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Baixar para ler offline
urante dois milênios, o Povo Judeu pediu
diariamente em suas orações que Jerusalém
e seu ponto central espiritual, o Monte do
Templo, voltassem às nossas mãos. “Se eu
me esquecer de ti, ó Jerusalém...” escreveu o
profeta Yirmiyáhu durante o exilio na Babilônia. O Povo
Judeu nunca se esqueceu de sua capital eterna. A cidade
de David sempre foi o foco do anseio de nosso povo
da volta à Terra de Israel. O próprio termo “sionismo”
advém da palavra “Tsion”, que é um dos nomes da cidade
sagrada de Jerusalém.
No dia 7 de junho, apenas 48 horas após o início da
Guerra dos Seis Dias, o sonho há muito acalentado se
concretizou tão rápida quanto inesperadamente. Uma
mensagem percorreu toda Israel: “Har Habait Beiadeinu”
- o Monte do Templo está em nossas mãos!”. Naquele
dia, o som do Shofar tocado ao pé do Kotel anunciava ao
mundo que os Filhos de Israel haviam voltado para seu
Muro. Jerusalém, o coração e alma de Eretz Israel e do
Povo de Israel, finalmente reunificada, é a capital política
do moderno Estado de Israel.
A reconquista foi uma luta árdua, muitos sacrificaram
sua vida, outros tantos foram feridos, mas o heroísmo
67
A captura da Cidade Velha de Jerusalém, em 1967, foi, para todos
os judeus, uma catarse emocional que é comparável e, em
certos aspectos, até superior ao estabelecimento do Estado
de Israel, em 1948. Sua reconquista foi um capítulo à parte na
história da Guerra dos Seis Dias, o mais importante.
ISRAEL
A Batalha por Jerusalém
dos jovens soldados será lembrado por gerações. Elie
Wiesel, testemunha ocular da tomada de Jerusalém,
escreveu: “O combate ainda perdurava em várias
frentes... mas isso não impediu que as pessoas, num
êxtase místico, acorressem em direção à Cidade Velha,
que estivera inacessível a todos os judeus durante o
domínio jordaniano... sobreviventes de todo tipo de
inferno, rostos de todo tipo de destino - vi-os correndo,
ofegantes... para tocar o Muro. E lá chegando, incrédulos
e estupefatos, como crianças que temem o despertar por
não querer o fim do sonho, detêm-se, de súbito. Eis que
se ouve um choro convulsivo, preces sendo entoadas,
enquanto outros dançam, dando vazão à emoção. O país
inteiro dançou. A história judaica dançou. Explodindo de
júbilo e gratidão pelo privilégio de testemunhar aquele
momento, pensei: ‘É isto, Jerusalém, o lugar que atrai e
irmana todos os judeus, a verdadeira cidade da saudade e
promessa eternas’”.
Em compasso de espera
Em junho de 1967, mesmo quando Israel percebeu que
não haveria como evitar um novo conflito contra o Egito
e seus aliados, a reconquista de Jerusalém Oriental não
estava entres os planos que traçaram. Moshé Dayan,
D
junho 2017
ISRAEL
68
A FOTO DOS TRÊS EX-PARAQUEDISTAS
NA FRENTE DO KOTEL, SE TORNOU UMA
IMAGEM ICÔNICA DA GUERRA. A IMAGEM
FOI TIRADA PELO FOTÓGRAFO ISRAELENSE
DAVID RUBINGER
então ministro da Defesa, e o
Comando Supremo das Forças de
Defesa de Israel (FDI) sabiam
que para ganhar a guerra deviam,
antes de tudo, derrotar o Egito e
concentrar a maior parte de suas
forças na frente egípcia. Dayan
ordenara aos comandantes
do Exército não se envolver em
“ações militares que pudessem
complicar a posição de Israel diante
da Jordânia”.
No dia 5 de junho, 45 minutos
após os aviões israelenses iniciarem
o ataque às bases egípcias, o
general Odd Bull, comandante de
Supervisão de Tréguas das Nações
Unidas, recebeu um telefonema do
Ministério das Relações Exteriores
de Israel solicitando sua presença.
Ao chegar ao Ministério, foi-lhe
entregue a mensagem de Levi
Eshkol para o rei Hussein. O
primeiro-ministro pedia, mais uma
vez, que a Jordânia não entrasse no
conflito. “Se a Jordânia não fizer
nenhum ato hostil, Israel tampouco
o fará”. O rei da Jordânia ignorou
os apelos, pois chegara à conclusão
de que sua sobrevivência política
dependia de ser visto como parte da
coalizão na luta contra Israel.
Durante 19 anos, jordanianos e
israelenses tinham-se preparado
para o dia em que voltassem a se
enfrentar belicamente.
Para Israel, a perda da parte oriental
de Jerusalém, principalmente da
Cidade Velha de Jerusalém, em
1948, na Guerra de Independência,
foi um dia de luto. Nas palavras
de Ben-Gurion, “um motivo
para chorar por gerações”. A
luta contra a Legião Jordaniana
foi sangrenta; treinada e armada
pelos britânicos, a Legião era
a melhor do mundo árabe. Os
judeus lutaram corajosamente, mas
Israel, a população da Jerusalém
jordaniana foi tomada por grande
euforia. Os alto-falantes das
mesquitas incitavam os fiéis a
massacrarem os judeus. O líder da
OLP, Ahmed Shukeiry, chegou à
cidade na sexta-feira, 2 de junho,
para participar das preces na
Mesquita al-Aksa. Multidões o
carregaram nos ombros. Em um
discurso inflamado, ele disse: “Israel
está às vésperas da destruição e
haverá poucos sobreviventes”.
Ironicamente, quando a Guerra
eclodiu, Shukeiry estava entre os
primeiros a fugir da cidade.
Enquanto a Jerusalém jordaniana
vivia uma histeria eufórica coletiva,
a judaica se preparava para enfrentar
uma batalha sangrenta, que teria que
ser lutada rua por rua, de casa em
casa. Nas semanas que antecederam
a guerra foi intensa a mobilização do
setor civil. As autoridades municipais
implementaram planos tão
detalhados quanto os dos militares.
Desde o fechamento do Estreito de
Tirã, a agência chamada PESACH
(um acrônimo das palavras
hebraicas para “evacuação, bem-
estar e enterro”) começou a preparar
edifícios públicos para servirem de
centros de evacuação.Temendo-se
a ocorrência de milhares de mortos,
foi preparado um monte ao lado do
Monte Herzl para abrigar um novo
cemitério. Havia estimativas que o
número de mortos poderia chegaria
a 2 mil, se aviões jordanianos não
bombardeassem a cidade, caso
contrário, a 6 mil. Como as FDI
temiam o uso de gases mostarda
e nervoso, usados pelo Egito no
Iêmen, oficiais da Haga, defesa civil,
receberam treinamento de como agir
frente a tal eventualidade.
