2. O historiador Carlos Fuentes diz que a América foi muito
desejada antes mesmo do seu conhecimento. Ao aportarem
em solo americano, os espanhois já traziam atreladas à sua
bagagem cultural, ideias imaginadas sobre como seria esse
continente, como deveriam procurar riquezas e/ ou
fixarem-se nessas terras. Neste post trabalharemos o
período da colonização espanhola da América, mais uma
das épocas que encontramos na História, permeadas por
dominações, massacres e a imposição cultural.
No século XV, enquanto Portugal dominava a
circunavegação da África e o comércio com as Índias, a
Espanha de Fernando e Isabel de Castela decidiu apoiar e
financiar uma aventura temerosa. Cristóvão Colombo,
navegador genovês, acreditava que a Terra era redonda e
que se seguissem a direção Oeste, chegariam na Ásia. Em
1488, foi dado o aval para a expedição. Porém, foi em 12 de
outubro de 1492, após trinta e três dias de viagem em alto
mar, com uma tripulação desconfiada e condições
insalubres, que Colombo aportou no atual Caribe, mais
especificamente nas Bahamas.
Muitos descrevem essa viagem como desapontadora
para a coroa espanhola. Afinal, não chegaram ao
Oriente. Contudo, todo o território “descoberto” e
explorado pelos espanhois tornava-se sua posse. Isso,
além das práticas mercantilistas de acúmulos de
metais e monopólios comerciais, fez com que Espanha
e Portugal desejassem formalizar acordos para que, no
fundo, nenhum ficasse no caminho do outro. Ou seja,
mesmo que as riquezas não estivessem tão às vistas
logo da chegada das primeiras expedições na América,
era inteligente por parte dos espanhois, em querer
alguma regulamentação daquelas terras, haja vista a
possibilidade de domínio português.
3. Em 3 de maio de 1493, por intermédio do
papa nascido em Valência, Alexandre VI
(1431-1503), foi redigida a Bula Inter
Coetera, que estabelecia as fronteiras
imaginárias dos territórios americanos.
Basicamente, a 100 léguas a oeste de Cabo
Verde foi traçada uma linha e Portugal
possuiria as terras a leste e a Espanha a
oeste. Os portugueses alegaram
favorecimento aos espanhois e não
assinaram a bula. Propuseram, portanto,
uma nova linha. Esta estaria a 370 léguas de
Cabo Verde, e continuariam com as terras
a leste (e a preciosa rota que contornava a
África). Para a Espanha não haveria muitas
mudanças, já que os territórios descobertos
por Colombo ainda lhe pertenceria. Então,
em 7 de junho de 1494, foi assinado
o Tratado de Tordesilhas.
A COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA ESPANHOLA
A COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA PORTUGUESA
4. Durante o processo de Conquista, os espanhóis iniciaram também a
colonização da América, isto é, a ocupação, exploração e administração
do território americano.
A COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA ESPANHOLA
5. ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS – ESPANHA
•Casa de Contratação – Criada em 1503, estava sediada em Sevilha, cidade
portuária da Espanha. O órgão regulamentava a administração colonial, nomeava
os funcionários e fiscalizava a cobrança do quinto, imposto da Coroa que recaía
sobre a mineração e as transações comerciais da colônia. A Casa também se
encarregava de garantir o monopólio do comércio colonial, fiscalizando os navios
que partiam das colônias e chegavam ao reino espanhol. Por determinação da Casa
de Contratação, todos os navios que faziam comércio com as colônias deveriam
chegar a partir da cidade de Sevilha.
•Conselho das Índias – Criado em 1524, era o órgão encarregado de tomar as
decisões relativas às colônias. Suas reuniões podiam ser encabeçadas pelo próprio
rei, que indicava pessoas de sua mais alta confiança para os principais cargos do
conselho.
6. O desenvolvimento das regiões coloniais e o
crescimento das atividades exploradoras no novo
continente transformaram as possessões espanholas
em um vasto império, difícil de ser administrado.
Assim, o Estado espanhol subdividiu as suas colônias
na América em vice-reinos e capitanias gerais
(tinham por função defender as colônias de possíveis
ataques de piratas, ingleses em sua maioria).
7. ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS – COLÔNIAS
•Audiências - Os vice-reis eram membros da nobreza ou da burguesia
espanhola. Na América eles representavam o rei e, portanto, eram as mais
altas autoridades coloniais. Os vice-reis cuidavam dos assuntos
administrativos, militares e religiosos. Eles ainda presidiam as audiências,
onde exerciam o papel de autoridade judicial.
•Cabildo – Espécie de conselho ou câmara municipal, os cabildos tratavam
de vários assuntos, especialmente os relacionados a questões policiais, ao
comércio e ao uso das áreas de propriedade pública.
8. Espanha
• Casa de Contratação (monopólio comercial)
• Conselho das Índias (negócios coloniais)
América
• Dividida em Vice-Reinados e Capitanias Gerais
• Audiências (autoridade judicial)
• Cabildos (vilas e cidades)
9. A sociedade colonial era composta de cinco grupos de condições distintas:
chapetones, criollos, mestiços, indígenas e negros trazidos como escravos da
África.
10. Um dos critérios de hierarquização social mais comum na
América espanhola foi o da pureza de sangue, combinada
com o local de nascimento. Um criollo, por exemplo, mesmo
sendo filho de nobre espanhol, não poderia alcançar os postos
mais elevados da administração colonial pelo fato de ter
nascido na América.
O número de mulheres espanholas vindas para a América era
bem inferior ao de homens. Por essa razão, foi bastante
comum a união de espanhóis e criollos com índias, cujos
descendentes eram chamados de mestizos, e também com
negras, embora com menor frequência. Essa miscigenação
tornava cada vez mais difícil a aplicação dos critérios de
pureza de sangue.
11. • A exploração de ouro e prata foi, nos
primeiros anos da conquista, a principal
atividade econômica das colônias
espanholas. Os metais eram extraídos
pelas populações indígenas
locais, submetidas a um regime de
trabalho semelhante à servidão. Havia
duas principais formas de trabalho
compulsório: mita e encomienda.
12. Mita
• A mita consistia no trabalho forçado dos indígenas nas minas
de prata e ouro, com pagamento mínimo e insuficiente para a
sua sobrevivência.
Encomienda
• Na encomienda, a Coroa autorizava o colonizador a dispor dos
nativos para trabalhar nas minas ou na agricultura, desde que
fossem cristianizados. Os indígenas eram agrupados em
grandes aldeamentos, sob o controle dos colonizadores.
13. • A mita e a encomienda contribuíram tanto para dizimar quanto para
descaracterizar os grupos nativos.
14. •Logo após o período das conquistas, as colônias espanholas passaram a praticar
também a agricultura em grandes propriedades (chamadas haciendas),
especialmente nas regiões da América Central e Antilhas. A pecuária também
foi introduzida no México e na região do vice-reinado do Prata.
•Os indígenas desligados de suas comunidades e os mestiços (nascidos,
sobretudo, dos casamentos entre brancos e indígenas) passaram a trabalhar
nas fazendas. Alguns deles eram arrendatários (pessoas que arrenda/aluga as
terras de outrem) ou parceiros dos proprietários maiores. Outros, em troca do
trabalho, recebiam um pequeno lote de terra para sua subsistência. Em geral
esses trabalhadores não recebiam salário. Contraíam dívidas que jamais
conseguiriam pagar nos armazéns pertencentes aos empregadores e acabavam
vinculados às haciendas por período indeterminado.
15. •Sessenta anos após a “descoberta”, a América,
desde o Mississipi até o Rio da Prata e o Mapocho,
estava já recoberta de cruzes: cruzes de
cemitérios e de templos com suas
correspondentes cidades. Os moradores dessas
cidades foram dizimados. Um século e meio após
a conquista, tinham desaparecido quase 100
milhões de seres humanos. Dos 25 milhões de
indígenas que habitavam o México, em 1500, só
restava um milhão em 1600. Segundo as palavras
do poeta chileno Pablo Neruda, “a espada, a cruz
e a fome dizimaram a família selvagem”.