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A EVOLU O DO CONCEITO DE ESPA O GEOGR FICO. 1
SILVA, Rodrigo Kuhn2
1 Trabalho de Pesquisa _UFSM
2 Mestrando do Programa de P s-Gradua o em Geografia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil
E-mail: rodrigokuhn@terra.com.br
RESUMO
Este artigo tem como intuito realizar uma releitura a partir de diversos autores de diversas
correntes e escolas do pensamento geogr fico, como o objetivo de analisar a evolu o do conceito de
espa o geogr fico, e identificar sua import ncia nas diversas escolas do pensamento geogr fico. Pode-se
observar a diversidade de conceitos e vis es sobre o espa o geogr fico e a forma que cada escola do
pensamento geogr fico se utilizou destes conceitos. A medida que as rela es espaciais foram se
tornando cada vez mais contradit rias e muitas vezes de dif cil entendimento o conceito de espa o se
moldou, adaptou e veio a explicar tais contrariedades.
Palavras-chave: EPISTEMOLOGIA; ESPA O GEOGR FICO; GEOGRAFIA.
1. INTRODU O
Analisando e estudando as escolas norteadoras do pensamento geogr fico poss vel identificar
que o conceito de espa o geogr fico sofreu muitas mudan as. Em algumas destas escolas o
conceito referido n o se constitu a num conceito chave para a disciplina, j em outras o conceito
passou a ser chave para os estudos geogr ficos. Na escola tradicional, por exemplo, o espa o
geogr fico n o se afigurava num conceito chave nos estudos geogr ficos. J na escola cr tica o
conceito de espa o se tornou chave para os estudos da disciplina norteando os estudos de
grandes autores e pensadores da ci ncia geogr fica como Milton Santos.
O presente artigo tem como intuito realizar uma releitura a partir de diversos autores de
diversas correntes e escolas do pensamento geogr fico, como o objetivo de analisar a evolu o
do conceito de espa o geogr fico, e identificar sua import ncia nas diversas escolas do
pensamento geogr fico. Este artigo tentar analisar o conceito de espa o geogr fico de varios
autores n o emitindo julgamento de suas id ias e sim tentando analisar a evolu o do conceito
e a import ncia que o mesmo teve para a ci ncia geogr fica.
2. EMBASAMENTO TE RICO
Espa o geogr fico uma dif cil defini o
Uma das primeiras referencias e defini es de espa o foi feita por Arist teles,onde o espa o era
a inexist ncia do vazio e lugar como posi o de um corpo entre os outros corpos. Com esta
defini o, Arist teles trata o espa o como uma rea preenchida de corpos, neste caso sua vis o
1 1
despreza a necessidade do homem como componente. Para Arist teles n o basta que esta
rea esteja preenchida, necess rio que haja um referencial, outro corpo que d ao primeiro
uma localiza o.
Avan ando um pouco no tempo Immanuel Kant no s culo XVIII deu import ncia s formas de
sentido como instrumento de percep o. Segundo Kant, n s percebemos todas as coisas
dotadas de dimens es, ou seja, como realidades espaciais. O espa o n o algo pass vel de
percep o, mas o que permite haver percep o. Nesta concep o percebemos que Kant separa
o espa o e os demais elementos; o primeiro uma pano de fundo para se fixar os corpos. As
considera es apresentadas por Kant foram importantes no avan o dos estudos regionais,
contudo limitadas no tocante que n o v em o espa o como algo constitu do de significado ou
estrutura pr pria.
Para La Blache, autor muito importante na constru o do pensamento geogr fico, o meio
entendido como um local onde coabita o diverso e seria sin nimo de adapta o. A geografia
estuda os lugares n o os homens, o estudo das paisagens feito pelo m todo descritivo e o
espa o seria o local onde existe e acontece a coabita o do homem e natureza.
J Ratzel teve suas id ias sobre o espa o muito influenciadas pela pol tica, sua defini o
celebre de espa o foi o de espa o vital , ou seja, base indispens vel para a vida do ser
humano. O homem deve conquistar espa os medida que o seu espa o vital se tornar
limitado e insuficiente para sua sobreviv ncia, n o apenas f sica mas de pol tica e domina o. O
espa o geogr fico para Ratzel visto como base indispens vel para a vida do homem,
encerrando as condi es de trabalho, quer naturais, quer aqueles socialmente produzidos.
Como tal, o dom nio do espa o transforma-se em elemento crucial na hist ria do homem.
Para Brunhes apud Braga (2007) a geografia deve estudar os lugares as regi es e suas
rela es. Al m da a o do homem no meio ele destaca quatro for as que atuam no planeta e
formam um todo ordenado: as for as interiores da terra, o calor do sol, as for as ligadas aos
movimentos atmosf ricos e a tra o centr peta do peso. Os princ pios b sicos da geografia
seriam a atividade e a conex o, que fornece o sentido dos lugares e das regi es. A evolu o da
paisagem terrestre seria feita por um movimento duplo de constru o e reconstru o,
necess rio para a manuten o da harmonia. Continua Brunhes apud Braga (2007) a geografia
deveria estudar os fatos essenciais : simples, complicados, regras de conv vio social e os fatos
essenciais ligados a cultura. A intera o desses fatos essenciais conformaria a organiza o do
espa o, entendido como comunh o entre o conv vio social e o meio atrav s do trabalho e das
trocas.
Hartshorne (1978) exp e que o termo espa o empregado no sentido de rea que seria
somente um quadro intelectual do fen meno, um conceito abstrato que n o existe em realidade
e que a rea est relacionada aos fen menos dentro dela e somente naquilo que ela os contem
em tais e tais localiza es. O espa o na vis o de Hartshorne o espa o absoluto, um conjunto
de pontos que tem exist ncia em si, sendo independente de qualquer coisa.
Na vis o de Correa (2005) o espa o para Hartshorne aparece como um recept culo que
2 1
apenas cont m coisas. Braga (2007) comenta que Hartshorne fornece 3 defini es para o
objetivo da geografia em rela o ao espa o geogr fico: A geografia tem por objetivo
proporcionar a descri o e a interpreta o, de maneira precisa, ordenada e racional, do car ter
vari vel da superf cie da terra; A geografia a disciplina que procura descrever e interpretar o
car ter vari vel da terra, de lugar a lugar, como o mundo do homem e a geografia o estudo
que busca proporcionar a descri o cientifica da terra como o mundo do homem.
