SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 88
1
2



     MARÍLIA MESQUITA GUEDES PEREIRA




PROPOSTA DE UM PROGRAMA DE LEITURA PARA
   PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL EM
          BIBLIOTECAS PÚBLICAS




              Editora Universitária
                  João Pessoa
                      1996
3




DEDICATÓRIA


Ao bom Deus, pois sem Ele, não teria
sido possível a realização deste
trabalho.
A Normando Guedes Pereira, meu pai,
“in memoriam”,      pelo exemplo e
dedicação à frente do Instituto de
Proteção à Infância da Paraíba e pelo
que dele aprendi e estou usando na
vida.
A Catherine H. Roberts, que não tive o
prazer    de     conhecer,    grande
batalhadora pela causa da deficiência
visual nos Estados Unidos, a nossa
homenagem e saudade.
A minha mãe, irmão, irmãs, cunhados,
cunhadas e sobrinhos, pelo apoio em
todos os momentos.
4



                         AGRADECIMENTOS



Para o desenvolvimento das idéias apresentadas neste livro gostaria de
agradecer especialmente a influência e a contribuição das seguintes
instituições e pessoas:

A nossa gratidão é extensiva ao FNDE – Fundo Nacional de
Desenvolvimento do Ministério da Educação e Desporto pelo suporte
financeiro que permitiu viabilizar esta publicação através do convênio nº
00005737/96, FNDE/UFPB.

Aos portadores de deficiência visual e, especialmente ao Bibliotecário
PAULO DA SILVA CHAGAS colega e amigo e à Profª. JOANA
BERLARMINO DE SAUZA e a MARIA FELISMINA DOS SANTOS, sem
os quais não teria a motivação necessária para elaborar este livro.

Ao Prof. ALVIN H. ROBERTS, CARREN BOWMAN e JANE BOWMAN,
americanos, pela amizade, contribuição bibliográfica dada à pesquisa e,
principalmente, pela experiência altamente enriquecedora, permitindo-me
consolidar aos pouquinhos os meus conhecimentos, pois acredito que
ainda tenho muito que aprender junto à comunidade cega da Paraíba.

À amiga MAY BROOKING NEGRÃO – Assessora do Escritório Regional
e do Comitê Permanente da Seção da América Latina e Caribe da IFLA
por ter acreditado e incentivado na nossa pesquisa.

À FEBAB – Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários na
pessoa de sua presidente – Bibliotecária SELMA MENDES FONTES
SODRÉ, pelo estímulo, incentivo, amizade e solidariedade nos momentos
difíceis.

Ao Diretor da Editora Universitária da UFPB, Prof. JOSÉ DAVID CAMPOS
FERNANDES, pelo apoio e empenho na confecção desta obra.

Agradeço de modo especial, às amigas MARIA DO SOCORRO
AZEVEDO F. FERNANDEZ VÁSQUEZ e ANA MARIA GONÇALVES DOS
SANTOS PEREIRA, pelas críticas, apoio, incentivo e sugestões.

E, finalmente a todos que buscam compreensão, respeito, justiça social e
liberdade para o portador de deficiência visual.
5




                  MENSAGEM DO EXCEPCIONAL




ACEITA-ME Como sou. Por questão de justiça e não por piedade.

TORNA-ME Um ser útil, porque de esmolas não quero viver.

IGNORA Meu defeito e ama,.me como uma criança normal.

ILUMINA. Meu caminho para que eu não mergulhe na sombra tristonha do
medo.

FAZ-.ME Refletir que meu início foi igual ao teu início.

ACEITA Meu sorriso triste, única maneira compreensível de de mostrar
gratidão.

OLHA-ME, Sou humano como você.

LIVRA-ME Da ignorância e da dependência, teu dever de cidadão.

PÕE Em meus lábios a luz de um sorriso e não a sombra tristonha do
medo.

AJUDA-ME A não ser tão pesado a meus queridos pais, fazendo minha
         reintegração à sociedade.

SAIBA Que as ilusões que cercaram o meu nascer foram as mesmas com
      que teus pais sonhavam.

DESPERTA, Com teu afeto a minha mansidão contra a agressividade que
           avasalha, nós não nascemos como desejaríamos e não é
           justo que sejamos abandonados quando temos muito
           menos condições de defesa.

                                                       (Autor desconhecido)
6


                                  PREFÁCIO



      É com muita honra que aceitamos o convite de Marília Mesquita
Guedes Pereira para prefaciar seu livro Biblioterapia: Propostas de um
Programa para Portadores de Deficiência Visual em Bibliotecas Públicas.
      Trata-se de um trabalho pioneiro no Brasil, na área de Biblioterapia
para cegos, com enfoque no papel da leitura e que teve sua origem na
pesquisa desenvolvida pela autora, quando da preparação de sua
dissertação de Mestrado em Biblioteconomia, defendida na pós-
graduação da área, no Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Federal da Paraíba, em abril de 1990.
          A problemática da reabilitação e ajustamento do deficiente visual
tem caráter universal; todavia, em nosso meio social ela se apresenta de
modo mais grave e, portanto, merecedora de maiores estudos. Na
verdade, o cego é visto, entre nós, muito mais como objeto de
comiseração e alvo de assistência humanitária do que como um ser com
imenso potencial e amplas possibilidades de participar do processo social
e do contexto produtivo. .Mas, como direcionar ações, que possam não
somente contribuir para o ajustamento psicossocial do cego e ao mesmo
tempo fornecer-lhe instrumentos que lhe possibilite a integração ao seu
meio social, tornando-o um elemento participante e útil à comunidade?
          A proposta nos vem, tanto do ponto de vista teórico como prático,
através     da   Biblioterapia,   particularmente   como   concebida   pela
especialista Marília Pereira, Bibliotecária do Setor Braille da Biblioteca
Central da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. Em seu
livro Marília faz, inicialmente, um diagnóstico da situação do cego no
Brasil e no mundo, passando a analisar tentativas de estudiosos e de
instituições, no sentido de promover a melhoria de situação desses
deficientes, depois faz um histórico da Biblioterapia, desde suas origens
aos dias atuais. Finalmente, com base no levantamento realizado, onde
se configura o papel determinante da leitura, tanto como instrumento de
Jazer e de formação do homem integral, além de mecanismo capaz de
7



amenizar psicologicamente a vida do cego, a autora indica como entrosá-
lo no complexo quadro do sistema social.
        O trabalho, elaborado com muita dedicação e entusiasmo,
características da autora, afigura-se da maior valia para os profissionais
que amam na área de apoio ao deficiente visual, aí incluídos
bibliotecários, assistentes sociais, psicólogos, professores e pessoas da
área médica. O mais importante é que a metodologia sugerida tem por
base a longa experiência da autora em trabalhos os mais produtivos,
junto a instituições para cegos e, particularmente, no Setor Braille da
Biblioteca Central da UFPB..
        A obra que hoje vem à luz deve ser recebida de bom grado pelos
paraibanos e pela comunidade, pois constitui uma contribuição das mais
expressivas à escassa bibliografia existente.
        De parabéns, portanto, a autora e a todos os que contribuíram
para a consecução desta obra, cujos ensinamentos são da maior
importância     como     alternativa   para    minimização      dos    problemas
decorrentes de deficiência visual.




                          João Pessoa, 20 de setembro de 1996


                          JOSÉ ELAS BARBOSA BORGES
              Professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFPb.
8



                                                   SUMÁRIO


APRESENTAÇÃO..........................................................................................
........................................................................................................................
I. INTRODUÇÃO............................................................................................
           1.1. Estado Atual do Problema............................................................
           1.2. Situação Mundial do Cego...........................................................
II. HISTÓRICO DA BIBLIOTERAPIA.............................................................
           2.1. Origens da Biblioterapia na Biblioteconomia...............................
           2.2. Origens da Biblioterapia na Psicologia........................................
III. ORIGENS E TERMINOLOGIA DA BIBLIOTERAPIA...............................
IV. CONCEITUAÇÃO E DEFINIÇÕES DA BIBLIOTERAPIA........................
V. TIPOLOGIA E SUBDIVISÕES DA BIBLIOTERAPIA................................
VI. OBJETIVOS DA BIBLIOTERAPIA............................................................
VII. O BIBOIOTECÁRIO COMO BIBLIOTERAPAUTA..................................
           7.1. Biblioterapeuta: Revisão de Literatura.........................................
           7.2. O Biblioterapeuta: Educação e Treinamento...............................
VIII. PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE
       BIBOIOTERAPIA PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL
       EM BIBLIOTECAS PÚBLICAS...............................................................
           8.1. Introdução à Problemática dos Bibliotecários..............................
           8.2. Conceituação de Biblioteca..........................................................
           8.3. Objetivos.......................................................................................
                     8.3.1. Objetivo Geral.................................................................
                     8.3.2. Objetivos Específicos.....................................................
               8.4. Organização Básica de um Programa de Biblioterapia para
                  Portadores de Deficiência Visual em Bibliotecas Públicas..........
           8.5. Metodologia..................................................................................
                     8.5.1. Clientela..........................................................................
                     8.5.2. Instalação........................................................................
                     8.5.3. Recursos Humanos........................................................
                     8.5.4. Recursos Materiais.........................................................
                     8.5.5. Horário............................................................................
                     8.5.6. Recursos Financeiros.....................................................
                     8.5.7. Avaliação........................................................................
                     8.5.8. Divulgação......................................................................
IX. BIBLIOGRAFIA PROPOSTA PARA UM PROGRAMA DE
         BIBLIOTERAPIA ENVOLVENDO DEFICIENTES VISUAIS.................
X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................
9



LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS



ALA – American Library Association

CENESP – Centro Nacional de Educação Especial

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MILS – Máster in Library Sciences

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

SEPS – Secretaria de 1º e 2º Graus

UIC – The University of Illinois / Chicago

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e
Cultura

VA – Administração de Veterano
10



                              APRESENTAÇÃO




          Este livro originou-se do meu trabalho de dissertação do Mestrado
em Biblioteconomia da UFPB, A BIBLIOTERAPIA EM INSTITUIÇÕES
DE DEFICIENTES VISUAIS: UM ESTUDO DE CASO, em 1989. De lá
para cá venho desvendando com curiosidade, persistência e admiração
as causas e os efeitos da Biblioterapia entre os portadores de deficiência
visual.

      É um trabalho de conteúdo simples, que espero seja de utilidade
para os graduandos dos cursos de Biblioteconomia, Psicologia e
Educação Especial, e para os bibliotecários que estão à frente das
Bibliotecas Públicas e que vem se interessando pelo assunto, na
esperança de suprir as informações que lhe são negadas.

      No mundo de hoje, espera-se que o bibliotecário brasileiro seja
capaz de voltar-se para a sociedade e criar meios alternativos para
solucionar os problemas voltados para este setor especial da Ciência da
informação.

      Ressalte-se que houve necessidade de se proceder a uma análise
crítica e retrospectiva global de Biblioterapia, desde os seus primórdios
até o seu estado atual. Partiu-se de dados relatados na bibliografia de
que a Biblioterapia é uma técnica importante, tanto para o aumento de
informações do portador de deficiência visual, como por se constituir
num elemento motivador de sua vivência e de seu ajustamento social
através desse processo de leitura orientada.

      Citou-se a problemática da cegueira, tanto nos países desen-
volvidos como naqueles em desenvolvimento, sendo analisadas as
implicações dessa situação nas aspirações do cego, mormente numa
sociedade competitiva como a nossa. Particularizam-se as vantagens das
técnicas de leitura como um possível método biblioterapêutico de
11



utilidade para o deficiente visual. Considerou-se, com especial atenção a
posição do Bibliotecário como Biblioterapeuta. Abordou-se ainda a pos-
sibilidade das Bibliotecas Públicas atuarem junto a contingentes cegos
vinculados a instituições de educação para esses deficientes.

      Finalmente, foi incluída uma Bibliografia para um programa de
Biblioterapia e uma Bibliografia detalhada sobre essa técnica, para
utilização por bibliotecários, educadores, outros técnicos, pessoas
interessadas e envolvidas com a problemática.




                       João Pessoa, 20 de setembro de 1996


                                       Marília Mesquita Guedes Pereira
                                         Coordenadora da Sub-Comissão
                                          Brasileira de Bibliotecas Braille.
12



I - INTRODUÇÃO

1.1 - Estado Atual do Problema



       Educação pode ser definida como um processo de contínua
reconstrução da experiência, com o propósito de ampliar e aprofundar o
seu conteúdo social.

       A história da Educação fornece subsídios através dos quais,
verifica-se que, desde os primórdios da existência do homem, a ação
educativa esteve presente, ditada pela necessidade de sobrevivência e
de conservação da espécie. Essa necessidade, obviamente, varrou de
época para época, fazendo também com que se desenvolvessem
sistemas educacionais que atendessem às aspirações de cada povo e de
cada época, proporcionando à sociedade mudanças e contínuo
desenvolvimento.

        Já entre os povos primitivos nota-se a procura, por todos os
meios, de melhoria dos processos de transmissão da experiência,
precursora dos métodos educacionais; graças a tal esforço, a educação
vem sofrendo um processo de transformação marcante.

        Em se tratando da educação do excepcional, pode-se verificar
uma certa lentidão em seu desenvolvimento, ocasionada por fatores
diversos, entre os quais se destaca a concepção de muitos povos
antigos, que eram propensos a desprezar e mesmo a eliminar portadores
de deficiência física ou mental.

        O aparecimento das primeiras instituições para educar o
deficiente visual fez com que muitos educadores se interessassem pela
causa e partissem para a tentativa de engajá-lo na sociedade, buscando
melhores técnicas e processos didáticos que lhes possibilitassem um
melhor ajustamento. Chegou-se a um consenso de que o deficiente
visual, como membro de uma sociedade, não poderia ficar alheio ao
13



progresso do mundo e sem uma assistência necessária ao seu desenvol-
vimento.

        E importante ressaltar que uma parte considerável da população
mundial (entre 10 e 15%) é portadora de deficiências sensoriais, motoras
ou mentais, que limitam sua capacidade de se beneficiar da educação
normal. Essas pessoas precisam de uma educação adequada às suas
possibilidades, aptidões e necessidades - uma educação especial, como
se costuma chamar, que lhes permita desenvolver suas potencialidades a
fim de que possam se tomar membros de pleno direito da sociedade a
que pertencem e alcancem um desenvolvimento pessoal que lhes
proporcione meios de se tomarem independentes.Daí ser fundamental
considerar a educação como um meio de proporcionar aos deficientes
visuais um atendimento especializado, tendo em vista o seu ajustamento
nos planos físicos, intelectual, emocional, social e econômico.

        De fato, pode-se perceber que a educação especial é uma peça
fundamental no processo de reabilitação, sendo assim necessária a
todos os que experimentam ou podem experimentar grandes e
sucessivas dificuldades para aprender e aproveitar as oportunidades
oferecidas às demais pessoas, pela educação normal.

        Nesse contexto, há de se considerar a concepção de GORN (31)


                        a informação pertence, juntamente com a
                        matéria e a energia, a trilogia dos fenômenos
                        básicos que constituem os fundamentos de
                        todas as atividades humanas.

        Toma-se oportuno enfatizar que a biblioteca, como um dos
instrumentos de disseminação da informação, assume importância vital
dentro deste contexto, principalmente, quando engajada no processo
educacional. Nesse sentido, FERREIRA. (28) lembra que:


                        Em nossos dias não se pode mesmo conceber
                        ensino sem utilização de bibliotecas as quais,
14



                        além de possibilitarem acesso à informação,
                        têm um papel da maior relevância, enquanto
                        favorecem o desenvolvimento de potenciais,
                        capacitando pessoa a tomarem suas próprias
                        decisões.



        Os comentários aqui apresentados indicam que a biblioteca
constitui uma dessas ferramentas que deve estar em perfeita harmonia
com o desenvolvimento global da educação, particularmente num
engajamento com a educação dos excepcionais, notadamente, dos
deficientes visuais.

        A fim de se evitar a marginalização dessas pessoas, vários
países estão se esforçando para propiciar a sua integração à
comunidade, considerando as deficiências visuais dentro de bases
legais. Cumpre registrar ainda que a preocupação com os problemas
psicossociais dos cegos ainda não assumiu a importância devida nos
países em desenvolvimento.

        Atualmente,    estamos   presenciando um. ressurgimento        de
interesse pela situação e pelo futuro das pessoas excepcionais. Após o
alerta da Assembléia das Nações Unidas, na sua trigésima primeira
sessão, realizada em 16/12/1976, foi aprovada a Resolução 31/123
elegendo 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes e
propondo incentivos a um trabalho nesse campo, prevendo-se uma
revisão e uma avaliação de resultados até 1991.

        De acordo com os trabalhos e estudos publicados, a Assembléia
Geral das Nações Unidas aprovou um plano de ação mundial para a Ano
Internacional, atrayés da Resolução 34/154,       que previa atividades a
serem levadas a cabo a nível nacional, regional, e internacional, tanto no
plano de prevenção como no da readaptação dos indivíduos já
incapacitados. Esse plano de ação seria implantado a longo prazo, em
favor da integração dos incapacitados à sociedade e de sua participação
integral na vida econômica e social.
15



       O esquema conceitual propõe quatro itens:

a) o campo humanitário, cobrindo ao mesmo tempo a idéia de respeito
  à pessoa humana e de dignidade humana, do ponto de vista da justiça
  social. Em outras palavras, os sentimentos de caridade e de piedade
  devem ser substituídos por ações e medidas legislativas e afirmativas,
  no que se refere aos incapacitados;

b) o campo psicológico, no qual se trata principalmente de informar e
  de formar a opinião pública sobre a natureza das incapacitações, as
  necessidades específicas dos incapacitados e as necessidades de que
  a sociedade favoreça o desenvolvimento de suas potencialidades. O
  que querem os incapacitados é que os aceitemos como pessoas, que
  têm, sem dúvida, necessidades especiais, para cuja satisfação é
  necessária a ajuda da sociedade, de tal maneira que não sintam mais
  a humilhação ou a negação de sua própria pessoa e de seu meio
  social. Nesse campo, cabe uma grande responsabilidade aos veículos
  de divulgação de massa;

c) o campo a prevenção, que é a área por excelência da Organização
  Mundial da Saúde (OMS). O adágio "mais vale prevenir que remediar"
  aplica-se tanto ao plano científico como ao do planejamento. Afirmam
  certos estudos que 30 a 40% das vítimas incapacitadas poderiam ter
  sido salvas. Nos campos da saúde e da educação, o papel dos centros
  de atendimento de cuidados primários e das instituições escolares é
  capital. A institucionalização dos exames médicos periódicos nos
  países industrializados deve ajudar os pais na identificação, sob todos
  os aspectos, de doenças incapacitantes tais como a desnutrição, as
  moléstias venéreas e as afecções pulmonares. Assim, deye-se dar às
  mães a possibilidade de se submeterem a visitas pré-natais e pós-
  natais, podendo os professores exercer certa pressão no sentido de
  que tais exames se tomem obrigatórios.

d) Deveriam ser elaboradas estratégias apropriadas de prevenção e
  de tratamento dos incapacitados, levando em conta o nível de
16



  desenvolyimento dos países. Uma dessas estratégias, por exemplo,
  pode ser encontrada na publicação "Saúde para Todos no ano 2.000"
  da OMS.

e) o campo da participação, exigindo que o plano de ação se apoie em
  bases realistas, razão pela qual seria conveniente estabelecer
  distinção entre os deficitários capazes de participar integralmente de
  processos de desenvolvimento e os que são a tal ponto incapacitados
  que não poderiam contribuir para a vida econômica de seus países. A
  efetiva participação dos incapacitados, ligada á igualdade de
  oportunidades, não deve ser encarada exclusivamente de um ponto de
  vista humanitário, mas, ao contrário, no âmbito total da sociedade, que
  não tem interesse algum em perder ou malbaratar seus recursos
  humanos. Essa participação deve ser encarada em todos os níveis e
  em todos os setores, desde o cultural e o social, até ao econômico e o
  político. De fato, a questão assume toda sua importância quando se
  sabe que o desenvolvimento de recursos humanos é considerado uma
  condição imprescindível para acelerar o processo de desenvolvimento
  e o advento de uma nova ordem econômica e social.

       Partindo desses pontos relevantes, deve-se considerar que,
entre os objetivos da Assembléia Geral das Nações Unidas para o Ano
Internacional de Deficientes - 1981, estavam:


       a) auxiliar as pessoas deficientes no seu ajustamento à socie-
       dade;
       b) educar e informar o público dos direitos das pessoas defi-
       cientes;
       c) promover medidas efetivas para a realização das pessoas
       deficientes.



        Estes objetivos visam a uma participação completa dos
deficientes, igual à dos outros cidadãos, na vida de suas sociedades. E
17



os objetivos fornecem metas pertinentes àqueles bibliotecários, que
serviriam, entre outras pessoas, como elementos de apoio educacional
ao deficiente.

        Constata-se ainda que os objetivos da Organização das Nações
Unidas (ONU) também implicam uma abordagem tríplice: a) serviço,
destinados a indivíduos com visão reduzida, para as agências que os
servem; b) serviços para o público em geral, que precisa entender as
necessidades especiais; c) e as intenções de tais serviços.

        Na realidade, pode-se afirmar que os incapacitados têm o direito
de participar plenamente da vida e do desenvolvimento da sociedade à
qual pertencem. É nosso dever permitir-lhes exercer esse direito.

        Toma-se     oportuno   ainda   enfatizar   que   desde   então,   e
especialmente na última década, têm sido alcançados importantes
progressos em técnicas educacionais e introduzidas consideráveis
inovações no campo da educação especial. Assim, descobriu-se que
ainda pode ser feito pelas pessoas deficientes, muito mais do que se
imaginava a princípio. Muitos desses progressos técnicos podem ser
adaptados às necessidades dos países em desenvolvimento, cujos
recursos em matéria de instalações e pessoal são limitados. Com
referência ao cego, a deficiência visual já não é sintoma dramático da
vida moderna. Hoje, os mais aperfeiçoados métodos permitem a rápida
reabilitação do deficiente.

