1. O desenvolvimento cognitivo de bebês está diretamente ligado à estimulação e afeto dos pais, como brincadeiras, atividades motoras e visuais.
2. Estudos mostram que estimulação afetiva está ligada ao desenvolvimento da memória em crianças, enquanto estímulos cognitivos afetam mais a linguagem.
3. A "janela de oportunidade" até os 5 anos é crucial para a formação de conexões neurais, mas excesso de estímulos pode prejudicar o foco da criança.
A importância da relação de vinculação, nos primeiros anos de vida
CMYK: como estimular o desenvolvimento saudável dos filhos nos primeiros anos
1. C M Y K
CMYK
Saberviver EEddiittoorraa:: Ana Paula Macedo
anapaula.df@dabr.com.br
3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155
14• CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 10 de março de 2015
Confiraas dicas dapsicóloga infantilCinthiaVenâncioparapromoverodesenvolvimentosaudável dosseusfilhos
Faça a coisa certa
O desenvolvimento cognitivo dos filhos, principalmente quando bebês, está diretamente ligado à forma como os pais os
estimulam. Especialistas recomendam que os adultos apostem em atividades motoras e visuais e não economizem no afeto
Pequenoscérebrosemebulição
PriscillaparoudeadvogareSamuelmudouohoráriodotrabalhoparasededicaremmaisaoprimeirofilho,Miguel,de5meses:àsquintas-feiras,édiadenataçãoemfamília
Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press-19/2/15
D
e onde vêm os bebês todos
sabem, mas até onde eles
podemiréummistériopa-
ra qualquer pai ou mãe.
Por isso, os progressos cognitivos
nesses primeiros anos de vida in-
trigam tanto os cientistas, que
buscam os melhores ingredien-
tes para potencializar os avanços
e inibir os possíveis atrasos. Estu-
dos têm demonstrado que o pri-
meiro elemento dessa dieta pare-
ce ser bem simples de ser alcan-
çado: o afeto. Estímulos visuais e
motores também fazem parte
desse quebra-cabeça.
Priscilla, 28 anos, e Samuel
Roure, 34, pais de primeira via-
gem, planejaram cada milímetro
da nova vida para oferecer um
ambiente propício ao desenvolvi-
mento do filho. A advogada parou
detrabalharparasededicaràma-
ternidade, e o marido, policial ci-
vil, trabalha de 12h às 19h para
cuidar do pequeno Miguel, de 5
meses, nas manhãs. Enquanto ela
acorda de noite se houver choro,
ele cuida do bebê para que a mu-
lher possa ter seu momento de
descanso.“Eu sempre sonhei pa-
rar de trabalhar e me dedicar ao
meu filho, mas, antes, ficava pen-
sando: será que vamos ter condi-
ções? Optei por ter uma vida mais
humilde porque, querendo ou
não,meusaláriofazfalta,masnão
mearrependo”,dizamãe.
O jovem casal preocupa-se
muito em compartilhar cada ins-
tantepossívelcomMiguel.Poris-
so, optou por praticar, às quintas,
natação em família. A atividade
tornou-se mais um momento de
estimular a aproximação com o
bebê. “Quando eu era criança,
meu pai me levava e eu fiquei
com essa lembrança na cabeça.
Quandonoscasamos,eufaleipa-
ra a Priscila que, assim que tivés-
semos um neném, nós o levaría-
mos”, conta o policial civil e mo-
rador da Asa Norte.
Com os filhos na água, pais e
mães cantam músicas infantis e
ensaiam um balé de mergulhos,
saltos e cambalhotas. Do lado de
fora da piscina, parentes assis-
tem e tiram fotos dos pequenos.
A professora de natação Regina
Castro, grávida do segundo filho,
explica:“O pai é a maior referên-
ciaparaobebê,eleéoespelhodo
movimento. Quanto mais próxi-
mo, mais ele dá segurança aos fi-
lhos. A gente vê que são crianças
mais felizes, mais soltas, crescem
mais seguras. A partir do mo-
mento em que você dá seguran-
ça, elas se sentem mais fortes pa-
ra enfrentar desafios”, detalha.