Pierre Deffontaines e Pierre Monbeig foram dois ge grafos fundadores da Geografia
Brasileira Institucionalizada, de origem francesa seguiram a matriz da escola francesa e
elaboraram conceitos em rela o ao objeto da geografia humana e em conseq ncia o espa o
geogr fico. Para Braga (2007) a Geografia , na vis o de Monbeig, estuda os fatos geogr ficos,
sua localiza o e intera o, em outras palavras os complexos geogr ficos revelados pela
paisagem, ressalta o papel da t cnica e a organiza o do espa o, este entendido como fruto do
trabalho humano na produ o da paisagem. Outro autor da escola francesa que conceituou o
espa o geogr fico foi Demangeon que de acordo com Moreira (2005) analisa que a geografia
deve estudar o espa o geogr fico analisando a rela o dos grupos humanos com o meio
geogr fico, atrav s dos modos de vida, sua evolu o, sua distribui o e as institui es
humanas.
Outro autor que tamb m relacionou e entrela ou os conceitos do objeto da geografia
humana e o espa o geogr fico foi Max Sorre. Sorre (1967) concebe a Geografia Humana como
a descri o do ec meno ou a descri o cient fica das paisagens humanas e sua distribui o
pelo Globo . a disciplina dos espa os terrestres . Continua o autor analisando que a geografia
humana deveria se preocupar em estudar os grupos humanos vivos, sua organiza o espacial,
seu movimento, suas t cnicas, as rela es do homem com o meio e a forma o dos g neros
de vida. Na sua concep o o espa o visto como localiza o e extens o isso atrav s dos
mapas.
Na d cada de setenta Henri Lefebvre realizou importantes estudos sobre o espa o
geogr fico que veio a influenciar diversos autores que o precederam. Lefebvre (1976) entende o
espa o geogr fico como produ o da sociedade, fruto da reprodu o das rela es sociais de
produ o em sua totalidade. O autor trabalhou com 4 abordagens do conceito de espa o: o
espa o como forma pura; espa o como produto da sociedade; espa o como instrumento
pol tico e ideol gico e o espa o socialmente produzido, apropriado e transformado pela
sociedade. Com rela o an lise do espa o social Lefebvre (1976) destaca 3 vertentes: o
espa o percebido, do corpo e da experi ncia corp rea, ligado as pr ticas espaciais; espa o
concebido ou espa o do poder dominante e da ideologia e espa o vivido que une experi ncia e
cultura , corpo e imagin rio de cada um de n s o espa o da representa o.
Tamb m na d cada de setenta se destaca o autor Y-Fu Tuan que no mbito da
geografia human stica conceituou o espa o geogr fico. Tuan (1980) cita que para se conceituar
o espa o geogr fico levando em conta os aspectos da geografia humanista os sentimentos
espaciais e as id ias de um grupo ou povo sobre o espa o a partir da experi ncia s o muito
3 1
valorizados. Continua o autor citando que existem v rios tipos de espa o, um espa o pessoal,
outro grupal, onde vivida a experi ncia do outro, e o espa o m tico-conceitual que, ainda que
ligado experi ncia, extrapola para al m da evidencia sensorial e das necessidades imediatas e
em dire o a estruturas mais abstratas.
Outra abordagem sobre o espa o geogr fico que influenciou muitos autores foi o
proposto pelo professor Roberto Lobato Corr a. Para Corr a (1982) o espa o geogr fico a
morada do homem e abrange a superf cie da Terra, enfatiza em seus estudos 3 abordagens do
espa o. A primeira do espa o absoluto, que seria o espa o em si; a segunda abordagem a
do espa o relativo, seria a dist ncia e a terceira abordagem a do espa o relacional, na qual o
objeto s existe em contato com outras. Continua o autor a explicar que as 3 abordagens n o
s o excludentes e que refletem diferentes valores de uso e valores de troca. O espa o social e
insepar vel do tempo e os atores principais seriam os propriet rios dos meios de produ o e o
estado que almejam a acumula o do capital e a reprodu o da for a de trabalho.
O professor Ruy Moreira tamb m deu sua contribui o conceitualizando o espa o
geogr fico. De acordo com Moreira (1982) o espa o geogr fico como estrutura de rela es sob
determina o do social, a sociedade vista com sua express o material vis vel, atrav s da
socializa o da natureza pelo trabalho e uma totalidade estruturada de formas espaciais. Para
exemplificar seu conceito o autor utiliza a met fora da quadra esportiva polivalente para
entender o espa o, onde o arranjo espacial representa as leis do jogo, o espa o seria a
apar ncia e a sociedade a ess ncia.
Para Corr a (2005) Moreira enfatiza em seus estudos a import ncia do conceito de
forma o econ mico-social, que abarca as classes dominantes e o modo de produ o. O
arranjo espacial visto como express o fenom nica do modo de socializa o da natureza e dos
termos de sua configura o em forma o econ mico-social e o espa o organizado socialmente
forma o s cio-espacial que a express o fenom nica da complexa trama da forma o
econ mico-social.
O ge grafo americano Edward Soja outra referencia importante no tocante ao resgate
que fez ao conceito de espa o geogr fico. Soja (1993) enfatiza o abandono da categoria espa o
e a for a que teve o historicismo para as ci ncias modernas. Cita Braga (2007) que a
contribui o de Soja est em discutir autores que tentaram fazer esse resgate da categoria de
espa o e contribuir para a forma o de um m todo que seja materialista hist rico e geogr fico
ao mesmo tempo, pois espa o e tempo seriam insepar veis. Na vis o de Soja (1993) o ser
humano j em si espacial, onde distancia e rela o seriam os pares dial ticos do ser.
Outras abordagens sobre o espa o geogr fico como as de Paul Claval e Alves que
tamb m contribuem para se tentar entender o espa o. Para Claval (1999) a cultura heran a
da comunica o, com papel fundamental da palavra, que transforma o espa o cultural em
espa o simb lico. Seria a media o sociedade-natureza atrav s das t cnicas e deve sempre
ser tomada como uma constru o. A cultura a ordem do simb lico e o espa o onde ocorrem
as manifesta es.
