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Quadro Íntimo
   Paulo Maia
Quadro Íntimo

                   Existencial
           O Grito Rouco do Silêncio
       A Face da Vida (que não se esconde)
               Dressed on Night
            A Direção do Equilíbrio
                  O Eu Sentir
            Objetos Não Percebidos
        Perto do Sonho do Planeta Terra
                 Sua Presença
                O Mesmo Tema
                  Rosto Pálido




                                                                  2
Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
Existencial
Tenho estado aqui e ali
Sem precisar o tempo; sem necessitar do vento.
A vida me persegue a cada instante.
Abro os olhos e me vejo às voltas
com um novo ritmo.
Que me carrega aonde não quero ir.
Faço de conta que não é comigo e
quando me dou conta:
Vislumbro o que vejo, sinto e ouço.
Faço o que quero e o que não quero.
Medito às vezes quando tenho com o quê.
Finjo cansaço e acredito nisso.
Sento me diante de tudo e choro por nada.
E agora condenado eu escapo.
Convencido de que aquilo que sou,
não é aquilo que sempre quis ser,
mas aquele que sempre fui e forçosamente,
deliciosamente, sempre serei.

                                                                   3
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
O Grito Rouco do Silêncio
Siga teu sonho em seus domínios
Vença o acaso, se sirva do vinho
Siga teus passos, não os perca de vista
Aonde quer que vá dar, passe em revista
Segue teu caminho: o teu destino
Se há o que lhe agrada, afague-o no ninho
Siga a coragem, esqueça o não
Perceba o sim que invoca a razão
Dê cor aos olhos que a tudo vê
Não espere o espelho falar por você
Siga a música. O teu instinto
Siga a loucura e o seu fascínio
Siga teu medo, teu desespero
Liberte os anseios do cativeiro
Volte ao princípio, esqueça o resto
Perceba o erro antes de seu manifesto
Dê atenção ao Grito Rouco do Silêncio.


                                                                   4
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
A Face da Vida (que não se esconde)
Tanto faz, teu olho acusa
minha paz que a mente recusa
Algo mais que o verso procura
Tom lilás na fonte madura
Um pouco de tudo que venha à nós
e que faça vibrar...
Desfazendo o nó no escuro
Sair julgando um ato indeciso
Descansando no meio do tráfego
Violando o que for preciso
A face da vida que não se esconde
e que venha brilhar...
Todos loucos saindo para o espaço
É verdadeiro aquilo que faço
Atiramos a roupa pela janela
E saímos todos nus pela cidade
Um som infinito responde agora
e que faça calar...

                                                                   5
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
Dressed on Night
Dressed on night
Dressed in an empty life
Living in a life
Maybe sometimes I could die
Thinking about life
Thinking about our good times
Caught in a line
Wonder if I could be alright
You should stay
You could be there everyday
I’m on my way
But you don’t have to be afraid
Dressed on night
I’ll be alright
Naked on light
Cover it up
Before I die


