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Um Livro...
Uma História...
INTERCULTURAIS

Sugestões de Exploração
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Uma História...
INTERCULTURAIS

Sugestões de Exploração
Título
Um livro... Uma história...
Interculturais
Editor
Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas
Rua Álvaro Coutinho, 14 - 1150-025 Lisboa $ Tel.: 218 106 100 $ acime@acime.gov.pt
Autora
Bárbara Duque
Consultora Científica
Maria Augusta Seabra Diniz
Coordenação
Gabinete de Educação e Formação do ACIME/Entreculturas
Desenho da Capa
Rita Wemans, 2001 in “Enchamos tudo de futuros” (2003), Sopa de Letras/Principia
Concepção Gráfica
Cecília Guimarães
Execução Gráfica
Textype, Artes Gráficas, Lda.
Tiragem
5000 exemplares
Lisboa, Julho de 2005
Começar pelas histórias? Porquê?
As novas sociedades contemporâneas e as suas maneiras “outras” de ser, de estar, de olhar...
exigem leitores capazes de pensar e de se pensarem, de questionar e de se questionarem, de
reflectir e de se projectarem num futuro que se quer comum e mais justo. A Literatura
para a Infância, enquanto representação do real, é um elemento de compreensão do mundo em transição e mudança em que vivemos.
As histórias para crianças são basilares para as aprendizagens no domínio linguístico, perceptivo-cognitivo e afectivo-social, mas têm sobretudo um papel fundamental na formação do carácter e descoberta da vida: elas constituem um factor de enriquecimento pessoal, são um
material rico e privilegiado para uma aprendizagem da vida em sociedade.
A viagem ao mundo das histórias é uma viagem ao interior de nós mesmos, onde, por via
daquilo que nos é familiar e, através da capacidade de sonhar, encontramos soluções para os
nossos conflitos interiores, para os nossos medos e anseios, para os nossos desejos e sonhos...
Na verdade, estas histórias são mais do que um veículo de transmissão de conhecimentos
e informações sobre o Outro, sobre outros países e sobre outras culturas... São momentos de (re)criação, de partilha, de compreensão e de reflexão.
Neste folheto propomos uma leitura destas histórias com base nos princípios da Educação Intercultural, porque as concebemos como espaços abertos a discussões, estimulando
a consciência crítica como elemento fundamental para o desenvolvimento sócio-emocional das crianças e para o seu crescimento, enquanto cidadãos do futuro. As histórias para
crianças ajudam a promover a capacidade de nos “descentrarmos” (deixar de olhar para
nós e para a nossa forma de ser e de estar no mundo como verdadeiros e únicos), combatendo estereótipos e preconceitos, adicionando atitudese de aceitação das diferenças, de
partilha, solidariedade e cooperação, de negociação e resolução de conflitos.
Esta é a perspectiva subjacente às sugestões que fazemos...
Pensar as histórias à luz da Educação Intercultural e... sonhar!

3
“Um livro... Uma história... Interculturais”
Sugestões de exploração
Concepção

Como utilizar a Literatura para Infância como um dispositivo pedagógico de Educação Intercultural?
Foi este o ponto de partida que deu origem à concepção deste guia.
Ao (re)pensar a Literatura para a Infância tendo como base de reflexão a Educação Intercultural, este
guia selecciona e assinala temáticas que podem ser objecto de reflexão com as crianças e os jovens,
partindo de algumas histórias para crianças publicadas em Portugal.

Destinatários

As histórias para crianças são utilizadas numa multiplicidade de contextos. Neste caso, e como uma via
para a introdução de práticas interculturais, esta brochura propõe a professores, educadores, formadores, pais ou outros agentes educativos, formas de exploração da Literatura para a Infância numa perspectiva de Educação Intercultural.

Objectivos

4

O objectivo é proporcionar um espaço de reflexão sobre o papel que a Literatura para a Infância tem na
aprendizagem intercultural.
As sugestões que propomos são fios de uma reflexão mais abrangente que são as práticas de quem o irá
usar. Não se prevendo então, que dê respostas, ou ensine métodos de trabalho. As pistas exploratórias
podem ser integradas face aos interesses (e criando novos) do público-alvo, mas também face à estrutura e à organização da acção pedagógica.
Organização

Este guia organiza-se em função de determinadas preocupações. Sugerimos que a abordagem às histórias para crianças possa ser norteada pelas seguintes problemáticas(*):
Encontro com o outro;

Pensamento divergente/descentramento;

Aceitação das diferenças;

Resolução de conflitos.

Partilha, solidariedade e cooperação;

Problemáticas centrais na reflexão teórica da Interculturalidade, fazem também a ponte para a acção, ou
seja, constituem-se como elementos significativos de construção (de atitudes, práticas, formas de estar, ...).
No final, apresentamos uma pequena resenha de Literatura para Infância publicada em Portugal. Estas,
e outras obras, podem servir de base à(s) problemática(s) levantada(s).
(*) A correspondência entre obra(s) e problemática(s) é feita através dos símbolos definidos.

