O documento descreve a vida e obra do escritor português Eça de Queirós. Nasceu em 1845 e estudou Direito, publicando seus primeiros escritos em 1866. Morou na Inglaterra e produziu romances naturalistas como O Crime do Padre Amaro. Faleceu em 1900, deixando importante obra sobre a sociedade portuguesa de seu tempo.
2. José Maria Eça de Queirós nasceu em 25 de novembro de 1845,
em Póvoa de Varzim.
Cursou Direito na Universidade de Coimbra.
Em 1866, teve seu primeiro escrito conhecido, intitulado Notas
Marginais.
Em Lisboa, durante 1866, publicou uma dezena de folhetins.
Eça de Queirós partiu para o Oriente, dessa viagem resultou o
livro O Egito, relato de suas experiências como repórter.
Em 1872 transferiu-se para a Inglaterra, onde começou a elaborar
os seus primeiros grandes romances naturalistas: O Crime do
Padre Amaro, e O Primo Basílio.
Falece aos 16 de agosto de 1900, em sua casa.
O autor
3.
Narrado por José Fernandes;
Conta as atribulações de Jacinto de Tormes, fidalgo
português nascido em Paris. Milionário e culto,
Jacinto cerca-se de luxo e de inúmeros amigos
influentes e superficiais.
Indo a Portugal para reformar o cemitério de seus
antepassados na propriedade rural de Tormes,
Jacinto se vê, para seu desespero, desligado da
civilização que tanto preza.
Com o tempo, acaba se apaixonando pelo campo,
torna-se alegre, casa-se com Joaninha e decide ficar
em Tormes.
Enredo
4.
Elementos da narrativa
Foco narrativo: Escrito em primeira pessoa;
Narrador-personagem - José Fernandes;
Este narrador coloca-se como menos importante do que o
protagonista, como podemos perceber, por exemplo, no início da obra. Nos
primeiros parágrafos do livro, o narrador, não se apresenta ao leitor, e dá a
Jacinto – personagem principal - um grande enfoque: “O meu amigo Jacinto
nasceu num palácio, com cento e nove contas de renda em terras de
semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival”.
Espaço: Grande parte da história acontece em um palacete nos Campos
Elíseos, 202 em Paris. Uma casa bastante luxuosa.
Mais tarde, nas Serras de Tormes, no Baixo Douro em Portugal,
no final do século XIX.
Tempo: A ação ocorreu no fim do século XIX, na transição para o século
XX. E o tempo é cronológico.
5. Uso e costumes: Segunda Revolução Industrial:
modernização geral, as pessoas utilizavam
ferramentas e máquinas mais sofisticadas para
exercer suas funções no dia-a-dia.
• Crescente uso da eletricidade, como mostra a obra,
o elevador movido a eletricidade, o telégrafo, a
máquina de escrever, de calcular e vários outros
“instrumentozinhos” como disse José Fernandes.
• A busca por novos conhecimentos se tornava cada
vez mais intensa. Como mostra Jacinto, um homem
extremamente culto e inteligente que lia muitos
livros, já que novas técnicas de impressão agilizam
a circulação de livros e jornais.
Momento histórico
6. Características:
• A linguagem é formal.
• Utiliza palavras e expressões da época (1900) como “que maçada” e “que seca” que
significam “que chateação”.
• Critica a cidade e valoriza o campo através da sua linguagem;
• É caracterizada pelo uso de figuras de linguagem, pelo discurso direto e indireto.
Figuras de linguagem utilizadas:
• Metáfora: “Sabei, senhora, que esta vida é um rio (...)”
• Catacrese: “Dos pés da mesa, cordões tímidos (...)”Antonomásia: “(...) onde a nobre
carne de Eva se vende (...)”
• Antítese: “Hobbes, embaixo, era pesado, de couro negro; Platão, em cima,
resplandecia, numa pelica pura e alva.”
Tipos de discurso:
• Discurso direto: “Uma das senhoras murmurou:- Mas, não é a Gilberte!...E um dos
homens:- Parece um cornetim...- Agora são palmas...- Não, é o Paulin”
• Discurso indireto: “E como eu considerava assombrado, ele, bebendo goles de
Chateau-Iquem, declarou que hoje a única emoção verdadeiramente fina, seria
aniquilar a civilização.”
