2. EscritosBruno Rafahell
Escritos é uma coletânea de diversos textos aleatórios paridos
pelo meu cérebro nos últimos dez anos
e que agora resolvi publicar em forma de livro
para quem quiser ler esta primeira edição.
Primeira edição por que eu posso encontrar mais textos
perdidos em cadernos velhos,
e cuspi-los no computador, pessoal ou impessoal
Espero que sirva pra alguém fazer alguma coisa,
nem que seja pra colocar na fogueira na noite de São João.
2013
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3. Metais se fundem
Formando uma massa homogênea
Seus olhos me confundem
Cria um caleidoscópio em minha mente
Me faz sonhar
Me faz viajar
Voltar a ver
Não enlouquecer
Meus olhos vão se abrindo
Se abrindo
Se... Ah!
Sinto frio
Sinto calor
Medo!
Ouço choro, gritos de dor
Dá vontade de chorar também
Mas lembro que não tenho pena de ninguém.
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4. Arrasto os cacos no chão até ficar elástico
Pasto na imensidão desse universo de mel
Corro antes que corroa toda a minha mente
De repente, sem eu perceber,
Que estou caindo do céu.
Mostro pra você a minha vida
Que está indo devagar
Tento disfarçar, que não tiro os olhos de você
Mas dá pra perceber.
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5. Sob o olhar da lua e das estrelas
Espero uma resposta,
Uma luz,
Que me diga o caminho melhor a seguir.
Cansado, eu penso, mas não consigo
Gerar ideias, criar fundamentações
Para onde devo ir, ou voltar.
Aos montes os pensamentos se misturam em minha cabeça
Fazendo-me apagar.
Pontes caem no meu pensamento
Deixando isolados os raciocínios rápidos
E destruindo os neurônios ainda vivos
Será que vou acordar amanhã de manhã?
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6. Mas que dia lindo que eu não vou ver
Que sonhos maravilhosos que não vou realizar
Que lembranças boas que não vou guardar
Que filhos lindos que nunca vou ter.
Uma plateia cheia sem ninguém pra se apresentar
Um avião que voa sem um destino pra chegar
Um jardim florido sem ninguém para cuidar
Um amor tão lindo, mas que não vai durar
Um bebê sorrindo, pouco antes de morrer
Uma semente plantada, que nunca vai se desenvolver
Mas que noite eterna esta que agora estou
Dentro de uma caverna meu mundo se enfiou
Sobrou apenas nada! E no nada estou
Não sei se vivo ou morto
Rastejo na lama da vida
Melhor seria o aborto
Que carregar esta ferida.
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7. As cores ficaram resumidas ao monocromático,
Ou preto e branco.
Estando em trevas, estando com medo.
Vivendo ao redor de corpos, apodrecendo num lago de sangue
Necrófobo, sofrendo em angústias e enlouquecendo.
Necrólatras que riem.
Neste local sombrio, pessoas necrofágicas.
Embebidas em sangue e pus,
Saboreiam o néctar da morte em seus bancos
Acima de mortalhas.
Mazelas da humanidade imunda
Que apesar de agora diferentes,
Serão todos vermes
Depois pó.
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8. Avistada uma luz que vinha não se sabe de onde,
Os olhos se ofuscaram, e a mente ficou confusa.
Parecia que havia acontecido uma explosão nuclear,
Pois após a luz, veio um vento muito forte,
Que arrastou tudo em cima da minha mesa.
Mas não era nada disso,
Eu havia cochilado sobre a mesa com a janela aberta,
E durante a noite faltou energia.
Ao amanhecer, o sol entrou com tudo nos meus olhos,
E a energia voltou ligando o ventilador,
Que estava no máximo de força.
Apenas um sono pela metade,
O que eu achava que era não era nada daquilo,
Eu deitado sobre um monte de papel amassado,
Com algumas palavras ou até frases incompletas
De tentativas inúteis de escrever algum texto significativo,
E que alguém alem de mim pudesse ler.
Mas nada saía a noite toda,
A única coisa que saiu foi: hoje eu acho que não vou dormir direito,
E vou acordar com dor de cabeça.
Isso com certeza alguém pode ler.
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9. Mas eu não sei o que aconteceu comigo nesses últimos tempos,
Parece que foi feita uma lavagem na minha imaginação,
Ou melhor, nessa era da informatização,
Formataram minha imaginação,
Deve ter algum tipo de badblock no meu córtex,
Ou algum dispositivo de armazenamento
foi removido sem segurança,
Sei lá, eu estou sem nenhum tipo de criatividade,
Um mero punk em três acordes não consigo fazer mais.
Estou regredindo? O que haverá de errado comigo?
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10. Quando agente tenta mover o que não existe.
Quando agente pensa em fazer o que não dá.
A reação normal é ficar triste,
Vendo seu sonho acabar.
A madrugada esconde um mistério secular
A juventude se esconde ao envelhecer
Nossa vida se banha de não ser pior
A escuridão sempre começa ao entardecer.
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11. Perdi minhas fichas, tudo que apostei,
Todas as minhas esperanças soterradas por uma frieza
Por uma avalanche de neve.
Vi todo um feixe de luz ser apagado por um vento
Frio e sombrio, que dói os ossos, trava a circulação
Arrasa qualquer um dos mais otimistas humanos
Eu não sou de me entregar, mesmo que minha vida
Esteja em jogo.
