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IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
                                                   

              RETÓRICA NA MÚSICA COLONIAL BRASILEIRA:
             O USO DA ANAPHORA EM ANDRÉ DA SILVA GOMES

                                                                             Eliel Almeida Soares
                                                                             USP-eliel.soares@usp.br

                                                                                     Ronaldo Novaes
                                                                           USP-ronaldo.noves@usp.br

                                                                               Diósnio Machado Neto
                                                                                USP-dmneto@usp.br

       Resumo: Neste trabalho procuraremos evidenciar a consciência do uso e aplicação retórica na
       obra de André da Silva Gomes, demonstrando que o compositor luso-brasileiro possuía sólida
       estrutura e proficiência teórica fundamentada na Arte da Eloquência com o objetivo de criar um
       discurso persuasivo. Para tanto, partiremos da demonstração da utilização da Anaphora através
       de análises retórico-musicais associadas ao texto sacro, além de métodos analíticos amplamente
       difundidos na musicologia.

       Palavras-chave: Retórica, Anaphora, Análise Musical, André da Silva Gomes, Música Colonial
       Brasileira.

      Rhetoric on Brazilian Colonial Music: The Use of Anaphora in André da Silva Gomes

       Abstract: In this paper, we aim to demonstrate the awareness of the use and application of
       rhetoric in André da Silva Gomes’ work, demonstrating that the Luso-Brazilian composer had
       solid structure and theoretical proficiency based on the Art of Eloquence in order to create a
       persuasive speech. To achieve this goal, we are going to start demonstrating the use of Anaphora
       through musical-rhetorical analyses associated to sacred text, besides showing analytical
       methods widespread in in musicology.

       Keywords: Rhetoric, Anaphora, Musical Analysis, André da Silva Gomes, Brazilian Colonial
       Music.


            1. Introdução

            O objetivo fulcral da retórica é a produção de discursos eloquentes e
persuasivos com a finalidade de convencer uma audiência da verdade de algo, ou seja,
trata-se de uma teckné argumentativa, fundamentada não apenas no logos dialético, mas
na habilidade em aplicar a linguagem para mover os afetos dos ouvintes (JAPIASSÚ;
MARCONDES, 1999, p.235). Para tanto, faz uso de diversos recursos, tais como
metáforas, analogias, alegorias e figuras retóricas. Sua relação com a música se dá desde
a Antiguidade greco-romana, onde diversos pensadores inter-relacionavam seus
conceitos entre si. Durante o século XVI, com a redescoberta dos textos clássicos, os
conceitos e teorias sobre a retórica serviram de fundamentação para que tratadistas e
pensadores musicais elaborassem o que viria a se estabelecer como Poética Musical, ou
seja, teorias acerca da constituição da música como discurso.


                                                                                                     1

 
IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
                                                

            De acordo com Santo Agostinho, a transmissão da arte retórica não é
exclusiva de uma escola ou nação que, por se tratar de uma linguagem, é inerente ao ser
humano, podendo ser aprendida, conhecida e assimilada por nações diferentes, de
modos diversificados (AGOSTINHO, [397-426] 2002, livro III, cap.29 § 40, p.185).
Embasados na afirmativa agostiniana, assim como na documentação histórica e social
sobre a formação de André da Silva Gomes (1752-1844), nossa pesquisa se insere pela
necessidade de incluir a Música Colonial Brasileira às demais investigações da
musicologia contemporânea acerca da retórica musical. A metodologia adotada consiste
de métodos analíticos amplamente difundidos, além do estudo do tratado A Arte
Explicada do Contraponto, de autoria do próprio Silva Gomes aplicados na análise de
seus ofertórios.
            Nessa proposta, especificamente, procura-se demonstrar a aplicação da
Anaphora - figura de repetição melódica, em alguns excertos da obra do quarto Mestre
de Capela da Sé de São Paulo, demonstrando a conspicuidade do compositor luso-
brasileiro em dispor tanto os elementos, como as figuras retóricas na constituição de seu
discurso musical. Sabe-se que as averiguações concernentes à retórica na música
brasileira ainda estão em fase inicial, o que justifica a necessidade da inserção deste
trabalho dentro das pesquisas já existentes.
 




