corpodeenfermagem)não-psiquiatras. Freud. Emboranuncatenhatrabalhadodiretamentecom grupoterapias,Freud trouxevaliosascontribuiçõesespecíficasà psicologiadosgruposhumanostantoim- plícita (petosensinamentoscontidosem toda a suaobra) como também explicita- mente,atravésde seus5 conhecidostrabalhos:As perspectivasfuturas da terapêu- tica psicanalítica (1910),Totetne tabu (1913),Psicologiadas massase aruilisedo ego(1921),Ofuturo de uma ilusdo (1927)e Mal-estar na civilização (1930). Jáno trabalhode 1910,Freudrevelaumadesuasgeniaisprevisõesaoconceber que"... o êxito que1 terapiapassaa ter no indivíduo haverádeobtêla nacoletivida- de". Em Toteme tabu, aÍravésdo mito da hordaselvagem,ele nos mostraque,por intermédiodoinconsciente,a humanidadetransmiteassuasleissociais,assimcomo estasproduzema cultura.No entanto,o seutrabalhode 1921ê consideradocomo particularmenteo mais importanteparao entendimentoda psicodinâmicados gru- pos,eneleFreudtrazasseguintescontribuiçõesteóricas:umarevisãosobreapsicolo- giadasmultidões;osgrandesgruposartificiais(igrejae exército);osprocessosiden- tificatórios(projetivoseintrojetivos)quevinculamaspessoaseosgrupos;aslideranças e asforçasqueinfluem nacoesãoe nadesagregaçãodosgrupos.Nessemesmotraba- lho, Freud pronunciaa suaclássicaâfirmativa de que "a psicologia individual e a socialnão diferem em suaessência",bemcomo apontaparaasforçascoesivase as disruptivasquejuntam e separamos indivíduosdeum grupo.Estaúltima situaçãoé ilustradapor Freud com uma metáforaque ele tomou emprestadado filósofo Schopenaueqa qual aludeà idéia de uma manadade porcosespinhos,no invemo, procura sejuntar em um recíprocoaconchegoaquecedor;no entanto,a excessiva aproximaçãoprovocaferimentosadvindosdosespinhose forçauma separàção,num contínuoe interminávelvaivém. J. Moreno. Em 1930,estemédico romenointroduziu a expressão"terapia de grupo".O amordeMorenopeloteatro,desdeasuainfância,propiciouautrlizaçãoda importantetécnicagrupaldopsicodrama,bastantedifundidoepraticadonaatualidade. K, Lewin. A vertentesociológicado movimentogrupalistaé fortementeinspi- radaem KuÍ Lewin, criadordaexpressão"dinâmicadegrupo", com aqual elesubs- tituiu o conceitode "classe"pelo de "campo". Desde 1936,sãorelevantesos seus estudossobrea estruturapsicológicadasmaioriase dasminorias,especialmenteas judaicas.Da mesmaformasãoimportantesassuasconcepçõessobreo "campogrupal" e a formaçãodospapéis,porquantoele postulavaquequalquerindivíduo, por mais ignoradoqueseja,fazpartedo contextodo seugruposocial,o influenciae é por este fortementeinfluenciadoe modelado. S,H.Foulkes. Este psicanalistabritânico inauguroua prática da psicoterapia psicanalíticadegrupo a partir de 1948,em Londres,com um enfoquegestáltico,ou seja,paraeleum gruposeorganizacomouma novaentidade,diferenteda somados indivíduos,e, por essarazão,asinterpretaçõesdo grupoterapeutadeveriamsersem- predirigidasàtotalidadegrupal.FoulkesintroduziuumasériedeconceitoseposnÌlados que serviramcomo principal referencialde aprendizagema sucessivasgeraçõesde grupoterapeutas,sendoconsideradoo lídermundialdapsicoterapiaanalíticadegru- DO.
  • 9. COMOIRABAL}IAMOsCOMARUPOS . 25 Pichon Rivière. Trata-sede um psicanalistaargentinoaltamenteconceituado, tendo se tornadoo grandenome na áreados gruposoperativos,com contribuições originais,mundialmenteaceitase praticadas.Esteautor,partindodo seu"esquema conceitual-referencial-operativo"(ECRO),aprofundouo estudodos fenômenosque surgemnocampodosgruposequeseinstituemparaa finalidadenãodeterapia,mas, sim, a de operarnumadeterminadatarefaobjetiva,como,por exemplo,a de ensino- aprendizagem.A partir daspostulaçõesde PichonRivière, abriu-seum vasto leque de aplicaçõesde gruposoper'Ìtivos,asquais,com algumasvariaçõestécnicas,são conhecidaspor múltiplase diferentesdenominações. W.R.Bion.Duranteadécada40,esteeminentepsicanalistadasociedadebritânica depsicanálise- fortementeinfluenciadopelasidéiasdeM. Klein,comquemseana- lisavanaépoca-, partindodesuasexperiênciascomgruposrealizadasemum hospi- tal militar durantea SegundaGuerraMundial, e na Tavistock Clinic, de Londres, criou e difundiu conceitostotalmenteoriginaisacercadadinâmicado campogrupal. Entreassuascontribuiçõesvaledestacara suaconcepçãodequequalquergru- po semovimentaem doisplanos:o primeiro,queeÌedenomina"grupodetrabalho", operano planodo conscientee estávoltadoparaa execuçãodealgumatarefa;subja- centea esseexisteem estadolâtente,o "grupo depressupostosbásicos",o qual está radicadonoinconscientee suasmanifestaçõesclínicascorrespondemaum primitivo atavismodepulsõese defantasiasinconscientes.Bion formulou trêstipos de supos- tosbásicos:o dedependência(exigeum lídercarismáticoqueinspirea promessade proverasnecessidadesexistenciaisbásicas),o de/ata efuqa (denafireza,paranóide, requeruma liderançadenaturezatirânicaparaenfrentaro supostoinimigo ameaça- dor) e o de apareaìnento(tambémconhecidocomo "acasalamento",aludeà forma- çãodeparesno grupoquepodemseacasalare gerarum messiassalvador;portanto, é um supostoinconscienteque,para se manter,exige um líder que tenhaalgumas característicasmísticas).Além disso,Bion contribuiu bastanteparao entendimento darelaçãoqueum indivíduoportadordeidéiasnovas(queelechamade"místico" ou "gênio") travacom o establishnlentno qualeleestáinserido.EstaúÌtima concepção tem sereveladode imprescindívelimportânciaparaa compreensãodos problemas quecercamasinstituições. PelaimportânciaqueBion representaparao movimentogrupalista,vale a pena mencionaralgunsdosaspectosqueelepostulou: . O grupoprecedeaoindivíduo, istoé, asorigensdaformaçãoespontâneade gru- postêm suasraízesno grupoprimordial,tipo ahordaselvagem,tal comoFreuda menclonou. . Os supostosbásicosantesaludidosrepresentamum atavismodo grupoprimitivo queestáinseridonamentalidadee naculturagrupal. . A culturagrupalconsistenapermanenteinteraçãoentreo indivíduo e o seugru- po,ou seja,entreo narcisismoe o socialismo. . No plano tran;-subjetivo,esteatavismogrupal aparecesob a forma de mitos grupais,comosão,por exemplo,osmìtosdeEden(DeusversasConhecimento, sobameaçasdepunição);Babel(DeusversrsConhecimento,atravésdoestabele- cimentodeconfusão);Esfinge(temo Conhecimento,porémlutapelonão-conhe- cimento,tal como aparecena clássicasentença"decifra-meou te devoro",ou, "medevoro(suicídio)semedecifrares");Edipo(castigadopelacuriosidadeano- santee desafiadora).
  • 10. 2ó . zlltERrlÂN& osoRlo . Organizâçãodacultura,atravésda instituiçãode normas,Ìeis,dogmas,conven- çõese um código de valoresmoraise éticos. . O modeloqueBion propôsparaa relaçãoqueo indivíduotemcom o grupoé o da relaçãocontinente-conteúdo,a qual compoÍa trêstipos:parasitiírio,comensale simbiótico. . A relaçãoql'l.eo establÌshmeÌrÍmantémcom o indivíduo místico, sentidocomo um ameçadorportadordeidéiasnovas,adquireumadessasformas:simplesmen- te o expulsam,ouignoram,oudesqualificam,ouco-optamatravésdaatribuição de funçõesadministrativas,ou ainda,decorrido algum tempo, adotamas suas idéias,porémdivulgam-nascomo seelastivessempartidodos pró-homensda cúpuladiretiva. . A estruturaçãodequalquerindivíduo requera suaparticipaçãoem grupo. EscolaFrancesa.Na décadade60,começama surgirostrabalhossobreadinâ- micadosgruposcomum novoenfoque,a partirdostrabalhosdospsicanalistasfran- cesesD. Anzieue R. Kàes,osquais,retomandoalgunsdospostuladosoriginaisde Freud, propõem o importanteconceitode "aparelhopsíquico grupal", o qual está dotadodasmesmasinstânciasqueo psiquismoinconscienteindividl:al,masnãodos mesmosprincípiosdefuncionamento.Comasconcepçõesteóricasdessesdoisauto- res,o edifício que abrigaas grupoterapiascomeçaa adquirir alicercesreferenciais específicose representaumatentativano sentidodeasgrupoterapiasadquiriremuma identidadeprópria. EscolaArgentina. OsnomesdospsicanalistasargentinosL. Grinberg,M. Langer e E. Rodriguéjá sãobastanteconhecidos,porquantoo seu livro Psicoterapiadel grupo tornou-seumaespéciedebíblia paraalgumasgeraçõesdegrupoterapeutasem formação.Na atualidade,é necessáriodestacar:GeraldoStein,com assuasconcep- çõesoriginaisa respeitodo que ele denomina"psicanálisecompartida";Rubén Zuckerfeld,com assuasimportantescontribuiçõesnautilizaçãodetécnicasgrupais no atendimentoa pacientesportadoresde transtornosde alimentação;e grupo de autoresargentinos- no qual, entreoutros,pontifica o nome de JaninePuget- que vêmestudandoe divulgandoa modema" psicanálisedasconfiguraçõesvinculares", notadamentecom casais,famíliase grupos. Brasil. No Brasil,a psicoterapiadegrupode inspiraçãopsicanalíticateveco- meçocomAlcion B. Bahia;outrosnomesimportantesepioneirossãoosdeWalderedo Ismaelde Oliveirae WemerKemper,no Rio deJaneiro;BernardoBlay Neto,Luis Miller de Paivae OscarRezendede Lima, em SãoPaulo,e Cyro Martins,David Zimmermann e Paulo Guedes,em Porto Alegre. Na atualidade,há no Brasil uma sériedepessoas,emdiversase múltiplasáreas,trabalhandoativamenteem buscade novoscaminhose deumaassistênciamaisamplae abrangentecom a aplicaçãodos recursosda dinâmicagrupal. coNcErTUAçAODEGRUPO O ser humanoé gregáriopor nâturezae so.Ienteexiste,ou subsiste,em função de seusinter-relacionamentosgrupais.Sempre,desdeo nascimento,o indivíduopartici- pa de diferentesgÍupos,numaconstantedialéticaentrea buscade suaidentidade individuale a necessidadedeumaidentidadesruDâle social.
