O documento descreve a história de Ana Sueli Lopes, uma brasileira de 50 anos que participou de um programa de intercâmbio na Espanha. Também discute o crescente número de pessoas acima de 50 anos interessadas em programas de intercâmbio para manter a mente ativa e aprender novas culturas. Especialistas dizem que os benefícios desse tipo de experiência incluem integração social e bem-estar duradouro.
Inter câmbio para adultos mantém a mente ativa e a vida cheia de aventuras
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22 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 11 de agosto de 2009
Com os três filhos já criados,
Ana Sueli participou de um
intercâmbio na Espanha
De malas prontas É cada vez maior o número de pessoas com mais de 50 anos que ingressam em um programa
de intercâmbio para morar durante algumas semanas em outro país
Fotos: Arquivo Pessoal
omo manter-se ativo quando os fi- Quando surgiu a possibilidade eu pensei:
C lhos já estão criados e a estabilidade
financeira foi alcançada? Boa parte
dos cerca de 31 milhões de brasilei-
ros com mais de 50 anos deve ter se per-
Por que não?”, conta.
Ana Sueli diz que as pessoas se sur-
preendiam inicialmente quando desco-
briam que ela era uma das alunas. “Todos
guntado isso pelo menos uma vez. Uma foram muito legais comigo, mas muita
boa opção para quem quer manter a vita- gente achou ousado fazer isso na minha
lidade e o entusiasmo nessa fase da vida idade.” A diferença de anos, porém, não
— e ainda encontrar aventura, aprender foi problema e deu a Ana a oportunidade
outra língua, conhecer pessoas e ganhar de não só aprender, mas também de en-
bagagem cultural — é o intercâmbio, ati- sinar. “A experiência de vida que se tem a
Arquivo Pessoal
vidade antes restrita ao público adoles- essa altura da vida me deu condições de
cente, mas que ganha cada vez mais adep- mostrar muito mais a cultura brasileira
tos entre o público de meia-idade. para as pessoas com quem eu convivi”,
De acordo com Maura Leão, diretora afirma. A viagem foi tão boa que Sueli
de uma agência de viagens, o número de pretende voltar. “Quando tiver a oportu-
pessoas dessa faixa etária interessadas por nidade novamente, com certeza embar-
esse tipo de programa vem aumentando. co para outro país, só não sei ainda qual”,
“Só nos últimos meses, notamos um au- garante.
mento de 20% na procura”, diz. Segundo
especialistas, o movimento é fruto do en- Sonho antigo
velhecimento geral da população brasilei-
ra, que cada vez mais se mantém ativa de- Um dos principais diferenciais em pro-
pois dos 50, época em que, normalmente, gramas de intercâmbio voltados para o pú-
já se alcançou o auge da carreira e a apo- Além de aprender a língua espanhola, blico adulto é que o foco não está apenas
sentadoria não é algo tão distante. Ana aproveitou para ter contato com no aprendizado de uma língua estrangeira.
O pesquisador do Centro de Excelên- a arquitetura local “Na maioria das vezes, além do idioma, as
cia em Turismo da Universidade de Bra- pessoas querem atividades culturais, como
sília (UnB) Domingos Spevia lembra que dança, música ou arte”, explica Maura. É
o Brasil está envelhecendo e que lidar possível, por exemplo, ir para a Argentina
com um número cada vez maior de pes- aprender espanhol e incluir, no mesmo pa-
soas que já passaram da meia-idade é um cote, aulas de tango. Ou viajar a Paris e fre-
desafio. “Não somos mais um país de jo- quentar um curso de história da arte.
vens e o setor de turismo está descobrin- Muitas vezes, o intercâmbio é um so-
do isso, preparando-se para atender esse nho antigo que só pode ser realizado
público, que é muito mais exigente.” quando a pessoa pode parar de se preo-
Na maioria das Maura concorda. Segundo ela, quando cupar com o sustento da família e tem
vezes, além do os clientes são adultos, a questão finan- tempo para pensar nela mesma. “Muitos
ceira também é tratada de maneira dife- dos nossos clientes já mandaram os fi-
idioma, as pessoas rente. “Eles não dependem de dinheiro lhos para um intercâmbio, mas nunca ti-
querem atividades dos pais, como os adolescentes. Assim, veram a possibilidade de ir. Agora, po-
eles próprios decidem o destino, nego- dem realizar esse desejo”, conta Maura.
culturais, como ciam preços e fecham o pacote.” Os destinos desse público específico
dança, música nem sempre são os tradicionais. Há mui-
ou arte” “Por que não?” ta procura por lugares exóticos, pouco
explorados pelos brasileiros.
A ativista cultural Ana Sueli Lopes foi De acordo com Renato Maia, diretor
Maura Leão,
uma das que aceitou o desafio de partici- do Centro de Medicina do Idoso do Hos-
diretora de agência
par de um intercâmbio aos 50 anos. Com pital Universitário de Brasília, a principal
de viagens
os três filhos já criados, ela embarcou, vantagem de um programa de intercâm-
em julho deste ano, em um programa bio para quem já passou dos 50 anos é a
que incluía aulas de espanhol durante possibilidade de se manter ativo. “É uma
três semanas na cidade de Salamanca, na ótima maneira de se integrar socialmen-
Espanha. Ela era a única participante te e acabar com a sensação de monoto-
com mais de 25 anos em uma turma que nia, tão comum nessa fase”, esclarece. Se-
reunia dezenas de intercambistas do gundo o médico, os benefícios do inter-
mundo todo. Além de aprender a língua, câmbio se prolongam por um tempo
conheceu a cultura e a arquitetura do muito além do da viagem. “Esse tipo de
país, de forte influência árabe. “Tudo A ativista cultural com alguns dos atividade provoca um bem-estar dura-
chega na hora certa, e a minha hora de colegas de viagem: a única com mais douro, que vai se refletir na vida que o
fazer intercâmbio só chegou aos 50. de 25 anos no grupo paciente levará quando voltar.”
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