            2. A Anaphora e suas Funções


            Ao constituir seu discurso, o orador faz uso de diversos recursos retóricos
para alcançar o objetivo a que se propõe. Partindo de um amplo repertório de figuras
retóricas, escolhe aquela que mais está de acordo com sua necessidade. Nesse sentido,
quando tem por objetivo enfatizar ou realçar alguma ideia, dentre os vários recursos
possíveis, lança mão da Anaphora, que é um dispositivo retórico que consiste em repetir
uma sequência de palavras no início de cada sentença. Musicalmente, a Anaphora é
uma linha do baixo repetida, ou seja, um solo na voz do baixo; também pode ser a
repetição de uma exposição melódica sobre notas e partes diferentes. Igualmente pode
ocorrer no inicio das repetições de frases e motivos em uma série de passagens
sucessivas; por fim, pode ser apresentada como uma repetição em geral.
            De acordo com Joachim Burmeister (1564-1629), é um ornamento que
repete as mesmas notas através de várias vozes diferentes; Para Johannes Nucius (1556-

                                                                                       2

 
IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
                                                                

1620), ocorre no contraponto floreado ou misto. Onde um tema é repetido
continuamente numa única e mesma voz; Joachim Thuringus (nascido em finais do
século XVI), define como uma repetição continuada apenas no Baixo; Para Athanasisus
Kircher (1601-1680), a Anaphora ocorre quando uma passagem é frequentemente
repetida com ênfase; Em Johann George Ahle (1651-1706), é tratada no mesmo sentido
de ênfase, como no exemplo bíblico: Alegrem-vos no Senhor todas as terras ou cantem
e se alegrem;  Johann Mattheson (1681-1764), afirma ser comum encontrá-la na
composição musical, podendo ocorrer na introdução de um fragmento melódico que é
repetido no início de várias frases; para Johann Adolf Scheibe (1708-1776), trata-se de
uma repetição de notas ou passagens musicais; Johann Nikolaus Forkel (1749-1818),
afirma que a Anaphora envolve não apenas as notas e todas as passagens musicais, mas
também o texto e a música vocal que recebe maior ênfase através da repetição.
(BARTEL, 1997, p.184-190).


                       3. Exemplos de Anaphora em Algumas Obras de André da Silva Gomes

                       Nota-se o emprego da Anaphora na repetição tanto do motivo rítmico
quanto das relações intervalares, nas quatro vozes do ofertório, enfatizando a expressão
in mandatis tuis (teus mandamentos), no compasso 21, na Propositio1.




    Exemplo 1: Anaphora no Ofertório da Missa do 2º Domingo da Quaresma de André da Silva Gomes,
               comp.21- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.95).
                                                            
1
 Onde se encontra o esboço dos pontos do argumento, em outras palavras, o conteúdo da tese é exposto
de forma sucinta.

                                                                                                   3

 
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                       É notável de apreciação a utilização da Anaphora, na tonalidade de Si bemol
Maior, logo após a Semicadência, no compasso 20, destacando as palavras Et judiciosa
(Mais justos), no solo da soprano, que juntamente com a delimitação das outras vozes,
por meio de pausas, aguardando em silêncio e ficando em repouso por algum tempo,
caracteriza uma Narratio dentro da Confutatio2.




    Exemplo 2: Anaphora no Ofertório da Missa do 3º Domingo da Quaresma de André da Silva Gomes,
            comp.21e 22- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.102).


                       O discurso do Ofertório da Missa do 1º Domingo do Advento se inicia de
maneira reflexiva numa súplica em forma de oração, Ad te [Domine] levavi animam
mean (A ti Senhor elevei a minha alma), sendo a mesma destacada pelo solo da soprano
até o compasso 12. Em meio a tal prece é trabalhada pelo autor a primeira ideia do
ofertório, que é a elevação do espirito do fiel através da busca de um relacionamento
com Deus, visando não só a purificação e santificação, mas a confiança para alcançar
seus objetivos. Como complemento a essas petições, o Silva Gomes adiciona a
Anaphora, enfatizando, por meio de repetição a palavra levavi (elevei).