Linguagem
7. Características: Na segunda metade do século XIX a Europa :
Burguesia - liberalismo político e o liberalismo econômico;
• Implementação do sistema capitalista;
• “Geração Materialista”;
Forma de governo: Na França, Luís Napoleão Bonaparte, é
eleito presidente e dá um golpe de estado em 1852 e torna-se
imperador, sob o título de Napoleão III.
• O regime imperial acelera a Segunda Revolução Industrial na
França.
• Já Portugal, onde Jacinto decide morar definitivamente, viveu,
em meados do século XIX, períodos de enorme perturbação
política e social. No final do século XIX, as ambições coloniais
portuguesas chocam com as inglesas, o que está na origem do
Ultimato de 1890.
Momento histórico
8. O tema principal é a oposição da tecnologia e do
desenvolvimento das cidades com a pureza e
simplicidade encontrada no campo.
Os temas secundários são:
• Evolução tecnológica e o desenvolvimento ocorridos no
fim do século XIX - Segunda Revolução Industrial;
• Prós e os contras dos centros urbanos e do campo;
• Desvantagens da tecnologia e do conforto;
• Diferença social;
• Crítica sobre as pessoas da cidade e suas vidas
supérfluas.
Tema
9.
Escola literária
A escola literária a que pertence a obra, é
o Realismo e o Naturalismo em
Portugal.
As características do Realismo e
Naturalismo que estão presentes nessa
obra são:
• Objetivismo (vê o mundo como ele é),
• descritivismo (dá veracidade à obra),
• casamento arranjado,
• ironia (em relação ao comportamento
humano),
• observação e análise (fatos presentes) e
• contemporaneidade (exatidão para
localizar o tempo e o espaço).
• Abundância de pormenores, com o
retrato fidelíssimo da natureza;
• Pratica uma análise da realidade
fundada em uma visão objetiva da
sociedade e do ser humano , quase
sempre de forte teor crítico
Saída da cidade para o campo. Essa
característica é do movimento literário
Arcadismo. “A Cidade e as Serras”
pertence à Terceira fase de Eça de
Queirós: Realista. Onde ele cria o
romance de costumes, com a análise
objetiva e crítica da sociedade.
10. Personagens
principais
Jacinto de Tormes
•Um rapaz notável, muito inteligente;
•23 anos de idade;
•Filho de uma família de fidalgos
portugueses, mas nascido e criado em
Paris;
•Extremamente forte e rico;
•Trajava-se com esmero, de roupa fina e
flor no peito;
•Narigudo, com cabelos crespos e
bigodes bem tratados;
•“Príncipe da Grã-Ventura”.
•Cercado de artefatos da civilização.
11. José Fernandes de
Noronha
•Amigo de Jacinto;
•Natural de Guiães, no Douro (perto de
Tormes);
•Fidalgo rústico e abestalhado
•Ele idealiza Jacinto;
•Teve um importante papel na evolução
e mudanças ocorridas com Jacinto;
•Procura conduzir seu amigo, Jacinto de
Tormes, provando o seu engano;
12. Personagens
secundários
D. Galeão
•Avô de Jacinto;
•Também Jacinto;
•Gordo e rico;
•Era um fanático miguelista;
•Quando D. Miguel deixou o poder,
Jacinto Galeão exilou-se
voluntariamente em Paris, lá
morrendo de indigestão.
13. D. Angelina Fafes
•Casada com Jacinto Galeão;
•Após a morte do marido, não
regressou a Portugal e, em Paris,
criou seu filho, Cintinho.
15. Grilo e Anatole
•Criados de confiança de Jacinto.
Pimenta
•Chefe da estação de Tormes;
• Velho amigo gordo de Jacinto.
16. Melchior
•O caseiro dos Campos de Tormes,
•Homem digno, simples, acostumado
à vida pacata do campo.
Tia Vicência
•Senhora criada em Tormes;
•Com grande talento para cozinhar;
•De face redonda e corada.
17. João Torrado
•Um velho morador, misterioso, de
uma cova no alto da serra.