        No Brasil do ponto de vista legal, a ação educativa não faz
discriminação entre a criança normal e o excepcional. Este direito é
assegurado em leis, tais como:
a) Artigo 88, da lei 4.024, de dezembro, de 1961, que fixa as Diretrizes e
   Bases da Educação Nacional, e estabelece:


                         a educação de excepcionais deve, no que for
                         possível, enquadrar-se no sistema geral da
                         educação, a fim de integrá-los na comunidade.
18



b) A lei 5.962, de 1971, corroborando a anterior, preconiza que o
   educando deve ser tratado com suas diferenças individuais, quando
   diz, no seu Artigo 9:


                           [...] os alunos que apresentem deficiências físicas
                           deverão receber tratamento especial de acordo
                           com as normas fixadas pelos componentes dos
                           Conselhos de Educação.


c) O 1º Plano Setorial de Educação e Cultura do MEC (19721974) com o
   Projeto Prioritário nº 35, definiu como sua finalidade máxima:


                           [...] promover em ação coordenada, em todo
                           território nacional, a expansão e melhoria de
                           atendimento aos excepcionais fixando e
                           implementando estratégias decorrentes de
                           princípios doutrinários e de política que orientam
                           a educação especial.


d) Normas do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP),
   quando estabelece que:


                           ... a educação, do ponto de vista filosófico,
                           fundamenta-se em valores éticos, sociais e em
                           axiomas científicos que defendem o princípio
                           doutrinário de que a função da Educação é
                           valorizar cada novo homem, como indivíduo e
                           como ser social. (IPSECD-72/74).


        Em todas essas palavras está implícito o sentido universal da
Educação, englobando, portanto, os excepcionais.

e) A Declaração Universal dos Direitos do Homem, endossada pelo
   Brasil, que garante indistintamente a todos, a educação, quaisquer
   que sejam as origens ou condição social.

f) A Declaração dos Direitos da Criança, também encampada pelo Brasil,
19



explicita, em seu quinto princípio, os direitos dos excepcionais, levando os
educadores em geral a assumir, conscientemente, a responsabilidade de
valorizar cada deficiente como indivíduo e como ser social.

        Tentando sintetizar esta seqüência geral, cabe ressaltar a
necessidade de uma integração do deficiente visual junto à sociedade,
através de uma filosofia participante. Em trabalhos publicados, observa-
se que os primeiros movimentos independentes realizados por cegos
visam, à criação de fontes de trabalho e rendimento para os mesmos.
Isto ocorre por um motivo fundamental: o cego não preparado
profissionalmente pelas escolas existentes, sempre encontra dificuldades
para ser aceito nas empresas e sempre está à margem do sistema
produtivo do país.

        Ora, os indivíduos sem profissão não têm condições psicológicas
e profissionais de pleitearem e conquistarem um trabalho, o que os
levaria a fundarem sociedades, que lhes possam propiciar certa
segurança. Investigando a história, tais sociedades produziram a
segregação de pessoas deficientes visuais, tomando-as muitas vezes
dependentes de grupos mais fortes, sem aquela real autonomia pela qual
lutavam. Ademais, a segregação dos cegos é um dos piores males a
impedir a sua integração social. Recentemente, surgiram novos
movimentos de associações que buscam, baseadas num novo espírito e
calcadas numa filosofia progressista, contribuir para um programa de
ação que realmente venha a culminar com a total integração dos cegos
às comunidades em que vivem, delas participando efetivamente. Através
destes movimentos reivindicatórios, cegos se reabilitam e se profissio-
nalizam, exercendo concretamente atividades, tarefas ou funções
compatíveis com as suas limitações, podendo, em conseqüência,
sustentarem-se, terem famílias, serem cidadãos capazes e responsáveis,
iguais aos demais.

        Tecidas essas considerações, toma-se fundamental a afirmativa
de que a sociedade deve receber o cego como ele vem. Várias entidades
20



comprovaram que, uma vez reabilitado, educado e profissionalizado, o
indivíduo sem visão é recebido para participar; se ele é apresentado ao
público apenas educado, mas sem profissão, é recebido para ser
admirado; se ainda for apresentado como indivíduo sem qualquer
preparo é recebido como ainda inválido para ser sustentado ou mantido
em obras de benemerência.

        É evidente que muitos destes empecilhos são reconhecidos
universalmente, no que diz respeito ao deficiente visual; todavia, como se
sabe, o cego com aptidão e qualificação poderá no início, ser recebido
com restrição, mas, se após a oportunidade que obteve, corresponder à
expectativa, passará a ser acreditado, constituindodo-se este fato a sua
aceitação através do trabalho e, em conseqüência, a sua integração soci-
al.

        Chega-se assim à convicção de que os entraves relativos à
integração social do cego residem, tanto na falta de preparo dos
mesmos, como no trabalho pouco objetivo das entidades e órgãos
responsáveis por sua preparação educacional e especialização. Na
verdade, a sua especialização profissional é a maior, responsável pela
sua aceitação na grande sociedade.

        E conveniente ressaltar as dificuldades enfrentadas por muitas
das organizações existentes; todavia, sente-se também, e isto pode ser
comprovado, que elas têm uma instintiva reação a qualquer movimento
renovador que possa contrariar sua filosofia de ação. Entidades há que
rejeitam a cooperação e o trabalho paralelo, mantendo-se enclausuradas
dentro de princípios cujo valor integrador para o cego é muito discutível.
De uma realidade lamentável estamos seguros: de um modo geral, um
dos lugares onde o cego está menos integrado é na sua instituição ou
órgão   precipuamente     destinado   a   sua   educação,    reabilitação,
profissionalização e integração social. Aí, muito raramente, o cego
participa realmente daquele processo de socialização e de integração.

        Dentro de nossa análise, chegamos à percepção de que, apesar
21



da criação, pelo govemo, de órgãos destinados à aplicação de novas
técnicas e métodos na preparação de cegos para uma vida integrada,
não tem havido a evolução esperada de mentalidade dos educadores e
responsáveis pela política tiflológica que possa acompanhar o progresso
atual. Para a grande parte dos educadores brasileiros, o cego, enquanto
"educando", é um indivíduo apregoado como detentor de grandes
valores e possibilidades. Todavia, no momento em que o cego tiver de
participar de atividades sociais nas mesmas condições que as de seus
educadores, este sistema deve recebê-lo numa equipe de trabalho. Seria
mesmo aconselhável que se fizesse um levantamento para se constatar,
concretamente, o grau de aceitação a indivíduos deficientes de visão,
nos quadros de trabalho das próprias instituições especializadas, onde o
indivíduo foi reabilitado e educado. A experiência obtida dessa maneira
ofereceria grandes possibilidades de se ajustar o deficiente à função.

         Outro aspecto a se considerar é uma legislação adequada à
integração social. Existem muitas leis criadas com esse propósito, sob o
impacto emocional, mas cujo cumprimento, nunca foi exigido, ou por
culpa dos próprios cegos ou de seus educadores. Cumpre ressaltar que
tal integração existe na legislação em alguns estados e municípios do
país. Essas leis permitindo o ingresso do indivíduo com deficiência visual
nos serviços públicos, não são, todavia, cumpridas. Sua execução
depende ainda da descoberta, na hora certa, de alguém que julgue que
elas devam ser cumpridas. Caso contrário, são LEIS FRIAS E MORTAS.
Nesse sentido, torna-se oportuno criar uma estrutura adequada que
venha a dar a necessária sustentação legal para que a sociedade seja
levada    a reconhecer os direitos do cego. Na verdade, somente
dispondo-se de instrumentos jurídicos é que os seus direitos estarão
realmente garantidos.

         É oportuno lembrar, considerando o acima exposto que, no caso
brasileiro, se a biblioteca não buscar superar as características que lhe
são atualmente marcantes, sobretudo em termos de elitismo e
passividade, continuar-se-á a verificar a ausência dos cegos nos planos
22



governamentais e o nãodesempenho das suas verdadeiras funções na
Educação, Cultura, Informação e na Recreação.

        Por outro lado, fatores como a linguagem, a locomoção
independente, as habilidades físicas e a coordenação motora geral,
alguns processos perceptíveis, maneirismos e, especialmente, reações
sociais à deficiência sensorial, situam os focos de dificuldades que uma
pessoa cega encontra para viver feliz, integrada, para participar
competitivamente da sociedade, e para usufruir dos seus recursos
potenciais. Estes são vários e abundantes, daí ser fundamental atender
devidamente a estas pessoas cegas, dando-lhes uma perspectiva futura
da realização pessoal.

        Outro aspecto que deve ser considerado é ressaltado por Drog
citado por MELO. (47)

                         ... a informação é uma necessidade do homem e ‘a
                         necessidade de informação é contínua e
                         permanente mesmo para o mais treinado dos
                         especialistas’.


        Acredita-se que se houver informação utilitária, lazer e técnica
biblioterapêutica de acordo com a necessidade desse estrato social, isto
irá oportunizar o ajustamento bio-psíquico, social e pedagógico da
clientela cega, atrayés de sua participação no programa de integração e
reintegração social, atendendo às necessidades de uma população
carente de tais serviços.

        MELO (47) salienta a importância fundamental da informação:

                         Quando concebida como um recurso que afeta
                         todas as áreas do conhecimento humano,
                         quando bem utilizada por quem detém o
                         poder decisório, pode contribuir para provocar
                         transformações no campo social, político e
                         econômico e conduzir ao processo de
                         conquista de melhores condições de vida a
                         nível individual e social.
23



        Deve-se considerar fator primordial para a educação e cultura
das pessoas o acesso ao acervo cultural, sobretudo, através de livros.
Verificamos, no entanto, que a pessoa cega encontrar-se-à impedida
deste acesso se não lhe forem providenciadas as publicações especiais
impressas no sistema Braille. Assim sendo, esta providência é altamente
necessária, principalmente se levarmos em conta que o livro se constitui
num dos recursos de aprendizagem, aperfeiçoamento e distração, de
acesso tão fácil para as pessoas videntes e tão difícil para as pessoas
cegas que, na maioria das vezes, dependem de iniciativas isoladas,
quando contam com a boa vontade, interesse ou compreensão de
algumas pessoas.


1.2. Situação Mundial do Cego


      Tão antiga quanto a própria Organização Mundial da Saúde é a
sua preocupação pelo imenso problema representado pela cegueira. E
foi a compilação de dados para fins de publicação em 1966, das
“Estatísticas epidemiológicas e vitais”, da OMS, que proporcionou uma
visão ampla do cenário mundial da deficiência visual. Quatro anos mais
tarde, a Organização enviou aos seus Estados-Membros um questionário
que possibilitou a atualização e o encaminhamento desses dados        à
consideração da Assembléia Mundial da Saúde reunida em Genebra,
em 1972.

      As cifras apresentadas a seguir podem fornecer uma idéia das
dimensões desse problema de saúde, embora se deva observar que os
índices citados se aplicam com freqüência a segmentos demográficos
relativamente limitados ou talvez se baseiem em distintos critérios, não
sendo, portanto, estritamente comparáveis entre si. É possível que, em
certos países e regiões, a situação tenha mudado bastante desde a
elaboração das cifras.

      De significação especial é o fato de muitos países africanos
24



revelarem prevalência particularmente alta de cegueira, dado o número
relativamente alto de pessoas examinadas. Embora oscile, via de regra,
entre 150 a 300 por 100.000 habitantes, a prevalência de cegos naquela
Região é maior nos seguintes países: Etiópia (380-450); Quênia
(1.050-1.150); Malawi (724); Nigéria Setentrional (1.000); Camarões
Setentrional (684); Serra Leoa (952); Tunísia (450); Tanzânia, sem
Sanzibar (569); Uganda (1.842) e Zâmbia (500-750).

      Em sua maioria, as causas de cegueira são oficialmente
“desconhecidas” ou “indeterminadas”, mas, para citar os exemplos do
Egito e da África do Sul, a causa principal é atribuída a doenças
infecciosas, vindo a seguir os acidentes.

        Quanto às Américas, os índices de prevalência fornecidos variam
de 80 a 90 por 100.000 habitantes na Argentina e no Uruguai, a 969 em
Cuba. Nos Estados Unidos a prevalência é de 214, com uma população
cega total estimada em 385.000 habitantes. O Brasil e o México registram
prevalências comparativamente baixas de l47 e 101 e uma população
cega de 60.700 e 16.880, respectivamente.

        Destaque para a edição do CORREIO SAÚDE (53), afirmando
que segundo a Organização Mundial de Saúde, quando a população
brasileira era de 130 milhões de habitantes, 13 milhões (10%) eram
indivíduos portadores de algum tipo de deficiência. Desses 5% (6,5
milhões) eram deficientes mentais; 2 % deficientes físicos; 1,3%
defIcientes auditivos; 0,7% deficientes Visuais e 1% portadores de
deficiência múltiplas. De um certo modo, ¼ de nossa população (25%)
está de certa forma comprometida intimamente com o problema da
defIciência, uma vez que o coeficiente populacional indica algo em tomo
de 4,2 pessoas por família.

        Dos 13 milhões de deficientes, 4,3 milhões tem um atendimento
considerável e os 8,7 milhões restantes, são deficientes desassistidos
que não recebem, lastimavelmente, qualquer tipo de assistência.

        A cada minuto, nascem 100 crianças das quais 20% morrem no
25



primeiro ano; 70% dos que sobrevivem, em virtude da fome e da
ausência de assistência médica, tomar-se-ão crianças subnutridas, as
quais estarão sujeitas a danos físicos e mentais. A fome associada à falta
de educação gera a miséria social que culminará em seu vértice, com a
deficiência.

        Das causas determinantes das deficiências 22% são gênicas (5%
recessivas; 1% dominantes); 1% ligadas ao cromossomo X e 15%
poligênicas); 15% relacionados às alterações cromossômicas e 3% com
anomalias dos cromossomas sexuais. As causas ambientais (fome,
substâncias químicas tóxicas, radiações ionizantes e outras) perfazem
20%.; as doenças específicas (infecções, lesões cerebrais) 5%, causas
várias 15% e causas desconhecidas 23%..

        Referindo-se também, a reportagem de SARMENTO (69)
dizendo que:


                       ... a população de portadores de deficiência visual
                       é de cerca de 0,5% da população de cada país ou
                       localidade, o que representa, em termos de
                       Paraíba, algo em torno de 20 mil pessoa e, destas 4
                       mil só em João Pessoa.


        De acordo com REZEENDE, FIORAVANTE (56):


                       ... 1% da população brasileira é deficiente
                       visual (em milhões de pessoas). É do nosso
                       conhecimento que possuímos uma população
                       de 146.825.475 milhões de habitantes, conforme
                       o IBGE de agosto de 1995.


        Citam-se as doenças infecciosas como a causa mais importante
da cegueira na América Central, na Venezuela e na Argentina, seguindo-
se as oftalmias hereditárias e prénatais. As doenças infecciosas também
ocupam o primeiro lugar no Canadá e nos Estados Unidos, ao passo que
os acidentes são a segunda causa em importância no México e nos
Estados Unidos e a terceira na Argentina e no Canadá.
26



        Confirmando-se os estudos, deve-se atentar para a similitude de
padrões na Ásia, onde as doenças infecciosas são a principal causa de
cegueira em praticamente todos os países, exceto no Japão, em que são
superadas pelos acidentes. O mesmo país informou existirem 248 cegos
por 100.000 habitantes. Em diferentes pontos do continente asiático, al-
guns dos índices mais altos de prevalência registram-se na Arábia
Saudita (3.000); Iêmen (4.000); Iraque (500-1.000); Paquistão (1.000); Sri
Lanka (470); República Democrática do Vietnã (428); Indonésia (239);
China (450) e Hong-Kong (1.392).

        Na Europa, a prevalência varia de 51, na Bélgica, a 272 na
Islândia (embora atinja 647 em Gibraltar). Com relação a alguns dos
países maiores, as cifras são as seguintes: República Federal da
Alemanha, 60; França, 107; Grécia, 170; Hungria         ,   l00; Itália, 200;
Holanda, 50-60; Polônia, 66; Portugal 93; Espanha, 56; Romênia, 77;
Suécia, 196; Suíça, 195; Inglaterra e País de Gales, 209 e Iugoslávia,
100. Na União Soviética, com população superior a 200 milhões de
habitantes, registrou-se um total de 179.317 cegos.

        Em decorrência dos resultados, observa-se que entre as causas
de cegueira, as doenças infecciosas ocupam o primeiro lugar somente
em Malta. Na Europa, as condições hereditárias e pré-natais são as mais
importantes, seguidas de perto pelos acidentes, que são a causa
principal na Austria, Tcheco-Eslováquia, Dinamarca, República Federal
da Alemanha, Finlândia e Itália.

        Na Oceania, a Austrália registra 222 cegos por 100,000
habitantes, e a Nova Zelândia, 135. Com exceção de Fidji, onde é de
1.190, a incidência na~ ilhas da Polinésia é inferior a 145. Na Austrália e
na Nova Zelândia, a causa principal vincula-se às condições hereditárias,
pré-natais e metabólicas degenerativas, seguidas, a considerável
distância, por infecções e acidentes.

        Fazer uma estimativa do total de cegos no mundo é tarefa quase
impossíye1, porque as percentagens contidas nas estatísticas baseiam-
27



se principalmente em grupos limitados de cada comunidade nacional.
Mas as cifras extraídas do Questionário preparado pela OMS, em 1970,
revelam a existência de 8,5 milhões de pessoas reconhecidamente
cegas. Claro está que esse total é inferior ao verdadeiro e que, para
refletir a situação real com mais precisão, seria razoável estimar em l0 a
16 milhões o número de cegos no mundo. A visão de outros milhões é
tão precária que, para fins de educação, trabalho e assistência social, é
preciso considerá-las cegas. A menos que se comece a agir, esses
totais, que vêm aumentando, poderão duplicar nos próximos 25 anos.

        Pode-se fazer nítida distinção entre as causas de cegueira no
mundo em desenvolvimento e nos países mais industrializados. Entre os
países em desenvolvimento, o tracoma, a oncoceríase e a xeroftalmia
são os três grande problemas de saúde relacionados à visão.

        Somente de tracoma, calcula-se que há no mundo entre 400 e
500 milhões de casos, 120 milhões dos quais na Índia. Desses
pacientes, cerca de dois milhões são cegos. A oncoceríase afeta um total
de cerca de 20 milhões de pessoas, mas na bacia do Volta Superior, na
África Ocidental, que é a área mais afetada de uma população total de 10
milhões, há um milhão de vítimas e destas 70.000 são cegas. A xeroftal-
mia é causa importante de cegueira na Indonésia, em certas áreas da
Índia, em outros países da Ásia Ocidental, e em algumas partes da
América Central e da África. Acredita-se que há hoje pelo menos 100.000
pessoas cegas em consequência do mal.

        Há hoje consenso geral de que, em países com baixo nível de
desenvolvimento econômico a produtividade é baixa, também tendo esse
atributo pessoas afetadas pela cegueira. O padrão de vida é baixíssimo,
o que não permite que os cegos consumam em maior escala. Percebe-se
deste modo que se pode fazer nítida distinção entre as causas de
cegueira no mundo em desenvolvimento e nos países industrializados.

       Nos países industrializados, sobrevive o desenvolvimento
econômico, assegurando-se dessa forma padrões de vida mínimos, que
28



são continuamente ajustados para melhor. Isso implica no aumento das
atividades de atenção médica, educação e reabilitação, de equipamentos
especiais e de movimentos de caixa. Com o desenvolvimento
econômico, a maioria das ocupações toma-se mais especializada e
produtiva.

        Em se tratando de países do Terceiro Mundo, em termos de
produção, os cegos contribuem menos para a economia e, em termos de
consumo, principalmente de serviços de saúde, exigem mais. Verifica-se
que as suas necessidades básicas referem-se a emprego, habitação e
assistência médica, num sentido amplo, e que, uma das dificuldades
neste sentido é a falta de informação.

        Daí se constata a necessidade de informação dos cegos como
fator representativo para sua integração em um novo sistema social, e a
importância da participação da biblioteca é crucial nesse processo de
ressocialização, visto ser o seu objeto de atuação a própria informação.

        MIRANDA (48), afirma que a:

                        ... informação e o instrumento que seleciona e
                        classifica os indivíduos em nossa sociedade,
                        isto é, somos o que sabemos. Esta informação
                        não se restringe em termos exclusivos de
                        instrução escolar ou acadêmica mas, sobretudo,
                        e acima de tudo, através do uso de informação
                        para enfrentar os desafios da vida modera e
                        para decidir entre as opções que essa luta pela
                        vida nos coloca frente a frente.


        É necessário, então, repensar nosso sistema de baixo para cima,
através de consulta à própria comunidade cega. Afinal de contas o que
está em jogo é a mudança da própria sociedade.

        Convém sempre lembrar o pensamento de Carlos Castelo Branco
questionado por MIRANDA(48):

                        O que é fechado, no Brasil, não é governo. A
                        sociedade é que é fechada e exclui de seu contexto
                        e estrutura a esmagadora maioria da população. O
29



                        governo apenas externaliza uma tendência
                        histórico-cultural que só agora – e Oxalá seja de
                        forma irreversível – dá mostras de cansaço e cede
                        a novas formas de convivência e de gerência de
                        Poder.


Pode-se aceitar, de acordo com MIRANDA(48)


                        ... que as nossas bibliotecas são o espelho fiel de
                        nossa desigualdades regionais, econômicas e
                        sociais, explicando-se, dessa forma, que a maioria
                        das bibliotecas brasileiras de todos os tipos
                        (especializadas, universitárias, públicas, para
                        cegos, escolares) encontram-se no triângulo Rio-
                        São Paulo-Belo Horizonte e ao longo da costa
                        atlântica.


        Com a população brasileira ocorre o mesmo. As cidades mais
ricas recebem, consequentemente, os melhores serviços bibliotecários;
os acervos são cada vez mais pobres ou inexistentes à medida que nos
afastamos dos grandes centros econômicos. É mister afirmar que se
pretende uma melhor distribuição da riqueza e da renda nacional, será
necessário redistribuir as oportunidades de leitura de nossa população.
Do contrário, o sistema bibliotecário, ao invés de influir no avanço cultural,
limitar-se-á a perpetuar as atuais desigualdades.