                                                            
2
 Narratio- narração dos fatos que pode ocorrer no início da parte vocal, igualmente na entrada do solo,
entretanto, essa parte da Dispositio (distribuição ou arranjo das ideias e argumentos), também é
encontrada em todas as vozes de uma peça musical. Confutatio- refutação dos argumentos expostos
anteriormente, através de oposição.

                                                                                                     4

 
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    Exemplo 3: Anaphora no Ofertório da Missa do 1º Domingo do Advento de André da Silva Gomes,
            comp.1 e 2- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.128).



             No mesmo ofertório, essa figura é aplicada para enfatizar a expressão
animam (alma), alimentando, dessa forma, a atenção do ouvinte através de mecanismos
retóricos, motívicos e estruturais, isto é, o sentimento de elevação e purificação para
obter êxito na inquirição do salmista, é conservado pelo compositor luso-brasileiro, o
qual se apropria da Anaphora, já empregada anteriormente no Exordium (introdução do
discurso).
 




    Exemplo 4: Anaphora no Ofertório da Missa do 1º Domingo do Advento de André da Silva Gomes,
           comp.14 e 15- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.130).
                                                                                                  5

 
IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
                                                  

             A presente obra, tal como o Ofertório da Missa do Quarto Domingo da
Quaresma, fora escrita para oito vozes. Nos compassos 3 a 5, é observável o uso da
Anaphora, fazendo uma repetição continua na voz do baixo, conforme a definição do
tratadista Joachim Thuringus. Da mesma forma, pode-se constatar sua utilidade na
resolução da primeira frase Benedixisti Domine, por meio da Cadência Autêntica
Perfeita.




    Exemplo 5: Anaphora no Ofertório da Missa do 3º Domingo do Advento de André da Silva Gomes,
          comp.3 a 5- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.144-145).
                                                                                                  6

 
IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
                                                    

               O autor incrementa essa figura de repetição melódica para ressaltar a
expressão laetentur caeli (alegrem-se os céus). Enfim, os elementos retóricos utilizados
nesse excerto, foram trabalhados por Silva Gomes em consonância ao texto sacro
apresentado, de modo a chamar a atenção do ouvinte, seja pela ênfase, reiteração ou no
destaque das expressões pronunciadas melodicamente.




    Exemplo 6: Anaphora no Ofertório da Missa de Natal (1º Mov.) de André da Silva Gomes, comp.44 e
                  45- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.202).



               4. Considerações Finais

               Sendo parte constituinte da composição, o elemento emocional torna-se
decisivo para realização do discurso retórico. O objetivo capital do orador é mover os
afetos do ouvinte a fim de torná-lo favorável à sua tese. Para tanto, busca fundamentar
seus argumentos não apenas na lógica, mas em artifícios retóricos e alegóricos. Desde
os primórdios da civilização ocidental, pensadores e estudiosos atribuem à música o
poder de influenciar a conduta humana. Nos séculos XVI a XVIII, vários compositores
e tratadistas teorizaram e sistematizaram o discurso musical embasados na retórica.
                                                                                                      7

 
IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO
                                             

           Possuidor de um sólido arcabouço teórico e consistente conhecimento
literário e musical, André da Silva Gomes, mestre de contraponto e gramática latina,
demonstra em sua obra todo o seu cabedal acerca da retórica musical. Como procurou-
se demonstrar através de análises de seus ofertórios neste artigo, que se fixou apenas na
figura da Anaphora como elemento retórico de repetição e ênfase, aplicado pelo
compositor na constituição de seu discurso eloquente e persuasivo.


Referências:

AGOSTINHO, Santo. A doutrina cristã Manual de exegese e formação cristã. São
Paulo: Editora Paulus, 2002.
BARTEL, Dietrich. Música Poética: Musical-Rhetorical Figures in Germany Baroque
Music. Lincoln: University of Nebraska Press, 1997.