Efraim
•Banqueiro;
•Judeu;
•Representante da burguesia.
18. Joaninha
•Casou-se com Jacinto;
•Filha de Adrião;
• Jovem, robusta, lindamente risonha;
•Prima de Zé Fernandes;
•Camponesa portuguesa saudável e
rústica;
•Foi mãe de dois filhos, Teresinha e
Jacintinho.
Criança
•Um menino magro, amarelo com
dois grandes olhos pretos.
19. Madame d´Oriol
•Amante de Jacinto;
•Via nele o maior refinamento da
civilização;
•Não consegue livrar Jacinto do tédio da
civilização;
•Separam-se quando Jacinto descobre
que ela tinha um caso com um criado.
Manuel Rico
•Velho, dono de uma venda em Tormes.
20. Madame Colombe
•Amante de José Fernandes;
•Fez com que ele gastasse todas as
suas economias com ela;
•Ela o trocou por uma amante,
fugiu, deixando José Fernandes
atordoado.
21. D. Teotônio, Ricardo Veloso, Dr.
Alípio e sua mulher, Milo Rabelo,
Beatriz Veloso, Adelaide Rojão
com suas sobrinhas, Sra. D. Luísa:
senhores e senhoras que
participaram de uma festa na casa
da Tia Vicência.
23.
Capítulo I
Jacinto era um homem rico que nascera e habitara Paris, nos Campos Elísios, nº 202;
O seu avô, homem muito gordo e riquíssimo, Sr. Jacinto Galião, como era chamado em
Lisboa, uma tarde escorregou numa casca de laranja e desabou no chão. Foi socorrido por
D. Miguel;
Quando D. Miguel torna-se rei, entusiasma-se, ergue um monumento em seu louvor; mas,
quando soube que ele fora liquidado pelas forças liberais comandadas por D. Pedro, seu
irmão; destronado e mandado para o exílio, Jacinto não se conformou e auto exilou-se para
a França com a mulher, D. Angelina Fafes; com o filho Cintinho;
Após uma viajem muito desastrosa seu avó morrera e sua esposa decide ficar na cidade.
Cintinho apaixonou-se por Teresinha Velha e, então, nascera Jacinto;
Jacinto fora “Rijo, rico, indiferente ao Estado e ao Governo, nunca lhe conhecemos outra ambição
além de compreender bem as ideias gerais; e a sua inteligência (...) circulava dentro das filosofias mais
densas com enguia lustrosa na água limpa de um tanque.”
Além de rico, sadio, belo e inteligente; tinha sorte, ganhou 400 mil pesetas na loteria.
Por todas essas qualidades, era conhecido por “Príncipe da Grã-Ventura.”
Jorge Carlande, um conhecido de Jacinto, resumia sua teoria a uma forma algébrica:
Suma ciência X Suma potência = Suma felicidade;
Seu melhor amigo, Zé Fernandes( e narrador do livro) anuncia que vai ao campo a pedido
de seu tio Afonso Fernandes, Jacinto ,então, fica horrorizado, mas Fernandes viaja e só volta
quando seu tio falece.
24.
Capítulo II
Ao encaminhar-se à Rua Campos Elísios em demanda
do 202, encontra-se com Jacinto, no portão de sua casa;
E mesmo diante de tanto luxo, Jacinto parecia cada dia
mais triste e cansado. Disse que durante esses sete
anos, “vivera – cumprira com serenidade todas as
funções, as que pertencem à matéria e as que pertencem
ao espírito...”
Jacinto hospedara Zé Fernandes no 202;
Enquanto Zé Fernandes descia os Campos Elísios,
pensava no atraso de Guiães (cidade interiorana
em que ficou a pedido de seu tio), onde desde
séculos, a alma das laranjas permanece ignorada.
25.