4 1
Para Alves apud Corr a (2005) o espa o produto das rela es entre os homens e dos
homens com a natureza, e ao mesmo tempo fator que interfere nas mesmas rela es
existentes entre os homens na sociedade. Este tipo de abordagem valoriza a observa o e a
descri o dos elementos do espa o, buscando a evidencia das sensa es atrav s da
explora o do vis vel ou da imagem, como forma de alcance da percep o do sentido.
O mais importante ge grafo brasileiro e um dos maiores pensadores da ci ncia geografia dos
ltimos tempos foi Milton Santos, este autor foi muito importante na conceitualiza o do espa o
geogr fico e para os conceitos da geografia como um todo. No intuito de pensar e conceitualizar
o espa o geogr fico, Santos (1979) cita que os modos de produ o tornam concretos numa
base territorial historicamente determinada, as formas espaciais constituem uma linguagem dos
modos de produ o. Milton Santos tenta mostrar que um determinado local tem seu espa o
alterado devido a historia deste espa o, tamb m devido as forma de apropria o que este
espa o sofreu pela sociedade e principalmente pelo interesse que o poder do capital infringiu a
este local.
Cita Santos (1978) que o espa o organizado pelo homem como as demais estruturas sociais,
uma estrutura subordinada-subordinante. E como as outras inst ncias, o espa o, embora
submetido lei de totalidade, disp e de certa autonomia. Contudo em Santos (1994) consta que
o espa o hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoados por sistemas de
a es igualmente imbu dos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos, ao
lugar e ha seus habitantes. Podemos verificar nestas duas cita es de Milton Santos como o
poder financeiro, os grandes capitais aumentaram seu poder de modificar e se apropriar dos
espa os. Na primeira cita o de Santos em 1978, o autor identifica que mesmo submetido
totalidade o espa o ainda tinha certa autonomia. Contudo em 1994 Santos identifica que cada
vez mais os locais est o com rela es estranhas a seus habitantes.
Para Santos (1982) o espa o a acumula o desigual de tempos, o autor tenta evidenciar que
o espa o se desenvolve desigualmente, a locais que historicamente despertaram mais interesse
da sociedade e do capital de se desenvolver e reas que se desenvolveram de forma mais
lenta. Continuando nesta an lise Santos (1985) cita que a forma, fun o, estrutura e processo
s o quatro termos disjuntivos, associados a empregar segundo um contexto do mundo de todo
dia. Quando estes termos s o tomados individualmente, representam apenas realidades
parciais, limitadas, do mundo. Estes termos considerados em conjunto, por m, e relacionados
entre si, eles constroem uma base te rica e metodol gica a partir da qual podemos discutir os
fen menos espaciais em totalidade.
Finalizando a grandiosa contribui o de Milton Santos em rela o ao espa o geogr fico
pode-se citar Santos (1997) quando relata que o espa o como uma inst ncia da sociedade, ao
mesmo t tulo que a instancia econ mica e a instancia cultural-ideol gica. Isso significa que,
como inst ncia, ele cont m e por ele contida. A economia est para o espa o, assim como o
espa o est na economia. O mesmo se d com o pol tico-institucional e com o
cultural-ideol gico. Com isso Milton Santos quer demonstrar que a ess ncia do espa o social.
5 1
Outra contribui o do autor quando o mesmo analisa que o meio tecno-cient fico que inclui
saber o suporte da produ o do saber novo, isso faz com que os espa os que n o det m o
saber se tornem espa os do fazer. Com isso cita Santos (1997) os espa os comandados pelo
meio tecno-cient fico s o os espa os do mandar, os outros s o os espa os do obedecer.
O espa o geogr fico e as escolas da Geografia
A escola tradicional que se iniciou em meados de 1870 e teve seu termino em meados de 1950
aproximadamente n o teve no espa o geogr fico um conceito chave para os estudos
geogr ficos da poca. Mesmo assim se mostra presente nas obras de Ratzel e de Hartshorne, a
geografia tradicional em suas diversas vers es privilegiou os conceitos de paisagens e regi o,
em torno deles estabelecendo-se a discuss o sobre o objeto da geografia e a sua identidade no
mbito das demais ci ncias.
A escola teor tico-quantitativa que data entre 1950 a 1970 tratou o espa o geogr fico como
conceito chave da disciplina, pode-se citar que foi a primeira vez que o conceito de espa o
geogr fico foi realmente trabalhado. Nesta escola o espa o considerado sob duas formas que
n o s o mutuamente excludentes. De um lado atrav s da plan cie isotr pica e, de outro, de sua
representa o matricial. A plan cie isotr pica uma constru o te rica que resume uma
concep o de espa o derivada de um paradigma racionalista e hipot tico-dedutivo. Admite-se
como ponto de partida uma superf cie uniforme tanto no que se refere geomorfologia como ao
clima e cobertura vegetal, assim como a ocupa o humana.
Nesta plan cie isotr pica a uma uniformidade em rela o a densidade demogr fica, de renda e
de padr o cultural que se caracteriza pela ado o de uma racionalidade econ mica fundada na
minimiza o dos outros custos e maximiza o dos lucros ou da satisfa o.A circula o desta
plan cie poss vel em todas as dire es. Sobre esta plan cie de lugares iguais desenvolvem-se
a es e mecanismos econ micos que levam diferencia o dos espa os.
Na plan cie isotr pica a vari vel mais importante ha dist ncia. Neste sentido Corr a
(2005) cita que o espa o relativo entendido a partir de rela es entre objetos, rela es estas
que implicam em custos, dinheiro, tempo e energia para se vencer a fric o imposta pela
dist ncia. Continua o autor citando que no espa o relativo que se obt m rendas diferenciais e
que desempenham papel fundamental na determina o do uso da terra.