Linguagemememória
A segurança não é o único be-
nefíciopelocontatodiretoeamo-
roso com os pais. Pesquisadores
da Universidade da Pensilvânia,
nos Estados Unidos, demostra-
ram que crianças em ambientes
com laços afetivos fortes desen-
volvem mais rapidamente habili-
dades nos campos da linguagem
e da memória.
Na primeira etapa do estudo,
meninos e meninas de 4 a 8 anos
foramobservadasdentrodecasa,
Palavra de especialista
“Do ponto de vista da forma-
ção do córtex, os primeiros mil
dias são um dos principais mo-
mentos para que os bebês adqui-
ram um ganho maior de apren-
dizado.Por isso,a atenção e o afe-
to são importantes nesse período.
Mas eles devem ser dados na ho-
ra certa. Precisam ser dosados,
uma vez que existem pesquisas
mostrando que o excesso de estí-
mulos pode ser prejudicial. O
brincar é a chave para um me-
lhor crescimento. No primeiro
ano de vida, se desenvolvem a vi-
são e a audição, além dos outros
sentidos. Então, oferecer ativida-
des e brinquedos que incentivem
a interação com sons, cores, for-
mas e texturas é importante para
o desenvolvimento dos bebês.”
RubensWajnsztejn,neurologista
dainfânciaedaadolescência
1.Relaxe! Seu filho deve se desenvolver
no tempo dele. Estimular é
necessário, mas nada de querer
forçar a barra e acelerar a fase. A
criança pode não estar pronta, e a
pressão, frustrá-la.
2.Disponibilize tempo para os filhos.
Brinque. Interaja. As crianças só vão
se desenvolver a partir do momento
em que perceberem a necessidade de
interagir. É a vontade de se
relacionar com outros seres
humanos que vai despertar o desejo
de se comunicar, se movimentar e
expressar os sentimentos.
3.Deixe seu bebê ao menos dois
períodos por dia apoiado de barriga
para baixo em uma superfície plana
e firme. Desse modo, ele pode se
apoiar com segurança e levantar a
cabeça. A partir daí, campo visual
dele se expande e as possibilidades
de exploração também.
4.Coloque seu filho no colo. Isso
conforta, passa segurança e carinho.
Mas os bebês também precisam de
liberdade. Deixe-os mais tempo no
chão. Permitir que os pequenos se
movam livremente é fundamental a
partir dos 6 meses, pois ajuda no
desenvolvimento motor.
5. Ofereça brinquedos de encaixes.
Além de ser um bom exercício para
a coordenação, esses objetos
ajudam a trabalhar também a parte
visomotora — ou seja, por meio da
visão, a criança tem a noção de qual
peça caberá dentro da outra. Deixe o
quebra-cabeças para quando ela
tiver mais de 2 anos.
6. Preocupe-se também com o sono
do seu filho. É dormindo que alguns
aprendizados se fixam. Ao longo dos
dias, apresente os estímulos um a
um. Assim as chances de o bebê
fixar em uma atividade aumentam.
7. Mantenha uma rotina. As crianças
precisam dessa previsibilidade.
Primeiro, porque aprendem por
repetição. Segundo, porque
precisam se organizar. Mas nada de
rigidez. Alterações e quebras de
rotina ocorrem, e a criança também
precisa aprender a lidar com elas.
e os pais, interrogados sobre
questões como a quantidade de
livros infantis e brinquedos pe-
dagógicosàdisposiçãodosfilhos.
Os cientistas concluíram, por
exemplo, que crianças sujeitas a
estímulos cognitivos, como jogos
e atividades educativas, se saíam
melhor em exercícios de lingua-
gem, enquanto as que recebiam
mais atenção se destacavam em
testes relacionados à memória.
Anos após essa primeira eta-
pa, essas mesmas crianças, já
adolescentes, foram submetidas
a uma ressonância magnética no
cérebro, e os resultados desse
exame, comparados com omodo
como que elas haviam sido esti-
muladas na primeira infância. A
pesquisa revelou que o hipocam-
po,regiãodocérebroresponsável
por guardar lembranças e expe-
riências, tinha dimensões dife-
rentes conforme a idade e os in-
centivos recebidos pelos partici-
pantes. Os que foram estimula-
dosaos4anostinhamessaregião
cerebral maior que os que passa-
ram pela experiência aos 8.