Capítulo III
Jacinto e Zé Fernandes conversam e o homem da cidade conta sua rotina ao amigo:
Tinha-se tornado o presidente do Clube da Espada e Alvo; sócio do jornal “O Boulevard”;
diretor da Companhia dos Telefones de Constantinopla; sócio dos Bazares Unidos da Arte
Espiritualista; membro do Comitê de Iniciação das Religiões Esotéricas etc;
Ele passava o dia rabiscando a carteira, atendendo telefone, desatando pacotes e
ocupações incessantes. Entre um compromisso e outro, Jacinto exclamava que tudo “é
uma seca!”;
Aos poucos, Zé Fernandes foi conhecendo os amigos sofisticados e ricos da grande
cidade: o barbeiro Efraim, com a sua encaracolada barba hebraica; o longo nariz
aristocrático de Madame Trèves; as bochechas flácidas do poeta neoplatônico Dornan; os
cabelos negros de Madame Verghane; o monóculo do diretor do Boulevard; o bigodinho
do Duque de Marizac ...
Numa tarde, ocorre um acidente no banheiro: rompe um tubo d’água quente, faíscas
soltam dos fios elétricos; um vapor quente abafou as luzes e a água inundou o tapete;
No dia seguinte, o Grilo, com a mão enfaixada pelo acidente da véspera, trazia o “Fígaro”
que noticiava o desastre do 202;
É anunciada a chegada da Madame de Oriol que estava morrendo por admirar as ruínas!
No final do dia, Jacinto extasiado de tanta confusão, convida o amigo para fazerem um
programa mais tranquilo no domingo: ir ao Jardim das Plantas, verem a girafa!
26.
Capítulo IV
Uma noite, Jacinto comunica a Zé Fernandes que haverá uma
festa no 202 em homenagem ao grão-duque, que trará um peixe
muito raro da Dalmácia. Jacinto estava desanimado com a festa;
mas, o grão-duque reclamava de uma ceia e mesmo sem
interesse o Príncipe resolve dar a festa;
Estava toda a alta nobreza em sua festa;
De repente o mordomo apareceu e cochichou algo para Jacinto,
que empalideceu; “...o elevador dos pratos que inesperadamente, ao
subir o peixe de Sua Alteza, se desarranjara, e não se movia,
encalhado.”
Toda a polidez do Grão-duque transformou-se em fúria: “Pois
um peixe que me deu tanto trabalho! Para que estamos nós aqui então
a cear?”
Todos vão à cozinha na tentativa de salvar o peixe, quando
Todelle sugere pescá-lo. Mas, todas as tentativas foram
inválidas, tiveram que jantar sem o famoso peixe e aceitar a
ideia que foi mais “divertido pescá-lo (ao tentar, pescá-lo) que comê-
lo”.
27.
Capítulo V
Passadas algumas semanas, Zé Fernandes continuava hóspede do 202, mas
a sua alma habitava a Rua do Hélder, nº 16, quarto andar, porta à
esquerda.
Acontece que, numa tarde, descendo o Boulevard da Madalena, conheceu
uma prostituta decadente: Madame Colombe.
“Amei aquela criatura. Amei aquela criatura com amor, com todos os amores, que
estão no amor, o amor divino, o amor humano, o amor bestial, como Santo
Antonino amava a Virgem, como Romeu amava Julieta, como um bode ama uma
cabra. (...) Durante sete furiosas semanas perdi a consciência da minha
personalidade de Zé Fernandes...”
Certa tarde, Zé Fernandes ao se conduzir à Rua do Hélder para mais uma
tarde de delícias e gozos; encontrou a conhecida porta fechada.
Zé Fernandes sente-se muito triste, mas escolhe esquecer a mulher.
No dia seguinte, Zé Fernandes já recuperado, reencontra Jacinto
arrastando-se com o seu tédio e vacuidade.
Zé Fernandes vendo a infelicidade de Jacinto tenta convence-lo a conhecer
o campo, mas esse nega a possibilidade.
28. • Inicia –se com uma visita periódica de jacinto e Zé
Fernandes a madame Oriol
• Através de um outro ângulo Zé Fernandes e
jacinto observa paris sob um céu cinzento
• .Através de críticas severas à Civilização da
Cidade feitas por Zé Fernandes ,no qual
responsabiliza a cidade pela miséria, pelas falsas
amizades, pela violência, pela falência do amor
puro e sincero.
