1. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE ESPAÇO
GEOGRÁFICO.
1. INTRODUÇÃO
O conceito de espaço geográfico sofreu muitas mudanças. Na escola
tradicional, por exemplo, o espaço geográfico não se afigurava num conceito
chave nos estudos geográficos. Já na escola crítica o conceito de espaço se
tornou chave para os estudos da disciplina norteando os estudos de grandes
autores e pensadores da ciência geográfica como Milton Santos.
Este artigo tentará analisar o conceito de espaço geográfico de vários autores
não emitindo julgamento de suas idéias e sim tentando analisar a evolução do
conceito e a importância que o mesmo teve para a ciência geográfica.
2. EMBASAMENTO TEÓRICO
Espaço geográfico uma difícil definição
Uma das primeiras referencias e definições de espaço foi feita por
Aristóteles,onde o espaço era a inexistência do vazio e lugar como posição de
um corpo entre os outros corpos. Para Aristóteles não basta que esta área
esteja preenchida, é necessário que haja um referencial, outro corpo que dê ao
primeiro uma localização.
Avançando um pouco no tempo Immanuel Kant no século XVIII deu
importância às formas de sentido como instrumento de percepção. Segundo
Kant, nós percebemos todas as coisas dotadas de dimensões, ou seja, como
realidades espaciais. O espaço não é algo passável de percepção, mas o que
permite haver percepção. Nesta concepção percebemos que Kant separa o
espaço e os demais elementos; o primeiro é uma “pano de fundo” para se fixar
os corpos. As considerações apresentadas por Kant foram importantes no
avanço dos estudos regionais, contudo limitadas no tocante que não vêem o
espaço como algo constituído de significado ou estrutura própria.
Para La Blache, autor muito importante na construção do pensamento
geográfico, o meio é entendido como um local onde coabita o diverso e seria
sinônimo de adaptação. A geografia estuda os lugares não os homens, o
estudo das paisagens é feito pelo método descritivo e o espaço seria o local
onde existe e acontece a coabitação do homem e natureza.
Já Ratzel teve suas idéias sobre o espaço muito influenciadas pela política,
sua definição celebre de espaço foi o de “espaço vital”, ou seja, base
indispensável para a vida do ser humano. O espaço geográfico para Ratzel é
visto como base indispensável para a vida do homem, encerrando as
condições de trabalho, quer naturais, quer aqueles socialmente produzidos.
Para Brunhes apud Braga (2007) a geografia deve estudar os lugares as
regiões e suas relações. Os princípios básicos da geografia seriam a atividade
e a conexão, que fornece o sentido dos lugares e das regiões.
Hartshorne (1978) expõe que o termo espaço é empregado no sentido de área
que seria somente um quadro intelectual do fen�meno, um conceito abstrato
2. que não existe em realidade e que a área está relacionada aos fenômenos
dentro dela e somente naquilo que ela os contem em tais e tais localizações. O
espaço na visão de Hartshorne é o espaço absoluto, um conjunto de pontos
que tem existência em si, sendo independente de qualquer coisa.
Na visão de Correa (2005) o espaço para Hartshorne aparece como um
receptáculo que apenas contém coisas. Braga (2007) comenta que Hartshorne
fornece 3 definições para o objetivo da geografia em relação ao espaço
geográfico: A geografia tem por objetivo proporcionar a descrição e a
interpretação, de maneira precisa, ordenada e racional, do caráter variável da
superfície da terra; A geografia é a disciplina que procura descrever e
interpretar o caráter variável da terra, de lugar a lugar, como o mundo do
homem e a geografia é o estudo que busca proporcionar a descrição cientifica
da terra como o mundo do homem.
Pierre Deffontaines e Pierre Monbeig foram dois geógrafos fundadores
da Geografia Brasileira Institucionalizada, de origem francesa seguiram a
matriz da escola francesa e elaboraram conceitos em relação ao objeto da
geografia humana e em conseqüência o espaço geográfico. Outro autor da
escola francesa que conceituou o espaço geográfico foi Demangeon que de
acordo com Moreira (2005) analisa que a geografia deve estudar o espa�o
geográfico analisando a relação dos grupos humanos com o meio geográfico,
através dos modos de vida, sua evolução, sua distribuição e as instituições
humanas.