Formas de utilização

Estas problemáticas seguem o seguinte percurso (que constitui material de reflexão):
Palavras-chave

As palavras-chave situam a problemática. Servem para esclarecer o(s) assunto(s)
a abordar.
Nos rectângulos são definidas as preocupações do ponto de vista teórico. De
forma sintética, pretendem explicar o significado de cada problemática.
As nuvens de pensamento acompanham a orientação teórica e abrem pistas de
reflexão para a discussão com as crianças, sugerindo caminhos de abordagem.
“O que eu ainda gostava de saber” é um exercício alargado de exploração que
pode fazer a ponte com outras preocupações.

Nota: Estes são pontos de partida, pistas, a partir das quais cada um pode construir o seu próprio percurso pedagógico, desenhar actividades, desenvolver projectos concretos.

5
“O outro e o diferente como ponto de partida...” (1)
Palavras-chave:
viagem, estranho, outro, diferente, ...

Conheces pessoas
diferentes de ti?
Por que são diferentes?
E são estranhos?
O encontro com o outro diferente leva-nos à pergunta:
“o que é ser diferente?”. Perceber quem são os diferentes de
nós ajuda-nos a sermos capazes de nos situarmos em relação aos outros.

O encontro com o outro expressa a capacidade de comunicar e compreender o diferente. Induz o reconhecimento
de “um igual a mim” num “outro diferente”. Permite reconhecer que, por muitas que sejam as diferenças, todos pertencemos ao género humano.

6

(1) Antonio Perotti (2003 [1994]).

Todos os teus amigos
gostam das mesmas coisas
que tu? Quais as diferenças?
Para ti, isso é bom?
Já alguma vez saíste do teu bairro / terra?
Onde foste? Já fizeste alguma viagem?
Conheces alguém que tenha feito uma viagem?
Conheces alguém que tenha vindo
para aqui de muito longe?
Podemos viajar pela “vida” das outras pessoas?
Podemos aprender em viagem?
O que aprendemos quando viajamos?

A “viagem” simboliza o encontro com o
outro. Esta ideia expressa a necessidade
de crescermos, confrontando as nossas maneiras de ser e de estar no mundo. “Sair de
nós mesmos” é experimentar outras vivências num processo dinâmico de troca.

Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais?
Pistas:
$ Procura diferentes culturas descritas nas histórias: outras maneiras de ser e de estar (roupa, comida,

gostos, línguas).
$ Procura saber de onde são os meninos da nossa sala: de onde são os nossos pais? E os nossos avós?

7
Eu sou diferente! Por que não?
Palavras-chave:
estranho, outro, diferente, curiosidade, ...

Já reparaste na quantidade
de animais que há?
E de flores? E de línguas?
E de países? ...
A diversidade (da natureza, do género humano, ...) é
uma riqueza. Aceitar as diferenças é reconhecer e compreender essa diversidade.

8

A aceitação das diferenças promove a compreensão do outro e a capacidade de comunicar. O desafio está em procurar o que não conhecemos, o que
não sabemos... o que é diferente.

Sabes que, tal como os humanos,
as flores e os animais se organizam
em famílias? Pergunta ao teu
professor porquê.
O que é para ti uma família?
Conheces bem as pessoas
que estão perto de ti?
Os teus amigos são iguais a ti?
Como são e o que fazem os meninos
das outras salas? E do teu prédio?
E da tua rua? É bom fazer amigos?
Tens curiosidade em conhecer pessoas
diferentes de ti? Porquê?

Aceitar as diferenças é estar atento à diversidade e valorizá-la nas relações que estabelecemos com os outros.

Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais?
Pistas:
$ Como fazes amigos? Como escolhes os teus amigos? Porque é que é bom ter muitos amigos diferentes?
$ Descobre uma qualidade em cada um dos teus amigos. De que é que eles gostam em ti? E tu

(descobre pelo menos uma qualidade em ti)?
$ Conversa sobre a amizade, os amigos, a tua escola, ...

9
“Cada um tinha espaço para dar um pouco de si mesmo...” (2)
Palavras-chave:
solidariedade, partilha e cooperação, ...
Pensa num jogo que gostes.
Escolhe uma equipa para jogar.
Depois conversa com a turma:
O que é uma equipa? Como se
forma uma equipa? Agora forma
outra equipa (não fiques sempre
com os mesmos colegas!).

Sabes o que é partilhar?
Com quem se pode partilhar?
O que se pode partilhar?
Dá exemplos de formas de partilha
(nas tuas brincadeiras,
no teu dia-a-dia).
A solidariedade e cooperação traduzem um esforço activo de compreensão e aceitação do outro.

