2. A Construção dialógica da Subjetividade:
os reflexos, as imagens e a linguagem
Os determinantes biológicos da subjetividade
Consciência, cognição e emoção.
A Construção do eu
a experiência de dependência.
o estágio do espelho (reconhecer-se na imagem
refletida).
o inacabamento e a impermanência
O componente simbólico na constituição da
subjetividade:
contexto social e identidade
linguagem e identidade
3. A Língua
A língua é produzida em um contexto conflitivo, e está
sendo permanentemente transformada por seus
diferentes usos;
a língua determina identidades, valores e memórias;
a fala, o uso pessoal da língua, será sempre e
permanentemente condicionada pela língua;
o diálogo interno, (a reflexão sobre si mesmo e a
avaliação que alguem se faz sobre a sua própria
essência e valor) também será condicionada pelos
recursos da língua.
Berger,P e Luckman. A construção social da realidade. Petrópolis, Vozes,
1985
4. Constituição dos enunciados
O que está sendo dito (enunciado) implica;
no contexto: delimita a modalidade da relação;
na interlocução; a relação como um confronto;
na polifonia: a presença na memória de vozes que
participaram de outros diálogos;
na polissemia: a presença de outros significados
dados aos enunciados proferidos no diálogo.
“As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios
ideológicos que servem de trama a todas as relações
sociais em todos os domínios…” Bakhtin, M. Arte y
responsabilidad in Estetica de la creación verbal Madrid
Ed.Veinteuno 1985
5. Consequências dos enunciados
A existência de um diálogo implica em que há:
a participação dos interlocutores em uma
experiência de construção de sentido: (dar
significado a uma interação);
uma negociação permanente acerca de qual
linguagem será aceita para produzir/definir a
experiência pela qual passaram;
Em um diálogo, os interlocutores revelam suas
opiniões sobre as circunstâncias e/ou os outros, a
partir de seus ângulos de visão;
confrontos e transformações podem gerar efeitos
radicais e duradouros na identidade e na saúde.
6. Linguagem e identidade
O componente simbólico na constituição da
subjetividade - falar e ser falado;
a única realidade cuja consciência é indubitável é a
realidade da vida cotidiana;
Não temos identidade fixa; no entanto, precisamos de
um nome, uma "ficção" e, principalmente, da interação
com o outro (sujeito) para sustentar nossa identidade
mutável.
“a linguagem marca as coordenadas de minha vida na
sociedade e enche esta vida de objetos dotados de
significação”
Berger, P e Luckman. A construção social da realidade.
Petrópolis, Vozes, 1985
8. CONCEITO BÁSICO
Quando o espírito humano tem acesso
à ciência ele nunca é jovem. Na
verdade é muito velho: tem a idade de
seus preconceitos
Gaston Bachelard
9. CONCEITO BÁSICO
Todos os animais pensam
mas o homem é o único animal
que pensa que não é animal
Blaise Pascal
10. “The body is both a representation and a
reality, a manifestation of life, and life itself,
what we are, and something we have, that
through which we live and in which we live: it is
raw material, tool and crucible. The body has a
language with which it responds to life, and is
itself a language constituted by the language it
carries, which speaks through us and ultimately
speaks us.”
11. PRIMEIRA UNIDADE
INTRODUÇÃO
O CONCEITO DE ESTRESSE
A História da Febre Puerperal
O Estresse e os profissionais de saúde
A Medicina, os Médicos e as Ciências
12. Grande número de mulheres internadas no Primeiro Serviço da
Maternidade do Hospital Geral de Viena contraía, após o parto,
uma doença grave, muitas vezes fatal.
Dados – parturientes internadas no Primeiro ServiçoPrimeiro Serviço que
morreram da doença
Em 1844 - 8,2% (260 das 3.157)
Em 1845 - 6,8%
Em 1846 - 11,4%
Nos mesmos anos e no mesmo hospital – os números de
falecimentos no Segundo ServiçoSegundo Serviço do mesmo hospital foram:
Em 1844 – 2,3%
Em 1845 - 2,0%
Em 1846 - 2,7%
O número de parturientes atendidos nos doisO número de parturientes atendidos nos dois
serviços era aproximadamente o mesmoserviços era aproximadamente o mesmo
13. Explicações da época
A febre puerperal seria devida a “influências
epidêmicas” descritas como alterações “cósmico-
telúrico-atmosféricas”; os “miasmas disseminados”.
