3. Objetivo do capitulo:
Apresentar um panorama geral do desenvolvimento
da criança cega para ajudar o leitor a entender o
desenvolvimento de interações sociais e linguagem
em crianças cegas.
Será demonstrado que o desenvolvimento da
criança cega não é homogêneo, e que existem
importantes diferenças entre os diversos
domínios do desenvolvimento.
4. Até que ponto a falta de visão afeta o desenvolvimento
motor?
Adelson e Fraiburg (1974):
Estudo longitudinal com 10 cegos congênitos, onde
compararam as idades de diferentes habilidades motoras
de crianças cegas com as normas obtidas por Beryley
(1969) com crianças com visão;
Resultados: não foram encontrados atrasos nos aspectos
referentes a postura, mas mostraram importantes
atrasos nas habilidades motoras requerendo “self-
initiated”.
5. Wyatt e Ng (1997):
Relatam o atraso de crianças cegas na habilidade de se levantar
sozinhos usando os braços, e de rastejamento durante a infância,
comparadas a crianças que enxergam, de 6 a 12 anos de idade;
Sugere que isso ocorre devido à resistência de crianças cegas
fazerem atividades.
Adelson e Fraiberg (1974):
Sugerem que efeitos auditivos não têm a mesma motivação que
os visuais.
Wilson e Halverson (1947):
Tinham observado dificuldades da criança cega de iniciar
movimentos espontâneos.
6. Wilson e Halverson (1947):
Observam um atraso no comportamento associado de
‘reaching and grasping’;
Não encontraram atraso no desenvolvimento da
linguística e da autonomia pessoal-social de crianças cegas
estudas, comparadas a crianças com visão normal.
7. Warren (1984):
Sugere que o atraso no desenvolvimento de conceitos
espaciais pode ser responsável pelo aparecimento tardio dos
comportamentos motores requeridos ‘self-initiated
mobility’.
Fraiberg (1977):
Indica que crianças cegas têm dificuldade no seu
comportamento motor no meio externo, bem como ‘self-
initiated mobility’, tal que ‘reaching and grasping’
objects.
8. Diferentes estudos indicam que o desenvolvimento
motor de crianças cegas não tem seguido um único
desenvolvimento padrão, mas diferenças individuais
parecem ser comuns.
Perez-Pereira e Castro (1994):
Observa que podem existir muitas diferenças individuais no
desenvolvimento motor, tendo este relativamente bom padrão
em outras áreas;
Mostra que a existência de visão residual parece ser crucial
para o desenvolvimento motor da criança visualmente
prejudicada.
9. Conclusão:
Várias pesquisas indicam que a cegueira afeta
negativamente o desenvolvimento motor;
As habilidades motoras da criança cega são
seriamente prejudicadas, não somente no
desenvolvimento motor grosso, mas também em
áreas do desenvolvimento motor fino;
Warren (1994) tem sugerido que o atraso do
desenvolvimento motor é provavelmente devido à
restrição de exercícios físicos de crianças cegas, não
necessariamente a cegueira.
10. Fraiberg (1977):
Investigou o desenvolvimento cognitivo de crianças
cegas, por uma referência Piagetiana, estudando a
noção de permanência do objeto, ou seja, que um
objeto continua a existir mesmo que não seja
perceptivo;
Por volta de seis ou oito meses de idade, a criança
cega procurará um objeto produtor de som se ela a
teve manejado ou tocado imediatamente antes;
Indicou que crianças cegas adquirem coordenação
entre ouvir e pegar antes que crianças que enxergam
adquiriam a coordenação entre ver e pegar.
11. Fraiberg (1977):
Pontua que a procura por um objeto ruidoso necessita do
desenvolvimento da noção de permanência do objeto.
Fraiberg (1977), menciona dois estudos que testam
suas hipóteses:
Bigelow (1986): os resultados coincidem com os de Fraiberg
(1977), em que a criança cega procura precocemente pelo som
do objeto que foi removido de suas mãos, ao qual teve prévio
contato.
Rogers e Puchalski (1988), indicaram que não havia uma
diferenciação entre criança cega e com baixa visão em relação à
idade de permanência.
12. Em síntese, dá-se a impressão que crianças
cegas têm um baixo desenvolvimento da
noção de permanência do objeto em relação a
crianças que enxergam, a menos que eles se
beneficiem das circunstâncias ambientais que
promovem seu desenvolvimento, incluindo
significativo montante de visão residual.
13. Perez-Pereira e Castro (1994):
Administrou a escala Reynell-Zinkin em uma criança
com baixa visão e a quatro cegas. Eles aplicaram a
escala em dois momentos diferentes do
desenvolvimento das crianças;
A escala acessa cinco áreas diferentes do
desenvolvimento: adaptação social, percepção
sensório-motora, exploração do meio-ambiente,
resposta a compreensão sonora e verbal, linguagem
expressiva.