Esta temática abarca a partilha de
nós próprios e daquilo que nós somos. A partilha aproxima-nos uns
dos outros e promove a interajuda.

10

(2) Rosário Alçada Araújo (2005).

O que é ajudar os outros?
O que é ser solidário?
Procura exemplos
na história que leste.
No teu dia-a-dia encontras
exemplos de alguma destas atitudes?
Em que situações? Queres contar?
O que te trouxeram de bom?

Solidariedade, partilha e cooperação
articulam interculturalidade (reflexão) e
cidadania (prática). São uma forma de
construir uma sociedade mais justa, paritária e democrática.

Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais?
Pistas:
$ No dia-a-dia, quando é que pode haver partilha? E solidariedade? E cooperação? (lembra-te do

jogo, por exemplo).
$ Pensando nas histórias que leste, identifica atitudes: quem partilhou? Quem foi cooperativo? Quem

foi solidário? E quem não foi? Valeu a pena?

11
Ver o mundo com outros olhos
Palavras-chave:
descentramento, pensamento divergente,
criatividade, alargamento, ...

“Ver o mundo com outros olhos” é descobrir o outro diferente. É saber que não pensamos todos da mesma maneira e que
não gostamos todos das mesmas coisas e, a partir daí, criar
pontes para nos entendermos melhor.

Nestas histórias há sempre uma
personagem que “vê o mundo
com outros olhos”. Identifica-a.
Conversa sobre a sua
maneira de ver as coisas.

“Ver o mundo com outros olhos” é
também jogar o jogo com outras regras.
Quando aprendes um jogo, gostas de
inventar novas regras? É possível jogar
o mesmo jogo com regras diferentes?
Porquê? Como?

Depois de leres a história,
escolhe uma personagem.
Experimenta pôr-te no lugar
dela. Agora troca de
personagem, faz o mesmo
exercício. Como te sentiste?

12

Escolhe um jogo que gostes
e conheças muito bem e pensa
numa outra forma de o jogar.
O pensamento divergente ou descentramento, através do alargamento de perspectivas, permite que cada um de nós se
coloque na posição de um outro diferente.
Imagina que estás a olhar pela janela.
Dás mais atenção às coisas que estão mais perto ou
às que estão mais distantes? Se olhares várias vezes,
vês sempre a mesma imagem? E se olhares
por outra janela?
Cada pessoa “põe os seus óculos
para olhar pela janela”? Porque será?
Estabelecer a comunicação intercultural
pode ajudar-nos a sair da nossa forma de
ver o mundo (valores, convicções...) e de
estar na vida (hábitos, costumes...).

Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais?
Pistas:
$ Procura outras formas de “ver o mundo” nas histórias que leste. E fora delas?
$ É possível “ver o mundo com outros olhos” fora das histórias?

13
“Há muitas maneiras de se ir muito longe...” (3)
Palavras-chave:
resolução de conflitos, negociação, ...

Já alguma vez te zangaste com
alguém? Porquê? Queres
contar? Podias ter evitado?
Foi fácil? Foi difícil?
Como resolveste?

A interculturalidade é promovida quando as relações humanas
se tornam harmoniosas e cooperativas. A resolução de conflitos é uma forma de nos aproximarmos.

A diversidade existe. Para com ela viver, é importante saber
resolver conflitos. A negociação é uma forma de resolver
conflitos. Quando negociamos, colocamo-nos numa atitude
de ouvir o outro e tentamos ultrapassar o que nos separa. Resolver conflitos é, então, viver na e com a diversidade.

14

(3) Ondjaki (2004).

Porque nos zangamos
com os outros?
Já te zangaste contigo
mesmo? Queres contar?
Procura, nas histórias que leste,
exemplos de resolução
de conflitos.
O que aconteceu?
Quem entrou em conflito?
Quem ajudou/o que ajudou?
Saber resolver conflitos é uma forma de aprendizagem,
pois estimula a compreensão do outro, a aceitação das diferenças, a capacidade de negociar, a partilha e a cooperação e o
pensamento divergente.

Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais?
Pistas:
$ Pensa no(s) conflito(s) que sucedeu(eram) na(s) história(s) que leste. Encontra novas formas de

resolver esse(s) conflito(s).
$ És capaz de encontrar conflito(s) e acções de resolução de conflito(s) no dia-a-dia, por exemplo

nas notícias que vês na televisão?
$ Conversa sobre ele(s) e, de forma criativa, encontra novas formas de o(s) resolver, desenvolvendo

acções concretas.

15
A reflexão através das histórias...
Alguns exemplos
Título: A borboleta Leta
Autor: Maria de Lourdes Soares
Ilustração: Manuela Bacelar
Editora: Edições Afrontamento
Ano: 1998

“Era a borboleta Leta, com todas as cores do mundo.
Amava o calor e a liberdade de voar de flor em flor...”

