1) O documento discute pontos de convergência e divergência entre as teorias linguísticas de Chomsky e Piaget.
2) Piaget concorda com três aspectos essenciais da obra de Chomsky: que a linguagem é um produto da inteligência, não de aprendizagem comportamental; que existe um núcleo fixo necessário para todas as línguas; e que há um construtivismo parcial nos trabalhos de Chomsky sobre gramáticas transformacionais.
3) As principais divergências são sobre a composição do "núcleo fixo"
Formação Escola Tereza Francescutti - Níveis de Interação disicplinar
Algumas convergências e divergências entre o programa de chomsky e o de piaget
1. Curso de Tradutor Intérprete de LIBRAS
Linguística Geral
Prof.ª Mariana Correia
Parte 2 – Teorias Linguísticas
Algumas convergências e divergências entre o programa de Chomsky e o
de Piaget
ANA PAULA NOBRE DA CUNHA
Apesar da existência de opiniões controversas quanto à aproximação
desses dois programas, Piaget (1978c, p.93) afirma concordar com três
aspectos essenciais da obra de Chomsky: 1 O ) “a linguagem é um produto da
inteligência ou da razão e não de uma aprendizagem, no sentido behaviorista
do termo”; 2 o) “esta origem racional da linguagem supõe a existência de um
núcleo fixo necessário para a elaboração de todas as línguas”; 3 o ) existe um
construtivismo parcial nos trabalhos de Chomsky no que diz respeito às
gramaticas transformacionais. Em relação a esses aspectos de convergência
diz Piaget (1978c, p.93):
Estes pontos são tão essenciais e fundamentais que a questão
de hereditariedade ou inatismo da linguagem me parecem muito
secundárias. [...] Penso, pois, que existe acordo sobre o essencial, e
não vejo nenhum conflito importante entre a linguística de Chomsky e a
minha própria psicologia. Posso até dizer que, nos pontos que dizem
respeito às relações entre a linguagem e o pensamento, me considero
simétrico de Chomsky.
Mesmo havendo esses pontos de convergência entre os dois
programas, as divergências existem, principalmente em relação ao “núcleo fixo”
ou estado inicial Sº. Segundo Céllerier (1978, p.114), tanto Chosmky quanto
Piaget admitem que exista um “estado inicial Sº geneticamente determinado”,
não vazio, um estado final estacionário Ss relativamente estável e, entre esses
dois, uma sequência de estados intermediários, Chosmky e Piaget também
concordam que uma parte do conteúdo desses estados é adquirida e não inata.
Como resultado dessa concordância, surge a questão clássica sobre o núcleo
fixo: que partedeste conteúdo é inata e que parte é adquirida? A partir dessa
pergunta surgem importantes divergências entre os dois programas teóricos.
Na concepção de Chomsky, segundo Céllerier (1978, p.115):
S° contém principalmente características abstratas: “universais
formais, condições sobre a natureza e o funcionamento do sistema de
regras e de princípios que constituem a nossa representação de um
domínio cognitivo”, e S° contém também “universais substanciais,
elementos fixos que entram nas gramáticas particulares”.
Na concepção de Piaget, segundo Céllerier (1978, p.115):
2. a forma inicial da inteligência, inteligência sensório-motora ou
prática, desenvolve-se a partir de um núcleo de programas de ação
sensóriomotores inatos e pré-adaptados. Estes programas, diz Piaget,
organizam, coordenam as ações e as percepções particulares que são
adaptadas ao conteúdo específico do ambiente no qual operam. Estes
elementos particulares contêm o conhecimento deste conteúdo
específico.
O que diferencia basicamente as posições de Chomsky e Piaget quanto
ao núcleo fixo é que para o primeiro importa saber a especificidade desse
núcleo e não como atingiu a fixidez, enquanto para o segundo o que importa é
justificar a estabilidade do núcleo fixo em termos de mecanismos auto-
reguladores.
Chomsky busca a caracterização de um núcleo específico partindo dos
conhecimentos das línguas naturais; “este conhecimento deve permitir, de
volta, compreender o que torna possível este núcleo” (MEHLER, 1978, p.484).
Para Piaget, o que tem maior importância sempre é o que está “por vir”,
consequentemente, “mesmo que fosse possível demonstrar-lhe a existência do
núcleo fixo, nada, segundo ele, se modificaria, transformando-se a questão
imediatamente em: como se tornou nisso?” (MEHLER, 1978, p.484).
Disponível em:
http://wp.ufpel.edu.br/geale/files/2010/11/anapaula.-disserta1.pdf
Acessado em 07/10/2012