      Pode-se dizer finalmente que, onde não existe sistema educacional
desenvolvido, não há lugar para o livro. A biblioteca para os cegos deve,
pois, deslizar sobre dois trilhos: o do sistema educacional (socialização
da leitura) e o da busca livre da informação e do lazer, a democratização
da leitura enfim, visto que é necessário se ter um sistema educacional
voltado para a leitura como instrumento aberto de socialização.
30



              II – HISTÓRICO DA BIBLIOTERAPIA




      Neste capítulo temos a intenção de mostrar a origem, no tempo,
da Biblioterapia, narrando detalhes de sua história, seu desenvolvimento
e situação atual.

        Uma revisão da história da Biblioterapia demonstra sua vitalidade
contínua. Mas, para entender a evolução da Biblioterapia na sua forma
comum atual e a de "leiturra direta" e "discussão de grupo", deve-se
tratar origens da Biblioterapia tanto dentro da Biblioteconomia como da
Psicologia.

        A preocupação com a origem da Biblioterapia como idéia surgiu
em épocas remotas pois alguns povos já consideravam a leitura como
uma das melhores medidas terapêuticas no tratamento de doentes
mentais. Assim, foram descobertas em bibliotecas antigas e medievais,
inscrições sobre o valor terapêutico da leitura. Os gregos afirmavam que
suas bibliotecas eram repositário de remédio para o espírito, enquanto
que os romanos achavam que as orações poderiam ser lidas para
pacientes melhorarem sua saúde mental.

        ROBERTS(57), afirma que, desde a antiguidade, os livros
especialmente as biografias, têm sido usadas transmitindo informações
sobre a vida, de geração a geração. Salienta que a Bíblia foi usada para
preparar jovens para a vida, fornecendo conforto e cura espiritual, em
circunstâncias trágicas. Assim a pessoa que, sofrendo por perda de um
ente querido, se volta para a Bíblia a fim de obter palavras de conforto,
está fazendo Biblioterapia pessoal.

        Implicitamente formulada há milênios, sabe-se que Ramsés II,
faraó egípcio, mandou colocar no frontispício de sua biblioteca a
inscrição: “Remédios para a Alma". Entre os romanos do primeiro
século, vamos encontrar em Aulus Cornelius Celsus, palavras de
31



estímulo ao uso da leitura e à discussão dos preceitos dos grandes
oradores como forma terapêutica. TEWS(70) observa que na Roma do
primeiro século, a leitura e a medicina estavam associadas.

           Inúmeras discussões são mantidas sobre as origens do termo
Biblioterapia, sabendo-se entretanto, que surgiu na América do Norte,
pelo menos na primeira parte do século SI~, em trabalho relacionando
biblioteca e ação terapêutica.

          Como se vê, as primeiras experiências em Biblioterapia foram
feitas por médicos americanos de 1802 a 1853, os quais indicavam que,
uma das melhores receitas para seus pacientes hospitalizados, era a
leitura    de   livros    cuidadosamente    selecionados    e   adaptados      às
necessidades individuais. O interesse aqui recai sobre a Biblioteca
Pública de Boston em 1853, que se revelou a maior Biblioteca Pública
daquela época, possuíndo uma postura assistencial o tempo todo.

Um estudo foi realizado por Benjamim Rush, numa conferência sobre a
Construção e Administração de Hospitais, proferida em 10 de novembro
de 1802, no qual lembra que para o divertimento e instrução dos
pacientes de um hospital, uma pequena biblioteca deve, por todas as
razões, ser parte do seu mobiliário. Recomendou também, dois tipos de
leitura, aquelas que fornecem entretenimento, consistindo os livros de
viagens,      que   ele    considerava     extremamente    divertidos   para   os
convalescentes e para pessoa confinadas por doenças crônicas, e, a que
transmite saber, devendo versar sobre assuntos filosóficos, morais e
religiosos.

          Outro aspecto de destaque é que, a partir de 1904, a
Biblioterapia passa a ser considerada como um ramo da Biblioteconomia.
Isso ocorreu quando uma certa bibliotecária, assumindo a direção de
uma biblioteca, em Massachusetts, resolveu fazer suas próprias
experiências, obtendo bons resultados.

          No final do século XVIII, um número de instituições humanitárias,
notadamente, o Pinel na França, o Chiarugi na Itália e Tuke na Inglaterra,
32



procuraram melhorar o tratamento dos insanos. O método era oferecer
leitura como recreação.

        Pelo começo do século XIX, essas reformas se espalharam pela
América. Até meados do século XIX, nos hospitais mentais e prisões
existia toda uma motivação religiosa na demanda de livros.

        Por outro lado, há informações de que a Biblioterapia floresceu
recebendo um grande impulso, durante a primeira guerra mundial,
quando bibliotecários leigos, notadamente da Cruz Vermelha, ajudaram a
construir rapidamente bibliotecas nos hospitais do Exército. Desde aquela
época que o Bureau dos Veteranos dos Estados Unidos teve um grande
papel na Biblioterapia.

        No século XIX, mudaram as atitudes dos acadêmicos em relação
à biblioteca, pois com o desenvolvimento do conhecimento, a
Biblioterapia adquiriu maior amplitude tomando-se profissionalizada e
especializada. Cumpre ressaltar que, para se entender a evolução da
Biblioterapia, em sua forma comum atual de leitura dirigida e discussão
do grupo, devemos nos aprofundar na Biblioteconomia e na Psicologia.

        As décadas de 40, 50 e 60 produziram muito mais publicações e
algumas pesquisas significativas.

        Contudo, é necessário ressaltar que debates sobre a ausência de
uma estrutura científica para a Biblioterapia tinham sido ouvidos por
vários anos, até que um esforço maior para colocar o assunto na
perspectiva própria, foi completado em 1949 na forma de uma
dissertação de doutorado:    Biliotherapy: a Theoretical and Clinical –
Experimental Study, da autoria Caroline Shrodes, nos Estados Unidos.

        Completando tal entendimento, é mister salientar que a
Biblioterapia freqüentemente evoca um ambiente hospitalar como ficou
constatado; entretanto, a tendência da Biblioterapia é atingir muitas
outras áreas do conhecimento.
33



        Por volta de 1956, ROBERTS(70) assumiu um papel mais
agressivo no uso da literatura como técnica de aconselhamento. Durante
1960, começou a usar livros com os cegos para facilitar a vida
profissional das pessoas afetadas pela cegueira.

        Uma revisão da história da Biblioterapia demonstra que a leitura
é fundamental, não importa se identificada como arte ou ciência Se os
Biblioterapêutas, no futuro, praticarem profissionalmente a Biblioterapia e
fizerem estudos detalhados e conscientes sobre seus livros, usando sua
imaginação e senso crítico, a Biblioterapia certamente irá prosperar para
o bem de todos os envolvidos.



2.1 Origens da Biblioterapia na Biblioteconomia


         Essa habilidade Biblioterapia é uma aplicação refinada de uma
função normal de aconselhamento de leitura. Por sua vez, o serviço de
leituras promove o desenvolvimento de outras funções bibliotecárias.

        No século XIX houve mudanças nas atitudes acadêmicas para
com a Biblioteca, que se tomou profissionalizante e especializada. Justin
Wilson, empregado pela Havard University em 1877, estabeleceu um
precedente quando abriu as prateleiras para os estudantes e permitiu a
circulação dos livros. Isso foi o começo do serviço de referência. Essa
primeira proposta para um programa real de assistência ao leitor havia
sido feita em 1876 por Samuel Sweet Green da Worcester Public Library.

        Em 1883 a Boston Public Library, que era a maior Biblioteca
Pública da época, tinha um cargo de assistente em tempo integral. Ao
mesmo tempo, Melville Dewey, no Columbia College, estava tentando
adotar a idéia da Biblioteca Moderna de ajuda aos leitores.

        A verdadeira frase Serviço de Referência foi primeiro usada para
substituir qjuda aos leitores e assistência    aos leitores em 1891, no
Library Joumal. Por volta de 1900, o serviço de referência estava
disponível não apenas na Biblioteca Pública de Detroit, mas também nas
34



filiais. Em 1905, a Biblioteca Pública de Washington DC, estabeleceu o
cargo de anfitriã Bibliotecária, para guiar seus visitadores. Na época era
um cargo ligado à referência, mas em 1945, foi considerado um cargo de
circulação de leitores. Nos anos 20 e 30, o aconselhamento a leitores
vinha à frente da Biblioteconomia. Em fins dos anos 40, Flexner estava
desenvolvendo programas de leitura para grupos variados tanto a nível
local como nacional. Essa iniciativa de leitura, começada em 1931, é
precursora óbvia da Biblioterapia, pois ela desenvolveu listas de leitura
para adultos, em liberdade condicional, depois de entrevistar os
indivíduos envolvidos. Muitos dos serviços do aconse1hamento ao leitor
nos anos 40, foram integrados ao Departamento de Educação de Adultos
das Bibliotecas Públicas. Um dos exemplos mais conhecidos da
educação de adultos nos anos 40 é o programa de grandes livros,
desenvolvido na Universidade de Chicago em 194.5. Esse programa de
discussão baseava-se em livros oriundos do desenvolvimento da leitura
orientada terapeuticamente, que era o serviço chamado de Biblioterapia.




2.2 Origens da Biblioterapia na Psicologia



        Para melhor compreensão do assunto, seria bom considerar aqui
que a história da terapia de grupo foi registrada em 1905, quando Dr.
Joseph Platt, de Boston, começou um grupo de aulas para pacientes
tuberculosos. .Ias alguns grupos de terapia encontram suas origens nos
dramas gregos, nas peças medievais e em encontros religiosos, assim
como na Biblioterapia.

        No começo dos anos 20, Alfred Adler advogou um Grupo
terapêutico nos terrenos político e econômico. Como um socialista, ele
sentia que a classe instrutora deveria ter acesso à terapia e que uma
abordagem de grupo seria a única forma financeiramente viável. Ele abriu
algumas clínicas em Viena, mas seu trabalho foi menos popular lá do que
35



nos Estados Unidos. Em 1926 tomou-se um professor na Universidade de
Columbia.

        Outro pioneiro no campo foi Jacob Moreno que em 1931 criou o
termo Terapia de grupo. Moreno declarou que tinha usado a técnica em
Viena desde 1910. Eventualmente, seu trabalho tomou-se a base para o
treinamento dos Bethel Laboratories, em 1946, que por sua vez levou aos
modernos Grupos T.

        O psiquiatra Maxwel Jones citado por RUBI(67) explica que foi
no limiar da Segunda Guerra Mundial que a Terapia de grupo realmente
floresceu.


                       A terapia de grupo na Grã Bretanha fez grandes
                       progressos na Segunda Guerra Mundial por que
                       um psiquiatra tinha mais sucesso com 20 casos em
                       grupos do que com 4 em psicoanálise ...
                       Acreditamos (mas não provamos) que os
                       resultados descritos não podiam ser alcançados
                       somente pela psicoterapia e hospitalização.




        Outro aspecto a ser mencionado diz respeito a todos; os tipos de
psicoterapia, tanto individuais, como de grupo, que floresceram depois da
Segunda Guerra Mundial. . A guerra e suas consequências trouxeram
muitas mudanças, incluindo novas; terapias, porque a terapia individual
não foi capaz de suportar novos pacientes criados pela guerra.

        Não é coincidência que a Segunda Guerra Mundial, na era de
1939-1943, também produziu trabalhos significativos no campo da
Biblioterapia. Os bibliotecários estavam ocupados servindo a pacientes
em hospitais e a veteranos nas ruas. Por volta de 1930, mais de 400
artigos de jornais sobre Biblioterapia foram publicados. De 1930 a 1960,
mais de l00 artigos haviam sido publicados, apenas tratando da
Biblioterapia para adultos, em pacientes hospitalizados. 2/3 das
publicações no campo, durante a década, foram publicados em jornais
nãomédicos. De 1960 a 1973, 193 artigos, mais 32 dissertações e
36



estudos de pesquisas foram publicados. Dos 131 artigos de 1970 - 1973,
330 o apareceram em jornais bibliotecários e 65% em periódicos de
outros campos tais como Enfermagem, Terapia Ocupacional: Psiquiatria
e Educação. Biblioterapia é claramente e deve ser desenvolvida como
uma atividade interdisciplinar.

       Para uma visão geral sobre a opinião e a prática da Biblioterapia,
durante as quatro décadas passadas, é útil rever os levantamentos. Até
agora, pelo menos dois levantamentos particulares e três levantamentos
da   American    Library   Association   Bibliotherapy   Committee   foram
preparados, usados e analisados conforme quadros a seguir:
37



                                  Figura 1
                 Raízes da Biblioterapia em Grupo




                                    Na Biblioteconomia
               Educação Bibliotecária               Serviço de Grupo
                     de Adulto

Serviços de                                                              Biblioterapia de
Referência                                                                   grupo


                      Guia de Leitura                      Biblioterapia Individual




                                        Na Psicologia

                                      Dinâmica de Grupo



Piscoanálise        Psicoterapia de                          Biblioterapia de
                       Grupo                                    Grupo



                                        Terapia de Grupo

                     Fonte: Extraído do RUBIN, Rhea Joyce(67)
38



                              Figura 2


      Raízes da Biblioterapia, com suas datas importantes na
Biblioteconomia, nas Ciências Humanas, na Psiquiatria e nas Ciências
Comportamentais.
39



       Mostraremos agora que, em abril de 1956, a Bibliotherapy
Committee do então Hospital Libraries Division of ALA, sob a orientação
de Margaret Hannigan, conduziu uma pesquisa para mostrar a natureza e
extensão dos serviços de Biblioterapia desenvolvido pelos membros do
Hospital Libraries Division.

        Em junho de 1961, a ALA Bibliotherapy Committe, dirigida por
Ruth Tews, conduziu um estudo para determinar o pensamento corrente
de um grupo selecionado de indivíduos engajados e interessado em
Biblioterapia e que possuíam conhecimento do potencial para o uso da
leitura de maneira terapêutica. O objetivo era obter do grupo um
consenso do que fosse Biblioterapia e do que ela poderia fazer; também
se deseja oferecer uma base para a formulação de uma definição.

        A terceira pesquisa feita pela ALA Bibliotherapy Committe,
conduzida em 1975, também usou o programa com duas finalidades.

        Todas essas pesquisas refletem as filosofias e práticas da
Biblioterapia durante os últimos trinta anos. Essas tendências tem
influenciado práticas mecânicas e dinâmicas de Bibloterapia.

         Reportando-se ao pensamento de HANNIGAN (32) diz que a
Biblioterapia é um acesso, a longo prazo, aos serviços bibliotecários,
usados para fins terapêuticos. No seu artigo da revista Libraly Trends
afirma que "a Biblioterapia é uma refinada aplicação das funções normais
do biblioterário como conselheiro do leitor". Os serviços dos leitores se
desenvolvem fora de outras funções das bibliotecas.

        Constata-se que, nos anos 70, muito tempo foi consumido para
oferecer uma ampla base do desenvolvimento da Biblioterapia como
campo, incluíndo os programas de compreensão do assunto.

       Ressalte-se a importância do maior investimento durante os anos
80, com relação aos padrões e certificados para biblioterapeutas
treinados. Questões teóricas estão sendo consideradas, assim como
necessidades de pesquisas e métodos sendo identificados e tentados.
40



       E de se prever que a ALA, na década de 80, particularmente
através de seu ALA Bibliotherapy Committe, continue desenvolvendo
estudos e pesquisas que venham a ter, cada vez mais aplicação, na
solução de problemas de comunidade.

       Concluíndo essa parte, reconhecemos que a Biblioterapia
proporcionará ao educando a formação necessária ao desenvolvimento
de suas potencialidades.
41



  III – ORIGENS E TERMINOLOGIA DA BIBLIOTERAPIA


       A   crescente       literatura   estrangeira   sobre   Biblioterapia,   e
principalmente a sua conceituação vem influenciando os bibliotecários
brasileiros que também começam a se ocupar do tema.

       Considera-se a palavra Biblioterapia, como oriunda do grego,
significando “Biblion” -      livro e “Therapia” -    tratamento. Em estudos
recentes reconhece-se SamuelMecbord Grothers              como o criador da
palavra em 1916, em artigo publicado no Atlantic Monthy existindo ainda
confusão sobre essa terminologia.

       O termo Biblioterapia não foi inteiramente aceito. Muitos disseram
que era uma designação muito ampla e sugeriram termos mais restritos
como biblio – diagnostico para avaliação, ou bibliofilaxia como o uso
preventivo pela leitura.

       Outros achavam que a nomenclatura era muito restrita e sugeriam
Bibliogomia, Biblioconselho        ou Terapia Bibliotecária. Os termos tem
aplicações mais amplas porque não são limitados pela palavra Terapia.
Terapia de grupo tutelada e Literapia tem também sido usadas para
evitar o prefixo Biblio. Como diz o Dr. Michael Shiyo, o nome Literapia,
formado por literatura e terapia, foi escolhido, principalmente para
ressaltar suas diferenças do nome mais popular Biblioterapia que foi
considerado extremamente vago e sem significado. O abuso do termo
Biblioterapia atinge toda e qualquer combinação de temas relacionados
com livros e com grupos de pacientes. Literapia               tenta enfatizar a
tendência literária – imaginativa, mais do que simplesmente estudo
didático, informativo e também, apresentar a literapia como BONA FIDE,
método da primeira qualidade da psicoterapia, ao invés de uma função
padronizada, relegado a bibliotecários.

       Outro termo relacionado de perto à Biblioterapia é Bibliotecário -
Conselheiro. Em 1951 a Uniyersity of Illinois Chicago UIC substitui o
42



Library's Reference Department pelo Department of Library Instruction
and Adrisement e planejou implantar Educação geral, Instrução de
Biblioteca e um Conselho Estudantil. Quatro bibliotecários foram
escolhidos para se tornarem Bibliotercários-Conselheiros, participando
dos cursos de treinamento do Departamento UIC. Eles deveriam ser
bibliotecários rigorosamente selecionados, treinados e experientes, com
personalidade especial e qualificações, incluindo Referência, Ensino,
Habilidade de liderança de grupos e Execução de programas de
desenvolvimento cuidadosamente planejados.

         Bibliotecáriosos - Conselheiros treinados deveriam ser capazes
de fazer muito para encorajar os leitores a aplicar livros para si próprio
através da extensão dos tipos existentes de serviços bibliotecários. O
melhor     serviço    de      referência   encontra-se   comumente      no
aconselhamento, mas sua principal preocupação é com a transmissão da
informação e solução de problemas mais ou menos imediatos. O trabalho
de aconselhamento dos leitores e da Biblioterapia, com as atenções
voltadas para as necessidades dos indivíduos, geralmente aproxima-se
do aconselhamento psicológico.

         Rubakin., um grande escritor russo, criou uma teoria de leitura
que chamou de Bibliopsicologia, formulada em 1916; publicou em dois
volumes: Introdução â Bibliopsicolologia, em 1922; naquele ano. seu
Instituto de Bibliopsicologia mudou-se de Genova para Lausanne. (Esses
fatos estão incluídos numa fascinante biografia de Rubakin escrita pelo
seu filho, inserida num livro recente sobre Bibliopsicologia). O próprio
Rubakin escreveu 70 artigos sobre Bibliopsicologia (1921-19-1-6).

         Rubakin citado por RCBI::(6S) indica que:


                           Um livro, como material-objeto será precedido
                           diferentemente por pessoas diferentes. Na nossa
                           visão quando o livro está sendo lido, ocorre um
                           fenômeno subjetivo psicológico baseado nas
                           nossas impressões que o organismo psicofísico do
                           leitor recebe dele como objeto externo. Se o
43



                        organismo do leitor tiver que se submeter a
                        alguma mudança, o mesmo livro parecerá
                        diferente para ele. Portanto o próprio livro como
                        fenômeno independente do perceptor é uma
                        entidade desconhecida... O leitor não considera o
                        fenômeno psicológico como evocado pelo texto.
                        Ele atribui ao livro que é um material objeto.



        Rubakin sentiu que esta teoria deveria causar mudanças nas
atitudes e métodos do bibliotecário. Assim deveriam voltar suas
atenções, do livro, visto como inerte, para a vida interior da personalidade
humana. E o seu leitor que cria, constrói e combina; o livro não passa de
um instrumento. O bibliotecário que não entender isso poderá converter a
melhor biblioteca num cemitério de livros.

        Dos muitos termos utilizados para "Biblioterapia", alguns foram
aplicados a novos. campos, mas a maioria surgiu por causa de
reclamações de que o termo era restrito e vago demais.

        O prefixo Biblio também é muito limitado nos dias atuais. Todos
os tipos de material audiovisual poderiam e deveriam ser usados.

        O sufixo terapia também parece uma escolha errada num tempo
em que técnicas de terapia estão proliferando. Biblioterapia não é
psicoterapia. A. palavra terapia origina-se da palavra grega para cura. No
entanto, Biblioterapia não se restringe ao contexto cura, mas vale
também como descoberta do sentido verdadeiro do mundo.

      A meta da Biblioterapia deveria ser vista internamente e ser
compreensível. É importante que os biblioterapeutas estejam conscientes
do poder que podem engendrar no cliente. Uma demonstração do poder,
por uma pessoa incapaz, manifesta-se através de uma crise nervosa ou
na realização de um crime. Agindo, ele ou ela pode chamar atenção e
simpatia e isto indica poder sobre outros. Quando a pessoa, na terapia,
aprende sobre o motivo de seu comportamento, aquele poder é
geralmente removido. Qualquer terapia de efeito deve substituir o poder
44



destrutivo por um outro poder novo e construtivo da visão interna e
compreensiva.

        A Biblioterapia e outras atividades terapêuticas ativas ajudam os
clientes a apreciar suas atividades na dança, na arte ou na compreensão.

        A   palavra   terapia   pode        também   ter   conotação   política,
relacionada a objeção. A política de terapia tradicional interpessoal toca
numa situação que envolve um paciente e um terapeuta - um recebendo
e outro prescrevendo.

        Michael Glenn, um terapeuta radical, declara que terapia hoje é
uma relação poderosa entre pessoas – uma para cima outra para baixo;
ajudante e ajudado.

