REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Plantas medicinais da comunidade ribeirinha
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
Volume 21 - Número 2 - 2º Semestre 2021
PLANTAS MEDICINAIS DO RIO MEQUÉNS: LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO EM
COMUNIDADE TRADICIONAL RIBEIRINHA
Fernanda Cristina Gonsalves Thomazin; Débora Castro Porto; Thiago Afonço De Camargo;
Bruno Elias Rocha Lopes*
RESUMO
O uso de plantas para fins de tratamento ou cura de doenças é conhecido desde os primórdios da civilização.
O conhecimento construído através dessa relação, entre as plantas e a cultura humana, chama-se etnobotânica.
A região amazônica é conhecida por sua grande riqueza botânica e pela cultura do uso constante dessas plantas
para fins curativos e para a sobrevivência. Teve-se como objetivo realizar um levantamento das espécies de
plantas medicinais, formas de preparo e finalidades. O presente estudo foi realizado na comunidade de Rolim
de Moura do Guaporé-RO, localizado na margem do Rio Mequéns afluente da margem direita do Rio Guaporé.
Metodologicamente ele consistiu no levantamento qualitativo do tipo de espécies de plantas medicinais
utilizadas pelos entrevistados por meio de questionários com tópicos a serem respondidos: quais plantas
utilizadas, para que enfermidade, modo de preparo, sendo obtida assim uma listagem. Também foram
questionadas as pessoas sobre a relevância e importância do conhecimento dessas plantas.Foram identificadas
35 plantas medicinais, entre elas as que obtiveram os maiores números de citações foram: Boldo, Crajiru e
Hortelã. O motivo mais citado para que haja a permanência dessas plantas no futuro foi por suas propriedades
naturais, serem bem mais saudáveis do que as dos medicamentos alopáticos. A pesquisa demostrou que a
população local possui uma riqueza de informações, e um grande contato com a natureza, o que facilitou a
listagem das plantas da região.
Palavras-chave: Etnociência, Rondônia, Recursos Naturais, Tratamento Natural.
MEDICINAL PLANTS OF THE MEQUÉNS RIVER: ETHNOBOTANICAL SURVEY IN A
TRADITIONAL RIVERSIDE COMMUNITY
ABSTRACT
The use of plants for the purpose of treating or curing diseases has been known since the earliest days of
civilization. The knowledge built through this relationship, between plants and human culture, is called
ethnobotany. The Amazon region is known for its great botanical wealth and for the culture of the constant use
of these plants for curative purposes and for survival. The objective was to carry out a survey of the species of
medicinal plants, forms of preparation and purposes. The present study was carried out in the community of
Rolim de Moura do Guaporé-RO, located on the border of the Mequéns River, affluent of the right bank of the
Guaporé River. Methodologically it consisted in the qualitative survey of the type of species of medicinal
plants used by the interviewees through questionnaires with topics to be answered: which plants were used, so
that disease, the way of preparation, thus obtaining a listing. People were also questioned about the relevance
and importance of the knowledge of these plants. There were identified 35 medicinal plants, among which the
ones that obtained the highest numbers of citations were: Boldo, Crajiru and Hortelã. The reason most cited
for the permanence of these plants in the future was because of their natural properties, being much healthier
than those of allopathic medicines. The research showed that the local population has a wealth of information,
and a close contact with nature, which facilitated the listing of plants in the region.
Keywords: Ethnoscience, Rondônia, Natural Resources, Natural Treatment.
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2. 1. INTRODUÇÃO
Desde a formação das civilizações, o ser
humano utiliza as plantas como recurso para a
cura de males e doenças (Silva et al., 2011).
Devido a propriedades terapêuticas ou toxicas,
elas obtiveram um papel fundamental na
medicina popular e essa relação ficou conhecida
como Etnobotânica, termo utilizado pela
primeira vez em 1985 por biólogos europeus ao
observarem como os indígenas usavam ervas ou
arbustos para fins medicinais (Scudeller, et al.,
2009).
De acordo com a Organização Mundial
de Saúde (OMS), 80% da população mundial faz
o uso de ervas ou arbusto para o alivio de alguma
sintomatologia (Lima, et al., 2011; Turcato,
Djonatã, 2014), logo, percebe-se que grande
parte da população tem optado pelo o uso de
plantas medicinais ao invés de remédios
alopáticos.
A região amazônica, por possuir uma rica
diversidade biológica, nos apresenta uma cultura
voltada à utilização de plantas medicinais, pois a
necessidade os levou ao uso frequente de
espécies botânica para a sobrevivência,
permitindo então que esses povos adquirissem
conhecimentos farmacológicos sobre tal.
