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Miguel Perez-Pereira
Gina Cont-Ramsden
DESENVOLVIMENTO
MOTOR E COGNITIVO

  Ailton Barcelos da Costa
   Objetivo do capitulo:
       Apresentar um panorama geral do desenvolvimento
        da criança cega para ajudar o leitor a entender o
        desenvolvimento de interações sociais e linguagem
        em crianças cegas.

   Será demonstrado que o desenvolvimento da
    criança cega não é homogêneo, e que existem
    importantes diferenças entre os diversos
    domínios do desenvolvimento.
   Até que ponto a falta de visão afeta o desenvolvimento
    motor?
   Adelson e Fraiburg (1974):
       Estudo longitudinal com 10 cegos congênitos, onde
        compararam as idades de diferentes habilidades motoras
        de crianças cegas com as normas obtidas por Beryley
        (1969) com crianças com visão;
       Resultados: não foram encontrados atrasos nos aspectos
        referentes    a postura, mas mostraram importantes
        atrasos nas habilidades motoras requerendo “self-
        initiated”.
   Wyatt e Ng (1997):
       Relatam o atraso de crianças cegas na habilidade de se levantar
        sozinhos usando os braços, e de rastejamento durante a infância,
        comparadas a crianças que enxergam, de 6 a 12 anos de idade;
       Sugere que isso ocorre devido à resistência de crianças cegas
        fazerem atividades.

   Adelson e Fraiberg (1974):
       Sugerem que efeitos auditivos não têm a mesma motivação que
        os visuais.

   Wilson e Halverson (1947):
       Tinham observado dificuldades da criança cega de iniciar
        movimentos espontâneos.
   Wilson e Halverson (1947):
       Observam um atraso no comportamento associado de
        ‘reaching and grasping’;

       Não encontraram atraso no desenvolvimento da
        linguística e da autonomia pessoal-social de crianças cegas
        estudas, comparadas a crianças com visão normal.
   Warren (1984):
       Sugere que o atraso no desenvolvimento de conceitos
        espaciais pode ser responsável pelo aparecimento tardio dos
        comportamentos motores requeridos ‘self-initiated
        mobility’.

   Fraiberg (1977):
       Indica que crianças cegas têm dificuldade no seu
        comportamento motor no meio externo, bem como ‘self-
        initiated mobility’, tal que ‘reaching and grasping’
        objects.
   Diferentes estudos indicam que o desenvolvimento
    motor de crianças cegas não tem seguido um único
    desenvolvimento padrão, mas diferenças individuais
    parecem ser comuns.

   Perez-Pereira e Castro (1994):
       Observa que podem existir muitas diferenças individuais no
        desenvolvimento motor, tendo este relativamente bom padrão
        em outras áreas;
       Mostra que a existência de visão residual parece ser crucial
        para o desenvolvimento motor da criança visualmente
        prejudicada.
   Conclusão:
       Várias pesquisas indicam que a cegueira afeta
        negativamente o desenvolvimento motor;
       As habilidades motoras da criança cega são
        seriamente prejudicadas, não somente no
        desenvolvimento motor grosso, mas também em
        áreas do desenvolvimento motor fino;
       Warren (1994) tem sugerido que o atraso do
        desenvolvimento motor é provavelmente devido à
        restrição de exercícios físicos de crianças cegas, não
        necessariamente a cegueira.
   Fraiberg (1977):
       Investigou o desenvolvimento cognitivo de crianças
        cegas, por uma referência Piagetiana, estudando a
        noção de permanência do objeto, ou seja, que um
        objeto continua a existir mesmo que não seja
        perceptivo;
       Por volta de seis ou oito meses de idade, a criança
        cega procurará um objeto produtor de som se ela a
        teve manejado ou tocado imediatamente antes;
       Indicou que crianças cegas adquirem coordenação
        entre ouvir e pegar antes que crianças que enxergam
        adquiriam a coordenação entre ver e pegar.
   Fraiberg (1977):
       Pontua que a procura por um objeto ruidoso necessita do
        desenvolvimento da noção de permanência do objeto.