        A grande vantagem da Biblioterapia é que até uma certa
extensão, o livro ou outro material faz o trabalho pelo terapeuta.
Biblioterapeutas ou outros líderes de grupo, escolhem o material, mas os
clientes individuais interpretam isso, primeiro como elemento fora do
terapeuta e deles mesmos, depois integram os ensinamentos em si
mesmos.

        A Biblioterapia de grupo utiliza não apenas o material, mas o
próprio grupo para facilitar o çrescimento individual a fim de que a tensão
terapeuta - cliente seja confortável.   .




        A política da terapia é evidente tanto nos níveis pessoal como
interpessoal. Terapia deveria significar mudança, não simplesmente
ajustamento, mas, como explica Seymom Hallek, o processo terapêutico
encoraja o paciente a tentar mais mudar a si mesmo do que ao ambiente.
Na maioria das formas de psicoterapia individual o paciente é geralmente
solicitado a examinar seu próprio sentimento e atitudes. Ele também
aprende como o ambiente afeta estes sentimentos e atitudes, mas a
principal ênfase é colocada na forma com que ele possa alterar sua
percepção e reação ao seu ambiente. Quando o paciente se concentra
no que é considerado como sua própria inadequação, ele é chamado
para ajustar-se e pode tomar-se resignado ao ajuste e ao ambiente
45



opressivo. Aceitação pode ser um meio de se fugir à responsabilidade,
mas pode também ser uma meta. Um paciente que aprenda a aceitar a
incapacidade física é um bom exemplo do caso.

        A definição de terapia como cura, o poder interpessoal e a
estrutura da terapia, posições exaltadas por médicos na nossa
sociedade, causam nos bibliotecários o temor a qualquer atividade
denominada Terapia. Outros se preocupam com as ramificações políticas
da terapia. Em qualquer dos casos, parece que a terminologia aliena as
pessoas, não a atividade de usar literatura para atingir uma visão interna.
Os bibliotecários deveriam abordar a Biblioterapia mais como atividade
recreacional e ocupacional do que como uma atividade terapêutica que
possa fazer parte de um programa médico ou que sirva como caminho
possível para uma atualização individual.
46



IV – CONCEITUAÇÃO E DEFNIÇÕES DA BIBLIOTERAPIA




      A Biblioterapia assume um importante papel na sociedade
moderna. Esta assertiva é baseada em vários estudos que têm
demonstrado como a Biblioterapia, ao longo do curso da história, vem
ocupando uma parte da organização social que cresceu e se diversificou
para atender às mudanças e necessidades psicossociais.

       No    dicionário   "DORLAND’S       ILLLUSTRATED          MIEDICAL
DICTIONARY" (1941), sob a yerbete Biblioterapia, está a seguinte
defInição: "emprego de livros e de sua leitura no tratamento de doenças
mentais". Informações apresentadas anteriormente todavia, demonstram
que a palavra já havia sido usada desde 1815.

        Por outro lado, o primeiro dicionário não especializado a registrá-
la foi o WEBSTER'S THIRD NEW INTERNATIONAL DICTIONARY,
(1961), que a definiu "uso de material de leitura selecionada como
adjuvanre terapêutico em Medicina e Psicologia, e também como "guia
na solução de problemas penais através da leitura dirigida", informando
que a palavra foi adotada especialmente pela ASSOCIA TION OF
HOSPITAL AND INSTITUTION LIBRARlES dos Estados Unidos.

       No mesmo ano acima referenciado, o dicionário Random House
definiu-a como:


                   “O uso da leitura com adjuvante na terapia”


       É necessário relatar o ponto de vista de BUONOCORE(17) no
seu Dicionário de Biblioterologia quando afirma que a Biblioterapia é a
"arte de curar as enfermidades por meio da leitura". No entanto, é válido
esclarecer, que outras definições são encontradas em autores diversos,
bibliotecários, educadores, médicos e psicólogos, apresentando suas
47



próprias impressões e interpretações.

        A esse respeito Moore & Breland citado por TEWS(70), define a
Biblioterapia como uma atividade interessante e desafiante para o
Bibliotecário, uma vez que põe vida na palavra impressa, podendo o seu
impacto sobre uma personalidade individual ter efeito curativo.

        TEWS(70) defimiu-a, com maior profundidade referindo-se a:



                        Um programa de atividade selecionadas
                        envolvendo materiais de leituras, planejadas,
                        conduzidas e controladas como um tratamento,
                        sob orientação do médico, para solução de
                        problemas emocionais ou outros.

        Um Psiquiatra conceituou-a como:


                        "O uso consciente e deliberado de materiais de
                        leitura com o propósito de alargar ou dar suporte
                        ao programa terapêutico como um todo,
                        conforme ele se relacione a um paciente
                        particular ou, em alguns casos a um grupo mais
                        ou menos heterogêneo de pacientes.


        Outra bibliotecária considerou-a "Um programa planejado de
leitura ou de atividades de leitura, para um paciente individual ou para um
grupo de pacientes".

        Outra bibliotecária subdividiu a Biblioterapia em explícita e
implícita. Esses termos foram originalmente usados para distinguir outras
terapias, porém Evelane P. Jackson, adaptou-os à Biblioterapia. À terapia
implícita é um recurso utilizado pelos conselheiros de leitores, enquanto
que a explícita é feita apenas por um terapeuta treinado.

        Recomenda-se atenção especial para essas definições:


                        "A Biblioterapia individual é um refinamento de
                        orientação do leitor enquanto que a Biblioterapia
48



                         em grupo é um híbrido campo de Psicologia e
                         Bibioteconomia usando sessões e discussões como
                         modalidade terapêutica


          Considerando-se todas essas observações, parece relevante
ressaltar o posicionamento de PERElRA(52) ao afirmar que cada uma
dessas definições representa um ponto de conflito entre as pessoas
envolvidas na Biblioterapia. Por exemplo, a Biblioterapia dos anos 30 era
centrada em hospitais, com doentes mentais que precisavam de
informações sobre suas doenças e sobre suas implicações; o instrumento
de terapia era a leitura didática usada por um grupo de médico e bi-
bliotecários. Hoje em dia, há um interesse renovado na educação de
pacientes que preencham um modelo geral. O uso de Biblioterapia se
espalhou nos contextos da educação: grupo de crianças normais
participando de sessões, usando literatura criativa, dirigidos por um
professor ou bibliotecário. Atualmente a Biblioterapia é usada por
bibliotecários públicos com dois grupos de adultos: os normais e os
perturbados.

          BRYAN(15), em 1939, escreveu um artigo Pode haver lima
ciência    da   Biblioterapia?   Ela   respondeu   sua    própria   pergunta
afirmativamente: Sim, pode haver. No entanto, ela acrescenta que o
campo      precisava   de   um    corpo   de   dados     de   pesquisadores
cientificamente treinados antes que pudesse ser considerada uma
ciência. Desde aquele tempo tem havido um debate contínuo se a
Biblioterapia é Arte ou Ciência. Uma maneira de lidar com essa pergunta
é separar o conceito de Biblioterapia em duas partes e chamar a primeira
um aspecto de Ciência e a outra de Arte.

          Brown citado por HORNEO(34) usa essa abordagem quando
sugere que:


                         "... essa prescrição de leitura no tratamento de
                         doença mental ou física pode ser vista como a
49



                       ciência da Biblioterapia e onde se tenta remediar
                       defeitos pessoais de ajudar indivíduos a resolver
                       problemas de pessoas através de sugestões de
                       leitura própria através da bibliotecária ou outro
                       indivíduo, de fora do campo médico, pode ser
                       visto como arte da Biblioterapia.


        Essa afirmação também é confirmada no Dicionário Webster.

        Para muitos, o problema vital não é a procura de uma definição,
nem mesmo os problemas de ser a Biblioterapia uma Arte ou uma
Ciência.

        Em seus estudos BEATIY(12) afirma que:


                       "A leitura é importante, não importando se é
                       identificada como uma ‘arte’ ou como uma
                       ‘ciência’.


        Neste contexto é importante esclarecer a opinião de um
psiquiatra que respondeu a um questionário dizendo que o problema não
é simplesmente definir o que a Biblioterapia é, mas fornecer uma
abordagem mais criativa para reconhecer as necessidades existentes e
conduzir tipos de Biblioterapia que sirvam a essas necessidades.

        Os comentários aqui focalizados demonstram que a Biblioterapia,
na prática e na discussão, permanece um assunto complexo. É evidente
salientar que, no presente, as observações relacionadas com a
Biblioterapia indicam um interesse vasto, apesar de algumas limitações
claramente definidas e de contínuas confusões. Cumpre ressaltar que a
Biblioterapia não está restrita a médicos e bibliotecários em hospitais e
instituições.
50



  V – TIPOLOGIA E SUBDIVISÕES DA BIBLIOTERAPIA



        No decorrer da história da civilização, pode-se verificar que
Lourell Martin citado por TFWS (70) deixou uma mensagem central para
o futuro da Biblioterapia.


                         A    pesquisa     produz   conhecimento.    O
                         conhecimento é necessário para o entendimento.
                         Entendimento combinado com habilidade levam a
                         uma ação efetiva.



        Dentro desta proposição não é possíve1 planejar Biblioterapia.
em nenhum de seus aspectos sem um adequado referencial quanto às
suas características.

        De um modo geral os especialistas concordam com a existência
de três tipos de Biblioterapia

               a) Biblioterapia Institucional
               b) Biblioterapia Clínica
               c) Biblioterapia Desenvolvimental

a) Biblioterapia Institucional se refere a que de literatura - primeiramente
   didática - com clientes, individualmente. e que já se encontra
   instituciunalizada. I nc1ui o uso médico tradicional de Biblioterapia
   cujos textos de higiene mental são recomendados a pacientes
   mentais. Isso caracteriza uma situação especial de prescrição de
   litros para doenças específicas. Este tipo de terapia é exercido por
   uma bibliotecária juntamente com um médico ou uma equipe médica.
   A meta é principalmente informativa e recreativa, embora algum
   material interno possa ser oferecido. Este, tipo de Biblioterapia não
   prevalece hoje, mas alguns programas semelhantes ainda existem. A
   Biblioterapia institucional também inclui o uso da comunicação dos
   médicos com pacientes individuais, em prática privada.
51



b) Biblioterapia Clínica - É a que se refere ao uso, numa primeira fase,
    da literatura imaginativa, com grupo de clientes com problemas
    emocionais ou comportamentais. Esses clientes podem ou não
    participar do programa voluntariamente. Os grupos podem ser
    liberados por um médico ou por um bibliotecário, mas geralmente são
    implementados por ambos, um consultando o outro. O ambiente pode
    ser um instituto ou uma comunidade, objetivando uma possível
    mudança no comportamento.

c) Biblioterapia Desenvolvimental - Refere-se ao uso de literatura de
    modo imaginativo e didático com grupos de indivíduos normais. O
    grupo de Biblioterapia é designado e liderado pelo bibliotecário,
    professor    ou   outro   profissional   ajudante,   para   promover   o
    desenvolvimento normal e autoatuação ou para manter a saúde
    mental. A Biblioterapia desenvolvimental pode ajudar pessoas em
    tarefas comuns, além de ajudá-las a suportar problemas individuais
    como divórcio, gravidez, morte e preconceitos, com refinamento das
    tarefas desenvolvimentais.

           As distinções entre esses três aspectos da Biblioterapia têm
implicações para uma Biblioterapia dinâmica e são importantes para a
discussão da educação e conscientização do seu valor. Observe-se a
característica comum aos três tipos e discussão do material após a
leitura.
52



                              Figura 3
         Características dos três tipos de Biblioterapia
            INSTITUCIONA             CLÍNICA      DESENVOLVIMENTIST
                     L                                        A
FORMATIVO   Individual ou         Grupo    ativo, Grupo ativo
            Grupo                 Voluntário    e
            geralmente            Involuntário    Grupo voluntário
            passivo
CLIENTE     Paciente médico       Pessoas     com     Pessoa normal geralmente
            ou psiquiátrico,      problemas           em situação de crise
            prisioneiro    ou     emocional ou
            cliente em prática    comportament
            privada               al
CONTRATANT Sociedade              Sociedade ou        Individual
E                                 individual
TERAPÊUTICA Equipe médica ou      Médico,             Bibliotecário, professor ou
            bibliotecária         instrutor      de   outros
                                  saúde mental
                                  ou
                                  bibliotecário,
                                  geralmente em
                                  consulta
MATERIAL      Tradicionalmente    Literatura          Literatura     imaginativa
USADO         didático            imaginativa         e/ou didática
TÉCNCIA       Discussão     de    Discussão de        Discussão de material com
              material            material, com       ênfase nas visões e reações
                                  ênfase       nas    do cliente.
                                  visões          e
                                  reações        do
                                  cliente.
LOCAL         Prática        de   Prática        de   Comunidade
              instituição         instituição
              pública        ou   privada ou de
              privada             comunidade
META          Geralmente          Visão interna       Comportamento normal e
              informativo, com    e/ou mudança        auto-realização
              alguma      visão   de
              interna.            comportament
                                  o
53



             VI – OBJETIVOS DA BIBLIOTERAPIA




          A Biblioterapia constitui assim um apoio à ação das pessoas
que estão interessadas na orientação de leitura e que não procuraram ou
podem não precisar de cuidados clínicos. Essa orientação consiste em
promover encontros efetivos entre pessoas e livros, e é tida como parte
da tarefa do programa educacional da biblioteca.

        Há de se acrescentar que nem sempre os usuários reais ou
potenciais da Biblioteca têm hábitos bem estabelecidos de leitura, pois
vêm de cursos secundários com limitações comportamentais a este
respeito, como se pode comprovar a partir dos dados de LOPES(42).

        Face a essas circunstâncias e às ponderações arroladas na parte
introdutória, aparecem formulados alguns objetivos da Biblioterapia
indicados a seguir.

        BRYAN(15), apresenta uma lista de cinco objetivos: a) evidenciar
para o leitor que ele não é o primeiro a sentir o problema; b) fazer ver ao
leitor que existe mais de uma solução para o seu problema; c) ajudar o
leitor a ver os valores el1Yolvidos na sua experiência em termos
humanos; d) oferecer fatos necessários para a solução do seu problema;
e e) encorajar o leitor a encarar realisticamente o seu problema.

        KENNETH(37), ao abordar o assunto, mostra qual tem sido a sua
preocupação, mencionando que a Biblioterapia pode SeI usada "como
meio de aquisição de informação e conhecimento sobre psicologia geral
e psicologia do comportamento humano; a leitura pode ser necessária
para capacitar o indivíduo a viver o tema "conhece-te a ti mesmo". A
leitura pode ser aconselhada para extroverter o paciente e aumentar seu
interesse por outra coisa fora de si próprio. Outros propósitos podem ser:
elevar o interesse e conhecimento de realidades externas ou efetuar um
fluxo   controlado    do   processo   inconsciente   ou   ainda     oferecer
oportunidades para identificação e compensação. Seu objetivo final é
54



ajudar aos pacientes a viverem mais efetivamente.

        Gottschalk ressalta, num trabalho de BEATTY(12) algumas
informações sobre a Biblioterapia, mencionando que a leitura prescrita
pode ajudar os pacientes a entenderem melhor suas próprias reações,
conflitos e frustrações psicológicas e fisiológicas. Por outro lado, pode
ajudar a estimular o paciente a pensar construtivamente entre as
entrevistas, possibilitando a auto-análise, amenizando futuras atitudes e
padrões de comportamento. E continua mostrando que a leitura reforça,
por percepções e exemplos, nossos padrões sociais e culturais, inibindo
padrões infantis de comportamento. Finalmente, enfoca a importância
que se deve dispensar à leitura porque ela, dessa maneira estimula a
imaginação, dando enorme satisfação ou alargando as áreas de
conhecimento. do paciente.

        ALSTON(6), esclareceu alguns objetivos, destacandose os
seguintes: “O paciente encontrará coragem para entrar em terapia ou
discutir um problema particular depois de ler sobre determinado
assunto”, mostrando que os livros podem ser usados para ajudar os
pacientes a obterem maior compreensão. sobre seus problemas,
adquirindo linguagem e idéias que lhes permitem comunicarem esses
problemas. A leitura de livros pode ajudar o paciente no processo de
socialização, oferecendo algo que ele possa compartilhar, possibilitando
a troca de idéias com outras pessoas; geralmente, as pessoas podem
encontrar novos caminhos e atitudes através dos livros. Finalmente,
existe um valor terapêutico de bom relacionamento e diversão que pode
ser encontrado nos livros, embora não se tenha dado muito valor a isto.

       Menninger citado por BEATTY(12), um dos pioneiros que
detalhou os benefícios da Biblioterapia, procurou dividí-los em
identificação, estímulo e gratificação narcisista. Mostra .como a
experiência de um livro pode ocasionar uma aberração de emoção,
alívio pelo reconhecimento de que outros têm problemas similiares, ou
projeção de suas características no caráter. Se o usuário é estimulado a
55



comparar suas idéias e valores com as do autor, isso pode resultar em
mudança de atitude. O autor também procura evidenciar que o leitor
pode alcançar gratificação narcisista, escapando de seus conflitos
através de fantasias, fazendo contato com a realidade, ou inquirindo
conhecimentos através de leitura didática.
56



   VII – O BIBOIOTECÁRIO COMO BIBLIOTERAPEUTA


7.1 Biblioterapeuta: Revisão de Literatura

      No ambiente de uma Biblioteca, uma figura-chave é a do
bibliotecário. Por esta razão, e considerando os objetivos desta pesquisa,
faz-se mister apresentar algumas reflexões sobre o papel do Biblio-
terapeuta.

        A propósito, vale, mencionar a observação de HORNE(34), para
quem o livro é, ele mesmo, um terapeuta. Os livros podem ser
ferramentas valiosas e poderosas para a comunicação, quando prescritos
cuidadosamente para indivíduos que estão perturbados.

        A leitura reflete as experiências humanas de todas as épocas e
lugares, e portanto, dá acesso aos registros de vidas, atitudes e
sentimentos. Por outro lado, vários mecanismos são postos em
funcionamento quando existe uma interação entre um leitor e um livro.

        Um leitor pode identificar-se com um personagem ou com
experiências específicas num livro e ser capaz de purificar-se de
sentimentos ou pensamentos reprimidos. O leitor também pode ganhar
com a leitura, tomando-se capaz de recuar e aceitar a realidade mais
prontamente. Ao ler e aprender que um problema não é único, o
problema parece menos amendrontador. O leitor pode conseguir um
sentimento de universalidade, com a percepção de que não está sozinho
com seus problemas no mundo e de que pode também ajudar a reduzir
os sentimentos de inferioridade porventura existentes.

        Constata-se que a leitura tem uma vantagem sobre a
comunicação humana direta porque não é tão intensiva como a palavra
falada. Um livro é Muito menos ameaçador, muito menos exigente, e
ainda assim pode oferecer muito no sentido de comunicar situações
humanas e permitir ao leitor aplicá-las à sua própria realidade.

        Entretanto, faz-se mister afirmar que o bibliotecário não é um
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília
Biblioterapia   marília

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O macaco-e-a-mola-sonia-junqueira
O macaco-e-a-mola-sonia-junqueiraO macaco-e-a-mola-sonia-junqueira
O macaco-e-a-mola-sonia-junqueiraElisangela Terra
 
Uma princesa diferente mini min
Uma princesa diferente mini minUma princesa diferente mini min
Uma princesa diferente mini minPamellaSilveira3
 
Modelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNT
Modelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNTModelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNT
Modelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNTCarolina Luz
 
Capa monografia unimontes (1)
Capa monografia unimontes (1)Capa monografia unimontes (1)
Capa monografia unimontes (1)Bia Lopes
 
Clube de leitura
Clube de leituraClube de leitura
Clube de leituraasmusic
 
Trilhas pedagógicas correta pronta
Trilhas pedagógicas correta prontaTrilhas pedagógicas correta pronta
Trilhas pedagógicas correta prontaTatiana Schiavon
 
Tópicos para a realização de um trabalho escrito
Tópicos para a realização de um trabalho escritoTópicos para a realização de um trabalho escrito
Tópicos para a realização de um trabalho escritoAdriana Sousa
 
Estrutura trabalho academico
Estrutura trabalho academicoEstrutura trabalho academico
Estrutura trabalho academicomarceloedf
 
Apresentação de Livros - NBR 6029
Apresentação de Livros - NBR 6029Apresentação de Livros - NBR 6029
Apresentação de Livros - NBR 6029Ana Glenyr
 

Mais procurados (20)

O macaco-e-a-mola-sonia-junqueira
O macaco-e-a-mola-sonia-junqueiraO macaco-e-a-mola-sonia-junqueira
O macaco-e-a-mola-sonia-junqueira
 
Uma princesa diferente mini min
Uma princesa diferente mini minUma princesa diferente mini min
Uma princesa diferente mini min
 
Minha mãe é Negra Sim.
Minha mãe é Negra Sim.Minha mãe é Negra Sim.
Minha mãe é Negra Sim.
 
Poetas Goianos..
Poetas Goianos..Poetas Goianos..
Poetas Goianos..
 
