Princípios para formação sobre diversidade indígena
1. Alguns princípios que poderão balizar a presença da temática indígena no curso de formação de
educadores para a diversidade
Diversidades ou Pluralidades: são 240 etnias, com tempos de contato com sociedades não indígenas
variados, tamanhos de terras diferenciados, localização da terra indígena em todas as regiões do Brasil
(longe de cidades, perto ou nas cidades...). O último senso registrou 817 963 pessoas indígenas, sendo que
315 180 compõem a população indígena urbana e 502 783 pessoas vivem em zonas rurais. Estima-se no
Brasil hoje cerca de 180 línguas indígenas. Essa pluralidade de etnias, culturas, línguas se reconhece
politicamente como “povos indígenas”.
Dinâmica Cultural, transformações, historicidade: Como todas as sociedades e como condição básica
para a sobrevivência, as sociedades indígenas se modificam, se transformam, mas continuam indígenas.
Assim como os portugueses não vivem hoje da mesma forma que viviam há 500 anos, os indígenas também
não podem ser vistos atualmente da mesma forma que foram descritos pelos portugueses na época em que
invadiram o território que hoje é chamado Brasil.
Povos partícipes da e na história do Brasil: Não são apenas os primeiros habitantes do Brasil, mas povos
que fazem história e que tem uma participação importante e contínua na história do Brasil.
O passado dos povos indígenas e não como povos do passado: Não podem ser estudados apenas na
pré-história ou no início da colonização, assim como não podem ser descritos como os povos que “viviam,
caçavam, andavam...”, sempre no passado, como em geral os livros mais convencionais registram. Porém,
são povos que tem histórias, que tem passados para contar hoje, no tempo presente.
Contemporaneidade, atualidade: são povos que compartilham um mesmo tempo e muitas vezes um
mesmo espaço que outras sociedades. Hoje, os indígenas estão nas universidades, nas cidades (em Porto
Alegre temos 04 escolas indígenas). “O índio de hoje preserva suas tradições, mas também é capaz de se
adaptar a novas maneiras de viver: ele estuda, trabalha, faz faculdade, habita em aldeias, cidades, trabalha
na roça, no comércio. Muitos são advogados, médicos, agrônomos, pedagogos, antropólogos, etc.” (Gersem
Baniwa).
Continuidade: memória, tradição, saberes ancestrais mantém uma continuidade indígena no Brasil e na
América, cuja presença se faz pela tradição oral, nos modos de educar, nos modos de viver... Há uma
filosofia indígena (Kusch); uma epistemologia indígena (Viveiros de Castro).
Sociedades complexas: São sociedades com concepções de mundo, com saberes e conhecimentos
profundos do universo, da natureza, das sociedades, dos seres, das coisas... Desfaz-se hoje a crença de que
as sociedades tradicionais, como as indígenas, são sociedades simples, pois apresentam compreensões
complexas e profundas de mundo, com conhecimentos e saberes próprios.
A voz dos próprios indígenas: é importante ouvir e considerar a voz dos próprios indígenas contando suas
histórias, ensinando seus conhecimentos. Hoje há uma extensa literatura indígena, tanto no Brasil como nos
demais países da América. Faz-se necessário desenvolver a sensibilidade para aprender com e sobre os
povos indígenas, numa perspectiva de diálogo intercultural. “... Os povos indígenas têm a vantagem de
conhecer pelo menos duas línguas, articular recursos tradicionais e modernos, combinar o trabalho pago com
o comunitário, a reciprocidade com a concorrência mercantil”. (Canclini, 2007).
2. “As comunidades, os povos e as nações indígenas são aqueles que, contando com uma continuidade histórica
das sociedades anteriores à invasão e à colonização que foi desenvolvida em seus territórios, consideram a si
mesmos distintos de outros setores da sociedade, e estão decididos a conservar, a desenvolver e a transmitir
às gerações futuras seus territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada
como povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais e os sistemas
jurídicos”. (Definição técnica das Nações Unidas, 1986)
Bibliografia básica:
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na História do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.
BERGAMASCHI, Maria Aparecida (org). Povos Indígenas e Educação, 2ª Ed. Porto Alegre: Mediação,
2012.
LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no
Brasil de hoje. Brasília: MEC/SECAD; LACED/Museu Nacional, 2006. http://www.trilhasdeconhecimentos.etc.br/livros/
PACHECO DE OLIVEIRA, João; FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A Presença Indígena na Formação
do Brasil. Brasília: MEC/SECAD; LACED/Museu Nacional, 2006. http://www.trilhasdeconhecimentos.etc.br/livros/
Revista História Hoje. Revista eletrônica de história e ensino. ANPUH. Vol. 1, nº 2, 2012.
http://rhhj.anpuh.org/ojs/index.php/RHHJ
SILVA, Aracy Lopes da; FERREIRA, Mariana Kawall Leal (orgs.). Antropologia, história e Educação – A
questão indígena e a escola. São Paulo: Global, 2001.
SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luiz Donisete (orgs.). A temática indígena na escola: novos subsídios
para professores de 1o e 2o graus. 4a ed. São Paulo: Global. Brasília: MEC, MARI, UNESCO, 2004.
SILVA, Aracy Lopes da; MACEDO, Ana Vera Lopes da Silva; NUNES, Ângela (orgs.). Crianças Indígenas:
Ensaios Antropológicos. São Paulo, Global, 2002.
SILVA, Gilberto Ferreira da; PENNA, Rejane; CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha (orgs.). RS ÍNDIO:
cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009.
Sites e Blogs:
http://www.indioeduca.org/
http://www.socioambiental.org/
http://www.cimi.org.br/
http://www.funai.gov.br/
http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/indio/home.html
http://www.indiosonline.org.br/
www.videonasaldeias.org.br/
http://palavrascriadoras.blogspot.com.br/
Organizado por Maria Aparecida Bergamaschi
Professora na Faculdade de Educação – UFRGS
Janeiro de 2013