Mais de 2.000 espécies de plantas são
utilizadas na região, com fins medicinais,
especialmente pela comunidade rural. Contudo,
o uso não se delimita somente a esses povos. Esse
tipo de uso é conhecido, também, na China.
Entorno de 500 espécies são utilizadas pela
população, e são mundialmente conhecidas por
serem bioativas e terem uma ação sobre os outros
seres vivos. (Schultes; Raffaus, 1990).
O conhecimento ambiental, definido de
tal modo ao conhecimento cientifico do ser
humano sobre o ambiente no qual está inserido,
e que de tal maneira vem sendo utilizado como
instrumento de gestão ligado ao tema, social e
educacional está sendo direcionado para a
melhoria de vida das pessoas e da natureza
(Marin et al., 2003). Dessa forma, a percepção
ambiental é uma das formas de entender a relação
do homem com o meio no qual está inserido
(Tuan, 1980; Fontana, 2004).
Desse modo, o artigo tem como pretensão
levantar e abordar assuntos relevantes à
utilização das espécies de plantas relacionadas
aos tratamentos medicinais do distrito,
avultando-se os seus usos, desde o modo no qual
é obtida, seja ele cultivo ou extrativismo, até a
sua execução sociocultural dentro da
comunidade.
Partindo desses pressupostos, o presente
estudo teve como objetivo realizar um
levantamento qualitativo e quantitativo no
distrito de Rolim de Moura do Guaporé-RO,
localizado na margem do Rio Mequéns afluente
da margem direita do Rio Guaporé, sobre o uso
das espécies de plantas para fins farmacológicos,
a forma de preparo e suas finalidades.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
Cercado por floresta nativa, a
comunidade encontra-se próximo da reserva
ambiental do Guaporé. Pertencendo ao
município de Alta Floresta D’ Oeste - RO, o
distrito possui uma população de 25.437 pessoas,
e a sua área territorial de 7.067, 025 km (IBGE,
2017).
2.2 Delineamento da pesquisa
A obtenção dos dados foi através de um
questionário desenvolvido por alunos da escola
EEEMTI Cândido Portinari- Rolim de Moura-
RO- sobre a orientação do professor de Biologia,
direcionado a 17 habitantes, desses, 12 eram do
sexo feminino. Dessa forma, o questionário foi
dividido em duas partes. Na primeira foram feitas
perguntas socioeconômicas sobre a idade, tempo
de habitação, profissão o grau de escolaridade.
Também houve questionamentos direcionadas as
opiniões sobre: i) se havia o cultivo dessas
plantas no quintal ou horta; ii) como havia
aprendido sobre plantas medicinais
(Familiares,Amigos/Vizinhos, Estudo, Outros); iii) se
já havia passado mal com o uso de plantas medicinais;
iv)se esse tipo de conhecimento será importante
no futuro e porque; v) devem ser estudadas nas
escolas, vi) se esse tipo de conhecimento é
importante, sendo feita uma escala de 0 à 10,
onde quanto mais próximo de 10 mais importante
era; vii) se esse tipo de conhecimento deveria ser
preservado. Onde os itens i, iii, v, vi e vii tinham
a opção de sim ou não como respostas possíveis.
3. Já na segunda parte foram questionados:
i) a respeito das plantas que utilizavam, onde
cada entrevistado pode citar até 7 espécies;
ii)doença para qual é utilizada; iii) modo de
preparo (Infusão, Maceração, Óleos, Pó, Suco ou
sumo, Tintura, Xarope), iv) uso (Oral, Nasal,
Tópico), sendo questionado também a forma de
uso; v) possíveis reações ao uso. Houve registros
fotográficos das plantas citadas.
Desenvolvida ao longo do dia 15 e 16 de
novembro de 2018, a pesquisa foi dividida em
dois períodos, sendo eles matutinos e
vespertinos. Ao longo desse período foram
percorridas as ruas da cidade a pé, evitando
passar pela mesma rua mais de uma vez,
entrevistando pessoas encontradas tanto andando
pela ela, quanto em estabelecimento comerciais,
casas e órgãos públicos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Das pessoas entrevistadas 70,5% são do
sexo feminino e 29,5% do sexo masculino. O
tempo de habitação variou de 6 a 76 anos. Quanto
a escolaridade, 5 possuíam o ensino fundamental
incompleto, 7 o ensino médio completo e 4
pessoas concluíram o ensino superior. Dos
entrevistados, a maior parte era composta por
donas de casa e funcionários públicos.