• Inicio de uma ruptura de pensamento
Capitulo VI
29. Naquele ano, Madame de Oriol permaneceu em Paris e
Jacinto visitava-a diariamente. Numa dessas tardes,
Jacinto recebeu o recado que a sua amiga não estaria em
casa. Jacinto aceitou, então, ainda que a contragosto, a
sugestão do narrador de irem a uma basílica, no alto de
um morro
Ao avistar do alto a cidade, José Fernandes teceu algumas
críticas à “maravilhosa civilização” que ali se resumia a
uma mancha cinza e Jacinto se rendeu, enfim,
considerando que todas aquelas tecnologias não
passavam de uma ilusão
Isso foi a gota d’água para que o narrador deixasse de
usar ironias sutis e passasse a expor claramente sua
posição em relação às modernidades, suas futilezas, sua
superficialidade, sua extravagância e suas desigualdades
30.
Capitulo VII
José Fernandes foi viajar pela Europa. Conta quantas cidades, hotéis e igrejas visitou, quantas
vezes fez e desfez malas. E acaba por revelar que o melhor dia de viagem foi quando, em
Veneza, encontrou um inglês que conhecia Portugal e com ele relembrou sua terra.
Mas uma vez o narrador, de forma irônica, despreza o que a “civilização” proporciona -
turismo à vontade - e valoriza sua origem, sua casa, sua terra.
O narrador aproveita para novamente discutir a questão social: compara a situação dos pobres
da cidade que não contam com nenhum apoio, em comparação aos de sua terra que aos menos
podiam contar com a bondade da vizinhança
O capítulo é fechado com um momento “poético”, cheio de simbolismos, com Jacinto andando
pela casa, encarando todos equipamentos, estante, livros, teorias, conhecimentos... e indo,
melancolicamente, dormir.
31.
Capitulo VIII
Jacinto informa a Zé Fernandes que partirão para Tormes anunciando o final das obras da capela, para onde seriam
trasladados os restos mortais de seus antepassados e anuncia o desejo de estar presente no dia da cerimônia.
num dos transbordos para um trem o criado Grilo, que guardava a bagagem pessoal dos dois amigos, se perdeu e
com sorte chegaria em um dia ou uma semana
sem qualquer bagagem, descobriram que Silvério, procurador de Jacinto, houve algum desencontro nas
correspondências. Todas caixas de mobiliários enviadas com antecedência de Paris não haviam chegado.
Foram recebidos, então, por Melchior, um serviçal que não pode ajudar muito, senão com um prato de comida
,galinha ensopada que muito agradou o paladar do faminto Jacinto
A falta de conforto incomodava Jacinto, que deciciu partir para Lisboa assim que possível, mas ao mesmo tempo as
belezas do campo e a clara visão do céu noturno o agradavam.
José Fernandes, que partiria para Guiães na manhã seguinte encontrar com sua tia Vicência, prometeu enviar
algumas roupas e utensílios básicos que salvariam Jacinto até sua ida à Lisboa.
32.
Capitulo IX
Em Guiães Zé Fernandes recebeu suas malas que estavam perdidas. Tentou contatar Jacinto em Lisboa mas ele
nunca respondia. Até que encontrou com um familiar de Melchior que passara por Tormes e lá vira Jacinto
Surpreso com a permanência de Jacinto nas serras por mais de cinco semanas. Chegando a Tormes se depara com
o casarão bem arrumado, mas de forma simples, sem todos mecanismos que foram encaixotados no 202.
Zé Fernandes cada vez mais se surpreende e admira as novas filosofias de Jacinto, que supervaloriza a natureza e
suas criações, jogando por terra todo pessimismo que outrora elogiava em Shopenhauer
O enterro dos ossos dos Jacintos antepassados, que era o motivo inicial da visita, se tornou uma cerimônia muito
simples,. Foram sete ossadas e meia - uma era de criança - levadas para a nova igrejinha. E até nesse singelo
momento Jacinto encontrou beleza.
Nesse ponto Zé Fernandes faz uma observação de cunho social: todo esse gosto pela natureza e todos planos de
trabalhá-la só eram possíveis para alguém como Jacinto, que tem “a vida ganha”, mas não seria para meros
assalariados. Esta observação é uma prévia do que virá no capítulo seguinte.
33.
