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PONTOS
                                                                  CONTRA




             Professor do
                               PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA:
                               PRÁTICAS                    ESCRITA
           *

Departamento de Letras

                                 bre not sobre relação
                                 br eve no t a sobr e a r elação
  Clássicas e Vernáculos
     (área de Filologia e
 Língua Portuguesa) da
 Faculdade de Filosofia,
        Letras e Ciências
                                entre o verbal e o não verbal1
      Humanas da USP.

     Correspondência:
             Address:
                                                                     WRITING:
                                       PRACTICES OF READING AND WRITING:
 Rua Delfina, 145, ap.                    a brief note on the relationship
 52 - Vila Madalena –
CEP: 05443-010 - São
                                       between the verbal and the non-verbal
           Paulo (SP)
               E-mail:
   goncor@terra.com.br

                                                      Manoel Luiz Gonçalves Corrêa*




                            Resumo
                            Tomando como objeto de observação legendas produzidas no campo do Fotojornalismo, o
                            presente trabalho aborda a relação entre o verbal e o não verbal do ponto de vista das práticas
                            de leitura e produção do texto. Das reflexões feitas, além do questionamento da autonomia do
                            verbal em relação ao não verbal (e vice-versa) no fotojornalismo, destacam-se as que se referem
                            às noções de leitura e de produção do texto, as atinentes às figuras de autor (e de autoria) e de
                            leitor previsto, bem como as que buscam dar um lugar para os efeitos de literalidade, de
                            redundância e de regra de gênero discursivo na produção e na leitura do texto.


                              bstr
                                 tract
                            A bs tr act
                            Using subtitles produced in the field of Photojournalism, this study addresses the
                            relationship between the verbal and non-verbal, from a perspective of reading and text
                            production practices. Of the different reflections offered, besides the issue of autonomy
                            of the verbal in relation to the non-verbal (and vice-versa) in photojournalism, those
                            that stand out relate to notions of reading and text production, those concerning the
                            figure of the author (and authorship) and the target reader, as well as those that seek to
                            accommodate the effects of literal interpretation, redundancy and the rule of discursive
                            genre in the production and reading of the text.
    Artigo recebido em:
           11/05/2006
          Aprovado em:      Palavras-chave
           22/06/2006       Leitura; linguagem verbal/não-verbal; fotojornalismo.

                                   Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006                 293
CONTRA
                                         PONTOS




Keywords
Reading; Verbal /non-verbal language; Photojournalism.




     Atribuição de sentidos ao texto:
                  leitura e produção


Em que consistiria o puramente verbal? E o puramente não verbal?
Saussure, em sua tentativa de dar um lugar para a Lingüística no campo
da Psicologia Social e, em uma segunda instância, no seio da Semiologia,
opõe língua (entenda-se: um sistema de signos lingüísticos) a outros
sistemas semióticos. Essa distinção3 prosperou na Lingüística até quando
se passou a atentar para o funcionamento pragmático da linguagem
verbal, momento em que a consideração das circunstâncias de uso da
língua, que não se atêm ao lingüístico stricto sensu, se torna parte do
sentido dos enunciados, imputando-lhes uma força que só o dizer – a
realização da proposição como enunciado – torna possível.
Sem omitir a polêmica em torno da autonomia do verbal e do não verbal,
particularizo, inicialmente, minhas discussões, restringindo-as, num
primeiro momento, a uma breve observação sobre a linguagem verbal e,
mais especificamente, sobre a produção e a leitura do texto falado ou escrito.
Para esta breve discussão, tomo o confronto de perspectivas postas no texto
como ponto de partida do processo de leitura. Destaca-se, de saída, o fato de
que, nesse tipo de concepção de leitura, ler não se confunde com simplesmente
decodificar. Bem ao contrário, ler é estabelecer uma relação polêmica com as
representações socialmente construídas sobre os participantes do processo
de leitura, incluída a relação com o tema abordado, com o próprio texto, seu
suporte e o gênero discursivo ao qual é possível remeter sua existência. Em
outras palavras, no processo de leitura se buscaria a identificação da alteridade
no discurso (AUTHIER-REVUZ, 1990), e é nesse sentido que afirmo que
a leitura se realiza como confronto de perspectivas.

294                         Ciberliteratura: arte ou armazém?
                                  Adair de Aguiar Neitzel
PONTOS
                                  CONTRA