  • 11. COMOI'RÂBALHAMOSCOMORUPO5 ' 27 Um conjuntode pessoasconstituium grupo, um conjuntode gruposconstitui uma comunidadee um conjuntointerativodascomunidadesconfigurauma socieda- de. A importânciado conhecimentoe autilizaçãodapsicologiagmpal decorrejus- tamentedo fato de que todo indivíduo passaa maior parte do tempo de sua vida convivendoe interagindocom distintosgrupos.Assim,desdeo primeiro gruponatu- ral que existeem todasasculturas- a família nuclear,ondeo bebêconvive com os pais,avós,irmãos,babá,etc.,e, a seguir,passandopor creches,escolasmaternaise bancosescolares,alémdeinúmerosgruposdeformaçãoespontâneae oscostumeiros cursinhosparalelos-, acriançaestabelecevínculosdiversificados.Taisgrupamentos vão serenovandoe ampliandonavida adulta,com a constituiçãodenovasfamíliase de gruposassociativos,profissionais,esportivos,sociais,etc. A essênciade todo e qualquerindivíduo consisteno fato dele serportadorde um conjuntode sistemas:desejos,identificações,valores,capacidades,mecanismos defensivose, sobretudo,necessidadesbásicas,como a da dependênciae a de ser reconhecidopelosoutros,com os quaisele é compelidoa conviver.Assim, como o mundointerior e o exteriorsãoa continuidadeum do outro,damesmaforma o indi- vidual e o social não existem separadamente,pelo contrário, eles se diluem, interpenetram,complementame confundementresi. Com basenessaspremissas,é legítimo afirmar que todo indívíduoé um grupo (na medidaem que,no seumundo interno,um grupo de personagensintrojetados, comoospais,irmãos,etc.,convivee interageentresi),damesmamaneiracomotodo grupo pode comportar-secomouma individualidade(inclusivepodendoadquirir a uniformidadedeuma caracterologiaespecíficae típica,o quenos levamuitasvezes a referir determinadogrupocomo sendo"um grupoobsessivo",ou "atuadoÍ", etc.). É muito vaga e imprecisaa definição do termo "grupo", porquantoele pode designarconceituaçõesmuito dispersasnum amplolequede acepções.Assim, a pa- lavra "grupo" tantodefine,concretamente,um conjuntodetrêspessoas(paramuitos autores,umarelaçãobipessoaljáconfiguraumgrupo)comotambémpodeconceihrar umafamflia, uma turmaou ganguedeformaçãoespontânea;umacomposiçãoartifi- cial de grupos como, por exemplo, o de uma classede aula ou a de um grupo terapêutico;uma fila de ônibus;um auditório;umatorcidanum estádio;uma multi- dão reunidanum comício, etc. Da mesmaforma, a conceituaçãode grupo pode se estenderatéo nível deuma abstração,como seriao casodeum conjuntodepessoas que,compondouma'audiência,estejasintonizadonum mesmoprogramade televi- são;ou pode abrangeruma nação,unificadano simbolismode um hino ou de uma bandeira,e assimpor diante. Existem,portanto,gruposde todosos tipos, e uma primeira subdivisãoque se faz necessáriaé a que diferenciaos grandesgrupos(pertencemà iíreada macro- sociologia)dos pequenosgrupos(micropsicologia).No entanto,vale adiantarque, em linhasgerais,osmicrogrupos- comoé o casodeum grupoterapêutico- costu- mam reproduzir,em miniatura,ascaracterísticassócio-econômico-políticase adinâ- mica psicológicados grandesgrupos. Em relaçãoaosmicrogrupostambémseimpõe uma necessáriadistinçãoentre grupo propriamenÍedito e agrupamento.Por "agrupamento"entendemosum con- junto depessoasqueconvivepartilhandodeum mesmoespaçoe queguardamentre si uma certavalênciade inter-relacionamentoe uma potencialidadeem virem a se constituir como um grupopropriamentedito. Podeservir de exemploa situaçãode uma "serialidade"depessoas,comono casodeumafila àesperadeum ônibus:essas pessoascompartemum mesmointeresse,apesardenãoestarhavendoo menorvíncu-
  • 12. 28 . ZMERMAN&(xoRlo lo emocionalentreelas,atéqueum determinadoincidentepodemodificartodaa configuraçãogrupal.Umoutroexemploseriaasituaçãodeumasériedepessoasque estãoseencaminhandoparaumcongressocientífico:elasestãopróximas,mascomo nãoseconheceme nãoestãointeragindoelasnãoformammaisdoqueumagrupa- mento,atéqueumpoucomaisadiantepodemparticipardeumamesmasaladedis- cussãoclínicaeseconstituíremcomouminterativogrupodetrabalho.Pode-sedizer quea passagemdacondiçãodeum agrupamentoparaa de um gnrpoconsistena transformaçãode"interessescomuns"paraade"interessesemcomum". O que,então,caracterizaum grupopropriamentedito?Quandoo grupo,quer sejadenaturezaoperativaou terapêutica,preencheasseguintescondiçõesbásicas mínimas,estácaracterizado: . Um gruponãoéummerosomatóriodeindivíduos;pelocontrário,eleseconsti- tui comonovaentidade,comleise mecanismosprópfiose específicos. . Todososintegrantesdogrupoestãoreunidos,faceaface,emtomodeumatarefa edeumobjetivocomunsaointeressedeles. . O tamanhodeumgruponãopodeexcedero limitequeponhaemriscoa indis- pensávelpreservaçãodacomunicação,tantoavisualcomoaauditivaeaconceitual. . Devehaverainstituiçãodeumenquadre(seÍing)eocumprirnentodascombina- çõesnelefeitas.Assim,alémdeterosobjetivosclaramentedefinidos,o grupo develevaremcontaapreservaçãodeespaço(osdiase o localdasreuniões),de tempo(horiários,tempodeduraçãodasreuniões,planodeférias,etc.),eacombi- naçãodealgumasregrase outrasvariáveisquedelimiteme normatizema ativi- dadegrupalproposta. . O grupoéumaunidadequesecomportacomoumatotalidade,e vice-versa,de modoque,tãoimportantequantoo fatode eleseorganizara serviçode seus membros,é tambéma recíprocadisso-Cabeumaanalogiacoma relaçãoque existeentreaspeçasseparadasdeumquebra-cabeçase destecomo todoa ser arÍnado. . Apesardeumgruposeconstituircomoumanovaentidade,comumaidentidade grupalprópriaegenuína,étambémindispensávelquefiquemclaramentepreser- vadas,separadamente,asidentidadesespecíficasdecadaurndosindivíduoscom- ponentesdogrupo. . EmtodogrupocoexistemduasforçascontraditóriaspeÍmanentementeemjogo: umatendenteàsuacoesão,e aoutra,àsuadesintegração. . A dinâmicagrupaldequalquergruposeprocessaemdoisplanos,tal comonos ensinouBion:um é o da intencionalidadeconsciente(grupode trabalho),e o outroéo dainterferênciadefatoresinconscientes(grupodesupostosbásicos).É claroque,naprática,essesdoisplanosnãosãorigidamenteestanques,pelocontrá- rio,costumahaverumaceÍa flutuaçãoesuperposiçãoentreeles. . É inerenteàconceituaçãodegrupoaexistênciaentreosseusmembrosdealguma formadeinteraçãoafetiva,aqualcostumaassumirasmaisvariadase múltiplas formas. Nosgmpossemprevaiexistirumahierárquicadistribuiçãodeposiçõesedepa- péis,dedistintasmodalidades. É inevitávelaformaçãodeumcampogrupaldinâmico,emquegravitamfantasi- as,ansiedades,rnecanismosdefensivos,funções,fenômenosresistenciaisetrans- ferenciais,etc.,alémdealgunsoutrosfenômenosquesãopróprioseespecíficos dosgrupos,talcomopretendemosdesenvolvernotópicoquesegue.
  • 13. coMo TRÂaALHAIVÍOScoM CRUPOS . 29 O CAMPO GRUPAL Como mencionadoanteriormente,em qualquergrupoconstituídosefonna um cam- po grupaldinâmico,o qual secomportacomoumaestruturaquevai alémda somade seuscomponentes,da mesmaforma como uma melodia resultanão da somadas notasmusicais,mas,sìm,dacombinaçãoe do arranjoentreelas. Essecampoé compostopor múltiplos fenômenose elementosdo psiquismoe, comotrata-sedeumaestrutura,resultaquetodosesteselementos,tantoosintracomo osinter-subjetivos,estãoarticuladosentresi, detal modoquea alteraçãodecadaum delesvai repercutirsobreos demais,em uma constanteinteraçãoentre todos. Por outrolado,o campogrupalrepresentaum enormepotencialenergéticopsíquico,tudo dependendodo vetor resultantedo embateentreasforçascoesivase asdisruptivas. Tambémé útil realçarque,emboraressalvandoasóbviasdiferenças,em suaessên- cia, asleis da dinâmicapsicológicasãoasmesmasem todosos grupos. Como um esquemasimplificado,valedestacaros seguintesaspectosque estão alivamentepresentesnocampogrupal: . Uma permanenteinteraçãooscilatóriaentreo grupode trabalhoe o de supostos básicos,antesdefinidos. . Umapresençapermanente,manifesta,disfarçadao oculta,depulsões-libidinais, agressivasenarcisísticas- quesemanifestamsobaformadenecessidades,dese- jos, demandas,inveja e seusderivados,ideais,etc. . Da mesmafoma, no campogrupal ctrcúam ansiedades- asquaispodemserde naturezapersecutória,depressiva,confusional, aniquilamento,engolfamento, perdadeamorou a decastração- queresultamtantodosconflitos intemoscomo podem emergir em função das inevitáveis,e necessárias,frustraçõesimpostas pelarealidadeexterna. . Por conseguinte,paracontrarrestara essasansiedades,cadaum do grupo e esse comoum todomobilizammecanismosdefensivos,quetantopodemserosmuito primitivos (negaçãoe controle onipotente,dissociação,projeção, idealizaçío, defesasmaníacas,etc.) como tambémcirculam defesasmais elaboradas,a re- pressão,deslocamento,isolamento,formaçãoreativa,etc.Um tipo dedefesaque devemerecerumaatençãoespecialporpartedocoordenadordogrupoé a quediz respeitoàsdiversasformasdenegaçãodecertasverdadespenosas. . Em particular,paraaquelesquecoordenamgrupoterapiaspsicanalíticas,é neces- sárioressaltarqueapsicanálisecontemporâneaalargoua concepçãodaestrutura damente,emrelaçãoàtradicionalfórmulasimplistadoconflito psíquicocentrado no embateentreaspulsõesdold versasasdefesasdoegoe aprolÏsiçáodosuperego- Na ahralidade,os psicanalistasaplicamna práticaclínica os conceitosde: ego anxiliar (ê uma parte do superegoresultanteda introjeção,sem conflitos, dos necessáriosvaloresnormativose delimitadoresdospais);ego recl (conesponde aoqueo sujeitoreolmenteé emcontraposiçãoaoqueeleimaginaser);egoideal (herdeirodireto do narcisismo,correspondea uma perfeiçãode valoresque o sujeitoimaginapossuir,porém,defato,o sujeitonãoospossuie nemtem possi- bilidadesfuturasparatal, masbaseiaa suavida nessacrença,o que o leva a um constanteconflito com a realidadeexterior); ideal do ego (o sujeitofica prisio- leiro dasexpectativasideaisque os paisprimitivos inculcaramnele); alÍer-ego (é uma partedo sujeitoqueestáprojetadaem uma outrapessoae que,portanto. representaseÍum "duplo" seu);contrã-ego( é uma denominaçãoqueeu propo- nho paradesignarosaspectosque,desdedentrodo sefdo sujeito,organizam-se
  • 14. 30 . znasru.aeNaosor.ro deformapatológica,e agemcontraascapacidadesdo próprioego.Comofica evidente,asituaçãopsicanalíticaâpaÍir destesreferenciaisdaestruhrradamen- te ganhouemcomplexidade,porémcomissotambémganhouumariquezade horizontesdeabordagemclínica,sendoqueagrupoterapiapsicanalíticapropicia o surgimentodosaspectosantesreferidos. Umoutroaspectodepresençaimportantenocampogmpaléo surgimentodeum jogoativodeidentirtcações,tantoasprojetivascomoasintrojetivas,ouatémes- moasadesivas.O problemadasidentificaçõesavultadeimportâncianamedida emqueelasseconstituemcomoo elementoformadordosensodeidenúdade. A comunicação,niassuasmúltiplasformasdeapresentação- asverbaiseasnão- verbais-, representaumaspectodeespecialimportâncianadinâmicadocampo grupal. Igualmente,odesempenhodepapáis,emespecialosqueadquiremumacaracte- ística derepetiçãoestereotipada- como,porexemplo,o debodeexpiatório-, é umaexcelentefontedeobservaçãoemanejoporpartedocoordenadordogrupo. Cadavezmaisestásendovalorizadaa formacomoos vínculos(deamor,ódio, conhecimentoe reconhecimento),nocampogrupal,manifestam-see articulam entresi, querno planointrapessoal,no interpessoalou aténotranspessoal.Da mesmamaneira,háumafortetendênciaemtrabalharcomasconfiguraçõesvin- cularcs,tal comoelasaparecemnoscasais,famílias,grupose instituições. No campogrupal,costumaaparecerum fenômenoespecíficoe típico:a resso- nâncìa,qu.e,comoo seunomesugere,consistenofatodeque,comoumjogode diapasõesacústicosoudebilhar,acomunicaçãotrazidaporummembrodogru- po vai ressoaremum outro;o qual,por suavez,vai transmitirum significado afetivoequivalente,aindaque,Fovavelmente,venhaembutidonumanaÍrativa deembalagembemdiferente,eassimpordiante.Pode-sedizerqueessefenôme- noequivaleaoda"livreassociaçãodeidéias"queacontecenassituaçõesindivi- duaiseque,porissomesmo,exigeumaatençãoespecialporpartedocoordena- dordogrupo. O campogrupalseconstituicomoumagaleriadeespelftos,ondecadaumpode refletir e serrefletidonos,epelos outros.Particularmentenosgrupospsicotera- pêuticos,essaoportunidadedeencontrodosefde umindivíduocomo deoutros configuraumapossibilidadedediscriminar,afirmareconsolidaraprópriaidenti- dade. Um grupocoesoebemconstituído,porsi só,tomadonosentidodeumaabstra- ção,exerceumaimportantíssimafunção,qualseja,a deserum continentedas angrístiase necessidadesdecadaum e detodos-Issoadquireumaimportância especialquandosetratadeumgrupocompostoporpessoasbastanteregressivas. Apesardetodososavançosteóricos,como incrementodenovascorentesdo pensamentogrupalístico-ê ateoriasistêmicaéumexemplodisso-,aindanãose podeproclamarqueaciênciadadinâmicadocampogrupaljá tenhaencontrado plenamentea suaautênticaidentidade,assuasleise referenciaisprópriose ex- clusivos,porquantoelacontinuamuitopresaaosconceitosquetomouempresta- dodapsicanáliseindividual. Creioserlegítimoconjecturarque,indoalémdosfatos,dasfantasiasedosconfli- tos,quepodemserpercebidossensorialeracionalmente,tambémexistenocam- po grup;l muitosaipectosqueperÍnanecemocultos,enigmáticose secretos.À modadeumaconjecturaimaginativa,cabeousardizerquetambémexistealgo cercadodealgummistério,queanossa"vãpsicologiaaindanãoexplica",masque muitasvezessemanifestapormelhorasinexplicáveis,ououtrascoisasdogênero.