Nesta guerra perdi todas as batalhas
Perdi todos os meus soldados, todo um exército
E só sobrou a mim.
Eu tive que me entregar sem levantar a bandeira branca.
Partirei para outra guerra
Preparar-me-ei com mais perfeição
Darei a volta por baixo, por que
Quem dá a volta por cima, tem uma chance de cair
E de quedas eu já cansei
Procurarei uma área menos complexa de se arar,
De conquistar ou até mesmo lutar
E ganhar sem precisar de muita batalha
Talvez a minha imagem esteja manchada
No território onde pretendo fincar bandeira
E também pode haver risco de levar um ataque
Do meu antigo inimigo
Mas será mais fácil de me sair.
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12. Por um momento eu me sinto bem por estar só
E outras vezes me sinto só por estar tão bem
O que me leva a crer que,
Me sinto bem melhor quando estou só.(?)
Mas a solidão causa egoísmo (e já basta),
E... Ficar só depende do bem estar
E do espírito de quem se sente só.
Às vezes eu me vejo cercado de gente
Falo com muita gente
E me sinto sozinho
Hoje estou sozinho comigo mesmo
E a solidão interna, a solidão do subconsciente,
É a pior de todas as solidões.
27/07/2002
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13. Meus papéis de parede escondem
A verdadeira face da minha vida
Meu HD está cheio, minha memória está sobrecarregada.
Não há mais espaço para nenhum KB,
E meus dispositivos de entrada não captam mais nada.
Meu scanner não digitaliza nenhuma imagem
Só existem duas cores na interface dos meus olhos.
O preto e o branco.
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14. Papeis inversos
Lados desiguais
Terapia de choque
Loucura, insensatez, fatos ocultos de uma vida sem sentido.
Muitos papéis rasgados, muitos papéis interpretados
E nunca reciclados.
Deveria existir uma máquina de reciclar gente.
Ao invés de presídios.
É lógico que não quero acabar com o trabalho
Dos grandes empresários do sistema penitenciário.
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15. Talvez a vida esteja se fingindo de morta
Talvez a porta possa estar se abrindo para o nada.
Ou o nada se finja de tudo, só para ter um pouco de tudo
Eu ultimamente descobri várias coisas minhas
Que não sabia que tinha, ou que estavam comigo.
Descobri que não me sinto completamente feliz.
Sinto um vazio enorme dentro de mim.
Talvez meus atos sejam responsáveis por isso
Talvez isso seja ilusão, ou até verdade
Ora que já ocorreu outras vezes
Nesse momento minha mente está se esvaziando
Não estou conseguindo me concentrar no raciocínio
Estou confuso, sem noção... Acho que vou parar.
Desculpe.
21/06/2002
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16. As coisas ficaram tão estranhas comigo.
Parece que as horas se inverteram.
As ideias sumiram, perderam-se as vontades
Ficou tudo tão estranho
Não há produção nem instigação
Está tudo morno, opaco, sem brilho, estranho.
Descobre-se que o que foi esperado, recebeu errado.
E depois de tanto ter sido dito, e nada se correspondeu.
É muito estranho.
Com tantos anos procurando um motivo
Pra ter dito muitas palavras em função
De uma figura de imagem enigmática
Que causou em mim uma imanização fortíssima
De repente quem era extremamente restrito
A citar qualquer sentimento
Passou a exagerar no modo de exibir
E demonstrar o mesmo.
Foi trágico.
25/06/2002(editado em 08/01/13)
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17. Ainda
Meus trapos jogados no chão
Suas mãos seguram minha mão
O mundo já não me faz bem
Se não você, não quero ninguém.
Tudo perdeu o valor, para mim.
Estou num poço, bem perto do fim.
Sem você meu amanhã morreu.
E a noite se estabeleceu.
Eu perdi você pra mim mesmo
Eu perdi o sentido da vida
Eu perdi o tesão pra viver
Eu perdi você.
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18. Só vejo sombras.
A luz morreu.
Apenas brilhos indicam o caminho que devo seguir
para não me perder.
Ouço vozes que vem do nada, ouço passos,
mas não tem ninguém.
Apenas eu, em minha trilha da escuridão;
Não estou preocupado com a escuridão,
Nem com passos e vozes ocultos,
Eu me preocupo com vozes e passos reais,
Que podem me agredir e me perseguir,
E eu sei onde achar os passos e as vozes
Quando virar pra trás e olhar.
Quando meus olhos se abrirem verei a quantidade
De idiotices que venho aplicando a mim mesmo
E aos que me cercam de um modo bom
Talvez demore um pouco para a minha visão se abrir
Mas porem ela pode não se abrir
Mas aí eu já devo ter morrido
E acho que não vai ser tarde,
Porque a morte é o começo da vida.
01.08.2002
(editado em 08/01/13)
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19. Me mostre a verdadeira face da sua história.
Lembre-se, use um pouco mais a sua memória.
Não sou nenhum hipócrita nem quero ironizar.
Dizendo suas mentiras não vai me enganar.
Andando feito louco de um lado pro outro.
Procura um caminho que parece não existir.
Não, não tente se esconder
Quando se olhar no espelho
Seu rosto é o que vai ver
Sua memória ta voltando ou vou ter que forçar
Abrir sua cabeça e enfiar
O que de fato é certo pra você não afundar
Nas suas próprias palavras
Se ligue na minha dica
Não seja mais burro do você já é.