DUPRAT, Régis. Música Sacra Paulista. Marília (SP): Editora Empresa Unimar, 1999.

DUPRAT, Régis et al. A Arte Explicada de Contraponto de André da Silva Gomes. São
Paulo: Arte & Ciência, 1998.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª
Edição. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1999.




                                                                                       8

 

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Retórica na Música Colonial de André da Silva Gomes

  • 1. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   RETÓRICA NA MÚSICA COLONIAL BRASILEIRA: O USO DA ANAPHORA EM ANDRÉ DA SILVA GOMES Eliel Almeida Soares USP-eliel.soares@usp.br Ronaldo Novaes USP-ronaldo.noves@usp.br Diósnio Machado Neto USP-dmneto@usp.br Resumo: Neste trabalho procuraremos evidenciar a consciência do uso e aplicação retórica na obra de André da Silva Gomes, demonstrando que o compositor luso-brasileiro possuía sólida estrutura e proficiência teórica fundamentada na Arte da Eloquência com o objetivo de criar um discurso persuasivo. Para tanto, partiremos da demonstração da utilização da Anaphora através de análises retórico-musicais associadas ao texto sacro, além de métodos analíticos amplamente difundidos na musicologia. Palavras-chave: Retórica, Anaphora, Análise Musical, André da Silva Gomes, Música Colonial Brasileira. Rhetoric on Brazilian Colonial Music: The Use of Anaphora in André da Silva Gomes Abstract: In this paper, we aim to demonstrate the awareness of the use and application of rhetoric in André da Silva Gomes’ work, demonstrating that the Luso-Brazilian composer had solid structure and theoretical proficiency based on the Art of Eloquence in order to create a persuasive speech. To achieve this goal, we are going to start demonstrating the use of Anaphora through musical-rhetorical analyses associated to sacred text, besides showing analytical methods widespread in in musicology. Keywords: Rhetoric, Anaphora, Musical Analysis, André da Silva Gomes, Brazilian Colonial Music. 1. Introdução O objetivo fulcral da retórica é a produção de discursos eloquentes e persuasivos com a finalidade de convencer uma audiência da verdade de algo, ou seja, trata-se de uma teckné argumentativa, fundamentada não apenas no logos dialético, mas na habilidade em aplicar a linguagem para mover os afetos dos ouvintes (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1999, p.235). Para tanto, faz uso de diversos recursos, tais como metáforas, analogias, alegorias e figuras retóricas. Sua relação com a música se dá desde a Antiguidade greco-romana, onde diversos pensadores inter-relacionavam seus conceitos entre si. Durante o século XVI, com a redescoberta dos textos clássicos, os conceitos e teorias sobre a retórica serviram de fundamentação para que tratadistas e pensadores musicais elaborassem o que viria a se estabelecer como Poética Musical, ou seja, teorias acerca da constituição da música como discurso. 1  
  • 2. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   De acordo com Santo Agostinho, a transmissão da arte retórica não é exclusiva de uma escola ou nação que, por se tratar de uma linguagem, é inerente ao ser humano, podendo ser aprendida, conhecida e assimilada por nações diferentes, de modos diversificados (AGOSTINHO, [397-426] 2002, livro III, cap.29 § 40, p.185). Embasados na afirmativa agostiniana, assim como na documentação histórica e social sobre a formação de André da Silva Gomes (1752-1844), nossa pesquisa se insere pela necessidade de incluir a Música Colonial Brasileira às demais investigações da musicologia contemporânea acerca da retórica musical. A metodologia adotada consiste de métodos analíticos amplamente difundidos, além do estudo do tratado A Arte Explicada do Contraponto, de autoria do próprio Silva Gomes aplicados na análise de seus ofertórios. Nessa proposta, especificamente, procura-se demonstrar a aplicação da Anaphora - figura de repetição melódica, em alguns excertos da obra do quarto Mestre de Capela da Sé de São Paulo, demonstrando a conspicuidade do compositor luso- brasileiro em dispor tanto os elementos, como as figuras retóricas na constituição de seu discurso musical. Sabe-se que as averiguações concernentes à retórica na música brasileira ainda estão em fase inicial, o que justifica a necessidade da inserção deste trabalho dentro das pesquisas já existentes.   