   Fraiberg (1977), menciona dois estudos que testam
    suas hipóteses:
       Bigelow (1986): os resultados coincidem com os de Fraiberg
        (1977), em que a criança cega procura precocemente pelo som
        do objeto que foi removido de suas mãos, ao qual teve prévio
        contato.
       Rogers e Puchalski (1988), indicaram que não havia uma
        diferenciação entre criança cega e com baixa visão em relação à
        idade de permanência.
   Em síntese, dá-se a impressão que crianças
    cegas têm um baixo desenvolvimento da
    noção de permanência do objeto em relação a
    crianças que enxergam, a menos que eles se
    beneficiem das circunstâncias ambientais que
    promovem seu desenvolvimento, incluindo
    significativo montante de visão residual.
   Perez-Pereira e Castro (1994):
       Administrou a escala Reynell-Zinkin em uma criança
        com baixa visão e a quatro cegas. Eles aplicaram a
        escala em dois momentos diferentes do
        desenvolvimento das crianças;
       A escala acessa cinco áreas diferentes do
        desenvolvimento: adaptação social, percepção
        sensório-motora, exploração do meio-ambiente,
        resposta a compreensão sonora e verbal, linguagem
        expressiva.
   Perez-Pereira e Castro (1994):
       Mostra havia um importante atraso do sujeito ‘um’ em todas as
        escalas, em particular na escala de linguagem expressiva
        (conteúdo), uma vez que a criança não usa nenhum gesto
        comunicativo. Ela também apresenta atraso em todas as áreas;

       Em síntese, os resultados medidos pela escala Reynell-Zinkin dá
        uma impressão de vulnerabilidade das crianças cegas, como:
        exploração do ambiente, adaptação social e, em extensão
        menor, entendimento sensório motor.
       Estes aspectos relataram o uso da linguagem, dando a impressão
        de ter um bom padrão de desenvolvimento em crianças cegas.
        Em parte, a diferença encontrada entre uma criança cega parece
        indicar a importância da intervenção educacional, com sugerido
        por Perez-Pereira e Castro (1994).
   Jogo simbólico: referido como jogo simulado, ou seja, os jogos
    foram estudos em crianças sem deficiência por Piaget (1959),
    quando sugeriu a ligação entre jogo simbólico e o
    desenvolvimento da representação. No jogo simbólico, a criança
    usa um objeto para representar outro objeto diferente, como uma
    caixa representando um carro.

   Rogers e Puchalski (1984):
       Estudaram a capacidade de participação no jogo simbólico em 16
        crianças cegas, com idade entre 18 e 37 meses em três cenários
        diferentes. Foi observado que crianças cegas participaram do jogo
        simbólico menos frequentemente que as crianças com visão normal,
        em parte pela inadequação do cenário a criança cega. Entretanto há
        dados nos quais sugerem que o jogo simbólico pode ser associado
        com o desenvolvimento da linguagem.
   Estudos sobre o desenvolvimento cognitivo tardio em
    crianças cegas:
       Outros estudos que usaram tarefas de conservação e
        classificação Piagetinos, encontraram que crianças cegas tinham
        desenvolvimento cognitivo mais lento que crianças com visão
        normal.
       Quando os pesquisadores usaram tarefas de conservação
        requerendo percepção haptica, cegos e não cegos tiveram
        padrões de desenvolvimento similares (Cromer, 1973;
        Gottesman, 1971, 1973).
   Estudos sobre o desenvolvimento cognitivo
    tardio em crianças cegas:
      Crianças cegas obtiveram resultados que estavam mais
       próximos de crianças que enxergavam em tarefas de
       classificação verbal do que em tarefas de classificação
       figurativa (Dimcovic e Tobin, 1995).
   Outras informações sobre o atraso cognitivo incluem
    realização de conservação de substancias e peso, que
    aparecem ao redor de 8 a 11 anos, e a conservação do
    volume aparecendo entre 12 e 14 anos (Warren, 1994).
    Também é dito que o resíduo visual tem importante efeito na
    conservação de conceitos.
   Como fazer a criança cega desenvolver uma representação
    espacial sem informação visual?

