O documento descreve os cinco estágios iniciais da comunicação humana de acordo com Todorov. No primeiro estágio (0-2 meses), a criança busca contato físico e carinho. No segundo estágio (2-5 meses), ela começa a buscar o olhar dos pais. No terceiro estágio (5-9 meses), a criança desenvolve habilidades motoras e começa a manipular objetos. No quarto estágio (9-18 meses), surgem imitação e rivalidade. No quinto estágio (a partir de 18 meses), ocorre a
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Estágios iniciais da comunicação e PNL
1. Estágios iniciais da Comunicação e a PNL
Rita Miranda Rosa
Este foi um trabalho que realizei no curso de mestrado. Ele sintetiza a concepção
de alguns teóricos, cuja relevância da comunicação encontra-se nos primeiros meses
de vida do ser humano e consequentemente dos primeiros atos de comunicação
quando o ser ainda não faz parte do coletivo e quando se dão as primeiras formas de
representação e logo as estruturas de pensamento, as redes neurais.
Vamos encontrar no livro “A vida em comum”, de Todorov, a descrição do
processo de comunicação do homem. O que somos dependerá do reconhecimento
que recebemos na fase inicial de nossas vidas. Todorov (1996, p. 44), menciona que
provavelmente o contato materno é o maior sentimento social da humanidade, e por
meio desse sentimento, acontece a base essencial da civilização humana.
ESTÁGIOS INICIAIS DA COMUNICAÇÃO
Primeiro Estágio:
Durante o primeiro estágio, o contato, a atividade que se
diferencia das simples funções fisiológicas foi descrita pelos
especialistas pelo concurso de diferentes termos, mas com
sentido próximo: as crianças buscam o contato reconfortante
de um corpo quente e macio. “desejam” ser seguradas no
colo, embaladas, envoltas por odores e ruídos que se tornarão
familiares; desejam, dizemos às vezes projetando sobre elas
um ponto de vista adulto, ser protegidas e tranqüilizadas, têm
necessidade de afeição e carinho...(TODOROV, 1996, p.79)
O primeiro estágio ocorre do nascimento aos dois meses. Esse período poderá
ser compreendido como o alicerce, a base da comunicação. Por meio de choro e sorriso,
o bebê chama a atenção para si. Ao alimentar-se no seio da mãe, tato e olfato são
desenvolvidos. Estas informações de aceitação e proteção ficarão perpetuadas no ser.
A criança tem necessidade de atenção e carinho. Os sentidos do tato e olfato
filtram sensações. É uma experiência que a criança vivencia, e desta experiência,
2. acontecerá uma representação única, carregada de emoções. Como Todorov menciona
que estas informações ficarão perpetuadas no ser, isso me leva a crer que a não
aceitação, a ausência da amamentação e do toque da mãe nesta fase, causará na
criança uma representação carregada de emoções negativas de não aceitação, de
inadequação, e também ficarão perpetuadas no ser, mas de forma negativa. Farão
parte de sua estrutura de pensamento, o que provavelmente formará uma crença
limitante fortemente enraizada, dificultando relacionamentos afetivos e sociais. (meu
grifo).
Segundo Estágio
O segundo estágio, o do olhar, começa não pelo fato de olhar – isso
a criança faz desde seu nascimento – mas, pelo fato de buscar o olhar
do outro, de querer ser olhado. A diferença entre os dois é essencial, e
marca a grande diferença entre o homem e outros animais superiores.
Estes, como vimos, conhecem a situação cara a cara, mas apenas em
ocorrência limitadas e tardias; está ausente na primeira infância. O
filhote de macaco, como o bebê humano, sente necessidade de ser
reconfortado; quando brinca sozinho, ou com seus pares, mantém-se
sempre a curta distância da mãe: quer poder vê-la. Mas não busca seu
olhar, nem faz nada para que ela o veja, por sua vez. A criança humana
deseja ser vista e não apenas ver (na linguagem de Sartre – que bem
reconheceu o papel constitutivo do olhar: “Mas a ligação fundamental
com o outro-sujeito deve poder reconduzir à minha possibilidade
permanente de ser visto pelo outro”). O olhar da mãe é o primeiro
espelho no qual a criança se vê.
Esse momento decisivo marca o nascimento simultâneo de sua
consciência do outro (aquele que deve olhá-lo) e de si próprio (aquele
que o outro olha) e, assim o nascimento da própria consciência. Embora
não podendo, evidentemente, dizê-lo, a partir desse momento a criança
sabe: olham-me, portanto, eu existo; o olhar da mãe introduziu a criança
na existência. (TODOROV, 1996, 77)
O segundo estágio, de acordo com Todorov, acontece de dois a cinco meses.
Nesse estágio, a acuidade visual, que no primeiro estágio ainda não se encontra bem
desenvolvida, tem agora seu desenvolvimento pleno. A criança não apenas olha,
ela também atrai o olhar dos pais para ela com seus primeiros ruídos sonoros, e, por
esse meio fantástico de comunicação entre pais e filho, o pequeno ser percebe-se na
existência.
