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A linguagem de sinais para improvisação Soundpaiting: sinalizando uma nova ferramenta para a
                                                      formação musical.

                                                      Bruno Coimbra Faria

                           Departamento de Artes e Design, Universidade Federal de Juiz de Fora

                                                      brunocfaria@gmail.com


Resumo

Este trabalho apresenta em caráter introdutório o que é a linguagem de sinais para improvisação, Soundpainting, seus mecanismos
básicos de funcionamento, e aponta possibilidades para o uso da mesma como ferramenta para formação musical, acompanhando,
portanto, as discussões que abordam o papel da criatividade no processo de desenvolvimento do músico. O surgimento e
desenvolvimento desta linguagem se deu majoritariamente na área da performance, especialmente através do trabalho de
profissionais ligados ao jazz, e apenas recentemente a mesma passou a integrar a agenda de práticas e reflexões do meio acadêmico.
Dentre as várias formas possíveis de se explorar a linguagem Soundpainting, focamos nossa atenção no uso da mesma como uma
ferramenta para promover o desenvolvimento musical através da criação e acreditamos que assim podemos propiciar aos estudantes
experiências que não seriam possíveis através de meios tradicionais. Relataremos brevemente nossa experiência com o uso da mesma
com alunos do curso de bacharelado em música da Univerisdade Federal de Juiz de Fora.

Palavras Chave: Soundpainting, improvisação, formação musical




O surgimento da linguagem Soundpainting

Em meio à efervescência cultural (e experimental) da segunda metade do século XX, surge nos Estados Unidos da América a
linguagem de sinais para improvisação, Soundpainting, criada pelo compositor e saxofonista Walter Thompson (b.1952). Os
primeiros sinais foram por ele elaborados na década de 1970, em Woodstock, para estruturar seções de improvisos em composições
de sua autoria (THOMPSON 2009: 77). O trabalho de Thompson resulta da confluência de várias correntes criativas com as quais
teve contato: inicialmente, no âmbito familiar, Thompson foi influenciado pela arte e pelos processos criativos de seu pai, Ron
Thompson, pintor participante do movimento expressionista abstrato liderado por Jackson Pollock (1912-1956); posteriormente,
Thompson sofre influência direta do compositor Anthony Braxton (b.1945), com quem estudou composição e saxofone por sete
anos; outras influências foram compositores com os quais Thompson teve contato através de workshops promovidos pela Creative
Music School, fundada em Woodstock por Ornette Coleman (b.1930), como por exemplo, John Cage (1912-1992), Ed Blackwell
(1929-1992), Carlos Santana (b.1947), Carla Bley (b.1936), Don Cherry (1936-1995) e outros. Os anos de formação com o Sr.
Braxton, cujo trabalho é marcado por uma pluralidade criativa e pela resistência à rotulações, foram significativos para a ampliação
dos horizontes de Thompson que considera a linguagem Soundpainting como diretamente descendente de percursos musicais
que vinham sendo traçados por Charlie Parker (1920-1955), Miles Davis (1926-1991), Ornette Coleman e Anthony Braxton.
Além das influências que Thompson sofreu, ele aponta sua frustração com o free jazz e com os rumos que tomavam as seções de
improvisação em suas composições como motivos que o levaram à desenvolver esta linguagem de sinais, explorando os sinais
como uma tentativa de estruturar os momentos de improvisação de suas peças de acordo com o que havia planejado previamente e
registrado em partituras (THOMPSON 2009: 77; DUBY 2006: 6-3). Para Duby, “deveria ser evidente que a natureza [da linguagem]
Soundpainting é de interrogar algumas das pretensões e fronteiras de gênero do jazz, assim com da música experimental”. (DUBY
2006: 6-4, grifo meu)

A natureza questionadora que Duby identifica na linguagem Soundpainting resulta não só do contexto no qual esta surgiu e
das motivações de Thompson para cria-la, mas também da maneira como suas engrenagens a colocam em funcionamento,
relativizando as fronteiras que demarcam os papéis do intérprete, do compositor e do regente. Duby considera que a linguagem
Soundpainting “pode ser vista como um tipo de desconstrução das relações de poder da música sinfônica do século XIX” (DUBY
2006: 1-11). Em Soundpainting não cabe ao performer apenas interpretar uma linha musical previamente elaborada por um
compositor e conduzida por um regente, mas sim criar sua própria linha a partir da interpretação que faz dos gestos indicados pelo
soundpainter/compositor; quanto à este último, não cabe a ele dirigir a performance de uma peça pré-composta, mas sim criar uma
nova peça de acordo com sua interpretação das respostas sonoras improvisadas pelo grupo para cada gesto ou grupos de gestos
indicados no decorrer da composição.