Voluntariar-se tornou-se uma
obsessão. Milhares ficavam em fila
para doar sangue, outros tantos
tiveram que se render, e a Cidade
Velha ficou sob a soberania da
Jordânia. Conquistadores cruéis, os
jordanianos mataram ou expulsaram
todos os judeus da área, destruindo
suas 60 sinagogas, incendiando-as ou
profanando-as, e rasgando centenas
de Sefarim. E, apesar dos acordos
internacionais de cessar-fogo que
garantiam a judeus e cristãos o livre
acesso aos lugares sagrados, esse
acesso foi proibido aos judeus.
Os cristãos que apresentavam
certificado de batismo podiam entrar
durante certos feriados.
Nas quase duas décadas os
jordanianos haviam montado
linhas de defesas praticamente
intransponíveis: arame farpado,
trincheiras profundas e campos
minados corriam ao longo da Linha
Vermelha, a linha do armistício de
1948 que separava as duas partes de
Jerusalém. A linha estendia-se por
pouco mais de 8 km de norte a sul.
Para preocupação dos comandantes
das Forças de Defesa de Israel
(FDI), a muralha da Cidade Velha
era o ponto central das defesas da
Jordânia.
Desde maio de 1967, perante a
possibilidade de uma guerra contra
REVISTA MORASHÁ i 96
69 junho 2017
particular, estava nas mãos da
Brigada de Jerusalém, composta em
sua maioria por reservistas, muitos
com mais de 30 anos, enquanto
os israelenses entre 45 e 49 anos
compunham os quadros da Haga.
Na noite de domingo, 4 de
junho, Narkiss reuniu-se com
seus comandantes e um oficial
da Inteligência para examinar os
deslocamentos das forças da Jordânia.
O general estava preparado para a
eventualidade de um ataque, mas
não acreditava que seria muito
mais do que uma troca de tiros
transfronteiriços. Caso os jordanianos
atacassem pesadamente em Jerusalém
o plano de Narkiss era romper as
linhas inimigas com sua Infantaria até
o Monte Scopus, localizado na parte
jordaniana, e levar seus blindados até
um terreno elevado entre o Monte e o
Palácio de Governo.
O general Haim Bar-Lev, vice-
chefe do Estado Maior, porém,
o alertara de que suas forças não
tinham autorização para atravessar
a Linha Vermelha. As ordens do
general Yitzhak Rabin, então chefe
do Estado Maior, eram claras:
“Nada deve ser feito para provocar
os jordanianos. Caso a Jordânia
abra fogo, Israel responderá, mas
sempre tentando evitar a escalada
do conflito”. Os eventos, no entanto,
foram tomando vida própria.
O ataque jordaniano
Após o ataque surpresa de Israel,
Nasser fez de tudo para manter
a Jordânia como aliada. Ele sabia
que alguns oficiais jordanianos
haviam aconselhado ao rei que ao
menos esperasse alguns dias para
ver o andamento do conflito, antes
de atacar Israel. O alto comando
egípcio descaradamente “informou”
a Hussein que ¾ da Força Aérea
de Israel tinha sido destruída e que
aviões e o exército egípcio estavam
atacando Israel. E uma mensagem
participavam de cursos de primeiros
socorros das equipes de resgate da
Magen David Adom, mais de 2 mil
voluntários cavavam diariamente
trincheiras perto de apartamentos
e escolas que não possuíam abrigos
próprios (40% das construções),
entre eles 500 alunos de ieshivot.
No Shabat após o fechamento
do Estreito de Tirã, um dos
comandantes da Haga viu alunos de
ieshivot, liderados por dois rabinos
ortodoxos, cavando trincheiras.
Caberia ao general Uzi Narkiss,
comandante das FDI na região
Central, com sete brigadas sob suas
ordens, enfrentar uma ofensiva
jordaniana. Sua principal força
de reservistas, a 10a
Brigada
Mecanizada, estava estacionada
na planície costeira. Em caso de
guerra, seus velhos tanques Sherman
teriam que enfrentar uma brigada
jordaniana de 88 modernos tanques
Patton estacionados próximo a
Jericó. A defesa de Jerusalém, em
No dia 24 de maio – Yom Yerushalayim – Dia de Jerusalém, Israel festejou 500
aniversário da libertação e unificação
da Cidade Sagrada sob soberania judaica
ISRAEL
70
1
	Marcado por uma intensa movimentação
de tropas
foi imediatamente enviada ao
general egípcio que coordenava as
forças árabes na frente jordaniana,
ordenando-lhe iniciar a ofensiva.
O que o rei não sabia era que Israel
praticamente vencera a guerra três
horas após seu início quando sua
Força Aérea destruíra a egípcia.
Na manhã de 5 de junho, o
Comando Geral das FDI ainda
pensava em termos de contenção
do conflito, não em expandi-lo.
Apesar de Hussein não atender
ao apelo de Israel, poucos na alta
hierarquia militar e política de Israel
acreditavam que haveria uma guerra
em grande escala com a Jordânia.
A seu ver, caso Hussein interviesse,
seria apenas proforma, para
satisfazer seus aliados. Baseavam-
se, entre outros, no fato de que
desde 1963 o rei mantinha reuniões
secretas com israelenses para evitar
mal-entendidos que pudessem levar
a um conflito com o Estado Judeu.
A atitude em relação à Jordânia
foi mudando a partir do final
daquela manhã por dois fatores.
O primeiro era a confirmação do
sucesso do ataque aéreo preventivo,
e, o segundo, a notícia de que os
jordanianos estavam atacando
pesadamente alvos militares e
civis, e que sua artilharia de longo
alcance abrira um pesado fogo sobre
Jerusalém Ocidental. Moshé Dayan,
então, realocou a 55a
Brigada de
Paraquedistas – brigada de reserva
sob o comando do então coronel
Mordechai (Motta) Gur – para
defender a Jerusalém judaica.
À medida que as horas passavam
tomava forma entre os membros
da hierarquia militar e política a
possiblidade, até então descartada, de
tomar Jerusalém Oriental. O general
Narkiss, o ministro Yigal Allon,
Menachem Begin e o rabino-chefe
do Exército, general Shlomo Goren,
entre outros, começam a pressionar
para que fosse autorizado inclusive
um ataque à Cidade Velha.
O general Narkiss não escondia o
fato de que se Israel desse início, em
Jerusalém, à guerra de movimento1
,
ele tentaria tomar a Cidade Velha.
Sua motivação era tanto nacional
como pessoal. Ele queria corrigir
o que considerava a maior mancha
em sua carreira militar – ter perdido
a Cidade Velha 19 anos antes.
Ele se considerava de certa forma
responsável pelo fato de que os
judeus não podiam rezar no Kotel.
“Durante uma noite tive o Portão da
Cidade em minhas mãos, mas me
foi arrebatado”. A História parecia
estar-lhe dando e dando a Israel uma
segunda chance...
A batalha por
Jerusalém
Eram por volta das 8h30 quando as
bombas jordanianas começaram a
cair na parte judaica da Cidade.
A Rádio de Amã anunciava
que Israel atacara a Jordânia e,
20 minutos depois, o rei Hussein
declarou pelo rádio: “A hora da
vingança chegou...”.
O general Narkiss, após ordenar
alerta geral em toda a área do
Comando Central e dar instruções
para os alarmes de ataque aéreo,
telefonou a Teddy Kollek, então
prefeito de Jerusalém, dizendo:
“Estamos em guerra, mas está tudo
sob controle. Você está prestes a
ser o prefeito de uma Jerusalém
Unificada!”.