O cultivo de plantas em casa foi relatado
por 23,5% dos entrevistados, enquanto 76,5%
obtinham por outros modos.
Ao questionar sobre a importância do
conhecimento sobre plantas medicinais, foi
realizado, 5,8% dos entrevistados avaliou como
8 e 94,2% classificaram como 10. Quanto ao
ensino sobre plantas medicinais nas escolas e se
a sua preservação é importante todos
responderam sim. Sobre a forma que aprenderam
o uso de plantas medicinais todos relataram que
foram transmitidos pelos seus familiares. Ao
serem questionados sobre a relevância do
conhecimento sobre plantas medicinais perante
os avanços indústria farmacêutica quanto a
produção de medicamentos alopáticos, todos os
entrevistados afirmaram que ainda sim seria
importante a utilização de plantas medicinais.
Entre as justificativas apresentadas, 11 disseram
que a utilização dessas plantas “é mais saudável”
que o uso de remédios industrializados e 2
mencionaram que “faz parte da cultura local”,
outras citadas uma vez foram: “a distância para
adquirir remédios farmacêuticos”, “serem mais
eficazes nos tratamentos”, “a ausência dos
remédios farmacêuticos”.
Foram citadas 35 espécies de plantas
medicinais (Quadro 1), distribuídas em 26
famílias diferentes, as que tiveram maior número
de citações foram: Boldo com 6 citações; Crajiru
e Hortelã com 5; Capim Santo, Algodão Roxo e
Erva de Santa Maria citadas 4 vezes.
Quadro 1- Relação qualitativa e quantitativa das espécies de plantas citadas
Planta Família Número de citações
Boldo (Peumus boldus) Compositaceae 6
Crajiru (Arrabidaea chica) Bignoniaceae 5
Hortelã (Mentha sp.) Lamiaceae 5
Erva de Santa Maria (Chenopodiumambrisiodes L.) Chenopodiaceae 4
Capim Santo (Cymbopogon citratus) Graminiaceae 4
Algodão roxo (Gossypiunhirsutum L.) Malvaceae 4
Terramicina (Alternanthera brasiliana L.) Amaranthaceae 3
Alfavaca (Ocimumbasilicum) Lamiaceae 3
Jatobá (Hymenaeacourbaril) Fabaceae 3
Melão de São Caetano (Momordicacharantia) Cucurbitaceae 2
Quinaquina (Cinchona officinalis) Rubiaceae 2
Erva-Cidreira (Melissa officinalis) Chenopodiaceae 2
Canela (Cinnamomumverum) Lauraceae 2
Limão (Citruscitrussp) Rutaceae 2
Gervão (Stachytarphetacayennensis) Verbenaceae 2
Mucaracaá (Petiveriaalliacea L.) Phytolaccaceae 2
Jaborandi (Pilocarpus sp.) Rutaceae 1
4. Capeba (Pothomorpheumbellata) Piperaceae 1
Folha de laranja (Citrus sinensis) Rutaceace 1
Berinjela (Solanummelongena) Solanaceae 1
Gengibre (Zingiberofficinale) Zingiberaceae 1
Hortelã da folha grossa (Plectranthusamboinicus) Lamiaceae 1
Amor crescido (Portulaca pilosa) Portulacaceae 1
Carqueja (Baccharistrimera) Compositaceae 1
Açafrão (Curcuma longa) Iridaceae 1
Folha de caju (Anacardiumoccidentale) Anacardiaceae 1
Café (Coffea sp.) Rubiaceae 1
Aranto (Kalanchoedaigremontiana) Crassulaceae 1
Moringa oleífera (Moringa oleifera) Moringaceae 1
Babosa (Aloe vera) Asphodelaceae 1
Pinhão Roxo (Jatrophagossypifolia) Euphorbiaceae 1
Angico Branco (Anadenanthera colubrina) Fabaceae 1
Alho (Alliumsativum L.) Liliaceae 1
Genipapo (Genipa americana) Rubiaceae 1
Castanha (Bertholletia excelsa) Lecythidaceae 1
Das 35 plantas citadas apenas 9 foram
encontradas nas residências dos entrevistados,
sendo elas a alfavaca, aranto, boldo, canela,
capim santo, crajiru, hortelã, mucuracaá e
terramicina.
