Este documento discute as perspectivas de idosos sobre lazer. Ele mostra que a maioria dos idosos entrevistados conceituam lazer como atividades que melhoram sua saúde física e mental e proporcionam alegria. As atividades oferecidas no Centro de Atenção Integral a Saúde do Idoso são consideradas de boa qualidade e importantes para o bem-estar dos idosos, embora existam algumas áreas que podem ser melhoradas.
O que pensam os idosos sobre lazer no CAISI de São Luís
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O que pensam os idosos frequentadores
do Centro de Atenção Integral a Saúde do Idoso (CAISI)
em São Luís (MA) sobre o lazer
Luiz Ricardo Mendes de Sousa Silva
Ana Teresa Ramos Ferreira Duque Bacelar
A população continua a envelhecer. No Brasil esse fenômeno também é
encontrado em um ritmo sistemático e consistente, como mostram os últimos
dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios – PNAD 2009.
Segundo as estimativas, em 2009 “o Brasil contava com uma população de
cerca de 21 milhões de pessoas de 60 anos ou mais de idade.” (IBGE, 2009).
Diante desse cenário é notório que a expectativa de vida das pessoas tem
aumentado muito e com isso crescem também as novas possibilidades de
atividades dos idosos, ou seja, possuem maior tempo livre e, portanto, mais
tempo para dedicar à sua saúde, às atividades recreativas e ao lazer.
De acordo com Schwartz e Dias (2005) “o lazer, pode também ser uma forma
de além de melhorar os contatos sociais, amenizar estes problemas sócio-
psicológicos dos idosos”, ou seja, é uma atividade que pode ser escolhida de
acordo com suas necessidades e preferências para manter-se ativo na
sociedade, favorecendo assim um estímulo para continuar vivendo com
qualidade de vida.
Mas afinal, o que é lazer?
O termo lazer possui diversas conotações e frequentemente está associado a
tempo livre, inatividade, ócio, mas também é comum estar relacionado ao
prazer, ou seja, é algo para ser realizado no tempo livre como forma de
satisfação. Schwartz e Dias (2005, s/p) corroboram com essa ideia:
O lazer, ao longo dos anos, tem sido considerado o
tempo livre do homem. Momento em que as pessoas
podem desfrutar prazeres, tranqüilidade e até
descanso. Portanto, o lazer deve ser um momento,
onde o indivíduo se empenha em algo que escolhe,
que lhe dá prazer e que o modifica como pessoa.
Assim, são atividades realizadas de forma desinteressada, descompromissada,
uma escolha da própria pessoa e não uma imposição, não obedece a regras
nem horários. São apenas atividades que buscam trazem algum prazer.
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Para alguns estudiosos do assunto o prazer advindo do lazer ocorre quando
um cidadão pode realizar qualquer coisa a seu gosto, algo que lhe faça relaxar,
divertir-se em determinado tempo livre. Este tempo livre também pode ser
chamado de tempo liberado, como afirma Santini (1993) “tempo livre é a
parcela do tempo linear, marcado pelo relógio e que cada um de nós possui
para si, após o cumprimento das atividades profissionais e sócio-familiares. O
preenchimento deste tempo com atividades discricionais depende da apetência
individual” (p. 18).
A partir desses desejos as escolhas são feitas com mais liberdade e menos
rigor, caracterizada como livre escolha. Mas a verdade é que cada opção é
feita dentro de um contexto. De acordo com Bruhns (1997), “[...] as escolhas
individuais nunca têm o caráter isolado do seu meio; ao contrario, elas
acontece dentro de uma situação de significados específicos sociais e
individuais, num determinado espaço de tempo” (p.84).
Em outras palavras, os fatores sociais, econômicos, culturais e políticos são
determinantes sobre todas as atividades da vida, inclusive do lazer. Portanto,
segundo Marcellino (2000) “não é possível se entender o lazer isoladamente,
sem relação com outras esferas da vida social. Ele influencia e é influenciado
por outras áreas de atuação, numa relação dinâmica” (p.14).
Lazer e Envelhecimento
Não é segredo que o envelhecimento ativo é a melhor forma de prolongar a
vida com qualidade, e a responsabilidade de proporcionar a vivência do lazer e,
conseqüentemente, melhorar a qualidade de vida desses cidadãos, na visão da
maioria dos autores é do Estado, com a função de desenvolver as políticas
públicas essenciais e executar essas ações.
Legalmente, o lazer está presente na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e, mais especificamente para os idosos, no Brasil, na Política
Nacional do Idoso e ainda no Estado do Idoso.