Dois eventos aceleraram a decisão
das FDI de avançar sobre a parte
jordaniana de Jerusalém. O primeiro
ocorreu por volta das 14 h.
O comandante da Brigada de
Jerusalém informou Narkiss que
legionários jordanianos haviam
TROPAS ISRAELENSES ENTRAM NA CIDADE
VELHA DE JeRUSALÉM PELa PORTa DOS
LEÕES
TANQUES E CAMINHÕES ISRAELENSES A CAMINHO DA CONQUISTA DO LADO DE JERUSALÉM
ATÉ ENTÃO SOB CONTROLE JORDANIANO
REVISTA MORASHÁ i 96
71 junho 2017
ocupado o antigo Palácio de
Governo onde ficava o Q.G. das
Nações Unidas.
O local era militarmente estratégico,
pois domina a estrada Bethlehem-
Hebron pela qual os jordanianos
podiam obter reforços. Israel teria
que desalojar os legionários do
prédio e ocupar os entroncamentos
por onde tropas inimigas podiam
se movimentar. Narkiss ligou ao
comandante da 10a
Brigada de
Blindados. “Coloquem suas forças
na estrada para Jerusalém. É a nossa
chance de conquistá-la!”.
Mas foi o anúncio da rádio egípcia
afirmando que tropas jordanianas
haviam capturado o Monte Scopus
que mudou o curso do conflito.
Israel sabia que o anúncio era falso,
mas também, sabia que significava
que um ataque jordaniano ao enclave
israelense era iminente. Uma das
preocupações das FDI sempre
foi a segurança dos 122 soldados
estacionados no Monte Scopus, no
lado jordaniano da cidade. A Brigada
de Jerusalém podia deter qualquer
ataque, mas se o Monte caísse em
mãos jordanianas, sozinha a Brigada
não conseguiria furar as formidáveis
defesas construídas em volta dele
pelos inimigos. Com a chegada
da 55a
Brigada de Paraquedistas
comandada pelo coronel Gur, a
batalha por Jerusalém toma outras
proporções. O Comando Geral
autorizara Narkiss a iniciar um
contrataque assim que o batalhão de
paraquedistas chegasse a Jerusalém.
A ordem era chegar até o Monte
Scopus e libertar a guarnição de
soldados israelenses que estavam
cercados. Para consegui-lo,
teriam que romper as defesas
jordanianas, penetrar campos
minados, destruindo sólidas
defesas fronteiriças, e lutar através
de pelo menos 1,5 km em uma
cidade edificada, na qual ninhos de
metralhadoras e homens armados
com rifles estavam emboscados atrás
de janelas. E, assim que o Monte
Scopus estivesse em suas mãos,
tomariam posições estratégicas
na Jerusalém Oriental para criar
uma situação que lhes permitisse
irromper pela Cidade Velha.
Gur estava ciente de que ele e sua
brigada iriam enfrentar um combate
difícil, mortal, mas estavam prontos.
Tendo nascido em Jerusalém, assim
como Yitzhak Rabin, Uzi Narkiss
e Moshé Dayan, há anos Gur
acalentava o sonho de tomar parte
de uma batalha pela cidade.
Ao chegar a Jerusalém Gur incumbe
os três comandantes de batalhão de
sua Brigada, cada um com objetivo
específico, para preparar um assalto
cruzado à Linha Vermelha, ao longo
de um setor demarcado ao norte pela
Colina da Munição e pela Escola de
Polícia da Jordânia, no centro pelos
bairros Shaikh Jerrah e Wadi Joz,
e ao sul pelo Hotel American Colony
e pelo Museu Rockefeller.
Os comandantes tinham uma hora
para traçar seus planos para, em
seguida, colocá-lo em prática.
Os israelenses lutariam, à noite, num
ambiente urbano desconhecido, pois
O Ministro da Defesa Moshe Dayan, o Chefe do Estado-Maior Yitzhak Rabin, o Gen.
Rehavam Ze’evi (esq.) e o Gen. Uzi Narkiss caminham na Velha Jerusalém
APÓS A RECONQUISTA DA CIDADE VELHA, SOLDADOS CHEGAM À MESQUITA DOMO DA
ROCHA. 7 DE JUNHO 1967
ISRAEL
72
há 19 anos nenhum judeu podia
aventurar-se pelas ruas da Jerusalém
Oriental e havia apenas meia
dúzia de mapas mal feitos da parte
jordaniana da cidade. Os soldados
não poderiam contar com reforços,
não teriam apoio de blindados e
armamentos pesados, tampouco
tinham alguma experiência em
atacar uma cidade daquele porte ou
de combate de casa em casa, ainda
tendo que ter o cuidado para não
danificar locais sagrados de três
religiões.
Uma missão que parecia impossível
foi realizada: na manhã do dia 6 de
junho, após uma luta impiedosa,
estavam em mãos de Israel o
Monte Scopus, assim como pontos
estratégicos. Ainda estavam em mãos
da Legião Árabe o Cume Augusta
Victoria, o Monte das Oliveiras e
a Cidade Velha. Mas, as Brigadas
Harel e de Jerusalém já controlavam
três dos quatro acessos à cidade.
As vitórias custaram caro para
Israel; muito sangue de jovens
israelenses havia sido derramado
durante a longa noite. Muitas vidas
ceifadas. O número de feridos era
imenso e as maiores baixas eram
dos comandantes. Mas, graças ao
heroísmo dos paraquedistas e dos
outros soldados, naquelesegundo dia
de guerra, era grande a possibilidade
de uma Jerusalém unificada e
israelense. Algo que até então estava
além de qualquer esperança ou
imaginação agora estava ao alcance
de Israel.
Israel, porém, encontrava-se perante
um grande dilema de tomar ou não
a Cidade Velha. As implicações
políticas e diplomáticas eram muitas:
o Vaticano, centenas de milhões
de cristãos e de muçulmanos iriam
aceitar que seus lugares sagrados
ficassem em mãos de judeus? Mas
não podíamos perder a possibilidade
histórica, única, que se abria depois
de dois mil anos de exílio de voltar
a ter em nossas mãos o Kotel
Hamaaravi.
O rabino chefe das FDI, general
Shlomo Goren, o general Narkiss,
o coronel Motta Gur, Menachem
Begin, Levi Eshkol, Abba Eban e
tantos outros pressionaram Moshe
Dayan que ainda relutava em
ordenar a tomada da Cidade Velha.
Pouco antes do amanhecer do
segundo dia Begin ligara
para Dayan informando que o
Conselho de Segurança da
ONU iria declarar um cessar-fogo.
“Se isso acontecer”, disse Begin
com voz perturbada, “a Cidade
Velha, o Muro das Lamentações e
o Monte do Templo permanecerão
em mãos árabes. Isso não podemos
permitir”.
