Comentário bíblico: 33° Domingo do Tempo Comum - Ano A
- Tema: "O SENTIDO DA VIDA É LUTAR PELA JUSTIÇA"
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- TEMAS E COMENTÁRIOS: AUTORIA: Pe. José; Bortolini, Roteiros Homiléticos, Anos A, B, C Festas e Solenidades, Editora Paulus, 3ª edição, 2007
- OUTROS:
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SOBRE LECIONÁRIOS:
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1. O SENTIDO DA VIDA É LUTAR PELA JUSTIÇA
BORTOLINE, José, Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades, Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 33° DOMINGO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. A comunidade é o lugar privilegiado para celebrar a fé
e encontrar o sentido para a vida. Quem descobre isso aca-ba
afirmando: "Na comunidade eu sou feliz". Sim, porque
Deus confiou às pessoas todos os seus bens, ou seja, o Rei-no.
Este cresce nas mãos daqueles que assumem o com-promisso
de ser filhos da luz e filhos do dia. Por isso é que
o pão e o vinho da celebração eucarística, símbolos de tudo
o que somos e temos, tornam-se importantes para Deus e
também para nós. Neste dia, o Senhor quer dizer a cada um:
"Empregado bom e fiel… eu lhe confiarei muito mais.
Venha participar da minha alegria!"
2. A vinda do Senhor não é pré-datada. Mesmo que o
Senhor tarde em chegar, nosso compromisso com o Reino e
sua justiça continua. Por isso a celebração é importante,
pois nela anunciamos a morte e proclamamos a ressurreição
do Senhor até que ele venha.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Pr 31,10-13.19-20.30-31): Encontrar o sentido
da vida
3. Estamos diante do último trecho do livro dos Provér-bios.
Trata-se de um poema alfabético: na língua original,
cada frase inicia com uma letra do alfabeto hebraico. Esse
recurso pretendia, provavelmente, facilitar a memorização
daqueles que freqüentavam a escola dos sábios de Israel.
4. Esse poema fala de uma mulher ideal. O texto comple-to
a descreve como aquela que possui tino comercial: é
excelente dona de casa e também comerciante; se encontra
um tempinho para sentar, é para confeccionar tecidos com
as próprias mãos (vv. 13.19); vende o que produziu e, com
o dinheiro, faz a feira, compra terras e planta vinhas; encar-rega
os empregados de fazer o que ela não consegue reali-zar
pessoalmente; preocupa-se com o bem-estar de seus
empregados e não se esquece de abrir suas mãos ao neces-sitado
e de estender suas mãos ao pobre (v. 20). Em síntese,
uma mulher capaz de fazer tudo e sempre disposta a traba-lhar.
5. E o marido dela? E os filhos? O marido é conselheiro
da cidade, e todos o respeitam por ter uma mulher tão tra-balhadora
e eficiente. O povo da cidade até mudou de idéia
em relação aos padrões femininos: o que importa não é a
beleza e o charme da mulher (v. 30a); o que conta é sua
capacidade de executar competentemente as mais variadas
tarefas, inclusive as que eram confiadas ao homem. Em
outras palavras, uma "Amélia" que só tem braços e muque.
O autor, todavia, não deixa de sublinhar que, acima de
tudo, está o temor do Senhor (v. 30b).
6. Isso faz pensar na maioria das mulheres brasileiras
trabalhadoras em casa e fora dela, na roça ou no emprego,
desfiguradas pelo excesso de trabalho, numa situação muito
pior da descrita pelo livro dos Provérbios, pois com o que
ganham não conseguem sequer fazer a feira… Será que
estamos diante de um texto bíblico que serve de apoio a
essa situação injusta enfrentada pela maioria das mulheres
do nosso país?
7. Se a mulher descrita no texto de hoje fosse de fato
uma pessoa, o autor do poema teria, pelo menos, o mérito
de não atribuir à natureza da mulher o que era fruto do
preconceito social daquele tempo. De fato, para a sociedade
de então, a mulher não devia pôr o nariz para fora da porta
da casa. E aqui nós a vemos se movimentando em todas as
direções. Em vez de ser "a mulher do fulano", é o homem
que é "marido daquela mulher competente". Pode ser que
alguns "homens-zangões" se sintam felizes diante de um
texto lido sob essa ótica. E pode ser que até algumas mu-lheres
se sintam conformadas em ser, à luz dessa leitura,
"abelhas-operárias".