A se considerar a validade dessa afirmação, pode-se dizer que, no processo
de leitura, se estabelece uma relação dialógica entre o leitor e a autoria que
ele atribui ao texto, não só a relação entre o leitor e o autor legalmente
imputável – o que produz, assina e se responsabiliza juridicamente pelo
texto –, mas, também, a relação entre o leitor e a autoria que se pode
detectar nas diferentes vozes organizadas em torno da figura do autor, as
quais se materializam no efeito dialógico das práticas sociais e se representam
monofônica ou polifonicamente4 no discurso. Como se vê, a noção de autoria
utilizada neste trabalho parte da de Foucault (1971) para pensar – tanto
em termos de leitura como em termos de produção do texto – num autor
constituído pelas práticas sociais e discursivas de que participa. Isso, de tal
modo que a sua imputabilidade é, apenas, mais uma das conseqüências de
sua inclusão nessas práticas, e não somente um índice de sua existência
corpórea, já que, para que ele se enuncie como autor, é preciso que estabeleça
uma relação com o outro – seu leitor previsto – e, portanto, que se instaure
como uma figura textual situada no espaço incorpóreo do intervalo entre
aquele que escreve e aquele que lê.
No que se refere à construção do texto, penso que ela não se dá pela
“formalização [lógica] de conteúdos de pensamento”, nem pode ser
engendrada por puras formas, “munidas de propriedades como a univocidade
e a não-ambigüidade” (CORRÊA, 1992, p. 27). Não basta, além disso,
uma perspectiva “intelectualista acerca do texto e de sua leitura e produção”
(id., ib.). Isso, porque nem sua leitura nem sua produção acontecem por
efeito de uma simples ação intelectiva do leitor ou de um autor
individualmente considerados. Se assim fosse, o texto poderia ser visto como
um objeto definível apenas e tão-somente por sua articulação lógica.
Tampouco se pode pensar em leitura e produção do texto apenas em função
de um conhecimento de mundo que, mobilizado no momento requerido,
pudesse – em qualquer desses dois momentos – dar conta, por si só, da construção
dos sentidos do texto. Portanto, nem a recorrência a esses saberes (socio)cognitivos,
nem a descrição objetiva dos lugares sociais de produção e de leitura do texto
resolvem a questão da atribuição de sentido ao texto. Analogamente, também a
caracterização de uma autoria individual por meio de traços sociais claramente
definíveis não assegura exatidão, validade, precisão ou qualquer outra
forma de acabamento do sentido do texto. Conseqüentemente, as práticas
de leitura e escrita podem ser vistas, também, como ação sobre o outro e
sobre o mundo – fato que as historiciza e que as situa para além do plano
cognitivo do indivíduo ou da sua dimensão social estrita.

      Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006       295
CONTRA
                                        PONTOS




No caso da leitura, a descrição objetiva dos lugares sociais do autor
não é indicador seguro de um caminho que, se seguido pelo leitor, lhe
permitiria chegar ao “cálculo” exato do sentido do texto. Se o texto é
construído por meio do confronto de perspectivas e se a leitura pode
incluir a imposição de novas perspectivas trazidas pelo leitor, as quais
podem refratar os sentidos previstos e produzir novas configurações de
sentido para o texto, não se pode ir muito mais longe do que dizer
que, no processo de leitura, o leitor, ao reconhecer, a seu modo, o
processo de produção atualizado pelo texto, projeta – para além do
autor juridicamente imputável – uma autoria para o texto e, a partir
do diálogo com ela, produz a sua leitura.
Do mesmo modo, o autor material de um texto sempre prevê um
leitor 5 , que está presente mesmo naqueles textos escolares que
redundam, quase que involuntariamente, numa conversa com o
professor6. Sempre há, pois, réplica do autor a um destinatário e, ligados
a essa réplica, diferentes modos de emergência do destinatário no texto.
Sem a pretensão de exaustividade, podem-se enumerar dentre esses
modos de emergência: o do destinatário suposto como presente (como
numa conversação face a face); o do destinatário construído como
ausente, mas de algum modo identificado no texto; e, finalmente, o
do destinatário que, moldado por uma determinada seleção de
argumentos, voluntária ou involuntariamente distancia-se daquele que
aparece nominalmente expresso, de modo a se constituir como um
interlocutor diferente do nomeado e/ou projetado no texto.
Em função dessas diferentes possibilidades dialógicas, os efeitos de
sentido do texto são produzidos, também, em função do modo como o
leitor mobiliza os seus contatos anteriores com práticas de leitura e escrita,
estabelecendo-se, porém, uma relação que ultrapassa em muito a simples
dicotomia entre o conhecido e o por conhecer. As hipóteses sobre os
sentidos possíveis são feitas com base na relação que o leitor estabelece
com a autoria do texto. Desse modo, as vozes que detecta, a partir dessa
relação dialógica, são não apenas as que já “ouviu” ou “leu”, mas, também,
aquelas com que toma contato no momento da leitura e aquelas cuja
existência pode, também, antecipar.
Embora tenha apresentado essas observações como relativas à linguagem
verbal, lembro que a mesma complexidade está presente na chamada

296                        Ciberliteratura: arte ou armazém?
                                 Adair de Aguiar Neitzel
PONTOS
                                  CONTRA




linguagem não verbal e, naturalmente, também naqueles textos
produzidos com base na combinação entre o verbal e o não verbal. Neste
ponto, dirijo minhas observações sobre leitura e escrita a textos do campo
da Comunicação, mais especificamente, a textos cujo modo de produção
combina o verbal e o não verbal, como no caso particular da composição
entre fotografia e legenda, que passo, neste ponto, a explorar.




            O verbal e o não verbal como
                 um problema de leitura
                 e de produção do texto


Apesar das especificidades que os caracterizam, o verbal e o não verbal
não são dois modos antagônicos de produção de significação. Está cada
vez mais clara para o lingüista, ocupado com os chamados problemas
do verbal, a necessidade de voltar-se para a análise e a consideração do
papel do elemento não-verbal na comunicação efetuada por meio da
palavra. Por sua vez, é também imperiosa para os estudiosos do não
verbal a consideração do papel da palavra em tipos de comunicação
que, embora não a utilizem como recurso primeiro, tomam-na como
elemento participante da significação.
Tomemos o caso da comunicação visual, mais especificamente, o caso do
fotojornalismo. Desse campo do jornalismo, interessa refletir sobre os
textos semioticamente híbridos, compostos por fotografia e legenda, em
que se juntam o fotográfico (o não verbal) e o gráfico-escrito (o verbal)
para a construção de um novo texto.
No texto composto por fotografia e legenda, a relação entre o verbal e
o não verbal vem, do ponto de vista dos efeitos de sentido produzidos,
freqüentemente, marcada por um curioso efeito de literalidade
(POSSENTI, 2002) na descrição verbal das ações registradas pela
imagem. É verdade que nem todos os leitores se dão conta desse efeito
nem se surpreendem com as legendas – aparentemente literais – que
interpretam as fotos dos principais jornais do mundo inteiro, como na
legenda da foto da agência France Presse abaixo, reproduzida pela Folha
de S. Paulo de 06/05/2006:

      Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006   297
CONTRA
                                      PONTOS




Figura 1: Chávez e Morales




Fonte: Javier Mamani / France Press

Nessa aparente tendência à literalidade da legenda, há, pode-se dizer,
uma também aparente subordinação do verbal ao não-verbal, por
meio da qual o texto escrito parece estar a serviço de uma simples
descrição da cena – talvez melhor definida como narrativa visual –
presente na fotografia. Para o leitor mais atento, porém, esse tipo de
legenda, que identifica os fatos e suas personagens, pode ser bastante
surpreendente, indo do francamente interpretativo (já então não
literal) ao até mesmo irônico, ainda que pela via da descrição literal.
Disso, conclui-se que o efeito de literalidade depende de como autor
e leitor, cada um a seu tempo, se relacionam entre si e se situam em
relação ao texto, tomado este último como parte de um processo
discursivo. Não basta, portanto, para caracterizar o efeito de
literalidade, simplesmente, reconhecer na legenda o emprego
supostamente “não conotativo” das palavras. Encarar a relação entre
legenda e fotografia como um novo recorte textual no processo
discursivo e situá-la nesse processo são, de fato, as ações de leitura
que permitem propor efeitos de sentido para essa composição textual,
sejam eles quais forem (de literalidade, de redundância etc.).
No caso da foto acima, embora a apresentação dos dois presidentes e
a indicação de sua posição na foto – esquerda e direita – sejam
informações relevantes, pois se supõe que nem todos os leitores
conhecem as personagens da notícia, a ação de se cumprimentarem
repete o que já se identifica na foto. À primeira vista, o leitor

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                               Adair de Aguiar Neitzel
PONTOS
                                 CONTRA




prescindiria dessa informação na legenda, já que é, precisamente,
um cumprimento o que se vê na foto 7. Os dados lingüísticos que
descrevem essa ação poderiam, portanto, ser considerados como uma
tradução absolutamente literal da cena mostrada na foto. No entanto,
se considerados o conflito 8 entre Brasil e Bolívia e o apoio que o
governo da Bolívia recebeu de Hugo Chávez, presidente da Venezuela,
tal descrição do ato de cumprimentar deixa de valer pela literalidade
e passa a valer, justamente, pelo sentido que a redundância acrescenta
à história que a fotografia conta. Muito mais do que uma simples
descrição, pode-se ler nessa legenda um comentário sobre o tipo de
aliança que um tal cumprimento sela e, também, sobre o
posicionamento do presidente da Venezuela em relação ao conflito.
Nessas condições, pensar no caso da narrativa visual da fotografia
acompanhada de legenda – esta última contendo, por sua vez,
descrição de pessoas, lugares, épocas, ações e situações – é pensar não
apenas numa articulação entre o olhar do fotógrafo e o olhar que
aprecia a foto como produto final (o leitor do jornal), mas na
consideração da composição textual como um todo, o que inclui,
naturalmente, a própria notícia (ou comentário), que compõe com a
foto legendada a matéria completa do jornalista. Esse conjunto textual
ganha sentidos, por sua vez, também do enquadramento que recebe,
ou seja, o lugar que ocupa em relação a outros textos numa dada
página (diagramação). Nota-se, desse modo, a complexidade dessa
autoria, a qual é passível de diferentes modos de identificação no
processo da leitura. Vale lembrar, somente a título de observação,
que a legenda pode ser de responsabilidade de outra instância de
edição do jornal que não a do fotógrafo, seja ela a do próprio editor,
a do chefe de redação de uma dada seção, a do revisor de redação ou
mesmo a do jornalista responsável pela matéria a que se liga
diretamente a fotografia. Nesse sentido, pode-se dizer que é a instância
de edição que rege o conjunto textual foto/legenda/matéria.
Pode-se, pois, concluir que é bastante possível que a interpretação de
uma legenda se torne menos “literal” por ocasião de uma releitura
que seja feita após a leitura integral da matéria a que a composição
textual foto/legenda está ligada. Por isso, é importante relativizar a
determinação do verbal pelo não verbal no que se refere à leitura do
efeito de literalidade na legenda.

     Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006   299
CONTRA
                                       PONTOS




                 ponto para ref lexão:
                                efle
      U m último pont o par a r ef le xão:
      regra de gênero na produção e
                      leitura do texto