Tomando a
Cidade Velha
De acordo com o plano rapidamente
traçado pelo Alto Comando, Israel
iria tomar as colinas que circundam
Jerusalém – além do Monte Scopus,
o Cume Augusta e o Monte das
Oliveiras - e manter as posições
até segunda ordem. As forças de
Israel iriam estabelecer um anel de
aço ao redor da Cidade Velha, mas
manteriam um corredor aberto para
a Legião Árabe poder escapar. Era
imprescindível preservar os Locais
Sagrados. O que Israel pretendia era
deixar a Cidade Velha cair por si só.
Moshé Dayan ainda estava com
dúvidas, temia a indignação da
comunidade mundial caso os locais
sagrados cristãos e muçulmanos
fossem destruídos ou danificados
pela ação israelense. Pior ainda seria
tomar o Kotel e ter que devolvê-lo
perante a pressão internacional,
Dayan viu isso acontecer no Sinai.
Toda relutância de Dayan se esvaiu
ao receber o comunicado de que
as forças jordanianas estavam
abandonando o local, e que poucos
ainda resistiam.
muro ocidental é recapturado; a rádio do exército israelense anuncia: “o kotel está em nossas mãos”
REVISTA MORASHÁ i 96
73 junho 2017
Os comandantes finalmente
receberam o tão esperado sinal verde.
Yitzhak Rabin ordenara a Gur:
“Irrompam imediatamente pela
Cidade Velha e a conquistem”. Gur
aguardava por aquela ordem nas
últimas 24 horas; de fato, durante
toda a sua carreira militar. Ele
sabia que a Nação Judaica vinha
esperando ouvir aquela ordem há
19 séculos – a última vez que um
exército judeu estivera nas muralhas
da Cidade Velha fora durante o
sítio de Jerusalém, comandado pelo
general Tito, futuro imperador
de Roma.Ironicamente, ainda
que o exército tivesse planos de
contingência para virtualmente cada
alvo e circunstância concebíveis no
Oriente Médio, não havia um sequer
que cobrisse a tomada da Cidade
Velha, mas com a possibilidade de
um iminente cessar-fogo o ataque
tinha que ser executado o mais
rápido possível. Israel iria estrangular
a Cidade Velha pelo Sul.
Até então a ordem do Alto
Comando era não atingir a Cidade
Velha com artilharia, a despeito da
provocação, mas com a iminência
do ataque, foi dada permissão de
bombardear a extremidade esquerda
da cidade murada, por trás do ponto
de entrada escolhido – a Porta dos
Leões. Os canhoneiros precisavam
tomar cuidado para evitar que se
atingisse o Monte do Templo, a
poucos metros à direita da Porta
dos Leões. A decisão de irromper
justamente por essa entrada, na
muralha oriental da cidade, fora
tomada ainda naquela manhã. Até
o final da noite anterior o plano era
avançar pela Porta de Herodes, na
muralha norte.
Foi do topo do Monte das Oliveiras
que o coronel Motta Gur ordenou
à sua Brigada de Paraquedistas
para atacar. “55a
Brigada de
Paraquedistas”, disse Gur a seus
homens, “estamos daqui de cima,
com a Cidade Velha a nossos pés.
Dentro em breve adentraremos
na antiga cidade de Jerusalém,
que por gerações foi o motivo de
nossos sonhos e a razão de nossas
aspirações. Nossa brigada recebeu
o privilégio de ser a primeira a nela
entrar.” Ordenou a seguir que todas
as unidades se pusessem em marcha.
As quatro companhias do batalhão
atingiriam as quatro principais
posições jordanianas na colina, de
RABINO SHLOMO GOREN TOCA O SHOFAR
NA ÁREA DO KOTEL
frente, logo ao início da tarde.
Gur se unira a seus homens.
Os veículos militares aproximaram-
se da Porta dos Leões vindo
pelo Norte, justo quando os
tanques chegavam do Sul. Os
tiros ainda vinham ao longo da
muralha da Cidade Velha e os
tanques respondiam com suas
metralhadoras, abstendo-se de
atirar bombas para evitar danificar o
Domo da Rocha.
O general Narkiss, que estava no
Monte Scopus com seu grupo
avançado de comandos, quando
ouviu Gur ordenar o avanço,
também seguiu em direção à Porta
dos Leões. Com ele no jipe estava
o general Haim Bar-Lev. Narkiss
não conseguia esquecer sua última
entrada na Cidade Velha, 19 anos
antes. “Não deveríamos entrar se for
para sair de novo”, bradou. “Daqui,
nunca mais sairemos”, respondeu-lhe
Bar-Lev.
Uma vez aberto a Porta dos Leões,
Gur ordenou a seu motorista ir em
direção ao Monte do Templo. Este
surgiu imponente, e vazio. Depois
de uma luta ferrenha nenhum
jordaniano parecia estar lá.
PAUSA PARA UM DESCANSO, APÓS A ÁRDUA BATALHA PELA RECONQUISTA DE JERUSALÉM
ISRAEL
74
SOLDADOS COMEMORAM DIANTE DO KOTEL
fazendo continência ao Kotel, eles
recitaram chorando o Kadish pelos
camaradas tombados na batalha.
Enquanto o rabino Goren cantava
o Hatikva, cada um deles sabia
que a volta do Kotel HaMaaravi ao
Povo Judeu era uma questão sobre
a qual a opinião das Nações Unidas
ou qualquer política regional eram
totalmente irrelevantes, eles o haviam
reconquistado e Israel aí ficaria.
O general Dayan somente conseguiu
chegar ao Monte do Templo no
início da tarde entrando pela
Porta dos Leões, acompanhado
por Rabin. De pé, diante do Muro,
escreveu um bilhete que inseriu no
Muro: “Que a paz desça sobre a
Casa de Israel”.
Ordenou no radio a todas as
unidades cessar-fogo e dirigindo-se
ao general Narkiss disse:
“O Monte do Templo está em
nossas mãos. Repito. O Monte do
Templo é nosso”. Ao chegar no topo
do Monte ordenou que a Bandeira
de Israel fosse hasteada sobre o Kotel
HaMaaravi!
O relógio marcava 10h21–
48 horas após o início do combate
em Jerusalém. 
Os paraquedistas que iam chegando
à então estreita rua diante do Muro
ficavam em silêncio, conscientes de
que eram os primeiros soldados de
um exército judeu a lá chegar em
dois milênios.
O rabino-chefe das FDI, o general
Goren, que avisara a Gur que ele
desejava ser o primeiro homem a
aproximar-se do Muro, adentrou
a Cidade Velha carregando um
Sefer Torá e um Shofar. Um dos
comandantes da companhia de
tanques o carregou e, do alto do
tanque, o rabino Goren tocou
bem alto o Shofar, continuando a
soprar, ele correu para o Monte do
Templo. Lá, abraçou Gur e pediu
vinho para fazerem o Kidush. Em
seguida, ainda agarrado ao Sefer Torá,
o rabino Goren puxou uma dança
chassídica com os paraquedistas e
começou a cantar o Hatikva, mas os
soldados o interromperam entoando
a nova canção de Naomi Shemer,
“Yerushalaim shel Zahav”, Jerusalém
de Ouro.
Centenas de soldados, vindo
por todos os lados com os rostos
banhados de lágrimas acorriam
à pequena ruela diante do Muro.