Um dos principais fatores para
essadiferençanodesenvolvimen-
to cerebral dos analisados pode
serexplicadopelachamadajanela
de oportunidade. Até por volta
dos 5 anos, as crianças passam
pela formação de habilidades
cognitivas, como memória, lin-
guagem, raciocínio lógico, per-
cepção e aprendizado. É nessa
etapa do crescimento em que
centenas de trilhões de conexões
neurais, responsáveis pela circu-
lação de impulsos elétricos, são
formadas e as crianças têm a
chance de dar um salto em seu
desenvolvimento. “Há momen-
tos em que serão ativados deter-
minados circuitos neuronais, e o
circuito que não for ativado não
vai funcionar plenamente de-
pois”, explica o neurologista da
infância e da adolescência Ru-
bensWajnsztejn.
Aprender a andar e escutar
uma história são exemplos de es-
tímulosquegeramconexõesneu-
raisdistintasnocérebro.Arepeti-
ção deles leva ao engrossamento
da membrana que envolve as fi-
bras nervosas, permitindo que os
impulsos elétricos circulem mais
rápido. Porém, a psicóloga infan-
til CinthiaVenâncio adverte: “ É
importantetomarcuidadocomo
excesso de estímulos ofertados
ao mesmo tempo. Provavelmen-
te, a criança vai querer explorar
todos e não focar em nenhum.
Ao mesmo tempo em que repetir
é necessário para promover a
aprendizagem, a novidade pro-
move sinapses (ligações entre
neurônios) importantes.”
Em casa e na creche
Escolher entre o trabalho e dar
atenção aos filhos, porém, geral-
menteviraumacrisecujasolução
nem sempre segue as vontades,
mas as urgências. Josélia Freire
Silva, 35 anos, cuida dos cinco fi-
lhos: Carlos Eduardo, 2; Jesus Lu-
ciano, 4; José Francisco,7; Jesiane,
10; e José Silva, 12.“Às vezes, eles
querem coisas que não posso dar
porque não trabalho e o dinheiro
que eu recebo do governo só dá
para o básico. A lista de material
escolar é enorme. Então, tenho
que comprar uma coisa de cada
vez”, lamenta a maranhense de
Santa Luzia do Tide e moradora
deValparaísohátrêsanos.
O marido de Josélia, o serven-
te de pedreiro José Gomes Silves-
tre, 45, trabalha das 6h às 17h, e o
único momento em que pode es-
tar junto à família é no jantar. A
dona de casa ocupa o tempo dos
filhos com afazeres domésticos, a
escola e brincadeiras. “Nunca
gostei de deixar meus meninos
para que os outros cuidassem.
Confiança a gente pode até ter,
mas prefiro que sejam criados do
meu jeito. Dar atenção para to-
dos é muito difícil, mas a gente se
desdobra em mil e faz o que po-
de”, diz ela.
Neurologista da infância e da
adolescência, RubensWajnszte-
jn ressalta que, quando há a pos-
sibilidade, creches e escolas in-
fantis são o melhor caminho pa-
ra o desenvolvimento e o apren-
dizado de crianças e bebês. “Do
ponto de vista neurológico, eles
precisam de contato com outras
crianças da mesma idade sem-
pre. Mas, após o primeiro ano
de vida, isso se torna fundamen-
tal. Não deve ficar só com adul-
tos, pois restringe a interação
social”, afirma o neurologista,
que complementa acalmando os
pais.“Se a mãe precisar trabalhar
logo após o término da licença-
maternidade, não há problemas
(para o bebê), mas precisamos
ter esses locais adequados em to-
dos os municípios brasileiros.”
Joséliacuidadosfilhosemcasa:”Prefiroquesejamcriadosdomeujeito”
Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press-20/2/15
Mildiasdeterminantes