A Menina das Borboletas
A Menina das BorboletasA Menina das Borboletas
A Menina das Borboletas
 
Planejamento da biblioteca
Planejamento da bibliotecaPlanejamento da biblioteca
Planejamento da biblioteca
 
Jograis
JograisJograis
Jograis
 
Ficha Final MIC.pdf
Ficha Final MIC.pdfFicha Final MIC.pdf
Ficha Final MIC.pdf
 
Modelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNT
Modelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNTModelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNT
Modelo de Capa e contracapa Cadêmica - ABNT
 
Festa no céu
Festa no céuFesta no céu
Festa no céu
 
Capa monografia unimontes (1)
Capa monografia unimontes (1)Capa monografia unimontes (1)
Capa monografia unimontes (1)
 
PINTURAS DE CARAVAGGIO
PINTURAS DE CARAVAGGIOPINTURAS DE CARAVAGGIO
PINTURAS DE CARAVAGGIO
 
A primavera da lagarta atividades1
A primavera da lagarta  atividades1A primavera da lagarta  atividades1
A primavera da lagarta atividades1
 
Clube de leitura
Clube de leituraClube de leitura
Clube de leitura
 
Trilhas pedagógicas correta pronta
Trilhas pedagógicas correta prontaTrilhas pedagógicas correta pronta
Trilhas pedagógicas correta pronta
 
Tópicos para a realização de um trabalho escrito
Tópicos para a realização de um trabalho escritoTópicos para a realização de um trabalho escrito
Tópicos para a realização de um trabalho escrito
 
Estrutura trabalho academico
Estrutura trabalho academicoEstrutura trabalho academico
Estrutura trabalho academico
 
Projeto folclore
Projeto folcloreProjeto folclore
Projeto folclore
 
O Coelho Sem Orelhas
O Coelho Sem OrelhasO Coelho Sem Orelhas
O Coelho Sem Orelhas
 
Apresentação de Livros - NBR 6029
Apresentação de Livros - NBR 6029Apresentação de Livros - NBR 6029
Apresentação de Livros - NBR 6029
 

Destaque

Prism for International Students in Spring 2011
Prism for International Students in Spring 2011Prism for International Students in Spring 2011
Prism for International Students in Spring 2011Niji-no-Kai
 
11g r2 upgrade_companion
11g r2 upgrade_companion11g r2 upgrade_companion
11g r2 upgrade_companionSherif Salama
 
¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José Aldanas
¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José Aldanas¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José Aldanas
¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José AldanasFEANTSA
 
Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia
Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia
Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia Vanessa Sanson
 
Dart - светлая сторона силы?
Dart - светлая сторона силы?Dart - светлая сторона силы?
Dart - светлая сторона силы?Mikhail Davydov
 
BowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlan
BowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlanBowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlan
BowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlanEmma Nelson
 
Conferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCAL
Conferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCALConferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCAL
Conferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCALEOI Escuela de Organización Industrial
 
Digitalisierung leicht gemacht - Keynote
Digitalisierung leicht gemacht - KeynoteDigitalisierung leicht gemacht - Keynote
Digitalisierung leicht gemacht - KeynoteDetlev Sandel
 
¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...
¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...
¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...Women in Nuclear España
 
Que son los Derivados
Que son los DerivadosQue son los Derivados
Que son los DerivadosMeliMelissa95
 
Presentación software aplicado
Presentación software aplicado Presentación software aplicado
Presentación software aplicado maritzaamaya18
 

Destaque (20)

Biblioterapia_Módulo 1
Biblioterapia_Módulo 1Biblioterapia_Módulo 1
Biblioterapia_Módulo 1
 
Módulo 3
Módulo 3Módulo 3
Módulo 3
 
Biblioterapia_Módulo 2
Biblioterapia_Módulo 2Biblioterapia_Módulo 2
Biblioterapia_Módulo 2
 
Biblioterapia
BiblioterapiaBiblioterapia
Biblioterapia
 
Biblioterapia
BiblioterapiaBiblioterapia
Biblioterapia
 
Biblioterapia
BiblioterapiaBiblioterapia
Biblioterapia
 
Prism for International Students in Spring 2011
Prism for International Students in Spring 2011Prism for International Students in Spring 2011
Prism for International Students in Spring 2011
 
11g r2 upgrade_companion
11g r2 upgrade_companion11g r2 upgrade_companion
11g r2 upgrade_companion
 
TUTORIAL COMO SUBIR UN VIDEO A YOUTUBE
TUTORIAL COMO SUBIR UN VIDEO A YOUTUBETUTORIAL COMO SUBIR UN VIDEO A YOUTUBE
TUTORIAL COMO SUBIR UN VIDEO A YOUTUBE
 
¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José Aldanas
¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José Aldanas¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José Aldanas
¿Qué va primero, la vivienda o el empleo? - María José Aldanas
 
Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia
Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia
Regional Workshop Progetti MER e REMIDA, 5 settembre 2014 - Gorizia
 
Dart - светлая сторона силы?
Dart - светлая сторона силы?Dart - светлая сторона силы?
Dart - светлая сторона силы?
 
BowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlan
BowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlanBowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlan
BowmanCannovaNelson_FinalDistributionPlan
 
Conferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCAL
Conferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCALConferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCAL
Conferencia: CÓMO SACAR PARTIDO A LAS REDES SOCIALES EN EL COMERCIO LOCAL
 
Portada
PortadaPortada
Portada
 
Digitalisierung leicht gemacht - Keynote
Digitalisierung leicht gemacht - KeynoteDigitalisierung leicht gemacht - Keynote
Digitalisierung leicht gemacht - Keynote
 
¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...
¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...
¿Qué significa la energía nuclear para Extremadura y España? - José Carlos An...
 
Que son los Derivados
Que son los DerivadosQue son los Derivados
Que son los Derivados
 
Presentación software aplicado
Presentación software aplicado Presentación software aplicado
Presentación software aplicado
 
Biblioterapia
BiblioterapiaBiblioterapia
Biblioterapia
 

Semelhante a Biblioterapia marília

Cabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Cabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na EscolaCabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Cabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na EscolaGeraa Ufms
 
história e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanahistória e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanaculturaafro
 
Moreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Moreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na EscolaMoreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Moreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na EscolaGeraa Ufms
 
Gadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdf
Gadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdfGadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdf
Gadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdfRaiana Lima
 
000717678historia d eum barracao
000717678historia d eum barracao000717678historia d eum barracao
000717678historia d eum barracaoWilmar Souza
 
celestino monografia
celestino monografiacelestino monografia
celestino monografiasanlena
 
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012citacoesdosprojetosdeotavioluizmachado
 
Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...
Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...
Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...Geraa Ufms
 

Semelhante a Biblioterapia marília (20)

Monografia Joerly Pedagogia 2011
Monografia Joerly Pedagogia 2011Monografia Joerly Pedagogia 2011
Monografia Joerly Pedagogia 2011
 
Monografia Viviane Pedagogia 2009
Monografia Viviane Pedagogia 2009Monografia Viviane Pedagogia 2009
Monografia Viviane Pedagogia 2009
 
Cabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Cabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na EscolaCabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Cabelo Bom, Cabelo Ruim. Coleção Percepções da Diferença na Escola
 
história e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africanahistória e cultura afro brasileira e africana
história e cultura afro brasileira e africana
 
Monografia Adriana Pedagogia 2012
Monografia Adriana Pedagogia 2012Monografia Adriana Pedagogia 2012
Monografia Adriana Pedagogia 2012
 
Monografia Joseneide Pedagogia 2012
Monografia Joseneide Pedagogia 2012Monografia Joseneide Pedagogia 2012
Monografia Joseneide Pedagogia 2012
 
Moreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Moreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na EscolaMoreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na Escola
Moreninho, Neguinho, Pretinho. Coleção Percepções da Diferença na Escola
 
monografia Viviane pedagogia 2010
monografia Viviane pedagogia 2010monografia Viviane pedagogia 2010
monografia Viviane pedagogia 2010
 
Biologia
BiologiaBiologia
Biologia
 
Gadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdf
Gadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdfGadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdf
Gadotti_boniteza_de_ um_ sonho Ensinar_e_aprender com sentido.pdf
 
Monografia Rita Pedagogia 2012
Monografia Rita Pedagogia 2012Monografia Rita Pedagogia 2012
Monografia Rita Pedagogia 2012
 
Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013
Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013
Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013
 
Monografia Vilma Pedagogia 2012
Monografia Vilma Pedagogia 2012Monografia Vilma Pedagogia 2012
Monografia Vilma Pedagogia 2012
 
000717678historia d eum barracao
000717678historia d eum barracao000717678historia d eum barracao
000717678historia d eum barracao
 
Tese de katya mitsuko zuquim braghini na puc sp 2010
Tese de katya mitsuko zuquim braghini na puc sp 2010Tese de katya mitsuko zuquim braghini na puc sp 2010
Tese de katya mitsuko zuquim braghini na puc sp 2010
 
celestino monografia
celestino monografiacelestino monografia
celestino monografia
 
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
 
Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...
Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...
Professora, existem Santos Negros? Histórias de Identidade Religiosa Negra. C...
 
Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013
Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013
Jornal Corujinha n.72 | 2º semestre 2013
 
Cultura Infantil
Cultura InfantilCultura Infantil
Cultura Infantil
 

Último

Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Vitor Mineiro
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxLaurindo6
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfJonathasAureliano1
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxSamiraMiresVieiradeM
 

Último (20)

Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
 

Biblioterapia marília

  • 1. 1
  • 2. 2 MARÍLIA MESQUITA GUEDES PEREIRA PROPOSTA DE UM PROGRAMA DE LEITURA PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL EM BIBLIOTECAS PÚBLICAS Editora Universitária João Pessoa 1996
  • 3. 3 DEDICATÓRIA Ao bom Deus, pois sem Ele, não teria sido possível a realização deste trabalho. A Normando Guedes Pereira, meu pai, “in memoriam”, pelo exemplo e dedicação à frente do Instituto de Proteção à Infância da Paraíba e pelo que dele aprendi e estou usando na vida. A Catherine H. Roberts, que não tive o prazer de conhecer, grande batalhadora pela causa da deficiência visual nos Estados Unidos, a nossa homenagem e saudade. A minha mãe, irmão, irmãs, cunhados, cunhadas e sobrinhos, pelo apoio em todos os momentos.
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS Para o desenvolvimento das idéias apresentadas neste livro gostaria de agradecer especialmente a influência e a contribuição das seguintes instituições e pessoas: A nossa gratidão é extensiva ao FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ministério da Educação e Desporto pelo suporte financeiro que permitiu viabilizar esta publicação através do convênio nº 00005737/96, FNDE/UFPB. Aos portadores de deficiência visual e, especialmente ao Bibliotecário PAULO DA SILVA CHAGAS colega e amigo e à Profª. JOANA BERLARMINO DE SAUZA e a MARIA FELISMINA DOS SANTOS, sem os quais não teria a motivação necessária para elaborar este livro. Ao Prof. ALVIN H. ROBERTS, CARREN BOWMAN e JANE BOWMAN, americanos, pela amizade, contribuição bibliográfica dada à pesquisa e, principalmente, pela experiência altamente enriquecedora, permitindo-me consolidar aos pouquinhos os meus conhecimentos, pois acredito que ainda tenho muito que aprender junto à comunidade cega da Paraíba. À amiga MAY BROOKING NEGRÃO – Assessora do Escritório Regional e do Comitê Permanente da Seção da América Latina e Caribe da IFLA por ter acreditado e incentivado na nossa pesquisa. À FEBAB – Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários na pessoa de sua presidente – Bibliotecária SELMA MENDES FONTES SODRÉ, pelo estímulo, incentivo, amizade e solidariedade nos momentos difíceis. Ao Diretor da Editora Universitária da UFPB, Prof. JOSÉ DAVID CAMPOS FERNANDES, pelo apoio e empenho na confecção desta obra. Agradeço de modo especial, às amigas MARIA DO SOCORRO AZEVEDO F. FERNANDEZ VÁSQUEZ e ANA MARIA GONÇALVES DOS SANTOS PEREIRA, pelas críticas, apoio, incentivo e sugestões. E, finalmente a todos que buscam compreensão, respeito, justiça social e liberdade para o portador de deficiência visual.
  • 5. 5 MENSAGEM DO EXCEPCIONAL ACEITA-ME Como sou. Por questão de justiça e não por piedade. TORNA-ME Um ser útil, porque de esmolas não quero viver. IGNORA Meu defeito e ama,.me como uma criança normal. ILUMINA. Meu caminho para que eu não mergulhe na sombra tristonha do medo. FAZ-.ME Refletir que meu início foi igual ao teu início. ACEITA Meu sorriso triste, única maneira compreensível de de mostrar gratidão. OLHA-ME, Sou humano como você. LIVRA-ME Da ignorância e da dependência, teu dever de cidadão. PÕE Em meus lábios a luz de um sorriso e não a sombra tristonha do medo. AJUDA-ME A não ser tão pesado a meus queridos pais, fazendo minha reintegração à sociedade. SAIBA Que as ilusões que cercaram o meu nascer foram as mesmas com que teus pais sonhavam. DESPERTA, Com teu afeto a minha mansidão contra a agressividade que avasalha, nós não nascemos como desejaríamos e não é justo que sejamos abandonados quando temos muito menos condições de defesa. (Autor desconhecido)
  • 6. 6 PREFÁCIO É com muita honra que aceitamos o convite de Marília Mesquita Guedes Pereira para prefaciar seu livro Biblioterapia: Propostas de um Programa para Portadores de Deficiência Visual em Bibliotecas Públicas. Trata-se de um trabalho pioneiro no Brasil, na área de Biblioterapia para cegos, com enfoque no papel da leitura e que teve sua origem na pesquisa desenvolvida pela autora, quando da preparação de sua dissertação de Mestrado em Biblioteconomia, defendida na pós- graduação da área, no Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal da Paraíba, em abril de 1990. A problemática da reabilitação e ajustamento do deficiente visual tem caráter universal; todavia, em nosso meio social ela se apresenta de modo mais grave e, portanto, merecedora de maiores estudos. Na verdade, o cego é visto, entre nós, muito mais como objeto de comiseração e alvo de assistência humanitária do que como um ser com imenso potencial e amplas possibilidades de participar do processo social e do contexto produtivo. .Mas, como direcionar ações, que possam não somente contribuir para o ajustamento psicossocial do cego e ao mesmo tempo fornecer-lhe instrumentos que lhe possibilite a integração ao seu meio social, tornando-o um elemento participante e útil à comunidade? A proposta nos vem, tanto do ponto de vista teórico como prático, através da Biblioterapia, particularmente como concebida pela especialista Marília Pereira, Bibliotecária do Setor Braille da Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. Em seu livro Marília faz, inicialmente, um diagnóstico da situação do cego no Brasil e no mundo, passando a analisar tentativas de estudiosos e de instituições, no sentido de promover a melhoria de situação desses deficientes, depois faz um histórico da Biblioterapia, desde suas origens aos dias atuais. Finalmente, com base no levantamento realizado, onde se configura o papel determinante da leitura, tanto como instrumento de Jazer e de formação do homem integral, além de mecanismo capaz de
  • 7. 7 amenizar psicologicamente a vida do cego, a autora indica como entrosá- lo no complexo quadro do sistema social. O trabalho, elaborado com muita dedicação e entusiasmo, características da autora, afigura-se da maior valia para os profissionais que amam na área de apoio ao deficiente visual, aí incluídos bibliotecários, assistentes sociais, psicólogos, professores e pessoas da área médica. O mais importante é que a metodologia sugerida tem por base a longa experiência da autora em trabalhos os mais produtivos, junto a instituições para cegos e, particularmente, no Setor Braille da Biblioteca Central da UFPB.. A obra que hoje vem à luz deve ser recebida de bom grado pelos paraibanos e pela comunidade, pois constitui uma contribuição das mais expressivas à escassa bibliografia existente. De parabéns, portanto, a autora e a todos os que contribuíram para a consecução desta obra, cujos ensinamentos são da maior importância como alternativa para minimização dos problemas decorrentes de deficiência visual. João Pessoa, 20 de setembro de 1996 JOSÉ ELAS BARBOSA BORGES Professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFPb.
  • 8. 8 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.......................................................................................... ........................................................................................................................ I. INTRODUÇÃO............................................................................................ 1.1. Estado Atual do Problema............................................................ 1.2. Situação Mundial do Cego........................................................... II. HISTÓRICO DA BIBLIOTERAPIA............................................................. 2.1. Origens da Biblioterapia na Biblioteconomia............................... 2.2. Origens da Biblioterapia na Psicologia........................................ III. ORIGENS E TERMINOLOGIA DA BIBLIOTERAPIA............................... IV. CONCEITUAÇÃO E DEFINIÇÕES DA BIBLIOTERAPIA........................ V. TIPOLOGIA E SUBDIVISÕES DA BIBLIOTERAPIA................................ VI. OBJETIVOS DA BIBLIOTERAPIA............................................................ VII. O BIBOIOTECÁRIO COMO BIBLIOTERAPAUTA.................................. 7.1. Biblioterapeuta: Revisão de Literatura......................................... 7.2. O Biblioterapeuta: Educação e Treinamento............................... VIII. PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE BIBOIOTERAPIA PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL EM BIBLIOTECAS PÚBLICAS............................................................... 8.1. Introdução à Problemática dos Bibliotecários.............................. 8.2. Conceituação de Biblioteca.......................................................... 8.3. Objetivos....................................................................................... 8.3.1. Objetivo Geral................................................................. 8.3.2. Objetivos Específicos..................................................... 8.4. Organização Básica de um Programa de Biblioterapia para Portadores de Deficiência Visual em Bibliotecas Públicas.......... 8.5. Metodologia.................................................................................. 8.5.1. Clientela.......................................................................... 8.5.2. Instalação........................................................................ 8.5.3. Recursos Humanos........................................................ 8.5.4. Recursos Materiais......................................................... 8.5.5. Horário............................................................................ 8.5.6. Recursos Financeiros..................................................... 8.5.7. Avaliação........................................................................ 8.5.8. Divulgação...................................................................... IX. BIBLIOGRAFIA PROPOSTA PARA UM PROGRAMA DE BIBLIOTERAPIA ENVOLVENDO DEFICIENTES VISUAIS................. X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................
  • 9. 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ALA – American Library Association CENESP – Centro Nacional de Educação Especial MEC – Ministério da Educação e Cultura MILS – Máster in Library Sciences OMS – Organização Mundial de Saúde ONU – Organização das Nações Unidas SEPS – Secretaria de 1º e 2º Graus UIC – The University of Illinois / Chicago UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura VA – Administração de Veterano
  • 10. 10 APRESENTAÇÃO Este livro originou-se do meu trabalho de dissertação do Mestrado em Biblioteconomia da UFPB, A BIBLIOTERAPIA EM INSTITUIÇÕES DE DEFICIENTES VISUAIS: UM ESTUDO DE CASO, em 1989. De lá para cá venho desvendando com curiosidade, persistência e admiração as causas e os efeitos da Biblioterapia entre os portadores de deficiência visual. É um trabalho de conteúdo simples, que espero seja de utilidade para os graduandos dos cursos de Biblioteconomia, Psicologia e Educação Especial, e para os bibliotecários que estão à frente das Bibliotecas Públicas e que vem se interessando pelo assunto, na esperança de suprir as informações que lhe são negadas. No mundo de hoje, espera-se que o bibliotecário brasileiro seja capaz de voltar-se para a sociedade e criar meios alternativos para solucionar os problemas voltados para este setor especial da Ciência da informação. Ressalte-se que houve necessidade de se proceder a uma análise crítica e retrospectiva global de Biblioterapia, desde os seus primórdios até o seu estado atual. Partiu-se de dados relatados na bibliografia de que a Biblioterapia é uma técnica importante, tanto para o aumento de informações do portador de deficiência visual, como por se constituir num elemento motivador de sua vivência e de seu ajustamento social através desse processo de leitura orientada. Citou-se a problemática da cegueira, tanto nos países desen- volvidos como naqueles em desenvolvimento, sendo analisadas as implicações dessa situação nas aspirações do cego, mormente numa sociedade competitiva como a nossa. Particularizam-se as vantagens das técnicas de leitura como um possível método biblioterapêutico de
  • 11. 11 utilidade para o deficiente visual. Considerou-se, com especial atenção a posição do Bibliotecário como Biblioterapeuta. Abordou-se ainda a pos- sibilidade das Bibliotecas Públicas atuarem junto a contingentes cegos vinculados a instituições de educação para esses deficientes. Finalmente, foi incluída uma Bibliografia para um programa de Biblioterapia e uma Bibliografia detalhada sobre essa técnica, para utilização por bibliotecários, educadores, outros técnicos, pessoas interessadas e envolvidas com a problemática. João Pessoa, 20 de setembro de 1996 Marília Mesquita Guedes Pereira Coordenadora da Sub-Comissão Brasileira de Bibliotecas Braille.
  • 12. 12 I - INTRODUÇÃO 1.1 - Estado Atual do Problema Educação pode ser definida como um processo de contínua reconstrução da experiência, com o propósito de ampliar e aprofundar o seu conteúdo social. A história da Educação fornece subsídios através dos quais, verifica-se que, desde os primórdios da existência do homem, a ação educativa esteve presente, ditada pela necessidade de sobrevivência e de conservação da espécie. Essa necessidade, obviamente, varrou de época para época, fazendo também com que se desenvolvessem sistemas educacionais que atendessem às aspirações de cada povo e de cada época, proporcionando à sociedade mudanças e contínuo desenvolvimento. Já entre os povos primitivos nota-se a procura, por todos os meios, de melhoria dos processos de transmissão da experiência, precursora dos métodos educacionais; graças a tal esforço, a educação vem sofrendo um processo de transformação marcante. Em se tratando da educação do excepcional, pode-se verificar uma certa lentidão em seu desenvolvimento, ocasionada por fatores diversos, entre os quais se destaca a concepção de muitos povos antigos, que eram propensos a desprezar e mesmo a eliminar portadores de deficiência física ou mental. O aparecimento das primeiras instituições para educar o deficiente visual fez com que muitos educadores se interessassem pela causa e partissem para a tentativa de engajá-lo na sociedade, buscando melhores técnicas e processos didáticos que lhes possibilitassem um melhor ajustamento. Chegou-se a um consenso de que o deficiente visual, como membro de uma sociedade, não poderia ficar alheio ao
  • 13. 13 progresso do mundo e sem uma assistência necessária ao seu desenvol- vimento. E importante ressaltar que uma parte considerável da população mundial (entre 10 e 15%) é portadora de deficiências sensoriais, motoras ou mentais, que limitam sua capacidade de se beneficiar da educação normal. Essas pessoas precisam de uma educação adequada às suas possibilidades, aptidões e necessidades - uma educação especial, como se costuma chamar, que lhes permita desenvolver suas potencialidades a fim de que possam se tomar membros de pleno direito da sociedade a que pertencem e alcancem um desenvolvimento pessoal que lhes proporcione meios de se tomarem independentes.Daí ser fundamental considerar a educação como um meio de proporcionar aos deficientes visuais um atendimento especializado, tendo em vista o seu ajustamento nos planos físicos, intelectual, emocional, social e econômico. De fato, pode-se perceber que a educação especial é uma peça fundamental no processo de reabilitação, sendo assim necessária a todos os que experimentam ou podem experimentar grandes e sucessivas dificuldades para aprender e aproveitar as oportunidades oferecidas às demais pessoas, pela educação normal. Nesse contexto, há de se considerar a concepção de GORN (31) a informação pertence, juntamente com a matéria e a energia, a trilogia dos fenômenos básicos que constituem os fundamentos de todas as atividades humanas. Toma-se oportuno enfatizar que a biblioteca, como um dos instrumentos de disseminação da informação, assume importância vital dentro deste contexto, principalmente, quando engajada no processo educacional. Nesse sentido, FERREIRA. (28) lembra que: Em nossos dias não se pode mesmo conceber ensino sem utilização de bibliotecas as quais,
  • 14. 14 além de possibilitarem acesso à informação, têm um papel da maior relevância, enquanto favorecem o desenvolvimento de potenciais, capacitando pessoa a tomarem suas próprias decisões. Os comentários aqui apresentados indicam que a biblioteca constitui uma dessas ferramentas que deve estar em perfeita harmonia com o desenvolvimento global da educação, particularmente num engajamento com a educação dos excepcionais, notadamente, dos deficientes visuais. A fim de se evitar a marginalização dessas pessoas, vários países estão se esforçando para propiciar a sua integração à comunidade, considerando as deficiências visuais dentro de bases legais. Cumpre registrar ainda que a preocupação com os problemas psicossociais dos cegos ainda não assumiu a importância devida nos países em desenvolvimento. Atualmente, estamos presenciando um. ressurgimento de interesse pela situação e pelo futuro das pessoas excepcionais. Após o alerta da Assembléia das Nações Unidas, na sua trigésima primeira sessão, realizada em 16/12/1976, foi aprovada a Resolução 31/123 elegendo 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes e propondo incentivos a um trabalho nesse campo, prevendo-se uma revisão e uma avaliação de resultados até 1991. De acordo com os trabalhos e estudos publicados, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou um plano de ação mundial para a Ano Internacional, atrayés da Resolução 34/154, que previa atividades a serem levadas a cabo a nível nacional, regional, e internacional, tanto no plano de prevenção como no da readaptação dos indivíduos já incapacitados. Esse plano de ação seria implantado a longo prazo, em favor da integração dos incapacitados à sociedade e de sua participação integral na vida econômica e social.
  • 15. 15 O esquema conceitual propõe quatro itens: a) o campo humanitário, cobrindo ao mesmo tempo a idéia de respeito à pessoa humana e de dignidade humana, do ponto de vista da justiça social. Em outras palavras, os sentimentos de caridade e de piedade devem ser substituídos por ações e medidas legislativas e afirmativas, no que se refere aos incapacitados; b) o campo psicológico, no qual se trata principalmente de informar e de formar a opinião pública sobre a natureza das incapacitações, as necessidades específicas dos incapacitados e as necessidades de que a sociedade favoreça o desenvolvimento de suas potencialidades. O que querem os incapacitados é que os aceitemos como pessoas, que têm, sem dúvida, necessidades especiais, para cuja satisfação é necessária a ajuda da sociedade, de tal maneira que não sintam mais a humilhação ou a negação de sua própria pessoa e de seu meio social. Nesse campo, cabe uma grande responsabilidade aos veículos de divulgação de massa; c) o campo a prevenção, que é a área por excelência da Organização Mundial da Saúde (OMS). O adágio "mais vale prevenir que remediar" aplica-se tanto ao plano científico como ao do planejamento. Afirmam certos estudos que 30 a 40% das vítimas incapacitadas poderiam ter sido salvas. Nos campos da saúde e da educação, o papel dos centros de atendimento de cuidados primários e das instituições escolares é capital. A institucionalização dos exames médicos periódicos nos países industrializados deve ajudar os pais na identificação, sob todos os aspectos, de doenças incapacitantes tais como a desnutrição, as moléstias venéreas e as afecções pulmonares. Assim, deye-se dar às mães a possibilidade de se submeterem a visitas pré-natais e pós- natais, podendo os professores exercer certa pressão no sentido de que tais exames se tomem obrigatórios. d) Deveriam ser elaboradas estratégias apropriadas de prevenção e de tratamento dos incapacitados, levando em conta o nível de
  • 16. 16 desenvolyimento dos países. Uma dessas estratégias, por exemplo, pode ser encontrada na publicação "Saúde para Todos no ano 2.000" da OMS. e) o campo da participação, exigindo que o plano de ação se apoie em bases realistas, razão pela qual seria conveniente estabelecer distinção entre os deficitários capazes de participar integralmente de processos de desenvolvimento e os que são a tal ponto incapacitados que não poderiam contribuir para a vida econômica de seus países. A efetiva participação dos incapacitados, ligada á igualdade de oportunidades, não deve ser encarada exclusivamente de um ponto de vista humanitário, mas, ao contrário, no âmbito total da sociedade, que não tem interesse algum em perder ou malbaratar seus recursos humanos. Essa participação deve ser encarada em todos os níveis e em todos os setores, desde o cultural e o social, até ao econômico e o político. De fato, a questão assume toda sua importância quando se sabe que o desenvolvimento de recursos humanos é considerado uma condição imprescindível para acelerar o processo de desenvolvimento e o advento de uma nova ordem econômica e social. Partindo desses pontos relevantes, deve-se considerar que, entre os objetivos da Assembléia Geral das Nações Unidas para o Ano Internacional de Deficientes - 1981, estavam: a) auxiliar as pessoas deficientes no seu ajustamento à socie- dade; b) educar e informar o público dos direitos das pessoas defi- cientes; c) promover medidas efetivas para a realização das pessoas deficientes. Estes objetivos visam a uma participação completa dos deficientes, igual à dos outros cidadãos, na vida de suas sociedades. E
  • 17. 17 os objetivos fornecem metas pertinentes àqueles bibliotecários, que serviriam, entre outras pessoas, como elementos de apoio educacional ao deficiente. Constata-se ainda que os objetivos da Organização das Nações Unidas (ONU) também implicam uma abordagem tríplice: a) serviço, destinados a indivíduos com visão reduzida, para as agências que os servem; b) serviços para o público em geral, que precisa entender as necessidades especiais; c) e as intenções de tais serviços. Na realidade, pode-se afirmar que os incapacitados têm o direito de participar plenamente da vida e do desenvolvimento da sociedade à qual pertencem. É nosso dever permitir-lhes exercer esse direito. Toma-se oportuno ainda enfatizar que desde então, e especialmente na última década, têm sido alcançados importantes progressos em técnicas educacionais e introduzidas consideráveis inovações no campo da educação especial. Assim, descobriu-se que ainda pode ser feito pelas pessoas deficientes, muito mais do que se imaginava a princípio. Muitos desses progressos técnicos podem ser adaptados às necessidades dos países em desenvolvimento, cujos recursos em matéria de instalações e pessoal são limitados. Com referência ao cego, a deficiência visual já não é sintoma dramático da vida moderna. Hoje, os mais aperfeiçoados métodos permitem a rápida reabilitação do deficiente. No Brasil do ponto de vista legal, a ação educativa não faz discriminação entre a criança normal e o excepcional. Este direito é assegurado em leis, tais como: a) Artigo 88, da lei 4.024, de dezembro, de 1961, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e estabelece: a educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral da educação, a fim de integrá-los na comunidade.
  • 18. 18 b) A lei 5.962, de 1971, corroborando a anterior, preconiza que o educando deve ser tratado com suas diferenças individuais, quando diz, no seu Artigo 9: [...] os alunos que apresentem deficiências físicas deverão receber tratamento especial de acordo com as normas fixadas pelos componentes dos Conselhos de Educação. c) O 1º Plano Setorial de Educação e Cultura do MEC (19721974) com o Projeto Prioritário nº 35, definiu como sua finalidade máxima: [...] promover em ação coordenada, em todo território nacional, a expansão e melhoria de atendimento aos excepcionais fixando e implementando estratégias decorrentes de princípios doutrinários e de política que orientam a educação especial. d) Normas do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), quando estabelece que: ... a educação, do ponto de vista filosófico, fundamenta-se em valores éticos, sociais e em axiomas científicos que defendem o princípio doutrinário de que a função da Educação é valorizar cada novo homem, como indivíduo e como ser social. (IPSECD-72/74). Em todas essas palavras está implícito o sentido universal da Educação, englobando, portanto, os excepcionais. e) A Declaração Universal dos Direitos do Homem, endossada pelo Brasil, que garante indistintamente a todos, a educação, quaisquer que sejam as origens ou condição social. f) A Declaração dos Direitos da Criança, também encampada pelo Brasil,
  • 19. 19 explicita, em seu quinto princípio, os direitos dos excepcionais, levando os educadores em geral a assumir, conscientemente, a responsabilidade de valorizar cada deficiente como indivíduo e como ser social. Tentando sintetizar esta seqüência geral, cabe ressaltar a necessidade de uma integração do deficiente visual junto à sociedade, através de uma filosofia participante. Em trabalhos publicados, observa- se que os primeiros movimentos independentes realizados por cegos visam, à criação de fontes de trabalho e rendimento para os mesmos. Isto ocorre por um motivo fundamental: o cego não preparado profissionalmente pelas escolas existentes, sempre encontra dificuldades para ser aceito nas empresas e sempre está à margem do sistema produtivo do país. Ora, os indivíduos sem profissão não têm condições psicológicas e profissionais de pleitearem e conquistarem um trabalho, o que os levaria a fundarem sociedades, que lhes possam propiciar certa segurança. Investigando a história, tais sociedades produziram a segregação de pessoas deficientes visuais, tomando-as muitas vezes dependentes de grupos mais fortes, sem aquela real autonomia pela qual lutavam. Ademais, a segregação dos cegos é um dos piores males a impedir a sua integração social. Recentemente, surgiram novos movimentos de associações que buscam, baseadas num novo espírito e calcadas numa filosofia progressista, contribuir para um programa de ação que realmente venha a culminar com a total integração dos cegos às comunidades em que vivem, delas participando efetivamente. Através destes movimentos reivindicatórios, cegos se reabilitam e se profissio- nalizam, exercendo concretamente atividades, tarefas ou funções compatíveis com as suas limitações, podendo, em conseqüência, sustentarem-se, terem famílias, serem cidadãos capazes e responsáveis, iguais aos demais. Tecidas essas considerações, toma-se fundamental a afirmativa de que a sociedade deve receber o cego como ele vem. Várias entidades
  • 20. 20 comprovaram que, uma vez reabilitado, educado e profissionalizado, o indivíduo sem visão é recebido para participar; se ele é apresentado ao público apenas educado, mas sem profissão, é recebido para ser admirado; se ainda for apresentado como indivíduo sem qualquer preparo é recebido como ainda inválido para ser sustentado ou mantido em obras de benemerência. É evidente que muitos destes empecilhos são reconhecidos universalmente, no que diz respeito ao deficiente visual; todavia, como se sabe, o cego com aptidão e qualificação poderá no início, ser recebido com restrição, mas, se após a oportunidade que obteve, corresponder à expectativa, passará a ser acreditado, constituindodo-se este fato a sua aceitação através do trabalho e, em conseqüência, a sua integração soci- al. Chega-se assim à convicção de que os entraves relativos à integração social do cego residem, tanto na falta de preparo dos mesmos, como no trabalho pouco objetivo das entidades e órgãos responsáveis por sua preparação educacional e especialização. Na verdade, a sua especialização profissional é a maior, responsável pela sua aceitação na grande sociedade. E conveniente ressaltar as dificuldades enfrentadas por muitas das organizações existentes; todavia, sente-se também, e isto pode ser comprovado, que elas têm uma instintiva reação a qualquer movimento renovador que possa contrariar sua filosofia de ação. Entidades há que rejeitam a cooperação e o trabalho paralelo, mantendo-se enclausuradas dentro de princípios cujo valor integrador para o cego é muito discutível. De uma realidade lamentável estamos seguros: de um modo geral, um dos lugares onde o cego está menos integrado é na sua instituição ou órgão precipuamente destinado a sua educação, reabilitação, profissionalização e integração social. Aí, muito raramente, o cego participa realmente daquele processo de socialização e de integração. Dentro de nossa análise, chegamos à percepção de que, apesar