Aproximavam-se do Kotel para
tocar as pedras milenares, alguns
comprimiam o rosto nas pedras.
Durante dois dias tinham obedecido
a ordens, lutado contra a dor e o
medo; tinham sangrado, foram
feridos, tinham visto tombar seus
camaradas, mas agora estavam lá!
Enquanto o suor da batalha ainda
brilhava neles repetiram as palavras
do rabino Goren: “Shehecheyanu…
Aquele que nos manteve com vida,
nos preservou, e nos permitiu
chegar a este momento com vida...”.
A seguir, em posição de sentido e
BIBLIOGRAFIA
Pressfield, Steven, A Porta dos Leões, Editora
Contexto
Rabinovich,Abraham,The Battle for
Jerusalem: An Unintended Conquest (50th
Anniversary Edition), ebook Kindle
Clifford, Irving, The Battle Of Jerusalem
- A Short History Of The Six-Day War: June
1967, eBook Kindle

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A batalha por Jerusalem

  • 1. urante dois milênios, o Povo Judeu pediu diariamente em suas orações que Jerusalém e seu ponto central espiritual, o Monte do Templo, voltassem às nossas mãos. “Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém...” escreveu o profeta Yirmiyáhu durante o exilio na Babilônia. O Povo Judeu nunca se esqueceu de sua capital eterna. A cidade de David sempre foi o foco do anseio de nosso povo da volta à Terra de Israel. O próprio termo “sionismo” advém da palavra “Tsion”, que é um dos nomes da cidade sagrada de Jerusalém. No dia 7 de junho, apenas 48 horas após o início da Guerra dos Seis Dias, o sonho há muito acalentado se concretizou tão rápida quanto inesperadamente. Uma mensagem percorreu toda Israel: “Har Habait Beiadeinu” - o Monte do Templo está em nossas mãos!”. Naquele dia, o som do Shofar tocado ao pé do Kotel anunciava ao mundo que os Filhos de Israel haviam voltado para seu Muro. Jerusalém, o coração e alma de Eretz Israel e do Povo de Israel, finalmente reunificada, é a capital política do moderno Estado de Israel. A reconquista foi uma luta árdua, muitos sacrificaram sua vida, outros tantos foram feridos, mas o heroísmo 67 A captura da Cidade Velha de Jerusalém, em 1967, foi, para todos os judeus, uma catarse emocional que é comparável e, em certos aspectos, até superior ao estabelecimento do Estado de Israel, em 1948. Sua reconquista foi um capítulo à parte na história da Guerra dos Seis Dias, o mais importante. ISRAEL A Batalha por Jerusalém dos jovens soldados será lembrado por gerações. Elie Wiesel, testemunha ocular da tomada de Jerusalém, escreveu: “O combate ainda perdurava em várias frentes... mas isso não impediu que as pessoas, num êxtase místico, acorressem em direção à Cidade Velha, que estivera inacessível a todos os judeus durante o domínio jordaniano... sobreviventes de todo tipo de inferno, rostos de todo tipo de destino - vi-os correndo, ofegantes... para tocar o Muro. E lá chegando, incrédulos e estupefatos, como crianças que temem o despertar por não querer o fim do sonho, detêm-se, de súbito. Eis que se ouve um choro convulsivo, preces sendo entoadas, enquanto outros dançam, dando vazão à emoção. O país inteiro dançou. A história judaica dançou. Explodindo de júbilo e gratidão pelo privilégio de testemunhar aquele momento, pensei: ‘É isto, Jerusalém, o lugar que atrai e irmana todos os judeus, a verdadeira cidade da saudade e promessa eternas’”. Em compasso de espera Em junho de 1967, mesmo quando Israel percebeu que não haveria como evitar um novo conflito contra o Egito e seus aliados, a reconquista de Jerusalém Oriental não estava entres os planos que traçaram. Moshé Dayan, D junho 2017
  • 2. ISRAEL 68 A FOTO DOS TRÊS EX-PARAQUEDISTAS NA FRENTE DO KOTEL, SE TORNOU UMA IMAGEM ICÔNICA DA GUERRA. A IMAGEM FOI TIRADA PELO FOTÓGRAFO ISRAELENSE DAVID RUBINGER então ministro da Defesa, e o Comando Supremo das Forças de Defesa de Israel (FDI) sabiam que para ganhar a guerra deviam, antes de tudo, derrotar o Egito e concentrar a maior parte de suas forças na frente egípcia. Dayan ordenara aos comandantes do Exército não se envolver em “ações militares que pudessem complicar a posição de Israel diante da Jordânia”. No dia 5 de junho, 45 minutos após os aviões israelenses iniciarem o ataque às bases egípcias, o general Odd Bull, comandante de Supervisão de Tréguas das Nações Unidas, recebeu um telefonema do Ministério das Relações Exteriores de Israel solicitando sua presença. Ao chegar ao Ministério, foi-lhe entregue a mensagem de Levi Eshkol para o rei Hussein. O primeiro-ministro pedia, mais uma vez, que a Jordânia não entrasse no conflito. “Se a Jordânia não fizer nenhum ato hostil, Israel tampouco o fará”. O rei da Jordânia ignorou os apelos, pois chegara à conclusão de que sua sobrevivência política dependia de ser visto como parte da coalizão na luta contra Israel. Durante 19 anos, jordanianos e israelenses tinham-se preparado para o dia em que voltassem a se enfrentar belicamente. Para Israel, a perda da parte oriental de Jerusalém, principalmente da Cidade Velha de Jerusalém, em 1948, na Guerra de Independência, foi um dia de luto. Nas palavras de Ben-Gurion, “um motivo para chorar por gerações”. A luta contra a Legião Jordaniana foi sangrenta; treinada e armada pelos britânicos, a Legião era a melhor do mundo árabe. Os judeus lutaram corajosamente, mas Israel, a população da Jerusalém jordaniana foi tomada por grande euforia. Os alto-falantes das mesquitas incitavam os fiéis a massacrarem os judeus. O líder da OLP, Ahmed Shukeiry, chegou à cidade na sexta-feira, 2 de junho, para participar das preces na Mesquita al-Aksa. Multidões o carregaram nos ombros. Em um discurso inflamado, ele disse: “Israel está às vésperas da destruição e haverá poucos sobreviventes”. Ironicamente, quando a Guerra eclodiu, Shukeiry estava entre os primeiros a fugir da cidade. Enquanto a Jerusalém jordaniana vivia uma histeria eufórica coletiva, a judaica se preparava para enfrentar uma batalha sangrenta, que teria que ser lutada rua por rua, de casa em casa. Nas semanas que antecederam a guerra foi intensa a mobilização do setor civil. As autoridades municipais implementaram planos tão detalhados quanto os dos militares. Desde o fechamento do Estreito de Tirã, a agência chamada PESACH (um acrônimo das palavras hebraicas para “evacuação, bem- estar e enterro”) começou a preparar edifícios públicos para servirem de centros de evacuação.Temendo-se a ocorrência de milhares de mortos, foi preparado um monte ao lado do Monte Herzl para abrigar um novo cemitério. Havia estimativas que o número de mortos poderia chegaria a 2 mil, se aviões jordanianos