Nosso corpo na terra fica, e infinito só
O espírito seu Mané.
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20. Arrasto-me pelo chão e não consigo me levantar
Sinto minha carne aos poucos rasgando
Sinto meu coração lentamente querer parar
Puxo o ar com força, mas sinto que estou definhando.
Vejo moscas rondando minha cabeça sem parar
Seus zumbidos torturantes me perturbam
Acho que esperam, calmamente, minha morte chegar
Para que seus ovos em minha carne podre,
em vermes se difundam
Rastros de sujeira da entrada até a saída de minha casa
Meus pés sujos de nunca pisar no chão
Minutos de febre queimando meu corpo como brasa
Infecções e feridas abertas no dorso da minha mão.
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21. Madrugada adentro é a escuridão que predomina
Silencio pelas ruas, movimento na esquina.
É mais um que chega pra comprar sua falsa paz
Na forma de pó ou pedra, da massa tanto faz.
Pega vai embora, sem se preocupar,
Amanhã vem de novo sua falsa paz buscar.
Queime seu maldito, queime.
Queime seu dinheiro, queime sua mente.
Na noite adentro muita coisa pode acontecer
Alguém pra comprar, outro pra vender
Alguém sem dinheiro, que quer convencer
A levar fiado pra sua lombra fazer.
Tem gente de grana, filho de barão.
Que enche o carro de drogas só pra curtição
Cheio de meninas, todas de menor
Viciadas em pedra, na massa e no pó.
Não importa a idade, ou a classe social
Se tem boa família ou se é um marginal
Nesse momento tem alguém se matando
Dando um tiro na lata, ou um bright cheirando.
A madrugada é longa pra quem nunca dorme
Pra quem ultimamente foi largado pela sorte
Caminho sem volta pra destruição.
Sua nova casa será dentro de um caixão
Famílias destruídas, crianças bandidas
Sangue derramando, incurável ferida.
De quem será a culpa?
De quem será a culpa?
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22. Chega de ficar parado olhando ‘pros’ lados
Pensando em nada, ficando pirado
Sentindo vontades depois desistindo
Tentar levantar e logo ir caindo.
Morrendo aos poucos, de forma sofrida
Sentindo-se lixo, autoestima caída
Parece um zumbi, não dorme há tempos
Que pena de ti, solto aos quatro ventos
Pare de tanta incerteza, de tanta pureza
O mundo é ruim.
Ligue sua antena, a vida é pequena
Num piscar de olhos chegou o fim.
Mostre para você mesmo que ainda tem força
E pode lutar,
Faça uma coisa notável que eterno você será
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23. Que bom que te encontrei, voltar a sentir seu cheiro.
Que bom!
Ouvir a tua voz, sentir sua pele tocar a minha.
Que bom!
Falar com você, novamente ver, que ainda estamos afim.
Que bom!
Eu pensei que não iria ter mais
Essa paz que você me traz.
Eu realmente pensei.
Pensei tanto em você que você apareceu.
Meu mundo renasceu.
Que bom!
Que bom!
Queria ver tudo isso acontecer mais uma vez.
Que bom, aconteceu!
Eu estou muito feliz
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24. Vermes de Nervos
No meio do meu mundo existe um buraco feito por vermes,
Vermes de raiva e rancor, de tristeza e mágoas.
Que de me deixaram seco, e insensível,
Que tiraram as cores do mundo onde vivo.
Olho pra alguém que sofre, e ignoro.
Vejo tristeza nos olhos de quem me ama.
Desprezo até mesmo quando eu choro.
E quando a voz da razão me chama.
Menosprezo a emoção seja ela qual for.
Olho com nojo para as mazelas mundiais.
Sinto vontade de vomitar quando falam em amor.
Queria ser diferente, mas não acontecerá jamais.
Sou frio e calculista, meço minhas palavras sempre.
Não crio vínculos, nem ciclos de amizade com ninguém.
Quando alguém vem me ver, e digo que entre.
Mas logo peço para irem embora, que assim ficarei bem.
Solidão já não me incomoda, nem consegue.
Sozinho eu comecei a andar e a falar.
E não haverá ninguém no mundo a quem me apegue.
Pois agora confesso, tenho medo que possa me abandonar.
Prefiro o vazio do meu apartamento,
A viver feliz por algum tempo
E depois estar sozinho num infinito sofrimento.
Lamento por tudo isso.
15/12/2010
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25. - Oi onde você estava?
- Não sei! Quem é você mesmo?
- Não se lembra de mim cara?!
- Não! E por que deveria lembrar?
- Por que passamos esses últimos anos juntos.
- Eu! Junto com você?! Não me lembro mesmo!
- Rapaz! Faz uma força! Não faz pouco tempo eu dormi e quando
acordei você não estava mais aqui.
- Olha você deve estar me confundindo com alguém.
Nunca lhe vi na vida.
- Poxa olha pra mim! Tenta lembrar-se de alguma coisa.
Qualquer coisa!
- Olha, eu vou te falar a verdade! Já tô de saco cheio desse papo.
Eu não sei quem você é e pronto.
- Caramba! Eu nunca deixei você na mão cara,
sempre te defendi de tantos perigos,
e você não se lembra de mais nada?
- Não! E vai saindo porque tá parecendo que você é louco!
Ou melhor, eu sou louco!
O que deu em mim pra ficar conversando com um espelho?