   Warren (1994):
       O desenvolvimento da representação espacial em crianças cegas é
        seriamente atrasado, pois este atraso pode ser devido à inabilidade
        delas cegas reagirem a eventos nos quais o som é produzido;

   Landau, Spelke e Gleitman (1984):
       Realizou uma série de experimentos para investigar o conhecimento
        espacial de uma garota cega com idade entre 31 e 53 meses, que
        ofereceu resultados totalmente diferentes. Estes autores concluíram
        que a visão não é condição necessária para obtenção de
        conhecimento espacial, e que este conhecimento vem da Geometria
        Euclidiana, pois através dela são oferecidas características métricas.
   Millar (1994):
      Toque e movimento desempenham um papel importante no
        entendimento e representação especial em crianças cegas, já que
        estes oferecem importantes observações sobre o espaço. Entretanto,
        o autor duvida que o comportamento da criança cega possa ser
        somente explicado através de princípios da Geometria Eucliana, como
        sugere Landau, et al (1984).

   Ungar, Blades e Spencer (1995):
       Observam que crianças visualmente comprometidas de 6 a 13 anos
        de idade reconstruiu um mapa tátil com menos precisão do que
        crianças videntes da mesma idade, e que a maioria das crianças com
        baixa visão usaram estratégias inadequadas para as tarefas. Assim, os
        resultados das investigações destes autores parecem indicar que
        crianças com baixa visão com menos de 11 anos não tem problemas
        no entendimento da localização de seus movimentos e sequencia
        desses, mas que têm problemas na representação do quadro espacial
        de referência (espaço euclidiano).
   Conclusão:
       De um modo geral, parece que o desenvolvimento
        cognitivo é atrasado durante os primeiros anos.
        Provavelmente, isso ocorre porque durante os primeiros
        meses de vida a exploração do meio é baseada na
        informação proveniente do uso de suas coordenadas,
        bem como das ações da criança. Por essa razão, criança
        cega têm desvantagens em relação a crianças videntes.
        Entretanto, as crianças cegas atingem um determinado
        nível de desenvolvimento da linguagem, onde eles podem
        usar como ferramenta extremamente importante para
        coletar informações sobre o mundo externo.
   Adelson, E.; Fraiberg, S. (1974). Gross motor development in infants
    blind from birth. Child Development, 45, 14-126.
   Beyley, N. (1969). Bayley scales of infant development. New York:
    Psychological Corporation.
   Bigelow, A. E. (1986). The development of reaching in blind children.
    British Journal of Developmental Psychology, 4, 355-366.
   Cromer, R. F. (1973). Conservation by the congenitally blind. British
    Journal of Developmental Psychology, 64, 241-250.
   Dimcovic, N.; Tobin, M. J. (1995). The use of language in simple
    classification tasks by children who are blind. Journal of visual
    Impairment and blindness, 89, 448-459.
   Fraiberg, S. (1977). Insights from the blind. London, UK: Souvenir
    Press.
   Gottesman, M. (1971). A comparative study of Piaget’s
    developmental schema of sighted children with that of a group of
    blind children. Child Development, 42, 573-580.
   Gottesman, M. (1973). Conservation developmental in
    blind children. Child development, 44, 824-827.
   Landau, B.; Spelke, E.; Gleitman, H. (1984). Spatial
    knowledge in a young blind child. Cognition, 16, 225-260.
   Millar, S. (1994). Understanding and representing space:
    Theory and evidence from studies with blind and sighted
    children. Oxford, UK: Oxford Press.
   Perez-Pereira, M.; Castro, J. (1994). El desarrollo
    psicologico de los niños ciegos en la primera infancia
    [Psychological development of blind children in the early
    years]. Barcelona, Spain: Paidós.
   Reynell, J. (1979). Manual for the Reynell-Zinkin scales:
    Developmental scales for young visually handicapped
    children. Windsor, UK: NFER Publishing Company.
   Rogers, S. J.; Puchalski, C. B. (1984). Development of symbolic play in
    visually impaired young children. Topics in early childhood special
    education, 3, 57-60.
   Rogers, S. J.; Puchalski, C. B. (1988). Development of object
    permanence in visually impaired infants. Journal of visual impairment
    and blindness, 82, 137-142.
   Ungar, S.; Blades, M.; Spencer, C. (1995). Visually impaired children’s
    strategies for memorizing a map. British journal of visual Impairment,
    13, 27-32.
   Warren, D. H. (1994). Blindness and children. An individual differences
    approach. New York: Cambridge University Press.
   Wilson, J.; Halverson, H. M. (1947). Development of a young blind
    child. Journal of genetic psychology, 71, 155-175.
   Wyatt, L.; Ng, G. Y. (1997). The effect of visual impairment on the
    children’s hip and knee extensors. Journal of visual impairment and
    blindness, 91, 40-46.