Dentre os vários perigos que uma boa foto corre ao ser remetida a
uma legenda, o principal deles é, talvez, o de essa articulação
desobedecer a uma regra que, em Bakhtin (1992), poderia ser
chamada regra de “gênero discursivo”.
Se, por exemplo, o fotógrafo consegue um resultado técnico e
artístico importante do ponto de vista de uma narrativa por meio
da imagem, mas o responsável pela matéria (ou pela sua edição)
não chega a ultrapassar um tom didático ao propor uma legenda,
fotos de qualidade artística do gênero “narrativa visual” podem ser
prejudicadas pela formulação verbal da legenda, uma vez que o tom
didático caberia melhor, talvez, para um outro tipo de gênero, por
exemplo, o da “ilustração”.
A razão é simples: uma foto que registra uma narrativa visual tem
um caráter diferente daquela que serve simplesmente à ilustração.
Esta última particulariza, do ponto de vista da narrativa pela
imagem, o que de algum modo já está verbalmente explicitado na
matéria. Há, pois, nesse caso, uma tendência ao fechamento do
horizonte interpretativo.
O gênero narrativa visual, ao contrário, ao eleger um ponto arbitrário
para começar a narrativa e ao interrompê-la num ponto de
acabamento também arbitrário, lida com a mobilidade do horizonte
interpretativo, cuja busca é deixada ao leitor. Abre-se, portanto, à
sua interpretação.
Um equívoco no tom pode, portanto, produzir uma relação de dominância
entre a foto e a legenda de modo a subordinar a interpretação do não
verbal (da foto) ao verbal (à legenda), podendo, mesmo, acarretar uma
leitura para menos da própria qualidade da foto.
Esse fato mostra a importância da combinação do verbal e do não verbal
no fotojornalismo e dá indicações sobre os tipos de leitura ligados a certos
procedimentos de composição do gênero, o que permite reafirmar que a
relação entre o verbal e o não verbal envolve uma questão complexa de
leitura e de produção do texto.

300                       Ciberliteratura: arte ou armazém?
                                Adair de Aguiar Neitzel
PONTOS
                                    CONTRA




                                   A título de conclusão


Retomando a questão que deu origem a este texto, como fazer, finalmente,
para recortar, elaborar e interpretar a legenda para que ela se articule
com o recorte fotográfico de uma narrativa visual?
Emulando a linguagem do fotógrafo, pode-se dizer que é preciso controlar
a abertura da lente na escolha das palavras (não dizer o óbvio – ou dizê-
lo com uma função determinada –, nem propor um sentido enigmático),
sabendo manter a distância entre as palavras e a imagem que interpretam
(saber lidar com a literalidade e a sugestão de sentidos) e entre as palavras
e o leitor para quem são dirigidas (saber lidar com a continuidade e a
ruptura narrativas e com o conhecido e o novo para o leitor).
Todos esses procedimentos são, naturalmente, procedimentos de edição e,
embora não se defenda aqui qualquer possibilidade de controle dos sentidos,
deles e do próprio efeito da enunciação de sua escolha – modo de encontro
entre produtor e leitor do texto – dependem os efeitos de sentido produzidos.




                                                          Referências

AUTHIER-REVUZ, J. Heterogeneidade(s) enunciativa(s). Caderno de Estudos Lingüísticos.
Campinas (SP), 1990, v. 19, p. 25-42.
AVANCINI, A. Festa popular em brancos e pretos: formas de fazer ver a Lavagem do Senhor
do Bonfim da Bahia. Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação defendida junto
à ECA-USP, 2004.
____. Atílio Avancini. São Paulo : EDUSP, 2006.( Série Artistas da USP 15).
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo : Martins Fontes,1992.
BARROS, D.L.P. DE Dialogismo, Polifonia e Enunciação. In: BARROS, D.L.P. DE &
FIORIN, J.L. (orgs.) Dialogismo, polifonia, intertextualidade: em torno de Bakhtin. São
Paulo : EDUSP, 1994, p. 1-9.
CORRÊA, M.L.G. Da leitura à produção do texto: uma modalidade de ensino de redação.
Revista Alfa - O texto: leitura e tradução. São Paulo: 1992, vol. 36, p. 25-38.
_____. Variação lingüística: qual o seu limite na prática da leitura? Revista Estudos
Lingüísticos. São Paulo, 2000, v. 29, p. 516-521.
_____. Linguagem e comunicação social: visões da lingüística moderna. São Paulo : Parábola,
2003.
ECO, U. Lector in fabula: a cooperação interpretativa nos textos narrativos. São Paulo :


       Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006            301
CONTRA
                                                   PONTOS




Perspectiva, 1986 : 1979.
FOUCAULT, M. L’ordre du discours. Paris : Gallimard, 1971.
GERALDI, J.W. (org.) O texto na sala de aula: leitura e produção. 8ed. Cascavel (PR) :
ASSOESTE, 1984.
____. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas (SP) : Mercado
de Letras – ALB, 1996.
POSSENTI, S. Sobre as noções de sentido e de efeito de sentido. In: Os limites do
discurso. Curitiba (PR) : Criar Edições Ltda., 2002, p. 167-186.




                                                                                Notas


1
 O estímulo inicial para a produção deste texto foi uma consulta feita pelo Prof. Dr. Atilio
Avancini, pesquisador em Fotojornalismo da ECA-USP, durante seu período de estudos junto à
Université Stendhal Grenoble 3 (França), sob a direção do professor Bérnard Miège, em maio/
2003. A questão de partida foi: Como “formatar” um trabalho em que haja uma valorização
mútua das linguagens verbal e não verbal? Como ambas podem se tornar valorizadas? Isso dentro
de uma narrativa visual que tenha como meta o percurso de uma festa como, por exemplo, a festa
da Lavagem do Senhor do Bonfim.

2
 Em Corrêa (2003), tomando por base questões lingüístico-pragmáticas levantadas pelos estudos
da língua em uso, esboço um questionamento acerca da separação entre o verbal e o não verbal.

3
 Sobre efeitos monofônicos e polifônicos, conferir a formulação de Barros (1994, p. 6), feita com
base em Bakhtin.

4
  No sentido dado por Eco(1986 ,1979, p. 39), ao afirmar que o texto é um produto cujo destino
interpretativo deve fazer parte do próprio mecanismo gerativo.