Na experiência com a linguagem Soundpainting, performer (s) e soundpainter (s) interagem, percebendo, criando e interpretando
simultaneamente. O performer é intérprete de sua própria voz e, através da improvisação, identifica possibilidades de expressão ao
mesmo tempo que percebe necessidades de aprimoramento e desenvolvimento musical. Já o soundpainter, indivíduo que frente ao
grupo dá forma à composição através dos sinais, é um compositor que manuseia o material improvisado pelo grupo de performers,
definindo os rumos da obra a partir da colaboração criativa com o conjunto, improvisando e, por oras, assumindo também um papel
similar ao de um regente ao estabelecer alterações de tempo, dinâmica e intenções. Em Soundpainting, portanto, a criação está
no espaço entre o gesto e aquilo que o gesto não impõe, sugere. As fronteiras que delimitam os papéis do intérprete, compositor
e regente na música de concerto são questionadas e, em Soundpainting, se tornam assim elásticas, vazadas, transpassadas em um
campo que não se fecha no gênero, mas que se abre na experiência de atravessar o momento pelas vias da performance criativa.



Soundpainting e suas engrenagens

Apesar de ter sido direcionada inicialmente apenas para a música, a linguagem Soundpainting, hoje, é multidisciplinar e seu
vocabulário supera 1000 gestos (THOMPSON 2009: 77). Estes gestos estão codificados e organizados em categorias e funcionam
através de uma sintaxe própria. As categorias identificam os gestos como Sculpting-Escultores e de Function-Função, e a sintaxe
organiza os sinais que indicam quem deve tocar - Who (indicadores), que tipo de material explorar - What (de conteúdo), de
que forma fazê-lo - How (modificadores), quando iniciar ou parar - When (de início ou fim), além dos gestos <Modes-Modos>
(parâmetros que afetam gestos) e <Palettes-Paletas> (trechos de material previamente ensaiado) (THOMPSON 2006). Dentro desta
estrutura, estudantes e profissionais da música, dança, teatro e artes visuais improvisam a partir da interpretação dos sinais que lhes
são apresentados pela figura do soundpainter.



O ambiente gestual da linguagem Soundpainting gera uma variedade de sonoridades que resultam dos parâmetros sonoros atribuídos
a cada sinal, sendo que o grau de especificidade do resultado sonoro é variado. Há, por exemplo, os gestos <Long Tone - Nota
Longa> (ex. fig. 1) que geram notas longas em alturas que variam de acordo com a posição em que o soundpainter preparou o gesto;
outros que produzem sonoridades de caráter mais aleatório, como o gesto <Pointillism - Pontilhismo> (ex. fig. 2), cuja improvisação
será baseada em grupos de notas de caráter predominantemente curto em alturas variadas da tessitura do instrumento; outros como
o <Minimalism - Minimalismo> (ex. fig. 3) que estabelece a improvisação de padrões rítmico-melódicos; além de gestos como
<Scanning – Escaneando> que, quando utilizados sem nenhum gesto adicional, geram resultados inesperados, pois fica a critério
do performer qual conteúdo explorar quando o gesto o torna ativo no momento da performance. Cabe ao performer saber explorar de
forma variada cada parâmetro sonoro embutido em cada gesto e, ao soundpainter cabe saber lidar com as sonoridades apresentadas
pelo grupo, avaliar o material que soa a cada momento da composição e definir os rumos da mesma explorando os diferentes graus
de especificidade inerentes a cada gesto.




Figura 1 - <Whole Group - Todo Grupo>
<Long Tone - Nota Longa>




Figura 2 - <Whole Group - Todo grupo> <Pointillism - Pontilhismo>
Figura 3 - <Whole Group - Todo Grupo> <Minimalism - Minimalismo>




Seguindo a sintaxe da linguagem, é preciso sinalizar respectivamente quem participará da performance, que conteúdo deve ser
explorado naquele momento da composição, como abordar aquele conteúdo (em que dinâmica/tempo) – este gesto pode ser utilizado
ou não pelo soundpainter, e quando/de que forma começar. Como exemplo, temos abaixo figuras (1 à 6) dos gestos utilizados na
frase <Whole Group – Todo Grupo>, <Long Tone – Nota longa> (altura média), <Volume Fader (piano) – Volume “piano”>,
<Play – Toque>.




 1. Whole Group       2. Long Tone       3. Long Tone (2)     4. Volume Fader       5. Play               6. Play (2)

                       (Todas as imagens tiveram sua reprodução autorizada por Walter Thompson)




A linguagem Soundpainting não utiliza, portanto, a notação musical tradicional e explora majoritariamente a improvisação baseada
em parâmetros sonoros isolados, embora seja possível também utilizar outros tipos de improvisações. Estes dois aspectos são
pontos importantes para que habilidades musicais possam ser trabalhadas na prática de conjunto, muitas vezes de forma lúdica,
sem a interferência de medos e tensões, independentemente da área de atuação do músico e do estágio técnico-musical em que se
encontra. Para Marc Duby, a prática de Soundpainting cria “um ambiente musical, de alguma forma, menos ameaçador do que o de
uma orquestra” (DUBY 2006: 1-20) no qual crianças ou músicos não habituados à leitura de partituras podem participar. Da mesma
forma, como não se trata de uma improvisação idiomática como no jazz, por exemplo, músicos eruditos também podem improvisar
sem desconforto. Swanwick aponta situações comuns nas quais