3. Aqui considero que as crianças que desenvolveram as estruturas de serem
reconhecidas conseguem agir de forma mais natural no mundo. Parecem-me serem
aqueles adultos alegres, positivos ao enfrentar as dificuldades da vida, aqueles que
não sentem tanto a necessidade de reconhecimento, ao passo que as crianças que
não receberam este olhar de introdução à existência o procuram incessantemente no
decorrer da vida, sentindo-se infelizes e desorientadas quando não são reconhecidas,
podendo desenvolver uma crença de inferioridade, sempre achando que o outro é
melhor. (grifo meu).
Terceiro Estágio
Durante o terceiro estágio, o da manipulação, as relações com
as pessoas recuam para um plano inferior e a criança procura,
principalmente, aproveitar sua capacidade aperfeiçoada para pegar e
fazer mover objetos a sua volta. No entanto, a distinção entre pessoas
e coisas não estando bem estabelecida em sua mente, a criança pode
agir assim também com os seres humanos que a rodeiam. Podemos
identificar duas atividades: explorar o mundo a sua volta sem modificá-lo,
e determinar, tornar-se a causa operante de transformações no
mundo. Essas atitudes terão um desenvolvimento diferente no mundo
adulto: explorar conduz à ciência, determinar leva à técnica – mas
também, no mundo humano, à ação social. (TODOROV, 1996, p. 77)
No terceiro estágio, que ocorre de cinco a nove meses, Todorov menciona sobre
a importante alteração física que ocorre. A criança desenvolve a habilidade de manusear
objetos e sente-se fascinada por isso, o que a desvia um pouco da interação humana.
Ao despertar seu interesse, a criança faz-se entender, apontando em direção ao objeto
desejado. Nessa fase, também o que contribui para o aumento da habilidade manual é
manipulação do objeto de desejo.
Dada a imensa importância do que Todorov assinala: o despertar do interesse
especulativo que conduzirá a criança a procurar o Conhecimento e a sua capacitação
para competências, para “o fazer” – Homo habilis - por meio da manipulação dos
objetos colocados em sua proximidade, a fim de iniciar sua exploração. É relevante
comentar que, se fizermos uma análise sobre o terceiro estágio com bebês que temos
contato em nosso dia a dia, um dos primeiros passos para a locomoção é quando
eles conseguem virar de bruços e apoiarem-se em suas mãos, fortalecendo assim os
4. músculos dos braços. Fazem um grande esforço para manterem a cabeça erguida,
e em seguida, certos de que realizaram uma grande proeza, procuram por um olhar
que os aprovem para compartilharem essa grande conquista. Uma vez adquirida essa
habilidade, o próximo passo será dobrar o joelho e, com ajuda das pernas, engatinhar!
Esse marco do terceiro estágio além de desenvolver todos os músculos do corpo irá
melhorar sua capacidade física, o que possibilitará a exploração do mundo à sua volta.
Podemos compreender esse avanço como a conquista da liberdade, o primeiro passo do
ser humano em busca do que se deseja.
Associando aos estudos de PNL, acredito que o terceiro estágio forma
estruturas de atitude, coragem de buscar o que se deseja. É quando o ser humano
começa a movimentar a roda da vida e ele deve receber estímulos do meio para que
se fortaleça a sua força de vontade e apoio daqueles em quem confia. No entanto,
acredito que se esta fase não for bem trabalhada, a probabilidade do ser se tornar um
adulto medroso e sem atitude é grande. Penso que por excesso de cuidados, a maioria
das pessoas não desenvolveram de forma satisfatória o terceiro estágio e é sempre
reconfortante saber que a PNL pode nos ajudar a alterar estas estruturas. (grifo meu)
Quarto Estágio
No curso do quarto estágio, o da memória, surgem novas ações. A
criança procura agora imitar os pais ou seu companheiro (que não
estavam bem diferenciados durante a exploração ou a determinação);
um pouco mais tarde, mas sempre no decorrer desse mesmo estágio,
a criança começa a combater seus rivais. Essa ação, que segundo os
filósofos clássicos – de Hobbes a Nietzsche passando por Hegel – é
o traço constitutivo da humanidade, está de longe de ser a primeira
praticada pela criança: implica; de fato, uma evolução avançada. Por
esse motivo, é igualmente difícil falar de uma agressividade inata ou
de um sadismo original. Em sua análise, afirma Michael Balint, “na
verdade, jamais observamos nenhuma pessoa congenitamente má ou
perversa, nem um verdadeiro sádico (...). É o sofrimento que faz alguém
perverso”. O combate é uma atividade determinada por seu objetivo:
conseguir um objeto ou a atenção de uma pessoa: se nenhum rival se
apresentar, a luta não acontece. (TODOROV, 1996, p.77)
5. O quarto estágio ocorre dos nove aos dezoito meses. Todorov menciona
que, segundo numerosos autores, “as alterações ocorridas por volta do nono mês são tão
importantes que merecem ser consideradas como um segundo nascimento, uma entrada
definitiva no mundo humano”. Com a evolução mental, a criança começa a identificar
as pessoas a sua volta e a separá-las dos objetos. Reconhece seus familiares e teme os
estranhos. Depois de passar um período longe dos pais, reage fazendo bico e
manifestações de choro, isto é, tenta puni-los por sua ausência. A memória também se
desenvolve neste estágio e a lembrança de sentir-se só faz com que ele imite seus
progenitores; percebem a diferença entre grupo de adultos-pais e grupo de crianças-companheiras
e comportamentos de rivalidade. Nesta fase, as crianças começam a
combater seus rivais. Segundo filósofos clássicos, é o traço constitutivo da humanidade,
portanto é difícil falar em agressividade inata ou sadismo original. O combate é a
primeira ação que a criança dirige apenas contra seus companheiros, não contra os pais.