não bombardeassem a cidade, caso contrário, a 6 mil. Como as FDI temiam o uso de gases mostarda e nervoso, usados pelo Egito no Iêmen, oficiais da Haga, defesa civil, receberam treinamento de como agir frente a tal eventualidade. Voluntariar-se tornou-se uma obsessão. Milhares ficavam em fila para doar sangue, outros tantos tiveram que se render, e a Cidade Velha ficou sob a soberania da Jordânia. Conquistadores cruéis, os jordanianos mataram ou expulsaram todos os judeus da área, destruindo suas 60 sinagogas, incendiando-as ou profanando-as, e rasgando centenas de Sefarim. E, apesar dos acordos internacionais de cessar-fogo que garantiam a judeus e cristãos o livre acesso aos lugares sagrados, esse acesso foi proibido aos judeus. Os cristãos que apresentavam certificado de batismo podiam entrar durante certos feriados. Nas quase duas décadas os jordanianos haviam montado linhas de defesas praticamente intransponíveis: arame farpado, trincheiras profundas e campos minados corriam ao longo da Linha Vermelha, a linha do armistício de 1948 que separava as duas partes de Jerusalém. A linha estendia-se por pouco mais de 8 km de norte a sul. Para preocupação dos comandantes das Forças de Defesa de Israel (FDI), a muralha da Cidade Velha era o ponto central das defesas da Jordânia. Desde maio de 1967, perante a possibilidade de uma guerra contra
  • 3. REVISTA MORASHÁ i 96 69 junho 2017 particular, estava nas mãos da Brigada de Jerusalém, composta em sua maioria por reservistas, muitos com mais de 30 anos, enquanto os israelenses entre 45 e 49 anos compunham os quadros da Haga. Na noite de domingo, 4 de junho, Narkiss reuniu-se com seus comandantes e um oficial da Inteligência para examinar os deslocamentos das forças da Jordânia. O general estava preparado para a eventualidade de um ataque, mas não acreditava que seria muito mais do que uma troca de tiros transfronteiriços. Caso os jordanianos atacassem pesadamente em Jerusalém o plano de Narkiss era romper as linhas inimigas com sua Infantaria até o Monte Scopus, localizado na parte jordaniana, e levar seus blindados até um terreno elevado entre o Monte e o Palácio de Governo. O general Haim Bar-Lev, vice- chefe do Estado Maior, porém, o alertara de que suas forças não tinham autorização para atravessar a Linha Vermelha. As ordens do general Yitzhak Rabin, então chefe do Estado Maior, eram claras: “Nada deve ser feito para provocar os jordanianos. Caso a Jordânia abra fogo, Israel responderá, mas sempre tentando evitar a escalada do conflito”. Os eventos, no entanto, foram tomando vida própria. O ataque jordaniano Após o ataque surpresa de Israel, Nasser fez de tudo para manter a Jordânia como aliada. Ele sabia que alguns oficiais jordanianos haviam aconselhado ao rei que ao menos esperasse alguns dias para ver o andamento do conflito, antes de atacar Israel. O alto comando egípcio descaradamente “informou” a Hussein que ¾ da Força Aérea de Israel tinha sido destruída e que aviões e o exército egípcio estavam atacando Israel. E uma mensagem participavam de cursos de primeiros socorros das equipes de resgate da Magen David Adom, mais de 2 mil voluntários cavavam diariamente trincheiras perto de apartamentos e escolas que não possuíam abrigos próprios (40% das construções), entre eles 500 alunos de ieshivot. No Shabat após o fechamento do Estreito de Tirã, um dos comandantes da Haga viu alunos de ieshivot, liderados por dois rabinos ortodoxos, cavando trincheiras. Caberia ao general Uzi Narkiss, comandante das FDI na região Central, com sete brigadas sob suas ordens, enfrentar uma ofensiva jordaniana. Sua principal força de reservistas, a 10a Brigada Mecanizada, estava estacionada na planície costeira. Em caso de guerra, seus velhos tanques Sherman teriam que enfrentar uma brigada jordaniana de 88 modernos tanques Patton estacionados próximo a Jericó. A defesa de Jerusalém, em No dia 24 de maio – Yom Yerushalayim – Dia de Jerusalém, Israel festejou 500 aniversário da libertação e unificação da Cidade Sagrada sob soberania judaica
  • 4. ISRAEL 70 1 Marcado por uma intensa movimentação de tropas foi imediatamente enviada ao general egípcio que coordenava as forças árabes na frente jordaniana, ordenando-lhe iniciar a ofensiva. O que o rei não sabia era que Israel praticamente vencera a guerra três horas após seu início quando sua Força Aérea destruíra a egípcia. Na manhã de 5 de junho, o Comando Geral das FDI ainda pensava em termos de contenção do conflito, não em expandi-lo. Apesar de Hussein não atender ao apelo de Israel, poucos na alta hierarquia militar e política de Israel acreditavam que haveria uma guerra em grande escala com a Jordânia. A seu ver, caso Hussein interviesse, seria apenas proforma, para satisfazer seus aliados. Baseavam- se, entre outros, no fato de que desde 1963 o rei mantinha reuniões secretas com israelenses para evitar mal-entendidos que pudessem levar a um conflito com o Estado Judeu. A atitude em relação à Jordânia foi mudando a partir do final daquela manhã por dois fatores. O primeiro era a confirmação do sucesso do ataque aéreo preventivo, e, o segundo, a notícia de que os jordanianos estavam atacando pesadamente alvos militares e civis, e que sua artilharia de longo alcance abrira um pesado fogo sobre Jerusalém Ocidental. Moshé Dayan, então, realocou a 55a Brigada de Paraquedistas – brigada de reserva sob o comando do então coronel Mordechai (Motta) Gur – para defender a Jerusalém judaica. À medida que as horas passavam tomava forma entre os membros da hierarquia militar e política a possiblidade, até então descartada, de tomar Jerusalém Oriental. O general Narkiss, o ministro Yigal Allon, Menachem Begin e o rabino-chefe do Exército, general Shlomo Goren, entre outros, começam a pressionar para que fosse autorizado inclusive um ataque à Cidade Velha. O general Narkiss não escondia o fato de que se Israel desse início, em Jerusalém, à guerra de movimento1 , ele tentaria tomar a Cidade Velha. Sua motivação era tanto nacional como pessoal. Ele queria corrigir o que considerava a maior mancha em sua carreira militar – ter perdido a Cidade Velha 19 anos antes. Ele se considerava de certa forma responsável pelo fato de que os judeus não podiam rezar no Kotel. “Durante uma noite tive o Portão da Cidade em minhas mãos, mas me foi arrebatado”. A História parecia estar-lhe dando e dando a Israel uma segunda chance... A batalha por Jerusalém Eram por volta das 8h30 quando as bombas jordanianas começaram a cair na parte judaica da Cidade. A Rádio de Amã anunciava que Israel atacara a Jordânia e, 20 minutos depois, o rei Hussein declarou pelo rádio: “A hora da vingança chegou...”. O general Narkiss, após ordenar alerta geral em toda a área do Comando Central e dar instruções para os alarmes de ataque aéreo, telefonou a Teddy Kollek, então prefeito de Jerusalém, dizendo: “Estamos em guerra, mas está tudo sob controle. Você está prestes a ser o prefeito de uma Jerusalém Unificada!”. Dois eventos aceleraram a decisão das FDI de avançar sobre a parte jordaniana de Jerusalém. O primeiro ocorreu por volta das 14 h. O comandante da Brigada de Jerusalém informou Narkiss que legionários jordanianos haviam TROPAS ISRAELENSES ENTRAM NA CIDADE VELHA DE JeRUSALÉM PELa PORTa DOS LEÕES TANQUES E CAMINHÕES ISRAELENSES A CAMINHO DA CONQUISTA DO LADO DE JERUSALÉM ATÉ ENTÃO SOB CONTROLE JORDANIANO