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Desenvolvimento motor e cognitivo de crianças cegas

  • 2. DESENVOLVIMENTO MOTOR E COGNITIVO Ailton Barcelos da Costa
  • 3. Objetivo do capitulo:  Apresentar um panorama geral do desenvolvimento da criança cega para ajudar o leitor a entender o desenvolvimento de interações sociais e linguagem em crianças cegas.  Será demonstrado que o desenvolvimento da criança cega não é homogêneo, e que existem importantes diferenças entre os diversos domínios do desenvolvimento.
  • 4. Até que ponto a falta de visão afeta o desenvolvimento motor?  Adelson e Fraiburg (1974):  Estudo longitudinal com 10 cegos congênitos, onde compararam as idades de diferentes habilidades motoras de crianças cegas com as normas obtidas por Beryley (1969) com crianças com visão;  Resultados: não foram encontrados atrasos nos aspectos referentes a postura, mas mostraram importantes atrasos nas habilidades motoras requerendo “self- initiated”.
  • 5. Wyatt e Ng (1997):  Relatam o atraso de crianças cegas na habilidade de se levantar sozinhos usando os braços, e de rastejamento durante a infância, comparadas a crianças que enxergam, de 6 a 12 anos de idade;  Sugere que isso ocorre devido à resistência de crianças cegas fazerem atividades.  Adelson e Fraiberg (1974):  Sugerem que efeitos auditivos não têm a mesma motivação que os visuais.  Wilson e Halverson (1947):  Tinham observado dificuldades da criança cega de iniciar movimentos espontâneos.
  • 6. Wilson e Halverson (1947):  Observam um atraso no comportamento associado de ‘reaching and grasping’;  Não encontraram atraso no desenvolvimento da linguística e da autonomia pessoal-social de crianças cegas estudas, comparadas a crianças com visão normal.
  • 7. Warren (1984):  Sugere que o atraso no desenvolvimento de conceitos espaciais pode ser responsável pelo aparecimento tardio dos comportamentos motores requeridos ‘self-initiated mobility’.  Fraiberg (1977):  Indica que crianças cegas têm dificuldade no seu comportamento motor no meio externo, bem como ‘self- initiated mobility’, tal que ‘reaching and grasping’ objects.
  • 8. Diferentes estudos indicam que o desenvolvimento motor de crianças cegas não tem seguido um único desenvolvimento padrão, mas diferenças individuais parecem ser comuns.  Perez-Pereira e Castro (1994):  Observa que podem existir muitas diferenças individuais no desenvolvimento motor, tendo este relativamente bom padrão em outras áreas;  Mostra que a existência de visão residual parece ser crucial para o desenvolvimento motor da criança visualmente prejudicada.
  • 9. Conclusão:  Várias pesquisas indicam que a cegueira afeta negativamente o desenvolvimento motor;  As habilidades motoras da criança cega são seriamente prejudicadas, não somente no desenvolvimento motor grosso, mas também em áreas do desenvolvimento motor fino;  Warren (1994) tem sugerido que o atraso do desenvolvimento motor é provavelmente devido à restrição de exercícios físicos de crianças cegas, não necessariamente a cegueira.
  • 10. Fraiberg (1977):  Investigou o desenvolvimento cognitivo de crianças cegas, por uma referência Piagetiana, estudando a noção de permanência do objeto, ou seja, que um objeto continua a existir mesmo que não seja perceptivo;  Por volta de seis ou oito meses de idade, a criança cega procurará um objeto produtor de som se ela a teve manejado ou tocado imediatamente antes;  Indicou que crianças cegas adquirem coordenação entre ouvir e pegar antes que crianças que enxergam adquiriam a coordenação entre ver e pegar.
  • 11. Fraiberg (1977):  Pontua que a procura por um objeto ruidoso necessita do desenvolvimento da noção de permanência do objeto.  Fraiberg (1977), menciona dois estudos que testam suas hipóteses:  Bigelow (1986): os resultados coincidem com os de Fraiberg (1977), em que a criança cega procura precocemente pelo som do objeto que foi removido de suas mãos, ao qual teve prévio contato.  Rogers e Puchalski (1988), indicaram que não havia uma diferenciação entre criança cega e com baixa visão em relação à idade de permanência.
