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Mensagem “Calma”
Calma
Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
Análise
 Poema localizado na terceira parte da obra (terceiro poema de “Os Tempos”),
após os poemas “Noite” e “Tormenta” – momento em que a vida obtém uma
“Calma” inesperada, ganhando-se consistência para depois se possibilitar a
concretização do Quinto Império (assumindo-se D. Sebastião como o
libertador que reconduzirá Portugal a um novo estado). É composto por três
estrofes, duas sétimas e uma oitava de versos heptassilábicos e esquema
rimático abbcabc (nas sétimas) e abbacbbc (na oitava).
 Este é um poema rico estilisticamente uma vez que podemos encontrar
interrogações retóricas presentes nos versos 1-3, 4-5, 6-7, 11-14, que sugerem
a atitude de questionamento do sujeito poético relativamente à
existência/inexistência da “ilha” e ao seu carácter (espiritual/físico); uma
antítese presente no verso 8 (“próxima”/”remota”), que remete para a
dificuldade em avistar a ilha e para o seu carácter espiritual; e uma gradação
crescente presente no verso 11 (“nau”, “armada”, “frota”), que sugere a extrema
dificuldade que o ser humano tem em avistar a ilha.

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Calma

  • 2. Calma Que costa é que as ondas contam E se não pode encontrar Por mais naus que haja no mar? O que é que as ondas encontram E nunca se vê surgindo? Este som de o mar praiar Onde é que está existindo? Ilha próxima e remota, Que nos ouvidos persiste, Para a vista não existe. Que nau, que armada, que frota Pode encontrar o caminho À praia onde o mar insiste, Se à vista o mar é sozinho? Haverá rasgões no espaço Que dêem para outro lado, E que, um deles encontrado, Aqui, onde há só sargaço, Surja uma ilha velada, O país afortunado Que guarda o Rei desterrado Em sua vida encantada?
  • 3. Análise  Poema localizado na terceira parte da obra (terceiro poema de “Os Tempos”), após os poemas “Noite” e “Tormenta” – momento em que a vida obtém uma “Calma” inesperada, ganhando-se consistência para depois se possibilitar a concretização do Quinto Império (assumindo-se D. Sebastião como o libertador que reconduzirá Portugal a um novo estado). É composto por três estrofes, duas sétimas e uma oitava de versos heptassilábicos e esquema rimático abbcabc (nas sétimas) e abbacbbc (na oitava).  Este é um poema rico estilisticamente uma vez que podemos encontrar interrogações retóricas presentes nos versos 1-3, 4-5, 6-7, 11-14, que sugerem a atitude de questionamento do sujeito poético relativamente à existência/inexistência da “ilha” e ao seu carácter (espiritual/físico); uma antítese presente no verso 8 (“próxima”/”remota”), que remete para a dificuldade em avistar a ilha e para o seu carácter espiritual; e uma gradação crescente presente no verso 11 (“nau”, “armada”, “frota”), que sugere a extrema dificuldade que o ser humano tem em avistar a ilha.