Em alguns momentos nós esquecemos quem somos,
seja pra não lembrar que fizemos algo ruim, ou erra-
do, seja pra não lembrar algo que nos feriu e ainda está ab-
erta a ferida, ou até mesmo pra esquecer um dia ruim.
O certo é que muitas vezes esquecemos quem somos e acabamos
pormaltrataralguémquegostadagente,equesóqueronossobem.
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26. Pasto, passagem, viagem, paisagem, ferragem,
No mato, na toca, no rastro, no mastro,
No barco, no saco, no lixo, no bicho;
Chorando, cantando, vivendo, morrendo, sofrendo, sorrindo,
caindo;
Pedindo, dinheiro; banheiro, molhado, suado, marcado,
com medo,
Sem dedo, amarrado, parado, pensando, olhando, pro nada,
pro tudo,
Falando, mas mudo, ouvindo, mas surdo, sentindo,
dormindo, fingindo,
Partindo, vivendo, crescendo, morrendo, deixando,
mudando, o rumo,
O prumo, a rota, sem frota; sozinho, morre, corre,
sente, mente, quente,
Frio, mil, zero, quero, espero, vejo, rastejo, no pasto, no mato,
no rastro,
Na toca, no mastro, no barco, no saco, sem fundo,
sem mundo, sem nada,
Sem peito, sem leito, sem colo, embolo, pra baixo,
num poço, esforço,
Em vão, no chão, doente, presente, carente, em final,
de vida, sofrida,
Bandida, perdida, deixando, esborrando, o sangue,
da gangue,
Partida, ao meio, penteio, o cabelo, na frente, do espelho,
na ultima ida,
Sofrida, ao cemitério, mistério, a morte, com sorte,
um dia chegará.
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27. Há um lugar que eu nunca fui,
Mas parece que eu vivo lá desde que nasci.
Há um som que nunca ouvi,
Mas é como se eu tivesse feito ele.
Há um gosto que nunca senti,
Mas é como se sempre estivesse na minha boca.
Há um tempo passando por mim,
Mas é como se nunca tivesse passado.
Há uma cor que eu nunca vi, mas sei até seu nome.
Há uma estrada que eu nunca passei, mas sei seus atalhos.
Há uma dor que nunca senti, mas que me aflige só de pensar.
Houve uma casa que morei,
Mas é como se nunca houvesse passado por lá.
Houve um show que eu fui,
Mas é como se nunca tivesse ouvido falar.
Houve uma cidade que passei,
Mas parece que nunca fiz esse caminho.
Houve uma frase que eu disse,
Mas parece que foi outra pessoa que falou.
Tiveram momentos que passei triste,
Mas por um momento, houve um amor,
Mas esse sim ainda existe,
E eu espero que esse seja pra sempre.
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28. EU VEJO, EU SINTO, EU PENSO, EU PASSO, EU FAÇO, EU CAÇO,
EU ANDO, EU DANÇO, EU CHORO, EU MORO,
EU FALO, EU CALO, EU SONHO, EU GANHO, EU PERCO,
EU LEVO, EU TRAGO, EU COMPRO, EU VENDO,
EU PINTO, EU MOSTRO, EU SOLTO, EU PRENDO,
EU SUBO, EU DESÇO, EU CAIO, EU LEVANTO,
EU ENCANTO, EU ILUDO, EU AMO, EU QUERO,
EU ESPERO, EU CANSO, EU RASGO, EU MACHUCO, EU PEÇO
EU MANDO, EU, EU, EU...
EU IMAGINO, EU VEJO, EU PEGO, EU ENTREGO
EU MARCO, EU PASSO, EU ESQUEÇO, EU LEMBRO
EU TIRO, EU PONHO, EU TRISTE, EU RISONHO
EU SÓ, EU SEM, EU QUEM, EU NINGUEM
EU MAL, EU BEM, EU AQUI, EU ALI
EU MESMO, EU OUTRO
EU ONDE
EU...
EU VEJO, ONDE. EU SINTO, OUTRO
EU PENSO, MESMO. EU PASSO, ALI
EU FAÇO, AQUI. EU CAÇO, BEM
EU ANDO, MAL. EU DANÇO COM NINGUEM
EU CHORO POR QUEM. EU MORO SEM
EU FALO SÓ. EU CALO, MAS RISONHO
EU SONHO TRISTE. EU GANHO E PONHO
EU PERCO O TIRO. EU LEVO NÃO LEMBRO
EU TRAGO E ESQUEÇO. EU COMPRO E PASSO
EU VENDO E MARCO. EU PINTO E ENTREGO
EU MOSTRO E PEGO. EU SOLTO E VEJO
EU PRENDO E IMAGINO
EU
EU
EU
EU
SOMENTE EU
MAIS NINGUEM.
EU
EU
EU
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29. Na escuridão de uma fria madrugada
Meus ossos parecem rachar
Meus olhos tentam ver
Minhas mãos querem tocar
Mas não há nada além do frio
Das trevas em minha visão
Da dor dentro do meu corpo
Perdido em solidão
Restos de comida exalam mau cheiro
Um quarto imundo, o vazamento do chuveiro
Pingos torturantes da torneira num prato
Um ninho em meu fogão, onde habitam ratos
O frio não cessa, e congela um pulmão
Eu respiro com pressa, palpita meu coração
Raios rasgam o céu, que energia!
A chuva vem feroz, surge em mim alegria
Na escuridão da madrugada, um pesadelo eu vivi.