                                                                   6
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
A Direção do Equilíbrio
Teu movimento inclinado e impreciso
Fácil de ser, de falar, de ouvir
Vai de um lado para cá que não outro
Vem do incerto desestabilizar
Só no equilíbrio vivo do pêndulo
Respira-se o hálito suave da brisa
Sem referência de espaço ou tempo
Trava-se o conflito do amor no momento
Não se sabe ao certo o lugar em que estará
Não há denúncia de nenhuma trilha
O que se vê é uma mera imagem virtual
No vazio da nossa visão terminal
Difícil manter o contato local
Desejo que fixa um movimento vocal
Meio assim que perplexo na horizontal
Congela o caos num declínio fatal
Ora aqui outra ali não se sabe porquê
Acompanhar é uma questão do íntimo
Ah!, sim. Vou conseguir me localizar
antes que o mundo resolva parar.
                                                                   7
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
O Eu Sentir
Fiz muito e de tanto querer não fiz tudo
E não é só sofrer e fingir mais nada
Quis demais e de pouco tentar
Preferi fugir
E não é só sentir e viver o mundo
Sim, eu flertei e só não pude sofrer de solidão
Reclamei tal sentido ao meu coração
E rastejei
Traduzi em delírios a minha aflição.
O meu corpo em contato com o desespero
Rastejei como sina da minha condição
Amanheci com a verdade nítida em minha visão
Uma palavra ecoa enfim no meu coração
Fiz e acertei e minha sombra acenou em minha direção
Percebi a realidade em mínima fração
Mas não deixei de ficar inclinado
em pedir perdão
De querer e fazer o que quis muito
Agora é respirar e entre o pó e a fumaça
segue meu argumento e minha voz estilhaçada
E não há o que faça parar e voltar.
                                                                   8
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
Objetos Não Percebidos
Vejo em sons emaranhados o seu corpo ausente do meu
Sinto o vento descontrolado
Que deixava o seu cabelo sempre arrumado
Rasgo a foto descolorida que já sem efeito enfeita meu viver
Desprezo esse sentimento que me ataca
no peito mesmo sem merecer.
Nunca considere a ira que essa despedida fez valer
Esqueça a frase esquecida que nunca tentamos dizer
Fomos e fui muito tolo em não perceber
O objeto inanimado em que se tornou o nosso calor
Vejo em cinza e vermelho seu toque indolor
Trago o gole seco e espesso de um vinho sem cor
Quero nesse dia a dia a força da nossa agonia
E que estanque a hemorragia do corte no nosso amor
Espero e sempre observo meu comportamento
Que não está menos aberto para um novo relacionamento
Faço de modo imediato
Mas é melhor ter tato para manipular
Peça e não me espere, aguarde
Basta ver o dia em que você amanheceu
sem ódio nem amor.
                                                                   9
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
Perto do Sonho do Planeta Terra
Perto das sensações mas longe dos olhos
Colidimos com o óbvio que sempre esteve ali
Mantendo o corpo sempre reto e ereto
Podemos ter o espírito inclinado para a coragem
Nem tão místicos, nem tão ridículos
Os labirintos da palavra mudam sempre de lugar
Vem nos afastar do imediato e nos dispersar por causa do fato
E é claro que é no infinito que queríamos estar
Não ter que envelhecer, somente ver e crescer
A vida, o amor, tudo o que não tem forma
No uso pleno de nosso intelecto
Escapando das armadilhas do planeta
Enveredando pelo asfalto adentro
E descansando num copo de veneno
Para nos embriagar de carícias e transcender na malícia
Desafiando aqueles que tem experiência
Demonstrarem o quanto sabem de nada
Gritam ordem na passeata
Enquanto os outros respiram o sexo na madrugada
Não há o que quebrar nem o que consertar
Corriqueiros fatos fluem de mão dadas para o inesperado
E assim acabamos extasiados com a vida
Esperando o bote certeiro da morte
E de dia lembramos da lua e a noite dormimos como o sol.
                                                                   10
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
Sua Presença
Muito leve e tão próprio
Movimento exótico e vivo
Um cuidado ao semear
O que há de bom no ar
Ao longe houve certezas
E um pouco de inocência
Flagrou-se o teu suspiro
A mágica do instante registrou
Qual foi o momento em que você nasceu ?
Por onde passou o vento que
te concebeu ?
Levo o teu amor um pouco mais comigo
No deslize do seu encanto
Faz-se respirar
Faz me palpitar
Sua presença e seu estar




                                                                   11
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
O Mesmo Tema
O mesmo tema e as mesmas notas
E mesmo assim uma canção nova
Eu já não sinto o medo e a noção do saber
Daquilo tudo que me deram viver
A solidão hoje tão fraca vem nos
dizer de que se trata
Para o seco sou vermelho
Bem no passo da natureza
Para o sólido sem certeza
Do que pode ser pior
O mesmo tema e a mesma nota
Vêm para crer que não são tão novas




                                                                   12
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
Rosto Pálido
Aparecem faces desbotadas dobrando esquinas
Enigmas impedindo a compreensão
Só enxergamos o que vemos
Personagens leves, embriagados
da autoconfiança depositadas em
anseios tão frágeis
Onde tudo viver um rosto pálido indaga:
Falta-lhe o som e a coragem
Sobre-lhe o medo e a vertigem
Estando só nada vem a lhe manter quieto
Faces gritam e um demasiado cuidado com
o vento que a tudo pode ruir
Com a fagulha que a tudo pode incendiar
Desconfiadas com o sol que se abriga
por de trás de nuvens desesperadas
a derramar vida à clareza das idéias.
Desnudar a intenção
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misteriosamente vivo.