A mortalidade era devida ao excesso de
parturientes no Primeiro Serviço, e por danos
causados pelo exame grosseiro realizado pelos
estudantes de medicina: treinados em obstetrícia
apenas no Primeiro Serviço.
14. Exames e partos realizados por médicos homens:
(no Primeiro Serviço) eram constrangedores para
as pacientes;
(no Segundo Serviço o parto era realizado por
parteiras).
Local dos serviços no Hospital: (o padre que dava
a extrema unção passava por todas as
enfermarias do Primeiro Serviço, assustando as
pacientes, o que não ocorria no Segundo
Serviço).
Explicações da épocaExplicações da época
15. Raciocínio e metodologia
Rejeitou as explicações incompatíveis com fatos estabelecidos.
Testou as explicações com experimentos.
Formulou e testou hipóteses.
Apresentou suas conclusões.
Perguntou-se
Como estas influências poderiam afetar o Primeiro Serviço e
poupar o Segundo ?
E como explicar esta febre que grassava apenas no hospital
(não haviam casos em Viena ou nos arredores) ?
Concluiu
Uma epidemia genuína (Colera Morbus) não teria estas
características (seletividade).
Semmelweiss: Ignaz Philipp,
(1818 - 1865), Médico Húngaro.
16. Semmelweiss
Observou e argumentou
Parturientes que residiam longe do Hospital, e que pariram
antes de serem admitidas no Primeiro Serviço, tinham índices
menores de falecimento por Febre Puerperal.
Os danos causados pelo parto eram mais extensos do que os
que poderiam ser causados por um exame grosseiro e, quando
o número de estudantes foi reduzido à metade e os exames
reduzidos ao mínimo, a mortalidade declinou.
As parteiras (que atendiam as parturientes no Segundo
Serviço) examinavam suas pacientes quase da mesma
maneira, mas sem os efeitos nocivos.
17. Semmelweiss
Experimentou (sem obter resultados)
Mudar o percurso do padre.
Mudar a posição das parturientes no leito.
Constatou
Em 1847 um médico faleceu com os mesmos
sintomas das parturientes, depois de ferir-se com
o bisturi utilizado em uma autópsia.
Formulou a (primeira) hipótese
A “matéria cadavérica” era a causadora da
infecção; os médicos e estudantes disseminavam-
na por não realizarem a assepsia necessária.
18. Semmelweiss
A hipótese explicava as diferenças entre os
serviços:
Não eram realizadas autópsias pelas parteiras no
Segundo Serviço, nem nos partos que ocorriam na rua).
Porque a febre acometia apenas os récem-nascidos
cujas mães tinham contraído a doença no trabalho de
parto.
Testou a primeira hipótese
Destruição química do material infeccioso aderido às
mãos (obrigou os médicos e estudantes a lavarem as
mãos com cal clorada antes de efetuarem qualquer
exame).
19. Semmelweiss
Resultado
A mortalidade pela febre decresceu (em 1848 caiu a
1,27% no Primeiro Serviço enquanto que no Segundo
Serviço os índices eram de 1,33%).
Aprimorou a hipótese
Ao examinar uma paciente com um câncer cervical
purulento (após ter desinfectado as mãos), não julgou
necessário repetir a desinfecção:
infectou as parturientes que examinou
posteriormente.Concluiu que a febre também podia ser transmitida
por “matéria pútrida retirada de um organismo vivo”.
20. Semmelweiss
Semmelweiss resistiu a divulgar o seu trabalho,
limitando-se a proferir poucas conferências e seu
trabalho só foi publicado em 1861, 14 anos após a
sua descoberta.
21. Semmelweiss
Os médicos, mais velhos e influentes, não deram
atenção e credibilidade à doutrina de Semmelweis,
menosprezando seu trabalho, apesar das evidências.
Seu livro "Die Ätiologie, der Begriff und die
Prophylaxis des Kindbettfiebers” (“A Etiologia, a
compreensão e a profilaxia da Febre Puerperal”) foi
muito criticado porque o pensamento médico
preponderante ainda acreditava nas antigas
concepções acerca da causa da enfermidade.