       “um improvisador talentoso a quem se pede para tocar música grafada e composta por outra pessoa pode sentir-se
       constrangido ou sob pressão, incapaz de desenvolver as idéias musicais livremente. Nessa situação, as oportunidades
       para funcionar de uma maneira musical com entendimento podem ser diminuídas em vez de expandidas, pelo menos
       inicialmente. De igual modo, um executante fluente e sensível pode se sentir perdido se for solicitado a compor
       ou improvisar, e pode demonstrar um nível no qual a compreensão musical não seja revelada nem ampliada”.
       (SWANWICK 2003: 95)


A partir da linguagem Soundpainting cria-se, então, um ambiente que ameniza estes desconfortos gerados pelo contato com um
meio desconhecido, desconfortos muitas vezes potencializados pelo fator “erro”, que se torna um elemento bloqueador. Para
Thompson, “um dos aspectos mais importantes do aprendizado de Soundpainting é se acostumar com a filosofia Soundpainting que
diz ‘Não existe tal coisa como um 'erro'” (THOMPSON 2009: 82). O erro em Soundpainting é considerado como um elemento
que acarretará uma “oportunidade para nova exploração” (idem). Para Nachmanovitch, “os erros e acidentes podem ser grãos
de areia que se transformarão em pérolas; eles nos oferecem oportunidades imprevistas, são em si mesmos fontes frescas de
inspiração. Aprendemos a considerar nossos obstáculos como ornamentos, oportunidades a serem aproveitadas e exploradas”
(NACHMANOVITCH 1993:87).


Soundpainting como ferramenta para formação

As três características básicas da linguagem Soundpainting (não utilizar notação musical tradicional, a possibilidade de trabalhar a
improvisação a partir de parâmetros musicais outros que não relações harmônico-escalares e considerar o erro como um elemento
importante para o processo de desenvolvimento musical), nos levam a considerá-la uma ferramenta apropriada pedagogicamente
para ser utilizada com músicos que não tiveram um contato prévio consistente e contínuo com a improvisação e, sendo assim,
acreditamos ser possível criar um quadro diferente daquele identificado por Swanwick, permitindo que a “compreensão musical”
seja “revelada” e “ampliada”. Através da improvisação estruturada e coletiva promovida por esta linguagem, propomos que cada
aluno busque complementar, transformar e confirmar os saberes que estão em construção nas aulas de instrumento e demais
disciplinas oferecidas no decorrer de um curso de música. Segundo Costa, esta importante parcela do processo formativo que
acontece através da improvisação, “se caracteriza pela transformação de estruturas, ou formação de novas relações estruturais, de
fragmentos já assimilados anteriormente, criando um mundo de novas relações a partir de elementos já conhecidos que rodeiam o
sujeito, surgindo daí uma nova reconstituição de possibilidades” (COSTA 2005: 367).

Nas atividades já realizadas com alunos do bacharelado em música da Universidade Federal de Juiz de Fora, propomos que os
mesmos vivenciem esta experiência Soundpainting sob duas perspectivas: enquanto performer, improvisando como membro de um
grupo, e enquanto soundpainter, estruturando e compondo em tempo real a partir de sua percepção das improvisações do grupo.
Dessa forma, percursos diferentes se abrem para que o aluno des(cubra) (AMADOR e FONSECA 2009: 32) maneiras de se expressar
e se aprimorar. Seja na atuação como performer ou soundpainter, a aproximação com a metáfora cartográfica na idéia de traçar um
percurso e neste encontrar respostas nos posiciona como acompanhadores “de processos em curso”, neste caso a improvisação,
que nos convoca para “um exercício cognitivo peculiar [...] que requer uma cognição muito mais capaz de inventar [improvisar]
o mundo, [...] invenção que somente se torna viável pelo encontro fecundo entre pesquisador [músico] e campo [de] pesquisa
[performance-improvisação-soundpainting], pelo qual o material a pesquisar passa a ser produzido e não coletado.” (AMADOR E
FONSECA 2009: 31, grifo meu) Na percepção e interação com o ambiente sonoro gerado em atividades de Soundpainting o músico-
pesquisador se posiciona “como aquele que vê [ouve] seu campo de pesquisa de um determinado modo e lugar em que ele se vê
compelido a pensar e a ver [e, neste caso também, agir] diferentemente, no momento mesmo em que o que é visto [ouvido] e pensado
se oferece ao seu olhar [ouvir]” (idem).