Título: A menina gigante
Autor: Manuel Jorge Marmelo
e Maria Miguel Marmelo
Ilustração: Simona Traina
Editora: Campo das Letras
Ano: 2003

“Ana Grande era uma menina que talvez tivesse a tua
idade...”
16

Título: A história da pequena estrela
Autor: Rosário Alçada Araújo
Ilustração: Catarina França
Editora: Gailivro
Ano: 2004

“Era uma vez uma estrela que estava sempre triste.”

Título: A viagem de Djuku
Autor: Alain Corbel
Ilustração: Eric Lambé
Editora: Caminho
Ano: 2003

“No exacto momento em que parte, Djuku apercebe-se de
que é a primeira vez que deixa a sua aldeia...”
Título: Adivinha quanto eu gosto de ti
Autor: Sam McBratney
Ilustração: Anita Jeram
Editora: Caminho
Ano: 2004[1994]

Título: As filhotas de Dona Centopeia
Autor: Lourdes Custódio
Ilustração: José Cardoso Marques
Editora: Ambar
Ano: 2004

“A Pequena Lebre Castanha, que se ia deitar, agarrou-se
bem agarrada às orelhas muito compridas da Grande Lebre Castanha.”

“Era uma vez uma centopeia que tinha sete filhas (...).
Apesar de viverem num jardim onde havia muitos outros
animais, a família das centopeias andava sempre sozinha.”

Título: Elmer
Autor: David Mackee
Ilustração: David Mackee
Editora: Caminho
Ano: 2005[1989]

“Era uma vez uma manada de elefantes. (...) Elefantes
assim, elefantes assado, todos diferentes, mas todos felizes e
todos da mesma cor. Todos, quer dizer, menos o Elmer.”

Título: Como se faz cor-de-laranja
Autor: António Torrado
Ilustração: João Machado
Editora: Asa
Ano: 2002[1979]

“Deram ao menino uma caixa de aguarelas. (...) Mas faltavam muitas cores na caixa (...). Que outras cores devia
misturar para conseguir cor-de-laranja?”
17
Título: O Coelhinho Branquinho e a
Formiga Rabiga
Autor: Alice Viera (adap.)
Ilustração: João Tinoco
Editora: Caminho
Ano: 1994

“Coelhinho Branquinho saiu cedo de casa para ir à horta
buscar uma couve para o seu caldinho.”

Título: O Sapo e o estranho
Autor: Max Velthuijs
Ilustração: Max Velthuijs
Editora: Caminho
Ano: 1999[1993]

“Um dia chegou um estranho que acampou na orla do bosque. Quem o viu primeiro foi o porco.”
18

Título: O Grilo Verde
Autor: António Mota
Ilustração: Elsa Navarro
Editora: Gailivro
Ano: 2005[1985]

“Certo dia, apareceu na horta do Tio Manuel Liró um
grilo espantoso.”

Título: Os ovos misteriosos
Autor: Luísa Ducla Soares
Ilustração: Manuela Bacelar
Editora: Afrontamento
Ano: 1994

“Era uma vez uma galinha que todos os dias punha um
ovo.”
Título: Somos diferentes!
Autor: Rosário Alçada Araújo
Ilustração: Catarina França
Editora: Impala
Ano: 2005

“Há muitos, muitos anos, quando ainda não existia quase
nada na Terra, lá longe, perdidos no espaço, viviam o Sol,
a Chuva, o Vento e a Neve.”

Título: Ynari, a menina das cinco tranças
Autor: Ondjaki
Ilustração: Danuta Wojciechowska
Editora: Caminho
Ano: 2004

“Era uma vez uma menina que tinha cinco tranças lindas
e chamava-se Ynari...”
19
Pequena Bibliografia de Apoio

BETTELHEIM Bruno (2003 [1976]), A psicanálise dos contos de fadas; Lisboa: Bertrand
Editora; 10.ª edição.
BONO Edward de (2003 [1992]); Ensine os seus filhos a pensar; Cascais: Pergaminho.
DELORS, Jacques (coord.) (1996); Educação, um tesouro a descobrir — Relatório para a
UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI;
Porto: Asa.
DUBORGEL Bruno (1992); Imaginário e Pedagogia; Lisboa: Instituto Piaget.
DINIZ Maria Augusta Seabra (2001[1993]); As fadas não foram à escola; Porto: Asa;
3.ª edição.
NETO Luís Miguel, MARUJO Helena Águeda (2001); Optimismo e inteligência emocional; Lisboa: Editorial Presença;
OUELLET Fernand (1991) ; L’Éducation Interculturelle: essai sur le contenu de la formation des
maîtres; Paris: Éditions L’Harmattan.
PEROTTI Antonio (2003 [1994]); Apologia do Intercultural; Lisboa: Secretariado Entreculturas — Presidência do Conselho de Ministros — Ministério da Educação;
2.ª edição.
SAVATER Fernando (1993[1991]); Ética para um jovem; Lisboa: Editorial Presença.