O boldo (Peumus boldus) foi citado para
o uso em caso de problemas no estômago, fígado,
dor de barriga e a ressaca. Isso concorda com
Ruiz (2008) onde diz que requer um uso
moderado demonstrando que deve ser consumida
somente em ocasiões especificas e que se deve
fazer uma ingestão moderada e cuidadosa em
especial no primeiro trimestre de gravidez e no
uso por tempo prolongado de preparo primeiro
macerada e logo após e necessário a realização
do cataplasma para colocar sobre o ferimento.
gado. Foram citados dois modos de
preparo: a maceração e a extração do suco ou
sumo.
O crajiru (Arrabidaea chica) foi indicado
como agente anti-inflamatório e antibiótico.
Assim se mostra perceptível que a coleta de
dados realizados coincide com a pesquisa de
Behrens (2012) no requisito do tratamento da
inflamação uterina por ele ser citado como agente
anti-inflamatório. O modo de preparo foi descrito
em todas as citações por meio de infusão sendo o
consumo oral.
A hortelã (Mentha sp.) segundo os
entrevistados ela possui 5 propriedades sendo
elas: vermífugo, calmante, insônia, gripe e para
má digestão. Várias plantas dessa espécie já têm
sido investigadas por suas atividades biológicas
como pelos óleos essências produzidos por ela
(DALVA et.al.,2005). Segundo os entrevistados
o modo de preparo é por meio da infusão e com
consumo oral.
A erva de Santa Maria (Chenopodium
ambrisiodes L.) foi indicado pelos entrevistados
da comunidade de Porto Rolim do Guaporé como
agente cicatrizante de ferimentos tendo dois
processos. O capim-santo (Cymbopogoncitratu)
foi indicado pelos habitantes de Porto Rolim do
Guaporé como: calmante, para febre e dores
musculares possuindo a preparação por infusão e
tendo o consumo oral por meio de chás.
O algodão-roxo (Gossypiunhirsutum L.)
foi indicado pelos entrevistados para processos
cicatrizantes, antibióticos e anti-inflamatórios.
Contendo o modo de preparo por meio do suco
ou sumo da planta e o consumo oral.
Aterramicina (Alternanthera brasiliana
L.) foi indicado pelos entrevistados para três
usos: cicatrização, ação antibiótica e anti-
inflamatória. Os dados apresentados na pesquisa
concordam com Delaporte (2002) na questão da
ação anti-inflamatória, sendo que em seu
trabalho também citou ações analgésica e
antiviral. Todos os entrevistados citaram como
modo de preparo a infusão e consumo de forma
oral.
A alfavaca (Ocimum basilicum) foi
indicada pelos entrevistados para gripe, doenças
respiratórias, sarampo e dor de garganta. Blank
5. (2004) relata o seu uso como planta com
propriedades medicinais. Em todas as vezes
citadas o modo de preparo foi por meio da
infusão com seu consumo oral.
O jatobá (Hymenaea courbaril) foi
indicado pelos entrevistados com quatro
propriedades medicinais: cicatrização, gripe,
tosse, anemia. Segundo Gomes et al. (2010), a
casca e a polpa farinácea de Hymenaea courbaril
L. apresentaram pequeno espectro de ação da
atividade antibacteriana frente aos
microrganismos avaliados; porém, novos estudos
químicos, farmacológicos e clínicos devem ser
realizados a fim de identificar substâncias ativas
com potencial antimicrobiano. O modo de
preparo descrito pelos entrevistados consiste no
uso da infusão.
O melão de São Caetano
(Momordicacharantia) teve dois usos relatados:
desintoxicação e coceira. De acordo com Martins
et al. (2009) extrato de Melão-de-São-Caetano
em sementes armazenadas de Manihotglaziovii
apresentou discreta atividade antifúngica,
concordando com os dados obtidos. O modo de
preparo descrito foi pela utilização da infusão.
A quinaquina (Cinchona officinalis) foi
indicada para desintoxicação. Pilla et al. (2006)
descreve que por meio da maceração e decocção
das folhas, ela pode ser indicada para o
estômago, sem especificações para a
enfermidade O modo de preparo descrito foi pela
utilização tintura da planta.
A erva-cidreira (Melissa officinalis) foi
indicada para gripe e como calmante. Por meio
da decocção de suas folhas, ela pode ser utilizada
para anemia e para a pressão alta (MEDEIROS,
et al.,2004). O modo de preparo foi descrito pela
utilização da infusão.