Capitulo X
Um dia antes de Zé Fernandes voltar a Guiães ele acompanha Jacinto para uma visita a Silvério em que trataria de
assuntos de suas terras.
O tempo que até então estava aberto começou a mudar e uma tempestade interrompeu o trajeto. O narrador viu
esse momento como um desafio, uma prova, para saber até onde iria o romance de seu amigo pelas serras, pois
poderia se resumir a uma paixão ao calor do sol de verão ou ter se tornado um amor que resistiria às tempestades e
ao inverno. O próprio Jacinto parece aceitar o desafio, consciente de que precisa conhecer o campo em bons e maus
dias.
Aguardando num alpendre a passagem da chuva os dois amigos e Silvério são surpreendidos por uma pobre
criança, com aparência doentia. Jacinto se espanta com a situação do menino e vai até a casa de sua família, cuja
mãe está doente.
Ao ver a triste situação daqueles que também são seus empregados, Jacinto se choca por nunca ter imaginado que
em um lugar tão belo como aquele poderia haver tanta miséria. Decide, então, empenhar esforços e dinheiro para
mudar aquela realidade: construir novas casas, contratar médicos, aumentar salários... Silvério desacredita tudo
que ouve, contesta a falta de bom senso nessas medidas, mas acata, afinal Jacinto também é seu patrão.
34.
Capítulo XI
Tia Vicência ficava enciumada das ausências de
Zé Fernandes, sempre se demorando no
Tormes, e pede para que ele leve Jacinto para
conhecê-la.
Comenta-se sobre a prima Joaninha.
O plano de construir casas simples para os
empregados se estendeu surgindo até a ideia da
construção de creche, farmácia, biblioteca e
escola.
A popularidade de Jacinto corre por todos os
lados: “Aquele bom senhor era El Rei D.
Sebastião, que voltara!”
35.
Capítulo XII
Aniversário de Zé Fernandes.
O príncipe faz uma visita a Guiães.
A prima Joaninha não poderia ir porque seu pai
estava com furúnculo e não conseguiria se sentar na
carruagem.
36.
Capítulo XIII
O encontro de jacinto com a classe mais nobre de Tormes no
aniversário de Zé Fernandes se dá com desconfiança por parte
desta.
Acreditavam que ele “ veio para Tormes trabalhar no
Miguelismo”
37.
Capítulo XIV
Fazem um passeio até a Flor da Malva
para visitar o tio Adrião, mas com a real
intensão de apresentar Joaninha ao
príncipe.
“E foi assim que Jacinto, nessa tarde de
setembro, na Flor da Malva, viu aquela
com quem casou em maio, na capelinha de
azulejos, quando o grande pé da roseira se
cobria todo de rosas.”
38.
Capítulo XV
Passaram-se cinco anos em Tormes e a serra.
Jacinto tem dois filhos: Jacintinho e Teresinha.
Optou por um equilíbrio entre a simplicidade e a
civilização.
Mandou buscar os caixotes extraviados para Alba de
Tormes e guardar no sótão todas as “inutilidades”.
Este é o ponto em que o dilema existencial entre a
“cidade e as serras” se resolverá, pois Jacinto aproveitará
muito pouco do que há de civilização nas malas.
39.
Capítulo XVI
“Muitas vezes Jacinto, durante esses anos, falara com prazer
num regresso de dois, três meses, ao 202, para mostrar Paris
à prima Joaninha.” Mas, essa ideia era sempre adiada.
Zé Fernandes andava desolado e resolveu partir para Paris.
Teve uma “(...) sensação de monotonia, de saciedade, como
cercado já de gentes muito vistas, murmurando histórias
muito sabidas, e coisas ditas, através de sorrisos estafados.”
A indiferença, o luxo, a solidão e a promiscuidade de Paris,
enojavam Zé Fernandes.
Percorreu as mais famosas ruas de Paris e tudo lhe parecia
estagnado. “Não há nada de novo!”
40. Zé Fernandes decide voltar para as serras: “ – Pois
adeusinho, até nunca mais! Na lama do teu vício e
na poeira da tua vaidade, outra vez, não me pilhas!