8. Mas o poema não quer falar de uma mulher em parti-cular,
nem de todas as mulheres em geral. A mulher do
poema é a personificação da sabedoria, ou seja, é o próprio
sentido da vida e das coisas que realizamos. Por isso é que
todos estamos à procura da companheira-esposa ideal. O
sentido da vida é nossa esposa-companheira capaz de dar
cor e sabor àquilo que faz parte do nosso dia-a-dia. Se des-cobrimos
o sentido da vida, teremos muitas alegrias e ne-nhum
desgosto em todos os dias da nossa vida (cf. v. 12).
Evangelho (Mt 25,14-30): O sentido da vida é lutar pela
justiça
9. A "parábola dos talentos" faz parte do "discurso esca-tológico"
de Mateus, a preocupação com o fim do mundo
(caps. 24-25). Ela pretende desenvolver o tema da vigilân-cia
abordado na "parábola das dez virgens" (25,1-13). Ma-teus
quis aprofundar o sentido da vigilância dinâmica. Em
outras palavras, quer esclarecer o significado do óleo que
alimenta a chama das lâmpadas. O evangelista não entende
a vigilância do jeito que muita gente a imagina. Vigiar não
é atitude policiesca de controle sobre as pessoas e as cons-ciências,
mas o compromisso fiel com a prática da justiça,
tema que atravessa todo o evangelho de Mateus. Os ouvin-tes
da parábola dos talentos precisam ter presente a reco-mendação
de Jesus: "Se a justiça de vocês não superar a
dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no
Reino do Céu" (5,20). Os ouvintes da parábola são os dis-cípulos,
ou seja, cada um de nós que se comprometeu com
a prática da justiça que transforma as relações sociais.
10. A parábola se refere ao tempo que se chama hoje em
vista do amanhã. O que fazer enquanto o noivo (da parábo-la
anterior) ou o patrão (parábola de hoje) não chegar? (cf.
v. 19)? Lembremos que os nossos dias são tempo de espera
ativa que provoca a vinda do Senhor. Quando virá? Quando
acontecerá o Reino? Quando a justiça tiver permeado a vida
das pessoas e da sociedade como um todo.
11. O patrão da parábola é o próprio Deus. Ele nos confi-ou
seus bens (v. 14), a cada um segundo sua capacidade:
"A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro"
(v. 15a). Quais são os bens que Deus nos confiou? Nada
mais nada menos que o Reino: "Felizes os pobres em espí-rito…
felizes os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o Reino do Céu" (5,3.10). A parábola, por-tanto,
quer mostrar como devem agir os que se sentem
responsáveis pelo Reino de justiça trazido por Jesus e o que
2. vai acontecer com eles na hora do acerto de contas, na volta
do patrão (v. 19).
12. O acerto de contas esclarece a questão dos méritos:
aquele que recebeu cinco talentos e com eles lucrou mais
cinco (v. 20) não é mais importante daquele que recebeu
dois e lucrou com eles mais dois (v. 22), pois ambos rece-bem
a mesma resposta do patrão: "Muito bem, empregado
bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão
pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da
minha alegria!" (vv. 21.23). O patrão não discrimina nem
estabelece graus de premiação. Nós estamos habituados a
avaliar as pessoas a partir da posição que ocupam na socie-dade
e na Igreja, e até criamos títulos para as pessoas im-portantes.
Deus, ao contrário, chama de "empregado bom e
fiel" a todos os que lutam pela justiça do Reino…
13. A parábola nos fala também do medo do risco e da
busca de seguranças. É o caso do empregado que recebeu
só um talento (v. 24a). O medo do risco nos paralisa faz a
gente projetar uma imagem falsa de Deus: "Senhor, sei que
és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e
ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e es-condi
o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence"
(vv. 24b-25). Naquele tempo, esconder dinheiro no chão
era a maneira mais segura de guardá-lo. Esse empregado
buscava seguranças na luta pela justiça que provoca a vinda
do Reino. Era mais fácil e cômodo enterrar o talento do que
investir (cf. v. 17). A parábola não fala do risco enfrentado
pelos empregados que receberam cinco e dois talentos, mas
o risco existia, e ainda existe. Basta que pensemos nos de-safios
que a justiça do Reino proporciona aos que lutam por
ela em nossos dias… A busca de segurança faz pensar nos
conservadores do tempo de Jesus e de hoje. No tempo de
Jesus, a onda conservadora era provocada pelos doutores da
Lei e fariseus, e a "justiça" deles impedia o acesso ao Reino
do Céu (cf. 5,20). E hoje, quando os desafios da justiça são
mais graves, o que ganhamos? O empregado "conservador"
criou uma teologia própria, fazendo de Deus um patrão
cruel, um ídolo. E hoje, projetamos imagens distorcidas de
Deus? Não nos esqueçamos de que o patrão chama de
"mau, preguiçoso e inútil" (vv. 26.30) àquele que, com
medo do risco e buscando seguranças, enterrou parte dos
bens de Deus!