A canela (Cinnamomumverum) possuiu
duas indicações para o organismo entre eles
temos para o auxílio no processo febril e a
redução da glicose no corpo, possui o modo de
preparo por meio da infusão com o consumo oral
por meio de chá.
O limão (Citrus lemon) foi indicado para
estabilizar o ácido úrico. Ao avaliar a ação
antioxidante do extrato de sementes de limão
adicionado ao óleo de soja, submetido à
termoxidação, e o seu efeito sinergístico com o
antioxidante sintético tercbutilhidroquinona
(TBHQ) apresentaram um poder antioxidante, o
que comprova o efeito sinergístico dos
antioxidantes em estudo (Luzia, et al., 2009). Seu
modo de preparo mencionado foi pela utilização
do suco ou sumo da planta, sendo realizado assim
o consumo de forma oral.
O gervão (Stachytarphetacayennensis)
citado duas vezes para ajudar no processo de
amenização da dor de estômago. Moreira et al.
(2007) aborda que o extrato hidroalcoólico de S.
cayennensis inibe formas promastigotas de
Leishmania in vitro o que poderia justificar, pelo
menos parcialmente, o uso popular dessa espécie
no tratamento de úlceras causadas por
Leishmania, contudo seu trabalho não cita sobre
os problemas relatados pelos entrevistados. O
modo de preparo mencionado foi pela utilização
da maceração e infusão.
O mucaracaá (Petiveriaalliacea L.) foi
indicado para infecção de garganta segundo os
entrevistados. Utilizado na medicina popular
como agente terapêutico por conta das várias
propriedades farmacológicas existente na espécie
(Assis, et al., 2013). Os modos de preparo que foi
descrito nas citados foi o por meio da infusão e
tintura.
O jaborandi (Pilocarpus) foi indicado
como anti-inflamatório pelo entrevistado.
Segundo Medeiros et al. (2004) o banho, a partir
da infusão de suas folhas, é indicado para dores
de coluna, assim, ao indicar para dores na coluna,
há concordância com o relato, caso a causa da dor
for de origem inflamatória.
A capeba (Pothomorpheumbellata) foi
indicada para desintoxicação, contudo há
trabalhos que têm comprovado que a planta
possui também propriedades antimicrobianas
(Silva, et al.,2013). O seu modo de preparado foi
descrito por meio da infusão.
A laranjeira (Citrussinensis) na qual teve
a utilização de sua folha no preparo do
medicamento caseiro, teve a indicação para o
combate de resfriados. O modo de preparo
descrito foi pela utilização da infusão.
A berinjela (Solanummelongena) foi
citada como maneira para combater: colesterol,
diabetes, artrite, gota, aterosclerose e
reumatismo, tendo seu preparo em forma de
suco. Concordando com Peron (2008) ao
perceber o efeito de redução do colesterol.
O gengibre (Zingiberofficinale) foi
indicado para ajudar a conter efeitos da gripe,
concordando com De Souza et al. (2006) que
também descreve seu uso para hemorragia,
6. náuseas e estômago. O modo de preparo foi
descrito pela utilização da infusão.
A hortelã da folha grossa
(Plectranthusamboinicus) foi indicada para dor
de cabeça. França (2008) descreve que em uma
comunidade quilombola da região de Campina
Grande-PB, ela é utilizada para bronquite
propriedade a qual não foi relatada ao longo da
pesquisa. O modo de preparo descrito foi pela
utilização da maceração.
O amor crescido (Portulaca pilosa) foi
indicada para cicatrização. Além da cicatrização
ele também é utilizado para gastrite e queda de
cabelo. O modo de preparo descrito foi pela
utilização da maceração, também descrito por
Scudeller (2009).
A carqueja (Baccharistrimera) foi citada
para desintoxicação do fígado. Avancini (2000)
descreve que a planta possui atividade
antimicrobiana que por meio de testes há a
possibilidade da utilização como desinfetante e
antisséptico.O modo de preparo citado foi
infusão e sendo de uso oral.
O açafrão (Curcuma longa) apresenta
substâncias antioxidantes e antimicrobianas, que
lhe conferem a possibilidade de emprego nas
áreas de cosméticos, têxtil, medicinal e de
alimentos. São ainda reconhecidos os efeitos
cicatrizantes e anti-inflamatórios, capacidade de
indução de apoptose e de sequestrar radicais
livres (Orsolin, et al., 2009). Assim segundo
Orsolin (2009) percebe-se que a planta contém
outras propriedades não descritas pelos
entrevistados. O seu modo de preparo foi descrito
pelo processo de infusão, possuindo o consumo
oral através da preparação do chá,
A folha de caju (Anacardiumoccidentale)
foi descrito com propriedades que auxiliam no
tratamento da diarreia. Souza et al. (2006)
descreve seu uso terapêutico na odontologia
como agente antibacteriano, relatando também
outros usos para essa planta. O modo de preparo
descrito foi pela infusão no preparo do chá, sendo
o consumo oral.