  • 15. COMOI'RABÂLHAMOSCOMGRUPOS . 31 . Da mesmaforma como, em termosde micropsicologia,foi enfatizadaa relação do indivíduo com os diversosgruposcom os quais ele convive, é igualmente relevantedestacar,em termosmacroscópicos,a relaçãodo sujeitocom a cultura naqual eleestáinserido.Uma afirmativainicial queme pareceimportanteé a de que o fator sócio-culturalsomentealterao modode agir, masnãoa naturezado reagir.Explico melhorcomum exemplotiradodaminhapráticacomogrupotera- peuta,parailustrar o fato de que,diantedeumamesmasituação- a vida genital deumamulherjovem e solteira- foi vivenciadadeforma totalmentedistintaem duasépocasdistantesuns vinte anosuma da outra. Assim, na década60, uma jovem estudantede medicinalevou mais de um ano para "confessar"ao grupo quemantinhaumaatividadesexuaìcom o seunamorado,devidoàssuasculpase ao pânico de que sofreriaum repúdio generalizadopela sua transgressãoaos valoressociaisvigentesnaquelaépoca.Em contrapartida,em um outro grupo, em fins dadécada80,uma outramoçatambémlevou um longotempoatépoder poderpartilharcom osdemaiso seusentimentodevergonhae o temordevir aser ridicularizadae humilhadapor elespelo fato de "ainda sercabaçuda".Em resu- mo, o modo deagir foi totalmenteoposto,masa natureza(medo,vergonha,cul- pa, etc.)foi a mesma.Cabetirarmosduasconclusões:uma, é a de que costuma havero estabelecimentode um conflito entreo ego individual e o ideal de ego coletivo; a segundaconstataçãoé a dequeo discursodo Outro (paise cultura) é quedeterminao sentidoe geraa estruturada mente. . Todosos elementosteóricosdo campogrupalantesenumeradossomenteadqui- rem um sentidodeexistênciae de validadeseencontraremum ecode reciproci- dadeno exercícioda técnicae práticagrupal.Igualmente,a técnicatambémnão podeprescindirda teoria,de maneiraqueambasinterageme evoluemde forma conjugadae paralela.Pode-seafirmarqueateoriasema técnicavai resvalarpara uma práticaabstrata,com uma intelectualizaçãoacadêmica,enquantoa técnica semuma fundamentaçãoteóricacorre o risco de não ser mais do que um agir intuitivo oupassional.Poressasrazões,nocapítuloquesegue,tentaremosestabe- leceralgumasinter-Íelaçõesentreâ teoriae a técnicada práticagrupal.
  • 16. FundamentosTécnicos DAVIDE.ZIMERMAN Conquantoos fundamentosteóricose as leis da dinâmica grupal que presidemos grupos,de forma manifestaou latente.sempreestejampresentese sejamda mesma essênciaem todoseles,é inegávelqueastécnicasempregadassãomuito distintase variáveis,de acordo,sobretudo,com a finalidadeparaa qual determinadogrupo foi criado.Em outraspalavras:damesmaformacomotodososindivíduosquenosprocu- ram- pacientes,por exemplo- sãoportadoresdeuma mesmaessênciapsicológica, é óbvio que,no casodeum tratamento,paracadasujeitoem especialigualmentevai sernecessárioum planejamentode atendimentoparticular,com o empregode uma técnicaadequadaàsnecessidades,possibilidadese peculiaridadesdecadaum deles. Diante do fato de que existe um vasto polimorfismo grupalísticoe que, por conseguinte,tambémháumaextensae múltipla possibilidadedevariaçãonasestraté- gias,técnicase táticas,toma-seimpossívelpretender,em um único capítuÌo,esgotar oufazerum detalhamentominuciosodetodaselas.Poressarazão,vamosnoslimitar aenumerar,deformagenérica,osprincipaisfundamentosdatécnica,quedizemrespei to aocotidianodapráticagrupal,tentandorastreá-losdesdeo planejamentodaforma- çãodeum grupo,o seufuncionâmentoduranteo cursoevolutivo,procurandoacentu- aralgumasformasdemanejotécnicodiantedosdiferentesaspectose fenômenosque surgemno campogrupaldinâmico. Planejamento. Inicialmente,creio ser útil fazer uma discriminaçãoentre os conceitosde logística,estratégia,técnicae tritica,termosque,emboraprovindosda terminologiada áreamilitar, parecem-metambémadequadosao campoda psicolo- gia.Por logísticaentendemosum conjuntode conhecimentose equipamentose um lastrode experiênciaque servemde suportepara o planejamentode uma ação(no caso,o daformaçãodeum grupo).Estratégiadestgnaum estudodetalhadodecomo utilizar a logísticaparaatingir e alcançarum êxito operativona finalidadeplanejada (comohipótese,um grupopsicoterápicoparapacientesdeestruturaneurótica).Técnica serefereaum conjuntodeprocedimentose deregras,deaplicabilidadeprática,e que fundamentama exeqüibilidadeda operação(na hipóteseque estános servindode exempÌo,poderiasera utilizaçãode umatécnicade fundamentaçãopsicanalítica). Tótica aludeàs variadasformas de abordagemexistentes,que, de acordo com as circunstânciasda operaçãoem cursoe com o estìlopeculiarde cadacoordenador, emboraatécnicapermaneçaessencialmenteamesma(aindanonossoexemplohipoté- tico, é a possibilidadede que um grupoterapeutaprefira a interpretaçãoimediatae sistemáticano "aqui-agora-comigo"datransferência,enquantoum outro grupotera- peutai,qualmentecapaz,e deumamesmacorrentegrupanalítica,optepelatáticade
  • 17. 34 . ZMERMANsuosoRlo evitaÍoempregosistemáticoeexclusivodessaformadeinterpretar,comoumatática capazdecriarum climamaispropíciode acessibilidadeaosindivíduose ao todo grupal). Destarte,diantedaresoluçãodecriarecomporumgÍupo,devemosestâraptos a respondera algumasquestõesfundamentais,comoasseguintes:Quemvai sero coordenador?(Qualéasualogística,Qualéo seuesquemareferencial?,etc.).PaÍao quèe paraqualfrnalidadeo grupoestásendocomposto?(E um grupodeensino- aprendizagem?De auto-ajuda?De.saúdemental?Psicoterápico?Defamília?,etc.). Paraquemelesedestina?(Sãopessoasqueestãomotivadas?Coincidecomuma necessidadeporpanedeumconjuntodeindivíduosequeo grupoemplanejamento poderápreencher?Sãocrianças,adolescentes,adultos,gestantes,psicóticos,empre- siírios,alunos,etc.?).Comoelefuncionará?(Homogêneoouheterogêneo,abertoou fechado,comousemco-terapia,qualseráo enquadredonúmerodeparticipantes,o númerodereuniõessemanais,o tempodeduraçãodasmesmas,seráacompanhado ounãoporumsupervisor?,etc.).Onde,emquaiscircunstâncias,e comquaisrecur- sos?(Noconsultórioprivado?Emumainstituiçãoe,nestecaso,temoapoiodacúpu- la administrativa?Vai conseguirmantera necessáriacontinuidadede um mesmo locale doshorárioscombinadoscomo grupo?,etc.). Comoumatentativadesintetizartudoisso,valeafirmarquea primeirareco- mendaçãotécnicaparaquemvai organizarumgrupoé adequeeletenhaumaidéia bemclarado quepretendecomessegrupoe decomovai operacionalizaresseseu intentoicasocontrário,é muitoprovávelqueo seugrupopatinaránumclimade confusão,deincertezâsedemâl-entendidos. Seleçãoegrupamento.Osgrupoterapeutasnãosãounânimesquantoaoscrité- riosdeseleçãodosindivíduosparaacomposiçãodeumgrupo,queressesejaoperativo, quersejaterapêutico.Algunspreferemaceitarqualquerpessoaquemanifestarum interesseemparticipardeumdeterminadogrupo,sobaalegaçãodequeospossíveis contratemposserãoresolvidosduranteo próprioandamentodo grupo.Outros,no entanto,entreosquaisparticularmentemefilio, preferemadotarumcertorigorismo naseleção,ancoradosnosargumentosqueseguem: É muitoimpoÍanteedelicadoo problemadasindicaçõese contra-indicações. Umamotivaçãopordemaisfrágilacarretaumaaltapossibilidadedeumapartici- paçãopobreouadeumabandonoprematuro. Essetipodeabandonocausaummal-estare umasensaçãodefracassotantono indivíduoquenãoficounogrupocomotambémnocoordenadorenatotalidade do grupo;alémdisso,esteúltimovai ficar sobrecarregado,aomesmotempo, comsentimentosdeculpae.comumestadodeindignaçãoporsesentirdesrespeita- do e violentado,nãounicamentepelointrusoqueteveacessoà intimidadedos participantesefugou,mastambémcontraanegligênciadocoordenador. Um outroprejuízopossíveléo dacomposiçãodeuminadequado"grupamento" (essetermonãotemomesmosignificadode"agrupamento"ealudeaumagestalt, ouseja,aumavisãoglobalística,àformacomocadaindivíduointeragirácomos demaisnacomposiçãodeumatotalidadegrupalsingular). Alémdesses,podemaconteceroutrosincovenientes,comopossibilidadedeum permanenteestadodedesconfortocontratransferencial,assimcomotambémpo- democonercertassituaçõesconstrangedorasquando,porexemplo,muitocedo fica patenteentreaspessoascomponentesum acentuadodesnívelde cultura, inteligência,patologiapsíquica,etc.
  • 18. collo 1RÂBÂLHAMOSCOÌiÍCRUPOS o 35 Podeservircomoumaexemplificaçãomaiscompletado impoÍanteprocesso deseleção,particularmenteparaosleitoresmaisinteressadosemgrupoterapiapsica- nalítica,a exposiçãopresenteno capítuÌoespecífico,naParte2 destelivro. Enquadre (seÍrng).Umaimportanterecomendaçãodetécnicagrupalísticacon- sisteno estabelecimentodeum enquadree a necessidadedepreservaçãodo mesmo. O enquadreé conceituadocomoa somadetodososprocedimentosqueorganizam, noÍTnatizame possibilitamo funcionamentogrupaÌ.Assim,eleresultadeumacon- junçãode regras,atitudese combinações,como,por exemplo,o localdasreuniÕes. os horários,a periodicidade,o planode férias,os honorários(naeventualidadede quehajaalgumaformade pagamento,a combinaçãodesseaspectodeveficar bem claro),o númeromédiodeparticipantes,etc. Todosessesaspectosformam"asregrasdojogo",masnãoojogo propriamente dito.O.retlirrgnãosecomportacomoumasituaçãomeramentepassiva,pelocontrá- rio,eleé um importanteelementotécnicoporquerepresentaasseguintese imponan- tesfunções: . A criaçãodeum novoespaçoparareexperimentare ressignificarfortese antigas experiênciasemocionais. . Uma formadeestabelecerumanecessáriadelimitaçãode papéise de posições, dedireitose deveres,entreo queé desejávele o queé possível,etc. . Esteúltimoaspectoganharelevâncianosgruposcompacientesregressivos,como, por exemplo,os borderline,porquantoelescostumamapresentaruma "difusão de identidade"por aindanãoestaremclaramentedelimitadasasrepresentações do sefe dosobjetos;portantoé imprescindívela colocaçãodelimites,tal como o settÌng pÍopicia. . O enquadreestásobumacontínuaameaçadevir a serdesvirtuadopelaspressões oriundasdo interiordecadaum e detodos,soba formadedemandasinsaciáveis, pordistintasmanobrasdeenvolvimento,pelaaçãodealgumasformasresistenciais e transferenciais,etc.,e, por issomesmo,o enquadreexigeum manejotécnico adequado,tendoporbasea necessidadedeleserpreservadoaomáximo. . Um aspectoquemerecea atençãodo coordenadorserefereaograudeansiedade noqualo grupovai trabalhar,derraneiraa quenãohajaumaangústiaexcessiva, porémumafaltatotaldeansiedadedeveserdiscriminadado quepodeestarsen- do um conformismocom a tarefa,umaapatia. . Ainda um outroelementoinerenteaoenquadreé o quepodemosdenominar"at- mosferagrupal",a qualdependebasìcamentedaatitudeafetivaintemado coor- denador,do seuestilopessoaldetrabalhare do empregode táticasdentrodeum determinadoreferenciaÌtécnico. . Osprincipaiselementosa seremlevadosemcontanaconfiguraçãodeum J?/Íilg grupalsãoosseguintes: - E um grupohomogêneo(umamesmacategoriade patologia,ou de idade, sexo,graucultural,etc.)ou heterogêneo(comportavariaçõesno tipo e grau de doença,no casode um gÍïpo terapêutico;no tipo e nível de formaçãoe qualificaçãoprofissional,no casode um grupooperativode aprendizado. etc.)? - E um grupofechado(umavezcompostoo grupo,nãoentramaisninguém)ou aberto(semprequehouvervaga,podemseradmitidosnovosmembros)? - A combinaçãoé a deduraçãolimitada(emreláìçãoaotempoprevistoparaa existênciadogrupooudapermanêncìamáximadecadaindivíduonessesru-
  • 19. 36 . znamull,c osonro po, comocomumenteocorrenasinstituições),ou eleserádeduraçãoilimita- da (comopodeserno casodosgruposabertos)? - Quantoao númerode participantes,poderávariar desdeum pequenogmpo com trêsparticipantes- oudois,nocasodeumaterapiadecasal-, ou podese tratardo grupodenominado"numeroso",quecomportadezenasdepessoas. - Da mesmaforma, tambémabrigamuma amplagamade variações- confor- me o tipo e a finalidadedo grupo- outrosaspectosrelevantesdo enquadre grupal,comoé o casodonúmerodereuniõessemanais(oumensais),o tempo deduraçãodecadareunião,e assimpor diante. Manejo das resistências.O melhor instrumentotécnicoqueum coordenador degrupopodepossuirparaenfrentarasresistênciasquesurgemno campogrupalé o de ter uma idéiaclarada funçãoqueelasestãorepresentandoparaum determinado momentodadinâmicadeseugrupo.Assim,umaprimeiraobservaçãoqueseimpõeé a que diz respeitoà necessidadede o coordenadordiscriminar entreas resistências inconscientesque de fato são obstrutivase que visam a impedir a livre evolução exitosado grupo,e aquelasoutrasresistênciasque sãobenvindasao campo grupal, porquantoestãodandoumaclaraamostragemde comoo sefde cadaum e detodos aprendeua sedefenderna vida contrao risco de seremhumilhados,abandonados, não-entendidos,etc. Da mesmaforma,é útil queo coordenadorpossareconhecercontraquaisansi- edadesemergentesno grupoumadeterminadaresistênciaseorganiza:é ela denatu- rezaparanóide?(medoda situaçãonova,denão serreconhecidocomoum igual aos outrose denãoseraceitopor esses,do riscodevir a passarvergonhae humilhações, de vir a ser desmascarado,etc.), ou é de naturezadepressiva?(no caso de uma grupoterapiapsicanalítica,é comumsurgiro medodeenfrentâro respectivoquinhão deresponsabilidadeoudeeventuaisculpaseo medodeseconfrontarcom um mundo intemo destruídoe sempossibilidadederepamções,o temordeter que renunciarao mundodasilusões,etc.,),e assimpor diante. Nosgruposoperativosemgeral(porexemplo,um grupodeensino-prendizagem), um critério que o coordenadorpodeutilizar como sinalisadorda presençade resis- tênciasé quandosucedemexcessivosatrasose faltas,aliadosa um decréscimoda leiora dos textoscombinados,acompanhadospor uma discussãonão mais do que moma,caracterizandoum clima de apatia.Um outro sinalpreocupante,porqueinvi- sível na maioria das vezes,é quandoo grupo elegeos corredorescomo fórum de debatede sentimentos,idéiase reivindicações.Da mesmaforma, o condutorde um grupo operativodeveestaralertaparaa possibilidadede que os "supostosbásicos" estejamemergindoe interferindono cumprimentoda finalidadedatarefado "grupo de trabalho". Nestesúltimos casos,é recomendávelque o coordenadorda tarefa operativasolicite ao grupo que façam uma pausana sua tarefa a fim de poderem entendero queestásepassando. Ainda emrelaçãoàsresistências,maisduasobservaçõessãonecessáriaseambas dizem respeitoà pessoado coordenador,qualquerque sejaa naturezado grupo que eleestáconduzindo.A primeiraé apossibiÌidadedequea resistênciado grupoesteja representandouma natural,e até sadia,reaçãocontraaspossíveisinadequaçõesdo cooordenadorna suaforma deconcebere conduziro grupo.A segunda,igualmente importante,diz respeitoàpossívelformaçãodeum,inconsciente,"conluioresistencial" entre o coordenadorc os demais,contra o desenvolvimentode certosaspectosda tarefana qual estãotrabalhando.