Mas a vida é uma estrada longa
Que eu devo sempre seguir.
E tentar não desistir.
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30. Meus passos não estão mais marcados
Minha respiração está descompassada
Meus Reflexos atrasados
Meus atrasos refletem na minha vida privada
Marcada, por nada, assim.
Procuro um caminho mais difícil pra ir
Pra nele encontrar mais tempo pra sentir
Que o que fácil vem, fácil vai,
O mal ou o bem, sempre se atrai.
Assim.
O que era escuro pra mim
Agora ficou claro demais
O que era estranho agora
É muito comum
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31. Numa noite de insônia eu vi uns seres estranhos
Não sei se eram da terra ou de outro planeta
Mas andavam em grupo como rebanhos
Guiados por um imenso cometa.
Tinham uma luz intensa ofuscante
Que me deixou com os olhos ardentes
Faziam um som estranho a todo instante
Que deixou meus ouvidos dormentes.
Eu não sabia o que eram aqueles seres
Nem acreditava no que acabava de ver
Saia uma fumaça de dentro de um deles
E meu corpo começou a tremer.
Oh seu filho da puta da nave
Me diga o que porra você quer.
Com um universo tão grande e bate na trave
E escolhe um planeta que ninguém quer.
Aqui ninguém se preocupa.
Se o planeta morrer
Os de hoje estarão mortos
Quando isso acontecer.
O que vale é o dinheiro
E foda-se quem vai viver pra ver.
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32. Resto de Nada
Um mar de nada em frente a um céu vazio
Matas de arvores secas, de um verde invisível.
Cadê resto, o cadê o tudo que havia?
Onde foi parar o quase tinha, e o quase consegui?
Uma cidade de sangue e lágrimas
Onde as crianças não brincam mais.
Um lugar que não deixa sair o cheiro
O sabor de saudade, de outras épocas.
Onde foi parar o meu sonho?
Queria que fosse um sonho.
Mas é real.
Uma estrada que não leva a nenhum destino
Uma rua que não mais abriga os fofoqueiros
Um mar de nada em frente a um céu vazio.
O resto é o nada, e o nada é o que resta.
Mostrem-me se puderem o que haverá de ser feito.
Um pedaço de resto, com um pouco de nada.
Resulta num pedaço de pouco.
Ou um resto de nada.
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33. Martelo o prego na tábua.
Martelo de aço, martelo de borracha.
Prego de ferro, prego na praça, palavras, soltas, diretas,
confusas, discretas, felizes, pequenas, de paz, de ira, de revolta,
de medo, de alerta, amarradas, indiretas, concisas, sem pudor,
tristes, grandes, de guerra, de calma, de paciência, de coragem,
despreocupadas.
Martelo a ideia na minha cabeça.
Martelo de fumaça, martelo de borracha.
Fumaça de fumo, de cano de revolver, de incêndio, de chaleira,
de chaminé, de padaria, de pão assado queimando,
de neurônios desintegrando, de couro frio esquentando,
de motor velho, de fábricas trabalhando, de fogueira,
do último fósforo da caixa, da minha mente já cansada.
Martelo a ideia com um prego na borracha de ferro,na praça,
no meio da fumaça, dentro da chaminé amarrada,
queimando o pão assado, agora tostado.
Tô cansando.
Acho que é melhor parar de martelar tanto.
Senão vou acabar machucando meu dedo.
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34. Sabe as vezes que agente acorda com uma vontade de comer
justamente o que não tem no armário?
Pão com gergelim com charque de ontem dentro, mais um ovo
frito com queijo coalho, suco de cupuaçu sem açúcar.
Ou então biscoito maria com doce de goiaba.
Assim: um biscoito maria, uma lasca de goiabada em cima,
e outro biscoito maria em cima.
Pronto! Sanduíche de biscoito maria.
E outra, também leva biscoito, mas dessa vez maisena molhando
no café com leite até a xícara esvaziar.
Muito bom!
Mas o pior é que, como disse antes,
isso acontece quando não tem nada do que foi citado.
A única coisa que tem é o pão dormido de ontem(se tiver) ou um
cuscuz já esverdeando em cima do fogão.
Ou o café pra requentar também de ontem.
Assistindo o programa Rural,
vendo aquelas mesas cheias de comida
do interior que ninguém vai comer tudo.
Que aqui em casa daria pra amanhã,
depois de amanhã e depois e depois e depois e depois...
Ontem tinha muita comida, e o que sobrou foi de ontem,
então deveria ter muita comida hoje né?
Acho melhor eu voltar a dormir e esquecer esse papo de comida.
Pelo menos até o almoço.
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36. Abre teus braços para meu peso cair sobre tuas forças.
Cruza os dedos para não eu te machucar.
Segure firme, pois na minha bolsa está sua boneca de louça.
É uma replica sua, cuidado pra não quebrar.
Pode parecer idolatria, mas é só saudade sua.
Há muito não tenho bons dias, há muito vago pelas ruas.
Tenho cede de você, e preciso me hidratar.
Por isso estou aqui quase a desmaiar.
Sem forças, exausto, beirando o chão.
Por isso não me deixe cair de suas mãos.
Pode parecer saudades, e realmente é isso.
Saudade, palavra tão própria da nossa língua,
que já me sinto dono. Por usucapião.
Mas não resistirei a uma reintegração de posse
se você resolver tirá-la de mim.
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39. Não nego, não entrego, nem minto,
nem finjo, nem sofro, nem gozo.
