Painel: Análide do Espaço e da Jornada do Herói em O Talismã de Stephen King e Peter Straub
1. Este trabalho tem a intenção de apresentar o romance O Talismã, de Stephen King e Peter Straub,
dois grandes escritores de suspense da atualidade e, também, um estudo sobre a topoanálise,
analisando sua influência no romance citado.
O estudo do espaço em obras literárias vem recebendo atenção aproximadamente desde o ano de
1974 e esse novo interesse surgiu com a desvalorização do tempo dentro da narrativa que, por sua
vez, veio da desvalorização dos personagens e do enredo.
A seguir falaremos um pouco mais sobre o assunto.
O professor Ozíris Borges Filho, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, escreveu
recentemente um livro tratando da topoanálise, ou seja, a análise do espaço em obras literárias e
foi este livro que usamos para nosso trabalho.
A análise do espaço literário pode ser considerada interdisciplinar, e os termos que são usados
podem receber definições variadas. Apesar disso, a teoria literária não tem por obrigação repetir
esses conceitos, podendo criar novos de acordo com seus objetivos, fins de análise e
entendimento da realidade.
Os conceitos que mais variáveis são os de espaço, lugar (estes são tidos como sinônimos por
alguns autores), paisagem e território.
A topoanálise é o estudo do espaço na obra literária ou, segundo Bachelard, o estudo psicológico e
sistemático dos locais de nossa vida íntima (1989, p. 28) e inclui todas as abordagens sobre o
espaço, e as inferências sociológicas, filosóficas, estruturais etc. farão parte da interpretação do
espaço na obra literária. Ela também não se restringirá à análise da vida íntima, mas abrangerá a
vida social e todas as relações do espaço com a personagem, seja no âmbito cultural ou natural.
O espaço tem a função de caracterizar os personagens, situando-as no contexto socioeconômico e
psicológico em que vivem; influenciar as personagens e também sofrer suas ações; propiciar a
ação das personagens; situar a personagem geograficamente; representar os sentimentos vividos
pela personagem; estabelecer contrastes entre as personagens e antecipar a narrativa.
Para uma boa topoanálise, devemos estar atentos a detalhes como o enredo do texto literário; se o
texto pode ser segmentado (dividido) em macroespaços, microespaços (cenários, natureza,
ambiente e paisagem) ou não.
São analisadas também as perspectivas espaciais, ou seja, se é uma narração horizontal ou
vertical; o tipo de espacialização (franca, reflexa ou dissimulada); a abundância ou moderação dos
detalhes; se é uma descrição minuciosa ou panorâmica, objetiva ou subjetiva.
Outros pontos que também tem relação com a análise do espaço são os gradientes sensoriais, ou
seja, os nossos cinco sentidos: visão, o sentido mais abrangente e através do qual podemos
analisar a influência das cores nos espaços do texto; o tato; a audição; o olfato e o paladar.
O texto é analisado, também, segundo a presença ou não de fronteiras, podendo estas ser
artificiais ou naturais, tensas ou distensas.
A análise espacial é feita não somente pelo espaço em si, mas também pelos termos usados na
escrita do texto, substantivos, adjetivos, advérbios, pronomes, verbos, o estudo dessas classes
gramaticais nos ajudam a compreender melhor o sentido que o autor quis dar a determinados
trechos. Além disso, as figuras de retórica como metáfora, sinédoque, assíndeto e hipérbole
também ajudam o texto ganhar vida.
Existem, também, dois pontos interessantes na topoanálise que são a topopatia, que analisa a
relação afetiva das personagens com os espaços, e a toponímia, que analisa a relação dos nomes
com os espaços que eles nomeiam.
Jack Sawyer, 12 anos, e sua mãe, Lily Cavanaugh, que está doente, chegam ao hotel Alhambra em
New Hampshire, após vários dias fugindo de Morgan Sloat, sócio do falecido pai de Jack, que quer
se apoderar de todos os bens da família.
De frente ao hotel, existe um parque de diversões que só abre nas temporadas de férias, e lá Jack
conhece Speedy Parker, um senhor que normalmente o chama de “Jack Viajante” e que conta a
Jack que ele pode salvar sua mãe, bastando para isso encontrar um talismã. Speedy também dá ao
menino uma bebida que o leva direto para os “Territórios”, um mundo de estilo medieval paralelo
ao nosso e onde Jack deverá ingressar para sua jornada em busca do Talismã.
Jack, apesar de muito preocupado, deixa sua mãe no hotel Alhambra e segue em direção à costa
da Califórnia. Em sua primeira passagem mais longa pelos territórios, o menino descobre que a
rainha Laura DeLossian também esta doente e leva um choque ao perceber que ela é “uma gêmea”,
ou seja, o duplo de sua mãe que vive em outro mundo.
Durante a jornada, Jack conhece vários lugares, tanto na terra como nos Territórios, faz novos
amigos e reencontra outros e, também, passa por várias situações perigosas que, depois, serão
lembradas com carinho por ele, mas nunca esquecendo o objetivo real de sua viagem: salvar sua
mãe.