  • 20. coMo TRABALHAì!íoScov cnupos . 37 Manejo dos aspectostransferenciais. Da mesmaforma comofoi Íeferido em relaçãoàs resistências,é necessáriofrisar que, diante do inevitável surgimentode situaçõestransferenciais,um manejotécnicoadequadoconsisteem reconhecere dis- criminá-las.Assim, cabeafirmar que o surgimentodeum movimentotransferencial estámuito longede representarqueestejahavendoa instalaçãodeuma "neurosede transferência",ou seja,é legítimo dizerqueno carnpogrupal,inclusiveno grupana- lítïco, há transferênciaemtudo,masnemtudo é transferênciaa ser trabalhada. No campogrupal,asmanifestaçõestransferenciaisadquiremuma compÌexida- demaiordoqueno individual,porquantonelesurgemasassimdenominadas"transfe- rênciascruzadas",queindicamapossibilidadedainstalaçãodequatroníveisdeiransfe- rênciagrupal: de cadaindivíduo paracom os seuspares,de cadaum em relaçãoà figura centraldo coordenadorde cadaum parao grupo como uma totalidade,e do todo grupalem relaçãoaocoordenador. Um aspectoqueestáadquirindouma crescenteimportânciatécnicaé o fato de ossentimentostransferenciasnãorepresentaremexclusivamenteumamerarepetição de antigasexperiênciasemocionaiscom figuras do passado;eles podem também estarrefletindonovasexperiênciasqueestãosendovivenciadascom apessoareal do coordenadore cadaum dosdemais. Em relaçãoaossentimenÍoscontratransferenciais,o impoÍanteéqueo coordena- dor saibaqueelessãodesurgimentoinevitável;queo segredodoêxitotécnicoconsiste em nãopermitir queos sentimentosdespertadosinvadama suamente,de modo a se tomarempatogênicos;pelocontrário,queelespossamseconstituircomo um instru- mento de empatia;e que, finalmente,o coordenadorestejaatentopara o risco de, inconscientemente,poderestarenvolvido em algum tipo de "conluio inconsciente" com o grupo, o qual podeserdenaturezanarcisística,sado-masoquista,etc. Manejo dosdcÍr'rrgs.Todosostécnicosquetrabalhamcom gruposreconhecem que a tendênciaao acíing ("a açío") é de cursoparticularmentefreqüente,e que a intensidadedelescresceráemumaproporçãogeométricacomahipótesedequeindiví- duos de caracterologiapsicopáticatenhamsido incluídos na sua composição.Do ponto de vista de ser utilizado como um instrumentotécnico, é necessárioque o coordenadorreconheçaqueosacllngsrepresentamumadeterminadacondutaquese processacomouma forma desubstituirsentimentosquenãoconseguemsemanifes- tar no plano consciente.Isso costumaocorrer devido a uma das cinco condições s€guintes:quandoosseltimentosre!reladosig:espqndelrygos, fantasiase ansie- dadesqueestãoreprimidase quenãosãorecoÈladas(como Freudensinou),ou que nãosãopensadas(segundoBion), ou quenãosãocomunicadaspelaverbalização,ou quenãoconseguemficar contidasdentrodopróprio indivíduoe,finalmente,o impor- tanteaspectodequeoacting podeestarfuncionandocomoum recursodecomunica- çãomuito primitivo. As atuaçõesadquiremum extensolequedemanifestações;no entanto,o quede fato mais importaé a necessidadede o coordenadordo gruposaberdiscriminarcom segurançaquandosetratade actingsbenignos(como é o casodasconversaspré e pós-reuniões,encontrossociaisentre os participantes,às vezesacompanhadosdos respectivoscônjuges,ou o exercíciodealgumaaçãotransgressora,masque,no fun- do, pode estarsignificandouma saudáveltentativade quebraralgunstabuse este- reotipiasobsessivas)e dequandoseÍaÌz deactingsmalignos,comosão,por exem- plo, osdenaturezapsicopática.Háumaformadeatuaçãoque,emborasejadeapareci- mentocomum,apresentaumarepercussãodeletéria,devendo,por isso,serbemtraba- lhadapelocoordenador:é aqueserefereàdivulgação,parafora dogrupo,dealguma
  • 21. 38 . ãìíERMAN&osoRlo situaçãomuitosigilosae privativadaintimidadedeste.Nãocustarepetirqu" u.à adequadaseleçãoecomposiçãonaformaçãodeumgmpominimizao riscodeatua- çõesmalignas. Comunicação.Partindodaafirmativadeque"o grandemaldahumanidadeéo problemado mal-entenlido",pode-seaquilatara importânciaqueos aspectosda normalidadee patologiadacomunicaçãonosgmposrepresentaparaa técnicae a práticagrupalísticas.Dessaforma,o grupoéumexcelentecampodeobservaçãode comosãotransmitidaserecebidasasmensagensverbais,comaspossíveisdistoÍções ereaçõesporpaÍe detodos.Umaspectodacomunicaçãoverbalquemereceatenção especialéo queapontaparaapossibilidadedequeo discursoestejasendousadode fato nãoparacomunicaralgo,porém,pelocontrário,queele estejaa serviçoda incomunicação. Poroutrolado,nãoéunicamenteacomunicaçãoverbalqueimporta,porquanto cadavezmaissetomarelevantea importânciadasmúltiplasformasdelinguagem não-verbais(gestos,tipo deroupas,maneirismos,somatizações,silêncios,choros, actings,etc.). Atividadeinterpretativa.Utilizo a expressão"atividadeinterpretativa"em lugarde"interpretação",pelofatodestaúltimaserdeusomaisrestritoàssituações quevisamaumaformapsicanalíticadeacessoaoinconscienteindividuale grupal, enquantoaprimeiraexpressãopermitesuporumamaiorabrangênciaderecursospor partedocoordenâdordeumgrupo,comoé o usodeperguntasqueinstiguemrefle- xões;claÍeamentos;assinalamentosdeparadoxosecontradições;umconfrontoentre arealidadeeoimaginário;aaberturadenovosvérticesdepercepçãodeumadetermi- nadaexperiênciaemocional,etc.Com"atividadeinterpretativa"tamMmestouenglo- bandotodaapaÍicipaçãoverbaldocoordenadorque,dealgumaforma,consigapro- movera integraçãodosaspectosdissociadosdosindivíduos,datarefae dogrupo. Assimconcebida,a atividadeinterpretativano grupoconstitui-secomoo seu principalinstrumentotécnico,sendoquenãoexistemfórmulasacabadase "certas" decomoe o quedizer,poisassituaçõespráticassãomuitovariáveise,alémdisso, cadacoordenadordeverespeitaroseuesfilopeculiareautênticodeformularedeser. Nocasodegrupoterapiapsicanalítica,aquestãomaispolêmicagiraemtomodaque- lesgnrpoterapeutasqueprefereminterpretarsempresedirigindoaogrupocomouma totalidadegestáltica,enquantooutrosadvogamqueainterpretaçãopode(oudeve)ser dirigidaaosindivíduossepaÌadamente,desdequeelavenhaacompanhadadeumaadi- culaçãocomadinâmicadatotalidadedo grupo.Esseassuntoé paÍticularmenterele- vanteeseráabordadomaisdetidamentenocapítulosobregrupoterapiaspsicanalíticas. Creiosernecessáriosublinharque,assimcomoexistea possibilidadedeuma "violênciada interpÍetaçãÕ' (comoé o casodeum grupoterapeutapretenderimpor osseusprópriosvalorese expectativas,oudeapontarverdadesdoloridassemuma sensibilidadeamorosa),tambémexistea "violênciada imposiçãode preconceitos técnicosuniversais",semlevaremcontaaspeculiaridadesdecadatipodegrupo,ou desituaçõese circunstânciasespeciais. Funçõesdoego.A situaçãodocampogrupalpropiciaosurgimentodasfunções doego,istoé,decomoosindivíduosutilizamacapacidadedepercepção,pensamen- to, conhecimento,juízo crítico,discrimínaçã.o,comunicação,açAo,etc.;por essa razão,trabalharcom essesaspectosé parteimportanteda instrumentagãotécnica. Paradarumúnicoexemplo,valemencionarqueaessênciadeumaterapiadecasal,
  • 22. ou de famflia, consistebasicamenteem "ensinar" os participantesa usaremasfun- çõesde sabereJcrtdr o outro(é diferentede simplesmente"ouvir"), decadaum yer o outro(édiferentede"olhar"), depoderpensarno queestáescutandoenasexperiên- ciasemocionaispelasquaiselesestãopassando,e assimpor dianle. Papéis.Convémenfatizarqueumadascaracteísticasmaisrelevantesqueper- meiamo campogrupalé a transparênciado desempenhodepapéispor paíe decada um dos componentes.A importânciadessefenômenogrupalconsisteno fato de que o indivíduo tambémestáexecutandoessesmesmospapéisnasdiversasáreasde sua vida- como a familiar, profirssional,social,etc. Eum deverdocoordenadordogrupoestaratentoàpossibilidadedeestarocorren- doumafixidez eumaestereotipiadepapéispatológicosexercidossemprepelasmes- maspessoas,como seestivessemprogramadasparaassimagiremao longo de toda vida. O melhorexemplodecomoa atribuiçãoe a assunçãodepapéispoderepresen- tar um recurso técnico por excelência é o que pode ser confirmado pelos grupoterapeutasdefamíli4 quetãobemconhecemo fenômenodo "pacienteidentifica- do" (a família elegealguémparaservircomo depositárioda doençaocultadetodos osdemais)e outrosaspectosequivalentes. Vínculos. Cadavezmais,os técnicosda áreadapsicologiaestãovalorizandoa configuraçãoqueadquiremasligaçõesvincularesentreaspessoas.Indo muito além do exclusivoconflito do vínculodoamor contrao doódia, na atualidade,considera- semais importantea observaçãoatentadecomo semanifestamasdiferentesformas deamar,deagrediÍe asinteraçõesentreambas.Além disso,Bion introduziuo impor- tantíssimovínculodo conhecimento,quepossibilitaum melhormanejotécnicocom os problemasligados às diversasformas de "negação"que explicam a gênesede muitosquadrosdepsicopatolgia,assimcomotambémfavoreceaotécnicoumamaior clarezanacompreensãodacirculaçãodasverdades,falsidadese mentirasno campo grupal.Particularmente,tenhopropostoaexistênciadeum quartovínculo,o doreco- nhecimento,atravésdo qual é possívelaocoordenadorpercebero quantocadaindi- víduonecessita,deformavital, serreconhecidopelosdemaisdogrupocomoalguém que,defato, pertenceaogrupo (éo fenômenogrupalconhecidocomo "pertencência"), e tambémaludeà necessidadedequecadarmreconheçaao outro comoalguémque temo direitodeserdiferentee emancipadodele. Tendo por baseessesquatro vínculos,e as inúmerascombinaçõese arranjos possíveisentreeles,a compreensãoe o manejodosmesmostomam-seum excelente recursotécnicono tratode casais,famílias,gruposou instituições. Término. Termoquedesignaduaspossibilidades:umaéadequeo grupotermi ne,ou por umadissoluçãodele,ou paracumprir umacombinaçãopÉvia, como é no casodosgrupos"fechados";a segundaeventualidadeé a dequedeterminadapessoa encerrea sua participação,emborao grupo continue,como é no casodos grupos "abertos".Saberterminar algo,qu.epodeserumatarcfa,um tratamento,um casamento, etc., representâum significativo crescimentomental. Daí considerarmosque deve haverpor partedo coordenadorde qualquergrupouma fundamentaçãotécnicaque possibiliteuma definiçãode critériosde término e um manejoadequadoparacada situaçãoem particular,semprelevandoem contaa possibilidadedo risco de que os resultadosalcançadospodemter sidoenganadores.Issovale especialmentepaÍa os gruposde frnalidadeterâpêutica,emborana atualidadeo grupoterapeutapossacon- tar com claroscritériosdeum verdadeirocrescimentopsíquico. coMoTRABALHAMoScov cnuPos . 39