                                                                   13
 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
Quadro Íntimo
               Sampa, 1997
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Quadro Íntimo

  • 1. Quadro Íntimo Paulo Maia
  • 2. Quadro Íntimo Existencial O Grito Rouco do Silêncio A Face da Vida (que não se esconde) Dressed on Night A Direção do Equilíbrio O Eu Sentir Objetos Não Percebidos Perto do Sonho do Planeta Terra Sua Presença O Mesmo Tema Rosto Pálido 2 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 3. Existencial Tenho estado aqui e ali Sem precisar o tempo; sem necessitar do vento. A vida me persegue a cada instante. Abro os olhos e me vejo às voltas com um novo ritmo. Que me carrega aonde não quero ir. Faço de conta que não é comigo e quando me dou conta: Vislumbro o que vejo, sinto e ouço. Faço o que quero e o que não quero. Medito às vezes quando tenho com o quê. Finjo cansaço e acredito nisso. Sento me diante de tudo e choro por nada. E agora condenado eu escapo. Convencido de que aquilo que sou, não é aquilo que sempre quis ser, mas aquele que sempre fui e forçosamente, deliciosamente, sempre serei. 3 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 4. O Grito Rouco do Silêncio Siga teu sonho em seus domínios Vença o acaso, se sirva do vinho Siga teus passos, não os perca de vista Aonde quer que vá dar, passe em revista Segue teu caminho: o teu destino Se há o que lhe agrada, afague-o no ninho Siga a coragem, esqueça o não Perceba o sim que invoca a razão Dê cor aos olhos que a tudo vê Não espere o espelho falar por você Siga a música. O teu instinto Siga a loucura e o seu fascínio Siga teu medo, teu desespero Liberte os anseios do cativeiro Volte ao princípio, esqueça o resto Perceba o erro antes de seu manifesto Dê atenção ao Grito Rouco do Silêncio. 4 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 5. A Face da Vida (que não se esconde) Tanto faz, teu olho acusa minha paz que a mente recusa Algo mais que o verso procura Tom lilás na fonte madura Um pouco de tudo que venha à nós e que faça vibrar... Desfazendo o nó no escuro Sair julgando um ato indeciso Descansando no meio do tráfego Violando o que for preciso A face da vida que não se esconde e que venha brilhar... Todos loucos saindo para o espaço É verdadeiro aquilo que faço Atiramos a roupa pela janela E saímos todos nus pela cidade Um som infinito responde agora e que faça calar... 5 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 6. Dressed on Night Dressed on night Dressed in an empty life Living in a life Maybe sometimes I could die Thinking about life Thinking about our good times Caught in a line Wonder if I could be alright You should stay You could be there everyday I’m on my way But you don’t have to be afraid Dressed on night I’ll be alright Naked on light Cover it up Before I die 6 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 7. A Direção do Equilíbrio Teu movimento inclinado e impreciso Fácil de ser, de falar, de ouvir Vai de um lado para cá que não outro Vem do incerto desestabilizar Só no equilíbrio vivo do pêndulo Respira-se o hálito suave da brisa Sem referência de espaço ou tempo Trava-se o conflito do amor no momento Não se sabe ao certo o lugar em que estará Não há denúncia de nenhuma trilha O que se vê é uma mera imagem virtual No vazio da nossa visão terminal Difícil manter o contato local Desejo que fixa um movimento vocal Meio assim que perplexo na horizontal Congela o caos num declínio fatal Ora aqui outra ali não se sabe porquê Acompanhar é uma questão do íntimo Ah!, sim. Vou conseguir me localizar antes que o mundo resolva parar. 7 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 8. O Eu Sentir Fiz muito e de tanto querer não fiz tudo E não é só sofrer e fingir mais nada Quis demais e de pouco tentar Preferi fugir E não é só sentir e viver o mundo Sim, eu flertei e só não pude sofrer de solidão Reclamei tal sentido ao meu coração E rastejei Traduzi em delírios a minha aflição. O meu corpo em contato com o desespero Rastejei como sina da minha condição Amanheci com a verdade nítida em minha visão Uma palavra ecoa enfim no meu coração Fiz e acertei e minha sombra acenou em minha direção Percebi a realidade em mínima fração Mas não deixei de ficar inclinado em pedir perdão De querer e fazer o que quis muito Agora é respirar e entre o pó e a fumaça segue meu argumento e minha voz estilhaçada E não há o que faça parar e voltar. 