  • 21. 21 da criação, pelo govemo, de órgãos destinados à aplicação de novas técnicas e métodos na preparação de cegos para uma vida integrada, não tem havido a evolução esperada de mentalidade dos educadores e responsáveis pela política tiflológica que possa acompanhar o progresso atual. Para a grande parte dos educadores brasileiros, o cego, enquanto "educando", é um indivíduo apregoado como detentor de grandes valores e possibilidades. Todavia, no momento em que o cego tiver de participar de atividades sociais nas mesmas condições que as de seus educadores, este sistema deve recebê-lo numa equipe de trabalho. Seria mesmo aconselhável que se fizesse um levantamento para se constatar, concretamente, o grau de aceitação a indivíduos deficientes de visão, nos quadros de trabalho das próprias instituições especializadas, onde o indivíduo foi reabilitado e educado. A experiência obtida dessa maneira ofereceria grandes possibilidades de se ajustar o deficiente à função. Outro aspecto a se considerar é uma legislação adequada à integração social. Existem muitas leis criadas com esse propósito, sob o impacto emocional, mas cujo cumprimento, nunca foi exigido, ou por culpa dos próprios cegos ou de seus educadores. Cumpre ressaltar que tal integração existe na legislação em alguns estados e municípios do país. Essas leis permitindo o ingresso do indivíduo com deficiência visual nos serviços públicos, não são, todavia, cumpridas. Sua execução depende ainda da descoberta, na hora certa, de alguém que julgue que elas devam ser cumpridas. Caso contrário, são LEIS FRIAS E MORTAS. Nesse sentido, torna-se oportuno criar uma estrutura adequada que venha a dar a necessária sustentação legal para que a sociedade seja levada a reconhecer os direitos do cego. Na verdade, somente dispondo-se de instrumentos jurídicos é que os seus direitos estarão realmente garantidos. É oportuno lembrar, considerando o acima exposto que, no caso brasileiro, se a biblioteca não buscar superar as características que lhe são atualmente marcantes, sobretudo em termos de elitismo e passividade, continuar-se-á a verificar a ausência dos cegos nos planos
  • 22. 22 governamentais e o nãodesempenho das suas verdadeiras funções na Educação, Cultura, Informação e na Recreação. Por outro lado, fatores como a linguagem, a locomoção independente, as habilidades físicas e a coordenação motora geral, alguns processos perceptíveis, maneirismos e, especialmente, reações sociais à deficiência sensorial, situam os focos de dificuldades que uma pessoa cega encontra para viver feliz, integrada, para participar competitivamente da sociedade, e para usufruir dos seus recursos potenciais. Estes são vários e abundantes, daí ser fundamental atender devidamente a estas pessoas cegas, dando-lhes uma perspectiva futura da realização pessoal. Outro aspecto que deve ser considerado é ressaltado por Drog citado por MELO. (47) ... a informação é uma necessidade do homem e ‘a necessidade de informação é contínua e permanente mesmo para o mais treinado dos especialistas’. Acredita-se que se houver informação utilitária, lazer e técnica biblioterapêutica de acordo com a necessidade desse estrato social, isto irá oportunizar o ajustamento bio-psíquico, social e pedagógico da clientela cega, atrayés de sua participação no programa de integração e reintegração social, atendendo às necessidades de uma população carente de tais serviços. MELO (47) salienta a importância fundamental da informação: Quando concebida como um recurso que afeta todas as áreas do conhecimento humano, quando bem utilizada por quem detém o poder decisório, pode contribuir para provocar transformações no campo social, político e econômico e conduzir ao processo de conquista de melhores condições de vida a nível individual e social.
  • 23. 23 Deve-se considerar fator primordial para a educação e cultura das pessoas o acesso ao acervo cultural, sobretudo, através de livros. Verificamos, no entanto, que a pessoa cega encontrar-se-à impedida deste acesso se não lhe forem providenciadas as publicações especiais impressas no sistema Braille. Assim sendo, esta providência é altamente necessária, principalmente se levarmos em conta que o livro se constitui num dos recursos de aprendizagem, aperfeiçoamento e distração, de acesso tão fácil para as pessoas videntes e tão difícil para as pessoas cegas que, na maioria das vezes, dependem de iniciativas isoladas, quando contam com a boa vontade, interesse ou compreensão de algumas pessoas. 1.2. Situação Mundial do Cego Tão antiga quanto a própria Organização Mundial da Saúde é a sua preocupação pelo imenso problema representado pela cegueira. E foi a compilação de dados para fins de publicação em 1966, das “Estatísticas epidemiológicas e vitais”, da OMS, que proporcionou uma visão ampla do cenário mundial da deficiência visual. Quatro anos mais tarde, a Organização enviou aos seus Estados-Membros um questionário que possibilitou a atualização e o encaminhamento desses dados à consideração da Assembléia Mundial da Saúde reunida em Genebra, em 1972. As cifras apresentadas a seguir podem fornecer uma idéia das dimensões desse problema de saúde, embora se deva observar que os índices citados se aplicam com freqüência a segmentos demográficos relativamente limitados ou talvez se baseiem em distintos critérios, não sendo, portanto, estritamente comparáveis entre si. É possível que, em certos países e regiões, a situação tenha mudado bastante desde a elaboração das cifras. De significação especial é o fato de muitos países africanos
  • 24. 24 revelarem prevalência particularmente alta de cegueira, dado o número relativamente alto de pessoas examinadas. Embora oscile, via de regra, entre 150 a 300 por 100.000 habitantes, a prevalência de cegos naquela Região é maior nos seguintes países: Etiópia (380-450); Quênia (1.050-1.150); Malawi (724); Nigéria Setentrional (1.000); Camarões Setentrional (684); Serra Leoa (952); Tunísia (450); Tanzânia, sem Sanzibar (569); Uganda (1.842) e Zâmbia (500-750). Em sua maioria, as causas de cegueira são oficialmente “desconhecidas” ou “indeterminadas”, mas, para citar os exemplos do Egito e da África do Sul, a causa principal é atribuída a doenças infecciosas, vindo a seguir os acidentes. Quanto às Américas, os índices de prevalência fornecidos variam de 80 a 90 por 100.000 habitantes na Argentina e no Uruguai, a 969 em Cuba. Nos Estados Unidos a prevalência é de 214, com uma população cega total estimada em 385.000 habitantes. O Brasil e o México registram prevalências comparativamente baixas de l47 e 101 e uma população cega de 60.700 e 16.880, respectivamente. Destaque para a edição do CORREIO SAÚDE (53), afirmando que segundo a Organização Mundial de Saúde, quando a população brasileira era de 130 milhões de habitantes, 13 milhões (10%) eram indivíduos portadores de algum tipo de deficiência. Desses 5% (6,5 milhões) eram deficientes mentais; 2 % deficientes físicos; 1,3% defIcientes auditivos; 0,7% deficientes Visuais e 1% portadores de deficiência múltiplas. De um certo modo, ¼ de nossa população (25%) está de certa forma comprometida intimamente com o problema da defIciência, uma vez que o coeficiente populacional indica algo em tomo de 4,2 pessoas por família. Dos 13 milhões de deficientes, 4,3 milhões tem um atendimento considerável e os 8,7 milhões restantes, são deficientes desassistidos que não recebem, lastimavelmente, qualquer tipo de assistência. A cada minuto, nascem 100 crianças das quais 20% morrem no
  • 25. 25 primeiro ano; 70% dos que sobrevivem, em virtude da fome e da ausência de assistência médica, tomar-se-ão crianças subnutridas, as quais estarão sujeitas a danos físicos e mentais. A fome associada à falta de educação gera a miséria social que culminará em seu vértice, com a deficiência. Das causas determinantes das deficiências 22% são gênicas (5% recessivas; 1% dominantes); 1% ligadas ao cromossomo X e 15% poligênicas); 15% relacionados às alterações cromossômicas e 3% com anomalias dos cromossomas sexuais. As causas ambientais (fome, substâncias químicas tóxicas, radiações ionizantes e outras) perfazem 20%.; as doenças específicas (infecções, lesões cerebrais) 5%, causas várias 15% e causas desconhecidas 23%.. Referindo-se também, a reportagem de SARMENTO (69) dizendo que: ... a população de portadores de deficiência visual é de cerca de 0,5% da população de cada país ou localidade, o que representa, em termos de Paraíba, algo em torno de 20 mil pessoa e, destas 4 mil só em João Pessoa. De acordo com REZEENDE, FIORAVANTE (56): ... 1% da população brasileira é deficiente visual (em milhões de pessoas). É do nosso conhecimento que possuímos uma população de 146.825.475 milhões de habitantes, conforme o IBGE de agosto de 1995. Citam-se as doenças infecciosas como a causa mais importante da cegueira na América Central, na Venezuela e na Argentina, seguindo- se as oftalmias hereditárias e prénatais. As doenças infecciosas também ocupam o primeiro lugar no Canadá e nos Estados Unidos, ao passo que os acidentes são a segunda causa em importância no México e nos Estados Unidos e a terceira na Argentina e no Canadá.
  • 26. 26 Confirmando-se os estudos, deve-se atentar para a similitude de padrões na Ásia, onde as doenças infecciosas são a principal causa de cegueira em praticamente todos os países, exceto no Japão, em que são superadas pelos acidentes. O mesmo país informou existirem 248 cegos por 100.000 habitantes. Em diferentes pontos do continente asiático, al- guns dos índices mais altos de prevalência registram-se na Arábia Saudita (3.000); Iêmen (4.000); Iraque (500-1.000); Paquistão (1.000); Sri Lanka (470); República Democrática do Vietnã (428); Indonésia (239); China (450) e Hong-Kong (1.392). Na Europa, a prevalência varia de 51, na Bélgica, a 272 na Islândia (embora atinja 647 em Gibraltar). Com relação a alguns dos países maiores, as cifras são as seguintes: República Federal da Alemanha, 60; França, 107; Grécia, 170; Hungria , l00; Itália, 200; Holanda, 50-60; Polônia, 66; Portugal 93; Espanha, 56; Romênia, 77; Suécia, 196; Suíça, 195; Inglaterra e País de Gales, 209 e Iugoslávia, 100. Na União Soviética, com população superior a 200 milhões de habitantes, registrou-se um total de 179.317 cegos. Em decorrência dos resultados, observa-se que entre as causas de cegueira, as doenças infecciosas ocupam o primeiro lugar somente em Malta. Na Europa, as condições hereditárias e pré-natais são as mais importantes, seguidas de perto pelos acidentes, que são a causa principal na Austria, Tcheco-Eslováquia, Dinamarca, República Federal da Alemanha, Finlândia e Itália. Na Oceania, a Austrália registra 222 cegos por 100,000 habitantes, e a Nova Zelândia, 135. Com exceção de Fidji, onde é de 1.190, a incidência na~ ilhas da Polinésia é inferior a 145. Na Austrália e na Nova Zelândia, a causa principal vincula-se às condições hereditárias, pré-natais e metabólicas degenerativas, seguidas, a considerável distância, por infecções e acidentes. Fazer uma estimativa do total de cegos no mundo é tarefa quase impossíye1, porque as percentagens contidas nas estatísticas baseiam-
  • 27. 27 se principalmente em grupos limitados de cada comunidade nacional. Mas as cifras extraídas do Questionário preparado pela OMS, em 1970, revelam a existência de 8,5 milhões de pessoas reconhecidamente cegas. Claro está que esse total é inferior ao verdadeiro e que, para refletir a situação real com mais precisão, seria razoável estimar em l0 a 16 milhões o número de cegos no mundo. A visão de outros milhões é tão precária que, para fins de educação, trabalho e assistência social, é preciso considerá-las cegas. A menos que se comece a agir, esses totais, que vêm aumentando, poderão duplicar nos próximos 25 anos. Pode-se fazer nítida distinção entre as causas de cegueira no mundo em desenvolvimento e nos países mais industrializados. Entre os países em desenvolvimento, o tracoma, a oncoceríase e a xeroftalmia são os três grande problemas de saúde relacionados à visão. Somente de tracoma, calcula-se que há no mundo entre 400 e 500 milhões de casos, 120 milhões dos quais na Índia. Desses pacientes, cerca de dois milhões são cegos. A oncoceríase afeta um total de cerca de 20 milhões de pessoas, mas na bacia do Volta Superior, na África Ocidental, que é a área mais afetada de uma população total de 10 milhões, há um milhão de vítimas e destas 70.000 são cegas. A xeroftal- mia é causa importante de cegueira na Indonésia, em certas áreas da Índia, em outros países da Ásia Ocidental, e em algumas partes da América Central e da África. Acredita-se que há hoje pelo menos 100.000 pessoas cegas em consequência do mal. Há hoje consenso geral de que, em países com baixo nível de desenvolvimento econômico a produtividade é baixa, também tendo esse atributo pessoas afetadas pela cegueira. O padrão de vida é baixíssimo, o que não permite que os cegos consumam em maior escala. Percebe-se deste modo que se pode fazer nítida distinção entre as causas de cegueira no mundo em desenvolvimento e nos países industrializados. Nos países industrializados, sobrevive o desenvolvimento econômico, assegurando-se dessa forma padrões de vida mínimos, que
  • 28. 28 são continuamente ajustados para melhor. Isso implica no aumento das atividades de atenção médica, educação e reabilitação, de equipamentos especiais e de movimentos de caixa. Com o desenvolvimento econômico, a maioria das ocupações toma-se mais especializada e produtiva. Em se tratando de países do Terceiro Mundo, em termos de produção, os cegos contribuem menos para a economia e, em termos de consumo, principalmente de serviços de saúde, exigem mais. Verifica-se que as suas necessidades básicas referem-se a emprego, habitação e assistência médica, num sentido amplo, e que, uma das dificuldades neste sentido é a falta de informação. Daí se constata a necessidade de informação dos cegos como fator representativo para sua integração em um novo sistema social, e a importância da participação da biblioteca é crucial nesse processo de ressocialização, visto ser o seu objeto de atuação a própria informação. MIRANDA (48), afirma que a: ... informação e o instrumento que seleciona e classifica os indivíduos em nossa sociedade, isto é, somos o que sabemos. Esta informação não se restringe em termos exclusivos de instrução escolar ou acadêmica mas, sobretudo, e acima de tudo, através do uso de informação para enfrentar os desafios da vida modera e para decidir entre as opções que essa luta pela vida nos coloca frente a frente. É necessário, então, repensar nosso sistema de baixo para cima, através de consulta à própria comunidade cega. Afinal de contas o que está em jogo é a mudança da própria sociedade. Convém sempre lembrar o pensamento de Carlos Castelo Branco questionado por MIRANDA(48): O que é fechado, no Brasil, não é governo. A sociedade é que é fechada e exclui de seu contexto e estrutura a esmagadora maioria da população. O
  • 29. 29 governo apenas externaliza uma tendência histórico-cultural que só agora – e Oxalá seja de forma irreversível – dá mostras de cansaço e cede a novas formas de convivência e de gerência de Poder. Pode-se aceitar, de acordo com MIRANDA(48) ... que as nossas bibliotecas são o espelho fiel de nossa desigualdades regionais, econômicas e sociais, explicando-se, dessa forma, que a maioria das bibliotecas brasileiras de todos os tipos (especializadas, universitárias, públicas, para cegos, escolares) encontram-se no triângulo Rio- São Paulo-Belo Horizonte e ao longo da costa atlântica. Com a população brasileira ocorre o mesmo. As cidades mais ricas recebem, consequentemente, os melhores serviços bibliotecários; os acervos são cada vez mais pobres ou inexistentes à medida que nos afastamos dos grandes centros econômicos. É mister afirmar que se pretende uma melhor distribuição da riqueza e da renda nacional, será necessário redistribuir as oportunidades de leitura de nossa população. Do contrário, o sistema bibliotecário, ao invés de influir no avanço cultural, limitar-se-á a perpetuar as atuais desigualdades. Pode-se dizer finalmente que, onde não existe sistema educacional desenvolvido, não há lugar para o livro. A biblioteca para os cegos deve, pois, deslizar sobre dois trilhos: o do sistema educacional (socialização da leitura) e o da busca livre da informação e do lazer, a democratização da leitura enfim, visto que é necessário se ter um sistema educacional voltado para a leitura como instrumento aberto de socialização.
  • 30. 30 II – HISTÓRICO DA BIBLIOTERAPIA Neste capítulo temos a intenção de mostrar a origem, no tempo, da Biblioterapia, narrando detalhes de sua história, seu desenvolvimento e situação atual. Uma revisão da história da Biblioterapia demonstra sua vitalidade contínua. Mas, para entender a evolução da Biblioterapia na sua forma comum atual e a de "leiturra direta" e "discussão de grupo", deve-se tratar origens da Biblioterapia tanto dentro da Biblioteconomia como da Psicologia. A preocupação com a origem da Biblioterapia como idéia surgiu em épocas remotas pois alguns povos já consideravam a leitura como uma das melhores medidas terapêuticas no tratamento de doentes mentais. Assim, foram descobertas em bibliotecas antigas e medievais, inscrições sobre o valor terapêutico da leitura. Os gregos afirmavam que suas bibliotecas eram repositário de remédio para o espírito, enquanto que os romanos achavam que as orações poderiam ser lidas para pacientes melhorarem sua saúde mental. ROBERTS(57), afirma que, desde a antiguidade, os livros especialmente as biografias, têm sido usadas transmitindo informações sobre a vida, de geração a geração. Salienta que a Bíblia foi usada para preparar jovens para a vida, fornecendo conforto e cura espiritual, em circunstâncias trágicas. Assim a pessoa que, sofrendo por perda de um ente querido, se volta para a Bíblia a fim de obter palavras de conforto, está fazendo Biblioterapia pessoal. Implicitamente formulada há milênios, sabe-se que Ramsés II, faraó egípcio, mandou colocar no frontispício de sua biblioteca a inscrição: “Remédios para a Alma". Entre os romanos do primeiro século, vamos encontrar em Aulus Cornelius Celsus, palavras de
  • 31. 31 estímulo ao uso da leitura e à discussão dos preceitos dos grandes oradores como forma terapêutica. TEWS(70) observa que na Roma do primeiro século, a leitura e a medicina estavam associadas. Inúmeras discussões são mantidas sobre as origens do termo Biblioterapia, sabendo-se entretanto, que surgiu na América do Norte, pelo menos na primeira parte do século SI~, em trabalho relacionando biblioteca e ação terapêutica. Como se vê, as primeiras experiências em Biblioterapia foram feitas por médicos americanos de 1802 a 1853, os quais indicavam que, uma das melhores receitas para seus pacientes hospitalizados, era a leitura de livros cuidadosamente selecionados e adaptados às necessidades individuais. O interesse aqui recai sobre a Biblioteca Pública de Boston em 1853, que se revelou a maior Biblioteca Pública daquela época, possuíndo uma postura assistencial o tempo todo. Um estudo foi realizado por Benjamim Rush, numa conferência sobre a Construção e Administração de Hospitais, proferida em 10 de novembro de 1802, no qual lembra que para o divertimento e instrução dos pacientes de um hospital, uma pequena biblioteca deve, por todas as razões, ser parte do seu mobiliário. Recomendou também, dois tipos de leitura, aquelas que fornecem entretenimento, consistindo os livros de viagens, que ele considerava extremamente divertidos para os convalescentes e para pessoa confinadas por doenças crônicas, e, a que transmite saber, devendo versar sobre assuntos filosóficos, morais e religiosos. Outro aspecto de destaque é que, a partir de 1904, a Biblioterapia passa a ser considerada como um ramo da Biblioteconomia. Isso ocorreu quando uma certa bibliotecária, assumindo a direção de uma biblioteca, em Massachusetts, resolveu fazer suas próprias experiências, obtendo bons resultados. No final do século XVIII, um número de instituições humanitárias, notadamente, o Pinel na França, o Chiarugi na Itália e Tuke na Inglaterra,
  • 32. 32 procuraram melhorar o tratamento dos insanos. O método era oferecer leitura como recreação. Pelo começo do século XIX, essas reformas se espalharam pela América. Até meados do século XIX, nos hospitais mentais e prisões existia toda uma motivação religiosa na demanda de livros. Por outro lado, há informações de que a Biblioterapia floresceu recebendo um grande impulso, durante a primeira guerra mundial, quando bibliotecários leigos, notadamente da Cruz Vermelha, ajudaram a construir rapidamente bibliotecas nos hospitais do Exército. Desde aquela época que o Bureau dos Veteranos dos Estados Unidos teve um grande papel na Biblioterapia. No século XIX, mudaram as atitudes dos acadêmicos em relação à biblioteca, pois com o desenvolvimento do conhecimento, a Biblioterapia adquiriu maior amplitude tomando-se profissionalizada e especializada. Cumpre ressaltar que, para se entender a evolução da Biblioterapia, em sua forma comum atual de leitura dirigida e discussão do grupo, devemos nos aprofundar na Biblioteconomia e na Psicologia. As décadas de 40, 50 e 60 produziram muito mais publicações e algumas pesquisas significativas. Contudo, é necessário ressaltar que debates sobre a ausência de uma estrutura científica para a Biblioterapia tinham sido ouvidos por vários anos, até que um esforço maior para colocar o assunto na perspectiva própria, foi completado em 1949 na forma de uma dissertação de doutorado: Biliotherapy: a Theoretical and Clinical – Experimental Study, da autoria Caroline Shrodes, nos Estados Unidos. Completando tal entendimento, é mister salientar que a Biblioterapia freqüentemente evoca um ambiente hospitalar como ficou constatado; entretanto, a tendência da Biblioterapia é atingir muitas outras áreas do conhecimento.
  • 33. 33 Por volta de 1956, ROBERTS(70) assumiu um papel mais agressivo no uso da literatura como técnica de aconselhamento. Durante 1960, começou a usar livros com os cegos para facilitar a vida profissional das pessoas afetadas pela cegueira. Uma revisão da história da Biblioterapia demonstra que a leitura é fundamental, não importa se identificada como arte ou ciência Se os Biblioterapêutas, no futuro, praticarem profissionalmente a Biblioterapia e fizerem estudos detalhados e conscientes sobre seus livros, usando sua imaginação e senso crítico, a Biblioterapia certamente irá prosperar para o bem de todos os envolvidos. 2.1 Origens da Biblioterapia na Biblioteconomia Essa habilidade Biblioterapia é uma aplicação refinada de uma função normal de aconselhamento de leitura. Por sua vez, o serviço de leituras promove o desenvolvimento de outras funções bibliotecárias. No século XIX houve mudanças nas atitudes acadêmicas para com a Biblioteca, que se tomou profissionalizante e especializada. Justin Wilson, empregado pela Havard University em 1877, estabeleceu um precedente quando abriu as prateleiras para os estudantes e permitiu a circulação dos livros. Isso foi o começo do serviço de referência. Essa primeira proposta para um programa real de assistência ao leitor havia sido feita em 1876 por Samuel Sweet Green da Worcester Public Library. Em 1883 a Boston Public Library, que era a maior Biblioteca Pública da época, tinha um cargo de assistente em tempo integral. Ao mesmo tempo, Melville Dewey, no Columbia College, estava tentando adotar a idéia da Biblioteca Moderna de ajuda aos leitores. A verdadeira frase Serviço de Referência foi primeiro usada para substituir qjuda aos leitores e assistência aos leitores em 1891, no Library Joumal. Por volta de 1900, o serviço de referência estava disponível não apenas na Biblioteca Pública de Detroit, mas também nas
  • 34. 34 filiais. Em 1905, a Biblioteca Pública de Washington DC, estabeleceu o cargo de anfitriã Bibliotecária, para guiar seus visitadores. Na época era um cargo ligado à referência, mas em 1945, foi considerado um cargo de circulação de leitores. Nos anos 20 e 30, o aconselhamento a leitores vinha à frente da Biblioteconomia. Em fins dos anos 40, Flexner estava desenvolvendo programas de leitura para grupos variados tanto a nível local como nacional. Essa iniciativa de leitura, começada em 1931, é precursora óbvia da Biblioterapia, pois ela desenvolveu listas de leitura para adultos, em liberdade condicional, depois de entrevistar os indivíduos envolvidos. Muitos dos serviços do aconse1hamento ao leitor nos anos 40, foram integrados ao Departamento de Educação de Adultos das Bibliotecas Públicas. Um dos exemplos mais conhecidos da educação de adultos nos anos 40 é o programa de grandes livros, desenvolvido na Universidade de Chicago em 194.5. Esse programa de discussão baseava-se em livros oriundos do desenvolvimento da leitura orientada terapeuticamente, que era o serviço chamado de Biblioterapia. 2.2 Origens da Biblioterapia na Psicologia Para melhor compreensão do assunto, seria bom considerar aqui que a história da terapia de grupo foi registrada em 1905, quando Dr. Joseph Platt, de Boston, começou um grupo de aulas para pacientes tuberculosos. .Ias alguns grupos de terapia encontram suas origens nos dramas gregos, nas peças medievais e em encontros religiosos, assim como na Biblioterapia. No começo dos anos 20, Alfred Adler advogou um Grupo terapêutico nos terrenos político e econômico. Como um socialista, ele sentia que a classe instrutora deveria ter acesso à terapia e que uma abordagem de grupo seria a única forma financeiramente viável. Ele abriu algumas clínicas em Viena, mas seu trabalho foi menos popular lá do que
  • 35. 35 nos Estados Unidos. Em 1926 tomou-se um professor na Universidade de Columbia. Outro pioneiro no campo foi Jacob Moreno que em 1931 criou o termo Terapia de grupo. Moreno declarou que tinha usado a técnica em Viena desde 1910. Eventualmente, seu trabalho tomou-se a base para o treinamento dos Bethel Laboratories, em 1946, que por sua vez levou aos modernos Grupos T. O psiquiatra Maxwel Jones citado por RUBI(67) explica que foi no limiar da Segunda Guerra Mundial que a Terapia de grupo realmente floresceu. A terapia de grupo na Grã Bretanha fez grandes progressos na Segunda Guerra Mundial por que um psiquiatra tinha mais sucesso com 20 casos em grupos do que com 4 em psicoanálise ... Acreditamos (mas não provamos) que os resultados descritos não podiam ser alcançados somente pela psicoterapia e hospitalização. Outro aspecto a ser mencionado diz respeito a todos; os tipos de psicoterapia, tanto individuais, como de grupo, que floresceram depois da Segunda Guerra Mundial. . A guerra e suas consequências trouxeram muitas mudanças, incluindo novas; terapias, porque a terapia individual não foi capaz de suportar novos pacientes criados pela guerra. Não é coincidência que a Segunda Guerra Mundial, na era de 1939-1943, também produziu trabalhos significativos no campo da Biblioterapia. Os bibliotecários estavam ocupados servindo a pacientes em hospitais e a veteranos nas ruas. Por volta de 1930, mais de 400 artigos de jornais sobre Biblioterapia foram publicados. De 1930 a 1960, mais de l00 artigos haviam sido publicados, apenas tratando da Biblioterapia para adultos, em pacientes hospitalizados. 2/3 das publicações no campo, durante a década, foram publicados em jornais nãomédicos. De 1960 a 1973, 193 artigos, mais 32 dissertações e