  • 23. 40 . zn.lgwaN E..t.tt Atributos deum coordenadordegrupo.DecidiincorporaÍestetópicocomo integrantedafundamentaçãotécnica,porquemepareceimpossíveldissociarumade- quadomanejotécnicoemqualquermodalidadedegrupo,semquehajaumasimultâ- neaatitudeintemanapessoarealdoprofissional. Assim,alémdosnecessárioscrnliecimentos(provindosdemuitoestudoeleitu- ras),dehabilidades(treinoe supervisáo),asatitudes(ümtratamentodebasepsica- nalíticaajudamuito)sãoindispensáveis,e elassãotecidascomalgunsatributose funçõescomoasmencionadasaseguir: . Gostareacreditaremgrupos. . Sercontinente(capacidadedeconterasangústiase necessidadesdosoutros,e tambémassuaspróprias). . Empatia(pder colocar-senolugaÍdooutroeassimmanterumasintoniaafetiva). . Discrìminação(paranãoficar perdidono cipoaldascruzadasidentificações projetivase introjetivas). . NovomodelodeidentiJìcaçõo(contribuiparaaimportantefunçãodedesidentifi- caçãoedessignificaçãodeexperiênciaspassadas,abrindoespaçoparaneo-identifi- caçõeseneo-significações). o Comunìcação(tantocomoemissoÍou receptor, coma linguagemverbalou a não-verbal,comapreservaçãodeumestilopróprio,ecomoumaformademode- lo paraosdemaisdognrpo). . Sq verdadeiro(se o coordenadornão tiver amor às verdadese Dreferirnão enfrentá-las,nãopoderáservircomoum modeloparao seugrupo,e o melhor serátrocardeprofissão). . Sensodehumor(umcoordenadorpodeserfirmesemserrígido,flexívelsemser frouxo,bomsemseÍbonzinhoe,damesmaforma,podedescontrair,rir, brincar, semperdero seupapeleamanutençãodosnecessárioslimites). . Integraçãoesíntese(ê acapacidadedeextrairodenominadorcomumdasmensa- gensemitidaspelosdiversoscomponentesdogrupoedeintegrá-lasemumtodo coerenteeunificado,semartificialismosforçados). Ao longoda leituradoscapítulosdapráticaclínicadosdiversosautoresdeste livro,nassuasentrelinhas,o leitorpoderáidentificartodosessesatributos,e outros mais,comoconstituintesbásicosdafi:ndamentaçãotécnica.
  • 24. AtributosDesejáveispara um CoordenadordeGrupo DAVIDE,ZIMERMAN Ao longode virtualmentetodososcapítulosdestelivro, de umaformaou de outra, sempreháum destaqueà pessoado coordenadordo grupono temaqueestásendo especificamenteabordado,comosendoum fatordefundamentalimportâncianaevo- luçãodo respectivogrupo, sejaele de que naturezâfor. Creio que bastaessarazão parajustificar a inclusãodeum capítuloqueabordedeforma maisdireta,abrangente e enfáticaas condiçõesnecessárias,ou pelo menosdesejáveis,paraa pessoaque coordenagrupos.De certaforma,portanto,estecapítuloé umasíntesedeaspectosjá suficientementedestacadosnestelivro, tantodemodoexplícitoquantoimplícito. Inicialmente,éútil escÌarecerqueo termo"coordenador"estáaquisendoempre- gadono sentidomaisamplodotermo,desdeassituaçõesqueseformamnaturalmen- te, semmaioresformalismos(como podeser,por exemplo,uma atendentecom um _erupodebebêsdeumacreche,ou com criancinhasdeumaescolinhamatemal;um grupodeauto-ajuda,noqualsempresurgemliderançasnaturaisquefuncionamcomo coordenadores;um professoruniversitárioemumasaladeaula,um empresáriocom a suaequipedetrabalho,etc.),passandoporgruposespecialmenteorganizadospara aÌgumatarefa,atéasituaçãomaissofisticadaecomplexadeum grupoterapeutacoorde- nandoum grupopsicanaÌítico. Valeressaltarque,indo muito alémdo importantepapeldefigura transferencial quequalquercondutordegruposemprerepresenta,aênfasedopresentetextoincidirá deforma maisparticularnapessoareal do coordenador,com o seujeito verdadeiro deser,e,por conseguinte,comosâtributoshumanosqueeìepossui,ou lhefaltam. Fazendoa necessáriaressalvade que cadasituaçãogrupal específicatambém eriee atributosigualmenteespeciaisparaapessoadocoordenador,consideroperfeita- m:nte legítimo ressaltarqueaessámciadascondiçõesintemasdevesera mesmaem :ada um deles.Uma segundaressalvaé a de que a discriminaçãoem separadodos Civersosatributosa seguirmencionadospodedarumafalsaimpressãodequeestamos :resando uma enormidadede requisitosparaum coordenadorde grupo, quaseque :..ntìgurandoumacondiçãode "super-homem".Serealmentefor essaa impressão i:irada. peçoaoleitorquereleve,poistudosepassadeformasimultânea,conjunta : :atural.e aquantidadedeitensdescritosnãoé maisdoqueum esquemadepropósi- :-.didático. Destarte,seguindoumaordemmaisdelembrançado quede importância,vale ::ite.ar os seguintesatributoscomoum conjuntode condiçõesdesejáveise, para j i:r. !ituacòes.imorescindíveis:
  • 25. 42 . znasrM,c,Na osorro . Gostare acreditar€m grupos,E claroquequalqueratividadeprofissional exigequeopraticantegostedoquefaz,casocontrárioeletrabalharácomumenoÍïne desgastepessoalecomalgumgraudeprejuízoemsuatarefa.No entanto,atrevo-me a dizerque,paÍicularmentenacoordenaçãodegrupos,esseaspectoadquireuma relevânciaespecial,porquantoa gestaltdeum grupo,qualum "radar",captacom maisfacilidadeaquiloquelheé "passado"pelocoordenador,sejaentusiasmoou enfado.verdadeoufalsidade.etc Cabedeixarbemclaroqueo fatodesegostardetrabalharcomgruposdemodo algumexcluio fatodevir asentirtransitóÍiasansiedades,cansaço,descrenças,etc. . Amor àsverdades.Nãoéexageroafirmarqueessaé umacondiçâosinequa nonparaumcoordenadordequalquergrupo- muitoespecialmenteparaosdepropósi- to psicanalítico-, poisninguémconiestaquea verdadeé o caminhorégioparaa confiaça,acriatividadee a liberdade. E necessárioesclarecerquenãoestamosaludindoa umacaçaobsessivaem buscadasverdades,atémesmoporqueasmesmasnuncasãototalmenteabsolutase dependemmuitodo vérticedeobservação,mas,sim,referimos-nosà condiçãodo coordenadorserverdadeiro.O coordenadorquenãopossuiresseatributotambém terádificuldadesemfazerumnecessáriodiscemimentoentreverdades,falsidadese mentirasquecorremnoscamposgrupais.Damesmaforma,haveráumprejuízona suaimportantefunçãodeservircomoummodelodeidentificação,decomoenfrentar assituaçõesdifíceisdavida. No casodosgrupospsicoterápicos,o atributodeocoordenadorserumapessoa veraz,alémdeum deverético,tambémé um princípiotécnicofundamental,pois somenteatravésdoamoràsverdades,pormaispenosasqueelassejam,ospacientes conseguirãofazer verdadeirasmudançasinternas.Ademais,tal atitudedo grupoterapeutamodelaráa formaçãodoindispensávelclimadeumalealfranqueza entreosmembrosquepartilhamumagrupoterapia. . Coerênciâ.Nemsempreumapessoaverdadeiraécoerente,pois,conformeo seuestadodeespírito,ouo efeitodeumadeterminadacircunstânciaexterior,épos- sívelqueeleprópriose"desdiga"emodifiqueposiçõesassumidas.Pequenasincoe- rênciasfazempaÍe dacondutadequalquerindivíduo;no entanto,a existênciade incoerênciassistemáticasporpartedealgumeducador- comosãoaquelasprovindas depais,professores,etc.- levaa criançaa um estadoconfusionale a um abalona construçãodosnúcleosdeconfiançabásica.Defato,éaltamentedanosoparao psi- quismodeurnacriançaque,diantedeumamesma"arte",emumdiaelasejaaplaudi- dapelospaise,numoutro,sejaseveramenteadmoestadaoucastigada;assimcomoé igualmentepatogênicaapossibilidadedequecadaumdospais,separadamente,se- jampessoascoerentesnassuasposições,porémmanifestamenteincoerentesentreas respectivasposiçõesassumidasperanteo filho. Essaatitudedo educadorconstitui umaformadedesrespeitoàcriança. O mesmoraciocíniovaleintegralmenteparaapessoadecoordenadordealgum grupo,porquanto,de algumaforma,eletambémestásempreexercendoum certo graudefunçãoeducadora. . Sensodeética.Oconceitodeética,aqui,aludeaofatodequeumcoordenador degruponãotemo direitodeinvadiro espaçomentaldosoutros,impondoìhesos seusprópriosvalorese expectativas:pelocontrário,eledevepropiciarum alarga-
  • 26. COMO'IRAEALHAMOSCOVCRUPOS ' 43 mento do espaçointerior e exterior de cadaum deles,atravésda aquisiçãode um sensode liberdadedetodos,desdequeessaliberdadenãoinvadaa dosoutros. Da mesmaforma,faltacoma éticao coordenadordegrupoquenãomantémum mínimo de sigilo daquilo que lhe foi dadoem confiança,ou pelasinúmerasoutras formasde faltar com o respeitoparacom os outros. . Respeito.Esteatributotem um significadomuito mais amplo e profundo do que o usualmenteempregado.Respeitovem de re (de novo) + specíore(olhar), ou seja,é a capacidadedeum coordenadorde grupovoltar a olharparaaspessoascom asquaiseleestáemíntima interaçãocom outrosoÌhos,com outrasperspectivas,sem a miopia repetitivados rótulose papéisque,desdecriancinha,foramJhesincutidos. Igualmente,faz partedesteatributoanecessidadedequehajaumanecessâriadistân- cia ótima entreelee osdemais,umatolerânciapelasfalhase limitaçõespresentesem algumaspessoasdo grupo,assimcomoumacompreensáoe paciênciapelaseventu- ais inibiçõese pelo ritmo peculiardecadaum. Tudoissoestábaseadono importantefato dequeaimagemqueumamãeou pai (o terapeuta,no casodeuma grupoterapia)tem dospotenciaisdos seusfilhos (paci- entes)e da família como um todo (equivaleao grupo) setoma parteimportanteda imagemquecadaindivíduo virá a ter de si próprio. . Paciência.Habitualmente,o significadodestapalavraestáassociadoa uma idéiadepassividade.deresignação,eo queaquiestamosvalorizandocomoum impor- tanteatributodeum coordenadordegrupoéfrontalmenteopostoaisso.Paciênciadeve serentendidacomouma atitudedtiva,comoum tempodeesperanecessi4rioparaque uma determinadapessoado gruporeduzaa suapossívelansiedadeparanóideinicial, adquiraumaconfiançabasalnosoutros,permita-sedarunspassosrumo a um terreno desconhecido,e assimpor diante.Assim concebida,a capacidadede paciênciafaz partedeum atributomaiscontingente,qual seja,o defuncionarcomoum continente. . Continente. Cadavez mais, na literaturapsicológicaem geral, a expressão "continente"(éoriginaldeBion) ampliao seuespaçodeutilizaçãoe o reconhecimento pelaimportânciadeseusignificado.Esseatributoaludeoriginariamenteaumacapa- cidadequeuma mãedevepossuirparapoderacolhere conteÍ asnecessidadese an- gústiasdo seufilho, ao mesmotempo que as vai compreendendo,desintoxicando, emprestandoum sentido,um significadoe especialmenteum nome, para só então devolvêJasà criançanadosee no ritmo adequadosàscapacidadesdesta. A capacidadedo coordenadorde grupo em funcionar como um continenteé impoÍante por trêsrazões: l. Permitequeelepossacor,rteraspossíveisfu quepodememergirno campogrupalprovindasdecadaum edetodoseque,por vezes,sãocolocadasde forma maciçae volumosadentrode suapessoa. 3. Possibilitaqueelecontenhaassuasprópriasangústias,comoé o caso,por exem- plo, denãosabero queestásepassandonadinâmicado grupo,ou aexistênciade dúvidas,de sentimentosdespertados,etc. Essacondiçãode reconhecere conter as emoçõesnegativascostumaserdenominadacapacidadenegativae seráme- lhor descritano tópico qnesegueabaixo. Fazpartedacapacidadedecontinenteda mãe(ou do coordenadordeum grupo) a assim denominada,por Bion, função alfa, que serádescritaum pouco maìs adiante,em "Funçãodeegoauxiliar". 2.