20
Um Livro...
Uma História...
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Explorando a diversidade através de histórias

  • 3. Título Um livro... Uma história... Interculturais Editor Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas Rua Álvaro Coutinho, 14 - 1150-025 Lisboa $ Tel.: 218 106 100 $ acime@acime.gov.pt Autora Bárbara Duque Consultora Científica Maria Augusta Seabra Diniz Coordenação Gabinete de Educação e Formação do ACIME/Entreculturas Desenho da Capa Rita Wemans, 2001 in “Enchamos tudo de futuros” (2003), Sopa de Letras/Principia Concepção Gráfica Cecília Guimarães Execução Gráfica Textype, Artes Gráficas, Lda. Tiragem 5000 exemplares Lisboa, Julho de 2005
  • 4. Começar pelas histórias? Porquê? As novas sociedades contemporâneas e as suas maneiras “outras” de ser, de estar, de olhar... exigem leitores capazes de pensar e de se pensarem, de questionar e de se questionarem, de reflectir e de se projectarem num futuro que se quer comum e mais justo. A Literatura para a Infância, enquanto representação do real, é um elemento de compreensão do mundo em transição e mudança em que vivemos. As histórias para crianças são basilares para as aprendizagens no domínio linguístico, perceptivo-cognitivo e afectivo-social, mas têm sobretudo um papel fundamental na formação do carácter e descoberta da vida: elas constituem um factor de enriquecimento pessoal, são um material rico e privilegiado para uma aprendizagem da vida em sociedade. A viagem ao mundo das histórias é uma viagem ao interior de nós mesmos, onde, por via daquilo que nos é familiar e, através da capacidade de sonhar, encontramos soluções para os nossos conflitos interiores, para os nossos medos e anseios, para os nossos desejos e sonhos... Na verdade, estas histórias são mais do que um veículo de transmissão de conhecimentos e informações sobre o Outro, sobre outros países e sobre outras culturas... São momentos de (re)criação, de partilha, de compreensão e de reflexão. Neste folheto propomos uma leitura destas histórias com base nos princípios da Educação Intercultural, porque as concebemos como espaços abertos a discussões, estimulando a consciência crítica como elemento fundamental para o desenvolvimento sócio-emocional das crianças e para o seu crescimento, enquanto cidadãos do futuro. As histórias para crianças ajudam a promover a capacidade de nos “descentrarmos” (deixar de olhar para nós e para a nossa forma de ser e de estar no mundo como verdadeiros e únicos), combatendo estereótipos e preconceitos, adicionando atitudese de aceitação das diferenças, de partilha, solidariedade e cooperação, de negociação e resolução de conflitos. Esta é a perspectiva subjacente às sugestões que fazemos... Pensar as histórias à luz da Educação Intercultural e... sonhar! 3
  • 5. “Um livro... Uma história... Interculturais” Sugestões de exploração Concepção Como utilizar a Literatura para Infância como um dispositivo pedagógico de Educação Intercultural? Foi este o ponto de partida que deu origem à concepção deste guia. Ao (re)pensar a Literatura para a Infância tendo como base de reflexão a Educação Intercultural, este guia selecciona e assinala temáticas que podem ser objecto de reflexão com as crianças e os jovens, partindo de algumas histórias para crianças publicadas em Portugal. Destinatários As histórias para crianças são utilizadas numa multiplicidade de contextos. Neste caso, e como uma via para a introdução de práticas interculturais, esta brochura propõe a professores, educadores, formadores, pais ou outros agentes educativos, formas de exploração da Literatura para a Infância numa perspectiva de Educação Intercultural. Objectivos 4 O objectivo é proporcionar um espaço de reflexão sobre o papel que a Literatura para a Infância tem na aprendizagem intercultural. As sugestões que propomos são fios de uma reflexão mais abrangente que são as práticas de quem o irá usar. Não se prevendo então, que dê respostas, ou ensine métodos de trabalho. As pistas exploratórias podem ser integradas face aos interesses (e criando novos) do público-alvo, mas também face à estrutura e à organização da acção pedagógica.