Para a situação em que o aluno atua como performer, buscamos organizar frases de Soundpainting que explorem diferentes aspectos
musicais e dificuldades particulares de cada instrumento e acompanhamos o desenvolvimento das respostas improvisadas, a
adaptabilidade e comunicabilidade entre os membros do grupo e a sonoridade geral. Para a situação na qual o aluno atua como
soundpainter, buscamos perceber como o mesmo se relaciona com as sonoridades improvisadas pelo grupo, delimitamos, como
exercício, quais e quantos gestos devem ser utilizados nas composições e avaliamos as decisões que este faz para estabelecer o andar
da composição. Outro exercício utilizado é uma espécie de ditado de Soundpainting, desenvolvido pelo soundpainter Vincent Le
Quang, professor do Conservatório de Paris, no qual uma frase é apresentada ao aluno que, após ouvi-la, tenta reproduzi-la enquanto
soundpainter, utilizando os gestos correspondentes às sonoridades cantadas, trabalhando assim sua percepção.

Dada a história da linguagem Soundpainting que surgiu, foi desenvolvida e explorada predominantemente na área da performance e,
uma vez que a natureza desta linguagem flexibiliza os papéis e a atuação de instrumentistas, compositores, regentes, obscurecendo
a linha divisória entre composição, performance e improvisação, torna-se necessário adaptar ou criar métodos para observar e
investigar os processos gerados por esta prática musical enquanto ferramenta de formação. Uma base que utilizamos para avaliar
e compreender o trabalho em desenvolvimento na UFJF com a linguagem Soundpainting, provem dos métodos de investigação
propostos por Sloboda (2008) e apontados por Fogaça (2009: 382):

    i.     “Exame da história de uma determinada composição, conforme os manuscritos do compositor.”
    ii.    “Análise daquilo que os compositores dizem a respeito de seus próprios métodos de composição.”
    iii. “A observação 'ao vivo' dos compositores durante sessões de composição.”
     iv. “Observação e descrição de execuções improvisadas: o compositor é o executor, que produz um enunciado musical sem
           nenhuma premeditação em contexto público.”


No adaptação para o contexto Soundpainting tratamos estes pontos da seguinte forma:


     i.    Exame do planejamento das composições dos alunos/soundpainters, conforme os rascunhos que fazem de combinações de
           sinais da linguagem Soundpainting.
     ii.   Análise daquilo que os alunos/soundpainters dizem a respeito de seus próprios métodos de composição e de performance
           – das escolhas quanto à organização dos sinais no momento de elaboração dos rascunhos e as adaptações necessárias e/ou
           possíveis no momento da realização da composição.
    iii. Observação 'ao vivo' da atuação dos alunos/soundpainters e performers.
    iv. Observação e descrição das performances, das realizações da composição: o soundpainter e o performer são executores,
que em contexto público produzem um enunciado musical com ou sem alguma premeditação e que, no caso de ter havido
         uma premeditação, adapta suas escolhas no decorrer da composição.


A partir destas atividades buscamos explorar a linguagem de sinais Soundpainting como uma ferramenta para a formação musical,
unindo à variada prática musical que dela resulta reflexões sobre o ensino e aprendizagem de música.



Conclusão


A linguagem de sinais para improvisação Soundpainting surgiu e foi explorada majoritariamente na área da performance, mais
precisamente na performance ligada ao jazz, e, por isso, a pesquisa com esta linguagem no meio acadêmico se encontra ainda em fase
inicial. Observando o conjunto de práticas possíveis de serem realizadas com a mesma, notamos que o exercício da improvisação
estruturada proposto com Soundpainting possibilita mudanças de perspectivas que podem trazer benefícios para a formação musical
do indivíduo. O aluno deixa de ser apenas um instrumentista que cumpre com sua agenda de exercícios e com um repertório de peças
compostas por compositores de diversas épocas e passa a ser também um criador, capaz de ouvir, pensar e lidar com a música de
outras formas. Com essa experiência, esperamos contribuir para que os processos de desenvolvimento musical sejam mais amplos e
diversificados, que ofereçam ao aluno outros meios para expressar sua musicalidade.


Referências Bibliográficas


AMADOR, Fernanda & FONSECA, Tânia Mara Galli. Da intuição como método filosófico à cartografia como método de pesquisa –
considerações sobre o exercício cognitivo do cartógrafo. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v.61, n.1, 2009.
COSTA, Kristiane Costa e. O processo cognitivo e a criatividade. In: Anais do 1º Simpósio Internacional de Cognição e Artes
Musicais. Curitiba, 2005.
DUBY, Marc. Soundpainting as a system for the collaborative creation of music in performance. Tese (Doctor of Philosophy in the
Department of Music) – University of Pretoria. Pretoria: 2006.
FOGAÇA, Vilma de O. S. Criatividade e Educação Musical: do problema à pesquisa e ação. In: Anais do V Simpósio de Cognição e
Artes Musicais – Internacional. Goiânia, 2009.
NACHMANOVITCH, Stephen. Ser Criativo – o Poder da Improvisação na Vida e na Arte. Tradução de Eliana Rocha. São Paulo:
Summus, 1993.
THOMPSON, Walter. “Soundpainting The Art of Live Composing Workbook I”. Walter Thompson. 2006.
_________________. Soundpainting – The Art of Live Composition. An Introduction to Soundpainting by Walter Thompson.
Revista Eufonía, Espanha, n. 047 – Julio, Agosto, Septiembre 2009.
SARATH, Edward W. Improvisation for Global Musicianship. Music Educators Journal 80, no. 2 (Sep., 1993): 23-26.
SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.