  • 27. 44 . ZMERMAN&osoRlo . Capacidadenegativa.Comoantesreferido,nocontextodestecapítulo,esta funçãoconsistenacondiçãodeumcoordenadordegnrpodeconterassuaspróprias angrístias,que,inevitavelmente,porvezes,surgememalgumaformaegrau,demodo aqueelasnãoinvadamtodoespaçodesuamente. Nãoháporqueumcoordenadordeumgrupoqualquerficarenvergonhado,ou culpado,diantedaemergênciadesentimentos"menosnobres"despertadospelotodo grupal,ou poÍ determinadaspessoasdo gÍupo,comopodemser,por exemplo,um sentimentodeódio,impotência,enfado,excitaçãoerótica,confusão,etc.,desdeque elereconheçaa existênciadosmesmos,e assimpossacontere administrálos.Caso contriário,ouelesucumbináaumacontra-atuaçãooutrabalharácomumenormedesgaste. . Funçãodeegoauxiliar.A "funçãoalfa"antesreferida,originariamente,con- sistena capacidadedeumamãeexercerascapacidadesde ego(perceber,pensar, conhecer,discriminar,juízocrítico,etc.)queaindanãoestãosuficientementedesen- volvidasna criança.A relevânciadesteatributosedeveao fato de queum filho somentedesenvolveráumadeterminadacapacidade- digamos,paraexemplificar,a de serum continenteparasi aosdemais- sea suamãedemonstroupossuiressa capacidade. Igualmente,umcoordenadordegrupodeveestaratentoedisponívelpara,du- rantealgumtempo,emprestarassuasfunçõesdo egoàspessoasqueaindanãoas possuem,o queacontececomumentequandosetratadeumgrupobastanteregressi- vo.Creioque,dentreasinúmerascapacidadesegóicasqueaindanãoestãosuficien- tementedesenvolvidasparadeterminadasfunções,tarefase comportamentos,e que temporariamentenecessitamdeum"egoauxiliar"porpaÍtedocoordenadordogru- po,meÍecemum registroespecialasfunçõesdepensar,discriminarecomunicar. . Funçãodepensar.É bastanteútil queumcoordenadordegrupo,sejaqualfor anaturezadeste,permaneçaatentoparaperceberseospaÍticipantessabempensarâs idéias,ossentimentose asposiçõesquesãoverbalizados,e elesomenteterácondi- çõesdeexecutaressataÍefase,defato,possuirestafunçãodesaberpensar. Podeparecerestranhaa afirmativaanterior;noentanto,osautorescontempo- râneosenfatizamcadavezmaisaimportânciadeumindivíduopensarassuasexpe- riênciasemocionais,eissoémuitodiferentedesimplesmente"descarÍegar"osnas- centespensamentosabrumadoresparafora(sobaformadeumdiscursovazio,proje- ções,actings,etc.)ouparadentro(somatizações).A capacidadepara"pensarospen- samentos"tambémimplicaescutarosoutros,assumiropróprioquinhãoderesponsa- bilidadepelanaturezadosentimentoqueacompanhaaidéia,estabelecerconfrontos ecorrelaçõese,sobretudo,sentirumaliberdadeparapensaÍ. Voumepermitirobservarque:"muitosindivíduospensamquepensam,mas nãopensam,porqueestãopensandocomo pensamentodosoutros(submissãoao pensamentodospais,professores,etc.),pâraosoutros(noscasosde "falso sef'), contraosoutros(situaçõesparanóides)ou,comoénossujeitosexcessivamentenarci- sistas:"eupensoemmim,sóemmim,apartirdemim,enãopensoemmimcomos outros,porqueeucreioqueessesdevemgravitaÍemtomodomeuego". . Discriminação.Fazpartedoprocessodepensar.Capacidadedeestabelecer umadiferenciaçãoentreoquepertenceaoprópriosujeitoeoqueédooutro,fantasia erealidade,intemoe extemo,presenteepassado,o desejávele o possível,o claroe o ambíguo,verdadee mentira,etc.Particularmenteparaum cooÍdenadordegrupo, esteatributoganharelevânciaemrazãodeumpossíveljogo deintensasidentifica-
  • 28. colro 1R^BÀLH^Ì!ÍoscoM cRUPos . 45 çõesprojetivascruzadasem todasas direçõesdo campo grupal, o qual exige uma claradiscriminaçãode"queméquem",sobo riscodogrupocairemumaconfusãode papéise deresponsabilidades.Acreditoqueosterapeutasquetrabalhamcomcasais e famfliaspodemtestemunhare concordarcomestaúltimacolocaçào. . Comunicação, Paraatestara importânciada funçãode comunicar- tânto no conteúdoquantonaforma damensagememitida- cabea afirmativadequea lingua- gem dos educadoresdeterminao sentidoe as significaçõesdas palavrase gerc as estruturasda mente. O atributodeum coordenadorde grupoem sabercomunicaradequadamenteé pârticularmenteimportanteno casode uma grupoterapiapsicanalítica,pela respon- sabilidadeque representao conteúdode suaatividadeinterpretativa,o seuestilo de comunicá-lae, sobretudo,seeleestásintonizadono mesmocanalde comunicação dospacientes(por exemplo,nãoadiantaformular interpretaçõesem termosde com- plexidadesimbólicaparapacientesregressivosque aindapermanecemnuma etapa depensamentoconcreto,e assimpor diante).Em relaçío aoestiLo,deveserdadoum destaqueaoqueé de naturezanarcisista,tal como seguelogo adiante. Um aspectoparcialdacomunicaçãoéo quediz respeitoàatividadeinterpretativa, e comoessaestáintimamenteligadaaousodasverdades,comoantesfoi ressaltado, torna-senecessárioestabeleceruma importanteconexãoentrea formulaçãode uma verdadepenosade serescutadae a manutençãoda verdade.Tomareiemprestadade Bion uma sentençaque sintetizatudo o que estoupretendendodestacar:anlor sent verdadenão é maisdo auenaixão,no entanlo,verdadesemamor é crueldade. É igualmenteimpo.tont"qu. ,r .oordenrdordegrupoqualquervalorizeo fato de que a comunicaçãonão é unicamenteverbal, porquantotanto ele como o seu grupoestãocontinuamentesecomunicandoatravésdasmaissutisformasde lingua- gemnão-verbaì. . Tfaços caracterológicos.TantomeÌhortrabalharáum coordenadorde grupo quantomelhoreleconhecerasipróprio,osseusvalores,idiosincrasiasecaracterologia predominante.Dessaforma, se eÌe for exageradamenteobsessivo(emboracom a ressalvadequeumaestruturaobsessiva,nãoexcessiva,é muitoútil, poisdetermina seriedadee organização),vaiacontecerqueo coordenadorteráumaabsolutaintolerân- cia a qualqueratraso,falta e coisasdo gênero,criandoum clima desufoco,ou geran- doumadependênciasubmissa.Igualmente,umacaracterologiafóbicado coordena- dor pode determinarque ele evite entrar em contatocom determinadassituações angustiantes,e assimpor diante. No entanto,valedestacaraquelestraçoscaracterológicosquesãopredominan- tementede natnÍezànarcisìsta.Nestescasos,o maior prejuízoé queo coordenador_- estarámaisvoltadoparao seubem-estardoqueparao dosdemais.A necessidadede receberaplausospodesertãoimperiosa,queháo riscodequeseestabeÌeçamconluios inconscientes,com o de uma recíprocafascinaçãonarcisista,por exemplo, onde o valormáximoé o deum adoraro outro,semquenenhumamudançaverdadeiraocor- ra.Uma outrapossibilidadenocivaé a dequeo coordenadorsejatãobrilhanteque eÌedeslumbra("des"+ "lumbre",ou seja,ofuscaporque"tira a luz") àspessoasdo grupo, como seguidamenteaconÍeceentreplofessorese alunos,mas tambóin pode aconlecercomgrupoterapeu(ase seuspacientes. Nesteúltimo caso,o dogmáticodiscursointerpretativopodeestarmais a servi- ço deumafetichização,istoé,damanutençãodo ilusório,de seduzire dominar,do
  • 29. 46 . zMsrÌ,r,aNa osoRro quepropriamentea umacomunicação,a uma resposta,ou a aberturaparareflexões. A retóricapodesubstituira produçãoconceitual. Um outroinconvenientequedecorredeum coordenadorexcessivamentenarci- sistaéqueeletemasensaçãodequetemapropriedadeprivadasobreos ..seuspacien- tes", do futuro dos quaisele crê ter a possee o direito de determinaro valoi deles. Nestescasos,é comumqueesteterapeutatrabalhemaissobreosnúcleosconflitivos e os aspectosregressivos,descartandoos aspectosmais madurose as capacidades sadiasdo ego. Da mesmaforma,um grupoterapeutaassimpodesertentadoa fazerexibiçãode umaculturaerudita,defazerfrasesdeefeitoque,maisdo queum simplesbrilho que lhe é tãonecessário,o queelebasicamentevisa,no planoinconsciente,é manteruma largadiferençaentreelee osdemaisdo grupo. . Modelo de identiÍicação. Todososgrupos,mesmoosquenãosãoespecifica- mente de naturezaterapêutica,de uma forma ou outra, exercemuma função psicoterápica.Isso,entreoutrasrazões,deve-seao modelo exercidopela figurado coordenadordogrupo,pelamaneiracomoeleenfrentaasdificuldades,pensaosproble- mas, estabelecelimites, discrimina os distintos aspectosdas diferentessituações, manejacom as verdades,usao verbo,sintetiza,integrae dá coesãoao grupo. Òom outraspalavras,o grupotambémpropiciauma oportunidadeparaqueos paÍicipan- tes introjetema figura do coordenadore, dessaforma, identifiquem-secom murtas característicase capacidadesdele. Nos casos de grupoterapia psicanalítica, vale acrescentarque a atividade interpretativa_dogrupoterapeutatambémdevevisarafazerdesidentificações,ou seja, desfazerasidentificaçõespatógenasquepodemestarocupandoum largo espaçona mentedos pacientes,e preencheresseespaçomental formado com neo-idànifica- çõer,entreasquaispontifica asqueprocedemdo modelodapessoareal do grupote- rapeuta. . Empatia.Todos osatributosantesdiscriminadosexigemumacondiçãobásica para que adquiramvalidade,qual sejaa de que existauma sintonia emocional do coordenadorcom osparticipantesdo grupo. Tal como designaa etimologiadestapalavra[asraízesgregassão:em (dentro de) + parhos(sofrimento)],empatiarefere-seaoatributodo coordenadordeum qru- podepodersecolocarno lugardecadaumdogrupoeentrardentrodo .,climagrupãt". Issoé muito diferentede simpatia (que se forma a partir do prefixo sfiz, que quer dizerao lado de e nãodentrode). A empatiaestámuito conectadaà capacidadede sepoderfazerum aproveita- mentoútil dossentimentoscontratransferenciaisqueestejamsendodespertadosden- tro do coordenadordo grupo,porém,pâratanto,é necessárioqueeletenhacondições dedistinguirentreossentimentosqueprovêmdosparticipantesdaquelesqueperten- cem unicamentea ele mesmo. . Síntes€e integração. A funçãode síntesede um coordenadorde grupo não deveserconfundidacom a habilidadede fazer resumos.A conceituaçãode síntese aludeà capacidadede seextrairum denominadorcomumdentreasinúmerascomu- nicaçõesprovindasdaspessoasdo grupoe que,por vezes,aparentamsertotalmente diferentesentresi, unificandoecentralizando-asnatarefaprioritária do grupo,quan- do estefor operativo,ou noemergentedasansiedadesinconscienles,no casodegru- po voltadoao,r2s{g/rt.Por outroÍado,é a "capacidadesintéticado ego" do grupotera-