  • 6. Organização Este guia organiza-se em função de determinadas preocupações. Sugerimos que a abordagem às histórias para crianças possa ser norteada pelas seguintes problemáticas(*): Encontro com o outro; Pensamento divergente/descentramento; Aceitação das diferenças; Resolução de conflitos. Partilha, solidariedade e cooperação; Problemáticas centrais na reflexão teórica da Interculturalidade, fazem também a ponte para a acção, ou seja, constituem-se como elementos significativos de construção (de atitudes, práticas, formas de estar, ...). No final, apresentamos uma pequena resenha de Literatura para Infância publicada em Portugal. Estas, e outras obras, podem servir de base à(s) problemática(s) levantada(s). (*) A correspondência entre obra(s) e problemática(s) é feita através dos símbolos definidos. Formas de utilização Estas problemáticas seguem o seguinte percurso (que constitui material de reflexão): Palavras-chave As palavras-chave situam a problemática. Servem para esclarecer o(s) assunto(s) a abordar. Nos rectângulos são definidas as preocupações do ponto de vista teórico. De forma sintética, pretendem explicar o significado de cada problemática. As nuvens de pensamento acompanham a orientação teórica e abrem pistas de reflexão para a discussão com as crianças, sugerindo caminhos de abordagem. “O que eu ainda gostava de saber” é um exercício alargado de exploração que pode fazer a ponte com outras preocupações. Nota: Estes são pontos de partida, pistas, a partir das quais cada um pode construir o seu próprio percurso pedagógico, desenhar actividades, desenvolver projectos concretos. 5
  • 7. “O outro e o diferente como ponto de partida...” (1) Palavras-chave: viagem, estranho, outro, diferente, ... Conheces pessoas diferentes de ti? Por que são diferentes? E são estranhos? O encontro com o outro diferente leva-nos à pergunta: “o que é ser diferente?”. Perceber quem são os diferentes de nós ajuda-nos a sermos capazes de nos situarmos em relação aos outros. O encontro com o outro expressa a capacidade de comunicar e compreender o diferente. Induz o reconhecimento de “um igual a mim” num “outro diferente”. Permite reconhecer que, por muitas que sejam as diferenças, todos pertencemos ao género humano. 6 (1) Antonio Perotti (2003 [1994]). Todos os teus amigos gostam das mesmas coisas que tu? Quais as diferenças? Para ti, isso é bom?
  • 8. Já alguma vez saíste do teu bairro / terra? Onde foste? Já fizeste alguma viagem? Conheces alguém que tenha feito uma viagem? Conheces alguém que tenha vindo para aqui de muito longe? Podemos viajar pela “vida” das outras pessoas? Podemos aprender em viagem? O que aprendemos quando viajamos? A “viagem” simboliza o encontro com o outro. Esta ideia expressa a necessidade de crescermos, confrontando as nossas maneiras de ser e de estar no mundo. “Sair de nós mesmos” é experimentar outras vivências num processo dinâmico de troca. Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais? Pistas: $ Procura diferentes culturas descritas nas histórias: outras maneiras de ser e de estar (roupa, comida, gostos, línguas). $ Procura saber de onde são os meninos da nossa sala: de onde são os nossos pais? E os nossos avós? 7
  • 9. Eu sou diferente! Por que não? Palavras-chave: estranho, outro, diferente, curiosidade, ... Já reparaste na quantidade de animais que há? E de flores? E de línguas? E de países? ... A diversidade (da natureza, do género humano, ...) é uma riqueza. Aceitar as diferenças é reconhecer e compreender essa diversidade. 8 A aceitação das diferenças promove a compreensão do outro e a capacidade de comunicar. O desafio está em procurar o que não conhecemos, o que não sabemos... o que é diferente. Sabes que, tal como os humanos, as flores e os animais se organizam em famílias? Pergunta ao teu professor porquê. O que é para ti uma família?
  • 10. Conheces bem as pessoas que estão perto de ti? Os teus amigos são iguais a ti? Como são e o que fazem os meninos das outras salas? E do teu prédio? E da tua rua? É bom fazer amigos? Tens curiosidade em conhecer pessoas diferentes de ti? Porquê? Aceitar as diferenças é estar atento à diversidade e valorizá-la nas relações que estabelecemos com os outros. Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais? Pistas: $ Como fazes amigos? Como escolhes os teus amigos? Porque é que é bom ter muitos amigos diferentes? $ Descobre uma qualidade em cada um dos teus amigos. De que é que eles gostam em ti? E tu (descobre pelo menos uma qualidade em ti)? $ Conversa sobre a amizade, os amigos, a tua escola, ... 9