5.
     Conferir a formulação original (e mais precisa) em Geraldi (1984).

6
 Também a informação sobre o “encontro em La Paz” poderia ser considerada dispensável se se
considerar o todo da matéria jornalística de que essa foto faz parte.

7
 O conflito refere-se ao fato de que, dias antes dessa notícia, o então recém-empossado presidente
Evo Morales nacionalizara o gás boliviano e ordenara a ocupação pelo Exército dos campos de
produção das empresas estrangeiras no país, entre elas a estatal brasileira Petrobrás.




302                                  Ciberliteratura: arte ou armazém?
                                           Adair de Aguiar Neitzel

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Relação entre o verbal e não verbal na leitura e produção de texto

  • 1. PONTOS CONTRA Professor do PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA: PRÁTICAS ESCRITA * Departamento de Letras bre not sobre relação br eve no t a sobr e a r elação Clássicas e Vernáculos (área de Filologia e Língua Portuguesa) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências entre o verbal e o não verbal1 Humanas da USP. Correspondência: Address: WRITING: PRACTICES OF READING AND WRITING: Rua Delfina, 145, ap. a brief note on the relationship 52 - Vila Madalena – CEP: 05443-010 - São between the verbal and the non-verbal Paulo (SP) E-mail: goncor@terra.com.br Manoel Luiz Gonçalves Corrêa* Resumo Tomando como objeto de observação legendas produzidas no campo do Fotojornalismo, o presente trabalho aborda a relação entre o verbal e o não verbal do ponto de vista das práticas de leitura e produção do texto. Das reflexões feitas, além do questionamento da autonomia do verbal em relação ao não verbal (e vice-versa) no fotojornalismo, destacam-se as que se referem às noções de leitura e de produção do texto, as atinentes às figuras de autor (e de autoria) e de leitor previsto, bem como as que buscam dar um lugar para os efeitos de literalidade, de redundância e de regra de gênero discursivo na produção e na leitura do texto. bstr tract A bs tr act Using subtitles produced in the field of Photojournalism, this study addresses the relationship between the verbal and non-verbal, from a perspective of reading and text production practices. Of the different reflections offered, besides the issue of autonomy of the verbal in relation to the non-verbal (and vice-versa) in photojournalism, those that stand out relate to notions of reading and text production, those concerning the figure of the author (and authorship) and the target reader, as well as those that seek to accommodate the effects of literal interpretation, redundancy and the rule of discursive genre in the production and reading of the text. Artigo recebido em: 11/05/2006 Aprovado em: Palavras-chave 22/06/2006 Leitura; linguagem verbal/não-verbal; fotojornalismo. Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006 293
  • 2. CONTRA PONTOS Keywords Reading; Verbal /non-verbal language; Photojournalism. Atribuição de sentidos ao texto: leitura e produção Em que consistiria o puramente verbal? E o puramente não verbal? Saussure, em sua tentativa de dar um lugar para a Lingüística no campo da Psicologia Social e, em uma segunda instância, no seio da Semiologia, opõe língua (entenda-se: um sistema de signos lingüísticos) a outros sistemas semióticos. Essa distinção3 prosperou na Lingüística até quando se passou a atentar para o funcionamento pragmático da linguagem verbal, momento em que a consideração das circunstâncias de uso da língua, que não se atêm ao lingüístico stricto sensu, se torna parte do sentido dos enunciados, imputando-lhes uma força que só o dizer – a realização da proposição como enunciado – torna possível. Sem omitir a polêmica em torno da autonomia do verbal e do não verbal, particularizo, inicialmente, minhas discussões, restringindo-as, num primeiro momento, a uma breve observação sobre a linguagem verbal e, mais especificamente, sobre a produção e a leitura do texto falado ou escrito. Para esta breve discussão, tomo o confronto de perspectivas postas no texto como ponto de partida do processo de leitura. Destaca-se, de saída, o fato de que, nesse tipo de concepção de leitura, ler não se confunde com simplesmente decodificar. Bem ao contrário, ler é estabelecer uma relação polêmica com as representações socialmente construídas sobre os participantes do processo de leitura, incluída a relação com o tema abordado, com o próprio texto, seu suporte e o gênero discursivo ao qual é possível remeter sua existência. Em outras palavras, no processo de leitura se buscaria a identificação da alteridade no discurso (AUTHIER-REVUZ, 1990), e é nesse sentido que afirmo que a leitura se realiza como confronto de perspectivas. 294 Ciberliteratura: arte ou armazém? Adair de Aguiar Neitzel
  • 3. PONTOS CONTRA A se considerar a validade dessa afirmação, pode-se dizer que, no processo de leitura, se estabelece uma relação dialógica entre o leitor e a autoria que ele atribui ao texto, não só a relação entre o leitor e o autor legalmente imputável – o que produz, assina e se responsabiliza juridicamente pelo texto –, mas, também, a relação entre o leitor e a autoria que se pode detectar nas diferentes vozes organizadas em torno da figura do autor, as quais se materializam no efeito dialógico das práticas sociais e se representam monofônica ou polifonicamente4 no discurso. Como se vê, a noção de autoria utilizada neste trabalho parte da de Foucault (1971) para pensar – tanto em termos de leitura como em termos de produção do texto – num autor constituído pelas práticas sociais e discursivas de que participa. Isso, de tal modo que a sua imputabilidade é, apenas, mais