A escola cr tica que se iniciou em meados dos anos de 1970 o espa o reaparece como
conceito chave, o debate principal sobre o tema se debru avam nas obras de Marx, onde se
discutia se o espa o estava ausente ou presente, e por outro lado qual a natureza e o significado
do espa o. Para Corr a (2005) Lefebvre teve um papel importante nesta escola quando
argumenta que o espa o desempenha um papel ou uma fun o decisiva na estrutura o de
uma totalidade, e uma l gica, de um sistema. Continua o autor explicando que o espa o
entendido como espa o social, vivido, em estreita correla o com a pr tica social n o deve ser
visto como espa o absoluto, vazio e puro, lugar por excel ncia dos n meros e das propor es.
6 1
Essa nova concep o de espa o trabalhada pela escola cr tica marca
profundamente os ge grafos que a partir da d cada de 1970 adotaram o materialismo hist rico
e dial tico como paradigma. Conforme Braga (2007) o espa o concebido como l cus da
reprodu o das rela es sociais de produ o, isto , reprodu o da sociedade. Outro ge grafo
que foi muito importante na conceitualiza o de espa o nesta escola foi Milton Santos. Ele
estabeleceu o conceito de forma o s cio-espacial, afirma n o ser poss vel conceber uma
determinada forma o socioecon mica sem recorrer ao espa o, e que modo de produ o,
forma o socioecon mica e espa o s o categorias interdependentes.
Conforme Corr a (2005) o m rito da conceitualiza o de Milton Santos de forma o
s cio-espacial esta no fato de se explicitar teoricamente que uma sociedade s se torna
concreta atrav s do espa o que ela produz, e o espa o s intelig vel atrav s da sociedade. A
natureza e o significado do espa o aparecem em diversos estudos de Santos quando aborda o
papel das formas e intera es espaciais, os fixos e os fluxos a que ele se refere. Santos
contribuiu significativamente para a compreens o da organiza o espacial dos pa ses
subdesenvolvidos, explicando a coexist ncia de dois circuitos da economia, um circuito superior
e outro inferior. Resultado de um processo de moderniza o diferenciadora que gera os dois
circuitos que tem a mesma origem e o mesmo conjunto de causas e s o interligados.
Outra contribui o significativa de Milton Santos foi quando estabeleceu as categorias de
an lise do espa o que devem ser consideradas a partir de suas rela es dial ticas. S o 4 as
categorias de an lise do espa o. A forma o aspecto vis vel, exterior de um objeto como, por
exemplo: casa, bairro, cidade e rede urbana. A fun o implica um papel a ser desempenhado
pelo objeto criado, a rela o entre forma e fun o direta onde a forma criada para
desempenhar uma fun o. A estrutura a natureza social e econ mica de uma sociedade em
um dado momento do tempo. O processo a estrutura em seu movimento de transforma o ao
longo do tempo.
A escola geogr fica Human stica e Cultural se consolidou a partir da d cada de 1970 e
baseia-se nos sentimentos espaciais e na percep o vista como significa o e tem como
filosofia norteadora a Fenomenologia. Neste paradigma, a categoria mais utilizada tem sido o
lugar, mas o espa o tamb m considerado, principalmente como espa o vivido e como espa o
percebido. Para Corr a (2005) a escola humanista e cultural assentada na subjetividade, na
intui o, nos sentimentos, na experi ncia, no simbolismo e na conting ncia, privilegiado o
singular e n o o particular ou o universal e, ao inv s da explica o, tem na compreens o a base
de integibilidade do mundo real.
3.CONCLUS O
O espa o geogr fico o resultado das rela es que nele acontecem. Rela es econ micas,
sociais, pol ticas e culturais. Os diversos autores estudados demonstraram estas rela es. A
for a que move estas rela es a a o humana impregnada de interesses hist ricos, culturais
7 1
e de poder. Estas rela es espaciais s o muitas das vezes contradit rias porque revelam
embates de poder ou embates de interesse em um determinado local. A a o do homem na
terra e as contradi es que tais a es podem vir a causar possuem implica es no espa o, e
com o passar do tempo se constituem em produ o espacial. O espa o geogr fico o reflexo
das rela es sociedade, espa o e tempo.
No caso econ mico fica evidente a contrariedade das rela es espaciais. Para Braga
(2007) no campo econ mico que verificamos a explora o do homem pelo homem, dos
detentores dos meios de produ o e dos vendedores de for a-de-trabalho. Politicamente
podemos verificar tamb m diversos conflitos espaciais, principalmente brigas pelo controle do
espa o entre estados e na es.
Portanto pode-se observar a diversidade de conceitos e vis es sobre o espa o
geogr fico e a forma que cada escola do pensamento geogr fico se utilizou destes conceitos.
Foi poss vel verificar que medida que as rela es espaciais foram se tornando cada vez mais
contradit rias e muitas vezes de dif cil entendimento o conceito de espa o se moldou, adaptou e
veio a explicar tais contrariedades.
Referencias Bibliogr ficas
BRAGA, Rhalf M. O espa o geogr fico: um esfor o de defini o. S o Paulo: Geousp, 2007.
CLAVAL, Paul. A Geografia Cultural. Florian polis: UFSC, 1999.
CORR A, Roberto Lobato. O espa o geogr fico: algumas considera es. In: SANTOS, Milton
(org.). Novos rumos da geografia brasileira. S o Paulo: Hucitec, 1982.
CORR A, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. 7a ed. - Rio de Janeiro; Bertrand
Brasil, 2005.
HARTSHORNE, Richard. Prop sitos e natureza da Geografia. 2 ed. S o Paulo: Hicitec, 1978.
LEFEBVRE, Henri. Espacio y Pol tica. Barcelona: Pen nsula, 1976.
MOREIRA, Ruy. Repensando a Geografia. In: SANTOS, Milton (org). Novos rumos da
geografia brasileira. S o Paulo: Hucitec, 1982.
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_____________. Por uma Geografia nova. S o Paulo: Hucitec,1978.
_____________. Pensando o espa o do homem. S o Paulo: Hucitec, 1982.
_____________. Espa o e m todo. S o Paulo: Nobel, 1985.
_____________.T cnica Espa o Tempo. Globaliza o e meio t cnico-cient fico informacional.
8 1
S o Paulo: Hucitec, 1994.