14. A parábola mostra a grandeza e a fragilidade de Deus.
Sua grandeza está em "entregar seus bens" às pessoas. Na-da
retém para si. Tudo o que tem (os oito talentos da pará-bola)
é entregue. Sua fragilidade apresenta-se em forma de
risco. De fato, falando com o empregado mau e preguiçoso,
dá a entender que conhecia o modo certo de multiplicar
seus bens sem a colaboração das pessoas: "Você devia ter
depositado meu dinheiro no banco, para que, na volta, eu
recebesse com juros o que me pertence" (v. 27). Bem que o
empregado mau poderia ter-lhe respondido: "E por que
você próprio não fez isso?" A resposta parece evidente na
parábola: Confiando nas pessoas, Deus arrisca perder. (Será
que não sabe que irá perder?) Contudo, confia e entrega.
Sua fragilidade ressalta sua grandeza.
15. Em Mt 21,43 Jesus dizia às autoridades: "O Reino de
Deus será tirado de vocês, e será entregue a uma nação que
produzirá seus frutos". Na parábola de hoje o patrão ordena
que tirem do empregado mau e preguiçoso o talento e o
dêem àquele que tem dez (v. 28), e explica: "Porque a todo
aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas
daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado" (v. 29).
E manda expulsá-lo (v. 40). Na parábola dos vinhateiros
assassinos Jesus se dirigia aos líderes. Hoje ele fala aos
discípulos, sinal de que nós também podemos estar entre os
que mantêm e defendem a sociedade injusta.
2ª leitura (1Ts 5,1-6): Filhos da luz e filhos do dia
16. Uma das preocupações da primeira carta aos Tessalo-nicenses
diz respeito à vinda do Senhor. Esse tema fez parte
da pregação inicial de Paulo àquela comunidade. No início
da carta ele afirma que os cristãos da Acaia falam de como
os tessalonicenses "se converteram, deixando os ídolos e
voltando para Deus, a fim de servir ao Deus vivo e verda-deiro.
Falam também de como vocês esperam que Jesus
venha do céu, o Filho de Deus, a quem Deus ressuscitou
dentre os mortos. É ele que nos liberta da ira futura" (1,9b-
10).
17. A partir disso começou a especulação sobre a data em
que o Senhor viria. E a comunidade de Tessalônica arrisca-va
viver de discussões intermináveis e de teorias. Paulo
começa reafirmando o que a comunidade já sabe: o Dia do
Senhor virá de modo imprevisto, da mesma forma que o
ladrão (v. 2). Naquele tempo, a noite era o momento propí-cio
para a ação de ladrões. Esse fato aponta para o modo de
ser da comunidade, em atitude de constante vigilância, de
modo a não ser surpreendida por esse Dia (v. 4).
18. A comunidade precisa ter um modo próprio de ser,
diferente dos "outros", a sociedade que crê viver em paz e
segurança (v. 3a). "Paz e segurança" era um dos lemas do
império romano que mantinha as pessoas sob a aparência
da "ordem social" mas que, na verdade, era sinônimo de
noite escura. Esse tipo de "segurança" não interessa à co-munidade,
cuja função é ser filhos da luz e filhos do dia (v.
5). Como não se comprometer com esse tipo de sociedade?
A alternativa que Paulo apresenta é esta: "Não vamos dor-mir,
como os outros, mas vigiar e ficar sóbrios" (v. 6). O
significado disso nos é dado pela própria carta: vigiar é
abandonar os ídolos que envolvem a sociedade na noite da
injustiça, comprometendo-se no serviço ao Deus vivo e
verdadeiro. É assim que se espera o Dia do Senhor.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
19. Encontrar o sentido da vida. A 1ª leitura (Pr 31,10-13.19-20.30-31) propicia um momento de
reflexão aos que, obrigados ou não, se jogaram inteiramente no ativismo: que sentido tem isso? Que
sentido têm a vida e as coisas que fazemos?
20. O sentido da vida é lutar pela justiça. Trabalhar positiva e negativamente a parábola dos ta-lentos
(cf. Mt 25,14-30) na vida da comunidade: os riscos enfrentados e as vitórias conseguidas em
favor da justiça, e o medo e a busca de segurança que geram uma imagem distorcida de Deus.
21. Filhos da luz e filhos do dia. Em Tessalônica (1Ts 5,1-6) se dizia "paz e segurança". E Paulo
chama a isso de "noite e trevas". No Brasil se diz "ordem e progresso". O que isso significa? Como
ser filhos da luz nessa situação?