uma das conseqüências de sua inclusão nessas práticas, e não somente um índice de sua existência corpórea, já que, para que ele se enuncie como autor, é preciso que estabeleça uma relação com o outro – seu leitor previsto – e, portanto, que se instaure como uma figura textual situada no espaço incorpóreo do intervalo entre aquele que escreve e aquele que lê. No que se refere à construção do texto, penso que ela não se dá pela “formalização [lógica] de conteúdos de pensamento”, nem pode ser engendrada por puras formas, “munidas de propriedades como a univocidade e a não-ambigüidade” (CORRÊA, 1992, p. 27). Não basta, além disso, uma perspectiva “intelectualista acerca do texto e de sua leitura e produção” (id., ib.). Isso, porque nem sua leitura nem sua produção acontecem por efeito de uma simples ação intelectiva do leitor ou de um autor individualmente considerados. Se assim fosse, o texto poderia ser visto como um objeto definível apenas e tão-somente por sua articulação lógica. Tampouco se pode pensar em leitura e produção do texto apenas em função de um conhecimento de mundo que, mobilizado no momento requerido, pudesse – em qualquer desses dois momentos – dar conta, por si só, da construção dos sentidos do texto. Portanto, nem a recorrência a esses saberes (socio)cognitivos, nem a descrição objetiva dos lugares sociais de produção e de leitura do texto resolvem a questão da atribuição de sentido ao texto. Analogamente, também a caracterização de uma autoria individual por meio de traços sociais claramente definíveis não assegura exatidão, validade, precisão ou qualquer outra forma de acabamento do sentido do texto. Conseqüentemente, as práticas de leitura e escrita podem ser vistas, também, como ação sobre o outro e sobre o mundo – fato que as historiciza e que as situa para além do plano cognitivo do indivíduo ou da sua dimensão social estrita. Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006 295
  • 4. CONTRA PONTOS No caso da leitura, a descrição objetiva dos lugares sociais do autor não é indicador seguro de um caminho que, se seguido pelo leitor, lhe permitiria chegar ao “cálculo” exato do sentido do texto. Se o texto é construído por meio do confronto de perspectivas e se a leitura pode incluir a imposição de novas perspectivas trazidas pelo leitor, as quais podem refratar os sentidos previstos e produzir novas configurações de sentido para o texto, não se pode ir muito mais longe do que dizer que, no processo de leitura, o leitor, ao reconhecer, a seu modo, o processo de produção atualizado pelo texto, projeta – para além do autor juridicamente imputável – uma autoria para o texto e, a partir do diálogo com ela, produz a sua leitura. Do mesmo modo, o autor material de um texto sempre prevê um leitor 5 , que está presente mesmo naqueles textos escolares que redundam, quase que involuntariamente, numa conversa com o professor6. Sempre há, pois, réplica do autor a um destinatário e, ligados a essa réplica, diferentes modos de emergência do destinatário no texto. Sem a pretensão de exaustividade, podem-se enumerar dentre esses modos de emergência: o do destinatário suposto como presente (como numa conversação face a face); o do destinatário construído como ausente, mas de algum modo identificado no texto; e, finalmente, o do destinatário que, moldado por uma determinada seleção de argumentos, voluntária ou involuntariamente distancia-se daquele que aparece nominalmente expresso, de modo a se constituir como um interlocutor diferente do nomeado e/ou projetado no texto. Em função dessas diferentes possibilidades dialógicas, os efeitos de sentido do texto são produzidos, também, em função do modo como o leitor mobiliza os seus contatos anteriores com práticas de leitura e escrita, estabelecendo-se, porém, uma relação que ultrapassa em muito a simples dicotomia entre o conhecido e o por conhecer. As hipóteses sobre os sentidos possíveis são feitas com base na relação que o leitor estabelece com a autoria do texto. Desse modo, as vozes que detecta, a partir dessa relação dialógica, são não apenas as que já “ouviu” ou “leu”, mas, também, aquelas com que toma contato no momento da leitura e aquelas cuja existência pode, também, antecipar. Embora tenha apresentado essas observações como relativas à linguagem verbal, lembro que a mesma complexidade está presente na chamada 296 Ciberliteratura: arte ou armazém? Adair de Aguiar Neitzel
  • 5. PONTOS CONTRA linguagem não verbal e, naturalmente, também naqueles textos produzidos com base na combinação entre o verbal e o não verbal. Neste ponto, dirijo minhas observações sobre leitura e escrita a textos do campo da Comunicação, mais especificamente, a textos cujo modo de produção combina o verbal e o não verbal, como no caso particular da composição entre fotografia e legenda, que passo, neste ponto, a explorar. O verbal e o não verbal como um problema de leitura e de produção do texto Apesar das especificidades que os caracterizam, o verbal e o não verbal não são dois modos antagônicos de produção de significação. Está cada vez mais clara para o lingüista, ocupado com os chamados problemas do verbal, a necessidade de voltar-se para a análise e a consideração do papel do elemento não-verbal na comunicação efetuada por meio da palavra. Por sua vez, é também imperiosa para os estudiosos do não verbal a consideração do papel da palavra em tipos de comunicação que, embora não a utilizem como recurso primeiro, tomam-na como elemento participante da significação. Tomemos o caso da comunicação visual, mais especificamente, o caso do fotojornalismo. Desse campo do jornalismo, interessa refletir sobre os textos semioticamente híbridos, compostos por fotografia e legenda, em que se juntam o fotográfico (o não verbal) e o gráfico-escrito (o verbal) para a construção de um novo texto. No texto composto por fotografia e legenda, a relação entre o verbal e o não verbal vem, do ponto de vista dos efeitos de sentido produzidos, freqüentemente, marcada por um curioso efeito de literalidade (POSSENTI, 2002) na descrição verbal das ações registradas pela imagem. É verdade que nem todos os leitores se dão conta desse efeito nem se surpreendem com as legendas – aparentemente literais – que interpretam as fotos dos principais jornais do mundo inteiro, como na legenda da foto da agência France Presse abaixo, reproduzida pela Folha de S. Paulo de 06/05/2006: Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006 297