14. Perez-Pereira e Castro (1994):
Mostra havia um importante atraso do sujeito ‘um’ em todas as
escalas, em particular na escala de linguagem expressiva
(conteúdo), uma vez que a criança não usa nenhum gesto
comunicativo. Ela também apresenta atraso em todas as áreas;
Em síntese, os resultados medidos pela escala Reynell-Zinkin dá
uma impressão de vulnerabilidade das crianças cegas, como:
exploração do ambiente, adaptação social e, em extensão
menor, entendimento sensório motor.
Estes aspectos relataram o uso da linguagem, dando a impressão
de ter um bom padrão de desenvolvimento em crianças cegas.
Em parte, a diferença encontrada entre uma criança cega parece
indicar a importância da intervenção educacional, com sugerido
por Perez-Pereira e Castro (1994).
15. Jogo simbólico: referido como jogo simulado, ou seja, os jogos
foram estudos em crianças sem deficiência por Piaget (1959),
quando sugeriu a ligação entre jogo simbólico e o
desenvolvimento da representação. No jogo simbólico, a criança
usa um objeto para representar outro objeto diferente, como uma
caixa representando um carro.
Rogers e Puchalski (1984):
Estudaram a capacidade de participação no jogo simbólico em 16
crianças cegas, com idade entre 18 e 37 meses em três cenários
diferentes. Foi observado que crianças cegas participaram do jogo
simbólico menos frequentemente que as crianças com visão normal,
em parte pela inadequação do cenário a criança cega. Entretanto há
dados nos quais sugerem que o jogo simbólico pode ser associado
com o desenvolvimento da linguagem.
16. Estudos sobre o desenvolvimento cognitivo tardio em
crianças cegas:
Outros estudos que usaram tarefas de conservação e
classificação Piagetinos, encontraram que crianças cegas tinham
desenvolvimento cognitivo mais lento que crianças com visão
normal.
Quando os pesquisadores usaram tarefas de conservação
requerendo percepção haptica, cegos e não cegos tiveram
padrões de desenvolvimento similares (Cromer, 1973;
Gottesman, 1971, 1973).
17. Estudos sobre o desenvolvimento cognitivo
tardio em crianças cegas:
Crianças cegas obtiveram resultados que estavam mais
próximos de crianças que enxergavam em tarefas de
classificação verbal do que em tarefas de classificação
figurativa (Dimcovic e Tobin, 1995).
Outras informações sobre o atraso cognitivo incluem
realização de conservação de substancias e peso, que
aparecem ao redor de 8 a 11 anos, e a conservação do
volume aparecendo entre 12 e 14 anos (Warren, 1994).
Também é dito que o resíduo visual tem importante efeito na
conservação de conceitos.
18. Como fazer a criança cega desenvolver uma representação
espacial sem informação visual?
Warren (1994):
O desenvolvimento da representação espacial em crianças cegas é
seriamente atrasado, pois este atraso pode ser devido à inabilidade
delas cegas reagirem a eventos nos quais o som é produzido;
Landau, Spelke e Gleitman (1984):
Realizou uma série de experimentos para investigar o conhecimento
espacial de uma garota cega com idade entre 31 e 53 meses, que
ofereceu resultados totalmente diferentes. Estes autores concluíram
que a visão não é condição necessária para obtenção de
conhecimento espacial, e que este conhecimento vem da Geometria
Euclidiana, pois através dela são oferecidas características métricas.
19. Millar (1994):
Toque e movimento desempenham um papel importante no
entendimento e representação especial em crianças cegas, já que
estes oferecem importantes observações sobre o espaço. Entretanto,
o autor duvida que o comportamento da criança cega possa ser
somente explicado através de princípios da Geometria Eucliana, como
sugere Landau, et al (1984).
Ungar, Blades e Spencer (1995):
Observam que crianças visualmente comprometidas de 6 a 13 anos
de idade reconstruiu um mapa tátil com menos precisão do que
crianças videntes da mesma idade, e que a maioria das crianças com
baixa visão usaram estratégias inadequadas para as tarefas. Assim, os
resultados das investigações destes autores parecem indicar que
crianças com baixa visão com menos de 11 anos não tem problemas
no entendimento da localização de seus movimentos e sequencia
desses, mas que têm problemas na representação do quadro espacial
de referência (espaço euclidiano).
20. Conclusão:
De um modo geral, parece que o desenvolvimento
cognitivo é atrasado durante os primeiros anos.
Provavelmente, isso ocorre porque durante os primeiros
meses de vida a exploração do meio é baseada na
informação proveniente do uso de suas coordenadas,
bem como das ações da criança. Por essa razão, criança
cega têm desvantagens em relação a crianças videntes.
Entretanto, as crianças cegas atingem um determinado
nível de desenvolvimento da linguagem, onde eles podem
usar como ferramenta extremamente importante para
coletar informações sobre o mundo externo.
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