8 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 9. Objetos Não Percebidos Vejo em sons emaranhados o seu corpo ausente do meu Sinto o vento descontrolado Que deixava o seu cabelo sempre arrumado Rasgo a foto descolorida que já sem efeito enfeita meu viver Desprezo esse sentimento que me ataca no peito mesmo sem merecer. Nunca considere a ira que essa despedida fez valer Esqueça a frase esquecida que nunca tentamos dizer Fomos e fui muito tolo em não perceber O objeto inanimado em que se tornou o nosso calor Vejo em cinza e vermelho seu toque indolor Trago o gole seco e espesso de um vinho sem cor Quero nesse dia a dia a força da nossa agonia E que estanque a hemorragia do corte no nosso amor Espero e sempre observo meu comportamento Que não está menos aberto para um novo relacionamento Faço de modo imediato Mas é melhor ter tato para manipular Peça e não me espere, aguarde Basta ver o dia em que você amanheceu sem ódio nem amor. 9 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 10. Perto do Sonho do Planeta Terra Perto das sensações mas longe dos olhos Colidimos com o óbvio que sempre esteve ali Mantendo o corpo sempre reto e ereto Podemos ter o espírito inclinado para a coragem Nem tão místicos, nem tão ridículos Os labirintos da palavra mudam sempre de lugar Vem nos afastar do imediato e nos dispersar por causa do fato E é claro que é no infinito que queríamos estar Não ter que envelhecer, somente ver e crescer A vida, o amor, tudo o que não tem forma No uso pleno de nosso intelecto Escapando das armadilhas do planeta Enveredando pelo asfalto adentro E descansando num copo de veneno Para nos embriagar de carícias e transcender na malícia Desafiando aqueles que tem experiência Demonstrarem o quanto sabem de nada Gritam ordem na passeata Enquanto os outros respiram o sexo na madrugada Não há o que quebrar nem o que consertar Corriqueiros fatos fluem de mão dadas para o inesperado E assim acabamos extasiados com a vida Esperando o bote certeiro da morte E de dia lembramos da lua e a noite dormimos como o sol. 10 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 11. Sua Presença Muito leve e tão próprio Movimento exótico e vivo Um cuidado ao semear O que há de bom no ar Ao longe houve certezas E um pouco de inocência Flagrou-se o teu suspiro A mágica do instante registrou Qual foi o momento em que você nasceu ? Por onde passou o vento que te concebeu ? Levo o teu amor um pouco mais comigo No deslize do seu encanto Faz-se respirar Faz me palpitar Sua presença e seu estar 11 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 12. O Mesmo Tema O mesmo tema e as mesmas notas E mesmo assim uma canção nova Eu já não sinto o medo e a noção do saber Daquilo tudo que me deram viver A solidão hoje tão fraca vem nos dizer de que se trata Para o seco sou vermelho Bem no passo da natureza Para o sólido sem certeza Do que pode ser pior O mesmo tema e a mesma nota Vêm para crer que não são tão novas 12 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 13. Rosto Pálido Aparecem faces desbotadas dobrando esquinas Enigmas impedindo a compreensão Só enxergamos o que vemos Personagens leves, embriagados da autoconfiança depositadas em anseios tão frágeis Onde tudo viver um rosto pálido indaga: Falta-lhe o som e a coragem Sobre-lhe o medo e a vertigem Estando só nada vem a lhe manter quieto Faces gritam e um demasiado cuidado com o vento que a tudo pode ruir Com a fagulha que a tudo pode incendiar Desconfiadas com o sol que se abriga por de trás de nuvens desesperadas a derramar vida à clareza das idéias. Desnudar a intenção Deixar acesso o rosto pálido e não tão misteriosamente vivo. 13 Quadro Íntimo, 1997 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.
  • 14. Quadro Íntimo Sampa, 1997 Todas as letras compostas por Paulo Maia