O que tens de bom, que é o teu gênio, elegante e
claro, lá o receberei na serra pelo correio.
Adeusinho!”
“ e na verdade me parecia que, por aqueles
caminhos, através da natureza campestre e mansa, o
meu Príncipe (...) a minha prima Joaninha (...) os
dois primeiros representantes da sua abençoada
tribo, e eu, tão longe de amarguradas ilusões e de
falsas delícias, trilhando um solo eterno, e de eterna
solidez, com a alma contente, e Deus contente de
nós, serenamente e seguramente subíamos – para o
Castelo da Grã-Ventura!”
43. 1) Leia o trecho de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.
Então, de trás da umbreira da taverna, uma grande voz bradou, cavamente, solenemente:
— Bendito seja o Pai dos Pobres!
E um estranho velho, de longos cabelos brancos, barbas brancas, que lhe comiam a face cor de
tijolo, assomou no vão da porta, apoiado a um bordão, com uma caixa a tiracolo, e cravou em Jacinto
dois olhinhos de um brilho negro, que faiscavam. Era o tio João Torrado, o profeta da serra... Logo lhe
estendi a mão, que ele apertou, sem despegar de Jacinto os olhos, que se dilatavam mais negros. E
mandei vir outro copo, apresentei Jacinto, que corara, embaraçado.
— Pois aqui o tem, o senhor de Tormes, que fez por aí todo esse bem à pobreza.
O velho atirou para ele bruscamente o braço, que saía, cabeludo e quase negro, de uma manga
muito curta.
— A mão!
E quando Jacinto lhe deu, depois de arrancar vivamente a luva, João Torrado longamente lhe
reteve com um sacudir lento e pensativo, murmurando:
— Mão real, mão de dar, mão que vem de cima, mão já rara!
[...] Eu então debrucei a face para ele, mais em confidência:
— Mas, ó tio João, ouça cá! Sempre é certo você dizer por aí, pelos sítios, que el-rei D.
Sebastião voltara?
Eça de Queirós. A cidade e as serras.
44. a) No trecho, Jacinto é chamado, pelo velho, de “Pai dos Pobres”. Essa qualificação
indica que Jacinto
mantinha com os pobres da serra uma relação democrática e igualitária? Justifique sua
resposta.
a) Jacinto não mantém uma relação democrática e igualitária com os pobres, uma vez que,
para com eles, suas atitudes se caracterizam pelo paternalismo e pelo assistencialismo.
b) Tendo em vista o contexto da obra, explique sucintamente por que o narrador,
no final do trecho, se refere a “el-rei D. Sebastião”.
b) Em Portugal, após o desaparecimento de D. Sebastião, desenvolveu-se o “mito
sebastianista”, ou seja, a crença de que ele haveria de voltar para resgatar a grandeza que
o País conhecera no século XVI. As atitudes paternalistas e assistencialistas de Jacinto,
levando certo conforto e bem-estar aos habitantes de Tormes, acabam por permitir essa
identificação
45. Leia o excerto de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se
pede.
Era um domingo silencioso, enevoado e macio, convidando às voluptuosidades da
melancolia. E eu (no interesse da minha alma) sugeri a Jacinto que subíssemos à basílica do
Sacré-Coeur, em construção nos altos de Montmartre. (...) Mas a basílica em cima não nos
interessou, abafada em tapumes e andaimes, toda branca e seca, de pedra muito nova, ainda
sem alma. E Jacinto, por um impulso bem jacíntico, caminhou gulosamente para a borda do
terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, na planície cinzenta, a
cidade jazia, toda cinzenta, como uma vasta e grossa camada de caliça* e telha. E, na sua
imobilidade e na sua mudez, algum rolo de fumo**, mais tênue e ralo que o fumear de um
escombro mal apagado, era todo o vestígio visível de sua vida magnífica.
*Caliça: pó ou fragmentos de argamassa ressequida, que sobram de uma construção ou resultam da
demolição de uma obra de alvenaria.