  • 30. peutaquelhepossibilitasimbolizarsignificaçõesopostase aparentementecontraditó- rias entresi. Assim, tambémé útil estabeleceruma diferençaconceitual entre sintetizar e junto.r: a sínteseconsisteem fazerumatotalidade,enquantojrínÍcrconsisteem fazer umanova ligação,isto é, em ligar deoutro modo os mesmoselementospsíquicos. Afunçáo deintegraçõo,poÍ savez, designaumacapacidadedeo coordenador juntar aspectosde cadaum e detodos,queestãodissociadose projetadosem outros (dentroou forado grupo),assimcomotambémaquelesaspectosqueestãoconfusos, ou,pelo_menos,poucoclaros,porqueaindanãoforamsuficientementebemdiscrimi- nados.E particularmenteimportantea integraçãodosopostos,como,por exemplo,a concomitânciadesentimentose atitudesagressivascom asamorosasquesejamcons- trutivase repaÍadoras,etc. Paraque um coordenadorde grupo possaexerceradequadamenteas funções antesreferidas,muito particularmentenasgrupoterapiasdirigidasaoinsight, impõe- se a necessidadede que seuestadomental estejavoltado para a posiçãode que o crescimentopsíquicodosindivíduosedogrupoconsisteemaprendercomasexperiên- ciasemocionaisque acontecemnasinter-relaçõesgrupais.Assim, ele devecomun- garcom o grupoqueo queé realmentevaliosonavidaé teraliberdadeparafantasiar, desejar,a sentir,pensar,dizer,sofrer,gozare estarjunÍo com os outros. Portanto,um importantecritério de crescimentomental,emborapossaparecer paradoxal,é aqueleque,aocontráriodevalorizarsobremaneiraqueo indivíduo este- ja em condiçõesde haver-sesozinho,a terapiagrupaldevevisar que,diantedeuma dificuldademaior,o sujeitopossareconhecera suapartefrágil, permita-seangustiar- see chorare que sesintacapazde solicitare aceitaruma ajudados outros. Vale enfatizarque a enumeraçãodos atributosque foram referidosao longo destecapítulonãopretendeserexaustiva.Os mencionadosatributoscomportamou- trasvariantes,permitiriam muitas outrasconsiderações,foram descritosem terÍnos ideaisenãodevemserlevadosaopédaletra,comosefosseumaexigênciaintimidadora ouu,maconstrangedoracamisadeforça.Antes,a descriçãoem itensseparadosvisaa dar uma amostragemda importânciada pessoado coordenadorde qualquertipo de _crupo. A expressão"qualquertipo degrupo" implica umaabrangênciatal, quealguém poderiaobjetarqueosatributosqueforamarroladosnãoconstituemnenhumaorigina- lidadeespecífica,porquantotambémdevemvalerparamil outrassituaçõesquenão rêmum enquadregrupalformalizado.A respostaque me ocoÍÌe dar aoshipotéticos contestadoresé queelesestãocom a razão.Assim,em umafamíÌia nuclearé à dupla parentalquecabea funçãodecoordenara dinâmicado grupofamiliar. Em uma sala de aula,é o professorquemexecutaessafunção.Num grupode teatro,essepapelé do diretor do grupo.Numa empresa,cabeàschefiase diversassubchefías,e assim ç'ordiante. Numa visualizaçãomacro-sociológica- umanação,por exemplo-, asmesmas :onsideraçõesvalemparaa pirâmidequegovemaosdestinosdo país,desdeacúpula Jo presidentecoordenandoo seu primeiro escalãode auxiliaresdiretos, cada um Jessesexercendoa funçãodecoordenarosrespectivossubescalões,em uma escala- ü progressiva,passandopelos organismossindicaisem direçãoàs bases.Se não hyer verdade,respeito,coerência,empatia,etc.,porpartedascúpulasdiretivas(como .r dos paisem uma família, a de um coordenadornum gÍupo, etc.), é virtualmente ::no quea mesmacondutaacontecerápor partedos respectivosgrupos. O que importadestacaré o fato de que o modelodasliderançasé o maior res- se.rri;ír'elpelosvalorese característicasdeum grupo,sejaele de quetipo for. CoMoTRABALHAMOS COll CIUPOS r 47
  • 31. A FamíIiacomoGrupo Primordial LUIZCÀRLOSOSORIO EM BUSCADE UM CONCEITO OPERATIVODE FAMILIA Família nãoéum conceitounívoco.Pode-sedizerquea família nãoéumaexpressão passívelde conceituação,mastão somentededescrições,ou seja,é possíveldescre- ver asváriasestruturasou modalidadesassumidaspela família atravésdos tempos, masnãodefini-la ou encontraralgumelementocomumatodasasformascom quese apresentaesteagrupamenlohumano. Mesmo sea considerarmosapenasnum dado momentoevolutivo do processo civilizatório temosdificuldadesem integraro proteimorfismode suasconfigurações numapautaconceìtual.O queteráem comumnos diasatuais,por exemplo,uma famflia deuma metrópolenorte-americanacom a deum vilarejo rural daChina?Ou a de um kibbutz israelensecom a de um latifundiário australiano?Que similitude encontrarentrea deum retirantenordestinoe a de um lapãoda Escandinávia?Ou a deum porto-riquenhoquevive numguetonova-iorquinocom adeum bem-sucedido empresáriosuíço?Ou, ainda,comoequipararadeum sicilianomafiosocom adeum muçulmanopaquistanense?Ou adeum bérberenorte-africanocomadeum decadente lordeinglês? Sãotantasasvariáveisambientais,socrars,econômicas,culturais,políticasou religiosasquedeterminamasdistintascomposiçõesdasfamíliasatéhoje,queo sim- pÌescogitar abarcá-lasnum enunciadointegradorjá nos paralisao ânimo e tolhe o propósito.Não obstante,comonãopodemosprescindirdeuma definição,aindaque precáriae limitada,quenosfacilite acomunicaçãoe nosajudeadiscriminaro funda- mentaldo perfunctório,vamosàprocuradeum conceitoquepossaseroperativopara asfinalidadesdestecapítu1o,valendo-nosparatantodascontribuiçõesdeoutrosautores quesedebruçaramsobreaingentetarefadeencontrarumanoçãodefamíliasuficiente- menteabrangenteparaservir-nosdeparâmetroaqui e agora. Dizer que a família é a unidadebásicada interaçãosocial talvez sejaa forma nais _genéricae sintéticade enunciá-la;mas,obviamente,não bastaparasituá-la :u1moagrupamentohumanonocontextohistórico-evolutivodoprocessocivilizatório. Escardóobserva-nosque"a palavra/amílía nío designauma instituiçãopadrão, :-:ree invariável.Atravésdostempos,a famíia adotaforïnase mecanlsmossumamente ::..ersos,e naatualidadecoexistemno gênerohumanotiposdefamfliaconstituídosso- ::: princípiosmoraise psicológicosdiferentese aindacontraditóriose ilconciliáveis".
  • 32. 50 . znrmve,Na osonro A estruorafamiliarvaria,portanto,enormemente,conformealatitude,asdistin- tasépocashistóricaseosfatoressócio-políticos,econômicosoureligiososprevalentes numdadomomentodaevoluçãodedeterminadacultura. SegundoPichonRivtère,"a,famíliaproporcionaomarcoadequadoparaadefini- gãoe conservaçãodasdiferençashumanas,dandoformaobjetivaaospapéisdistin- tos,masmutuamentevinculados,do pai,da mãee dosfilhos,queconstihlemos papéisbásicosemtodasasculturas". ParaLéviStrauss,sãotrêsostiposderelaçõespessoaisqrueconírguramafamí- lia: aliança(casal),filiação(paise Írlhos)econsangüinidade(irmãos).lssonoscon- duza outroreferencialintimamentevinculadoànoçãodefamflia:oparentesco. Oparentescoconsistenumarelaçãoentrepessoasquesevinculampelocasa- mentoou cujasuniõessexuaisgeramfilhosou,aind4quepossuamancestraisco- muns.Nestaconcepção,maridoe mulhersãoparentes,independentementedegera- remfilhos,assimcomoo sãoospaisdeumacriança,emboranãosejamlegalmente casados;poroutrolado,doisindivíduosquevivammaritalmentesemqueessarela- çãosejaoficializadalegalmenteouquedelaresultemfilhosnãosãoparentes. Frcud,emTotemetaòu,assinalaqueo "parentescoé algomaisantigodoquea vidafamiliare,naìã-oria dassociedadesprimitivasquenossãoconhecidas.afamí- lia continhamembrosdemaisdeumparôntesco.Comoveremosmaisadiante,por nãoseconheceropapeldopainareprodução,n_ospovo_sprimitivo-so parentescoera restritoàlinhagemmatema. NÌo o6Bkúiteã no-çãóãafamíliarepousesobreaexistênciadocasalqlLelhedâ origem,considera-sequesuaessênciaestejarepresentadana relaçã,opais-filhns,jât queaorigemeo destinodesteagrupamentohumanocoincidemnoobjetivodegerar ecriarfilhos. . ,A,c,on(içã!neçtênicadaespéciehumana,ou seja,a impossibilidadede sua descendênciasobreviversemcuidadosaolongodosprimeirosanosdevida,foi, sem dúvida,responsávelpelosurgimentodonúcleofamiliarcomoagentedeperpetuação da vidahumana,o queigualmenteocorrecomoutrasespéciesanimais,cujaprole tambémnecessitadaprovisãodealimentose proteçãopor partedeindivíduosadul- tos,enquantonãopodefazêìaporseusprópriosmeios.A famfliatoma-se,assim, tantonohomemcomoemoutrascategoriaszoológicas,o modelonaturalparaasse- gurarasobrevivênciabiológicadaespécie;apardestafunçãobásica,propiciasimul- taneamenteamatrizparao desenvolvimentopsíçico dosdescendentese aaprendi- zagemdainteraçãosocial. Emrealidade,nãopodemosdissociarafunçãobiológicadafunçãopsicossocia dafamília;seéfatoqueafinalidâdebiológicadeconservaraeèpécieestánaorigem daformaçãodafamíia,éigualmentepertinentedizerqueafamíliaéum-grupoespe- - ctârrTaoonallgguçaooepessoascomvlnculospecultaresequeseconsutulnacelula orimordialdetodae qualquercultura. ----- Cõm6seiãèmàntoi introdutóriosjá estamosemcondiçõesdeformularuma defniçãoadhoc,decunhooperativo,paraospropósitosaquipresentes: "Farníliaéumaunidadegrupalondesedesenvolvemtrêstiposderelaçõespessoais - aliança(casal),filiação (pais/filhos)econsangüinidade(irmãos)- e quea partir dosobjertvosgenéricosdepreservara espécie,nutrir eprotegera descendênciae fornecer-lhecondiçõespara a aquisiçãodesuasidentidadespessoaisdesenvolveu atravésdostemposfunçõesdiversificadasde transmissõode valoreséticos,estétï cos,religiososeculturais".