É uma prova de força entre duas crianças que disputam o mesmo brinquedo - o mais
forte levará. Essa combinação de ações conduzirá a sentimentos complexos, tais como
ciúme, inveja, ódio e paixões, que poderão ser melhor compreendidos sob uma visão
aristotélica.
Acredito que no quarto estágio as crenças se instalam. A força do meio, mídia
e educação informal se estruturam neurologicamente e o ser passa a fazer parte do
senso comum. Para essa colocação de Todorov, encontro explicações no material
interessante que foi obtido através do website de Cipriano Carlos Luckesi. No texto
Avaliação da Aprendizagem na Escola e a Questão das Representações Sociais,
Luckesi faz uma abordagem espetacular com relação as representações sociais,
que são os modos inconscientes de compreender uma determinada prática social e,
consequentemente, a permanência de um padrão de conduta. Ele menciona alguns
estudiosos do comportamento humano, dentre eles Wilhelm Reich.
Para Wilhelm Reich (1896-1957), psiquiatra alemão, as experiências
davam-se no corpo de cada um como cicatrizes. Cada um de nós manifesta padrões
corporais que sintetizam nossa história de vida congelada, que são as crenças mais
profundas, nossas interações, experiências pessoais ou decorrência de nossas heranças
familiares e socioculturais que nos acompanham pelo caminhar da vida. Desta forma,
nosso corpo passa a comunicar o que passa pela nossa mente. Basta saber interpretar.
6. Quinto Estágio
A aquisição da linguagem, durante o quinto estágio, acrescenta novas
dimensões a cada uma das ações praticadas anteriormente: a criança
pode agora ser reconfortada e reconhecida com o auxílio da palavra em
vez de gestos ou olhares, pode determinar e até explorar o mundo por
esse meio, alternando as palavras e imitando-as.
Dentre essas ações elementares, não mencionarei o amor. Isso porque
a relação da criança com os pais não é beneficiada, creio eu, ao ser
envolta por esses termos genéricos demais. Na fase inicial a criança tem
necessidade dos outros, necessidade de ser reconfortada e reconhecida,
necessidade de entrar em colaboração. Mais tarde, quando a imagem
da mãe está bem fixada e identificada, todos os componentes anteriores
reaparecem: o amor da criança é um conjunto, não uma ação elementar.
Podemos dizer o mesmo do amor erótico dos adultos, embora os
dois não sejam do mesmo gênero: prazer sensual, necessidade de ser
reconhecido e, por sua vez, de reconhecer, de cooperar e de lutar,
tudo isso, e muito mais, compõe a relação amorosa. (TODOROV, 1996,
p.82)
Finalmente, no quinto estágio, que ocorre a partir dos 18 meses, segundo
Todorov (1996 pg. 82), ocorre a aquisição da linguagem, que será estabelecida com
base nos estágios anteriores. Nessa fase, ocorrerá a consagração da linguagem, a
importância do outro para que se estabeleça o diálogo e a certeza de que esse contato
jamais terminará. Na fase inicial, a criança tem necessidade dos outros, de ser
reconhecida, reconfortada, acolhida, amada. O amor é um conjunto destes componentes,
que deverão ser sentidos em cada um dos estágios.
Dessa forma, é importante ressaltar que o amor deverá ser sentido, para que
o ser possa expressá-lo nas suas atitudes e fazê-lo presente em suas palavras quando
necessário. Percebemos o quão importante é cada um dos estágios apresentados pelo
autor e que se trata de uma base que poderá ser sólida ou frágil. Está lançada a sorte
do pequeno ser! O meio, suas relações e suas necessidades, que são diferentes de
indivíduo para indivíduo, são fatores predominantes para a saúde emocional do ser.
Como educadora, ao me deparar com o comportamento de pais, alunos e professores,
tenho me perguntado: Por que não somos preparados para sermos fortes e vencedores?
7. Por que não somos preparados para acreditarmos nos nossos potenciais? Por que
nossos potenciais e capacidades não são desenvolvidos na sua plenitude?