  • 11. “Cada um tinha espaço para dar um pouco de si mesmo...” (2) Palavras-chave: solidariedade, partilha e cooperação, ... Pensa num jogo que gostes. Escolhe uma equipa para jogar. Depois conversa com a turma: O que é uma equipa? Como se forma uma equipa? Agora forma outra equipa (não fiques sempre com os mesmos colegas!). Sabes o que é partilhar? Com quem se pode partilhar? O que se pode partilhar? Dá exemplos de formas de partilha (nas tuas brincadeiras, no teu dia-a-dia). A solidariedade e cooperação traduzem um esforço activo de compreensão e aceitação do outro. Esta temática abarca a partilha de nós próprios e daquilo que nós somos. A partilha aproxima-nos uns dos outros e promove a interajuda. 10 (2) Rosário Alçada Araújo (2005). O que é ajudar os outros? O que é ser solidário? Procura exemplos na história que leste.
  • 12. No teu dia-a-dia encontras exemplos de alguma destas atitudes? Em que situações? Queres contar? O que te trouxeram de bom? Solidariedade, partilha e cooperação articulam interculturalidade (reflexão) e cidadania (prática). São uma forma de construir uma sociedade mais justa, paritária e democrática. Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais? Pistas: $ No dia-a-dia, quando é que pode haver partilha? E solidariedade? E cooperação? (lembra-te do jogo, por exemplo). $ Pensando nas histórias que leste, identifica atitudes: quem partilhou? Quem foi cooperativo? Quem foi solidário? E quem não foi? Valeu a pena? 11
  • 13. Ver o mundo com outros olhos Palavras-chave: descentramento, pensamento divergente, criatividade, alargamento, ... “Ver o mundo com outros olhos” é descobrir o outro diferente. É saber que não pensamos todos da mesma maneira e que não gostamos todos das mesmas coisas e, a partir daí, criar pontes para nos entendermos melhor. Nestas histórias há sempre uma personagem que “vê o mundo com outros olhos”. Identifica-a. Conversa sobre a sua maneira de ver as coisas. “Ver o mundo com outros olhos” é também jogar o jogo com outras regras. Quando aprendes um jogo, gostas de inventar novas regras? É possível jogar o mesmo jogo com regras diferentes? Porquê? Como? Depois de leres a história, escolhe uma personagem. Experimenta pôr-te no lugar dela. Agora troca de personagem, faz o mesmo exercício. Como te sentiste? 12 Escolhe um jogo que gostes e conheças muito bem e pensa numa outra forma de o jogar. O pensamento divergente ou descentramento, através do alargamento de perspectivas, permite que cada um de nós se coloque na posição de um outro diferente.
  • 14. Imagina que estás a olhar pela janela. Dás mais atenção às coisas que estão mais perto ou às que estão mais distantes? Se olhares várias vezes, vês sempre a mesma imagem? E se olhares por outra janela? Cada pessoa “põe os seus óculos para olhar pela janela”? Porque será? Estabelecer a comunicação intercultural pode ajudar-nos a sair da nossa forma de ver o mundo (valores, convicções...) e de estar na vida (hábitos, costumes...). Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais? Pistas: $ Procura outras formas de “ver o mundo” nas histórias que leste. E fora delas? $ É possível “ver o mundo com outros olhos” fora das histórias? 13
  • 15. “Há muitas maneiras de se ir muito longe...” (3) Palavras-chave: resolução de conflitos, negociação, ... Já alguma vez te zangaste com alguém? Porquê? Queres contar? Podias ter evitado? Foi fácil? Foi difícil? Como resolveste? A interculturalidade é promovida quando as relações humanas se tornam harmoniosas e cooperativas. A resolução de conflitos é uma forma de nos aproximarmos. A diversidade existe. Para com ela viver, é importante saber resolver conflitos. A negociação é uma forma de resolver conflitos. Quando negociamos, colocamo-nos numa atitude de ouvir o outro e tentamos ultrapassar o que nos separa. Resolver conflitos é, então, viver na e com a diversidade. 14 (3) Ondjaki (2004). Porque nos zangamos com os outros? Já te zangaste contigo mesmo? Queres contar?
  • 16. Procura, nas histórias que leste, exemplos de resolução de conflitos. O que aconteceu? Quem entrou em conflito? Quem ajudou/o que ajudou? Saber resolver conflitos é uma forma de aprendizagem, pois estimula a compreensão do outro, a aceitação das diferenças, a capacidade de negociar, a partilha e a cooperação e o pensamento divergente. Depois de ler a história, o que gostavas de saber mais? Pistas: $ Pensa no(s) conflito(s) que sucedeu(eram) na(s) história(s) que leste. Encontra novas formas de resolver esse(s) conflito(s). $ És capaz de encontrar conflito(s) e acções de resolução de conflito(s) no dia-a-dia, por exemplo nas notícias que vês na televisão? $ Conversa sobre ele(s) e, de forma criativa, encontra novas formas de o(s) resolver, desenvolvendo acções concretas. 15