Me livro, me privo, me deixo,
me apego, me entrego, me solto, me mostro.
Sou livre, sou escravo, sou criado, sou patrão,
sou pai, sou filho, sou sogro, sou genro, sou avô, sou neto.
Tenho fome, tenho comida, tenho cede, tenho água,
tenho carência, tenho amor, tenho ira, tenho paciência,
tenho medo, tenho não, tenho segredos, tenho não,
tenho sono, tenho não, tenho do que reclamar, tenho não.
Sinto frio, sinto, calor, sinto raiva, sinto dor, sinto a música,
sinto bem, sinto o sol, sinto a lua, sinto também a sua,
a sua mão na minha pele, suada, de repente gelada como neve,
de repente ferve, me aquece,
me acende,
me levanta inteiro.
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41. Os olhos queimam de tanto estarem abertos
Os ouvidos doem de nada escutar.
Portas abertas e os caminhos não estão certos.
Espera em vão por quem não vai chegar.
Músculos contraídos, sofrimento e dor.
Reação raivosa, expelindo o amor.
Desespero longo, alívio muito curto.
Poucos minutos separam minha sanidade do surto.
Tremulosas mãos que se esforçam pra escrever
Mesmo até sabendo que não vai mais haver
Nenhuma alternativa para isso mudar.
Pois sinto, está bem próximo o dia em que vou pirar.
29/11/2012
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42. Vida, Vida, Vida...
“O que fazer dela quando as coisas já não são como deveriam ser?
O que fazer quando tudo vai perdendo um sentido obvio e passamos a viver
como bichos? Como lixo? O que fazer quando a esperança está quase toda
perdida? O que fazer quando se tem uma vontade de chorar imensa?
O que fazer quando se tem que ser forte, mesmo estando ensanguentado
por dentro? O que fazer? Por quê? Como? De que modo?
São tantas perguntas e tão poucas respostas. Vida. Será que esta palavra
significa algo pra você? Você vive com medo da vida? Ou é melhor viver a
vida sem medo? Mas medo de que? Medo da morte? Da dor?
Do desespero? Medo dos fantasmas que existem dentro de nós mesmos.
Eu vivo uma vida sem medos reais, eu não tenho medo de nada, a não ser
o medo que a minha mente insiste em criar, esses medos, essas fobias,
paranoia, sei lá, mas seja o que for eu não quero mais uma vida de medos.
Não quero mais ser prisioneira de mim mesma.
Droga de vida, droga da casa, droga de medo, droga, droga, droga. Mais no
meio de tanta coisa ruim sobrou algo de bom, aqui dentro de mim tem um
desejo de triunfo maior que meu medo, aqui dentro tem um amor imenso
por pessoas maravilhosas, maior que o universo, aqui dentro existe uma
ideia de que o mundo ainda poderá mudar um dia. Aqui dentro existe a sede
da justiça, um corpo e uma alma que clama pela liberdade. Por mais que
eu saiba que a Liberdade é algo inalcançável eu ainda acredito que algum
dia eu possa chegar perto de pelo menos um terço disso. Eu não acredito
em quase nada, não acredito nesse deus que as religiões pregam por aí,
um cara que condena que julga, que salva uns e mata outros milhares, que
ama tanto os seus filhos mais que os deixa passar fome. Porra! Pra cima
de mim essa conversinha de que ele ama todo mundo ah! Pra mim não, já
to cansada disso. Eu mesma crio minhas leis, eu sei da minha verdade e eu
digo no que acreditar. Tenho metas, um objetivo. E eu seguirei até chegar
ao topo. Sei que isso custará muito de mim, mas não importa, é o preço que
se paga. Só quero morrer com a sensação de que eu vivi cada segundo
intensamente e que não deixei escapar nada pelo ralo da pia. Eu vou até o
fim. E quando eu chegar lá se não tiver plateia para me aplaudir, não tem
problema por que eu tenho duas mãos. Mas com a quantidade de pessoas
que dizem gostar de mim tenho certeza que elas todas estarão lá e eu
dividirei com elas, com cada uma delas o gosto de minha vitória,
a felicidade.”
(São Sebastião - DF - Jun-2009)
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43. Quis matar, quis morrer.
Quis chorar, quis viver.
Quis dormir, quis sonhar.
Quis sentir, quis amar.
Pude ter, pude ver.
Pude ir, pude voltar.
Pude estar, pude sumir.
Pude gritar, pude sorrir.
Queria uma fórmula, queria uma solução.
Uma resposta, não uma indagação.
Queria um sentido, ou uma segurança.
Desaparecer. Viver só.
Entre quatro paredes, só mofo e teias de aranha.
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44. Ratos covardes. São os malditos seres humanos. Vivem de
sugar uns aos outros. Vivem da desgraça alheia. Carniceiros,
aproveitadores, vampiros de energia. Não merecem viver nem
habitar no planeta terra. Odeio a humanidade. Odeio o amor.
Odeio a todos.
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45. Abro os braços e espero seu abraço.
Fecho os olhos e espero seu beijo.
Acalma meu corpo perco o compasso.
Como um rato vidrado num queijo.
Sonho contigo, e nele todo dia posso te tocar.
Acordo pela manhã frustrado,
pois ao abrir os olhos não vou te encontrar.
Quero seu cheiro, seu gosto, seu calor.
Quero cultivar nosso amor.
Quero te levar pra onde moram as estrelas.