  • 33. coMorR^BALHAMoscov cnupos . 51 Consideraremos,ainda,quea família podeseapresentar,grossomodo,sobtrês formatosbásicos:a nuclear(conjugal),a extensa(consangüínea)e a abrangente. Porfamília nuclearentenda-seaconstituídapelotripépai-mãe-filhos;por famí- lia extensaa que secomponhatambémpor outrosmembrosque tenhamquaisquer laçosdeparentesco,e aabrangenteaqueincluamesmoosnão-parentesquecoabitem. Convencionaremosquedoravantesemprequenosreferirmosàfamflia, a menos queseparticularizea modalidadedeagrupamentofamiliar considerada,o estaremos fazendotendoem menteseuformatonuclear,prevalentenamodemacivilizaçãooci- dental,quebalizao cotidianoexistencialdaquelesa quemsedestinaestelivro. {S ORIGENSDA FAMÍLIA A família é umainstituiçãocujasorigensremontamaosancestraisdaespéciehuma- nae confundem-secom a própriatrajetóriafilogenética. A organizaçãofamiliar nãoéexclusivadohomem;vamosencontrá-laem outras espéciesanimais,quer entreos vertebrados,quer,mesmosobformasrudimentares, entreos invertebrados. Assim comonaespéciehumana,encontram-sedistintasformasde organização familiar entreosanimais.Há famíliasnasquais,apóso acasalamento,aprole fica aos cuidadosde um só dos genitores,geralmente,a fêmea;mas tambémpoderáser o machoquem seencarregadoscuidadoscom osdescendentes,como em certasespé- ciesdepeixes.Algumasespéciesentreasavesvivem em família durantea épocada reproduçãoe em bandosduranteasdemaisépocasdo ano.Os paispodempermane- cerjunto aosfilhotespelavidatoda,masessesgeralmenÍedeixamospaisantesque nasçamoutrasninhadas.Há tambémentreos animaisfamílias ampliadas(ou exten- sas),ondeosjovens ajudama criar os irmãos.As abelhasoperárias,que sãofilhas estéreisdasabelhasrainhas,constituementresi umafratria ou comunidadede irmãs com funçõesdemútuoscuidados,proteçãoe alimentação. Essabrevereferênciaaoscomportamentosfamiliares de certosanimaistem o propósitode enfatizaro caráteruniversaldos agrupamentosfamiliarese chamara atençãoparasuâonipresençanãosóaolongodaevoluçãodaespéciehumana,mâsna de outrosseresdo reino animal. Curiosamente,a origemetimológicadapalavrafamília nosremeteaovocábulo latinofamulus, qrl'esignifica"servo" ou "escravo",sugerindoqueprimitivamentese consideravaa família como sendoo conjuntodeescravosou criadosdeuma mesma pessoa.Parece-me,contudo,que essaraiz etimológica aludeà naturezapossessiva dasrelaçõesfamiliaresentreospovosprimitivos, ondea mulherdeviaobedecerseu maridocomo seseuamoe senhorfosse,e os filhos pertenciama seuspais,a quem deviamsuasvidase conseqüentementeessessejulgavamcom direito absolutosobre elas.A noçãodeposseeaquestãodopoderestão,portanto,intrinsecamente,vinculadas à origem e à evoluçãodo grupofamiliar, conforme veremosmais adianteao tratar- mosdosmitos familiares. Há váriasteoriassobrea origemdafamília: umasa fundamentamem suasfun- çõesbiológicas;outras,em suasfunçõespsicossociais.Foram formuladasas mais diÏersas hipóteses,tendocomoponto de partidaquestõesatinentesà parentalidade, ou seja,aospapéispatemoe matemocomoestruturadoresdo grupofamiÌiar. O vérticeevolutivo - queconsideraque a família, tal qual os seresque a com- poem,necessitapassarporetapassucessivasnocursodeseudesenvolvimento- tem sido a pedrade toquena fundamentaçãodasdiversasteoriasque tentamexplicar a
  • 34. 52 . zmsnve" * oso*to origemeaestruhlraçãodogrupofamiliarcomoo encontrâmosaolongodoprocesso civilizatórioenasdistintasculturas. Asfamíliasoriginalmenteseorganizavamsobaformamatriarcal,aoqueparece pelodesconhecimentodopapeldopainareprodução.Essaexplicação,contudo,não éconsensualentreosantropólogos.Noentanto,éo quenospareceocorreremcertas sociedadesditasmatrilinearesaindaencontradasemnossosdias- taiscomoosmela- nésiosestudadosporMalinovski-, ondeaautoridadepatemarecaisobreafigurado tio matemo(aúnculo),que,entreoutrasatribuições,temade"concederamão"das sobrinhasaoseventuaispretendentesacomelassecasarem.Essa"transferência"ao tio matemodosdireitose devereshabirualmenteatribuídosaopaiprovém,aoque tudoindica,do referidodesconhecimentodo papeldo homemna reproduçãoem temposidos.Esseshábitosmilenaresdosmelanésioscomrelaçãoaopapelavuncular teriamsubsistidomesmoapósarevelaçãodafunçãoreprodutorapatema. O matriarcado,segundooutrasfontes,seriaumadecorrêncianaturalda vida nômadedospovosprimitivos,pois,enquantooshomens- desconhecendoaindaas técnicasprópriasao cultivoda terra- tinhamquesairà procurade alimento,as mulheresficavamnosacampamentoscomosfilhos,quecresciampraticamentesoba influênciaexclusivadasmães,aquemcabiaaindafomecerummínimodeestabilida- desocialaestesnúcleosfamiliaresincipientes. Comodecorrênciadessapreponderânciadafiguramaterna,emcertassocieda- desmatriarcaisasmulherestinhamo direitodepropriedadee certasprerrogativas poÍticas,comoentreosiroquesescanadensesestudadosporMorgannoséculopassado. Entreeles,asmulherespossuíamasterrascultiváveiseashabitações,podendovetar aeleiçãodeumchefe,emboranãoocuparumcargonoconselhosupremo. Paraosevolucionistas,odesenvolvimentodaagriculturaeoconseqüenteadvento dosedentarismoforamosresponsáveispelainstalaçãoprogressivadopatriarcado. Em fins do séculopassadoe princípiosdestehouveum verdadeiroboomde estudosantropológicossobrepopulaçõesprimitivas,sustentandoa emergênciade múltiplastesessobreo comportamentodosgruposfamiliares.No entanto,é algo temeráriotirar-seconclusõessobrea origemdafamfliaa partirdaobservaçãodas tribosprimitivas,poisanoçãodeevoluçãoculturallinearnãoómaisaceitaentreos antropólogos.Issoquerdizerqueospovosditosprimitivosquenossãocontemporâ- neosnãonecessariamenteestãoreproduzindoformasdeagrupamentofamiliaren- contradasnopassadoremoto.Aindaassim,aconstataçãodequecertospadrõessão reiteradamenteencontradosemtemposelugaresdiversospermitequesetomecomo válidasmuitasdasafirmaçõesfeitascombasenessesestudos. Ao discutir-sea origemdafamília,umaperguntainicialqueinsistentemente nosocorreé seainstituiçãofamiliaréuniversal. Em 1949,o antropólogonorte-americanoG.P.Murdockpublicouseuestudo transculturalsobreparentesco,confirmandoahipótesedauniversalidadedafamília. ParaMurdocknãoapenasafamíliaemgeral,masafamflianuclear,emparticulaÍ,é universal,concluindoquenenhumaculturaousociedadepodeencontrarum substi- tuto adequadoparaafamílianuclear. A famflianuclear,segundoesseautor,apresentaquatrofunçõeselementares:a sexual,a reprodutiva,a econômicae a educativa.Essasfunçõesseriamrequisitos paraasobrevivênciadequalquersociedade.E baseando-senessefatoqueMurdock afirmaserafamílianuclearuniversal. Háquempossaobjetarcomaobservaçãodequetemosemnossostemposestrutu- rassociaisquenãoincluema famflia,como,porexemplo,oskibbutzdeIsrael.No entanto,comoobservaSpiro,estasociedadeessencialmentevoltadaparaacriança,
  • 35. COIIIOTRABALHAMOSCOMCRUPOS ' 53 emborado ponto de vista estruturalpareçaconstituir-senuma exceçãoà idéia da universalidadedafamília,serveparaconfirmáìa dopontodevistafuncionalepsicoló- gïco.Nokibbutz,acomunidadeinteirapassaaserumagrandefamíliaextensa.Somente numa sociedadefamilial como o kibbutz,afirma Spiro, seriapossívelnão haver a família nucleardesempenhandosuasfunçõesindispensáveis. A questãodaorigemdafamflia conduz-nosnaturalmenteàdiscussãodasques- tõesrelativasao pârentesco,as relaçõesentre o tabu do incestoe a exogami4 e a instituiçãodo casamento. L.H. Morgan,advogadonoÍte-americanoquenasegundametadedoséculopassa- do se interessouvivamentepela observaçãoda vida dos aborígenesque viviam na fronteira dos EUA e Canadá,tomou-seo fundador da modema antropologiacom seusestudospioneiros sobreas relaçõesde parentesco.Embora seu enfoque evolucionistapossasercontestadopelosavançosulterioresdainvestigaçãoantropoló- gica, suatipologia familiar perÌnanececomo ponto de referênciaparao estudodas estruturasfamiliarese dasteoriassociológicassobrea família. SegundoMorganhaviaoriginariamenteumapromiscuidadeabsoluta,semqual- quer interdiçãopara o intercursosexualentre os sereshumanos.Este teria sido o peíodo da família consangüínea,estruturadaa partir dos acasalamentosdentro de um mesmogrupo. A seguir,pelo surgimentoda interdiçãodo relacionamentosexualentrepais e filhos e posteriormenteentre irmãos,atravésdo tabu do incesto,surgiu a famflia punaluana,ondeos membrosde um grupo casamcom os de outro grupo, mas não entresi. Assim, os homensdeum determinadogruposãoconsideradosaptosa casar somentecom asmulheresdeum outro determinadogrupo,e essesdoisgruposintei ros casamentre si. Essaestruturafamiliar é tambémconhecidacomo família por grupo. Na famflia sindesmáticaou de casal,o casamentoocorre entre casaisque se constituemrespeitandoo tabudo incesto,massemcondicionarsualigaçãoà obriga- toriedadedo casamentointergrupos.Essasfamílias,encontradasentreos primitivos povos nômades,caracterizam-sepela coabitaçãode vários casaissob a autoridade matriarcal,responsávelpelacoesãòcomunalatiavésdaeconomiadomésticacompar- tida. A repartiçãode tarefasadvindasdo desenvolvimentoda agriculturateria dado origemàfamília patriarcal,fundadasobreaautoridadeabsolutado patriarcaou "che- fe defamília", queem geralvivia num regimepoligâmico,com asmulhereshabitual- menteisoladasou confinadasem determinadoslocais(gineceus,haréns). Finalmente,temosa família monogâmica,paradigmáticadacivilizaçãodo oci- dente,cujasorigenssevinculamaodesenvolvimentodaidéiadepropriedadeaolon- go do processocivilizatório. A fìdelidadeconjugalcomocondiçãoparao reconheci- mentode filhos legítimose a transmissãohereditáriada propriedade,bem como o estabelecimentoda coabitaçãoexclusivademarcandoo território da parentalidade sãoos elementosemblemáticosdestaque,aindahoje,é o tipo de família prevalente no mundo ocidental. Engels,o colaboradordeMarx naelaboraçãodasbasesprogramáticasdo movi- mento comunista,apoiando-senas idéias de Morgan, sustentousua tesede que a famflia monogâmicateria sido a primeira famflia fundadanão mais com baseem condiçõesnaturais,massociais,jáqueamonogamiaparaelenãoseriaumadecorrência doamorsexuale,sim,dotriunfodapropriedadeindividualsobreo primitivo comunis- mo espontâneo.A monogamiaé visualizadasoba óticado materialismohistórico nãocomo umaforma maisevoluídadeestruturafamiliar.porémcomo a suieicãode
  • 36. 54 . ,*u*"on soso^,o um sexoao outro a serviçodo podereconômico.Como a inclinaçãonaturaldo ho- mem seriaa liberdadede intercâmbiosexual,a monogamiateria sido responsável pelo incrementodaprostituiçãoepelafalênciadessesistemafamiliar nosdiasatuais. Sobreas relaçõesde parentesco,podemosconsiderá-lassob duas apresenta- ções:a consangüinidadeem linha direta,que ocoÍTeentre pessoasque sejamuma descendentediretada outra,e a consangüinidadeem linha colateral,que sedá entre pessoasquedescendemdeantepassadoscomuns,masnãodescendemuma daoutra. Enquantoessasrelaçõesdeparentescoseriamasdeterminadaspelanatureza,aquelas baseadasno casamentoseriamasestabelecidaspeÌasconvençõessociais.Marido e mulher sãoparentesem funçãodo contratosocialqueos uniu. As relaçõesde parentescotidas como primárias ou fundantesdas estruturas familiaresseriamasseguintes:maridoe mulher,paise filhos,e irmãos. Lévi-Strauss,antropólogocontemporâneoformadonaescolasociológicafrance- sa,aplicoua perspectivaestruturalistaà antropologia,descrevendoo quechama"as estÍuturaselementaresdo parentesco".Partindoda noçãode que a estruturaé um sistemadeleisqueregeastransformaçõespossíveisnum dadoconjunto,LévlStrauss procurou estabeÌeceras relaçõesconstantesna estruturafamiliar que determinam nãosósuaaparênciafenomênicaem determinadoinstantehistórico,comosuaspos- síveismodificaçõesao longodostempos. Tomandocomopontodepartidaateoriada"troca ritual dodom" deMauss(um de seusmestresna escolasociológicafrancesaacimamencionada)e bebendonas fontesda psicanálisee da lingüística,ramosdo conhecimentoapenasemergentesna épocade seusprimeiros estudos,Lévi-Straussprocuroudeterminarque elementos subjazemaos padrõesrelacionaisque configuram a família desdesuasfundações mais arcaicas. Cadaelementodoadoimplica a obrigaçãode suarestituiçãopelo receptor,diz- nos a aludida teoria de Mauss.Assim, na famflia estruturalmentemais simples (e supostamenteanterioraoconhecimentodo papeldopai nareprodução),aotio mater- no (avunculus)catseriaa funçãode "doar" mulheresà geraçãoseguinte.Ao atribuir- setal funçãoaotio matemoestava-sesimultaneamentecriandoa interdiçãodo inces- to, pois a sobrinhasó poderiaserdoadapelo tio a quemnão pertencesseao círculo endogâmico(pai,irmãos). A proibiçãodo incestoentãoinstaladaé a regrada reciprocidadepor excelên- cia, pois a trocarecíprocade mulheresasseguraa circulaçãocontínuadasesposase filhas queo grupopossui.Com o tabudo incesto,afamília marcaapassagemdo fato naturaldaconsangüinidadeaofato cultural daafinidadee a relaçãoawncular é, por assimdizer,o elementoaxial a partir do qual sedesenvolverátodaa estruhrrasocial do parentesco. O tabudo incestoe a exogamiaquelhe é conseqüenteestariam,segundoLévi- Strauss,nasraízesda sociedadehumana.A exogamia,ou seja,o casamentofora do grupofamiliar primordial,funda-sena"troca", queé a basedetodasasmodalidades dainstituiçãomatrimonial.O laçodeafinidadecomumafamília diferenteassegurao domíniodo socialsobreo biológico,docultural sobreo natural(por issoa afirmação deLévi-Straussdequecom o tabudo incestoafamília marcaa passagemdanatureza à cultura). A exogamia,comoa linguagem,teriaa mesmafunçãofundamental:a comuni- caçãocom os outros.E dessacomunicaçãoa possibilidadede que surjaum novo nível de integraçãono relacionamentohumano.A partir dessepropósito, é que a exogamiadáorigem à instituiçãomatrimonial.