2. A Anaphora e suas Funções Ao constituir seu discurso, o orador faz uso de diversos recursos retóricos para alcançar o objetivo a que se propõe. Partindo de um amplo repertório de figuras retóricas, escolhe aquela que mais está de acordo com sua necessidade. Nesse sentido, quando tem por objetivo enfatizar ou realçar alguma ideia, dentre os vários recursos possíveis, lança mão da Anaphora, que é um dispositivo retórico que consiste em repetir uma sequência de palavras no início de cada sentença. Musicalmente, a Anaphora é uma linha do baixo repetida, ou seja, um solo na voz do baixo; também pode ser a repetição de uma exposição melódica sobre notas e partes diferentes. Igualmente pode ocorrer no inicio das repetições de frases e motivos em uma série de passagens sucessivas; por fim, pode ser apresentada como uma repetição em geral. De acordo com Joachim Burmeister (1564-1629), é um ornamento que repete as mesmas notas através de várias vozes diferentes; Para Johannes Nucius (1556- 2  
  • 3. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   1620), ocorre no contraponto floreado ou misto. Onde um tema é repetido continuamente numa única e mesma voz; Joachim Thuringus (nascido em finais do século XVI), define como uma repetição continuada apenas no Baixo; Para Athanasisus Kircher (1601-1680), a Anaphora ocorre quando uma passagem é frequentemente repetida com ênfase; Em Johann George Ahle (1651-1706), é tratada no mesmo sentido de ênfase, como no exemplo bíblico: Alegrem-vos no Senhor todas as terras ou cantem e se alegrem;  Johann Mattheson (1681-1764), afirma ser comum encontrá-la na composição musical, podendo ocorrer na introdução de um fragmento melódico que é repetido no início de várias frases; para Johann Adolf Scheibe (1708-1776), trata-se de uma repetição de notas ou passagens musicais; Johann Nikolaus Forkel (1749-1818), afirma que a Anaphora envolve não apenas as notas e todas as passagens musicais, mas também o texto e a música vocal que recebe maior ênfase através da repetição. (BARTEL, 1997, p.184-190). 3. Exemplos de Anaphora em Algumas Obras de André da Silva Gomes Nota-se o emprego da Anaphora na repetição tanto do motivo rítmico quanto das relações intervalares, nas quatro vozes do ofertório, enfatizando a expressão in mandatis tuis (teus mandamentos), no compasso 21, na Propositio1. Exemplo 1: Anaphora no Ofertório da Missa do 2º Domingo da Quaresma de André da Silva Gomes, comp.21- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.95).                                                              1 Onde se encontra o esboço dos pontos do argumento, em outras palavras, o conteúdo da tese é exposto de forma sucinta. 3  
  • 4. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   É notável de apreciação a utilização da Anaphora, na tonalidade de Si bemol Maior, logo após a Semicadência, no compasso 20, destacando as palavras Et judiciosa (Mais justos), no solo da soprano, que juntamente com a delimitação das outras vozes, por meio de pausas, aguardando em silêncio e ficando em repouso por algum tempo, caracteriza uma Narratio dentro da Confutatio2. Exemplo 2: Anaphora no Ofertório da Missa do 3º Domingo da Quaresma de André da Silva Gomes, comp.21e 22- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.102). O discurso do Ofertório da Missa do 1º Domingo do Advento se inicia de maneira reflexiva numa súplica em forma de oração, Ad te [Domine] levavi animam mean (A ti Senhor elevei a minha alma), sendo a mesma destacada pelo solo da soprano até o compasso 12. Em meio a tal prece é trabalhada pelo autor a primeira ideia do ofertório, que é a elevação do espirito do fiel através da busca de um relacionamento com Deus, visando não só a purificação e santificação, mas a confiança para alcançar seus objetivos. Como complemento a essas petições, o Silva Gomes adiciona a Anaphora, enfatizando, por meio de repetição a palavra levavi (elevei).                                                              2 Narratio- narração dos fatos que pode ocorrer no início da parte vocal, igualmente na entrada do solo, entretanto, essa parte da Dispositio (distribuição ou arranjo das ideias e argumentos), também é encontrada em todas as vozes de uma peça musical. Confutatio- refutação dos argumentos expostos anteriormente, através de oposição. 4  