  • 5. REVISTA MORASHÁ i 96 71 junho 2017 ocupado o antigo Palácio de Governo onde ficava o Q.G. das Nações Unidas. O local era militarmente estratégico, pois domina a estrada Bethlehem- Hebron pela qual os jordanianos podiam obter reforços. Israel teria que desalojar os legionários do prédio e ocupar os entroncamentos por onde tropas inimigas podiam se movimentar. Narkiss ligou ao comandante da 10a Brigada de Blindados. “Coloquem suas forças na estrada para Jerusalém. É a nossa chance de conquistá-la!”. Mas foi o anúncio da rádio egípcia afirmando que tropas jordanianas haviam capturado o Monte Scopus que mudou o curso do conflito. Israel sabia que o anúncio era falso, mas também, sabia que significava que um ataque jordaniano ao enclave israelense era iminente. Uma das preocupações das FDI sempre foi a segurança dos 122 soldados estacionados no Monte Scopus, no lado jordaniano da cidade. A Brigada de Jerusalém podia deter qualquer ataque, mas se o Monte caísse em mãos jordanianas, sozinha a Brigada não conseguiria furar as formidáveis defesas construídas em volta dele pelos inimigos. Com a chegada da 55a Brigada de Paraquedistas comandada pelo coronel Gur, a batalha por Jerusalém toma outras proporções. O Comando Geral autorizara Narkiss a iniciar um contrataque assim que o batalhão de paraquedistas chegasse a Jerusalém. A ordem era chegar até o Monte Scopus e libertar a guarnição de soldados israelenses que estavam cercados. Para consegui-lo, teriam que romper as defesas jordanianas, penetrar campos minados, destruindo sólidas defesas fronteiriças, e lutar através de pelo menos 1,5 km em uma cidade edificada, na qual ninhos de metralhadoras e homens armados com rifles estavam emboscados atrás de janelas. E, assim que o Monte Scopus estivesse em suas mãos, tomariam posições estratégicas na Jerusalém Oriental para criar uma situação que lhes permitisse irromper pela Cidade Velha. Gur estava ciente de que ele e sua brigada iriam enfrentar um combate difícil, mortal, mas estavam prontos. Tendo nascido em Jerusalém, assim como Yitzhak Rabin, Uzi Narkiss e Moshé Dayan, há anos Gur acalentava o sonho de tomar parte de uma batalha pela cidade. Ao chegar a Jerusalém Gur incumbe os três comandantes de batalhão de sua Brigada, cada um com objetivo específico, para preparar um assalto cruzado à Linha Vermelha, ao longo de um setor demarcado ao norte pela Colina da Munição e pela Escola de Polícia da Jordânia, no centro pelos bairros Shaikh Jerrah e Wadi Joz, e ao sul pelo Hotel American Colony e pelo Museu Rockefeller. Os comandantes tinham uma hora para traçar seus planos para, em seguida, colocá-lo em prática. Os israelenses lutariam, à noite, num ambiente urbano desconhecido, pois O Ministro da Defesa Moshe Dayan, o Chefe do Estado-Maior Yitzhak Rabin, o Gen. Rehavam Ze’evi (esq.) e o Gen. Uzi Narkiss caminham na Velha Jerusalém APÓS A RECONQUISTA DA CIDADE VELHA, SOLDADOS CHEGAM À MESQUITA DOMO DA ROCHA. 7 DE JUNHO 1967
  • 6. ISRAEL 72 há 19 anos nenhum judeu podia aventurar-se pelas ruas da Jerusalém Oriental e havia apenas meia dúzia de mapas mal feitos da parte jordaniana da cidade. Os soldados não poderiam contar com reforços, não teriam apoio de blindados e armamentos pesados, tampouco tinham alguma experiência em atacar uma cidade daquele porte ou de combate de casa em casa, ainda tendo que ter o cuidado para não danificar locais sagrados de três religiões. Uma missão que parecia impossível foi realizada: na manhã do dia 6 de junho, após uma luta impiedosa, estavam em mãos de Israel o Monte Scopus, assim como pontos estratégicos. Ainda estavam em mãos da Legião Árabe o Cume Augusta Victoria, o Monte das Oliveiras e a Cidade Velha. Mas, as Brigadas Harel e de Jerusalém já controlavam três dos quatro acessos à cidade. As vitórias custaram caro para Israel; muito sangue de jovens israelenses havia sido derramado durante a longa noite. Muitas vidas ceifadas. O número de feridos era imenso e as maiores baixas eram dos comandantes. Mas, graças ao heroísmo dos paraquedistas e dos outros soldados, naquelesegundo dia de guerra, era grande a possibilidade de uma Jerusalém unificada e israelense. Algo que até então estava além de qualquer esperança ou imaginação agora estava ao alcance de Israel. Israel, porém, encontrava-se perante um grande dilema de tomar ou não a Cidade Velha. As implicações políticas e diplomáticas eram muitas: o Vaticano, centenas de milhões de cristãos e de muçulmanos iriam aceitar que seus lugares sagrados ficassem em mãos de judeus? Mas não podíamos perder a possibilidade histórica, única, que se abria depois de dois mil anos de exílio de voltar a ter em nossas mãos o Kotel Hamaaravi. O rabino chefe das FDI, general Shlomo Goren, o general Narkiss, o coronel Motta Gur, Menachem Begin, Levi Eshkol, Abba Eban e tantos outros pressionaram Moshe Dayan que ainda relutava em ordenar a tomada da Cidade Velha. Pouco antes do amanhecer do segundo dia Begin ligara para Dayan informando que o Conselho de Segurança da ONU iria declarar um cessar-fogo. “Se isso acontecer”, disse Begin com voz perturbada, “a Cidade Velha, o Muro das Lamentações e o Monte do Templo permanecerão em mãos árabes. Isso não podemos permitir”. Tomando a Cidade Velha De acordo com o plano rapidamente traçado pelo Alto Comando, Israel iria tomar as colinas que circundam Jerusalém – além do Monte Scopus, o Cume Augusta e o Monte das Oliveiras - e manter as posições até segunda ordem. As forças de Israel iriam estabelecer um anel de aço ao redor da Cidade Velha, mas manteriam um corredor aberto para a Legião Árabe poder escapar. Era imprescindível preservar os Locais Sagrados. O que Israel pretendia era deixar a Cidade Velha cair por si só. Moshé Dayan ainda estava com dúvidas, temia a indignação da comunidade mundial caso os locais sagrados cristãos e muçulmanos fossem destruídos ou danificados pela ação israelense. Pior ainda seria tomar o Kotel e ter que devolvê-lo perante a pressão internacional, Dayan viu isso acontecer no Sinai. Toda relutância de Dayan se esvaiu ao receber o comunicado de que as forças jordanianas estavam abandonando o local, e que poucos ainda resistiam. muro ocidental é recapturado; a rádio do exército israelense anuncia: “o kotel está em nossas mãos”