  • 12. Em síntese, dá-se a impressão que crianças cegas têm um baixo desenvolvimento da noção de permanência do objeto em relação a crianças que enxergam, a menos que eles se beneficiem das circunstâncias ambientais que promovem seu desenvolvimento, incluindo significativo montante de visão residual.
  • 13. Perez-Pereira e Castro (1994):  Administrou a escala Reynell-Zinkin em uma criança com baixa visão e a quatro cegas. Eles aplicaram a escala em dois momentos diferentes do desenvolvimento das crianças;  A escala acessa cinco áreas diferentes do desenvolvimento: adaptação social, percepção sensório-motora, exploração do meio-ambiente, resposta a compreensão sonora e verbal, linguagem expressiva.
  • 14. Perez-Pereira e Castro (1994):  Mostra havia um importante atraso do sujeito ‘um’ em todas as escalas, em particular na escala de linguagem expressiva (conteúdo), uma vez que a criança não usa nenhum gesto comunicativo. Ela também apresenta atraso em todas as áreas;  Em síntese, os resultados medidos pela escala Reynell-Zinkin dá uma impressão de vulnerabilidade das crianças cegas, como: exploração do ambiente, adaptação social e, em extensão menor, entendimento sensório motor.  Estes aspectos relataram o uso da linguagem, dando a impressão de ter um bom padrão de desenvolvimento em crianças cegas. Em parte, a diferença encontrada entre uma criança cega parece indicar a importância da intervenção educacional, com sugerido por Perez-Pereira e Castro (1994).
  • 15. Jogo simbólico: referido como jogo simulado, ou seja, os jogos foram estudos em crianças sem deficiência por Piaget (1959), quando sugeriu a ligação entre jogo simbólico e o desenvolvimento da representação. No jogo simbólico, a criança usa um objeto para representar outro objeto diferente, como uma caixa representando um carro.  Rogers e Puchalski (1984):  Estudaram a capacidade de participação no jogo simbólico em 16 crianças cegas, com idade entre 18 e 37 meses em três cenários diferentes. Foi observado que crianças cegas participaram do jogo simbólico menos frequentemente que as crianças com visão normal, em parte pela inadequação do cenário a criança cega. Entretanto há dados nos quais sugerem que o jogo simbólico pode ser associado com o desenvolvimento da linguagem.
  • 16. Estudos sobre o desenvolvimento cognitivo tardio em crianças cegas:  Outros estudos que usaram tarefas de conservação e classificação Piagetinos, encontraram que crianças cegas tinham desenvolvimento cognitivo mais lento que crianças com visão normal.  Quando os pesquisadores usaram tarefas de conservação requerendo percepção haptica, cegos e não cegos tiveram padrões de desenvolvimento similares (Cromer, 1973; Gottesman, 1971, 1973).
  • 17. Estudos sobre o desenvolvimento cognitivo tardio em crianças cegas:  Crianças cegas obtiveram resultados que estavam mais próximos de crianças que enxergavam em tarefas de classificação verbal do que em tarefas de classificação figurativa (Dimcovic e Tobin, 1995).  Outras informações sobre o atraso cognitivo incluem realização de conservação de substancias e peso, que aparecem ao redor de 8 a 11 anos, e a conservação do volume aparecendo entre 12 e 14 anos (Warren, 1994). Também é dito que o resíduo visual tem importante efeito na conservação de conceitos.
  • 18. Como fazer a criança cega desenvolver uma representação espacial sem informação visual?  Warren (1994):  O desenvolvimento da representação espacial em crianças cegas é seriamente atrasado, pois este atraso pode ser devido à inabilidade delas cegas reagirem a eventos nos quais o som é produzido;  Landau, Spelke e Gleitman (1984):  Realizou uma série de experimentos para investigar o conhecimento espacial de uma garota cega com idade entre 31 e 53 meses, que ofereceu resultados totalmente diferentes. Estes autores concluíram que a visão não é condição necessária para obtenção de conhecimento espacial, e que este conhecimento vem da Geometria Euclidiana, pois através dela são oferecidas características métricas.