Entretanto, apesar de existir na forma de lei percebe-se que ainda existe um
longo caminho a ser percorrido para a garantia de todos esses direitos básicos
ao público idoso. Ainda existem barreiras, como por exemplo, a chegada da
aposentadoria, que dificilmente, dentro da nossa sociedade capitalista, é vista
de forma positiva, e da qual decorre que o idoso tem maiores dificuldades para
prover seu tempo livre por causa da queda na renda.
Assim, concorda-se com Schwartz e Dias (2005, s/p) quando diz que devem
ser priorizadas políticas públicas na área do lazer que:
[...] estimule e beneficie o idoso, nos segmentos da
cultura, lazer, esporte e educação, tendo como meta
a promoção da cidadania na terceira idade,
preparando-os para uma maturidade e vida felizes, e
ainda, proporcionar uma maior integração entre os
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idosos, oferecendo oportunidades do descobrimento
de mais fontes de satisfação de vida, através do
entretenimento e do lazer, motivando-os ao convívio
social, descobrindo valores.
Contudo, vários destes programas são feitos com caráter meramente
publicitário, servindo de propagandas políticas, pois a maioria não leva em
conta as preferências dos idosos, nem tampouco suas necessidades. Mas
existem, no entanto, projetos que são elaborados observando todas essas
condições.
Assim, elaborou-se essa pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa,
objetivando conhecer os significados do lazer para as vidas dos idosos que
frequentam o Centro de Atenção Integral a Saúde do Idoso (CAISI) em São
Luís-MA, bem como identificar a (in) existências e (in) suficiências da qualidade
dos serviços de lazer oferecidos no referido centro.
Os sujeitos da pesquisa foram 40 idosos freqüentadores do centro, tendo com
critérios de inclusão os que participam das atividades com constância acima de
duas vezes por semana, no turno da manhã, de ambos os sexos, com mais de
60 anos de idade, selecionados aleatoriamente. E para a coleta de dados
foram aplicados questionários com perguntas abertas, no período de outubro a
novembro de 2009.
Apresentando os resultados
Na pesquisa realizada foi constatado que 82% eram do sexo feminino e 18%
do sexo masculino, sendo 65% com idade entre 70 e 79 anos idade, seguido
de 35% entre 60 a 69 e empatados em 2,5% os que estão entre 80 a 89 e 90 a
99 anos.
Dito isso, verificou-se que 13% frequentam o centro duas vezes na semana;
27% três vezes na semana; 20% quatro vezes e 40% cinco vezes na semana,
ou todos os dias que tem funcionamento.
No que se refere à conceituação de lazer e seus benefícios, apenas 7% não
souberam responder o que era lazer. Entretanto dos 93% restantes foi possível
separar nove categorias de conceituação e benefícios do lazer. São elas:
Descanso e Relaxamento (15%); Atividades Físicas que melhoravam a saúde
(18%); Distração (18%); Prazer (15%); Diversão (32%); Lazer como oposto do
Trabalho (2,5%); Convívio Harmonioso com as pessoas no dia-a-dia (25%);
Recreação (2,5%); Aprendizado (5%). Esses resultados vêm corroborar as
múltiplas formas de conceituar lazer visto ao longo do trabalho.
Analisando o significado do lazer para suas vidas apenas 7% dos entrevistados
não souberam responder. Os outros, 30% disseram que o lazer era bom, pois
melhorava sua saúde física e mental. 28% consideravam o lazer como forma
de esquecer os problemas. Para 30% dos entrevistados, viver com mais
alegria, felicidade era o maior significado da prática do lazer para suas vidas.
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15% disseram que fazer amizades era o maior significado. 10% disseram que
se sentiam úteis e por isso o lazer era importante.
Assim, percebe-se que o lazer possui diversos significados e oportunidades de
realização pessoal nesta fase da vida, o que pode ser observado em
Dumazedier (1999) “[...] é o lazer que constitui o conjunto de atividades mais
extenso e mais significativo desta idade, mesmo quando a doença e a miséria
erguem seus obstáculos” (p. 114).
Abordando os tipos de atividades de lazer ofertadas pelo Centro, 7% não
souberam responder, 45% disseram que todas as atividades que eles
participavam no CAISI eram de lazer; 20% disseram ser a Educação Física
uma atividade de lazer; 25% consideraram as caminhadas como sendo
atividade de lazer; 15% disseram que o grupo de convivência é atividade de
lazer; 20% citaram o grupo de memória como lazer. A dança foi considerada
por 13% dos entrevistados como sendo lazer. Os trabalhos manuais
(reciclagem) foram tidos por 15% dos entrevistados como lazer. E a fisioterapia
e a terapia ocupacional também foram consideradas como sendo atividades de
lazer por 12% dos entrevistados.