  • 36. 36 estudos de pesquisas foram publicados. Dos 131 artigos de 1970 - 1973, 330 o apareceram em jornais bibliotecários e 65% em periódicos de outros campos tais como Enfermagem, Terapia Ocupacional: Psiquiatria e Educação. Biblioterapia é claramente e deve ser desenvolvida como uma atividade interdisciplinar. Para uma visão geral sobre a opinião e a prática da Biblioterapia, durante as quatro décadas passadas, é útil rever os levantamentos. Até agora, pelo menos dois levantamentos particulares e três levantamentos da American Library Association Bibliotherapy Committee foram preparados, usados e analisados conforme quadros a seguir:
  • 37. 37 Figura 1 Raízes da Biblioterapia em Grupo Na Biblioteconomia Educação Bibliotecária Serviço de Grupo de Adulto Serviços de Biblioterapia de Referência grupo Guia de Leitura Biblioterapia Individual Na Psicologia Dinâmica de Grupo Piscoanálise Psicoterapia de Biblioterapia de Grupo Grupo Terapia de Grupo Fonte: Extraído do RUBIN, Rhea Joyce(67)
  • 38. 38 Figura 2 Raízes da Biblioterapia, com suas datas importantes na Biblioteconomia, nas Ciências Humanas, na Psiquiatria e nas Ciências Comportamentais.
  • 39. 39 Mostraremos agora que, em abril de 1956, a Bibliotherapy Committee do então Hospital Libraries Division of ALA, sob a orientação de Margaret Hannigan, conduziu uma pesquisa para mostrar a natureza e extensão dos serviços de Biblioterapia desenvolvido pelos membros do Hospital Libraries Division. Em junho de 1961, a ALA Bibliotherapy Committe, dirigida por Ruth Tews, conduziu um estudo para determinar o pensamento corrente de um grupo selecionado de indivíduos engajados e interessado em Biblioterapia e que possuíam conhecimento do potencial para o uso da leitura de maneira terapêutica. O objetivo era obter do grupo um consenso do que fosse Biblioterapia e do que ela poderia fazer; também se deseja oferecer uma base para a formulação de uma definição. A terceira pesquisa feita pela ALA Bibliotherapy Committe, conduzida em 1975, também usou o programa com duas finalidades. Todas essas pesquisas refletem as filosofias e práticas da Biblioterapia durante os últimos trinta anos. Essas tendências tem influenciado práticas mecânicas e dinâmicas de Bibloterapia. Reportando-se ao pensamento de HANNIGAN (32) diz que a Biblioterapia é um acesso, a longo prazo, aos serviços bibliotecários, usados para fins terapêuticos. No seu artigo da revista Libraly Trends afirma que "a Biblioterapia é uma refinada aplicação das funções normais do biblioterário como conselheiro do leitor". Os serviços dos leitores se desenvolvem fora de outras funções das bibliotecas. Constata-se que, nos anos 70, muito tempo foi consumido para oferecer uma ampla base do desenvolvimento da Biblioterapia como campo, incluíndo os programas de compreensão do assunto. Ressalte-se a importância do maior investimento durante os anos 80, com relação aos padrões e certificados para biblioterapeutas treinados. Questões teóricas estão sendo consideradas, assim como necessidades de pesquisas e métodos sendo identificados e tentados.
  • 40. 40 E de se prever que a ALA, na década de 80, particularmente através de seu ALA Bibliotherapy Committe, continue desenvolvendo estudos e pesquisas que venham a ter, cada vez mais aplicação, na solução de problemas de comunidade. Concluíndo essa parte, reconhecemos que a Biblioterapia proporcionará ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades.
  • 41. 41 III – ORIGENS E TERMINOLOGIA DA BIBLIOTERAPIA A crescente literatura estrangeira sobre Biblioterapia, e principalmente a sua conceituação vem influenciando os bibliotecários brasileiros que também começam a se ocupar do tema. Considera-se a palavra Biblioterapia, como oriunda do grego, significando “Biblion” - livro e “Therapia” - tratamento. Em estudos recentes reconhece-se SamuelMecbord Grothers como o criador da palavra em 1916, em artigo publicado no Atlantic Monthy existindo ainda confusão sobre essa terminologia. O termo Biblioterapia não foi inteiramente aceito. Muitos disseram que era uma designação muito ampla e sugeriram termos mais restritos como biblio – diagnostico para avaliação, ou bibliofilaxia como o uso preventivo pela leitura. Outros achavam que a nomenclatura era muito restrita e sugeriam Bibliogomia, Biblioconselho ou Terapia Bibliotecária. Os termos tem aplicações mais amplas porque não são limitados pela palavra Terapia. Terapia de grupo tutelada e Literapia tem também sido usadas para evitar o prefixo Biblio. Como diz o Dr. Michael Shiyo, o nome Literapia, formado por literatura e terapia, foi escolhido, principalmente para ressaltar suas diferenças do nome mais popular Biblioterapia que foi considerado extremamente vago e sem significado. O abuso do termo Biblioterapia atinge toda e qualquer combinação de temas relacionados com livros e com grupos de pacientes. Literapia tenta enfatizar a tendência literária – imaginativa, mais do que simplesmente estudo didático, informativo e também, apresentar a literapia como BONA FIDE, método da primeira qualidade da psicoterapia, ao invés de uma função padronizada, relegado a bibliotecários. Outro termo relacionado de perto à Biblioterapia é Bibliotecário - Conselheiro. Em 1951 a Uniyersity of Illinois Chicago UIC substitui o
  • 42. 42 Library's Reference Department pelo Department of Library Instruction and Adrisement e planejou implantar Educação geral, Instrução de Biblioteca e um Conselho Estudantil. Quatro bibliotecários foram escolhidos para se tornarem Bibliotercários-Conselheiros, participando dos cursos de treinamento do Departamento UIC. Eles deveriam ser bibliotecários rigorosamente selecionados, treinados e experientes, com personalidade especial e qualificações, incluindo Referência, Ensino, Habilidade de liderança de grupos e Execução de programas de desenvolvimento cuidadosamente planejados. Bibliotecáriosos - Conselheiros treinados deveriam ser capazes de fazer muito para encorajar os leitores a aplicar livros para si próprio através da extensão dos tipos existentes de serviços bibliotecários. O melhor serviço de referência encontra-se comumente no aconselhamento, mas sua principal preocupação é com a transmissão da informação e solução de problemas mais ou menos imediatos. O trabalho de aconselhamento dos leitores e da Biblioterapia, com as atenções voltadas para as necessidades dos indivíduos, geralmente aproxima-se do aconselhamento psicológico. Rubakin., um grande escritor russo, criou uma teoria de leitura que chamou de Bibliopsicologia, formulada em 1916; publicou em dois volumes: Introdução â Bibliopsicolologia, em 1922; naquele ano. seu Instituto de Bibliopsicologia mudou-se de Genova para Lausanne. (Esses fatos estão incluídos numa fascinante biografia de Rubakin escrita pelo seu filho, inserida num livro recente sobre Bibliopsicologia). O próprio Rubakin escreveu 70 artigos sobre Bibliopsicologia (1921-19-1-6). Rubakin citado por RCBI::(6S) indica que: Um livro, como material-objeto será precedido diferentemente por pessoas diferentes. Na nossa visão quando o livro está sendo lido, ocorre um fenômeno subjetivo psicológico baseado nas nossas impressões que o organismo psicofísico do leitor recebe dele como objeto externo. Se o
  • 43. 43 organismo do leitor tiver que se submeter a alguma mudança, o mesmo livro parecerá diferente para ele. Portanto o próprio livro como fenômeno independente do perceptor é uma entidade desconhecida... O leitor não considera o fenômeno psicológico como evocado pelo texto. Ele atribui ao livro que é um material objeto. Rubakin sentiu que esta teoria deveria causar mudanças nas atitudes e métodos do bibliotecário. Assim deveriam voltar suas atenções, do livro, visto como inerte, para a vida interior da personalidade humana. E o seu leitor que cria, constrói e combina; o livro não passa de um instrumento. O bibliotecário que não entender isso poderá converter a melhor biblioteca num cemitério de livros. Dos muitos termos utilizados para "Biblioterapia", alguns foram aplicados a novos. campos, mas a maioria surgiu por causa de reclamações de que o termo era restrito e vago demais. O prefixo Biblio também é muito limitado nos dias atuais. Todos os tipos de material audiovisual poderiam e deveriam ser usados. O sufixo terapia também parece uma escolha errada num tempo em que técnicas de terapia estão proliferando. Biblioterapia não é psicoterapia. A. palavra terapia origina-se da palavra grega para cura. No entanto, Biblioterapia não se restringe ao contexto cura, mas vale também como descoberta do sentido verdadeiro do mundo. A meta da Biblioterapia deveria ser vista internamente e ser compreensível. É importante que os biblioterapeutas estejam conscientes do poder que podem engendrar no cliente. Uma demonstração do poder, por uma pessoa incapaz, manifesta-se através de uma crise nervosa ou na realização de um crime. Agindo, ele ou ela pode chamar atenção e simpatia e isto indica poder sobre outros. Quando a pessoa, na terapia, aprende sobre o motivo de seu comportamento, aquele poder é geralmente removido. Qualquer terapia de efeito deve substituir o poder
  • 44. 44 destrutivo por um outro poder novo e construtivo da visão interna e compreensiva. A Biblioterapia e outras atividades terapêuticas ativas ajudam os clientes a apreciar suas atividades na dança, na arte ou na compreensão. A palavra terapia pode também ter conotação política, relacionada a objeção. A política de terapia tradicional interpessoal toca numa situação que envolve um paciente e um terapeuta - um recebendo e outro prescrevendo. Michael Glenn, um terapeuta radical, declara que terapia hoje é uma relação poderosa entre pessoas – uma para cima outra para baixo; ajudante e ajudado. A grande vantagem da Biblioterapia é que até uma certa extensão, o livro ou outro material faz o trabalho pelo terapeuta. Biblioterapeutas ou outros líderes de grupo, escolhem o material, mas os clientes individuais interpretam isso, primeiro como elemento fora do terapeuta e deles mesmos, depois integram os ensinamentos em si mesmos. A Biblioterapia de grupo utiliza não apenas o material, mas o próprio grupo para facilitar o çrescimento individual a fim de que a tensão terapeuta - cliente seja confortável. . A política da terapia é evidente tanto nos níveis pessoal como interpessoal. Terapia deveria significar mudança, não simplesmente ajustamento, mas, como explica Seymom Hallek, o processo terapêutico encoraja o paciente a tentar mais mudar a si mesmo do que ao ambiente. Na maioria das formas de psicoterapia individual o paciente é geralmente solicitado a examinar seu próprio sentimento e atitudes. Ele também aprende como o ambiente afeta estes sentimentos e atitudes, mas a principal ênfase é colocada na forma com que ele possa alterar sua percepção e reação ao seu ambiente. Quando o paciente se concentra no que é considerado como sua própria inadequação, ele é chamado para ajustar-se e pode tomar-se resignado ao ajuste e ao ambiente
  • 45. 45 opressivo. Aceitação pode ser um meio de se fugir à responsabilidade, mas pode também ser uma meta. Um paciente que aprenda a aceitar a incapacidade física é um bom exemplo do caso. A definição de terapia como cura, o poder interpessoal e a estrutura da terapia, posições exaltadas por médicos na nossa sociedade, causam nos bibliotecários o temor a qualquer atividade denominada Terapia. Outros se preocupam com as ramificações políticas da terapia. Em qualquer dos casos, parece que a terminologia aliena as pessoas, não a atividade de usar literatura para atingir uma visão interna. Os bibliotecários deveriam abordar a Biblioterapia mais como atividade recreacional e ocupacional do que como uma atividade terapêutica que possa fazer parte de um programa médico ou que sirva como caminho possível para uma atualização individual.
  • 46. 46 IV – CONCEITUAÇÃO E DEFNIÇÕES DA BIBLIOTERAPIA A Biblioterapia assume um importante papel na sociedade moderna. Esta assertiva é baseada em vários estudos que têm demonstrado como a Biblioterapia, ao longo do curso da história, vem ocupando uma parte da organização social que cresceu e se diversificou para atender às mudanças e necessidades psicossociais. No dicionário "DORLAND’S ILLLUSTRATED MIEDICAL DICTIONARY" (1941), sob a yerbete Biblioterapia, está a seguinte defInição: "emprego de livros e de sua leitura no tratamento de doenças mentais". Informações apresentadas anteriormente todavia, demonstram que a palavra já havia sido usada desde 1815. Por outro lado, o primeiro dicionário não especializado a registrá- la foi o WEBSTER'S THIRD NEW INTERNATIONAL DICTIONARY, (1961), que a definiu "uso de material de leitura selecionada como adjuvanre terapêutico em Medicina e Psicologia, e também como "guia na solução de problemas penais através da leitura dirigida", informando que a palavra foi adotada especialmente pela ASSOCIA TION OF HOSPITAL AND INSTITUTION LIBRARlES dos Estados Unidos. No mesmo ano acima referenciado, o dicionário Random House definiu-a como: “O uso da leitura com adjuvante na terapia” É necessário relatar o ponto de vista de BUONOCORE(17) no seu Dicionário de Biblioterologia quando afirma que a Biblioterapia é a "arte de curar as enfermidades por meio da leitura". No entanto, é válido esclarecer, que outras definições são encontradas em autores diversos, bibliotecários, educadores, médicos e psicólogos, apresentando suas
  • 47. 47 próprias impressões e interpretações. A esse respeito Moore & Breland citado por TEWS(70), define a Biblioterapia como uma atividade interessante e desafiante para o Bibliotecário, uma vez que põe vida na palavra impressa, podendo o seu impacto sobre uma personalidade individual ter efeito curativo. TEWS(70) defimiu-a, com maior profundidade referindo-se a: Um programa de atividade selecionadas envolvendo materiais de leituras, planejadas, conduzidas e controladas como um tratamento, sob orientação do médico, para solução de problemas emocionais ou outros. Um Psiquiatra conceituou-a como: "O uso consciente e deliberado de materiais de leitura com o propósito de alargar ou dar suporte ao programa terapêutico como um todo, conforme ele se relacione a um paciente particular ou, em alguns casos a um grupo mais ou menos heterogêneo de pacientes. Outra bibliotecária considerou-a "Um programa planejado de leitura ou de atividades de leitura, para um paciente individual ou para um grupo de pacientes". Outra bibliotecária subdividiu a Biblioterapia em explícita e implícita. Esses termos foram originalmente usados para distinguir outras terapias, porém Evelane P. Jackson, adaptou-os à Biblioterapia. À terapia implícita é um recurso utilizado pelos conselheiros de leitores, enquanto que a explícita é feita apenas por um terapeuta treinado. Recomenda-se atenção especial para essas definições: "A Biblioterapia individual é um refinamento de orientação do leitor enquanto que a Biblioterapia
  • 48. 48 em grupo é um híbrido campo de Psicologia e Bibioteconomia usando sessões e discussões como modalidade terapêutica Considerando-se todas essas observações, parece relevante ressaltar o posicionamento de PERElRA(52) ao afirmar que cada uma dessas definições representa um ponto de conflito entre as pessoas envolvidas na Biblioterapia. Por exemplo, a Biblioterapia dos anos 30 era centrada em hospitais, com doentes mentais que precisavam de informações sobre suas doenças e sobre suas implicações; o instrumento de terapia era a leitura didática usada por um grupo de médico e bi- bliotecários. Hoje em dia, há um interesse renovado na educação de pacientes que preencham um modelo geral. O uso de Biblioterapia se espalhou nos contextos da educação: grupo de crianças normais participando de sessões, usando literatura criativa, dirigidos por um professor ou bibliotecário. Atualmente a Biblioterapia é usada por bibliotecários públicos com dois grupos de adultos: os normais e os perturbados. BRYAN(15), em 1939, escreveu um artigo Pode haver lima ciência da Biblioterapia? Ela respondeu sua própria pergunta afirmativamente: Sim, pode haver. No entanto, ela acrescenta que o campo precisava de um corpo de dados de pesquisadores cientificamente treinados antes que pudesse ser considerada uma ciência. Desde aquele tempo tem havido um debate contínuo se a Biblioterapia é Arte ou Ciência. Uma maneira de lidar com essa pergunta é separar o conceito de Biblioterapia em duas partes e chamar a primeira um aspecto de Ciência e a outra de Arte. Brown citado por HORNEO(34) usa essa abordagem quando sugere que: "... essa prescrição de leitura no tratamento de doença mental ou física pode ser vista como a
  • 49. 49 ciência da Biblioterapia e onde se tenta remediar defeitos pessoais de ajudar indivíduos a resolver problemas de pessoas através de sugestões de leitura própria através da bibliotecária ou outro indivíduo, de fora do campo médico, pode ser visto como arte da Biblioterapia. Essa afirmação também é confirmada no Dicionário Webster. Para muitos, o problema vital não é a procura de uma definição, nem mesmo os problemas de ser a Biblioterapia uma Arte ou uma Ciência. Em seus estudos BEATIY(12) afirma que: "A leitura é importante, não importando se é identificada como uma ‘arte’ ou como uma ‘ciência’. Neste contexto é importante esclarecer a opinião de um psiquiatra que respondeu a um questionário dizendo que o problema não é simplesmente definir o que a Biblioterapia é, mas fornecer uma abordagem mais criativa para reconhecer as necessidades existentes e conduzir tipos de Biblioterapia que sirvam a essas necessidades. Os comentários aqui focalizados demonstram que a Biblioterapia, na prática e na discussão, permanece um assunto complexo. É evidente salientar que, no presente, as observações relacionadas com a Biblioterapia indicam um interesse vasto, apesar de algumas limitações claramente definidas e de contínuas confusões. Cumpre ressaltar que a Biblioterapia não está restrita a médicos e bibliotecários em hospitais e instituições.
  • 50. 50 V – TIPOLOGIA E SUBDIVISÕES DA BIBLIOTERAPIA No decorrer da história da civilização, pode-se verificar que Lourell Martin citado por TFWS (70) deixou uma mensagem central para o futuro da Biblioterapia. A pesquisa produz conhecimento. O conhecimento é necessário para o entendimento. Entendimento combinado com habilidade levam a uma ação efetiva. Dentro desta proposição não é possíve1 planejar Biblioterapia. em nenhum de seus aspectos sem um adequado referencial quanto às suas características. De um modo geral os especialistas concordam com a existência de três tipos de Biblioterapia a) Biblioterapia Institucional b) Biblioterapia Clínica c) Biblioterapia Desenvolvimental a) Biblioterapia Institucional se refere a que de literatura - primeiramente didática - com clientes, individualmente. e que já se encontra instituciunalizada. I nc1ui o uso médico tradicional de Biblioterapia cujos textos de higiene mental são recomendados a pacientes mentais. Isso caracteriza uma situação especial de prescrição de litros para doenças específicas. Este tipo de terapia é exercido por uma bibliotecária juntamente com um médico ou uma equipe médica. A meta é principalmente informativa e recreativa, embora algum material interno possa ser oferecido. Este, tipo de Biblioterapia não prevalece hoje, mas alguns programas semelhantes ainda existem. A Biblioterapia institucional também inclui o uso da comunicação dos médicos com pacientes individuais, em prática privada.
  • 51. 51 b) Biblioterapia Clínica - É a que se refere ao uso, numa primeira fase, da literatura imaginativa, com grupo de clientes com problemas emocionais ou comportamentais. Esses clientes podem ou não participar do programa voluntariamente. Os grupos podem ser liberados por um médico ou por um bibliotecário, mas geralmente são implementados por ambos, um consultando o outro. O ambiente pode ser um instituto ou uma comunidade, objetivando uma possível mudança no comportamento. c) Biblioterapia Desenvolvimental - Refere-se ao uso de literatura de modo imaginativo e didático com grupos de indivíduos normais. O grupo de Biblioterapia é designado e liderado pelo bibliotecário, professor ou outro profissional ajudante, para promover o desenvolvimento normal e autoatuação ou para manter a saúde mental. A Biblioterapia desenvolvimental pode ajudar pessoas em tarefas comuns, além de ajudá-las a suportar problemas individuais como divórcio, gravidez, morte e preconceitos, com refinamento das tarefas desenvolvimentais. As distinções entre esses três aspectos da Biblioterapia têm implicações para uma Biblioterapia dinâmica e são importantes para a discussão da educação e conscientização do seu valor. Observe-se a característica comum aos três tipos e discussão do material após a leitura.
  • 52. 52 Figura 3 Características dos três tipos de Biblioterapia INSTITUCIONA CLÍNICA DESENVOLVIMENTIST L A FORMATIVO Individual ou Grupo ativo, Grupo ativo Grupo Voluntário e geralmente Involuntário Grupo voluntário passivo CLIENTE Paciente médico Pessoas com Pessoa normal geralmente ou psiquiátrico, problemas em situação de crise prisioneiro ou emocional ou cliente em prática comportament privada al CONTRATANT Sociedade Sociedade ou Individual E individual TERAPÊUTICA Equipe médica ou Médico, Bibliotecário, professor ou bibliotecária instrutor de outros saúde mental ou bibliotecário, geralmente em consulta MATERIAL Tradicionalmente Literatura Literatura imaginativa USADO didático imaginativa e/ou didática TÉCNCIA Discussão de Discussão de Discussão de material com material material, com ênfase nas visões e reações ênfase nas do cliente. visões e reações do cliente. LOCAL Prática de Prática de Comunidade instituição instituição pública ou privada ou de privada comunidade META Geralmente Visão interna Comportamento normal e informativo, com e/ou mudança auto-realização alguma visão de interna. comportament o
  • 53. 53 VI – OBJETIVOS DA BIBLIOTERAPIA A Biblioterapia constitui assim um apoio à ação das pessoas que estão interessadas na orientação de leitura e que não procuraram ou podem não precisar de cuidados clínicos. Essa orientação consiste em promover encontros efetivos entre pessoas e livros, e é tida como parte da tarefa do programa educacional da biblioteca. Há de se acrescentar que nem sempre os usuários reais ou potenciais da Biblioteca têm hábitos bem estabelecidos de leitura, pois vêm de cursos secundários com limitações comportamentais a este respeito, como se pode comprovar a partir dos dados de LOPES(42). Face a essas circunstâncias e às ponderações arroladas na parte introdutória, aparecem formulados alguns objetivos da Biblioterapia indicados a seguir. BRYAN(15), apresenta uma lista de cinco objetivos: a) evidenciar para o leitor que ele não é o primeiro a sentir o problema; b) fazer ver ao leitor que existe mais de uma solução para o seu problema; c) ajudar o leitor a ver os valores el1Yolvidos na sua experiência em termos humanos; d) oferecer fatos necessários para a solução do seu problema; e e) encorajar o leitor a encarar realisticamente o seu problema. KENNETH(37), ao abordar o assunto, mostra qual tem sido a sua preocupação, mencionando que a Biblioterapia pode SeI usada "como meio de aquisição de informação e conhecimento sobre psicologia geral e psicologia do comportamento humano; a leitura pode ser necessária para capacitar o indivíduo a viver o tema "conhece-te a ti mesmo". A leitura pode ser aconselhada para extroverter o paciente e aumentar seu interesse por outra coisa fora de si próprio. Outros propósitos podem ser: elevar o interesse e conhecimento de realidades externas ou efetuar um fluxo controlado do processo inconsciente ou ainda oferecer oportunidades para identificação e compensação. Seu objetivo final é
  • 54. 54 ajudar aos pacientes a viverem mais efetivamente. Gottschalk ressalta, num trabalho de BEATTY(12) algumas informações sobre a Biblioterapia, mencionando que a leitura prescrita pode ajudar os pacientes a entenderem melhor suas próprias reações, conflitos e frustrações psicológicas e fisiológicas. Por outro lado, pode ajudar a estimular o paciente a pensar construtivamente entre as entrevistas, possibilitando a auto-análise, amenizando futuras atitudes e padrões de comportamento. E continua mostrando que a leitura reforça, por percepções e exemplos, nossos padrões sociais e culturais, inibindo padrões infantis de comportamento. Finalmente, enfoca a importância que se deve dispensar à leitura porque ela, dessa maneira estimula a imaginação, dando enorme satisfação ou alargando as áreas de conhecimento. do paciente. ALSTON(6), esclareceu alguns objetivos, destacandose os seguintes: “O paciente encontrará coragem para entrar em terapia ou discutir um problema particular depois de ler sobre determinado assunto”, mostrando que os livros podem ser usados para ajudar os pacientes a obterem maior compreensão. sobre seus problemas, adquirindo linguagem e idéias que lhes permitem comunicarem esses problemas. A leitura de livros pode ajudar o paciente no processo de socialização, oferecendo algo que ele possa compartilhar, possibilitando a troca de idéias com outras pessoas; geralmente, as pessoas podem encontrar novos caminhos e atitudes através dos livros. Finalmente, existe um valor terapêutico de bom relacionamento e diversão que pode ser encontrado nos livros, embora não se tenha dado muito valor a isto. Menninger citado por BEATTY(12), um dos pioneiros que detalhou os benefícios da Biblioterapia, procurou dividí-los em identificação, estímulo e gratificação narcisista. Mostra .como a experiência de um livro pode ocasionar uma aberração de emoção, alívio pelo reconhecimento de que outros têm problemas similiares, ou projeção de suas características no caráter. Se o usuário é estimulado a
  • 55. 55 comparar suas idéias e valores com as do autor, isso pode resultar em mudança de atitude. O autor também procura evidenciar que o leitor pode alcançar gratificação narcisista, escapando de seus conflitos através de fantasias, fazendo contato com a realidade, ou inquirindo conhecimentos através de leitura didática.
  • 56. 56 VII – O BIBOIOTECÁRIO COMO BIBLIOTERAPEUTA 7.1 Biblioterapeuta: Revisão de Literatura No ambiente de uma Biblioteca, uma figura-chave é a do bibliotecário. Por esta razão, e considerando os objetivos desta pesquisa, faz-se mister apresentar algumas reflexões sobre o papel do Biblio- terapeuta. A propósito, vale, mencionar a observação de HORNE(34), para quem o livro é, ele mesmo, um terapeuta. Os livros podem ser ferramentas valiosas e poderosas para a comunicação, quando prescritos cuidadosamente para indivíduos que estão perturbados. A leitura reflete as experiências humanas de todas as épocas e lugares, e portanto, dá acesso aos registros de vidas, atitudes e sentimentos. Por outro lado, vários mecanismos são postos em funcionamento quando existe uma interação entre um leitor e um livro. Um leitor pode identificar-se com um personagem ou com experiências específicas num livro e ser capaz de purificar-se de sentimentos ou pensamentos reprimidos. O leitor também pode ganhar com a leitura, tomando-se capaz de recuar e aceitar a realidade mais prontamente. Ao ler e aprender que um problema não é único, o problema parece menos amendrontador. O leitor pode conseguir um sentimento de universalidade, com a percepção de que não está sozinho com seus problemas no mundo e de que pode também ajudar a reduzir os sentimentos de inferioridade porventura existentes. Constata-se que a leitura tem uma vantagem sobre a comunicação humana direta porque não é tão intensiva como a palavra falada. Um livro é Muito menos ameaçador, muito menos exigente, e ainda assim pode oferecer muito no sentido de comunicar situações humanas e permitir ao leitor aplicá-las à sua própria realidade. Entretanto, faz-se mister afirmar que o bibliotecário não é um