Consideramos no romance analisado dois macroespaços: o país Estados Unidos e o mundo paralelo a
ele, denominado Territórios, sendo que em cada um deles encontramos diversos microespaços muito
importantes para a obra como o Hotel Alhambra, lugar de refúgio de Jack e sua mãe; Parque de
Diversões Funworld, onde Jack conhece Speedy Parker e faz sua primeira travessia para os
Territórios; Territórios, um mundo paralelo ao nosso que pode ser comparado ao período medieval do
nosso mundo; O pasto onde Jack conheceu Lobo que se tornou seu melhor amigo e companheiro de
viagem; Casa do Sol, lugar para onde Jack e Lobo foram levados por terem sido considerados
menores abandonados e infratores; Colégio Thayer, onde Jack vai para encontrar seu amigo de
infância, Richard Sloat e acaba sendo perseguido pelos lobos que trabalham para Morgan Sloat;
Terras Secas, a pior parte da viagem de Jack em busca do Talismã, é parecido com um deserto e
parece ter sofrido experiências nucleares, pois os habitantes dessa área não parecem seres comuns;
Hotel Agincourt ou Hotel Negro, refúgio do Talismã e tem muitos obstáculos para impedir que Jack
alcançasse seu objetivo.
Podemos perceber nessa obra uma lateralidade, seguindo do lado direito para o esquerdo, em que o
direito representa o bem e o esquerdo o mal, concluindo que Jack tinha que seguir em direção ao mal
(oeste) para buscar um bem que salvaria sua mãe, o duplo dela, e outras pessoas, mas para isso seria
preciso superar todos os obstáculos e malefícios encontrados no caminho. Depois de cumprido seu
objetivo Jack faria uma nova viagem e poderia enfim, ficar junto da mãe.
Quanto a espacialização podemos dizer que é franca, toda feita pelo narrador, que não participa da
história, mesmo quando este transmite as impressões da personagem sobre alguma paisagem,
ambiente, ou construção. É também abundante, pois os espaços são descritos com grande riqueza de
informações e, quanto a ser minuciosa ou panorâmica, concluímos que apresenta os dois pontos,
variando do local e da impressão que o narrador quer causar nos leitores.
Analisamos, também, que o narrador utiliza os vários sentidos das personagens para transmitir ao leitor
as sensações que elas têm sobre o espaço e sobre tudo ao seu redor. Dentre os cinco sentidos, os
mais marcantes são a visão, que é o principal meio que as personagens têm para se situarem no
espaço e perceberem o perigo que as cercam e é utilizada desde o começo da narrativa; a audição,
também utilizada desde os primeiros capítulos da narrativa, sendo que, nos Territórios, a audição é
mais bem desenvolvida; e o olfato, já que as fragrâncias vão definir os mundos entre puro e impuro.
Em relação a existência de fronteiras, podemos ver que existem as artificiais que dividem os Estados
Unidos, dificultando a movimentação das personagens por esse espaço, e nos Territórios, temos
apenas fronteiras naturais, ou seja, as dificuldades encontradas na travessia são tem origem na
própria natureza.
Podemos considerar ainda que existe uma fronteira entre os Estados Unidos e os Territórios, que é
transposta por poucas personagens, e algumas só podem fazer essa transposição se estiverem com
outra que tem essa capacidade.
Quanto a topopatia, ou seja, o sentimento que cada personagem nutre pelo espaço, podemos concluir
que cada um sente-se melhor em seu espaço de origem, com exceção das personagens que transitam
pelos Territórios, todas se sentem muito bem quando estão lá e notam a diferença quando fazem a
passagem de volta.
Com este trabalho aprendemos a análise do espaço em textos, identificando seus itens de maior
importância e a influência na vida e ações das personagens da narrativa, e que essa influência pôde
ocorrer, também, em sentido inverso, ou seja, das personagens para o espaço.
Conhecemos também algumas curiosidades sobre os autores do romance e o que eles acharam de
escrever a narrativa, além de informações sobre como procederam durante o processo, chegando a
conclusão de que ambos acharam a experiência proveitosa, tanto que alguns anos mais tarde
resolveram repeti-la.
A parte mais importante do trabalho, entretanto, foi colocar em prática toda a teoria aprendida sobre a
topoanálise, utilizando-a para conhecer melhor o romance O Talismã, dando aos leitores, tanto deste
trabalho quanto do romance, informações detalhadas sobre o que cada local representa e influi nas
vidas das personagens, psicologicamente e também em suas ações e tomadas de atitude.
Foi muito interessante perceber o amadurecimento da personagem principal, Jack Sawyer ao longo da
sua jornada e descobrir que ele mesmo foi responsável por esse amadurecimento, no momento em
que decidiu deixar sua mãe e ir atrás do talismã para curá-la, mesmo sem saber se chegaria sequer
na metade do caminho.
BORGES FILHO, Ozíris. Espaço & Literatura: Introdução à topoanálise. Franca: Ribeirão Gráfica e
Editora, 2007.
KING, Stephen, STRAUB, Peter. O talismã. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
ANÁLISE DO ESPAÇO E DA JORNADA DO HERÓI EM O TALISMÃ DE
STEPHEN KING E PETER STRAUB.
KÊNIA GABIATTI
ainek5@yahoo.com.br
Orientador: Profº Ms. Renato Alessandro dos Santos
realess72@gmail.com
CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO DE BATATAIS
IntroduçãoIntrodução
TopoanáliseTopoanálise
O TalismãO Talismã
BibliografiaBibliografia
ConclusãoConclusão
Topoanálise de O TalismãTopoanálise de O Talismã