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  • 1. A linguagem de sinais para improvisação Soundpaiting: sinalizando uma nova ferramenta para a formação musical. Bruno Coimbra Faria Departamento de Artes e Design, Universidade Federal de Juiz de Fora brunocfaria@gmail.com Resumo Este trabalho apresenta em caráter introdutório o que é a linguagem de sinais para improvisação, Soundpainting, seus mecanismos básicos de funcionamento, e aponta possibilidades para o uso da mesma como ferramenta para formação musical, acompanhando, portanto, as discussões que abordam o papel da criatividade no processo de desenvolvimento do músico. O surgimento e desenvolvimento desta linguagem se deu majoritariamente na área da performance, especialmente através do trabalho de profissionais ligados ao jazz, e apenas recentemente a mesma passou a integrar a agenda de práticas e reflexões do meio acadêmico. Dentre as várias formas possíveis de se explorar a linguagem Soundpainting, focamos nossa atenção no uso da mesma como uma ferramenta para promover o desenvolvimento musical através da criação e acreditamos que assim podemos propiciar aos estudantes experiências que não seriam possíveis através de meios tradicionais. Relataremos brevemente nossa experiência com o uso da mesma com alunos do curso de bacharelado em música da Univerisdade Federal de Juiz de Fora. Palavras Chave: Soundpainting, improvisação, formação musical O surgimento da linguagem Soundpainting Em meio à efervescência cultural (e experimental) da segunda metade do século XX, surge nos Estados Unidos da América a linguagem de sinais para improvisação, Soundpainting, criada pelo compositor e saxofonista Walter Thompson (b.1952). Os primeiros sinais foram por ele elaborados na década de 1970, em Woodstock, para estruturar seções de improvisos em composições de sua autoria (THOMPSON 2009: 77). O trabalho de Thompson resulta da confluência de várias correntes criativas com as quais teve contato: inicialmente, no âmbito familiar, Thompson foi influenciado pela arte e pelos processos criativos de seu pai, Ron Thompson, pintor participante do movimento expressionista abstrato liderado por Jackson Pollock (1912-1956); posteriormente, Thompson sofre influência direta do compositor Anthony Braxton (b.1945), com quem estudou composição e saxofone por sete anos; outras influências foram compositores com os quais Thompson teve contato através de workshops promovidos pela Creative Music School, fundada em Woodstock por Ornette Coleman (b.1930), como por exemplo, John Cage (1912-1992), Ed Blackwell (1929-1992), Carlos Santana (b.1947), Carla Bley (b.1936), Don Cherry (1936-1995) e outros. Os anos de formação com o Sr. Braxton, cujo trabalho é marcado por uma pluralidade criativa e pela resistência à rotulações, foram significativos para a ampliação dos horizontes de Thompson que considera a linguagem Soundpainting como diretamente descendente de percursos musicais que vinham sendo traçados por Charlie Parker (1920-1955), Miles Davis (1926-1991), Ornette Coleman e Anthony Braxton. Além das influências que Thompson sofreu, ele aponta sua frustração com o free jazz e com os rumos que tomavam as seções de improvisação em suas composições como motivos que o levaram à desenvolver esta linguagem de sinais, explorando os sinais como uma tentativa de estruturar os momentos de improvisação de suas peças de acordo com o que havia planejado previamente e registrado em partituras (THOMPSON 2009: 77; DUBY 2006: 6-3). Para Duby, “deveria ser evidente que a natureza [da linguagem] Soundpainting é de interrogar algumas das pretensões e fronteiras de gênero do jazz, assim com da música experimental”. (DUBY 2006: 6-4, grifo meu) A natureza questionadora que Duby identifica na linguagem Soundpainting resulta não só do contexto no qual esta surgiu e das motivações de Thompson para cria-la, mas também da maneira como suas engrenagens a colocam em funcionamento, relativizando as fronteiras que demarcam os papéis do intérprete, do compositor e do regente. Duby considera que a linguagem Soundpainting “pode ser vista como um tipo de desconstrução das relações de poder da música sinfônica do século XIX” (DUBY 2006: 1-11). Em Soundpainting não cabe ao performer apenas interpretar uma linha musical previamente elaborada por um compositor e conduzida por um regente, mas sim criar sua própria linha a partir da interpretação que faz dos gestos indicados pelo soundpainter/compositor; quanto à este último, não cabe a ele dirigir a performance de uma peça pré-composta, mas sim criar uma nova peça de acordo com sua interpretação das respostas sonoras improvisadas pelo grupo para cada gesto ou grupos de gestos indicados no decorrer da composição. Na experiência com a linguagem Soundpainting, performer (s) e soundpainter (s) interagem, percebendo, criando e interpretando simultaneamente. O performer é intérprete de sua própria voz e, através da improvisação, identifica possibilidades de expressão ao mesmo tempo que percebe necessidades de aprimoramento e desenvolvimento musical. Já o soundpainter, indivíduo que frente ao grupo dá forma à composição através dos sinais, é um compositor que manuseia o material improvisado pelo grupo de performers, definindo os rumos da obra a partir da colaboração criativa com o conjunto, improvisando e, por oras, assumindo também um papel similar ao de um regente ao estabelecer alterações de tempo, dinâmica e intenções. Em Soundpainting, portanto, a criação está no espaço entre o gesto e aquilo que o gesto não impõe, sugere. As fronteiras que delimitam os papéis do intérprete, compositor