____________. Espa o e m todo. S o Paulo: Nobel, 1997.
SOJA, Edward W. Geografia P s-Modernas. A reafirma o do espa o na teoria social critica.
Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1993.
SORRE, Max. El Hombre em La Tierra. Barcelona: Labor, 1967.
TUAN, Y-Fu. Topofilia. S o Paulo: Difel, 1980.
9 1

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A evolução do conceito de espaço geográfico

  • 1. A EVOLU O DO CONCEITO DE ESPA O GEOGR FICO. 1 SILVA, Rodrigo Kuhn2 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Mestrando do Programa de P s-Gradua o em Geografia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: rodrigokuhn@terra.com.br RESUMO Este artigo tem como intuito realizar uma releitura a partir de diversos autores de diversas correntes e escolas do pensamento geogr fico, como o objetivo de analisar a evolu o do conceito de espa o geogr fico, e identificar sua import ncia nas diversas escolas do pensamento geogr fico. Pode-se observar a diversidade de conceitos e vis es sobre o espa o geogr fico e a forma que cada escola do pensamento geogr fico se utilizou destes conceitos. A medida que as rela es espaciais foram se tornando cada vez mais contradit rias e muitas vezes de dif cil entendimento o conceito de espa o se moldou, adaptou e veio a explicar tais contrariedades. Palavras-chave: EPISTEMOLOGIA; ESPA O GEOGR FICO; GEOGRAFIA. 1. INTRODU O Analisando e estudando as escolas norteadoras do pensamento geogr fico poss vel identificar que o conceito de espa o geogr fico sofreu muitas mudan as. Em algumas destas escolas o conceito referido n o se constitu a num conceito chave para a disciplina, j em outras o conceito passou a ser chave para os estudos geogr ficos. Na escola tradicional, por exemplo, o espa o geogr fico n o se afigurava num conceito chave nos estudos geogr ficos. J na escola cr tica o conceito de espa o se tornou chave para os estudos da disciplina norteando os estudos de grandes autores e pensadores da ci ncia geogr fica como Milton Santos. O presente artigo tem como intuito realizar uma releitura a partir de diversos autores de diversas correntes e escolas do pensamento geogr fico, como o objetivo de analisar a evolu o do conceito de espa o geogr fico, e identificar sua import ncia nas diversas escolas do pensamento geogr fico. Este artigo tentar analisar o conceito de espa o geogr fico de varios autores n o emitindo julgamento de suas id ias e sim tentando analisar a evolu o do conceito e a import ncia que o mesmo teve para a ci ncia geogr fica. 2. EMBASAMENTO TE RICO Espa o geogr fico uma dif cil defini o Uma das primeiras referencias e defini es de espa o foi feita por Arist teles,onde o espa o era a inexist ncia do vazio e lugar como posi o de um corpo entre os outros corpos. Com esta defini o, Arist teles trata o espa o como uma rea preenchida de corpos, neste caso sua vis o 1 1
  • 2. despreza a necessidade do homem como componente. Para Arist teles n o basta que esta rea esteja preenchida, necess rio que haja um referencial, outro corpo que d ao primeiro uma localiza o. Avan ando um pouco no tempo Immanuel Kant no s culo XVIII deu import ncia s formas de sentido como instrumento de percep o. Segundo Kant, n s percebemos todas as coisas dotadas de dimens es, ou seja, como realidades espaciais. O espa o n o algo pass vel de percep o, mas o que permite haver percep o. Nesta concep o percebemos que Kant separa o espa o e os demais elementos; o primeiro uma pano de fundo para se fixar os corpos. As considera es apresentadas por Kant foram importantes no avan o dos estudos regionais, contudo limitadas no tocante que n o v em o espa o como algo constitu do de significado ou estrutura pr pria. Para La Blache, autor muito importante na constru o do pensamento geogr fico, o meio entendido como um local onde coabita o diverso e seria sin nimo de adapta o. A geografia estuda os lugares n o os homens, o estudo das paisagens feito pelo m todo descritivo e o espa o seria o local onde existe e acontece a coabita o do homem e natureza. J Ratzel teve suas id ias sobre o espa o muito influenciadas pela pol tica, sua defini o celebre de espa o foi o de espa o vital , ou seja, base indispens vel para a vida do ser humano. O homem deve conquistar espa os medida que o seu espa o vital se tornar limitado e insuficiente para sua sobreviv ncia, n o apenas f sica mas de pol tica e domina o. O espa o geogr fico para Ratzel visto como base indispens vel para a vida do homem, encerrando as condi es de trabalho, quer naturais, quer aqueles socialmente produzidos. Como tal, o dom nio do espa o transforma-se em elemento crucial na hist ria do homem. Para Brunhes apud Braga (2007) a geografia deve estudar os lugares as regi es e suas rela es. Al m da a o do homem no meio ele destaca quatro for as que atuam no planeta e formam um todo ordenado: as for as interiores da terra, o calor do sol, as for as ligadas aos movimentos atmosf ricos e a tra o centr peta do peso. Os princ pios b sicos da geografia seriam a atividade e a conex o, que fornece o sentido dos lugares e das regi es. A evolu o da paisagem terrestre seria feita por um movimento duplo de constru o e reconstru o, necess rio para a manuten o da harmonia. Continua Brunhes apud Braga (2007) a geografia deveria estudar os fatos essenciais : simples, complicados, regras de conv vio social e os fatos essenciais ligados a cultura. A intera o desses fatos essenciais conformaria a organiza o do espa o, entendido como comunh o entre o conv vio social e o meio atrav s do trabalho e das trocas. Hartshorne (1978) exp e que o termo espa o empregado no sentido de rea que seria somente um quadro intelectual do fen meno, um conceito abstrato que n o existe em realidade e que a rea est relacionada aos fen menos dentro dela e somente naquilo que ela os contem em tais e tais localiza es. O espa o na vis o de Hartshorne o espa o absoluto, um conjunto de pontos que tem exist ncia em si, sendo independente de qualquer coisa. Na vis o de Correa (2005) o espa o para Hartshorne aparece como um recept culo que 2 1