  • 6. CONTRA PONTOS Figura 1: Chávez e Morales Fonte: Javier Mamani / France Press Nessa aparente tendência à literalidade da legenda, há, pode-se dizer, uma também aparente subordinação do verbal ao não-verbal, por meio da qual o texto escrito parece estar a serviço de uma simples descrição da cena – talvez melhor definida como narrativa visual – presente na fotografia. Para o leitor mais atento, porém, esse tipo de legenda, que identifica os fatos e suas personagens, pode ser bastante surpreendente, indo do francamente interpretativo (já então não literal) ao até mesmo irônico, ainda que pela via da descrição literal. Disso, conclui-se que o efeito de literalidade depende de como autor e leitor, cada um a seu tempo, se relacionam entre si e se situam em relação ao texto, tomado este último como parte de um processo discursivo. Não basta, portanto, para caracterizar o efeito de literalidade, simplesmente, reconhecer na legenda o emprego supostamente “não conotativo” das palavras. Encarar a relação entre legenda e fotografia como um novo recorte textual no processo discursivo e situá-la nesse processo são, de fato, as ações de leitura que permitem propor efeitos de sentido para essa composição textual, sejam eles quais forem (de literalidade, de redundância etc.). No caso da foto acima, embora a apresentação dos dois presidentes e a indicação de sua posição na foto – esquerda e direita – sejam informações relevantes, pois se supõe que nem todos os leitores conhecem as personagens da notícia, a ação de se cumprimentarem repete o que já se identifica na foto. À primeira vista, o leitor 298 Ciberliteratura: arte ou armazém? Adair de Aguiar Neitzel
  • 7. PONTOS CONTRA prescindiria dessa informação na legenda, já que é, precisamente, um cumprimento o que se vê na foto 7. Os dados lingüísticos que descrevem essa ação poderiam, portanto, ser considerados como uma tradução absolutamente literal da cena mostrada na foto. No entanto, se considerados o conflito 8 entre Brasil e Bolívia e o apoio que o governo da Bolívia recebeu de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, tal descrição do ato de cumprimentar deixa de valer pela literalidade e passa a valer, justamente, pelo sentido que a redundância acrescenta à história que a fotografia conta. Muito mais do que uma simples descrição, pode-se ler nessa legenda um comentário sobre o tipo de aliança que um tal cumprimento sela e, também, sobre o posicionamento do presidente da Venezuela em relação ao conflito. Nessas condições, pensar no caso da narrativa visual da fotografia acompanhada de legenda – esta última contendo, por sua vez, descrição de pessoas, lugares, épocas, ações e situações – é pensar não apenas numa articulação entre o olhar do fotógrafo e o olhar que aprecia a foto como produto final (o leitor do jornal), mas na consideração da composição textual como um todo, o que inclui, naturalmente, a própria notícia (ou comentário), que compõe com a foto legendada a matéria completa do jornalista. Esse conjunto textual ganha sentidos, por sua vez, também do enquadramento que recebe, ou seja, o lugar que ocupa em relação a outros textos numa dada página (diagramação). Nota-se, desse modo, a complexidade dessa autoria, a qual é passível de diferentes modos de identificação no processo da leitura. Vale lembrar, somente a título de observação, que a legenda pode ser de responsabilidade de outra instância de edição do jornal que não a do fotógrafo, seja ela a do próprio editor, a do chefe de redação de uma dada seção, a do revisor de redação ou mesmo a do jornalista responsável pela matéria a que se liga diretamente a fotografia. Nesse sentido, pode-se dizer que é a instância de edição que rege o conjunto textual foto/legenda/matéria. Pode-se, pois, concluir que é bastante possível que a interpretação de uma legenda se torne menos “literal” por ocasião de uma releitura que seja feita após a leitura integral da matéria a que a composição textual foto/legenda está ligada. Por isso, é importante relativizar a determinação do verbal pelo não verbal no que se refere à leitura do efeito de literalidade na legenda. Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006 299