  • 5. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   Exemplo 3: Anaphora no Ofertório da Missa do 1º Domingo do Advento de André da Silva Gomes, comp.1 e 2- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.128). No mesmo ofertório, essa figura é aplicada para enfatizar a expressão animam (alma), alimentando, dessa forma, a atenção do ouvinte através de mecanismos retóricos, motívicos e estruturais, isto é, o sentimento de elevação e purificação para obter êxito na inquirição do salmista, é conservado pelo compositor luso-brasileiro, o qual se apropria da Anaphora, já empregada anteriormente no Exordium (introdução do discurso).   Exemplo 4: Anaphora no Ofertório da Missa do 1º Domingo do Advento de André da Silva Gomes, comp.14 e 15- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.130). 5  
  • 6. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   A presente obra, tal como o Ofertório da Missa do Quarto Domingo da Quaresma, fora escrita para oito vozes. Nos compassos 3 a 5, é observável o uso da Anaphora, fazendo uma repetição continua na voz do baixo, conforme a definição do tratadista Joachim Thuringus. Da mesma forma, pode-se constatar sua utilidade na resolução da primeira frase Benedixisti Domine, por meio da Cadência Autêntica Perfeita. Exemplo 5: Anaphora no Ofertório da Missa do 3º Domingo do Advento de André da Silva Gomes, comp.3 a 5- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.144-145). 6  
  • 7. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   O autor incrementa essa figura de repetição melódica para ressaltar a expressão laetentur caeli (alegrem-se os céus). Enfim, os elementos retóricos utilizados nesse excerto, foram trabalhados por Silva Gomes em consonância ao texto sacro apresentado, de modo a chamar a atenção do ouvinte, seja pela ênfase, reiteração ou no destaque das expressões pronunciadas melodicamente. Exemplo 6: Anaphora no Ofertório da Missa de Natal (1º Mov.) de André da Silva Gomes, comp.44 e 45- Catalogação e Organização Régis Duprat (DUPRAT, 1999, p.202). 4. Considerações Finais Sendo parte constituinte da composição, o elemento emocional torna-se decisivo para realização do discurso retórico. O objetivo capital do orador é mover os afetos do ouvinte a fim de torná-lo favorável à sua tese. Para tanto, busca fundamentar seus argumentos não apenas na lógica, mas em artifícios retóricos e alegóricos. Desde os primórdios da civilização ocidental, pensadores e estudiosos atribuem à música o poder de influenciar a conduta humana. Nos séculos XVI a XVIII, vários compositores e tratadistas teorizaram e sistematizaram o discurso musical embasados na retórica. 7  
  • 8. IV ENCONTRO DE MUSICOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO   Possuidor de um sólido arcabouço teórico e consistente conhecimento literário e musical, André da Silva Gomes, mestre de contraponto e gramática latina, demonstra em sua obra todo o seu cabedal acerca da retórica musical. Como procurou- se demonstrar através de análises de seus ofertórios neste artigo, que se fixou apenas na figura da Anaphora como elemento retórico de repetição e ênfase, aplicado pelo compositor na constituição de seu discurso eloquente e persuasivo. Referências: AGOSTINHO, Santo. A doutrina cristã Manual de exegese e formação cristã. São Paulo: Editora Paulus, 2002. BARTEL, Dietrich. Música Poética: Musical-Rhetorical Figures in Germany Baroque Music. Lincoln: University of Nebraska Press, 1997. DUPRAT, Régis. Música Sacra Paulista. Marília (SP): Editora Empresa Unimar, 1999. DUPRAT, Régis et al. A Arte Explicada de Contraponto de André da Silva Gomes. São Paulo: Arte & Ciência, 1998. JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1999. 8