  • 2. e regente na música de concerto são questionadas e, em Soundpainting, se tornam assim elásticas, vazadas, transpassadas em um campo que não se fecha no gênero, mas que se abre na experiência de atravessar o momento pelas vias da performance criativa. Soundpainting e suas engrenagens Apesar de ter sido direcionada inicialmente apenas para a música, a linguagem Soundpainting, hoje, é multidisciplinar e seu vocabulário supera 1000 gestos (THOMPSON 2009: 77). Estes gestos estão codificados e organizados em categorias e funcionam através de uma sintaxe própria. As categorias identificam os gestos como Sculpting-Escultores e de Function-Função, e a sintaxe organiza os sinais que indicam quem deve tocar - Who (indicadores), que tipo de material explorar - What (de conteúdo), de que forma fazê-lo - How (modificadores), quando iniciar ou parar - When (de início ou fim), além dos gestos <Modes-Modos> (parâmetros que afetam gestos) e <Palettes-Paletas> (trechos de material previamente ensaiado) (THOMPSON 2006). Dentro desta estrutura, estudantes e profissionais da música, dança, teatro e artes visuais improvisam a partir da interpretação dos sinais que lhes são apresentados pela figura do soundpainter. O ambiente gestual da linguagem Soundpainting gera uma variedade de sonoridades que resultam dos parâmetros sonoros atribuídos a cada sinal, sendo que o grau de especificidade do resultado sonoro é variado. Há, por exemplo, os gestos <Long Tone - Nota Longa> (ex. fig. 1) que geram notas longas em alturas que variam de acordo com a posição em que o soundpainter preparou o gesto; outros que produzem sonoridades de caráter mais aleatório, como o gesto <Pointillism - Pontilhismo> (ex. fig. 2), cuja improvisação será baseada em grupos de notas de caráter predominantemente curto em alturas variadas da tessitura do instrumento; outros como o <Minimalism - Minimalismo> (ex. fig. 3) que estabelece a improvisação de padrões rítmico-melódicos; além de gestos como <Scanning – Escaneando> que, quando utilizados sem nenhum gesto adicional, geram resultados inesperados, pois fica a critério do performer qual conteúdo explorar quando o gesto o torna ativo no momento da performance. Cabe ao performer saber explorar de forma variada cada parâmetro sonoro embutido em cada gesto e, ao soundpainter cabe saber lidar com as sonoridades apresentadas pelo grupo, avaliar o material que soa a cada momento da composição e definir os rumos da mesma explorando os diferentes graus de especificidade inerentes a cada gesto. Figura 1 - <Whole Group - Todo Grupo> <Long Tone - Nota Longa> Figura 2 - <Whole Group - Todo grupo> <Pointillism - Pontilhismo>
  • 3. Figura 3 - <Whole Group - Todo Grupo> <Minimalism - Minimalismo> Seguindo a sintaxe da linguagem, é preciso sinalizar respectivamente quem participará da performance, que conteúdo deve ser explorado naquele momento da composição, como abordar aquele conteúdo (em que dinâmica/tempo) – este gesto pode ser utilizado ou não pelo soundpainter, e quando/de que forma começar. Como exemplo, temos abaixo figuras (1 à 6) dos gestos utilizados na frase <Whole Group – Todo Grupo>, <Long Tone – Nota longa> (altura média), <Volume Fader (piano) – Volume “piano”>, <Play – Toque>. 1. Whole Group 2. Long Tone 3. Long Tone (2) 4. Volume Fader 5. Play 6. Play (2) (Todas as imagens tiveram sua reprodução autorizada por Walter Thompson) A linguagem Soundpainting não utiliza, portanto, a notação musical tradicional e explora majoritariamente a improvisação baseada em parâmetros sonoros isolados, embora seja possível também utilizar outros tipos de improvisações. Estes dois aspectos são pontos importantes para que habilidades musicais possam ser trabalhadas na prática de conjunto, muitas vezes de forma lúdica, sem a interferência de medos e tensões, independentemente da área de atuação do músico e do estágio técnico-musical em que se encontra. Para Marc Duby, a prática de Soundpainting cria “um ambiente musical, de alguma forma, menos ameaçador do que o de uma orquestra” (DUBY 2006: 1-20) no qual crianças ou músicos não habituados à leitura de partituras podem participar. Da mesma forma, como não se trata de uma improvisação idiomática como no jazz, por exemplo, músicos eruditos também podem improvisar sem desconforto. Swanwick aponta situações comuns nas quais “um