Quero escrever seu nome na lua.
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46. Corte as cordas que te amarram.
Amarre seus medos.
E fuja com a coragem pra bem longe.
Separe-se das coisas que te separam.
Olha pro céu! Tá azul claro ou escuro?
Vai se jogar no mato ou ficar em cima do muro?
Sorrir contente ou se contentar com a tristeza?
Sei que não sou seu sonho de beleza.
Mas compenso te afastando da fraqueza.
Pura fineza de valor inestimável que o grande universo me deu.
Levanta dessa cama que o mundo lá fora pode ser todo seu.
Olha pro chão! Tá molhado ou seco?
Não resuma seu mundo imenso a um beco.
Viva mais e sofra menos.
Essa é a vida que temos.
Vamos gastar amor que a vida é curta.
Tu comigo e eu ‘cum’ tu.
Mas bem pertinho tá?
Não eu no norte e você no sul.
‘Tiramo’ ‘mô’ bem!
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47. Ela é nova, é velha, é sonho, é medo, é algo em segredo.
É pilha, provocação, incerteza, ingenuidade, pureza.
Ela atiça, se espalha, corta que nem navalha
as paredes do meu pulmão.
É fogo, é gozo, amável e intocável, ardente sensação.
Ela passa, nem olha, ignora, por dentro outra hora,
quis depressa ceder.
Ela finge, mente, sente e ri, sabe que estou por aí, a esperar.
Ela é segredo, pureza, sensação, incerteza e solidão.
Ela é água, aquário, relicário de lembranças, que nunca tive.
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48. Vai lá, aprende o caminho depois volta para me contar.
Sente o gosto de voar, depois volta para me contar.
Bebe nas fontes mais puras, depois volta para me contar.
Cheira as flores mais belas, depois volta para me contar.
Ama os amores mais bonitos, depois volta para me contar.
Lembra de quando eu te disse que não teria volta,
depois volta para me contar.
Aprende o caminho, o gosto de voar, o sabor das fontes,
o cheiro das flores, o amor dos amores.
Lembra que eu pedi para voltar.
Lembra que eu tentei te avisar.
Antes mesmo de você me deixar.
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49. Vazio no peito, pensamento longe,
aspas em todas as palavras que vêm à mente.
Nenhuma é minha, todas tem dono,
e eu não tenho ninguém.
Um oco nas ideias, tentativas desesperadas
de vomitar no papel alguma frase inteira.
Contorcionismo desenfreado
para compor um verso.
Nada.
Nada.
Nada.
Vejo os pássaros cantando na janela,
todo dia eles cantam, tem um repertorio repetido,
mas todo dia cantam, cantam, cantam,
fazem seus fraseados,
em diversos tons,
e eu num tom de dar dó.
Nada.
Nada.
Nada.
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50. Gosto da cor da minha cor preferida
Gosto do som da minha música querida
Gosto do cheiro de um perfume cheiroso
Gosto de um beijo molhado, gostoso.
Gosto, do gosto da mulher que eu gosto
Do gosto da mulher que eu gosto
Gosto da chuva chuviscando meu rosto
Gosto do sol ensolarando meu dia.
Gosto de ser a tua companhia.
Gosto de fazer parte da tua alegria
Gosto, do gosto da mulher que eu gosto
Do gosto da mulher que eu gosto
Gosto do som que sai da sua boca.
Gosto do brilho no teu olhar.
Gosto quando diz que eu te deixo louca.
Gosto mais ainda quando me pede pra te amar.
Gosto, do gosto da mulher que eu gosto
Do gosto da mulher que eu gosto
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51. Movo um punhado de areia
E um pouco bate nos meus olhos
Queima, coça, incomoda
Parece que vai estourar.
Movo as mãos com água ao rosto.
Sinto levemente aliviar.
Mas ainda a um pequeno caroço.
Um micro grão de areia la dentro
A me incomodar.
Quanto mais eu lavo mais ele se esconde
Quanto mais eu esfrego menos ele sai.
Era melhor que tivesse sido um prego.
O que é grande em nada se esconde atrás.
Imagem embaçada, imagem desautorizada
Imagem de discórdia, imagem de ingratidão
Os olhos voltam pouco a pouco a ver
Esperando a partir dali nunca mais isso acontecer.
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52. Tenho tentado ter toda teoria temporal tomando tais tratados,
terminando territórios, tecendo tentações, tomando tempo,
traçando tolos, tirando tapas, topando tanques, torcendo,
trabalhando, tricotando, teologizando, teimando, travando tipos,
tentativas, tempestades tórridas.
Movendo montes mortos, marcados, mas momentaneamente,
molhados, mascarados, martirizam moradias mucamas,
mexendo moinhos maliciosos, mais marionetes mergulhadas,
maciçamente machucando músculos, minerais mesozoicos,
malandros.
Seja sóbrio sempre, senão sentirá seu sangue saindo sem sentir,
solitário, selvagem sábio só, suando sombras simétricas sob sol
serpenteante, silencio, semblante.
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53. Gosto pouco de poucas coisas que me cercam,
de gente falsa que só aparece nas melhores horas.
Gosto tão pouco ainda das pessoas,
sejam elas quem forem.
Gasto tempo escrevendo textos,
teclando frases que ninguém irá ler.
Ganho um grito no ouvido dizendo que
não tenho serventia nenhuma.