  • 3. apenas cont m coisas. Braga (2007) comenta que Hartshorne fornece 3 defini es para o objetivo da geografia em rela o ao espa o geogr fico: A geografia tem por objetivo proporcionar a descri o e a interpreta o, de maneira precisa, ordenada e racional, do car ter vari vel da superf cie da terra; A geografia a disciplina que procura descrever e interpretar o car ter vari vel da terra, de lugar a lugar, como o mundo do homem e a geografia o estudo que busca proporcionar a descri o cientifica da terra como o mundo do homem. Pierre Deffontaines e Pierre Monbeig foram dois ge grafos fundadores da Geografia Brasileira Institucionalizada, de origem francesa seguiram a matriz da escola francesa e elaboraram conceitos em rela o ao objeto da geografia humana e em conseq ncia o espa o geogr fico. Para Braga (2007) a Geografia , na vis o de Monbeig, estuda os fatos geogr ficos, sua localiza o e intera o, em outras palavras os complexos geogr ficos revelados pela paisagem, ressalta o papel da t cnica e a organiza o do espa o, este entendido como fruto do trabalho humano na produ o da paisagem. Outro autor da escola francesa que conceituou o espa o geogr fico foi Demangeon que de acordo com Moreira (2005) analisa que a geografia deve estudar o espa o geogr fico analisando a rela o dos grupos humanos com o meio geogr fico, atrav s dos modos de vida, sua evolu o, sua distribui o e as institui es humanas. Outro autor que tamb m relacionou e entrela ou os conceitos do objeto da geografia humana e o espa o geogr fico foi Max Sorre. Sorre (1967) concebe a Geografia Humana como a descri o do ec meno ou a descri o cient fica das paisagens humanas e sua distribui o pelo Globo . a disciplina dos espa os terrestres . Continua o autor analisando que a geografia humana deveria se preocupar em estudar os grupos humanos vivos, sua organiza o espacial, seu movimento, suas t cnicas, as rela es do homem com o meio e a forma o dos g neros de vida. Na sua concep o o espa o visto como localiza o e extens o isso atrav s dos mapas. Na d cada de setenta Henri Lefebvre realizou importantes estudos sobre o espa o geogr fico que veio a influenciar diversos autores que o precederam. Lefebvre (1976) entende o espa o geogr fico como produ o da sociedade, fruto da reprodu o das rela es sociais de produ o em sua totalidade. O autor trabalhou com 4 abordagens do conceito de espa o: o espa o como forma pura; espa o como produto da sociedade; espa o como instrumento pol tico e ideol gico e o espa o socialmente produzido, apropriado e transformado pela sociedade. Com rela o an lise do espa o social Lefebvre (1976) destaca 3 vertentes: o espa o percebido, do corpo e da experi ncia corp rea, ligado as pr ticas espaciais; espa o concebido ou espa o do poder dominante e da ideologia e espa o vivido que une experi ncia e cultura , corpo e imagin rio de cada um de n s o espa o da representa o. Tamb m na d cada de setenta se destaca o autor Y-Fu Tuan que no mbito da geografia human stica conceituou o espa o geogr fico. Tuan (1980) cita que para se conceituar o espa o geogr fico levando em conta os aspectos da geografia humanista os sentimentos espaciais e as id ias de um grupo ou povo sobre o espa o a partir da experi ncia s o muito 3 1
  • 4. valorizados. Continua o autor citando que existem v rios tipos de espa o, um espa o pessoal, outro grupal, onde vivida a experi ncia do outro, e o espa o m tico-conceitual que, ainda que ligado experi ncia, extrapola para al m da evidencia sensorial e das necessidades imediatas e em dire o a estruturas mais abstratas. Outra abordagem sobre o espa o geogr fico que influenciou muitos autores foi o proposto pelo professor Roberto Lobato Corr a. Para Corr a (1982) o espa o geogr fico a morada do homem e abrange a superf cie da Terra, enfatiza em seus estudos 3 abordagens do espa o. A primeira do espa o absoluto, que seria o espa o em si; a segunda abordagem a do espa o relativo, seria a dist ncia e a terceira abordagem a do espa o relacional, na qual o objeto s existe em contato com outras. Continua o autor a explicar que as 3 abordagens n o s o excludentes e que refletem diferentes valores de uso e valores de troca. O espa o social e insepar vel do tempo e os atores principais seriam os propriet rios dos meios de produ o e o estado que almejam a acumula o do capital e a reprodu o da for a de trabalho. O professor Ruy Moreira tamb m deu sua contribui o conceitualizando o espa o geogr fico. De acordo com Moreira (1982) o espa o geogr fico como estrutura de rela es sob determina o do social, a sociedade vista com sua express o material vis vel, atrav s da socializa o da natureza pelo trabalho e uma totalidade estruturada de formas espaciais. Para exemplificar seu conceito o autor utiliza a met fora da quadra esportiva polivalente para entender o espa o, onde o arranjo espacial representa as leis do jogo, o espa o seria a apar ncia e a sociedade a ess ncia. Para Corr a (2005) Moreira enfatiza em seus estudos a import ncia do conceito de forma o econ mico-social, que abarca as classes dominantes e o modo de produ o. O arranjo espacial visto como express o fenom nica do modo de socializa o da natureza e dos termos de sua configura o em forma o econ mico-social e o espa o organizado socialmente forma o s cio-espacial que a express o fenom nica da complexa trama da forma o econ mico-social. O ge grafo americano Edward Soja outra referencia importante no tocante ao resgate que fez ao conceito de espa o geogr fico. Soja (1993) enfatiza o abandono da categoria espa o e a for a que teve o historicismo para as ci ncias modernas. Cita Braga (2007) que a contribui o de Soja est em discutir autores que tentaram fazer esse resgate da categoria de espa o e contribuir para a forma o de um m todo que seja materialista hist rico e geogr fico ao mesmo tempo, pois espa o e tempo seriam insepar veis. Na vis o de Soja (1993) o ser humano j em si espacial, onde distancia e rela o seriam os pares dial ticos do ser. Outras abordagens sobre o espa o geogr fico como as de Paul Claval e Alves que tamb m contribuem para se tentar entender o espa o. Para Claval (1999) a cultura heran a da comunica o, com papel fundamental da palavra, que transforma o espa o cultural em espa o simb lico. Seria a media o sociedade-natureza atrav s das t cnicas e deve sempre ser tomada como uma constru o. A cultura a ordem do simb lico e o espa o onde ocorrem as manifesta es. 4 1
