O documento discute o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) usado no Butão como medida de desenvolvimento. O Butão criou ministérios focados em bem-estar psicológico e comunidade para sustentar os objetivos do FIB. O FIB considera nove dimensões incluindo saúde, educação e meio ambiente, indo além do crescimento econômico.
Artigo: A Felicidade como indicador de desenvolvimento
1. 23.11.2009
A felicidade como indicador de desenvolvimento
Participei, na semana passada, da 5ª Conferência Internacional do FIB – Felicidade
Interna Bruta, e tive o prazer de ouvir o Primeiro Ministro do Butão, Jigme Thinley,
falar da experiência de seu país com essa medida de desenvolvimento. A Conferência
aconteceu em Foz do Iguaçu e foi organizada por várias empresas e instituições, entre elas a
Itaipu Binacional e a Natura.
O conceito de FIB nasceu na década de 70, elaborado pelo 4º rei do Butão, para medir o Bem
Estar geral de seu povo, o que, para ele, era a verdadeira medida de desenvolvimento de um
país e não apenas seu crescimento econômico.
O Governo do Butão, elabora e organiza seu planejamento estratégico e sua estrutura
direcionados a sustentar os objetivos do FIB. Lá, por exemplo, existe o Ministério para o Bem
Estar Psicológico, responsável por ações e acompanhamento de satisfação e de otimismo que
cada pessoa tem em relação a sua própria vida, auto-estima, desenvolvimento espiritual. Tem,
também, o Ministério para a Vitalidade da Boa Convivência Comunitária, que foca nos
relacionamentos e interações nas comunidades, incentivando e medindo o grau de
confiabilidade, sensação de pertencimento, vitalidade dos relacionamentos afetivos,
segurança em casa e na comunidade.
Para o Butão, a felicidade só pde ser real se for uma expressão coletiva e, portanto de domínio
do espaço público. Diferente do que temos nas sociedades em geral, onde a felicidade ficou
para realizar-se no espaço privado, responsabilidade individual, exclusiva das pessoas.
Ter bons relacionamentos, viver em harmonia entre si e com o meio ambiente é também
responsabilidade do Estado, quando do desenvolvimento de suas políticas públicas. Bons
relacionamentos trazem felicidade. O desafio é superar a característica dos grandes centros
urbanos do mundo: vivemos cada vez mais juntos, porém cada vez mais sós e com mais
incidência de doenças mentais e emocionais.
São nove as dimensões do FIB. Além do Bem Estar Psicológico e da Vitalidade Comunitária,
inclui a saúde das pessoas, o uso do tempo, a educação, cultura, meio ambiente, governança e
padrão de vida. Assim, a visão de riqueza do país ultrapassa a análise apenas do
desenvolvimento econômico, onde os seres humanos são reduzidos a entidades
consumidoras, ao custo do empobrecimento emocional e espiritual.
Ceticismo ou não em relação a experiência do Butão, o fato é que está ficando cada vez mais
claro para a humanidade que viver exige mais do que a satisfação das necessidades do corpo.
Precisamos refletir sobre isso. Estarmos abertos para o diferente. Flexibilizar nossos conceitos
e mudar nossas atitudes pode ser um bom começo para ajudarmos a melhorar a vida no
planeta.
*Gleisi Hoffmann, advogada, é presidente do Diretório Estadual do PT-PR.