**Fumo: fumaça.
Planta de Paris em 1853
46. a) Em muitas narrativas, lugares elevados tornam-se locais em que se dão percepções
extraordinárias ou revelações. No contexto da obra, é isso que irá acontecer nos “altos de
Montmartre”, referidos no trecho? Justifique sua resposta.
a) Os altos de Montmartre trazem a Jacinto uma revelação de que a urbanização desordenada e o
crescimento industrial não trazem a Almejada felicidade, mas a certeza da miséria humana diante
da exploração do trabalho. A almejada ascese pelo progresso e pela Tecnologia acumulada
num grande centro urbano não se realiza, á que Jacinto concordou com Zé Fernandes que aquela
grandeza de civilização era apenas ilusão. O discurso de Zé Fernandes, que se segue a esse momento,
não passou de oportunismo do narrador ao aproveitar-se do instante de fraqueza de Jacinto, mas
sem acreditar na necessidade de transformação moral ou social.
b) Tendo em vista o contexto histórico da obra, por que é Paris a cidade escolhida para
representar a vida urbana? Explique sucintamente
b) Paris é escolhida como espaço inicial do romance por sua pujança tecnológica e industrial e por
representar a força capitalista na produção de bens. Paris é o centro da Segunda Revolução
Industrial (séc. XIX) e, portanto, o desenvolvimento industrial Gerou progresso e o consequente
enriquecimento da grande metrópole.
c) Sintetizando-se os termos com que, no excerto, Paris é descrita, que imagem da cidade
finalmente se obtém? Explique sucintamente
c) A imagem resultante é negativa, pois é apresentado um defeito comum a um grande centro
urbano, a poluição: “a cidade jazia, toda cinzenta, como uma vasta e grossa camada de caliça* e telha
47. Leia o excerto de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.
Na sala, a tia Vicência ainda nos esperava desconsolada, entre todas as luzes, que ardiam no silêncio
e paz
do serão debandado:
— Ora uma coisa assim! Nem querem ficar para tomar um copinho de geleia, um cálice de vinho do
Porto!
— Esteve tudo muito desanimado, tia Vicência! — exclamei desafogando o meu tédio. — Todo esse
mulherio
emudeceu, os amigos com um ar desconfiado…
Jacinto protestou, muito divertido, muito sincero:
— Não! Pelo contrário. Gostei imenso. Excelente gente! E tão simples … Todas estas raparigas me
pareceram
ótimas. E tão frescas, tão alegres! Vou ter aqui bons amigos, quando verifi carem que eu não sou
miguelista.
Então contamos à tia Vicência a prodigiosa história de D. Miguel escondido em Tormes… Ela ria!
Que
coisas! E mau seria…
— Mas o Sr. Jacinto, não é?
— Eu, minha senhora, sou socialista…
48. a) Defina sucintamente o miguelismo a que se refere o texto e indique a relação que há
entre essa corrente política e a história do Brasil.
a) O termo miguelismo designa uma corrente política de Portugal que apoiou D. Miguel,
defensor da monarquia absoluta, na luta pela implantação do liberalismo em Portugal. Após a
morte do rei português D. João VI, em 1826, D. Pedro I, Imperador do Brasil e herdeiro
presuntivo da Coroa, outorgou uma Constituição a Portugal, designando a própria filha como
futura rainha. D. Miguel opôs-se às medidas do irmão, dando início a uma grande guerra
civil. Ao abdicar da Coroa brasileira, D. Pedro I retornou a Portugal e venceu o conflito,
tornando-se D. Pedro IV. Ao longo do século XIX, miguelismo veio a denotar qualquer
corrente política conservadora que prometia restaurar a prosperidade do reino mediante a
rejeição do liberalismo.
b) Tendo em vista o contexto da obra, explique o que significa, para Jacinto, ser
“socialista”.
b) Antes da passagem em que afirma ser “socialista”, Jacinto travara contato com a extrema
pobreza de seus trabalhadores, o que o levara a empreender uma série de reformas de caráter
assistencialista: mandou construir novas habitações, creche, escola e farmácia, além de
melhorar as relações de trabalho. Sua auto definição como “socialista” refere-se, portanto, às
tentativas de atenuar os efeitos da aguda desigualdade social presente em suas fazendas.
Cabe ressaltar que, no contexto, o termo não pressupõe a partilha igualitária das
propriedades, compatível com o socialismo histórico.