  • 7. REVISTA MORASHÁ i 96 73 junho 2017 Os comandantes finalmente receberam o tão esperado sinal verde. Yitzhak Rabin ordenara a Gur: “Irrompam imediatamente pela Cidade Velha e a conquistem”. Gur aguardava por aquela ordem nas últimas 24 horas; de fato, durante toda a sua carreira militar. Ele sabia que a Nação Judaica vinha esperando ouvir aquela ordem há 19 séculos – a última vez que um exército judeu estivera nas muralhas da Cidade Velha fora durante o sítio de Jerusalém, comandado pelo general Tito, futuro imperador de Roma.Ironicamente, ainda que o exército tivesse planos de contingência para virtualmente cada alvo e circunstância concebíveis no Oriente Médio, não havia um sequer que cobrisse a tomada da Cidade Velha, mas com a possibilidade de um iminente cessar-fogo o ataque tinha que ser executado o mais rápido possível. Israel iria estrangular a Cidade Velha pelo Sul. Até então a ordem do Alto Comando era não atingir a Cidade Velha com artilharia, a despeito da provocação, mas com a iminência do ataque, foi dada permissão de bombardear a extremidade esquerda da cidade murada, por trás do ponto de entrada escolhido – a Porta dos Leões. Os canhoneiros precisavam tomar cuidado para evitar que se atingisse o Monte do Templo, a poucos metros à direita da Porta dos Leões. A decisão de irromper justamente por essa entrada, na muralha oriental da cidade, fora tomada ainda naquela manhã. Até o final da noite anterior o plano era avançar pela Porta de Herodes, na muralha norte. Foi do topo do Monte das Oliveiras que o coronel Motta Gur ordenou à sua Brigada de Paraquedistas para atacar. “55a Brigada de Paraquedistas”, disse Gur a seus homens, “estamos daqui de cima, com a Cidade Velha a nossos pés. Dentro em breve adentraremos na antiga cidade de Jerusalém, que por gerações foi o motivo de nossos sonhos e a razão de nossas aspirações. Nossa brigada recebeu o privilégio de ser a primeira a nela entrar.” Ordenou a seguir que todas as unidades se pusessem em marcha. As quatro companhias do batalhão atingiriam as quatro principais posições jordanianas na colina, de RABINO SHLOMO GOREN TOCA O SHOFAR NA ÁREA DO KOTEL frente, logo ao início da tarde. Gur se unira a seus homens. Os veículos militares aproximaram- se da Porta dos Leões vindo pelo Norte, justo quando os tanques chegavam do Sul. Os tiros ainda vinham ao longo da muralha da Cidade Velha e os tanques respondiam com suas metralhadoras, abstendo-se de atirar bombas para evitar danificar o Domo da Rocha. O general Narkiss, que estava no Monte Scopus com seu grupo avançado de comandos, quando ouviu Gur ordenar o avanço, também seguiu em direção à Porta dos Leões. Com ele no jipe estava o general Haim Bar-Lev. Narkiss não conseguia esquecer sua última entrada na Cidade Velha, 19 anos antes. “Não deveríamos entrar se for para sair de novo”, bradou. “Daqui, nunca mais sairemos”, respondeu-lhe Bar-Lev. Uma vez aberto a Porta dos Leões, Gur ordenou a seu motorista ir em direção ao Monte do Templo. Este surgiu imponente, e vazio. Depois de uma luta ferrenha nenhum jordaniano parecia estar lá. PAUSA PARA UM DESCANSO, APÓS A ÁRDUA BATALHA PELA RECONQUISTA DE JERUSALÉM
  • 8. ISRAEL 74 SOLDADOS COMEMORAM DIANTE DO KOTEL fazendo continência ao Kotel, eles recitaram chorando o Kadish pelos camaradas tombados na batalha. Enquanto o rabino Goren cantava o Hatikva, cada um deles sabia que a volta do Kotel HaMaaravi ao Povo Judeu era uma questão sobre a qual a opinião das Nações Unidas ou qualquer política regional eram totalmente irrelevantes, eles o haviam reconquistado e Israel aí ficaria. O general Dayan somente conseguiu chegar ao Monte do Templo no início da tarde entrando pela Porta dos Leões, acompanhado por Rabin. De pé, diante do Muro, escreveu um bilhete que inseriu no Muro: “Que a paz desça sobre a Casa de Israel”. Ordenou no radio a todas as unidades cessar-fogo e dirigindo-se ao general Narkiss disse: “O Monte do Templo está em nossas mãos. Repito. O Monte do Templo é nosso”. Ao chegar no topo do Monte ordenou que a Bandeira de Israel fosse hasteada sobre o Kotel HaMaaravi! O relógio marcava 10h21– 48 horas após o início do combate em Jerusalém.  Os paraquedistas que iam chegando à então estreita rua diante do Muro ficavam em silêncio, conscientes de que eram os primeiros soldados de um exército judeu a lá chegar em dois milênios. O rabino-chefe das FDI, o general Goren, que avisara a Gur que ele desejava ser o primeiro homem a aproximar-se do Muro, adentrou a Cidade Velha carregando um Sefer Torá e um Shofar. Um dos comandantes da companhia de tanques o carregou e, do alto do tanque, o rabino Goren tocou bem alto o Shofar, continuando a soprar, ele correu para o Monte do Templo. Lá, abraçou Gur e pediu vinho para fazerem o Kidush. Em seguida, ainda agarrado ao Sefer Torá, o rabino Goren puxou uma dança chassídica com os paraquedistas e começou a cantar o Hatikva, mas os soldados o interromperam entoando a nova canção de Naomi Shemer, “Yerushalaim shel Zahav”, Jerusalém de Ouro. Centenas de soldados, vindo por todos os lados com os rostos banhados de lágrimas acorriam à pequena ruela diante do Muro. Aproximavam-se do Kotel para tocar as pedras milenares, alguns comprimiam o rosto nas pedras. Durante dois dias tinham obedecido a ordens, lutado contra a dor e o medo; tinham sangrado, foram feridos, tinham visto tombar seus camaradas, mas agora estavam lá! Enquanto o suor da batalha ainda brilhava neles repetiram as palavras do rabino Goren: “Shehecheyanu… Aquele que nos manteve com vida, nos preservou, e nos permitiu chegar a este momento com vida...”. A seguir, em posição de sentido e BIBLIOGRAFIA Pressfield, Steven, A Porta dos Leões, Editora Contexto Rabinovich,Abraham,The Battle for Jerusalem: An Unintended Conquest (50th Anniversary Edition), ebook Kindle Clifford, Irving, The Battle Of Jerusalem - A Short History Of The Six-Day War: June 1967, eBook Kindle