improvisador talentoso a quem se pede para tocar música grafada e composta por outra pessoa pode sentir-se constrangido ou sob pressão, incapaz de desenvolver as idéias musicais livremente. Nessa situação, as oportunidades para funcionar de uma maneira musical com entendimento podem ser diminuídas em vez de expandidas, pelo menos inicialmente. De igual modo, um executante fluente e sensível pode se sentir perdido se for solicitado a compor ou improvisar, e pode demonstrar um nível no qual a compreensão musical não seja revelada nem ampliada”. (SWANWICK 2003: 95) A partir da linguagem Soundpainting cria-se, então, um ambiente que ameniza estes desconfortos gerados pelo contato com um meio desconhecido, desconfortos muitas vezes potencializados pelo fator “erro”, que se torna um elemento bloqueador. Para Thompson, “um dos aspectos mais importantes do aprendizado de Soundpainting é se acostumar com a filosofia Soundpainting que diz ‘Não existe tal coisa como um 'erro'” (THOMPSON 2009: 82). O erro em Soundpainting é considerado como um elemento que acarretará uma “oportunidade para nova exploração” (idem). Para Nachmanovitch, “os erros e acidentes podem ser grãos de areia que se transformarão em pérolas; eles nos oferecem oportunidades imprevistas, são em si mesmos fontes frescas de inspiração. Aprendemos a considerar nossos obstáculos como ornamentos, oportunidades a serem aproveitadas e exploradas”
  • 4. (NACHMANOVITCH 1993:87). Soundpainting como ferramenta para formação As três características básicas da linguagem Soundpainting (não utilizar notação musical tradicional, a possibilidade de trabalhar a improvisação a partir de parâmetros musicais outros que não relações harmônico-escalares e considerar o erro como um elemento importante para o processo de desenvolvimento musical), nos levam a considerá-la uma ferramenta apropriada pedagogicamente para ser utilizada com músicos que não tiveram um contato prévio consistente e contínuo com a improvisação e, sendo assim, acreditamos ser possível criar um quadro diferente daquele identificado por Swanwick, permitindo que a “compreensão musical” seja “revelada” e “ampliada”. Através da improvisação estruturada e coletiva promovida por esta linguagem, propomos que cada aluno busque complementar, transformar e confirmar os saberes que estão em construção nas aulas de instrumento e demais disciplinas oferecidas no decorrer de um curso de música. Segundo Costa, esta importante parcela do processo formativo que acontece através da improvisação, “se caracteriza pela transformação de estruturas, ou formação de novas relações estruturais, de fragmentos já assimilados anteriormente, criando um mundo de novas relações a partir de elementos já conhecidos que rodeiam o sujeito, surgindo daí uma nova reconstituição de possibilidades” (COSTA 2005: 367). Nas atividades já realizadas com alunos do bacharelado em música da Universidade Federal de Juiz de Fora, propomos que os mesmos vivenciem esta experiência Soundpainting sob duas perspectivas: enquanto performer, improvisando como membro de um grupo, e enquanto soundpainter, estruturando e compondo em tempo real a partir de sua percepção das improvisações do grupo. Dessa forma, percursos diferentes se abrem para que o aluno des(cubra) (AMADOR e FONSECA 2009: 32) maneiras de se expressar e se aprimorar. Seja na atuação como performer ou soundpainter, a aproximação com a metáfora cartográfica na idéia de traçar um percurso e neste encontrar respostas nos posiciona como acompanhadores “de processos em curso”, neste caso a improvisação, que nos convoca para “um exercício cognitivo peculiar [...] que requer uma cognição muito mais capaz de inventar [improvisar] o mundo, [...] invenção que somente se torna viável pelo encontro fecundo entre pesquisador [músico] e campo [de] pesquisa [performance-improvisação-soundpainting], pelo qual o material a pesquisar passa a ser produzido e não coletado.” (AMADOR E FONSECA 2009: 31, grifo meu) Na percepção e interação com o ambiente sonoro gerado em atividades de Soundpainting o músico- pesquisador se posiciona “como aquele que vê [ouve] seu campo de pesquisa de um determinado modo e lugar em que ele se vê compelido a pensar e a ver [e, neste caso também, agir] diferentemente, no momento mesmo em que o que é visto [ouvido] e pensado se oferece ao seu olhar [ouvir]” (idem). Para a situação em que o aluno atua como performer, buscamos organizar frases de Soundpainting que explorem diferentes aspectos musicais e dificuldades particulares de cada instrumento e acompanhamos o desenvolvimento das respostas improvisadas, a adaptabilidade e comunicabilidade entre os membros do grupo e a sonoridade geral. Para a situação na qual o aluno atua como soundpainter, buscamos perceber como o mesmo se relaciona com as sonoridades improvisadas pelo grupo, delimitamos, como exercício, quais e quantos gestos devem ser utilizados nas composições e avaliamos as decisões que este faz para estabelecer o andar