  • 5. Para Alves apud Corr a (2005) o espa o produto das rela es entre os homens e dos homens com a natureza, e ao mesmo tempo fator que interfere nas mesmas rela es existentes entre os homens na sociedade. Este tipo de abordagem valoriza a observa o e a descri o dos elementos do espa o, buscando a evidencia das sensa es atrav s da explora o do vis vel ou da imagem, como forma de alcance da percep o do sentido. O mais importante ge grafo brasileiro e um dos maiores pensadores da ci ncia geografia dos ltimos tempos foi Milton Santos, este autor foi muito importante na conceitualiza o do espa o geogr fico e para os conceitos da geografia como um todo. No intuito de pensar e conceitualizar o espa o geogr fico, Santos (1979) cita que os modos de produ o tornam concretos numa base territorial historicamente determinada, as formas espaciais constituem uma linguagem dos modos de produ o. Milton Santos tenta mostrar que um determinado local tem seu espa o alterado devido a historia deste espa o, tamb m devido as forma de apropria o que este espa o sofreu pela sociedade e principalmente pelo interesse que o poder do capital infringiu a este local. Cita Santos (1978) que o espa o organizado pelo homem como as demais estruturas sociais, uma estrutura subordinada-subordinante. E como as outras inst ncias, o espa o, embora submetido lei de totalidade, disp e de certa autonomia. Contudo em Santos (1994) consta que o espa o hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoados por sistemas de a es igualmente imbu dos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos, ao lugar e ha seus habitantes. Podemos verificar nestas duas cita es de Milton Santos como o poder financeiro, os grandes capitais aumentaram seu poder de modificar e se apropriar dos espa os. Na primeira cita o de Santos em 1978, o autor identifica que mesmo submetido totalidade o espa o ainda tinha certa autonomia. Contudo em 1994 Santos identifica que cada vez mais os locais est o com rela es estranhas a seus habitantes. Para Santos (1982) o espa o a acumula o desigual de tempos, o autor tenta evidenciar que o espa o se desenvolve desigualmente, a locais que historicamente despertaram mais interesse da sociedade e do capital de se desenvolver e reas que se desenvolveram de forma mais lenta. Continuando nesta an lise Santos (1985) cita que a forma, fun o, estrutura e processo s o quatro termos disjuntivos, associados a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Quando estes termos s o tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Estes termos considerados em conjunto, por m, e relacionados entre si, eles constroem uma base te rica e metodol gica a partir da qual podemos discutir os fen menos espaciais em totalidade. Finalizando a grandiosa contribui o de Milton Santos em rela o ao espa o geogr fico pode-se citar Santos (1997) quando relata que o espa o como uma inst ncia da sociedade, ao mesmo t tulo que a instancia econ mica e a instancia cultural-ideol gica. Isso significa que, como inst ncia, ele cont m e por ele contida. A economia est para o espa o, assim como o espa o est na economia. O mesmo se d com o pol tico-institucional e com o cultural-ideol gico. Com isso Milton Santos quer demonstrar que a ess ncia do espa o social. 5 1
  • 6. Outra contribui o do autor quando o mesmo analisa que o meio tecno-cient fico que inclui saber o suporte da produ o do saber novo, isso faz com que os espa os que n o det m o saber se tornem espa os do fazer. Com isso cita Santos (1997) os espa os comandados pelo meio tecno-cient fico s o os espa os do mandar, os outros s o os espa os do obedecer. O espa o geogr fico e as escolas da Geografia A escola tradicional que se iniciou em meados de 1870 e teve seu termino em meados de 1950 aproximadamente n o teve no espa o geogr fico um conceito chave para os estudos geogr ficos da poca. Mesmo assim se mostra presente nas obras de Ratzel e de Hartshorne, a geografia tradicional em suas diversas vers es privilegiou os conceitos de paisagens e regi o, em torno deles estabelecendo-se a discuss o sobre o objeto da geografia e a sua identidade no mbito das demais ci ncias. A escola teor tico-quantitativa que data entre 1950 a 1970 tratou o espa o geogr fico como conceito chave da disciplina, pode-se citar que foi a primeira vez que o conceito de espa o geogr fico foi realmente trabalhado. Nesta escola o espa o considerado sob duas formas que n o s o mutuamente excludentes. De um lado atrav s da plan cie isotr pica e, de outro, de sua representa o matricial. A plan cie isotr pica uma constru o te rica que resume uma concep o de espa o derivada de um paradigma racionalista e hipot tico-dedutivo. Admite-se como ponto de partida uma superf cie uniforme tanto no que se refere geomorfologia como ao clima e cobertura vegetal, assim como a ocupa o humana. Nesta plan cie isotr pica a uma uniformidade em rela o a densidade demogr fica, de renda e de padr o cultural que se caracteriza pela ado o de uma racionalidade econ mica fundada na minimiza o dos outros custos e maximiza o dos lucros ou da satisfa o.A circula o desta plan cie poss vel em todas as dire es. Sobre esta plan cie de lugares iguais desenvolvem-se a es e mecanismos econ micos que levam diferencia o dos espa os. Na plan cie isotr pica a vari vel mais importante ha dist ncia. Neste sentido Corr a (2005) cita que o espa o relativo entendido a partir de rela es entre objetos, rela es estas que implicam em custos, dinheiro, tempo e energia para se vencer a fric o imposta pela dist ncia. Continua o autor citando que no espa o relativo que se obt m rendas diferenciais e que desempenham papel fundamental na determina o do uso da terra. A escola cr tica que se iniciou em meados dos anos de 1970 o espa o reaparece como conceito chave, o debate principal sobre o tema se debru avam nas obras de Marx, onde se discutia se o espa o estava ausente ou presente, e por outro lado qual a natureza e o significado do espa o. Para Corr a (2005) Lefebvre teve um papel importante nesta escola quando argumenta que o espa o desempenha um papel ou uma fun o decisiva na estrutura o de uma totalidade, e uma l gica, de um sistema. Continua o autor explicando que o espa o entendido como espa o social, vivido, em estreita correla o com a pr tica social n o deve ser visto como espa o absoluto, vazio e puro, lugar por excel ncia dos n meros e das propor es. 6 1