Ganho honrosos xingamentos sobre minha arte,
e que ela nunca vingará.
Gosto cada dia mais da pessoas, do mundo, do resto.
Ganho cada dia mais nada para acrescentar
ao meu currículo aleijado de passagem pelo planeta terra.
Não sei se eu quero pessoas perto de mim
quando eu for demitido da vida.
E não sei se quero arrumar outro emprego desse.
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55. Te amo, te chamo, te chingo, te solto, te pinto,
te mordo, te beijo, te entrego, te desejo.
Te laço, te lasco, te sinto, te faço, te cuspo,
te sirvo, te jogo, de pego, te lambo.
Te falo, te canto, te escrevo, te levo, te peço,
te messo, te uso, te cheiro, te acho.
Te beiro, te rondo, te escondo, te agarro, te rodo
te tempero, te venero, te espero, te suplico.
Te componho, te calo, te ralo, te valho, te vi,
te pesco, te caço, te peso, te molho.
Te adoro, te lavo, te bebo,
Te tenho.
Te.
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56. Aos teus dezesseis te vi pela primeira vez
Foi encantamento, violento, direto,
sem chance para raciocinar.
Assistindo vidrado, calado, apaixonado, quem sabe,
sentindo-me assim, por ti amado.
Criança, mente viajante, mas com olhar de amante,
que vai esperar no portão
Sua musa chegar, lhe abraçar, ficar calado sem saber o que falar,
não tem muito usado a imaginação.
Dia após dia, sente parecido hoje o que naquele dia sentiu,
Um gelo na espinha ao assistir o sex appeal.
Derivado da lua é seu nome.
Guarda mistérios tal qual.
Um lado escuro que pouquíssimos conhecem,
Mas que não tem nenhuma escuridão.
Hoje tem um dono seu coração,
E nem pretendo ser dele ocupante,
apenas no meu, guardado está,
Um platônico amor infante.
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57. Tantos sonhos, tantos sorrisos, tantas estradas,
tentos delitos.
Tantas vidas, tantas mortes, tanto caos,
tanta sorte.
Tanto dinheiro, tanto poder, tanta sisma,
tanto medo.
Tantos filhos, tantos beijos, tantos amores,
tantos desejos.
Tanto tempo, tanto grito, tanta dor, tanta cor,
tanta arte.
Tanta cólera, tanta revolta, tanto tudo,
tanto mundo.
Tantas mães, tantos pais, tantos carros,
tantas casas.
Tantos tantos, tantos nadas, tantos quase,
tantos fins.
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58. Suor que escorre pelo corpo feminino,
De uma deusa de carne e sangue quente.
Infiltra doses cavalares de pensamentos,
Desejos e sensações na minha mente.
Fazendo-me imaginar, sonhar, e até materializar
Sua imagem bem a minha frente.
Sonho? Não sei!
Realidade? Muito menos.
Apenas vejo.
Desejo.
Suspiro.
Intocável, silencio torturante sai da sua boca.
Olhar cortante que mira meu rosto.
Travando meus músculos.
Ferindo meus ossos.
Desligando meus nervos.
Apenas suor escorre do meu rosto.
Apenas suor escorre do seu corpo.
Calor.
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59. O que esperar quando não se tem mais esperanças?
O que querer quando não se sabe mais o sentido de nada?
O que provar quando não se sente mais o gosto?
O que pedir quando não se tem mais a quem recorrer?
O que escrever quando se foram todas as palavras?
O que pensar quando não há mais nenhuma ideia?
O que amar quando não existe mais nenhuma razão?
O que fazer quando já se fez tudo e nada mais sobrou?
O quê?
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60. Eu poderia agradecer a um monte de gente aqui,
mas não vou fazer isso com nomes, pois posso
esquecer-me de alguém, e esse alguém ficar chateado.
Então no geral do geral, dedico esta publicação
a todos (e todos podem parecer ser muitos, mas são
pouquíssimos) os que apreciam minha pessoa de algum modo.
Às poucas pessoas que amo. Aos que me odeiam e aos que
não me suportam um foda-se, não dependo de vocês pra nada.
Aos seres de energia superior ao redor da terra, ao seres de
energia inferior também. Às mazelas e bondades da
humanidade,àsmulhereseoshomensdetodooplaneta,àmúsicade
qualidade, ao inventor da caneta, ao inventor do papel,
da impressora e do computador, aos meus progenitores por
(mesmo que erroneamente) terem me feito.
Àúnicamulherquemefezescreveremeinspiraremtãopoucotem-
po, que me fez ir do céu ao inferno e vice-versa, e aprender a andar
de boa pelos dois lugares(Ela sabe que é dela que estou falando).
Ao Rock n’ Roll, que me fez ser menos imbecil, e foda-se
quem não concordar. Às pessoas de muito longe e muito perto.
Àspessoasmortasevivas,eàsmortasvivasquevagampelomundo.
Eamimmesmopornãotermorridoatéagora.Seapósessesescritos
eu morrer, quero ser queimado numa rede como um peixe na telha.
Bruno Rafael
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74. BRUNO RAFAEL PEREIRA RODRIGUES SILVA
Nasceu no Recife no ano de 1983,
E seus textos têm uma acidez mórbida em alguns momentos, e doces palavras de amor
montadas em tristes versos, flertando com a psicodelia em outros instantes.
Sem preocupação com rótulos e escolas literárias. Marginalmente fraseando só para lançar
ao mundo suas palavras.