da composição. Outro exercício utilizado é uma espécie de ditado de Soundpainting, desenvolvido pelo soundpainter Vincent Le Quang, professor do Conservatório de Paris, no qual uma frase é apresentada ao aluno que, após ouvi-la, tenta reproduzi-la enquanto soundpainter, utilizando os gestos correspondentes às sonoridades cantadas, trabalhando assim sua percepção. Dada a história da linguagem Soundpainting que surgiu, foi desenvolvida e explorada predominantemente na área da performance e, uma vez que a natureza desta linguagem flexibiliza os papéis e a atuação de instrumentistas, compositores, regentes, obscurecendo a linha divisória entre composição, performance e improvisação, torna-se necessário adaptar ou criar métodos para observar e investigar os processos gerados por esta prática musical enquanto ferramenta de formação. Uma base que utilizamos para avaliar e compreender o trabalho em desenvolvimento na UFJF com a linguagem Soundpainting, provem dos métodos de investigação propostos por Sloboda (2008) e apontados por Fogaça (2009: 382): i. “Exame da história de uma determinada composição, conforme os manuscritos do compositor.” ii. “Análise daquilo que os compositores dizem a respeito de seus próprios métodos de composição.” iii. “A observação 'ao vivo' dos compositores durante sessões de composição.” iv. “Observação e descrição de execuções improvisadas: o compositor é o executor, que produz um enunciado musical sem nenhuma premeditação em contexto público.” No adaptação para o contexto Soundpainting tratamos estes pontos da seguinte forma: i. Exame do planejamento das composições dos alunos/soundpainters, conforme os rascunhos que fazem de combinações de sinais da linguagem Soundpainting. ii. Análise daquilo que os alunos/soundpainters dizem a respeito de seus próprios métodos de composição e de performance – das escolhas quanto à organização dos sinais no momento de elaboração dos rascunhos e as adaptações necessárias e/ou possíveis no momento da realização da composição. iii. Observação 'ao vivo' da atuação dos alunos/soundpainters e performers. iv. Observação e descrição das performances, das realizações da composição: o soundpainter e o performer são executores,
  • 5. que em contexto público produzem um enunciado musical com ou sem alguma premeditação e que, no caso de ter havido uma premeditação, adapta suas escolhas no decorrer da composição. A partir destas atividades buscamos explorar a linguagem de sinais Soundpainting como uma ferramenta para a formação musical, unindo à variada prática musical que dela resulta reflexões sobre o ensino e aprendizagem de música. Conclusão A linguagem de sinais para improvisação Soundpainting surgiu e foi explorada majoritariamente na área da performance, mais precisamente na performance ligada ao jazz, e, por isso, a pesquisa com esta linguagem no meio acadêmico se encontra ainda em fase inicial. Observando o conjunto de práticas possíveis de serem realizadas com a mesma, notamos que o exercício da improvisação estruturada proposto com Soundpainting possibilita mudanças de perspectivas que podem trazer benefícios para a formação musical do indivíduo. O aluno deixa de ser apenas um instrumentista que cumpre com sua agenda de exercícios e com um repertório de peças compostas por compositores de diversas épocas e passa a ser também um criador, capaz de ouvir, pensar e lidar com a música de outras formas. Com essa experiência, esperamos contribuir para que os processos de desenvolvimento musical sejam mais amplos e diversificados, que ofereçam ao aluno outros meios para expressar sua musicalidade. Referências Bibliográficas AMADOR, Fernanda & FONSECA, Tânia Mara Galli. Da intuição como método filosófico à cartografia como método de pesquisa – considerações sobre o exercício cognitivo do cartógrafo. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v.61, n.1, 2009. COSTA, Kristiane Costa e. O processo cognitivo e a criatividade. In: Anais do 1º Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais. Curitiba, 2005. DUBY, Marc. Soundpainting as a system for the collaborative creation of music in performance. Tese (Doctor of Philosophy in the Department of Music) – University of Pretoria. Pretoria: 2006. FOGAÇA, Vilma de O. S. Criatividade e Educação Musical: do problema à pesquisa e ação. In: Anais do V Simpósio de Cognição e Artes Musicais – Internacional. Goiânia, 2009. NACHMANOVITCH, Stephen. Ser Criativo – o Poder da Improvisação na Vida e na Arte. Tradução de Eliana Rocha. São Paulo: Summus, 1993. THOMPSON, Walter. “Soundpainting The Art of Live Composing Workbook I”. Walter Thompson. 2006. _________________. Soundpainting – The Art of Live Composition. An Introduction to Soundpainting by Walter Thompson. Revista Eufonía, Espanha, n. 047 – Julio, Agosto, Septiembre 2009. SARATH, Edward W. Improvisation for Global Musicianship. Music Educators Journal 80, no. 2 (Sep., 1993): 23-26. SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.