  • 7. Essa nova concep o de espa o trabalhada pela escola cr tica marca profundamente os ge grafos que a partir da d cada de 1970 adotaram o materialismo hist rico e dial tico como paradigma. Conforme Braga (2007) o espa o concebido como l cus da reprodu o das rela es sociais de produ o, isto , reprodu o da sociedade. Outro ge grafo que foi muito importante na conceitualiza o de espa o nesta escola foi Milton Santos. Ele estabeleceu o conceito de forma o s cio-espacial, afirma n o ser poss vel conceber uma determinada forma o socioecon mica sem recorrer ao espa o, e que modo de produ o, forma o socioecon mica e espa o s o categorias interdependentes. Conforme Corr a (2005) o m rito da conceitualiza o de Milton Santos de forma o s cio-espacial esta no fato de se explicitar teoricamente que uma sociedade s se torna concreta atrav s do espa o que ela produz, e o espa o s intelig vel atrav s da sociedade. A natureza e o significado do espa o aparecem em diversos estudos de Santos quando aborda o papel das formas e intera es espaciais, os fixos e os fluxos a que ele se refere. Santos contribuiu significativamente para a compreens o da organiza o espacial dos pa ses subdesenvolvidos, explicando a coexist ncia de dois circuitos da economia, um circuito superior e outro inferior. Resultado de um processo de moderniza o diferenciadora que gera os dois circuitos que tem a mesma origem e o mesmo conjunto de causas e s o interligados. Outra contribui o significativa de Milton Santos foi quando estabeleceu as categorias de an lise do espa o que devem ser consideradas a partir de suas rela es dial ticas. S o 4 as categorias de an lise do espa o. A forma o aspecto vis vel, exterior de um objeto como, por exemplo: casa, bairro, cidade e rede urbana. A fun o implica um papel a ser desempenhado pelo objeto criado, a rela o entre forma e fun o direta onde a forma criada para desempenhar uma fun o. A estrutura a natureza social e econ mica de uma sociedade em um dado momento do tempo. O processo a estrutura em seu movimento de transforma o ao longo do tempo. A escola geogr fica Human stica e Cultural se consolidou a partir da d cada de 1970 e baseia-se nos sentimentos espaciais e na percep o vista como significa o e tem como filosofia norteadora a Fenomenologia. Neste paradigma, a categoria mais utilizada tem sido o lugar, mas o espa o tamb m considerado, principalmente como espa o vivido e como espa o percebido. Para Corr a (2005) a escola humanista e cultural assentada na subjetividade, na intui o, nos sentimentos, na experi ncia, no simbolismo e na conting ncia, privilegiado o singular e n o o particular ou o universal e, ao inv s da explica o, tem na compreens o a base de integibilidade do mundo real. 3.CONCLUS O O espa o geogr fico o resultado das rela es que nele acontecem. Rela es econ micas, sociais, pol ticas e culturais. Os diversos autores estudados demonstraram estas rela es. A for a que move estas rela es a a o humana impregnada de interesses hist ricos, culturais 7 1
  • 8. e de poder. Estas rela es espaciais s o muitas das vezes contradit rias porque revelam embates de poder ou embates de interesse em um determinado local. A a o do homem na terra e as contradi es que tais a es podem vir a causar possuem implica es no espa o, e com o passar do tempo se constituem em produ o espacial. O espa o geogr fico o reflexo das rela es sociedade, espa o e tempo. No caso econ mico fica evidente a contrariedade das rela es espaciais. Para Braga (2007) no campo econ mico que verificamos a explora o do homem pelo homem, dos detentores dos meios de produ o e dos vendedores de for a-de-trabalho. Politicamente podemos verificar tamb m diversos conflitos espaciais, principalmente brigas pelo controle do espa o entre estados e na es. Portanto pode-se observar a diversidade de conceitos e vis es sobre o espa o geogr fico e a forma que cada escola do pensamento geogr fico se utilizou destes conceitos. Foi poss vel verificar que medida que as rela es espaciais foram se tornando cada vez mais contradit rias e muitas vezes de dif cil entendimento o conceito de espa o se moldou, adaptou e veio a explicar tais contrariedades. Referencias Bibliogr ficas BRAGA, Rhalf M. O espa o geogr fico: um esfor o de defini o. S o Paulo: Geousp, 2007. CLAVAL, Paul. A Geografia Cultural. Florian polis: UFSC, 1999. CORR A, Roberto Lobato. O espa o geogr fico: algumas considera es. In: SANTOS, Milton (org.). Novos rumos da geografia brasileira. S o Paulo: Hucitec, 1982. CORR A, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. 7a ed. - Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2005. HARTSHORNE, Richard. Prop sitos e natureza da Geografia. 2 ed. S o Paulo: Hicitec, 1978. LEFEBVRE, Henri. Espacio y Pol tica. Barcelona: Pen nsula, 1976. MOREIRA, Ruy. Repensando a Geografia. In: SANTOS, Milton (org). Novos rumos da geografia brasileira. S o Paulo: Hucitec, 1982. SANTOS, Milton. Espa o e sociedade. Petr polis: Vozes, 1979. _____________. Por uma Geografia nova. S o Paulo: Hucitec,1978. _____________. Pensando o espa o do homem. S o Paulo: Hucitec, 1982. _____________. Espa o e m todo. S o Paulo: Nobel, 1985. _____________.T cnica Espa o Tempo. Globaliza o e meio t cnico-cient fico informacional. 8 1
  • 9. S o Paulo: Hucitec, 1994. ____________. Espa o e m todo. S o Paulo: Nobel, 1997. SOJA, Edward W. Geografia P s-Modernas. A reafirma o do espa o na teoria social critica. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1993. SORRE, Max. El Hombre em La Tierra. Barcelona: Labor, 1967. TUAN, Y-Fu. Topofilia. S o Paulo: Difel, 1980. 9 1