  • 17. A reflexão através das histórias... Alguns exemplos Título: A borboleta Leta Autor: Maria de Lourdes Soares Ilustração: Manuela Bacelar Editora: Edições Afrontamento Ano: 1998 “Era a borboleta Leta, com todas as cores do mundo. Amava o calor e a liberdade de voar de flor em flor...” Título: A menina gigante Autor: Manuel Jorge Marmelo e Maria Miguel Marmelo Ilustração: Simona Traina Editora: Campo das Letras Ano: 2003 “Ana Grande era uma menina que talvez tivesse a tua idade...” 16 Título: A história da pequena estrela Autor: Rosário Alçada Araújo Ilustração: Catarina França Editora: Gailivro Ano: 2004 “Era uma vez uma estrela que estava sempre triste.” Título: A viagem de Djuku Autor: Alain Corbel Ilustração: Eric Lambé Editora: Caminho Ano: 2003 “No exacto momento em que parte, Djuku apercebe-se de que é a primeira vez que deixa a sua aldeia...”
  • 18. Título: Adivinha quanto eu gosto de ti Autor: Sam McBratney Ilustração: Anita Jeram Editora: Caminho Ano: 2004[1994] Título: As filhotas de Dona Centopeia Autor: Lourdes Custódio Ilustração: José Cardoso Marques Editora: Ambar Ano: 2004 “A Pequena Lebre Castanha, que se ia deitar, agarrou-se bem agarrada às orelhas muito compridas da Grande Lebre Castanha.” “Era uma vez uma centopeia que tinha sete filhas (...). Apesar de viverem num jardim onde havia muitos outros animais, a família das centopeias andava sempre sozinha.” Título: Elmer Autor: David Mackee Ilustração: David Mackee Editora: Caminho Ano: 2005[1989] “Era uma vez uma manada de elefantes. (...) Elefantes assim, elefantes assado, todos diferentes, mas todos felizes e todos da mesma cor. Todos, quer dizer, menos o Elmer.” Título: Como se faz cor-de-laranja Autor: António Torrado Ilustração: João Machado Editora: Asa Ano: 2002[1979] “Deram ao menino uma caixa de aguarelas. (...) Mas faltavam muitas cores na caixa (...). Que outras cores devia misturar para conseguir cor-de-laranja?” 17
  • 19. Título: O Coelhinho Branquinho e a Formiga Rabiga Autor: Alice Viera (adap.) Ilustração: João Tinoco Editora: Caminho Ano: 1994 “Coelhinho Branquinho saiu cedo de casa para ir à horta buscar uma couve para o seu caldinho.” Título: O Sapo e o estranho Autor: Max Velthuijs Ilustração: Max Velthuijs Editora: Caminho Ano: 1999[1993] “Um dia chegou um estranho que acampou na orla do bosque. Quem o viu primeiro foi o porco.” 18 Título: O Grilo Verde Autor: António Mota Ilustração: Elsa Navarro Editora: Gailivro Ano: 2005[1985] “Certo dia, apareceu na horta do Tio Manuel Liró um grilo espantoso.” Título: Os ovos misteriosos Autor: Luísa Ducla Soares Ilustração: Manuela Bacelar Editora: Afrontamento Ano: 1994 “Era uma vez uma galinha que todos os dias punha um ovo.”
  • 20. Título: Somos diferentes! Autor: Rosário Alçada Araújo Ilustração: Catarina França Editora: Impala Ano: 2005 “Há muitos, muitos anos, quando ainda não existia quase nada na Terra, lá longe, perdidos no espaço, viviam o Sol, a Chuva, o Vento e a Neve.” Título: Ynari, a menina das cinco tranças Autor: Ondjaki Ilustração: Danuta Wojciechowska Editora: Caminho Ano: 2004 “Era uma vez uma menina que tinha cinco tranças lindas e chamava-se Ynari...” 19
  • 21. Pequena Bibliografia de Apoio BETTELHEIM Bruno (2003 [1976]), A psicanálise dos contos de fadas; Lisboa: Bertrand Editora; 10.ª edição. BONO Edward de (2003 [1992]); Ensine os seus filhos a pensar; Cascais: Pergaminho. DELORS, Jacques (coord.) (1996); Educação, um tesouro a descobrir — Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI; Porto: Asa. DUBORGEL Bruno (1992); Imaginário e Pedagogia; Lisboa: Instituto Piaget. DINIZ Maria Augusta Seabra (2001[1993]); As fadas não foram à escola; Porto: Asa; 3.ª edição. NETO Luís Miguel, MARUJO Helena Águeda (2001); Optimismo e inteligência emocional; Lisboa: Editorial Presença; OUELLET Fernand (1991) ; L’Éducation Interculturelle: essai sur le contenu de la formation des maîtres; Paris: Éditions L’Harmattan. PEROTTI Antonio (2003 [1994]); Apologia do Intercultural; Lisboa: Secretariado Entreculturas — Presidência do Conselho de Ministros — Ministério da Educação; 2.ª edição. SAVATER Fernando (1993[1991]); Ética para um jovem; Lisboa: Editorial Presença. 20