Sorre (1967) concebe a Geografia Humana como a “descrição do
ecúmeno” ou a “descrição científica das paisagens humanas e sua distribuição
pelo Globo”. É a disciplina dos “espaços terrestres”. Na sua concepção o
espaço é visto como localização e extensão isso através dos mapas.
Lefebvre (1976) entende o espaço geográfico como produção da
sociedade, fruto da reprodução das relações sociais de produção em sua
totalidade. O autor trabalhou com 4 abordagens do conceito de espaço: o
espaço como forma pura; espaço como produto da sociedade; espaço como
instrumento político e ideológico e o espaço socialmente produzido, apropriado
e transformado pela sociedade. Com relação à análise do espaço social
Lefebvre (1976) destaca 3 vertentes: o espaço percebido, do corpo e da
experiência corpórea, ligado as práticas espaciais; espaço concebido ou
espaço do poder dominante e da ideologia e espaço vivido que une experiência
e cultura , corpo e imaginário de cada um de nós é o espaço da representação.
Tuan (1980) cita que para se conceituar o espaço geográfico levando em
conta os aspectos da geografia humanista os sentimentos espaciais e as idéias
de um grupo ou povo sobre o espaço a partir da experiência são muito
valorizados Continua o autor citando que existem vários tipos de espaço, um
espaço pessoal, outro grupal, onde é vivida a experiência do outro, e o espaço
mítico-conceitual que, ainda que ligado à experiência, extrapola para além da
evidencia sensorial e das necessidades imediatas e em direção a estruturas
mais abstratas.
Para Corréa (1982) o espaço geográfico é a morada do homem e
abrange a superfície da Terra, enfatiza em seus estudos 3 abordagens do
espaço. A primeira é do espaço absoluto, que seria o espaço em si; a segunda
abordagem é a do espaço relativo, seria a distância e a terceira abordagem é a
do espaço relacional, na qual o objeto só existe em contato com outras.
3. O professor Ruy Moreira também deu sua contribuição conceitualizando
o espaço geográfico. De acordo com Moreira (1982) o espaço geográfico como
estrutura de relações sob determinação do social, é a sociedade vista com sua
expressão material visível, através da socialização da natureza pelo trabalho e
uma totalidade estruturada de formas espaciais.
Soja (1993) enfatiza o abandono da categoria espaço e a força que teve
o historicismo para as ciências modernas. Cita Braga (2007) que a contribuição
de Soja está em discutir autores que tentaram fazer esse resgate da categoria
de espaço e contribuir para a formação de um método que seja materialista
histórico e geográfico ao mesmo tempo, pois espaço e tempo seriam
inseparáveis. Na visão de Soja (1993) o ser humano já é em si espacial, onde
distancia e relação seriam os pares dialéticos do ser.
Para Claval (1999) a cultura é herança da comunicação, com papel
fundamental da palavra, que transforma o espaço cultural em espaço
simbólico. Seria a mediação sociedade-natureza através das técnicas e deve
sempre ser tomada como uma construção. A cultura é a ordem do simbólico e
o espaço é onde ocorrem as manifestações. Para Alves apud Corréa (2005) o
espaço é produto das relações entre os homens e dos homens com a natureza,
e ao mesmo tempo é fator que interfere nas mesmas relações existentes entre
os homens na sociedade.
O mais importante geógrafo brasileiro e um dos maiores pensadores da
ciência geografia dos últimos tempos foi Milton Santos, este autor foi muito
importante na conceitualização do espaço geográfico e para os conceitos da
geografia como um todo. No intuito de pensar e conceitualizar o espaço
geográfico, Santos (1979) cita que os modos de produção tornam concretos
numa base territorial historicamente determinada, as formas espaciais
constituem uma linguagem dos modos de produção. Milton Santos tenta
mostrar que um determinado local tem seu espaço alterado devido a historia
deste espaço, também devido as forma de apropriação que este espaço sofreu
pela sociedade e principalmente pelo interesse que o poder do capital infringiu
a este local.
Cita Santos (1978) que o espaço organizado pelo homem é como as
demais estruturas sociais, uma estrutura subordinada-subordinante. E como as
outras instâncias, o espaço, embora submetido é lei de totalidade, dispõe de
certa autonomia. Contudo em Santos (1994) consta que o espaço é hoje um
sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoados por sistemas de ações
igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins
estranhos, ao lugar e ha seus habitantes.