1. Uma leitura de A inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, de Mário de Carvalho
2. Numa carta que Mário de Carvalho escreveu aos alunos de uma escola secundária de Vila Nova de Gaia, que o questionaram precisamente sobre a génese da obra, disse : “ O que me levou a escrever a Inaudita…e por que razão misturei épocas distintas: foi a consciência de que Portugal é um país muito antigo, muito miscigenado, percorrido por muitas culturas e civilizações, de modo que cada um de nós é mais do que ele próprio, porque tem atrás de si uma grande espessura de História. Nós somos mais do que nós, nós somos uma nação muito antiga. E, antes de sermos nação, isto tinha um caldeamento muito grande de povos e civilizações. Por detrás de nós, há toda uma estrutura histórica. Quando eu escrevo A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, quando os mouros aparecem aí num engarrafamento em Lisboa, é isso que eu quero dizer: atenção, nós somos uns e somos outros. Ou seja, temos cá uma civilização árabe também .”
3. Análise morfológica: “ A inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho ” Determinante nome comum abstracto, artigo definido, nome comum género feminino, género feminino, abstracto, contracção número singular, número singular género feminino, da grau normal número singular, preposição nome grau normal “de” com o próprio determinante concreto, adjectivo, artigo definido género masculino, género feminino, “a” número singular, número singular, “de”+”a”= da grau normal grau normal
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5. Informações fornecidas pelo título: “ A inaudita Qualificação do nome In- + audita Guerra principal acontecimento conto (acção) da Avenida local ocorre o acontecimento(espaço físico) Gago Coutinho Geógrafo, marinheiro , matemático e inventor. Almirante português,pioneiro da aviação (Lisboa 1869-1959). Geógrafo de campo, tentou adaptar à aeronavegaçãos processos e instrumentos da navegação marítima, tendo criado, em 1919, o famoso sextante que ostenta o seu nome.
7. Inaudita = in- + audita In- =prefixo de negação de origem latina. Audita = particípio passado, com função adjectival, do verbo latino audire que significa “ouvir”. Inaudita = palavra derivada por prefixação. “ não ouvida, nunca ouvida” incrível espantosa insólito de que não há exemplo ou memória
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10. Clio é a musa da história e da criatividade , aquela que divulga e celebra as realizações. Preside a eloquência , sendo a fiadora das relações políticas entre homens e nações.
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15. Consequências: . Ibn-el-Muftar desistiu de atacar Lixbuna , por considerar todas aquelas aparições de mau agoiro; . Os polícias e militares do séc. XX viram-se obrigados a explicar, em processo marcial o que se encontravam a fazer naquelas zonas à frente de destacamentos armados, ensarilhando o trânsito e gerando a confusão e o pânico.
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17. Esquema síntese : 1º momento Clio adormece… mistura os fios do tempo enlaça 2 épocas diferentes 4/6/1148 29/9/1984 1 espaço Lisboa: Av. Gago Coutinho
18. Lisboa: Av. Gago Coutinho Acção Encontro de 2 grupos antagónicos Exército árabe automobilistas de Ibn-el-Muftar Polícia de Intervenção Tropa do Ralis e da Escola Prática de Administração CONFRONTO 2 épocas 1148 – Lisboa do séc.XII 2 espaços 1984 – Lisboa do séc.XX
19. 2º momento Clio acorda… o engano é desfeito Consequências O exército árabe volta à A Polícia de Intervenção sua época, aproveitando fica sem objectivo de o regresso “com grande combate; não recorda vantagem de troféus e uma justificação aceitá- espólios”. para dar aos seus superi- ores. Clio é castigada: a ambrósia é-lhe interdita durante 400 anos!
20. Tempo Mistura (amálgama) de dois tempos diferentes – 4 de Junho de 1148 e 29 de Setembro de 1984. Tempo cronológico/Tempo histórico Manipulação livre do tempo da história.
21. Espaço Avenida Gago Coutinho, em Lisboa. A escolha deste espaço cujo nome recorda e perpetua um feito igualmente inaudito (a travessia aérea do atlântico sul com adaptação à aeronavegação dos processos e instrumentos da navegação marítima) foi intencional. Uma guerra inaudita só poderia acontecer num palco cujo nome perpetua um acontecimento que na época foi considerado, também, inaudito.
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23. - personagens individuais com algum protagonismo, pertencentes ao séc. XX: o agente da PSP, Manuel Reis Tobias; Manuel da Silva Lopes, condutor de camiões distribuidores de grades de cerveja; comissário Nunes; e o capitão Aurélio Soares. - personagens individuais com protagonismo do séc. XII: Ibn-el-Muftar e Ali-Ben-Yussuf, seu lugar-tenente. Todas as outras personagens, que formam a “multidão” que se vai apinhando na Avenida Gago Coutinho, não passam de figurantes, cuja única função é conferir alguma verosimilhança a uma história particularmente inverosímil.
24. 2. As personagens apresentadas apontam, pela indumentária e pelos adereços de guerra, para dois grupos de personagens distintas e espaçadas no tempo, embora presentes no mesmo espaço.