22. Semmelweiss
Esta rejeição levou Semmelweiss a atacar as
autoridades que se opunham ao seu ensino
(foi apenas uma nova geração que fez com que a
assepsia fosse adotada nos hospitais).
Semmelweis foi exonerado de seu cargo, teve uma
crise nervosa e faleceu em uma instituição para
doentes mentais, com uma infecção semelhante à
febre puerperal.
23. Tópicos para Discussão
Quem era Semmelweiss ?
Qualquer um de nós ?Qualquer um de nós ?
Quem eram os médicos que o expulsaram ?Quem eram os médicos que o expulsaram ?
Qualquer um de nós ?Qualquer um de nós ?
25. A MEDICINA E AS CIÊNCIAS
A Medicina é um campo de aplicação de inúmeras
ciências.
Estas ciências têm histórias e dinâmicas diferentes (sua
evolução, seus conflitos e divergências): Diferem na
metodologia e nos critérios para admitir o que se pensa
ser a verdade.
As descobertas científicas são testadas, aprimoradas,
criticadas, ou descartadas.
Em muitos casos, aquilo que é tido como verdadeiro é
mais tarde considerado apenas uma visão parcial e por
vezes ingênua de uma realidade mais complexa.
e, em alguns casos, o que se tinha por verdadeiro
era um erro, fruto de uma perspectiva que não
abrangia alguma característica essencial do que
estava sendo pesquisado.
26. A Medicina e os Médicos
Não costuma haver, na formação médica, espaço para
estudo e reflexão sobre a natureza dos fatores que
condicionam e determinam os conhecimentos
científicos.
A Medicina, enquanto atividade profisional, submete o
médico a toda uma série de injunções, entre outras:
a opinião de outros profissionais,
as linhas de atuação preconizadas por associações
científicas e por regulamentos governamentais,
a influência de e artigos de revistas e a propaganda
de laboratórios farmacêuticos.
27. Paradoxos da posição do Médico
Lida com o conhecimento científico e com sua
experiência.
O que aceita e o que rejeita?
Por quais razões?
O médico é, quase sempre, apenas um usuário de um
tipo de saber cujos fundamentos e limites não lhe são
ensinados.
e tem, pelo menos no Brasil, muita dificuldade em
atualizar-se nos conceitos fundamentais das ciências
das quais a Medicina se sustenta.
Corre o risco de ser obrigado a preencher as lacunas
de sua formação com noções oriundas de saberes não
científicos (geralmente destituídos de fundamentos
consistentes), que podem dar margem a atitudes de
natureza antiética e preconceituosa.
28. Saber, Poder e Identidade
• Um profissional, que depende do saber para o exercício
de sua profissão, estabelece umaestabelece uma relaçãorelação entre o queentre o que
sabe e sua identidade.sabe e sua identidade.
• Situações que abalem o seu sistema de referências
e/ou que questionem o seu saber podem gerar crisescrises
de identidadede identidade e nem sempre a solução é alicerçada em
critérios éticos e/ou científicos.
29. Quais podem ser as consequências ?
Exemplo: A controvérsia entre os intervencionistas e osExemplo: A controvérsia entre os intervencionistas e os
naturalistas em obstetrícianaturalistas em obstetrícia
A morte trágica da princesa Charlotte, a única filha de George IV,
rei da Inglaterra, ilustra os perigos de deixar as coisas por conta
da natureza. Em 1817, com 21 anos, a princesa entrou em
trabalho de parto de seu primeiro filho.
O trabalho de parto teve início mais de duas semanas antes da
data esperada e durou 50 horas. O bebê (um feto
macrossômico), nasceu morto, a placenta foi removida com
dificuldade e, seis horas depois, Charlotte faleceu.
Os forceps estavam à disposição mas nunca foram utilizados (e,
na verdade, talvez não tivessem ajudado).
No entanto, o obstetra, Sir Richard Croft, foi muitoNo entanto, o obstetra, Sir Richard Croft, foi muito
criticado e suicidou-se alguns dias depois.criticado e suicidou-se alguns dias depois.
30. Quais podem ser as consequências ?
Em cada um de nósEm cada um de nós
Quando nossa profissão nos exigeQuando nossa profissão nos exige
• SaberSaber
• FazerFazer
• Saber fazerSaber fazer
Em que (e em quem) confiamos?Em que (e em quem) confiamos?
E o quanto nos custa?E o quanto nos custa?