  • 19. Millar (1994):  Toque e movimento desempenham um papel importante no entendimento e representação especial em crianças cegas, já que estes oferecem importantes observações sobre o espaço. Entretanto, o autor duvida que o comportamento da criança cega possa ser somente explicado através de princípios da Geometria Eucliana, como sugere Landau, et al (1984).  Ungar, Blades e Spencer (1995):  Observam que crianças visualmente comprometidas de 6 a 13 anos de idade reconstruiu um mapa tátil com menos precisão do que crianças videntes da mesma idade, e que a maioria das crianças com baixa visão usaram estratégias inadequadas para as tarefas. Assim, os resultados das investigações destes autores parecem indicar que crianças com baixa visão com menos de 11 anos não tem problemas no entendimento da localização de seus movimentos e sequencia desses, mas que têm problemas na representação do quadro espacial de referência (espaço euclidiano).
  • 20. Conclusão:  De um modo geral, parece que o desenvolvimento cognitivo é atrasado durante os primeiros anos. Provavelmente, isso ocorre porque durante os primeiros meses de vida a exploração do meio é baseada na informação proveniente do uso de suas coordenadas, bem como das ações da criança. Por essa razão, criança cega têm desvantagens em relação a crianças videntes. Entretanto, as crianças cegas atingem um determinado nível de desenvolvimento da linguagem, onde eles podem usar como ferramenta extremamente importante para coletar informações sobre o mundo externo.
  • 21. Adelson, E.; Fraiberg, S. (1974). Gross motor development in infants blind from birth. Child Development, 45, 14-126.  Beyley, N. (1969). Bayley scales of infant development. New York: Psychological Corporation.  Bigelow, A. E. (1986). The development of reaching in blind children. British Journal of Developmental Psychology, 4, 355-366.  Cromer, R. F. (1973). Conservation by the congenitally blind. British Journal of Developmental Psychology, 64, 241-250.  Dimcovic, N.; Tobin, M. J. (1995). The use of language in simple classification tasks by children who are blind. Journal of visual Impairment and blindness, 89, 448-459.  Fraiberg, S. (1977). Insights from the blind. London, UK: Souvenir Press.  Gottesman, M. (1971). A comparative study of Piaget’s developmental schema of sighted children with that of a group of blind children. Child Development, 42, 573-580.
  • 22. Gottesman, M. (1973). Conservation developmental in blind children. Child development, 44, 824-827.  Landau, B.; Spelke, E.; Gleitman, H. (1984). Spatial knowledge in a young blind child. Cognition, 16, 225-260.  Millar, S. (1994). Understanding and representing space: Theory and evidence from studies with blind and sighted children. Oxford, UK: Oxford Press.  Perez-Pereira, M.; Castro, J. (1994). El desarrollo psicologico de los niños ciegos en la primera infancia [Psychological development of blind children in the early years]. Barcelona, Spain: Paidós.  Reynell, J. (1979). Manual for the Reynell-Zinkin scales: Developmental scales for young visually handicapped children. Windsor, UK: NFER Publishing Company.
  • 23. Rogers, S. J.; Puchalski, C. B. (1984). Development of symbolic play in visually impaired young children. Topics in early childhood special education, 3, 57-60.  Rogers, S. J.; Puchalski, C. B. (1988). Development of object permanence in visually impaired infants. Journal of visual impairment and blindness, 82, 137-142.  Ungar, S.; Blades, M.; Spencer, C. (1995). Visually impaired children’s strategies for memorizing a map. British journal of visual Impairment, 13, 27-32.  Warren, D. H. (1994). Blindness and children. An individual differences approach. New York: Cambridge University Press.  Wilson, J.; Halverson, H. M. (1947). Development of a young blind child. Journal of genetic psychology, 71, 155-175.  Wyatt, L.; Ng, G. Y. (1997). The effect of visual impairment on the children’s hip and knee extensors. Journal of visual impairment and blindness, 91, 40-46.