O Café (Coffea sp.) o qual foi
mencionado somente uma vez, foi indicado para
amenizar o efeito do vômito. O potencial
antioxidante foi avaliado pelos métodos DPPH,
ABTS e Folin-Ciocalteau, sendo que os melhores
potenciais antioxidantes foram verificados para
os extratos de casca de café obtidos à baixa
pressão (Andrade, et al., 2011). Assim segundo
Andrade (2011) percebe-se que o Café possui
outras propriedades além das citadas pelos
entrevistados. O modo de preparo descrito foi
pelo método da infusão, tendo sua forma de
consumo como oral.
Aranto (Kalanchoedaigremontiana) foi
citado como tratamento para o câncer. É uma
espécie de planta suculenta e xerofítica que
possui glicosídeos, flavonoides e lipídios, a qual
pode-se incluir nos últimos triterpenóides e os
bufadienolidos que contém atividades citotóxicas
contra várias linhagens celulares de câncer
(Alvarado, et.al.,2015). O modo de preparo
descrito como suco ou sumo da planta para o
consumo oral.
A moringa oleífera (Moringa oleifera)
teve duas indicações citadas: controle da pressão
e artrite. Paternianiet al. (2009) descreve seu
potencial para o tratamento de água. O modo de
preparo indicado pelo entrevistado foi o por meio
da obtenção do pó.
A babosa (Aloe vera) foi indicada para o
processo de cicatrização de ferimentos. De
acordo com Faleiro et al. (2009), apresenta no
parênquima de suas folhas mucilagem com ação
cicatrizante, antibacteriana, antifúngica, anti-
inflamatória e antivirótica proporcionadas pela
presença de antraquinonas como aloenina,
barbaloína e isobarbaloína em sua composição
química, condizendo com os dados da entrevista.
O seu modo de preparo foi mencionado pela
extração do suco ou sumo.
O pinhão roxo (Jatrophagossypiifolia)foi
citada para contenção da tosse. Mariz et al.
(2010) relata que ela possui efeitos
antimicrobiano, antineoplásico, cicatrizante e
hipotensor, sendo possivelmente explicados pela
presença de substâncias como alcalóides,
terpenóides, flavonóides, lignanas e taninos. O
modo de preparo relatado consiste no uso da
infusão, com o consumo oral.
O angico branco (Anadenanthera
colubrina) possui indicações para amenização
dos efeitos da tosse. Segundo Weber (2011) é
reconhecida pela medicina popular e muito
utilizada como antisséptico e cicatrizante,
percebe-se que a indicação cicatrizante por ele
mencionada não foi descrita pelo entrevistado,
porém, o efeito antisséptico mencionado por
Weber (2011) pode contribuir para a amenização
da tosse descrita pelo entrevistado. O modo de
preparo citado é a produção da tintura da planta.
7. 4. CONCLUSÃO
A pesquisa demostrou que há uma
variada riqueza de plantas medicinais utilizadas
pela comunidade, sendo essas plantas tanto
cultivadas no quintal, quanto obtidas de em
outros lugares.
Nota-se que o uso de plantas medicinais,
nessa comunidade, para o tratamento de doenças
está ligado a tradição, pois seu uso é transmitido
através dos familiares, o que explica a
preferência em relação aos remédios
industrializados, pois a maioria considera “mais
saudável” pelo fato de ser naturais. Outro fator
relevante citado é o difícil acesso que a
comunidade tem aos remédios industrializados,
demonstrando que o seu uso é uma opção para a
cura de males que podem acomete-los.
A população local possui uma riqueza de
informações que facilitou a listagem das plantas
da região, devido ao contato com o meio
ambiente, a disponibilidade de recursos naturais
e a presença dessa prática no seu cotidiano,
mostrando que o conhecimento tradicional é uma
importante ferramenta para a realização de
trabalhos relacionados plantas medicinais.
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*Autor para Correspondência:
Prof. Me. Bruno Elias Rocha Lopes
Mestre em Ensino de Física
Especialista em Biodiversidade da Amazônia
Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas
Seduc/RO
Faculdade São Paulo - FSP
brunoerl@gmail.com
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