  • 8. CONTRA PONTOS ponto para ref lexão: efle U m último pont o par a r ef le xão: regra de gênero na produção e leitura do texto Dentre os vários perigos que uma boa foto corre ao ser remetida a uma legenda, o principal deles é, talvez, o de essa articulação desobedecer a uma regra que, em Bakhtin (1992), poderia ser chamada regra de “gênero discursivo”. Se, por exemplo, o fotógrafo consegue um resultado técnico e artístico importante do ponto de vista de uma narrativa por meio da imagem, mas o responsável pela matéria (ou pela sua edição) não chega a ultrapassar um tom didático ao propor uma legenda, fotos de qualidade artística do gênero “narrativa visual” podem ser prejudicadas pela formulação verbal da legenda, uma vez que o tom didático caberia melhor, talvez, para um outro tipo de gênero, por exemplo, o da “ilustração”. A razão é simples: uma foto que registra uma narrativa visual tem um caráter diferente daquela que serve simplesmente à ilustração. Esta última particulariza, do ponto de vista da narrativa pela imagem, o que de algum modo já está verbalmente explicitado na matéria. Há, pois, nesse caso, uma tendência ao fechamento do horizonte interpretativo. O gênero narrativa visual, ao contrário, ao eleger um ponto arbitrário para começar a narrativa e ao interrompê-la num ponto de acabamento também arbitrário, lida com a mobilidade do horizonte interpretativo, cuja busca é deixada ao leitor. Abre-se, portanto, à sua interpretação. Um equívoco no tom pode, portanto, produzir uma relação de dominância entre a foto e a legenda de modo a subordinar a interpretação do não verbal (da foto) ao verbal (à legenda), podendo, mesmo, acarretar uma leitura para menos da própria qualidade da foto. Esse fato mostra a importância da combinação do verbal e do não verbal no fotojornalismo e dá indicações sobre os tipos de leitura ligados a certos procedimentos de composição do gênero, o que permite reafirmar que a relação entre o verbal e o não verbal envolve uma questão complexa de leitura e de produção do texto. 300 Ciberliteratura: arte ou armazém? Adair de Aguiar Neitzel
  • 9. PONTOS CONTRA A título de conclusão Retomando a questão que deu origem a este texto, como fazer, finalmente, para recortar, elaborar e interpretar a legenda para que ela se articule com o recorte fotográfico de uma narrativa visual? Emulando a linguagem do fotógrafo, pode-se dizer que é preciso controlar a abertura da lente na escolha das palavras (não dizer o óbvio – ou dizê- lo com uma função determinada –, nem propor um sentido enigmático), sabendo manter a distância entre as palavras e a imagem que interpretam (saber lidar com a literalidade e a sugestão de sentidos) e entre as palavras e o leitor para quem são dirigidas (saber lidar com a continuidade e a ruptura narrativas e com o conhecido e o novo para o leitor). Todos esses procedimentos são, naturalmente, procedimentos de edição e, embora não se defenda aqui qualquer possibilidade de controle dos sentidos, deles e do próprio efeito da enunciação de sua escolha – modo de encontro entre produtor e leitor do texto – dependem os efeitos de sentido produzidos. Referências AUTHIER-REVUZ, J. Heterogeneidade(s) enunciativa(s). Caderno de Estudos Lingüísticos. Campinas (SP), 1990, v. 19, p. 25-42. AVANCINI, A. Festa popular em brancos e pretos: formas de fazer ver a Lavagem do Senhor do Bonfim da Bahia. Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação defendida junto à ECA-USP, 2004. ____. Atílio Avancini. São Paulo : EDUSP, 2006.( Série Artistas da USP 15). BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo : Martins Fontes,1992. BARROS, D.L.P. DE Dialogismo, Polifonia e Enunciação. In: BARROS, D.L.P. DE & FIORIN, J.L. (orgs.) Dialogismo, polifonia, intertextualidade: em torno de Bakhtin. São Paulo : EDUSP, 1994, p. 1-9. CORRÊA, M.L.G. Da leitura à produção do texto: uma modalidade de ensino de redação. Revista Alfa - O texto: leitura e tradução. São Paulo: 1992, vol. 36, p. 25-38. _____. Variação lingüística: qual o seu limite na prática da leitura? Revista Estudos Lingüísticos. São Paulo, 2000, v. 29, p. 516-521. _____. Linguagem e comunicação social: visões da lingüística moderna. São Paulo : Parábola, 2003. ECO, U. Lector in fabula: a cooperação interpretativa nos textos narrativos. São Paulo : Contrapontos - volume 6 - n. 2 - p. 293-302 - Itajaí, mai/ago 2006 301
  • 10. CONTRA PONTOS Perspectiva, 1986 : 1979. FOUCAULT, M. L’ordre du discours. Paris : Gallimard, 1971. GERALDI, J.W. (org.) O texto na sala de aula: leitura e produção. 8ed. Cascavel (PR) : ASSOESTE, 1984. ____. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas (SP) : Mercado de Letras – ALB, 1996. POSSENTI, S. Sobre as noções de sentido e de efeito de sentido. In: Os limites do discurso. Curitiba (PR) : Criar Edições Ltda., 2002, p. 167-186. Notas 1 O estímulo inicial para a produção deste texto foi uma consulta feita pelo Prof. Dr. Atilio Avancini, pesquisador em Fotojornalismo da ECA-USP, durante seu período de estudos junto à Université Stendhal Grenoble 3 (França), sob a direção do professor Bérnard Miège, em maio/ 2003. A questão de partida foi: Como “formatar” um trabalho em que haja uma valorização mútua das linguagens verbal e não verbal? Como ambas podem se tornar valorizadas? Isso dentro de uma narrativa visual que tenha como meta o percurso de uma festa como, por exemplo, a festa da Lavagem do Senhor do Bonfim. 2 Em Corrêa (2003), tomando por base questões lingüístico-pragmáticas levantadas pelos estudos da língua em uso, esboço um questionamento acerca da separação entre o verbal e o não verbal. 3 Sobre efeitos monofônicos e polifônicos, conferir a formulação de Barros (1994, p. 6), feita com base em Bakhtin. 4 No sentido dado por Eco(1986 ,1979, p. 39), ao afirmar que o texto é um produto cujo destino interpretativo deve fazer parte do próprio mecanismo gerativo. 5. Conferir a formulação original (e mais precisa) em Geraldi (1984). 6 Também a informação sobre o “encontro em La Paz” poderia ser considerada dispensável se se considerar o todo da matéria jornalística de que essa foto faz parte. 7 O conflito refere-se ao fato de que, dias antes dessa notícia, o então recém-empossado presidente Evo Morales nacionalizara o gás boliviano e ordenara a ocupação pelo Exército dos campos de produção das empresas estrangeiras no país, entre elas a estatal brasileira Petrobrás. 302 Ciberliteratura: arte ou armazém? Adair de Aguiar Neitzel