Complementando essa pergunta questionou-se sobre a qualidade dessas
atividades e, retirando os 7% que não sabiam o que é lazer e qual seu
significado, 26% consideraram-nas como sendo boas atividades e mais da
metade dos entrevistados, 67%, consideram as atividades de lazer praticadas
no CAISI como muito boas, por inúmeros os motivos, como pode se perceber
nas falas de alguns entrevistados: - “As atividades são muito boas porque nos
fazer evoluir” (Idoso A); - “Melhoram nosso corpo como um todo, cabeça, corpo
e alma” (Idoso R); - “Não me deixam abatida em casa” (Idoso C), ou ainda, -
“Desenvolvem a auto-estima, a gente faz amizades, melhora a saúde e
combate o stress. (Idoso S)”.
Finalizando, perguntou-se a fim de verificar a (in) existência e/ou (in)
suficiências da qualidade dos serviços de lazer oferecidos pelo centro os
pontos fortes e fracos das atividades oferecidas e novamente retirando os 7%
acima mencionado, percebeu-se que 57% disseram só haver pontos positivos
nas atividades. E nenhum entrevistado, 0%, disse haver apenas pontos fracos,
porém, 36% disseram que além de pontos positivos havia também pontos
negativos.
Inúmeros pontos fortes foram citados entre eles 47% disseram que o próprio
CAISI já era um ponto forte - “Atividades adequadas para nossa idade” (Idoso
F); - “Conviver com outros amigos e aprender coisas novas” (Idoso G) foram
outros pontos também citados como forte das atividades do centro.
Como pontos fracos, os entrevistados citaram a não utilização da piscina, a
falta de materiais, o espaço físico, e a falta de organização e de mais
atividades, como pode ser visto nas seguintes falas: - “A gente tem a piscina,
mas ninguém pode usar por que ela não é adaptada” (Idoso H); - “Tem essa
piscina ai, mas ninguém usa, a gente poderia fazer ginástica dentro dela”
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(Idoso R); - “Não são muito organizadas, às vezes não começa no horário, o
professor não explica” (Idoso J); - “Falta material, tem muita gente pra pouco
material” (Idoso K).
Conclusão
A partir dos resultados obtidos, pode-se afirmar que os idosos entrevistados
conhecem o termo lazer, o conceituam de acordo com suas vivências e
experiências de maneira satisfatória. Deste modo foram detectadas falas que
tinham um significado comum para o lazer: melhorar a vida, em todos os
aspectos e que é essencial para seu desenvolvimento.
Quanto à oferta, identificou-se através das falas dos idosos que o CAISI
oferece de maneira satisfatória e com qualidade, as atividades de lazer, mesmo
havendo alguns pontos a serem melhorados.
Portanto, deve-se reconhecer a importância do CAISI, como um centro de
favorecimento de desenvolvimento de pessoas da terceira idade e que é um
modelo para ser copiado por todas as esferas do governo.
Referências
Bruhns, H. T. Introdução aos estudos do lazer. São Paulo: Editora da UNICAMP,1997.
Dumazedier, J. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva: SESC, 1999.
Marcellino, N. C. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas, SP: Autores
associados, 2000.
Santini, R. de C. G. Dimensões do lazer e da recreação. São Paulo, SP: Angelotti,
1993.
Schwartz, G; & Dias, V. K. O lazer na perspectiva do indivíduo idoso. Educación física
y deportes, 87, 2005. Recuperado em 15 de agosto 2009 da Revista digital. Buenos
Aires: http//www.efdeportes.com/efd87/idos.htm
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios (2009). Indicadores Sociodemográficos e de Saúde no Brasil. Rio de
Janeiro: Estudos e Pesquisas.Recuperado em 28 de setembro de 2010, de
http://www.ibge.gov.br
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Luiz Ricardo Mendes de Sousa Silva - Graduado em Educação Física
(UFMA). Membro pesquisador do Laboratório de Fisiologia e Prescrição de
Exercício do Maranhão - LAFIPEMA. Email: ricardinho-ms@hotmail.com
Ana Teresa Ramos Ferreira Duque Bacelar - Graduada em Educação Física
(UFMA). Pós-graduada em Gerontologia pela Faculdade Santa Fé. Mestranda
em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Email: atbacelar@hotmail.com
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